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CATARINA DE BARROS CORREIA

ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE DOIS


MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE PRESSÃO DE POROS
QUANDO APLICADOS A DOIS CAMPOS BRASILEIROS
DE ÁGUAS PROFUNDAS

CAMPINAS
2015
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
E INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CATARINA DE BARROS CORREIA

ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE DOIS MÉTODOS DE ESTIMATIVA


DE PRESSÃO DE POROS QUANDO APLICADOS A DOIS CAMPOS BRASILEIROS DE
ÁGUAS PROFUNDAS

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de


Engenharia Mecânica e Instituto de Geociências da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do título de
Mestra em Ciências e Engenharia de Petróleo, na
área de Explotação.

Orientador: Prof. Dr. Denis José Schiozer


Co-orientador: Prof. Dr. Otto Luiz Alcântara Santos

CAMPINAS
2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
E INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADÊMICO

ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE DOIS


MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE PRESSÃO DE POROS
QUANDO APLICADOS A DOIS CAMPOS BRASILEIROS
DE ÁGUAS PROFUNDAS

Autora: Catarina de Barros Correia


Orientador: Prof. Dr. Denis José Schiozer
Co-orientador: Prof. Dr. Otto Luiz Alcântara Santos

A banca examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta dissertação:

Campinas, 03 de fevereiro de 2015.

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<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meus pais, Abaeté e Lucy, a meu irmão, Abaeté Filho e sua família.

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<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por me conceder a força necessária à conclusão desse
trabalho e por me permitir aprender tanto e com tantos profissionais durante essa etapa marcante
da minha vida.
A meus pais, Lucy e Abaeté pela presença, apesar da distância, pela paciência, apoio
incondicional e ensinamentos de toda a vida.
A Denis Schiozer, pelo incentivo e oportunidades concedidos para finalização desse
trabalho.
A Otto Alcântara, pelo suporte em momentos decisivos.
A José Falcão, pelos ensinamentos profissionais e pessoais durante minha carreira na
Petrobras.
Na UO-SEAL, agradeço a disponibilização dos dados das concessões de Piranema.
Especial agradecimento a José Marques e Humberto de Lucena, pelo apoio, discussões técnicas e
disponibilização de material didático.
Na E&P-EXP/GEO, agradeço à Silvia Anjos e Sebastião Pereira, pela oportunidade
concedida de integrar a equipe da TGEO durante o desenvolvimento desse trabalho. Especial
agradecimento aos colegas Marcos Domingues, Marcelo Brasil, Julio Garcia, Bernardo Viola,
Tereza Ramos, Tajá Costa e Fabio de Lima, pela paciência, discussões técnicas e conhecimento
disseminado.
À equipe de desenvolvimento do SIGEO da TGEO, que criou facilidades específicas para
permitir o uso desse software como uma das principais ferramentas para geração de resultados
neste trabalho. Obrigada pela paciência diária, ensinamentos e prosas que tornaram a construção
diária uma atividade aprazível durante todo o período em que permaneci na GEO. Luana Lisboa,
Antônio Rangel e André Tupinambá: a vocês, um obrigada especial. Obrigada a Terezinha
Vieira, Eric Praxedes, Celso Cruz, Edmundo Marassi e Thiago Freitas. A Eduardo Alves,
obrigada por tornar a “logística” viável.
À Bruna Silveira, Monica Lurahy e Guilherme Bispo, pelo conhecimento disseminado e
pelas discussões técnicas, especial agradecimento.
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Aos meus amigos, seja pelo apoio e compreensão durante esse período, seja pelos
momentos de relaxamento que proporcionaram.

Caso continuação de Agradecimentos, caso contrário, deve ficar em branco

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<Continuação dos agradecimentos se for<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

A água nunca discute com o obstáculo.


Simplesmente o contorna,
enquanto a erosão o vence gradativamente.
(Sabedoria popular)

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<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

RESUMO

CORREIA, Catarina de Barros, Análise e Comparação de Resultados de Dois Métodos de


Estimativas de Pressão de Poros Quando Aplicados a Dois Campos de Águas
Profundas Brasileiras, Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual
de Campinas, 2014. 250 p. Dissertação (Mestrado).

Para estimar a pressão de poros, é necessário entender os mecanismos pelos quais ela foi gerada.
Dentre aqueles capazes de gerar alta pressão de poros (sobrepressão), um tem sido apontado na
literatura como o mais comum, a subcompactação, entretanto, outros mecanismos, como aqueles
causadores de descarregamento, podem atuar. A não identificação da sobrepressão ou a
desconsideração dos efeitos causados pelos mecanismos atuantes podem resultar em erros
significativos ao estimar a pressão de poros antes da perfuração. A consequência (pressão real
maior que a pressão de poros estimada) pode revelar, na prática, estreitamento da janela
operacional durante a perfuração, deteriorando a segurança por levar a complicadores como
instabilidade das paredes do poço, kicks, perdas de circulação, dano aos revestimentos etc. Este
trabalho propõe a análise crítica e aplicação de dois métodos de estimativas de pressão de poros,
Eaton (1975) e Bowers (1995), discutindo suas principais premissas, vantagens e limitações,
levando em conta uma sistemática de trabalho considerada compatível com o estado da arte
usado em companhias de petróleo internacionais. O primeiro se baseia na ocorrência de
subcompactação de formações argilosas, sua utilização é consagrada pela indústria de petróleo e
suas equações são as mais utilizadas em simuladores comerciais. O segundo propõe um método
gráfico para investigação da co-atuação de outros mecanismos geradores de sobrepressão. Os
dois métodos foram avaliados pela estimativa de pressão de poros usando a velocidade intervalar
da sísmica e perfis elétricos de poços de dois campos de petróleo em águas profundas da Bacia de
Sergipe-Alagoas, com foco no Cretáceo Superior da Formação Calumbi. Os resultados gerados
foram analisados e comparados com os dados de pressão medida, sobretudo no Maastrichtiano e
no Campaniano, mostrando, em geral, correlação muito boa ou boa nessas idades geológicas,
dentro dos parâmetros de qualidade estabelecidos. Foi demonstrado, entretanto, que o Método de
xiii
Eaton (aplicado, previamente, para entender o comportamento das pressões nos campos), mesmo
face às limitações envolvidas, é mais simples, fácil de aplicar e de calibrar e menos dependente
de medidas pontuais de perfis de porosidade para geração de curvas de pressão de poros que o
Método de Bowers. Este último se mostrou instável, com exigências de aplicação e dependente
de parâmetros que não tornam seu uso tão amplo, fácil e simples de interpretar quanto o de Eaton,
mesmo em áreas não exploratórias.
Palavras-chave: Sobrepressão, Métodos de Estimativas de Pressões de Poros, Bowers (1995),
Eaton (1975).

<Continuação do resumo se for o caso. Caso contrário, deve ficar em branc>

xiv
<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

ABSTRACT

CORREIA, Catarina de Barros, Analysis and Results Comparison of Two Pore Pressure
Estimation Methods When Applied at Two Deep Water Brazilian Fields, Faculdade
de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, 2014. 250 p.
Dissertação (Mestrado).

An understanding of pressure generating mechanisms is necessary when predicting pore pressure,


the mainstay of any well drilling project. Undercompaction of clay rich sediments is the most
commonly cited mechanism. However, a number of others, such as those related to fluid
expansion, have been proposed as capable of generating overpressures. Failure to identify or
ignore the overpressure or the active mechanism may result in significant errors in pore pressure
estimation. The consequence (real pressure higher than the estimated pressure) deteriorates the
drilling safety, narrowing the drilling window and leading to well instability, kicks, mud losses,
casing damage etc. This study proposes a critical analysis and the application of two methods for
estimating pore pressure, that of Eaton (1975) and Bowers (1995), pointing the main
assumptions, advantages and limitations, taking into account a systematic work considered
compatible with the state of the art used by international oil companies. The first one is based on
the occurrence of only undercompaction, its use is established in the oil industry and its equations
are the most used in commercial simulators. On the other hand, Bowers Method proposes a
graphical analysis to account for other overpressure mechanisms besides undercompaction. In
this study, the two methods were evaluated by pore pressure estimative using seismic velocity
data and wells electric profiles from two deepwater oil fields in the Sergipe-Alagoas Basin
(Brazil) within the Upper Cretaceous Calumbi Formation. The results of both methods were
analyzed and compared with pressure data measurements in reservoirs of Campanian and
Maastrichtian ages, shown in general, very good or good correlation within the quality
parameters set. Eaton’s Method was used previously to understand the fields’ pressure behavior
of the two fields. It was demonstrated that, despite Eaton’s apparent limitation, it is simpler,
easier to apply and calibrate and less dependent on specific porosity logging measurements than
xv
Bowers’ Method. The latter one was considered unstable, with its application dependent on
parameters that do not make it as widely or simple to use and interpret as Eaton’s method, even in
oil fields in their development phases.
Key words: Overpressure, Pore Pressure Estimation Methods, Bowers (1995), Eaton (1975).
<Continuação do abstract se for o caso. Caso contrário, deve ficar em branco>

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<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1
1.1. Motivação ..........................................................................................................................................4
1.2. Objetivos ...........................................................................................................................................6
1.3. Organização do trabalho ....................................................................................................................7
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E CONCEITOS FUNDAMENTAIS ........................................ 9
2.1. Pressão de Poros, Classificação de Pressão de Poros, Pressão Anormal...........................................9
2.2. Pressões de Sobrecarga ...................................................................................................................20
2.3. Causas de Pressões Anormais e Classificação de Mecanismos Geradores das Mesmas.................25
2.4. Principais Mecanismos Geradores de Pressões Anormalmente Altas.............................................30
2.4.1. Desequilíbrio da Compactação .............................................................................................30
2.4.2. Expansão do Volume de Fluidos...........................................................................................35
2.4.3. Comentários sobre os Mecanismos Geradores de Pressões de Poros ...................................37
2.5. Classificação de Métodos de Estimativas de Pressão de Poros .......................................................39
3. MÉTODOS DE BOWERS e EATON DE ESTIMATIVAS DE PRESSÃO DE POROS ....... 43
3.1. Descrição do Método de Eaton (1975) ............................................................................................47
3.1.1. Discussão Teórica do Método de Eaton (1975) ....................................................................49
3.2. Descrição do Método de Bowers (1995) .........................................................................................56
3.2.1. Discussão Teórica do Método de Bowers (1995) .................................................................63
4. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 75
4.1. Dados e Ferramentas Utilizadas ......................................................................................................76
4.2. Fluxograma de Trabalho .................................................................................................................77
5. APLICAÇÃO DOS MÉTODOS, RESULTADOS, COMPARAÇÕES E DISCUSSÕES ...... 87
5.1. Base para Construção dos Modelos de Pressão de Poros ................................................................87
5.1.1. Triagem de Poços, Coleta de Dados e Adequação de Dados de Pressão ..............................87
5.1.2. Cálculo do Índice de Sobrepressão .......................................................................................90
5.1.3. Retroanálise de Geopressões .................................................................................................94
5.1.4. Cálculo da Sobrecarga ..........................................................................................................98
5.1.5. Suavização do perfil sônico ..................................................................................................99
5.2. Aplicação do Método de Eaton (1975) ............................................................................................99
5.2.1. Calibração da Tendência de Compactação Normal, Expoente da Subcompactação e Análise
das Estimativas de Pressão de Poros ...................................................................................100
5.3. Aplicação do Método de Bowers (1995) .......................................................................................111
5.3.1. Construção da Curva Virgem (CV).....................................................................................111
5.3.2. Análise do Comportamento dos Poços com Pressão Anormal em relação à Curva Virgem,
Análise das Estimativas de Pressão de Poros por Bowers e Comparação com as Estimativas
de Eaton...............................................................................................................................116
5.4. Comparação dos Métodos e Considerações Gerais .......................................................................149
6. CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 161
7. RECOMENDAÇÕES ............................................................................................................. 165
xvii
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<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

LISTA DE APÊNDICES

Apêndice I Tensões ............................................................................................................... 179


Apêndice II Esquema Ilustrativo da Compactação Normal e da Subcompactação ................ 185
Apêndice III Mecanismos Geradores de Sobrepressão Além da Subcompactação ................. 187
Apêndice IV Bacia de Sergipe-Alagoas e Casos de Sobrepressão no Brasil e no Mundo ....... 209
Apêndice V Equações de Cálculo de Gradiente de Pressão de Poros por Eaton .................... 221
Apêndice VI Medições de Pressão: Testes de Formação ......................................................... 227
Apêndice VII FEL e PDCA: Aplicação no Contexto de Geopressões ...................................... 229
Apêndice VIII Aplicação das Ferramentas Virtuais ................................................................... 231
Apêndice IX Comparação de Linhas de Tendência de Compactação Normal para Aplicação do
Método de Eaton ................................................................................................. 233
Apêndice X Exemplos Teóricos: Cálculo da Pressão de Poros pelo Método de Bowers
Supondo Descarga no Poço 106.......................................................................... 241
Apêndice XI Conversão de Unidades ....................................................................................... 247
Apêndice XII Mnemônicos das Curvas de Perfis e Padrões de Cores de Litologia .................. 249

xix
xx
<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: Material poroso da rocha consistindo de matriz e fluido (AadnØy & Looyeh,
2010) ..................................................................................................................... 11
Figura 2.2: Resposta da tensão efetiva a diferentes mecanismos geradores de pressões
anormais (Bowers, 2001 e 2002; Choppra e Huffman, 2006, modificadas) ........ 28
Figura 2.3: Gráfico ilustrativo de pressão (ou tensão) x profundidade para sobrepressão
gerada pelo desequilíbrio da compactação............................................................ 33
Figura 3.1: Exemplo ilustrativo obtido com experimentos de laboratório do Campo de Cotton
Valey: compactação em folhelhos, seguindo a Curva Virgem original do campo, e
a pequena porção de rebote elástico da compactação, seguindo a Curva de
Descarregamento (Bowers, 2002, modificada) ..................................................... 57
Figura 3.2: Método de Tensões Efetivas de Bowers (1995) para estimativa de pressões de
poros: σ'B < σ'A porque PPB > PPA devido ao efeito de descarregamento, iniciado
em Zmáx (profundidade máxima até onde ocorreria a subcompactação) ............... 61
Figura 3.3: Normalização da Curva de Descarregamento (Bowers, 1995, modificada) ......... 63
Figura 3.4: Comparação entre as Curvas de Descarregamento de Bowers e a proposta por Ji e
Fan para poços no leste da China (Ji e Fan, 2010, modificada)............................ 64
Figura 4.1: Fluxograma geral deste trabalho ........................................................................... 78
Figura 5.1: Esquema qualitativo mostrando pares de poços e zonas da Formação Calumbi:
aquisição de dados de pressão livres da influência da injeção e da produção dos
campos .................................................................................................................. 88
Figura 5.2: Soterramento e lâmina de água dos poços estudados ........................................... 89
Figura 5.3: Esquema qualitativo do comportamento típico das pressões na Calumbi em
Piranema, Dourado e Guaricema. Pontos vermelhos mostram o comportamento
atípico dos poços sobrepressurizados estudados nesta dissertação (Marques, 2013,
modificada) ........................................................................................................... 91
Figura 5.4: Vista em planta dos blocos baixo (PRM) e alto (PRMS), divididos por uma falha:
comportamentos diferenciados da pressão no Cretáceo Superior: pontos
vermelhos, poços com IS > 1,1; pontos amarelos, poços com IS ≤ 1,1 ................ 92
Figura 5.5: Sessão sísmica em profundidade mostrando a assinatura hidráulica dos
reservatórios: conectividade entre os poços 3 e 149 e entre 2 e 4 ........................ 95
Figura 5.6: Calibração da tendência de compactação normal do sônico para os poços com
PPN (as linhas pretas tracejadas representam a marcação do topo do Paleoceno
Superior) ............................................................................................................. 101

xxi
Figura 5.7: Estimativa de pressão de poros pelo Método de Eaton para os poços com PPN.
Círculos vermelhos tracejados representam os trechos em que pode haver a
necessidade de realizar a calibração da pressão estimada pelo método .............. 104
Figura 5.8: Sônico filtrado em folhelhos e sua tendência de compactação normal para os
poços com PPA (as linhas pretas tracejadas representam a marcação do topo do
Paleoceno Superior) ............................................................................................ 108
Figura 5.9: Estimativa de pressão de poros pelo Método de Eaton para os poços com PPA.
Círculos vermelhos tracejados representam os trechos em que pode haver a
necessidade de realizar a calibração da pressão estimada pelo método .............. 110
Figura 5.10: Acima, gráfico de Bowers para a Curva Virgem (preta) construída com os poços
com pressão normal e curvas dos limites qualitativos (vermelha e verde). Abaixo,
os três filtros utilizados ....................................................................................... 113
Figura 5.11: Curva Virgem do Cretáceo Superior, seus limites superior e inferior e seu
coeficiente de correlação agregando os poços com PPA (legenda à direita).
Comportamento diferenciado da velocidade dos poços 1, 106 e 149 ................. 116
Figura 5.12: Comportamento dos pontos de PPA do poço 1 em relação à CV de Bowers. .... 121
Figura 5.13: Trecho de perfis e PPGBO do poço 1 para o Cretáceo. No canto superior direito, o
detalhe mostra os pontos de pressão medida no Paleoceno e superestimativa de
PPGBO pela CV ................................................................................................. 121
Figura 5.14: Comportamento dos pontos de PPA do poço 2 em relação à CV de Bowers ..... 125
Figura 5.15: Contato óleo-água na Zona Cal 950 no poço 2 : no lado esquerdo, a ampliação do
polígono laranja da Figura 5.14; no lado direito, a ampliação qualitativa da Figura
5.16 dos perfis ..................................................................................................... 125
Figura 5.16: Trecho de perfis e PPGBO do poço 2 ................................................................. 126
Figura 5.17: Comportamento dos pontos de PPA do poço 3 em relação à CV de Bowers. .... 128
Figura 5.18: Trecho de perfis e PPGBO do poço 3 ................................................................. 129
Figura 5.19: Ampliações qualitativas da Figura 5.17 e da Figura 5.18 mostrando a possível
influência da presença de HC na resposta dos perfis do poço 3 ......................... 129
Figura 5.20: Comportamento dos pontos de PPA do poço 4 em relação à CV de Bowers. No
detalhe, dois pontos cujas pressões estimadas por Bowers foram discutidas ..... 132
Figura 5.21: Trecho de perfis e PPGBO do poço 4 ................................................................. 132
Figura 5.22: Comportamento dos pontos de PPA dos poços 154 e 155 em relação à CV de
Bowers ................................................................................................................ 135
Figura 5.23: Comportamento dos pontos de PPA do poço 154 em relação à CV de Bowers para
o Cretáceo Superior. Nos detalhes, em cima, zonas da Fm. Calumbi com
comportamentos diferentes de pressão e embaixo, as pressões medidas no Albiano
(não usadas na construção da CV) ...................................................................... 137

xxii
Figura 5.24: Trecho de perfis e PPGBO para o poço 154. No canto inferior direito, o detalhe
mostra, qualitativamente, a subestimativa da PPGBO nas profundidades da
pressão medida no Albiano ................................................................................. 137
Figura 5.25: Comportamento dos pontos de PPA do poço 155 em relação à CV de Bowers. No
detalhe, o comportamento da PP medida no Albiano (não usada para construção
da CV) ................................................................................................................. 140
Figura 5.26: Trecho de perfis e PPGBO do poço 155. No canto inferior direito, o detalhe
mostra, qualitativamente, a subestimativa da PPGBO nas profundidades da
pressão medida no Albiano. ................................................................................ 140
Figura 5.27: Comportamento dos pontos de PPA do poço 106 em relação à CV de Bowers. Os
triângulos representam qualitativamente um possível comportamento para a
velocidade com poço calibrado ........................................................................... 143
Figura 5.28: Trecho de perfis e PPGBO do poço 106 ............................................................. 143
Figura 5.29: Comportamento dos pontos de PPA do poço 149 em relação à CV de Bowers. No
detalhe do canto superior direito, as pressões medidas no Albiano (não usadas na
construção da CV)............................................................................................... 147
Figura 5.30: Trecho de perfis e PPGBO do poço 149 ............................................................. 147

Figura I.1: Figura esquemática dos dois tipos de tensões em um sistema tridimensional .... 180
Figura I.2: Figura esquemática de tensões normais (principais) num sistema coordenado em
que as tensões cisalhantes são nulas ................................................................... 180
Figura I.3: Exemplos da geometria de cascalhos lascados, característicos de zonas
sobrepressurizadas e resultantes de falha por tração ........................................... 183
Figura I.4: Exemplos da geometria de cascalhos desmoronados resultantes de falhas por
cisalhamento ....................................................................................................... 184
Figura II.1: Esquema ilustrativo dos processos de compactação normal e subcompactação
(AadØy & Looyeh, 2010; Rocha e Azevedo, 2009, modificadas) ..................... 185
Figura III.1: Figura ilustrativa do efeito hidráulico como mecanismo gerador de sobrepressão
(Swarbrick e Osborne, 1998, modificada) .......................................................... 202
Figura III.2: Esquemático do efeito buoyancy como mecanismo gerador de sobrepressão .... 203
Figura III.3: Figura esquemática da transferência lateral como mecanismo gerador ou
controlador da distribuição de sobrepressão (Swarbrick e Osborne, 1998,
modificada) ......................................................................................................... 205
Figura IV.1: Localização das sub-bacias da Bacia de Sergipe-Alagoas (Lima, 2002) ............ 210
Figura IV.2: Arcabouço estrutural da Bacia de Sergipe-Alagoas, sensu stricto, ao nível do
embasamento ....................................................................................................... 210
Figura IV.3: Carta estratigráfica da sub-bacia de Sergipe (Lima, 2002, modificada)B .......... 211

xxiii
Figura IV.4: Blocos de desenvolvimento da produção e exploratórios na sub-bacia de Sergipe
com produção ou expectativa de produção de HC nos reservatórios da Formação
Calumbi ............................................................................................................... 212
Figura IV.5: Mapa do globo mostrando, em sombreado cinza, a distribuição de PPA terrestres
e em amarelo, marítimos (Law e Spencer, 1998, modificada) ........................... 217
Figura IX.1: Calibração da tendência de compactação normal do sônico para o poço
sobrepressurizado 106 ......................................................................................... 233
Figura IX.2: Estimativa de pressão de poros por Eaton para o poço com PPA 106 e para o poço
com PPN 142 ...................................................................................................... 234
Figura IX.3: Calibração da tendência de compactação normal do perfil sônico para os poços
sobrepressurizados 3, 149 e 1 ............................................................................. 235
Figura IX.4: Estimativas de pressão de poros por Eaton para os poços com PPA 3, 149 e 1 e
para o poço com PPN 164 ................................................................................... 236
Figura IX.5: Calibração da tendência de compactação normal do perfil sônico para os poços
sobrepressurizados 154, 2 e 4 ............................................................................. 237
Figura IX.6: Estimativas de pressão de poros por Eaton para os poços com PPA 154, 2 e 4 e
para os poços com PPN 157 e 129 ...................................................................... 238
Figura IX.7: Calibração da tendência de compactação normal do perfil sônico para o poço com
PPA 155 .............................................................................................................. 239
Figura IX.8: Estimativa de pressão de poros por Eaton para o poço com PPA 155 e o poço com
PPN 147 .............................................................................................................. 240
Figura X.1: Exemplo teórico 1: simulação da situação de descarregamento com reversão de
velocidade ........................................................................................................... 241
Figura X.2: Exemplo da normalização de “U”, caso outras medidas de pressão sob suspeita de
descarregamento existissem para o poço ............................................................ 243
Figura X.3: Exemplo fictício da aplicação do Método de Bowers quando a ocorrência de um
mecanismo mascara o efeito de descarregamento pela ausência de reversão da
veolocidade ou redução do seu crescimento ...................................................... 244
Figura X.4: Propaganda impressa da companhia americana Sigma 3: previsão de pressão de
poros em ambientes com múltiplos mecanismos geradores de pressão ............. 246
<Note que essa página deve ficar em branco para que o próximo comece em página ímpar>

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<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1: Quadro estratigráfico dos períodos, épocas, idades e zonas geológicas abordados
neste trabalho e padrão de cores usado nas figuras da aplicação dos métodos....... 6
Tabela 2.1: Gradiente de pressão de PP para diversas áreas (Bougoyne et al., 1986, traduzida
e modificada) ........................................................................................................ 14
Tabela 2.2: Classificação das PP, segundo Rocha e Azevedo (2009, modificada) ................. 19
Tabela 2.3: Classificação das PP usuais da Petrobras na área de Perfuração de poços ........... 19
Tabela 2.4: Alternativas de cálculo da pressão de sobrecarga em intervalos do poço ............ 24
Tabela 2.5: Relações entre compactação, tensão efetiva e temperatura em argilas (Bjørlykke,
1998, modificada) ................................................................................................. 31
Tabela 2.6: Análise estatística dos resultados de Yoshida et al. (1996) .................................. 40
Tabela 2.7: Classificação dos métodos de estimativas de PP, segundo o Projeto DEA 119
(Knowledge Systems, 2001, modificada) ............................................................. 41
Tabela 3.1: Definição de limites de erro para classificação da qualidade da pressão de poros
estimada pelos métodos de Eaton e Bowers nos reservatórios pesquisados ......... 47
Tabela 4.1: Classificação das PP usada nesta dissertação ....................................................... 80
Tabela 4.2: Equação da CV para o período, época ou idade geológica(o) em questão ........... 84
Tabela 4.3: Cálculo da PP através da CV ................................................................................ 84
Tabela 4.4: Equação da Curva de Descarregamento do poço .................................................. 85
Tabela 4.5: Cálculo da PP através da Curva de Descarga ....................................................... 85
Tabela 5.1: Tabela resumo dos poços estudados ..................................................................... 93
Tabela 5.2: Pesquisa de ocorrência de transferência lateral entre os poços 3 e 149 ................ 96
Tabela 5.3: Conectividade nos poços 2 e 4, mas ausência de transferência lateral ................. 97
Tabela 5.4: Parâmetros “a” e “b” da equação de Gardner usada para cálculo da massa
específica equivalente da rocha............................................................................. 99
Tabela 5.5: Divisão dos poços em grupos: coerência no traçado da tendência de compactação
normal nos poços com PPA para pesquisa do expoente de “n” da subcompactação
............................................................................................................................. 106
Tabela 5.6: Avaliação qualitativa da PP estimada pelo Método de Bowers .......................... 119
Tabela 5.7: Resumo dos dados do poço 1 .............................................................................. 120
Tabela 5.8: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 1 ....... 120

xxv
Tabela 5.9: Resumo dos dados do poço 2 .............................................................................. 124
Tabela 5.10: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 2 ....... 124
Tabela 5.11: Resumo dos dados do poço 3 .............................................................................. 128
Tabela 5.12: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 3 ....... 128
Tabela 5.13: Resumo dos dados do poço 4 .............................................................................. 131
Tabela 5.14: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 4 ....... 131
Tabela 5.15: Resumo dos dados do poço 154 .......................................................................... 136
Tabela 5.16: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 154 ... 136
Tabela 5.17: Resumo dos dados do poço 155 .......................................................................... 139
Tabela 5.18: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 155 ... 139
Tabela 5.19: Resumo dos dados do poço 106 .......................................................................... 142
Tabela 5.20: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 106 ... 142
Tabela 5.21: Resumo dos dados do poço 149 .......................................................................... 146
Tabela 5.22: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 149 ... 146

Tabela IV.1: Tabela resumo dos poços estudados com todos os dados coletados: destaque para
Terciário e Cretáceo Inferior .............................................................................. 214
Tabela IV.2: Law e Spencer (1998, modificada): Atributos de zonas com pressão
anormalmente alta apresentados pelas bacias pesquisadas pelos autores ........... 219
Tabela X.1: Cálculo da PP sob efeito de descarregamento – exemplo teórico....................... 242
Tabela XI.1: Referência de Unidades ...................................................................................... 247
Tabela XII.1: Padrões utilizados na discussão de resultados do Método de Bowers, nas figuras
de cada poço: mnemônicos das curvas de perfis e de pressão; escala de valores e
cores correspondentes ......................................................................................... 249
Tabela XII.2: Padrões utilizados na discussão de resultados do Método de Eaton, nas figuras de
cada poço: mnemônicos das curvas de perfis e de pressão; escala de valores e
cores correspondentes ......................................................................................... 250
Tabela XII.3: Padrão de litologia usado nas figuras da aplicação dos métodos de Eaton e Bowers
............................................................................................................................. 250

xxvi
<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E DEFINIÇÕES

AAPG American Association of Petroleum Geologists


ARMA American Rock Mechanics Association
API American Petroleum Institute, sigla em inglês usada como padrão que designa a massa
específica de fluidos: quanto maior a massa específica, menor o API, em graus
BOP Blow Out Preventer, sigla em inglês que significa equipamento de segurança instalado na
cabeça do poço após o assentamento e cimentação da sapata do revestimento de
superfície, usado durante a perfuração para proteção contra fluxos descontrolados de
fluidos das formações
BHA Bottom Hole Assembly, sigla em inglês que significa conjunto de equipamentos utilizados
no fundo do poço
Bulk Sigla em inglês que significa a resposta de corpos volumétricos à condições de pressão
hidrostáticas (mesmo módulo em todas as direções)
Caliper Sigla em inglês que significa diâmetro do poço; pode também designar o perfil de leitura
do diâmetro da fase do poço
CENPES Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello, da Petrobras
CV Curva Virgem
DST Drill Steam Test, sigla em inglês que significa teste de formação feito por tubulação
DT Delta Transit Time, sigla em inglês que designa o perfil de tempo de trânsito ou perfil
sônico
ECD Equivalent circulating density, que significa massa específica equivalente à pressão de
circulação exercida pelo fluido, em lb/gal (ppg)
E&P Exploração e Produção
EMW Equivalent Mud Weight, sigla em inglês que significa massa específica equivalente à
pressão exercida pelo fluido de perfuração, em lb/gal (ppg)
ESD Equivalent static density, sigla em inglês que significa massa específica equivalente à
pressão estática exercida pelo fluido, em lb/gal (ppg)
FEL Front End Load, sigla em inglês que designa uma metodologia de gestão de projetos
Fm. Formação geológica
GoM Gulf of Mexico, sigla em inglês que significa Golfo do México
FPWD Formation Pressure while drilling, sigla em inglês usado como designação da ferramenta
de aquisição de pressão durante a perfuração
GPP Gradiente de pressão de poros, em kPa/m, kgf/cm2/m ou psi/m ou psi/ft
GPPN Gradiente de pressão de poros normal, em kPa/m, kgf/cm2/m ou psi/m ou psi/ft
HC Hidrocarboneto (óleo ou gás)
JAPEX Japan Petroleum Exploration Co.
JPT Journal of Petroleum Technology
Kick Sigla em inglês que significa fluxo de fluidos da formação para dentro do poço
lb/gal Abreviatura que significa pounds per gallon ou libras por galão [=] lb/gal; unidade usual
em Engenharia de Perfuração de poços usada para expressar a pressão equivalente à
massa específica do fluido e o gradiente de pressão, ambos a certa profundidade
LWD Logging While Drilling, sigla em inglês que significa perfis adquiridos durante as
operações de perfuração
Mb. Membro de uma formação geológica
MD Mesured Depth, sigla em inglês que significa profundidade medida
xxvii
MWD Mesurement While Drilling, sigla em inglês que significa aquisição de dados de
direcional (azimute, direção) durante as operações de perfuração
Mud logging Sigla em inglês que significa medição contínua de dados como peso sobre broca, torque,
arraste, taxa de perfuração, quantidade de gás, ECD, pressão no anular poço coluna de
perfuração etc.
OVB Sobrecarga (também conhecida por sua sigla em inglês overburden), ora expressa em
unidade de pressão (em psi), ora expressa em unidade de massa específica equivalente de
fluido (lb/gal)
Petrobras Petróleo Brasileiro S.A, empresa brasileira de economia mista
∆P Variação de pressão através do comprimento L (em atm) ou diferença entre a pressão
estimada pelos métodos investigados e a pressão medida (em psi ou lb/ gal)
PDCA Plan, Do, Check and Act, sigla em inglês que significa Planejar, Executar, Analisar e
Agir, uma metodologia de trabalho baseada no cumprimento de etapas sequenciais
PDG Pressure Down Hole Gauge, sigla em inglês que designa um dispositivo destinado à
medição de pressão e temperatura, sobretudo de reservatórios de petróleo, com alta
precisão, resolução e confiabilidade
PP Pressão de poros, ora expressa em unidade de pressão (em psi), ora expressa em unidade
de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
PPmed Pressão de poros medida, ora expressa em unidade de pressão (em psi), ora expressa em
unidade de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
PPcv Pressão de poros estimada pela CV de Bowers, ora expressa em unidade de pressão (em
psi), ora expressa em unidade de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
∆PP Diferença entre a pressão de poros medida e a pressão de poros estimada pelo Método de
Bowers ou de Eaton, ora expressa em unidade de pressão (em psi), ora expressa em
unidade de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
PPA Pressão de poros anormalmente alta, ora expressa em unidade de pressão (em psi), ora
expressa em unidade de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
PPN Pressão de poros normal, ora expressa em unidade de pressão (em psi), ora expressa em
unidade de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
PPEA Pressão de poros estimada pelo Método de Eaton, ora expressa em unidade de pressão
(em psi), ora expressa em unidade de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
PPGBO Pressão de poros estimada pelo Método de Bowers, ora expressa em unidade de pressão
(em psi), ora expressa em unidade de massa específica equivalente de fluido (lb/gal)
ppm Partes por milhão
psi Pounds per square inch, sigla em inglês que designa a unidade inglesa de pressão
PRM Campo de Piranema
PRMS Campo de Piranema Sul
RFT Repeated Formation Tester, sigla em inglês usado como designação de testador a cabo
para múltiplos registros de pressão da formação
ROP Rate of penetration, sigla em inglês que significa taxa de perfuração, em m/h
RPM Rotações da broca por minuto
SHPDT SHP = Shale Point; DT = Delta Transit Time; sigla, com termos em inglês,
coloquialmente, usada em Perfuração, e neste trabalho para designar os pontos de
folhelho lançados sobre o perfil sônico
SHPDTf SHP = Shale Point; DT = Delta Transit Time; f = filter; sigla, com termos em inglês,
usada neste trabalho para designar o filtro usado em folhelhos lançados sobre o perfil
sônico
SPE Society of Petroleum Engineers
TFC Teste de Formação a Cabo
TVD True Vertical Depth, sigla em inglês que significa profundidade vertical verdadeira
UO-SEAL Unidade Operacional da Petrobras em Sergipe-Alagoas
xxviii
Unloading Sigla em inglês que significa descarregamento ou descarga
VRMS Root mean square velocity, sigla em inglês que significa velocidade média quadrática.
Consiste na média quadrática das velocidades intervalares das camadas que a onda sonora
da sísmica percorreu
vs Versus
WOB Weight on bit, sigla em inglês que significa peso sobre a broca, em ton
WRL Wireline, sigla em inglês que significa operações executadas no poço com cabo ou arame,
tanto para perfilagem quanto para movimentação de equipamentos

xxix
xxx
<Note que o número dessa página deve ser ímpar>

NOMENCLATURA

Romana
A Área através da qual ocorre o fluxo de fluido
@ it at, sigla em inglês que significa ‘em’, usado neste trabalho para designar a localização de
um ponto a certa profundidade
c Constante de conversão de unidades, usada nas equações em que a pressão é expressa em
termos de massa específica equivalente de fluido: 0,1704 para profundidade em metros e
0,0519 para profundidade em pés
C Constante igual a VN/(σ'N)1/3, em ft/s/(psi)1/3
D Depth, sigla em inglês que designa profundidade, em “m” ou “ft”
dc Expoente que fornece indicativo indireto da pressão de poros, calculado através de
correlação baseada na taxa de perfuração, peso sobre a broca, velocidade de rotação da
broca e diâmetro da broca; está em franco desuso.
dz Derivada (variação) da profundidade vertical
g Aceleração gravitacional, em m/s2
G Gradiente de pressão, em kgf/cm2/m ou psi/m ou psi/ft
k Permeabilidade da rocha, em Darcy ou mili Darcy
L Comprimento, em “m” ou “ft”
n Expoente de Eaton calibrado para cada área, adimensional
Q Vazão de fluido através do comprimento L, em m3/s
RO Resistividade observada em folhelho limpo, à profundidade considerada, em ohm.m
RN Resistividade do folhelho limpo, lida na linha de tendência normal, na mesma
profundidade de RO, em ohm.m
∆t Tempo de trânsito, em µs/ft
∆tO Tempo de trânsito observado no folhelho limpo, à profundidade considerada, em µs/ft
∆tN Tempo de trânsito lido na linha de tendência normal, na mesma profundidade do ∆tO, em
µs/ft
V velocidade sônica observada em qualquer ponto fora da linha de tendência de
compactação normal, na profundidade onde se lê a sobrecarga, em ft/s
VN velocidade sônica lida na linha de tendência de compactação normal, na profundidade onde
se lê a sobrecarga em ft/s
Z, z Profundidade vertical, em “m” ou “ft”

Grega
α Constante de Biot
µ Viscosidade do fluido, em centipoise (cp)
σ Tensão compressiva, em psi
σ'i Tensão efetiva inicial, em psi
σ'f Tensão efetiva final, em psi
σOVB Tensão compressiva vertical ou tensão de sobrecarga, em psi
σH Tensão compressiva horizontal maior, em psi
σh Tensão compressiva horizontal menor, em psi
σ'med Tensão efetiva calculada a partir da pressão medida, em psi

xxxi
σ'CV Tensão efetiva calculada a partir da Curva Virgem de Bowers, em psi
σ' ou σ'U Tensão efetiva calculada a partir da Curva de Descarregamento, em psi
ρb Massa específica da rocha, do inglês, bulk density, em g/cm3
ρfl Massa específica do fluido, em g/cm3
ρma Massa específica da matriz da rocha, em g/cm3
ρP med Massa específica equivalente à pressão de poros medida ou pressão de poros medida
expressa em termos de massa específica equivalente, em lb/gal
ρP H2O doce Massa específica equivalente à pressão de poros medida ou pressão de poros da água
doce expressa em termos de massa específica equivalente, em lb/gal
φb Porosidade da rocha, adimensional

xxxii
1. INTRODUÇÃO

Geomecânica é a ciência que estuda o comportamento mecânico do solo e das rochas,


podendo ser dividida em duas disciplinas principais: Mecânica do Solo e Mecânica das Rochas.
A primeira estuda temas ligados ao comportamento do solo de pequenas a grandes escalas, como
deslizamentos de terra. A segunda lida com a caracterização de massas rochosas e mecânica de
massas rochosas, como a perfuração de rochas.
No contexto da Perfuração, o estudo do comportamento das rochas como resposta aos
distúrbios causados por alterações de pressão, no estado de tensões atuantes nas rochas, no fluxo
de fluidos, nas mudanças de temperatura, erosão e outros fatores, pode ser dividido em áreas de
conhecimento complementares: Geopressões e Estabilidade Mecânica.
Num sentido amplo, considerando tanto condições in situ quanto aquelas que se criam
quando um poço é perfurado, estudar geopressões significa calcular as pressões existentes ou
atuantes no subsolo (pressão de sobrecarga, pressão de poros, pressão de fratura e pressão de
colapso) e as tensões impostas às rochas (normais e cisalhantes).
Estudos diversos mostram que as principais causas de tempo perdido na perfuração estão
relacionadas a problemas de geopressões, como instabilidade de poços, perdas de circulação,
kicks e eventual fluxo descontrolado de fluidos do reservatório à superfície (blowouts) (Hubbert e
Rubey, 1959; Eaton, 1975; Bowers, 1995; Swarbrick e Osborne, 1998; Mukerj et al., 2002;
Falcão, 2002; Gutierrez et al., 2006; Rocha e Azevedo, 2009; Goulty e Ramdhan, 2012; Tingay,
2013).
Assim, a relevância financeira da economia de centenas de horas perdidas sob os custos das
diárias das sondas atualmente disponíveis no mercado é, por si só, um motivo para a necessidade
de aumento da confiabilidade no planejamento de um projeto de Engenharia de Perfuração de
poços. Nesse tipo de projeto, a disciplina de geopressões figura como protagonista na etapa de
planejamento, sobretudo no que diz respeito à estimativa da pressão de poros. Se essa etapa for
bem embasada e estiver associada à adequada montagem e execução das operações de
perfuração, maiores serão as chances de sucesso na realização dos prazos e custos projetados para
o poço.

1
No presente trabalho, a expressão estudo de geopressões estará restrita à análise das
pressões de poros e de sobrecarga das rochas.
O termo pressão de poros pode ser definido como a pressão exercida pelos fluidos da
formação nas paredes dos poros das rochas (AadØy & Looyeh, 2010). Pressão de poros normal,
por sua vez, é a pressão dos fluidos que equivale à pressão hidrostática de uma coluna de água
que se estende da profundidade de uma dada formação até a superfície (Donaldson et al., 1989;
Rosa et al., 2006). Por analogia, pressões de poros anormalmente altas, também conhecidas como
sobrepressão, significam pressões de fluido maiores que a pressão hidrostática normal.
A literatura pesquisada, apresentada no Capítulo 2 de Revisão Bibliográfica, revelou que a
quase totalidade das correlações disponíveis para estimativa de poro-pressão se baseia em dois
princípios: (1) na atuação apenas do mecanismo de subcompactação na geração de pressões
anormalmente altas em formações impermeáveis ou de baixa permeabilidade (como
folhelhos/argilas) e (2) no equilíbrio de pressões de poros entre essas formações e formações
permeáveis imediatamente adjacentes (como arenitos).
Entretanto, como será discutido neste trabalho, mais de um mecanismo gerador de pressão
anormalmente alta pode estar atuando em uma região e a desconsideração dessa realidade no
modelo teórico de geopressões pode comprometer o resultado das estimativas de pressão de poros
levando a erros significativos (Bowers, 1995, 2001, 2002; Swarbrick et al., 2002). Isso porque a
pressão estimada pode ser menor que seu valor real, uma vez que a co-atuação de mecanismos
pode resultar no aumento da pressão de poros (reduzindo a tensão efetiva1).
A consequência (pressão real maior que a pressão de poros estimada) poderia revelar, na
prática, estreitamento da janela operacional durante a perfuração, levando à instabilidade das
paredes do poço (com consequente desmoronamento das mesmas), kicks, perdas de circulação,
dano aos revestimentos etc.
Os métodos usuais de estimativas de pressão de poros se baseiam numa relação entre um
atributo de porosidade e a tensão efetiva, esta última definida pela equação de Terzaghi (1936) da
Mecânica dos Solos. Assim são os métodos teóricos de Eaton (1975) e Bowers (1995), alvos de
investigação neste trabalho.
Vale lembrar que não é somente na área de Engenharia de Perfuração que a pesquisa dos
diversos mecanismos atuantes na geração de pressões anormalmente altas é fundamental. Em

1
O termo tensão efetiva está definido na revisão bibliográfica no Item 2.1.

2
Geologia e Geofísica de petróleo, o processo de geração da pressão de poros, por exemplo,
também é relevante para a compreensão da evolução da geração e migração de hidrocarbonetos.
A ocorrência de sobrepressões em formações sedimentares pode exercer controle parcial no
tipo e na quantidade de hidrocarbonetos presente numa rocha porque afeta de maneira potencial a
direção do fluxo do fluido, influenciando a geometria de falhas e dobras em bacias em que as
estruturas argilosas são predominantes. Sua ocorrência também pode provocar a extinção do selo
de um reservatório caso a pressão atinja os limites da pressão litostática. Sua ocorrência pode
ainda mascarar indicações sísmicas da presença de hidrocarbonetos.
Na prática, a ocorrência de mecanismos geradores de altas pressões pode ser revelada
através da aplicação em si de métodos de estimativas de pressão de poros.
Com base na literatura, foram discutidos os principais fundamentos abordados no
desenvolvimento deste trabalho; os aspectos envolvidos na compactação de folhelhos; os
principais mecanismos geradores de pressões de poros anormalmente altas e dois métodos usados
em estimativas de pressões de poros.
Os métodos Eaton (1975) e Bowers (1995) foram analisados, à luz dos conceitos adotados
na indústria de petróleo no Brasil e no mundo. Foi enfatizada a análise do Método de Bowers, por
seu caráter instável, por suas exigências de aplicação, por ser pobremente explorado quando
adotado como método de estimativa de pressão de poros e porque a abordagem do autor não
considera a análise de reservatórios com distintos comportamentos de pressão num mesmo poço.
Essa última justificativa motivou a busca, pelo presente trabalho, de alternativas para uso do
método já que este é o caso dos campos escolhidos para análise.
Também foi abordada a sistemática de trabalho da Petrobras, usada na geração de dados de
entrada para aplicação dos métodos, e considerada compatível com o estado da arte utilizado
pelas companhias internacionais de petróleo. Após gerar as estimativas de pressões de poros
através de cada método, os resultados foram comparados em termos de pressões reais medidas.

3
1.1. Motivação

Tradicionalmente, a escolha do Método de Eaton (1975) se baseia no fato de ser uma


metodologia mundialmente difundida e aceita pela indústria de petróleo, usada em estimativas de
pressão de poros, não somente pela Petrobras, mas também por outras operadoras. Esse método
baseia-se exclusivamente na ocorrência de subcompactação de folhelhos, desconsiderando-se a
atuação de possíveis mecanismos adicionais, cuja investigação de ocorrência está inserida no
cenário do presente trabalho.
De forma resumida, para que a estimativa de pressão de poros através de Eaton permita
considerar a atuação de outros mecanismos geradores de sobrepressão, é necessário introduzi-la
no contexto de uma sistemática de trabalho coerente, que alia o estudo da memória da perfuração
à história geológica dos poços. É esse estudo global que embasa o especialista para realizar ou
não correções nos parâmetros do método para a obtenção de melhores estimativas de pressão de
poros.
Assim, uma motivação para sua utilização é o uso de um método consagrado para estudar o
comportamento das pressões dos campos escolhidos, previamente à aplicação do Método de
Bowers, foco do presente trabalho. Paralelamente, suas limitações e vantagens serão também
investigadas.
Mais recentemente, o Método de Bowers (1995) despertou interesse por propor uma
metodologia de investigação da atuação de diferentes mecanismos geradores de pressões
anormalmente altas além da subcompactação, não sendo, porém, tão amplamente aplicada como
o Método de Eaton.
Sua utilização ainda é pouco acompanhada de questionamento a respeito das premissas que
devem ser obedecidas (ou que foram assumidas), das suas limitações de uso e da análise
simultânea dos parâmetros que o afetam direta ou indiretamente e que possam influenciar a
resposta dos dados de entrada no momento da aplicação do método.
Dessa maneira, a principal motivação do estudo é a investigação do Método de Bowers e a
comparação das estimativas de pressões de poros geradas por ele frente a dados de pressão
medida e também a resultados obtidos com a utilização de um método consagrado (Eaton).
A escolha da Bacia de Sergipe-Alagoas (SE-AL), no Nordeste do Brasil, baseou-se no fato
de ser uma área com pressões de poros anormalmente altas e na quantidade e tipo de dados
4
disponíveis para análise. Como objeto de estudo foram escolhidos dois campos de águas
profundas2, Piranema e Piranema Sul, por três motivos que, analisados em conjunto, os tornaram
mais interessantes para o estudo que as demais concessões da bacia.
O primeiro deles é que os dados de pressão medida necessários ao estudo estavam livres da
influência de injeção de água e dos efeitos de produção acumulada, típica de campos em
produção.
Segundo, por apresentarem a combinação de pré-requisitos dos dados necessários: (a)
quantidade (número de poços com medidas de pressão normal e anormal disponíveis); (b)
utilidade (existência de um conjunto mais completo de perfis elétricos de interesse, no mínimo
raios gama, sônico, caliper do poço e densidade, e estratigrafia) e (c) qualidade (perfis elétricos a
cabo relativamente recentes).
Terceiro, porque representam atualmente o principal projeto de desenvolvimento da
produção em andamento na Unidade Operacional de Sergipe Alagoas da Petrobras (UO-SEAL).
O estudo de outras concessões sobrepressurizadas da Petrobras, de caráter essencialmente
exploratório, foi descartado por uma questão de segurança e preservação de informações e por
outros motivos apresentados no item 5.1.1 de Triagem de Poços.
Nos campos escolhidos, a Formação Calumbi é a de maior interesse para o
desenvolvimento do estudo, não somente pelo peso da ampla divulgação de seus dados no
mercado e pela quantidade de dados disponíveis para análise, como também pela expectativa de
perfuração de poços, decorrentes das recentes descobertas em outras concessões. Além disso,
trata-se do principal reservatório da bacia, sendo de interesse, não apenas da Perfuração, mas
também para as Geociências, o estudo do comportamento das pressões.
A maior aquisição de dados de pressão no Maastrichtiano e Campaniano da Formação
Calumbi tornaram essas idades geológicas o principal foco do estudo. Entretanto, outras idades e
épocas foram abordadas neste trabalho por também apresentarem dados de pressão, como mostra
a Tabela 1.1. O Apêndice IV trata especificamente das características dessa formação.

2
São consideradas lâminas de águas profundas aquelas com valores compreendidos entre 300 a 1.500 m.

5
Tabela 1.1: Quadro estratigráfico dos períodos, épocas, idades e zonas geológicas abordados neste
trabalho e padrão de cores usado nas figuras da aplicação dos métodos.
ÉPOCA FORMAÇÃO
PERÍODO IDADE ZONA
(abreviação) (abreviação)
Oligoceno Inferior (Olig I) - -
Eoceno Inferior (Eoc I)
Eoceno Médio (Eoc M) - -
Eoceno Superior (Eoc S)
Terciário -
Paleoceno Superior
(Paleoc S)
- -
Paleoceno Inferior
(Paleoc I)
X
Maastrichtiano
Cal 920
(Maast) Calumbi
Superior Cal 930
Campaniano (Cal)
Cal 940
Cretáceo (Camp)
Cal 950
Riachuelo
Albiano (Alb)
Inferior (Riach) -
Aptiano (Apt)
Maceió

1.2. Objetivos

O objetivo deste estudo é a análise (teórica e de resultados) de dois métodos de estimativas


de pressão de poros nos campos de petróleo de águas profundas de Piranema e Piranema Sul na
área da Bacia de Sergipe-Alagoas: o Método de Eaton (1975) e o Método de Bowers (1995). O
primeiro faz parte da sistemática de trabalho da Petrobras usada em estudos de geopressões,
também comum e largamente utilizada pela indústria, e será aplicado previamente ao Método de
Bowers para entender o comportamento das pressões de poros na Formação Calumbi. Já o
Método de Bowers é aplicado para que a investigação direta da hipótese de ocorrência de outros
mecanismos além da subcompactação nos campos citados possa permitir, paralelamente, a
descoberta das suas limitações e vantagens.
Através da análise e aplicação dos métodos, pretende-se:
• apontar premissas de aplicabilidade, vantagens e limitações;
• avaliar os resultados das estimativas de pressões de poros gerados por ambos, comparando-
os, inicialmente, com as pressões medidas no Cretáceo Superior (Maastrichtiano e
Campaniano), e posteriormente com as de outras épocas e idades geológicas em que aquela
formação se apresenta (Eoceno, Paleoceno e Albiano).

6
1.3. Organização do trabalho

O Capítulo 2, da Revisão Bibliográfica e Fundamentação Teórica, embasa a dissertação


com os fundamentos necessários ao seu desenvolvimento. Serão apresentados os principais
conceitos envolvidos nesse estudo (geopressões, pressão de poros, classificação de pressões de
poros, pressão de sobrecarga). O capítulo também apresenta a revisão da literatura, tanto de
pesquisas mais antigas quanto atuais, sobre as causas da maioria das condições de sobrepressão
em formações sedimentares permeáveis e não permeáveis, agrupando-as em categorias baseadas
nos processos envolvidos. A fundamentação teórica abrange os principais mecanismos geradores
de pressões anormais e termina mostrando a classificação de métodos de estimativas de pressões
de poros, encerrando a primeira parte da dissertação. Em complementação ao Capítulo 2, estão os
Apêndices I a IV.
O Capítulo 3 inicia a segunda parte deste trabalho. Apresenta os métodos de Eaton (1975) e
Bowers (1995), analisando-os criticamente e tecendo considerações específicas de cada um, em
termos de premissas, vantagens e limitações, abordando um contexto geral, prévio à geração de
resultados. Em complementação a esse capítulo, estão os Apêndices V e VI.
O Capítulo 4, da Descrição da Metodologia, mostra o passo a passo da sistemática de
trabalho usada na geração dos dados de entrada para a aplicação dos métodos e o fluxograma
proposto neste estudo. Em complementação a esse capítulo, estão os Apêndices VII e VIII.
O Capítulo 5, de Aplicação dos Métodos, Apresentação de Resultados, Comparações e
Discussões, apresenta a massa de dados dos poços dos campos estudados e a aplicação dos
métodos de Eaton e Bowers, expondo e discutindo os resultados encontrados (estimativas de
pressão de poros). À luz da argumentação fornecida no Capítulo 3, o Capítulo 5 também discute
os métodos, mas no contexto dos resultados obtidos, mostrando sua aplicabilidade, frente às
restrições e proficuidades identificadas anteriormente. Ao final, o item Comparação dos Métodos
e Considerações Gerais resume o capítulo, mostrando os principais aspectos envolvidos. Em
complementação, estão os Apêndices IX a XII.
O Capítulo 6 apresenta as conclusões e o Capítulo 7 finaliza este trabalho com algumas
recomendações para futuros estudos.

7
8
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E CONCEITOS
FUNDAMENTAIS

Esse capítulo compreende a primeira parte da dissertação e fornece os conceitos básicos


necessários ao entendimento de qualquer método de estimativa de pressões de poros. São
abordados, sobretudo, os mecanismos geradores de pressões anormais, cuja identificação de
atuação, em determinado conjunto de poços, tem impacto direto sobre as estimativas de pressões
resultantes da aplicação de Eaton (1975) e Bowers (1995).
A segunda parte da dissertação se inicia a partir do capítulo seguinte, que apresenta esses
dois métodos discutindo-os criticamente de forma independente dos resultados, à luz das suas
premissas, limitações e vantagens.

2.1. Pressão de Poros, Classificação de Pressão de Poros, Pressão Anormal

Conforme mencionado, num sentido amplo, estudos na disciplina de geopressões envolvem


o cálculo das pressões do subsolo e das tensões impostas às rochas. Neste trabalho, a locução
“estimativa de curvas de geopressões” fará referência ao estudo necessário à estimativa de
valores de pressão de sobrecarga e de poros da rocha, com este último conceito representando o
principal foco do estudo.
Não serão objeto desta pesquisa as pressões de fratura e de colapso das formações, embora
sua quantificação tenha importância na determinação de fundamentos básicos de todo projeto de
Engenharia de Perfuração de poços (como janela operacional e assentamento das sapatas dos
revestimentos) e na identificação de problemas relacionados à estabilidade das paredes do poço
durante essa operação. O Apêndice I traz breve fundamentação teórica sobre esse assunto.
Quando se fala na construção de modelos de estimativas de geopressões, os dois primeiros
aspectos que devem ser considerados, tanto em locações exploratórias, quanto em áreas em
produção, dizem respeito à quantidade e qualidade de dados disponíveis para estudo.
A confiança na análise da pressão de poros começa com a seleção qualitativa dos poços de
correlação (Young e Lepley, 2005). De maneira simplificada, se existem dados suficientes, com

9
qualidade confiável, e se eles estiverem disponíveis, melhores serão os resultados obtidos na
construção desses modelos.
Dessa forma, a construção de um modelo de geopressões torna-se uma ferramenta
importante que permite transformar dados de poços análogos perfurados numa área em
informação que reduza a incerteza do modelo prévio à perfuração de um poço ou na montagem
de um cenário que represente o comportamento da pressão em uma região.
A coleta e preparação dos dados têm sido apontadas na literatura (Knowledge Systems,
2001) e comprovadas na prática pelos projetos de Engenharia de Perfuração da Área
Internacional da Petrobras, como uma das tarefas que mais consomem tempo na estimativa de
geopressões. Isso se deve à necessidade, dentre outros aspectos, da coleta e análise de uma
grande quantidade de dados com origem em muitas disciplinas (Geofísica, Geologia, Perfuração
e Reservatórios) e também devido à onipresente política de segurança da informação.
Neste contexto, o trabalho do analista de geopressões, apesar de minucioso, depende de
uma base de dados que carrega incertezas inerentes às atividades realizadas antes do recebimento
do dado pelo analista. São exemplos destas atividades a obtenção de velocidades sísmicas; o
processamento destas velocidades para conversão da energia sísmica do domínio do tempo para o
domínio da profundidade, para obtenção de profundidades geológicas e de características
petrofísicas da rocha; a aquisição de perfis elétricos; a aquisição de medidas de pressão etc.
Nesta dissertação, outro conceito fundamental além da pressão de poros é o de tensão.
Na Mecânica dos Sólidos, o comportamento de um corpo sólido sujeito a forças e
contenções é avaliado usando as leis fundamentais da mecânica de Newton (do século XVII),
governadas pelo balanço de forças e propriedades mecânicas e da composição do material que o
constitui. Os dois elementos chave da Mecânica dos Sólidos são a resistência interna desse corpo,
denominada tensão, que age para balancear o efeito de forças externas, e a mudança de formato
sofrida por ele em resposta à atuação dessas forças, denominada deformação.
Como o corpo deformável é admitido ser contínuo, as forças internas são distribuídas
continuamente dentro do seu volume. Ou seja, a distribuição de tensões é expressa por uma
função contínua de coordenadas espaciais e temporais.
Um caso particular é o da tensão uniaxial, que se origina do conceito elementar de pressão,
que por sua vez consiste numa força normal a determinado plano com magnitude, direção e
sentido, atuando em uma unidade de área. Conforme o Apêndice I, que aborda brevemente o

10
tema tensões em subsuperfície, por tensão também se entende uma extensão do conceito para os
casos em que a força por unidade de área pode não ser, necessariamente, normal.
Segundo AadnØy & Looyeh (2010), tensão (σ) é a razão entre o valor da força (F) e o
elemento de área (A), conforme a equação 2.1:

F 2.1
σ=
A

Nesta definição, entretanto, são considerados apenas sólidos não porosos, ou seja, maciços
e por isso ela não pode ser aplicada às rochas e/ou solos, sabidamente materiais porosos.
Considerando-se o fato de que em rochas contendo fluido em seus poros a carga está
distribuída pela matriz e pelo fluido (que a ajuda a suportar ou aliviar grande parte das tensões),
Karl Von Terzaghi (1936), pai da Mecânica dos Solos, postulou o bem-sucedido conceito de
tensões efetivas, apresentado na equação 2.2 e ilustrado na Figura 2.1.
Essa equação mostra que a tensão efetivamente atuante na rocha (σ’) é a diferença entre a
tensão total (σ), que controla os processos de compactação de rochas sedimentares, e a pressão de
hidrostática contida nos poros ou pressão de poros (PP):

σ ' = σ − PP 2.2

PP

poro com fluido


σ'
matriz da rocha

Figura 2.1: Material poroso da rocha consistindo de matriz e fluido (AadnØy & Looyeh, 2010)

Mais tarde, o belga Biot (1941) propôs a teoria da Poroelasticidade que descreve o
comportamento de sólidos poro-elásticos isotrópicos e lineares totalmente preenchidos com
fluidos. Em Engenharia de Perfuração essa teoria se aplica à distribuição de tensões nos entornos
do poço. O autor criou a constante de Biot (α) que relaciona a compressibilidade total da rocha
com a compressibilidade dos grãos. Segundo AadnØy & Looyeh (2010), tal constante pode ser
usada para apresentar a equação de Terzaghi (1936) de forma mais genérica:

11
σ ' = σ − αPP 2.3

Comentam ainda que, para rochas reais, a constante varia entre 0,8 e 1,0. Já Fjær et al.
(2002) afirma que essa constante pode variar entre o valor da porosidade da rocha (φb) e 1,0 (φb <
α ≤ 1,0). Entretanto, esse autor, apesar de afirmar que para solos é razoável assumir α = 1 e que
para rochas deveria ser usado um valor diferente de 1,0, também comenta que “geralmente é
aceita a definição de Terzaghi com α = 1 para o cálculo da tensão efetiva”.
Campos (1983) também considera α = 1 no cálculo da tensão efetiva por Terzaghi, sendo a
constante usada apenas para calcular tensões normais na parede do poço sob influência do fluxo
de fluidos no meio poroso (vide Apêndice I).
Na prática dos poucos grupos da Petrobras que trabalham com geomecânica, a constante
não é usada diretamente em cálculos de pressões de poros e será considerada igual a um (1) neste
trabalho.
Em relação à tensão efetiva, ela pode ser horizontal ou vertical. No caso de tensão efetiva
vertical, a tensão total é o peso das camadas de rochas sobrepostas até determinada profundidade
(tensão devido ao carregamento vertical) também conhecida como tensão de sobrecarga. Ela pode
ser expressa em termos de pressão se a densidade da rocha for conhecida a certa profundidade,
conforme descrito no Item 2.2.
Nesta dissertação, a equação 2.2 é a base do Método de Bowers e o termo ‘tensão’ será
usado para designar a atuação de uma pressão sobre a matriz da rocha, associada à pressão
hidrostática de fluidos contidos em seu interior e agindo em igual intensidade em todas as
direções.
Através do postulado de Terzaghi (1936) é possível concluir que aumentos de tensões
efetivas (verticais) devido à carga de sedimentos durante o soterramento, normalmente causa a
compactação da rocha reduzindo o volume poroso e forçando a saída dos fluidos dos poros da
rocha. Este conceito se aplica a tensões normais da rocha e não pode ser estendido à tensões
cisalhantes, já que fluidos em repouso não oferecem resistência ao cisalhamento.
Também pela análise da equação 2.2 é possível observar que, se a tensão total aumenta e o
fluido consegue escapar, a tensão efetiva deve aumentar enquanto a pressão de poros ou pressão
hidrostática permanece constante, sendo então caracterizada a compactação normal.

12
Entretanto, se o fluido não puder escapar e a tensão total continuar aumentando, a pressão
de poros também deve aumentar. Essa é a definição mais simples do conceito de desequilíbrio da
compactação ou subcompactação. Em outras palavras, rápido soterramento requer rápida
expulsão de fluidos para que a pressão permaneça hidrostática. Se os fluidos não conseguem ser
expulsos de forma rápida o suficiente, o resultado é a redução do volume poroso com aumento da
pressão de poros (Swarbrick e Osborne, 1998, e Bowers, 2001).
O Apêndice II foi criado com o objetivo de ilustrar esses dois conceitos fundamentais.
Segundo Bourgoyne et al. (1989), a definição de gradiente de pressão de poros usada pela
comunidade de petróleo é a razão entre a pressão do fluido contido no poro da rocha e sua
profundidade vertical como mostrado na equação 2.4:

PP
G= 2.4
z

onde:
G = gradiente de pressão, psi/m ou psi/ft ou Pa/m
PP = pressão do fluido contido no poro da rocha ou simplesmente pressão de poros, psi ou Pa
z = profundidade vertical que faz referência à altura da mesa rotativa da sonda, m ou ft

Na Perfuração, a pressão de poros costuma ser expressa em unidades de massa específica


(ρP) com o objetivo de estabelecer comparação com a massa específica equivalente à do fluido de
perfuração, conforme mostra a equação 2.5 (Bourgoyne et al., 1989).

=

2.5

onde, em unidades usuais da Perfuração:


ρP = massa específica equivalente do fluido contido no poro da rocha, lb/gal
C = constante de conversão de unidades = 0,1704, para “PP” em psi, “z” em metros; ou 0,0519, para “PP”
em psi e “z” em pés

Em unidades de campo é usual expressar essa massa específica em ‘libras por galão’
(lb/gal), sendo ainda mais corriqueiro o uso da abreviação do termo em inglês ‘pounds per
gallon’ (ppg). Coloquialmente, na indústria do petróleo, costuma-se chamar gradiente de pressão
de “peso de fluido equivalente”, “densidade equivalente de fluido” ou simplesmente “peso de
13
fluido”. Entretanto, observe-se que estas denominações coloquiais não devem ser confundidas
com a diferença de conceitos entre massa específica, peso específico e densidade.
Nesta dissertação, a pressão de poros se refere à massa específica equivalente do fluido
contido no poro da rocha, na profundidade vertical considerada, sendo então expressa em
“lb/gal”. Assim, por exemplo, onde se lê “pressão de poros de 11 lb/gal”, leia-se “pressão
exercida pelo fluido contido no poro da rocha expressa em termos de massa específica
equivalente à desse fluido no valor de 11 lb/gal”.
Por definição, reservatórios normalmente pressurizados possuem gradiente de pressão de
poros normal, a certa profundidade, cujo valor é igual àquele exercido por uma coluna
hidrostática de água doce (gradiente hidrostático) que se estende desde a superfície até a
profundidade vertical do reservatório (Donaldson et al., 1989). Entretanto, “há uma grande
variação de gradientes hidrostáticos em diferentes locações, sendo 0,456 psi/ft o valor da média
geralmente usada, correspondente à água com 80.000 ppm de NaCl a 25°C”, comenta o autor.
Outros exemplos foram encontrados em Bougoyne et al. (1989), conforme a Tabela 2.1:

Tabela 2.1: Gradiente de pressão de PP para diversas áreas


(Bougoyne et al., 1986, traduzida e modificada)
(1)
GPP ρP
Região
(psi/ft) (kg/m3) (lb/gal)
Oeste do Texas, Bacia Anadarko 0,433 1.000 8,345
Montanhas Rochosas 0,436 1.007 8,403
Califórnia 0,439 1.014 8,461
Malásia, Delta Makenzie, Oeste da África 0,442 1.021 8,518
Mar do Norte 0,452 1.044 8,711
Costa do GoM 0,465 1.074 8,962
á ê çã
(1)
= 8,345 lb/gal; galões americanos conforme Apêndice XI.

Para entender melhor o sistema sob o qual se desenvolvem as altas pressões em termos de
retenção de fluidos, segundo Swarbrick et al. (2002), é preciso conhecer os quatro principais
aspectos das rochas e das condições dos fluidos:
• permeabilidade da rocha (e sua habilidade de agir como selo);
• tempo geológico e taxa de soterramento;
• mecanismo gerador;
• tipo de fluido contido nos poros da rocha;

14
Rosa et al. (2006, p. 152) definem a permeabilidade de um meio poroso (k) como “a
medida da sua capacidade de se deixar atravessar por fluidos”. A equação de maior utilização
prática para estudo do fluxo de fluidos em meios porosos (equação 2.6), formulada em 1856 por
Henry Darcy, quando adaptada para expressar o fluxo de fluidos viscosos, pode ser assim
expressa: “a vazão através de um meio poroso é proporcional à área aberta ao fluxo e ao
diferencial de pressão, e inversamente proporcional ao comprimento do meio poroso e à
viscosidade do fluido”.

− k . A.∆P
Q= 2.6
µ .L
onde, no Sistema Darcy (Rosa et al., 2006, p. 796, Apêndice L) tem-se:
Q = vazão de fluido, cm3/s
k = permeabilidade da rocha, d [=] Darcy
A = área da seção transversal através da qual ocorre o fluxo de fluido, cm2
∆P = variação de pressão através de L, atm
L = comprimento do meio poroso, cm
µ = viscosidade do fluido, cp [=] centipoise

A equação de Darcy define a taxa de fluxo, que é dependente do tempo. A sobrepressão é


um estado de desequilíbrio cuja magnitude e distribuição mudam com o tempo, dependendo da
evolução do sistema geológico. Pode ser entendido como um fenômeno de natureza “efêmera”,
onde há uma fase de crescimento de pressão, quando o(s) mecanismo(s) gerador(s) está(ão) ativo
(s), seguida de uma fase de dissipação da pressão, que ocorre em sistemas permeáveis (a menos
que uma permeabilidade efetiva zero seja atingida, situação de difícil manutenção quando se
consideram meios aquosos e o tempo geológico).
Como as anomalias de pressão tendem a se dissipar ao longo do tempo, principalmente em
pequenas distâncias, pela redistribuição de fluidos, espera-se que zonas sobrepressurizadas de
grande extensão sejam mais frequentemente preservadas ao longo do tempo geológico.
Outro aspecto importante desse sistema é o tipo de fluido contido nos poros das rochas. O
fluido mais comum em qualquer bacia sedimentar é água, que varia de doce à salgada com vários
níveis de salinidade, conforme já comentado. O total de sólidos dissolvidos determina o gradiente

15
de pressão por meio do seu efeito na densidade e do controle (mesmo que pequeno) das
propriedades do fluxo através da viscosidade.
Quando óleo ou gás estão presentes, as propriedades do fluido e do fluxo dependerão da sua
composição, da temperatura, saturação, permeabilidades relativas e das propriedades da rocha.
Essas propriedades têm particular relevância nos sistemas pressurizados devido ao seu contraste
de densidades, ao efeito que as diferentes pressões capilares exercem nas permeabilidades
relativas e ao efeito da capacidade selante das rochas onde esses fluidos estão contidos.
Assim, aumentos e diminuições da pressão ao longo do tempo irão influenciar a
composição de hidrocarbonetos da bacia. Por exemplo, o gás, de menor densidade, tem menor
flutuabilidade sob elevadas pressões, fazendo com que maior quantidade permaneça em solução.
Já com a queda de pressão abaixo do ponto de bolha, o gás sai de solução.
No contexto desta dissertação, o tipo de fluido é particularmente importante porque pode
impactar a resposta do perfil acústico de porosidade usado para as estimativas de pressões de
poros. Isso é relevante, sobretudo no Método de Bowers, que conjuga pontualmente, ou seja, em
determinada profundidade, o trio: velocidade acústica, pressão medida e sobrecarga. Nesse caso,
as medidas de pressão tomadas na água seriam aquelas que forneceriam melhores resultados.
Na perfuração, a detecção da pressão é realizada em formações permeáveis. As medições
podem ser feitas:
• de forma direta, através de medições na parede do poço durante a perfuração (FPWD, por
exemplo) e através de testes de formação após a perfuração (vide Apêndice VI);
• de forma indireta, inferidas através de perfis adquiridos durante a perfuração (LWD) ou da
interpretação de parâmetros de perfuração (como peso sobre broca, taxa de penetração,
medidas de torque, leituras de volumes de gás etc.), ou ainda por meio de perfilagem a cabo
(WRL), que pode ocorrer após a perfuração (perfilagem final) ou após a conclusão de uma
fase do poço.

Já a pressão de poros em formações de baixa permeabilidade ou impermeáveis (como


argilas e folhelhos) não pode ser medida de forma direta (justamente em função de sua baixa
permeabilidade), devendo ser inferida das rochas permeáveis adjacentes ou da interpretação de
perfis de LWD/WRL.

16
As pressões medidas indiretamente por perfis podem ser usadas para calibrar a pressão em
folhelhos. Segundo Young e Lepley (2005) a validação das estimativas de pressão de poros em
folhelhos estaria “próxima do impossível” porque sempre corresponderia a uma aproximação do
valor real.
Por aproximação, considera-se que corpos permeáveis imersos e isolados em porções
argilosas pressurizadas, embora permitam a dissipação de fluidos durante a acomodação, tendem
a adquirir a pressão dessas rochas impermeáveis ao longo do tempo geológico, ou seja, tendem a
estabelecer equilíbrio (Domingues, 2008). Essa aproximação acaba sendo responsável pelas
discrepâncias de valores de pressões prevista e revelada tanto em folhelhos quanto em areias.
Esse lapso, em geral, complica a perfuração, podendo resultar, por exemplo, em kicks
quando areias pressurizadas são perfuradas (e a pressão exercida pelo fluido de perfuração estava
baixa porque a pressão de poros estimada era menor que a real) ou em prisão de coluna em frente
a formações permeáveis (quando altos valores de pressão de fluido são usados porque a pressão
de poros prevista era alta e se revelou mais baixa durante a perfuração do poço).
Apesar dos fatos descritos anteriormente, a grande maioria dos métodos para estimativa de
pressões de poros calcula os valores de pressão em formações impermeáveis (sobretudo
folhelhos) analisando as variações de porosidade e densidade através de perfis. Esse é o princípio
de muitos métodos de modelagem de pressões de poros, que utilizam o comportamento de
propriedades físicas adquiridas em poços.
Assim, perfis de tempo de trânsito de ondas sônicas, de resistividade elétrica e de
densidade, por se relacionarem à porosidade, além do próprio perfil de porosidade, podem ser
utilizados como indicação de subcompactação e, portanto, das sobrepressões derivadas. O mesmo
é válido para dados de velocidades sísmicas.
Apesar das limitações para a análise das pressões em formações impermeáveis (como a
impossibilidade de realizar medições diretas de pressão), algumas justificativas para o uso desse
tipo de formação podem ser citadas:
• comportamento previsível quando sofrem compactação;
• ausência ou redução de risco de ocorrer um kick, caso seja necessário corrigir a massa
específica do fluido de perfuração para atravessar uma zona com valor de pressão maior
que o previsto;

17
• formações permeáveis podem apresentar maiores variações de porosidade devido a outras
causas não relacionadas ao processo de compactação normal quando comparadas a
formações impermeáveis e isso tornaria mais complicada a previsão da pressão de poros
(como por exemplo, alterações de porosidade devido à circulação de fluido de perfuração
e/ou à dissolução e precipitação de minerais no espaço poroso).

Pressões anormais ocorrem em formações onde a pressão de poros é maior que a


hidrostática normal, situação chamada sobrepressão, ou menor que ela, dita subpressão, conforme
já brevemente descrito na “Introdução”. Sob essa perspectiva, Rocha e Azevedo (2009)
classificaram as pressões de poros em quatro categorias, expostas na Tabela 2.2.
Entretanto, como mostra a Tabela 2.3 mais adiante, da classificação usada pela Petrobras,
os valores adotados para os limites inferior e superior da pressão hidrostática podem variar de
acordo com a região estudada a depender de fatores como temperatura e salinidade da água das
formações. Esta, por exemplo, pode ser mais salgada nas proximidades de domos salinos ou mais
doce como nas regiões com cordilheiras e geleiras cuja alimentação veio do degelo dessas águas
doces superficiais.
Talvez devido à dependência daqueles fatores, não foi encontrada uma definição final e
única na literatura pesquisada para o que se considera mundialmente como limites para os valores
da hidrostática normal. Há, por exemplo, casos relatados de valores ao redor de 9,3 lb/gal para a
hidrostática normal (para águas com salinidades de até 180.000 ppm de NaCl) em regiões da
Bacia de Santos próximas a domos salinos.
Nesta dissertação, o termo “pressão anormal” fará referência apenas à sobrepressão ou
pressão anormalmente alta. Será usada uma abordagem um pouco diferente das apresentadas nas
Tabelas 2.2 e 2.3. Trata-se do Índice de Sobrepressão (IS) que faz alusão à massa específica
equivalente da água doce no valor de 8,345 lb/gal (ou em termos de gradiente de pressão 1,422
psi/m = 0,433 psi/ft = 0,1 kgf/cm2/m, conforme Apêndice XI; Athy, 1930). Nesse contexto, um
dos objetivos do IS foi definir os limites adotados para classificação das pressões de poros.
Como constitui um enfoque ainda não publicado na literatura, sua definição encontra-se no
Capítulo 4 de Descrição da Metodologia. Esse índice foi proposto na Unidade Operacional de
Sergipe-Alagoas da Petrobras (UO-SEAL) para o estudo dos reservatórios turbidíticos da
Formação Calumbi, tendo como objetivo a análise do declínio de produção e correlação entre

18
jazidas produtoras de hidrocarboneto nos campos de Guaricema e Dourado, também na Bacia de
Sergipe-Alagoas (Marques et al., 2009).
Mais tarde, esse índice foi utilizado na análise do comportamento da pressão de poros de
reservatórios produtores da Formação Calumbi de outras concessões da bacia (como, por
exemplo, Salgo, Brejo Grande, Ilha Pequena). Para a análise dos campos de Piranema (PRM) e
Piranema Sul (PRMS), ele foi calculado para a aplicação do Método de Bowers.

Tabela 2.2: Classificação das PP, segundo Rocha e Azevedo (2009, modificada)
Classificação Pressão de Poros expressa em termos de Massa Específica
Rocha e Azevedo (2009) ρP)
Equivalente de Fluido (ρ
Anormalmente Baixa ou
Subpressão ρP < ρP HID* ρP < 8,5 lb/gal
Normal ρP HID = ρP ρP = 8,5 lb/gal
Anormalmente Alta ou
Sobrepressão
ρP HID < ρP < 90% 8,5 lb/gal < ρP < 90%
Alta sobrepressão ρP > 90% ρP > 90% (1)

* Não foi informada a referência de valor para a pressão normal da água doce.
(1) = massa específica equivalente usada para expressar a pressão de sobrecarga da rocha (definida no próximo item).

Tabela 2.3: Classificação das PP usuais da Petrobras na área de Perfuração de poços


Pressão de Poros expressa em termos de Massa
Classificação
Pressão de Poros Específica Equivalente de Fluido (ρ ρP) ou
Petrobras
Gradiente de Fluido (GPP)
Referência: água doce com 8,333 lb/gal(1)
8,333 lb/gal ≤ ρP ≤ 8,900 lb/gal ou
9,781 kPa/m ≤ GPP ≤ 10,446 kPa/m ou
ρP H2O ref ≤ ρP ≤ ρP H2O com certa
Normal 0,100 kgf/cm2/m ≤ GPP ≤ 0,107 kgf/cm2/m ou
salinidade 1,422 psi/m ≤ GPP ≤ 1,517 psi/m ou
0,432 psi/ft ≤ GPP ≤ 0,462 psi/ft
ρP > 8,900 lb/gal ou
Anormalmente GPP >10,446 kPa/m ou
alta ou ρP > ρP H2O com certa salinidade GPP > 0,107 kgf/cm2/m ou
Sobrepressão GPP > 1,517 psi/m ou
GPP > 0,462 psi/ft
(1)
Diferença na segunda e terceira casas decimais com relação à pressão da água doce no valor de 8,345 lb/gal em condições
ambiente de temperatura e pressão, usada como referência neste trabalho, conforme Apêndice XI, estando mais correto utilizar este
último valor.

Observe-se que discutir a respeito dos limites de referência para classificação da pressão
tem relevância considerável frente ao valor em si usado como referência para a pressão normal da
água doce. Este último é um dos parâmetros do processo de estimativa determinística da pressão
de poros que encerra incertezas com ordem de grandeza menos significativa nas regiões de maior
interesse, em grandes profundidades (nos reservatórios), quando comparadas às incertezas dos
19
demais parâmetros considerados nas formulações dos modelos de cálculo de pressão. Assim são,
por exemplo: os valores dos perfis de tempo de trânsito; aqueles envolvidos no cálculo da
sobrecarga (conforme o item a seguir) e os próprios valores medidos de pressões que balizarão os
métodos de cálculo da curva de pressão de poros ao longo do poço todo (vide itens 3.1.1 e 3.2.1).
Exemplo disso encontra-se em Reyna (2007) que testou o efeito de usar diferentes pressões
hidrostáticas constantes na estimativa da pressão de poros de um poço teste aplicando o modelo
de Eaton. O maior impacto foi observado em profundidades rasas, perto do fundo do mar, onde
em geral se encontram regiões normalmente compactadas. Nessas profundidades, ao usar, por
exemplo, um valor de pressão normal da água salgada igual a 8,900 lb/gal (1,517 psi/m), a
pressão de poros estimada para essas profundidades estaria perto desse valor e sofreria variação
(para mais) de quase 0,5 lb/gal quando comparada à pressão estimada usando a pressão da água
doce de 8,333 lb/gal (1,419 psi/m). Apesar de não poder ser ignorada, essa diferenciação teria sua
importância reduzida com o aprofundamento do poço, sobretudo numa região anormalmente
compactada com disponibilidade de medidas de pressão.

2.2. Pressões de Sobrecarga

Foi mencionado no Capítulo 1 que quatro itens consistem nos resultados típicos de uma
estimativa de geopressões. Dentre eles, as pressões de sobrecarga e de poros são objeto de estudo
nesta dissertação. Este item se dedica ao tema da sobrecarga (tensão vertical), cujos valores
devem ser calculados previamente ao cálculo da pressão de poros.
Conforme a busca por hidrocarbonetos foi se encaminhando para o ambiente marítimo e
águas cada vez mais profundas, foram surgindo novos complicadores da perfuração. Assim são,
por exemplo, certas zonas superficiais sobrepressurizadas, entre 100 e 500 m de rocha (abaixo do
nível do mar), no Sudeste do Brasil (Falcão, et al., 2012) ou no Mississipi (Dutta, 2012).
Essas formações, chamadas de ‘formações portadoras de perigos rasos’ (ou em inglês,
shallow hazards) complicam a perfuração, mesmo que as pressões contidas aí não atinjam
valores muito mais altos que a pressão hidrostática normal. Isso porque estão submetidas a
pequena sobrecarga de rocha e em geral são atravessadas durante a perfuração ainda sem BOP e
com massa específica de fluido de perfuração quase equivalente à pressão exercida pela água do
mar.

20
A tensão de sobrecarga, a certa profundidade, pode ser definida como a pressão resultante
da combinação dos pesos das camadas de rochas sobrepostas e dos fluidos contidos nos poros
dessas rochas (Bourgoyne et al., 1989):

σ OVB = g ×  ∫ ρ b (z )dz 
z
2.7
 0 
onde, no Sistema Internacional:
σOVB = tensão de sobrecarga, kg/ms2
g = aceleração gravitacional, m/s2
ρb = massa específica total da rocha ou, do inglês, bulk density, kg/m3
z = profundidade vertical, m
dz = derivada da profundidade vertical, m

Analogamente à equação 2.5 da pressão de poros, a tensão ou pressão de sobrecarga


também pode ser expressa em termos da massa específica equivalente de fluido. Dessa forma:

=
×
2.8

onde, em unidades usuais da Perfuração:


PPOVB = pressão de sobrecarga expressa em termos de massa específica equivalente de fluido, lb/gal
C = constante de conversão de unidades = 0,1704, para “PP” em psi, “z” em metros; ou 0,0519, para “PP”
em psi e “z” em pés

A definição de massa específica da rocha (ρb) por sua vez, pode ser dada pela Equação
Construtiva de Amyx et al. (1960):

ρ b = ρ flφb + ρ ma (1 − φb ) 2.9

onde:
ρb = massa específica da camada de rocha, g/cm3
ρfl = massa específica do fluido, g/cm3
ρma = massa específica da matriz da rocha, g/cm3
φb = porosidade da rocha, fração

21
Na equação 2.7, como a aceleração gravitacional e a profundidade desejada são parâmetros
conhecidos, a variável na equação da tensão de sobrecarga é apenas a massa específica total da
rocha. Então, o problema se resume praticamente a conhecer os valores de massa específica das
diferentes camadas de rochas até ser atingida a profundidade desejada.
Em poços marítimos, a pressão de sobrecarga se deve não somente à massa específica
dessas camadas, que, com frequência, varia dentro do volume de rocha avaliado, devendo ser
considerada como a soma de elementos discretos. A pressão de sobrecarga deve-se também às
colunas de ar e de água salgada até a profundidade do fundo do mar.
Como a massa específica do ar é baixa, a sobrecarga considerará apenas os dois outros
parâmetros, água e rocha. A massa específica da água do mar depende da salinidade (algo em
torno de 32.000 a 39.000 ppm) e da temperatura, entretanto as variações não são grandes,
podendo estar entre 1,02 e 1,03 g/cm3 (8,51 a 8,59 lb/gal) (Perry e Chilton, 1973). Nesta
dissertação, ela será considerada constante, e nesse caso, a equação 2.7 de cálculo da pressão ou
tensão de sobrecarga se torna simples como (Rocha e Azevedo, 2009):

σ OVB = 1,422ρW zW + ∑ (ρb(i ) ∆z(i ) )


 n

2.10
 0 

onde, em unidades usuais da Perfuração, tem-se:


σOVB = pressão de sobrecarga, psi
ρW = massa específica da água do mar usada como referência nesse trabalho = 1,03 g/cm3
z W = espessura da lâmina de água, m
ρb(i) = massa específica da camada de rocha, g/cm3
∆z(i) = profundidade vertical da camada de rocha, m
1,422 = constante de adequação de unidades
n = número de camadas de rocha medido desde a profundidade vertical do primeiro dado de ρb existente
até a profundidade vertical da última rocha considerada

A massa específica das camadas mais superficiais de rocha geralmente não é conhecida
porque trechos até a profundidade vertical dos revestimentos estruturais de superfície (antes do
assentamento do BOP) não costumam ser perfilados. Nesses trechos, ela deve ser estimada
através de correlações ou mesmo ter seu valor arbitrado.

22
Gardner et al. (1974) forneceu uma equação empírica bastante simples, muito popular na
indústria de petróleo, para calcular de forma razoável a massa específica das rochas sedimentares
(em g/cm3), com exceção de evaporitos, em qualquer profundidade:

ρ b = a (V S )b 2.11

onde, em unidades usuais da Perfuração, tem-se:


VS = velocidade do som ou velocidade acústica na formação, ft/s
a = constante adimensional empírica = 0,23, definida para o GoM
b = expoente adimensional empírico = 0,25, definido para o GoM

A expressão ‘perfil de tempo de trânsito’ (conhecido como perfil acústico), por sua vez, é
usada coloquialmente para estabelecer a relação entre o tempo de propagação da onda sonora
através de certa espessura de rocha e a porosidade da mesma. Por esse motivo, o tempo de
trânsito pode ser calculado como o inverso da velocidade de propagação da onda acústica. Neste
caso, a massa específica da rocha (em g/cm3) pode ser expressa por:

b
 106 
ρb = a  2.12
 ∆t 
onde, em unidade usual da Perfuração, tem-se:
∆t = tempo de trânsito; coloquialmente se usa a simbologia “DT”, µs/ft

Os valores de “a” e “b” nas equações 2.11 e 2.12 de Gardner et al. (1974) foram estimados
empiricamente para o GoM e por isso devem ser calibrados para a região estudada a fim de que o
Método de Gardner não subestime a sobrecarga, principalmente em ambientes marítimos. Seus
valores são usualmente calibrados usando o perfil de densidade3 de poços localizados em uma
mesma área, quando eles existem e/ou estão disponíveis para estudo. Também podem ser
calibrados com o perfil sônico, através da geração de uma massa específica “sintética”.
Na ausência de poços correlatos ou mesmo de seus dados de perfis, a massa específica
“sintética” ainda pode ser calculada usando a equação de Gardner aplicada à velocidade da

3
Apesar do nome do perfil ser coloquialmente conhecido como “perfil de densidade” na realidade a leitura diz
respeito à massa específica da rocha.

23
sísmica. Outra alternativa, na ausência dos parâmetros citados, seria arbitrar a densidade da
rocha, entretanto, a incerteza no cálculo da sobrecarga aumenta.
Não é foco desta dissertação realizar uma pesquisa bibliográfica de métodos de estimativas
de sobrecarga. Não obstante, um levantamento a respeito de outras correlações, além da de
Gardner4, usadas para realizar estimativa de densidades de rocha com fins de cálculo de
sobrecarga, está disponível em Pereira (2007), a saber: Athy (1930); Bellotti (1978) e Miller e
Luk (1993).
A Tabela 2.4 apresenta um resumo de alternativas de cálculo da pressão de sobrecarga
quando os dados disponíveis são inadequados ou incompletos ou mesmo inexistentes. Essas
alternativas são usadas de forma corriqueira na sistemática citada e serão considerados nesta
dissertação. Vale lembrar que é usual que o perfil de densidade seja corrido no poço apenas em
trechos mais profundos, na(s) fase(s) em que é(são) previsto(s) o(s) reservatório(s).

Tabela 2.4: Alternativas de cálculo da pressão de sobrecarga em intervalos do poço


Intervalo Alternativa de Cálculo
(1) Do nível do mar até o fundo do mar (1) Usar a equação 2.10, com ρb = 0 e observando a
densidade da água salgada.
(2) Do fundo do mar até o final do poço quando Observando que nesse trecho ρW . zW = 0:
estiverem disponíveis: (2a) Aplicar correlação de densidade de Gardner
(a) a velocidade sísmica (2.11) na velocidade sísmica, calibrando “a” e “b” de
(b) perfil de sônico de poços correlatos modo a obter densidade sintética com a melhor
(c) perfil de densidade de poços correlatos correspondência com o perfil de densidade ou com a
Observe que (2a) e (2b) equivalem à construção de densidade sintética gerada através do perfil de sônico.
uma densidade sintética nos trechos onde o perfil de Se a densidade estiver disponível, substituir a
densidade não está disponível. densidade sintética gerada com (2.11) nesse trecho
pela densidade medida. Se o sônico estiver disponível,
aplicar a equação 2.12 e em seguida realizar o mesmo
procedimento anterior. Em seguida aplicar a equação
2.10 a todo o trecho.
(2b) Aplicar correlação de densidade de Gardner no
perfil de tempo de trânsito (2.12). Em seguida aplicar
a equação 2.10;
(2c) Aplicar a equação 2.10. Nos trechos em que a
densidade não estiver disponível, realizar os
procedimentos (2a) ou (2b) a depender do caso.
(3) Com baixa qualidade do perfil de densidade Usar a combinação de trechos calculados de acordo
com o tipo de dado disponível em cada intervalo, ou
seja, combinar as alternativas (1) e (2) citadas acima.
(4) Fronteiras exploratórias ou muito profundas onde Usar a velocidade da sísmica, e nesse caso, seguir os
não há dados de poços correlatos ou onde estão passo (1) e (2a). Tentar calibrar usando tendências
disponíveis poucos ou antigos dados. regionais e os poços de correlação.

4
O Método de Gardner é corriqueiramente usado na indústria e foi aplicado na sistemática de cálculo de geopressões
usada neste trabalho.

24
2.3. Causas de Pressões Anormais e Classificação de Mecanismos Geradores
das Mesmas

Em 1959, Hubbert e Rubey deram uma grande contribuição em sua época sobre o tema de
pressões dos fluidos contidos nos poros das rochas e mecanismos atuantes na geração de pressões
normais e anormais. Publicaram um extenso artigo que compilava os resultados da investigação,
durante os 30 anos anteriores, de diversos autores que trabalharam, separadamente, sobre o
assunto: Hubbert (1920 e 1931); W.J. Mead (1925), Hedberg (1926), Rubey (1927 e 1930);
Terzaghi (1936), Chester Longwell (1945); Dickinson (1953); Hatten S. Yoder (1955); citados
por Hubbert e Rubey (1959).
Foi por volta dessa época, final da década de 1950, e nesse estágio de desenvolvimento que
os autores citados no parágrafo anterior, em suas linhas de pesquisas individuais,
“acidentalmente, descobriram seu mútuo interesse pelo tema e decidiram colaborar para a
compilação daquele artigo”, disseram Hubbert e Rubey (1959, p. 119).
Com base na teoria de Terzaghi (1936) mostraram que à medida que a tensão de sobrecarga
aumentava como resultado do soterramento, a porosidade de uma dada rocha diminuía, sendo
possível que parte do fluido contido nos poros dessa formação sofresse compressão após o
soterramento. Caso esse fluido não encontrasse rota de fuga, então se tornaria sobrepressurizado,
segundo a equação 2.2. Surgiram daí os termos ‘zonas com pressões anormais’ ou ‘zonas
geopressurizadas’.
Importante contribuição foi dada por Hottman e Johnson (1965). Eles desenvolveram um
raciocínio bastante útil envolvendo perfis elétricos de porosidade e pressões anormais, usado até
os dias de hoje. Usaram dados de tempo de trânsito e de resistividade em folhelhos para: (1)
identificar a ocorrência de sobrepressão, e (2) estimar gradiente de pressão de formações.
Explicaram em seu trabalho que, como as rochas são mais resistivas à corrente elétrica que
a água da formação, um folhelho bem compactado contendo menos água (onde a água teve que
escapar devido à compactação) é mais resistivo que um folhelho compactado contendo mais água
(onde a água não tenha escapado no mesmo grau).
Também argumentaram, substanciados por meio de gráficos de perfis de resistividade de
poços, que uma sequência de sedimentos normalmente compactados, nos quais a água é livre
para escapar, deveria apresentar uma tendência crescente de resistividade e que qualquer

25
diminuição de resistividade, que se desviasse da tendência normal, seria indicativa de pressão
anormal.
Foi assim que se iniciou a propagação do conceito de mecanismos geradores de altas
pressões.
Conforme o estudo desta região do delta do rio Missisipi (na Louisiana) e de outras regiões
nos EUA (como a Carolina do Sul) foi sendo aprofundado, outras explicações foram surgindo da
parte de outros autores:
• Desequilíbrio da compactação ou subcompactação (Hubbert e Rubey, 1959);
• Efeitos térmicos (como expansão da água devido ao aumento da temperatura) (Lewis e
Rose, 1970; Barker, 1972; Luo e Vasseur, 1992; Miller e Luk, 1993);
• Osmose (Marine e Fritz, 1981);
• Transformações físico-químicas em argilas ou diagênese (Powers, 1967; Bruce, 1984).
Como se pôde observar, ao longo dos anos houve uma evolução dos conceitos relacionados
às causas da existência de pressões anormais em reservatórios e rochas-geradoras (source rocks),
contando com uma vasta bibliografia a respeito dos mecanismos geradores de sobrepressão.
Atualmente, ao redor do mundo na indústria do petróleo, existe o consenso de que não é
possível um único mecanismo explicar adequadamente todas as ocorrências de pressões
anormais.
No passado, se achava que a maior parte do desenvolvimento de pressões anormais poderia
ser atribuída ao desequilíbrio da compactação, o que ainda é verdade. Entretanto, com o
surgimento de melhores modelos geológicos e o advento da sísmica 3D, foram reconhecidos e
discutidos diversos outros processos. Esses conceitos ganharam maior destaque nos últimos anos.
Na pesquisa bibliográfica de títulos mais atuais, dois autores ganharam destaque no cenário
mundial por sua vasta revisão e/ou expressiva publicação sobre o tema geopressões, incluindo
sobrepressão: Swarbrick e Osborne (1998). Esses autores, no segundo capítulo do Memorial 70,
se dedicaram à extensa revisão bibliográfica a respeito da classificação dos mecanismos
geradores de pressão anormal, dividindo-os, de forma bastante didática, em três grandes
categorias baseadas nos processos envolvidos na geração de pressões anormais, que se encontram
a seguir.
A classificação apresentada por eles é mundialmente aceita na indústria do petróleo, sendo
citada em diversos outros trabalhos: Bowers (2001); Mukerj et al. (2002); Falcão (2002); Chopra

26
e Huffman (2006); Tingay et al. (2008); Rocha e Azevedo (2009); Ji e Fan (2010); Lahann e
Swarbrick (2011); Goulty e Ramdhan (2012); Tingay (2013). Ela também norteou a organização
da revisão bibliográfica desta dissertação:
(1) Mecanismos relacionados à tensão aplicada à rocha:
• Desequilíbrio da compactação ou subcompactação (carregamento vertical durante rápido
soterramento de sedimentos);
• Tensão devido ao tectonismo (tensão compressiva lateral ou horizontal):
Ex: falhas, dobras e diápiros de sal;

(2) Mecanismos relacionados à expansão do volume de fluidos, ligados ao aumento da


temperatura (principais causadores de descarregamento ou do inglês, unloading), com os três
primeiros sendo considerados de maior relevância na geração de pressões anormais:
• Geração de hidrocarbonetos:
Ex: Maturação do querogênio com geração hidrocarbonetos;
• Expansão aquatermal;
• Transformação mineral (também conhecida como diagênese de argilas):
Ex: Desidratação de esmectita, desidratação de gipsita transformando-se em anidrita;
• Craqueamento de óleo e betume a gás;

(3) Mecanismos relacionados ao movimento de fluidos:


• Osmose;
• Efeito hidráulico;
• Efeito de flutuablidade (Buoyancy):
Ex: reservatórios preenchidos com fluidos que apresentam contrastes de densidade;
• Transferência de pressão através de formações inclinadas:
Ex: reservatórios inclinados.

A Figura 2.2 apresenta um esquema ilustrativo da resposta da tensão efetiva aos


mecanismos considerados fundamentais na geração de altas pressões: relacionados às tensões e
aqueles que são os principais causadores de descarregamento.
Descarregamento pode ser definido como o fenômeno que ocorre quando o desbalanço da
relação entre o aumento da pressão de sobrecarga, a redução do espaço poroso e a capacidade da

27
rocha de permitir o escape de fluidos, resulta em tal aumento de pressão de poros que leva à
redução da tensão efetiva.

Pressão

Profundidade
Areia
Pressão de
Compactação Normal Sobrecarga Folhelho

Topo da sobrepressão
Pressão Tensão efetiva se mantém constante ao
Subcompactação de Poros longo da profundidade na seção onde ocorre
a Subcompactação

Tensão efetiva se reduz em relação à


Subcompactação seção anterior devido ao efeito de
+ Descarregamento
Descarregamento

Figura 2.2: Resposta da tensão efetiva a diferentes mecanismos geradores de pressões anormais
(Bowers, 2001 e 2002; Choppra e Huffman, 2006, modificadas)

O item 2.4 apresenta uma síntese daqueles mecanismos e em complementação a essa


revisão bibliográfica, o Apêndice III traz a bibliografia que detalha todos os mecanismos segundo
a classificação de Swarbrick e Osborne (1998). Em relação a ela, há uma pequena discordância
entre alguns autores a respeito do conceito de transferência de pressão através de formações
inclinadas, que talvez possa ser encarada como uma questão semântica.
Swarbrick e Osborne (1998) e Tingay et al. (2008) a consideram não como um mecanismo
primário gerador de pressão alta, mas como o principal controle da redistribuição do excesso de
pressão de poros. Já Goulty e Ramdhan (2012) consideram que ela pode atuar como mais um
mecanismo causador de descarregamento. Rocha e Azevedo (2009) a consideram como mais um
mecanismo gerador de pressão anormal em bacias sedimentares.
Os cinco primeiros autores corroboram com a ideia de que os principais mecanismos
geradores de grandes magnitudes de pressão são o tectonismo (mecanismo de tensões) e a
expansão de fluido (sobretudo durante a geração de hidrocarboneto gasoso). Não acreditam que
outros tipos de mecanismos possam contribuir de maneira realmente significativa na geração de
sobrepressão, exceto em condições não usuais.
Em relação ao efeito de flutuabilidade (buoyancy), acreditam que sua contribuição é, em
geral, pequena e limitada a determinadas condições, mas é de fácil avaliação e importante quando
associado a outros mecanismos.

28
Ao examinarem a lista de possibilidades publicada ao longo dos anos por diversos outros
autores para inclusão dos mecanismos em sua própria lista, Swarbrick e Osborne (1998)
chamaram a atenção para o fato de que, apesar das evidências empíricas da atuação de alguns
mecanismos bastante populares (como transformação de esmectita em ilita e a geração de HC),
há muita incerteza sobre qual é exatamente o processo envolvido nestes casos. E, portanto, qual
seria a capacidade de geração de pressões anormais em condições normais de soterramento em
ambientes sedimentares e como sua contribuição, em particular, poderia ser quantificada. Ou
seja, há espaço para aprofundar o estudo de tais mecanismos.
Esforços recentes da Petrobras, tanto em projetos desenvolvidos internamente5 quanto com
parcerias externas6, mostram a atualidade do tema e a relevância de tal aprofundamento. O
objetivo desses projetos é aprimorar a previsão da pressão de poros em poços exploratórios,
investigando-se e aprofundando-se os conhecimentos a respeito dos mecanismos ligados à
expansão térmica, sobretudo a diagênese de argilas, tentando também mapear sua ocorrência e, se
possível, criar meios para quantificar sua influência. Através do estudo integrado de rocha e
perfis em ambientes sobrepressurizados, os maiores benefícios esperados desses projetos são,
além do aprimoramento da capacidade preditiva da pressão, a redução dos custos da perfuração
exploratória e a melhoria da segurança operacional.
Dentre um dos quatro temas do projeto da Petrobras com parcerias externas (o que trata,
especificamente, da estimativa de pressão de poros em argilominerias consolidados
diageneticamente), foi ressaltada a importância de melhor compreensão das respostas dos perfis
de porosidade e da velocidade sísmica em altas profundidades e temperaturas. Foi eleito como
estudo de caso a Bacia de Sergipe-Alagoas “porque não se entende a relação entre perfil sônico e
velocidade sísmica com os regimes de pressão no Cretáceo” (trecho retirado de Carvalho, 2013).
Já o resultado de antigos estudos técnicos da Companhia (como Alves, et al., 1982) sobre a
caracterização mineralógica de algumas bacias da costa leste brasileira tornou a Bacia de Sergipe-
Alagoas particularmente interessante para pesquisa mais profunda no projeto citado no último
parágrafo porque contrasta com a premissa básica deste: a da alteração das respostas dos perfis
como consequência da diagênese de argilas, função da temperatura e da mineralogia.

5
Internamente: projeto de pesquisa e desenvolvimento para 2014-2016 no CENPES.
6
Externamente: projeto, em andamento, em parceria com duas universidades do Reino Unido, tendo à frente como
líderes técnicos (externos à Petrobras) do tema ligado à predição de pressões de poros em argilas diageneticamente
consolidadas, os professores doutores Neil Goulty e Andrew Aplin.

29
Alves et al. (1982) comentam que na Bacia de Sergipe-Alagoas haveria indicação de que a
composição mineral é essencialmente detrítica e que “os folhelhos da Formação Calumbi exibem
uma reação de conversão diagenética de esmectita em ilita marcantemente pequena
considerando-se sua idade e as temperaturas a que estiveram sujeitos” (p. 2.320). Ou seja, os
autores sinalizam, de forma geral, para a ocorrência de baixa taxa de conversão diagenética de
argilominerais.

2.4. Principais Mecanismos Geradores de Pressões Anormalmente Altas

Há dois motivos fundamentais pelos quais se dedicou um item deste trabalho à revisão da
bibliografia sobre desequilíbrio da compactação e aos mecanismos ligados à expansão de fluidos.
O primeiro é que, conforme já mencionado, de modo geral, se considera que a sobrepressão
é causada principalmente por esses mecanismos (Law e Spencer, 1998) e segundo, porque eles
constituem a fundamentação teórica dos métodos sob análise crítica nesta dissertação.
Ao final deste item estão algumas conclusões a respeito de todos os mecanismos
pesquisados.

2.4.1. Desequilíbrio da Compactação

Da Mecânica dos Solos, compactação é o processo mecânico de redução de índice de


vazios por expulsão de fluido. Esse fenômeno pode ser tanto físico quanto químico. Nesta
dissertação a abordagem estará mais inserida no contexto de aspectos físicos, como mudanças de
empacotamento intergranular e rearranjo de grãos individuais.
A Tabela 2.5 apresenta um modelo mais geral, proposto por Bjørlykke (1998), para
classificar os fenômenos de compactação levando em conta o soterramento e a temperatura.

30
Tabela 2.5: Relações entre compactação, tensão efetiva e temperatura em argilas
(Bjørlykke, 1998, modificada)
Regime de Mecanismo
Comentário
temperatura Dominante
Porosidade
Comandadas pela

Profundidade
relação:
Baixo (até 70°C)
σ’ = σOVB - PP Compactação Física
(abaixo de 2 km de Compactação
Métodos usuais em sua maioria
sobrecarga) Física
de estimativas de
PP são válidos
Transição (T >100°C) Comandadas pela
(entre 2-3 km de temperatura e

Profunidade
sobrecarga) mineralogia
Compactação Química:
Compactação influência predominante da
Métodos usuais
Alto (T > 100°C) Química temperatura e da mineralogia
de estimativas de
(acima de 3 km de
PP não são tão
sobrecarga)
confiáveis

Segundo o autor, em profundidades em que a temperatura ainda está próxima de 70°C (até
cerca de 2 km), tanto na subcompactação quanto no descarregamento é possível estabelecer uma
relação entre o atributo de porosidade e a tensão efetiva e neste sentido os métodos preditivos
tradicionalmente usados (como Eaton e Bowers) funcionam. Entretanto, em profundidades onde a
compactação química começaria a ser dominante (a partir de 2 a 3 km e acima de 100°C), os
métodos tradicionais falhariam porque a relação entre a porosidade e a tensão efetiva começaria a
se perder, passando a ser dependente da história da tensão efetiva. Esta profundidade também
dependeria da mineralogia e das relações texturais da rocha.
Sob condições de soterramento gradual, lento ou normal, a maioria das rochas se compacta
normalmente, e o equilíbrio entre a tensão de sobrecarga e a redução do volume poroso (devido à
compactação) associada à expulsão de fluidos pode ser facilmente mantida. Isso significa que se
existe um balanço entre o aumento da tensão vertical compressiva (sobrecarga) e a expulsão do
fluido, a pressão de poros permanece hidrostática. Nesse caso, o peso das camadas sobrepostas
não atua sobre o fluido, e por isso a pressão de poros tende a permanecer igual à pressão
hidrostática.
Entretanto, rápido soterramento não acompanhado da expulsão de fluidos à mesma taxa
resulta em redução do volume poroso com aumento da pressão de poros, num fenômeno
designado subcompactação (Swarbrick e Osborne, 1998; Bowers, 2001; Rocha e Azevedo, 2009),
conforme já descrito.

31
Em outras palavras, o desequilíbrio na compactação ocorre quando há um desbalanço da
relação entre o aumento da pressão de sobrecarga, a redução do espaço poroso e a capacidade da
rocha de permitir o escape de fluidos. Neste caso, o fluido fica confinado num espaço poroso
menor que aquele necessário ao seu armazenamento e a sobrecarga passa a atuar sobre ele, com a
pressão de poros resultando em valor maior que a pressão hidrostática.
A sobrepressão causada por esse mecanismo é frequentemente reconhecida por valores de
porosidade mais altos do que o esperado a uma certa profundidade. A alta porosidade em seções
de baixa permeabilidade estimada através de ferramentas de medição da porosidade (perfis
elétricos como densidade, sônico e resistividade) é uma evidência do desequilíbrio da
compactação (Swarbrick e Osborne, 1998; Tingay et al., 2008).
Como já mencionado, o Apêndice II apresenta o esquema dos processos de compactação
normal e de subcompactação (Figura II.1). Na compactação normal, a pressão de poros
permanece constante durante todo o soterramento, porque apesar do aumento da sobrecarga, o
fluido consegue ser expulso. Na subcompactação, a pressão de poros aumenta com o aumento da
sobrecarga e à mesma taxa, fazendo com que a tensão efetiva permaneça constante ao longo das
profundidades em que esse fenômeno ocorre.
Em 1959, Hubbert, Rubey e outros autores acreditavam que em rochas com baixa
permeabilidade com poros isolados, a pressão da água deveria ser aproximadamente igual à
pressão de sobrecarga em zonas de alta pressão e que o desequilíbrio da compactação normal era
um dos principais mecanismos geradores de sobrepressão.
Entretanto, acreditavam também que quando poros da rocha, cheios de água, eram
submetidos à compressão mecânica, a reação era a divisão desta tensão entre a estrutura sólida e
o fluido. Se o fluido conseguisse escapar gradualmente, a pressão também iria pouco a pouco
diminuindo e, como consequência a tensão sobre o sólido aumentaria até um valor eventual tal
que seu carregamento seria integralmente suportado pelo sólido. De forma análoga, se uma rocha
porosa, mas pouco permeável, preenchida com fluido com pressão hidrostática, fosse submetida a
um repentino e rápido soterramento a certa profundidade, o fluido (que escaparia de forma mais
lenta) também assumiria parte do carregamento. Mas no caso da subcompactação, a parcela
assumida inicialmente seria quase igual à do incremento deste carregamento.
Pelo aqui exposto, mesmo na década de 1950 já se reconheciam alguns fatores com
influência na compactação, que definem uma dissipação normal ou restrita de fluidos, resultando

32
em pressões normais ou anormais, e em porosidades e densidades finais normais ou anormais,
respectivamente: (a) taxa de soterramento de sedimentos; (b) tipo de sedimento soterrado; (c)
magnitude da permeabilidade da rocha; (d) taxa de redução da porosidade e (e) facilidade de
escape de fluidos.
Como se observa pela Figura 2.3, a profundidade de retenção do fluido é a profundidade
onde a permeabilidade da rocha e a taxa de sedimentação se combinam, impedindo a expulsão do
fluido. Abaixo dessa profundidade, o perfil de pressão rapidamente muda tornando a tensão
efetiva praticamente constante, ou seja, muda para quase paralelo ou paralelo à pressão de
sobrecarga.

Pressão ou Tensão

profundidade de retenção do fluido


zona de transição da pressão
Profundidade

PP anormal

Tensão Efetiva

PP = PHidrostática Sobrecarga

Figura 2.3: Gráfico ilustrativo de pressão (ou tensão) x profundidade para sobrepressão gerada pelo
desequilíbrio da compactação

Num período geológico suficientemente grande, o fluido poderia ser expelido até que um
novo equilíbrio fosse atingido (já que na natureza não há selos perfeitos), com o fluido
retornando à pressão hidrostática normal e a rocha voltando a suportar o incremento da tensão.
Entretanto, até que isso ocorra, teria se estabelecido uma situação de alta pressão, como
consequência do desequilíbrio da relação entre a redução do volume poroso e o escape de fluidos
com avanço do soterramento.
Em sua pesquisa em bacias do Mar do Norte, Ward et al. (1994) afirmam que para que o
fenômeno da subcompactação se desenvolva, deve ser atingido um valor mínimo da porosidade e
nesse caso, 30% de porosidade mínima deveriam ser preservados. Esse valor é aplicável às bacias
daquela região e não pode ser considerado uma regra para todas as bacias.

33
Entretanto, tal tendência de redução da porosidade até determinado valor é verdadeira, já
que parte do fluido deve permanecer confinada sem conseguir escapar, para que se torne
sobrepressurizada.
Nesse ponto, é preciso comentar um aspecto interessante, não destacado pelos autores
pesquisados. A condição de alta pressão permanece até que o limite superior de tensão do selo
seja atingido, ou seja, até praticamente o valor da tensão de sobrecarga, quando pode ocorrer a
fratura hidráulica e rompimento do selo do reservatório.
Pressões de poros dessa magnitude estão no limite de abrir fraturas que podem drenar o
fluido e aliviar a pressão como numa válvula de alívio de pressão. O escape de fluido tende a
desfazer a situação de sobrepressão, podendo inclusive continuar ocorrendo a redução da
porosidade da rocha com a continuidade do soterramento. Com o escape de fluidos, a fratura
tende a se fechar ou mesmo cicatrizar e a pressão pode voltar a crescer: é como se o fenômeno
pudesse ser cíclico, e na prática pode ser quando se considera o tempo geológico.
Essa consideração também deve levar em conta que a ocorrência de cisalhamento ou
deslizamento entre blocos de rocha adjacentes pode modificar o “encaixe original” da rocha
podendo resultar em perda da sua capacidade selante também. Além disso, deve considerar que a
existência de reservatórios naturalmente fraturados tende a permitir o escape natural de pressões.
Ward et al. (1994) também chegaram a duas outras conclusões que hoje são consenso na
indústria. A primeira é que o desequilíbrio da compactação, atuando sozinho, não seria suficiente
para causar alta sobrepressão. E a segunda é que a expansão aquatermal poderia ocorrer a
qualquer profundidade com o aumento da temperatura durante o soterramento (dada uma rocha
selante) sendo que a diagênese de argilas e geração de hidrocarbonetos poderiam ocorrer em
limites distintos de tempo-temperatura.
Bowers (1995), um dos importantes pesquisadores do tema, afirmou que a sobrepressão
ocorre mais comumente quando o fluido trapeado nos poros de uma rocha de baixa
permeabilidade é comprimido pelo peso de nova deposição de sedimentos. Acreditava que o
mecanismo de subcompactação é função da compressibilidade da rocha e do fluido contido em
seus poros. Nesse caso, como a compressibilidade da rocha é maior que a do fluido, este acaba
por suportar os incrementos de sobrecarga, de modo que a subcompactação poderá ocorrer a
profundidades rasas nas quais as formações sejam mais jovens e menos duras e compactas.

34
2.4.2. Expansão do Volume de Fluidos

Neste item serão resumidos alguns conceitos gerais sobre os mecanismos ligados à
expansão de fluidos (maior detalhamento encontra-se no Apêndice III).
A expansão de fluidos e o desequilíbrio da compactação apresentam diferentes assinaturas
petrofísicas. A maioria dos processos de sobrepressão observados em bacias sedimentares é
gerada pelo segundo mecanismo, nos quais: (a) o excesso de pressão é resultado do carregamento
de sedimentos efetivamente selados; (b) estão tipicamente associados com porosidades
anormalmente altas e (c) exibem comumente anomalias claras na velocidade sísmica.
Já a sobrepressão causada pela expansão de fluidos compreende um conjunto de
mecanismos nos quais um volume relativo de pressão de poros aumenta dentro de um volume
confinado de rocha sedimentar (Mouchet e Mitchell, 2002; Bowers, 1995; Swarbrick e Osborne,
1998).
Além disso, as sobrepressões geradas pelos mecanismos de expansão de fluidos em geral
não são associadas com porosidade anormal e por isso sua identificação através de perfis de
porosidade são mais difíceis de detectar. Consequentemente, a predição da pressão de poros
também se torna mais complexa (Miller e Luk, 1993; Miller et al., 2002; Gutierrez et al., 2006;
Goulty e Ramdhan, 2012 e Tingay et al., 2013).
De todos os mecanismos propostos para a expansão de fluidos (geração de hidrocarbonetos,
expansão aquatermal, transformação mineral e craqueamento de óleo e gás), apenas o primeiro
deles é corriqueiramente citado ou assumido na literatura como capaz de gerar altas magnitudes
de pressão (Swarbrick et al., 2002; Lahann e Swarbrick, 2011). Entretanto, surpreendentemente,
poucas evidências diretas ou dados in-situ têm sido apresentados na literatura para demonstrar se
realmente a geração de gás pode ter um papel relevante como colaborador para o
desenvolvimento de sobrepressões (Swarbrick e Osborne, 1998; Lahann e Swarbrick, 2011).
Em 1995, Bowers introduziu o conceito de descarregamento ou descarga, um efeito
causado pela expansão de fluidos. Àquela época, o autor considerou apenas este mecanismo
como causa daquele efeito, cuja descrição detalhada, segundo sua ótica, encontra-se no Capítulo
3. Entretanto, atualmente, esse efeito tem sido designado de forma mais ampla como qualquer
fenômeno que provoque a redução da tensão efetiva (Yadley e Swarbrick, 2000; Bowers, 2001 e
2002; Swarbrick et al., 2002; Alberty e McLean, 2003; Goulty e Ramdhan, 2012). Esse fenômeno
poderia então ocorrer:

35
• quando há um desequilíbrio entre o aumento da sobrecarga e a taxa de crescimento da
pressão de poros, com esta última aumentando a uma taxa maior (Bowers, 2001; Swarbrick
et al., 2002);
• durante uma possível redução da tensão vertical, devido à redução da sobrecarga num
fenômeno conhecido como exumação (Alberty e McLean, 2003; Goulty e Ramdhan, 2012)
sem que necessariamente o regime de alta pressão, previamente estabelecido a altas
profundidades, se altere;
• devido à transferência lateral (Yadley e Swarbrick, 2000; Goulty e Ramdhan, 2012),
quando o desnível entre as estruturas comunicantes inclinadas é de tal forma que permite
gerar efeitos hidrodinâmicos com pressurização significativa, ou seja, grandes diferenças
entre a pressão normal a certa profundidade e a pressão encontrada durante a perfuração.

Em relação à geração de HC o principal enfoque dado por Swarbrick e Osborne (1998) foi
a maturação de querogênio com geração de HC líquido. Entretanto, a geração do produto gasoso
também é parte importante do processo de geração de pressões anormais: onde as rochas
geradoras produziram quantidades significativas de HC gasoso, e especialmente onde a fase
gasosa é composta por gás seco e gás condensado, há grande chance da sobrepressão ser devida
às grandes mudanças de volume de gás envolvidas.
Embora esse fato seja conhecido, ainda permanecem sem avaliação: a quantificação dessas
variações de volume, as taxas de aumento aí implicadas e a influência das mudanças provocadas
pelas variações de pressão. Também não se conhece como o crescimento da sobrepressão,
durante a geração de gás, influencia a taxa da reação que governa a maturação do querogênio. É
possível que, embora a transformação de querogênio seja uma reação cineticamente controlada, o
crescimento da pressão possa agir como retardador desta reação.
Já a transformação mineral em argilas é tida como mecanismo de expansão de fluidos de
importância secundária na geração de pressões anormais. Apesar de gerarem condições
favoráveis à sobrepressão, ainda não existe um método disponível na literatura que proponha a
quantificação do incremento de pressão por ela gerada.
Goulty e Ramdhan (2012) destacam as dificuldades na estimativa de pressões de poros nas
profundidades em que a temperatura excede 100°C. Concordam com a hipótese de Bjørlykke
(1998), já apresentada, de que a compactação química de argilas poderia atuar não somente como

36
mecanismo causador de sobrepressão, mas também como efeito mascarador para sua
identificação através de perfis.

2.4.3. Comentários sobre os Mecanismos Geradores de Pressões de Poros

Dentre os diversos autores pesquisados, há vários itens de consenso, comentados aqui nesta
dissertação.
Os mecanismos de tensões, sobretudo a subcompactação (carregamento vertical durante
rápido soterramento de sedimentos) e os mecanismos ligados à expansão de fluidos (causadores
de descarregamento ou descarga durante soterramento mais lento), são considerados na literatura
pesquisada, os principais geradores de anomalias de pressão em diversos tipos de bacias ao redor
do mundo.
Dentre aqueles causadores de descarregamento, apenas a geração de hidrocarbonetos é
corriqueiramente citado, pelas academias, como capaz de gerar altas magnitudes de pressão. A
descarga de tensões efetivas provocadas pela expansão de fluidos combinada ao desequilíbrio da
compactação podem resultar em altíssimos valores de sobrepressão (Bowers, 2002).
Enquanto que por efeito da subcompactação a tensão efetiva aumenta ou no máximo se
mantém ao longo no tempo (Bowers, 1995 e Bowers, 2001) porque a taxa do soterramento ou
aumenta mais que a taxa de incremento da pressão de poros ou aumenta igual a ela, o efeito do
descarregamento leva à redução da tensão efetiva.
Ao contrário da subcompactação, as sobrepressões geradas pela expansão de fluidos não
são associadas com porosidade alta e são mais difíceis de detectar, tornando a predição da
pressão de poros mais complexa pelo efeito muitas vezes inibidor da sua identificação através de
perfis de porosidade (Miller, 1993; Miller et al., 2002; Goulty e Ramdhan, 2012; Gutierrez et al.,
2006 e Tingay et al., 2013).
As condições básicas para ocorrência de mecanismos relacionados a tensões são: alta
taxa de sedimentação e/ou grandes forças laterais compressivas. Se a alta taxa de sedimentação
também resultar em alto incremento de temperatura, isso favorecerá a ocorrência de sobrepressão
também a partir de mecanismos de expansão térmica de fluidos. A presença de alto gradiente de
temperatura, embora não seja um fator determinante, é uma das fontes mais comuns de
descarregamento. Além da rápida sedimentação, uma maneira de atingir rápida temperatura se dá

37
por meio de um pulso térmico gerado por tectonismo ou pela própria magnitude desses
processos; isso também contribuirá para a expansão de fluidos.
Em bacias submetidas a grandes esforços tectônicos, ganha destaque a atuação do
tectonismo, que pode ser responsável por gerar altas magnitudes de pressão devido à rápida
mudança de tensões. Como o tectonismo cria a sobrepressão pela compressão da rocha (ou
squeeze da rocha), ela ficará mais compactada e não menos compactada, por isso sua detecção
através das respostas de perfis de densidade, sônico e resistividade não são claras.
Diversos autores comentam as dificuldades na previsão da pressão nessas áreas
consideradas geologicamente complexas. Nelas, a variabilidade de relações porosidade versus
pressão de poros versus tensão para diferentes mecanismos geradores de sobrepressão apontam
para a necessidade de criação de novos modelos preditivos de pressão e de métodos que
considerem riscos e incertezas (Bowers, 2001; Yassir e Addis, 2002; Young e Lepley, 2005).
Já as condições básicas para a ocorrência de mecanismos ligados à expansão térmica
são: a baixa taxa de sedimentação (associada à baixa taxa de mudança de incremento de volume
do poro da rocha) e altos gradientes de temperatura. A única taxa considerável de incremento de
volume que poderia ocorrer seria na geração de hidrocarbonetos.
Algumas condições podem estar associadas ao descarregamento, de uma forma geral,
como: (a) profundidade: sedimentos mais profundos (> 2-3 Km) são mais compactos, ou seja,
menos compressíveis, e menos permeáveis e por isso, possivelmente mais capazes de reter altas
pressões, assim como formações mais profundas tendem a ter maior gradiente de temperatura; e
(b) presença de selo efetivo acima da zona de alta pressão, como anidritas e/ou sais, por exemplo
(Swarbrick e Osborne, 1998; Miller et al., 2002; Swarbrick et al., 2002).
Em relação ao efeito de flutuabilidade (buoyancy) e à transferência lateral, são
mecanismos de fácil mensuração, mas considerados secundários em termos de geração de
incrementos de pressão, porque sua contribuição está limitada a determinadas condições sendo,
em geral, pequena no primeiro caso. Podem tornar-se relevantes quando associadas a outros
mecanismos. Autores como Swarbrick et al. (2002), Zoback (2007) e Goulty e Ramdhan (2012),
concordam que o primeiro deles está restrito a grandes colunas de hidrocarbonetos, e que o
segundo é considerado localmente restrito, embora ganhe importância quanto maiores a
inclinação e a permeabilidade do reservatório inclinado e quanto menor o(s) gradiente(s) do(s)
fluido(s) presente(s). Muitos autores como Swarbrick e Osborne (1998) os consideram

38
mecanismos redistribuidores de pressão. Em 2002, Bowers admitiu que sua própria estratégia
proposta em 1995 não é efetiva para predizer alta sobrepressão resultante de transferência lateral.

2.5. Classificação de Métodos de Estimativas de Pressão de Poros

Dois trabalhos devem ser destacados na literatura por terem estabelecido uma pesquisa de
âmbito mundial sobre as melhores práticas de estimativas de geopressões, as tecnologias mais
comumente usadas para estimar, detectar e avaliar as magnitudes de pressões de poros e de
pressões de fratura, além de terem estimado os valores das pressões para um número elevado de
poços: Yoshida et al. (1996) e Knowledge Systems (2001).
Entretanto, os trabalhos de Reyna (2007) e Pereira (2007), mais atuais, são também
interessantes. Neles há um levantamento bibliográfico dos principais métodos disponíveis até
aquele momento para previsão de pressões de poros. A saber: Pennebaker, 1968; Holbrook e
Hauck, 1987; Holbrook, Maggiori e Hensley, 1995; Ward et al., 1995; Hart et al., 1995; Kan e
Swan, 2001; Sayers et al., 2002; Dutta, 2012; Doyen et al., 2004; uso da sísmica.
Nesta dissertação o objetivo foca apenas os Métodos de Eaton (1975) e Bowers (1995), que
serão analisados a partir do próximo item.
Yoshida et al. (1996) realizou, em parceria com a companhia Japex, uma pesquisa
bibliográfica junto a operadoras internacionais, Contratistas de Perfuração e Companhias de
Serviço. Foram utilizados mais de 250 documentos com publicação em inglês e, no total, 30
empresas nos EUA, Canadá e América do Sul foram consultadas por meio de entrevistas com
seus consultores, inclusive a Petrobras.
Ben A. Eaton ficou responsável pela coleta de dados e por empreender os cálculos da
pressão de poros e de fratura7 usando os métodos considerados mais efetivos pelas equipes de
engenheiros de perfuração pesquisadas. Ao final, os autores realizaram uma análise estatística
dos resultados. Os métodos para cálculo de pressão de poros apontados como preferenciais
naquele trabalho estão apresentados na Tabela 2.6:

7
Métodos mais comumente usados na previsão da pressão de fratura: Matthews e Kelly, Eaton e Daines.

39
Tabela 2.6: Análise estatística dos resultados de Yoshida et al. (1996)
Ordem decrescente do
Previsão* de PP Detecção* de PP
método mais utilizado
Eaton (1972 - 1975) 20 16
Hottman e Johnson (1965) 10 8
Profundidades Equivalentes 4 2
Expoente “d” N/A 26
Outros 8 9
* Trabalhos de previsão de pressão de poros usando velocidade intervalar da sísmica de poços de correlação.
Trabalhos de detecção de pressão de poros utilizando parâmetros e perfis adquiridos durante a perfuração do
poço avaliado (MWD/LWD e expoente “D” por exemplo).

O Método de Bowers (1995) não foi comentado neste estudo, talvez porque, à época, era
recente e ainda pouco conhecido. Os três métodos citados como mais frequentemente usados são
métodos analítico-gráficos, que usam valores acústicos e elétricos de perfis. São baseados na
premissa de que, sob condições normais, as medidas de porosidade diminuem ao longo de uma
linha de tendência normal de compactação. O estudo conclui corretamente que, embora as
estimativas de pressão sejam objeto de diversos estudos ao longo dos anos, os métodos de cálculo
permaneciam basicamente com a mesma essência, e ainda hoje permanecem.
Dois outros resultados da pesquisa são interessantes. O primeiro atesta que, na maioria das
companhias pesquisadas, era o engenheiro de perfuração quem trabalhava na previsão de
geopressões e não o geocientista, embora em alguns casos houvesse geocientistas na equipe. O
segundo aspecto é que a maioria esmagadora das companhias, à época, não dispunha de um
fluxograma de trabalho bem definido. Atualmente, percebe-se a evolução das empresas, dentre
elas a Petrobras, que dispõe de metodologia de trabalho bem definida e perfil variado de
profissionais desempenhando essa tarefa.
Em 2001, a empresa Knowledge Systems coordenou um projeto de pesquisa em parceria
com a companhia Chevron USA, com 22 empresas dos mesmos tipos que na outra pesquisa,
incluindo também entidades governamentais de óleo e gás. Usou um banco de dados com mais de
200 poços de lâmina d’água profunda no GoM e áreas geologicamente similares.
O resultado foi chamado de Projeto DEA 119 (Drilling Engineering Association) e
compilado em dois volumes (um manual e diversos relatórios). O capítulo 1 do Projeto (relatório
n° 1) intitulado State of Art in Pore Pressure Estimation foi escrito por Glenn Bowers. Como
resultado desta pesquisa, foram classificados cinco modelos que mesclam métodos tradicionais
com as modificações e correções que mais se adequaram à massa de dados estudada. Os
resultados são apresentados na Tabela 2.7.

40
Tabela 2.7: Classificação dos métodos de estimativas de PP, segundo o Projeto DEA 119
(Knowledge Systems, 2001, modificada)
Escala Tipo do Modelo Método / Comentários
Amoco / modelo físico-mecânico desenvolvido por essa
1 Teórico
companhia
Modelo modificado de Bowers / versão modificada da equação
2 Teórico
da CV
3 Convencional melhorado Método de Eaton com tendência de compactação de Bowers
Regressão Múltipla / modelo que utiliza cinco variáveis,
4 Empírico
demandando grande massa de dados
5 Convencional modificado Eaton

Observe-se que as conclusões a que chegaram as equipes de pesquisadores envolvidas nos


trabalhos destacados aqui são diferentes, talvez porque Dr. Eaton e Dr. Bowers não participaram
de ambos, mas de cada um separadamente.

41
42
3. MÉTODOS DE BOWERS E EATON DE ESTIMATIVAS DE
PRESSÃO DE POROS

Este capítulo visa analisar criticamente as equações de cálculo de pressão de poros dos
métodos citados, os fatores que os influenciam e suas vantagens e limitações, fornecendo-se o
embasamento teórico necessário para sua aplicação e a discussão dos resultados.
Assim, é importante comentar algumas questões. A primeira delas é que parâmetros que
afetam os perfis de porosidade e que são independentes da pressão exercem influência na
resposta dos métodos que os usam diretamente como base para estimativas de pressão de poros
(caso de Eaton e Bowers) podendo indicar falsas anomalias de pressão.
Abaixo estão alguns parâmetros que influenciam as respostas do sônico, do perfil de
densidade e de outros perfis:
• as condições mecânicas do poço: poço com perfil de caliper com arrombamento8 tende a
fornecer respostas mais altas no sônico (velocidades mais baixas) e mais baixas na
densidade (porque ambos “leem” mais fluido de perfuração, ao invés da parede de poço);
• a densidade do tipo de fluido nos poros da rocha: presença de hidrocarboneto influencia a
leitura dos perfis, tendendo a diminuir a resposta da densidade e da velocidade acústica na
rocha em comparação com a presença da água; já óleo mais denso, comparado ao gás,
resultaria em valores maiores de densidade e de velocidade;
• o tipo de reservatório em relação à cimentação dos grãos (matriz da rocha): reservatórios
cimentados (com muito quartzo e carbonato de cálcio) ou mais ou menos cimentados
tendem a aumentar a resposta na densidade e elevar a velocidade (tempos de trânsito
menores);
• as variações litológicas: maiores serão as interferências em ambos os perfis quanto maiores
forem as alterações no tipo da rocha (como presença maior ou menor de matéria orgânica
8
Arrombamento, do jargão da Perfuração (ou popularmente ‘caliper arrombado’ ou poço descalibrado): indica poço
com calibre proporcionalmente maior que o do diâmetro nominal da broca usada na perfuração de uma fase. Rabelo
(2008) cita as principais causas de arrombamento por desmoronamento das paredes do poço: pressão hidrostática
insuficiente ou excessivo no interior do poço; ação mecânica da coluna de perfuração sobre as paredes e vazão de
bombeio excessiva (que em regime turbulento pode provocar lavagem das mesmas). Outros fatores seriam: presença
de fraturas naturais e fissilidade da formação.

43
ou mineralogias diferentes); as intercalações litológicas entre os pontos de pressão medida e
os folhelhos imediatamente adjacentes (como areias e/ou calcários intercalados com
folhelhos); as variações de argilosidade entre folhelhos; as mudanças de composição da
matriz da rocha; e também as mudanças de porosidade.
• a presença de determinados minerais:
o óxido de cálcio (CaO) em folhelhos: exige correção no perfil sônico com adição de
cerca de 10 µs/pé;
o arenitos com sais em sua estrutura podem elevar os valores de perfil de raios gama e o
gradiente geotérmico (radioatividade);
o cinza vulcânica e fosfato: também podem resultar em elevação dos valores de perfil de
raios gama;
o mica: pode afetar perfis como raios gama e neutrão;
o barita no fluido de perfuração: alta concentração pode requerer correção no perfil
neutrão;
o pirita: alta concentração pode afetar o perfil sônico.

Na tentativa de amenizar essas falsas anomalias de pressão, pelo menos aquelas de pequena
escala, e suavizar os dados, é comum traçar um filtro mediana sobre os pontos de folhelho nos
perfis de porosidade. Entretanto, o filtro não é capaz de isolar todos os efeitos, portanto podem
ocorrer erros na modelagem da pressão de poros.
O programa PREDICT9, uma das ferramentas usadas na geração de dados de entrada para
aplicação dos métodos, oferece a opção de filtro Shrink Boxcar que consiste em realizar a
mediana de um número ímpar (x) de pontos do perfil escolhido e devolver o valor calculado ao
centro dos x pontos. Essa opção utiliza janelas móveis para filtrar todos os pontos do perfil e os
pontos que não participam da mediana se repetem. A escolha da quantidade de pontos depende da
quantidade de dados disponíveis: se os dados estiverem muito espaçados, deveria ser usado um
valor maior de pontos.
Outra alternativa para amenizar as anomalias causadas, por exemplo, pela presença de
variações litológicas, usada por especialistas de algumas operadoras10, é estabelecer um valor de
corte (cut-off) para certa espessura de camadas argilosas (desprezar valores menores que 10 m

9
Consultar Apêndice VIII.
10
Fonte pessoal.

44
por exemplo), suavizando ainda mais o filtro de folhelhos. Essa alternativa não foi usada neste
trabalho e deve ser avaliada com cautela para não desconsiderar volumes argilosos que
interessam na análise da pressão.
A segunda questão é que, em cálculos determinísticos de curvas de pressão de poros, uma
das limitações estaria em não se conhecer ao certo qual destes parâmetros exerceria maior
influência sobre o perfil sônico e quais outros parâmetros, não relacionados ao sônico (como por
exemplo, incertezas ligadas à medição da própria pressão) exerceriam maior influência sobre os
resultados das estimativas dos métodos propostos.
A consequência é que a avaliação se torna então complexa por ser demasiadamente
abrangente. Outra questão importante é que a identificação da causa que influencia a resposta dos
perfis de porosidade investigados faz parte do escopo das atividades exercidas pelo engenheiro de
perfuração, assim como fará parte desta dissertação (mesmo porque muitas vezes as investigações
exigem conhecimento de petrofísica) tendo sido estabelecidas, neste trabalho, hipóteses para
explicar determinados comportamentos anômalos.
Outra discussão que se levanta na previsão da pressão de poros é a seguinte: que diferenças
são consideradas aceitáveis entre uma curva prevista e uma curva post mortem ao longo de todo o
poço? Que diferenças são aceitáveis para estas curvas no reservatório? A resposta a essas
perguntas é: depende! Numa rápida avaliação, elas dependem de um abrangente leque de
variáveis que envolvem fatores ligados ou não diretamente ao projeto do poço: poço exploratório
ou não, quantidade de dados disponíveis para o estudo, lâmina d’água, características da região
em termos geológicos, logísticos, ambientais etc.
Quando uma operadora contrata, por exemplo, uma prestadora de serviços para realizar um
estudo de geopressões, é habitual estipular, como parâmetro de qualidade, limites que
representem diferenças aceitáveis entre o valor da pressão de poros prevista, fornecida em um
estudo e o valor da pressão que será medida no poço a ser perfurado.
Não é incomum, quando se trata de projeto de poços exploratórios, prever o pagamento de
bônus por estimativas que se mantenham dentro dos limites estipulados em contrato, para
incentivar a qualidade na previsão da pressão, tamanho é o impacto financeiro e em termos de
segurança operacional que uma boa estimativa tem neste tipo de projeto.
Por exemplo, no caso de inúmeros poços marítimos perfurados pela Área Internacional da
Petrobras, a localização em fronteiras exploratórias e a complexidade do projeto de poço são itens

45
determinantes da contratação ou não de estudos de geopressões independentes. O objetivo é
comparar resultados e fornecer subsídios para uma decisão mais segura (pelo menos em teoria)
na hora de definir, por exemplo, a quantidade de colunas de revestimentos necessária para
construir o poço.
Sejam quais forem as especialidades técnicas dos analistas responsáveis pelo estudo de
geopressões (geólogos, geofísicos ou engenheiros), os limites aceitáveis devem levar em conta a
janela operacional disponível para a perfuração.
Recente pesquisa (Falcão, 2012) foi realizada por uma das áreas de E&P da Petrobras com
20 poços do pré-sal brasileiro (exploratórios e de desenvolvimento da produção), com lâminas
d’água superiores a 1.500 m, das Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo. O intuito era
calcular os desvios padrão entre os valores da pressão de poros prevista antes da perfuração do
poço e essas pressões de post mortem nos reservatórios, ou seja, o foco do estudo era conhecer as
diferenças, entre as previsões e o post mortem das pressões. Foram constatados desvios entre 0,3
a 0,6 lb/gal no reservatório (considerados aceitáveis), embora em três poços este desvio tenha
chegado a mais que 2 lb/gal, não tendo sido considerado aceitável.
Nesse estudo da Petrobras, ressalta-se que tanto as curvas de pressão estimadas através da
aplicação de métodos teóricos antes da perfuração dos poços quanto as curvas de pressão
definidas no post mortem receberam a calibração final do especialista, momento em que é
possível eliminar respostas que não são coerentes com a história da perfuração do poço.
Em pesquisa informal realizada junto a equipes de geólogos e geofísicos de outra área de
E&P da Petrobras que trabalham com estimativas de geopressões tem sido comum aceitar, em
poços exploratórios, limites em torno de 1 lb/gal entre curvas de post mortem calibradas e valores
de pressões medidas nos reservatórios (usados na calibrações desses modelos de post mortem).
Esse mesmo valor foi usado por Liaw (2008) e Cruz (2009) para avaliação da qualidade das
estimativas de pressões de poros em seus trabalhos (eles aplicaram o Método de Eaton).
Na bibliografia pesquisada não foram encontrados, entretanto, estudos que computem as
diferenças entre o resultado “cru” da aplicação de métodos teóricos, como os de Eaton e de
Bowers, com valores de pressões medidas nos reservatórios, prévios à realização de qualquer
calibração final da curva de pressão pelo especialista.
Como nesta dissertação um dos objetivos é avaliar os resultados das estimativas geradas
pela aplicação de cada método em termos da diferença em relação à pressão medida no Cretáceo

46
Superior, sem realizar qualquer ajuste da curva, foram definidos os limites conforme a Tabela
3.1, para julgar sua qualidade. Levou-se em conta o fato de que em poços não exploratórios os
limites para respostas de melhor qualidade devem ser menores que em poços exploratórios.

Tabela 3.1: Definição de limites de erro para classificação da qualidade da pressão de poros estimada
pelos métodos de Eaton e Bowers nos reservatórios pesquisados
Diferença =|""#$%&%' − ""$)*&#'%'|
Classificação da Classificação da

|diferença| ≤ 0,7 lb/gal


diferença estimativa de pressão

0,7 < |diferença| ≤ 1,0 lb/gal


pequena e aceitável muito boa

1,0 < |diferença| ≤ 1,3 lb/gal


média, mas aceitável boa ou razoável

|diferença| > 1,3 lb/gal


pouco aceitável mediana
não aceitável ruim

3.1. Descrição do Método de Eaton (1975)

As duas equações fundamentais apresentadas a seguir, a primeira baseada no perfil sônico e


a segunda, no de resistividade, fazem parte do estudo de Eaton (1975) para desenvolvimento de
uma forma matemática e gráfica de estimativa de pressão de poros. A demonstração da equação
3.2 encontra-se no Apêndice V.

  ∆t N  
n

GPP = GOVB − (GOVB − GPPN )   3.1


  ∆tO  

  RO  
n

GPP = GOVB − (GOVB − GPPN )   3.2


  RN  

onde:
GPP = gradiente de pressão de poros que se quer calcular a certa profundidade, psi/m
GOVB = gradiente de pressão de sobrecarga na profundidade onde se quer calcular GPP, psi/m
GPPN = gradiente de pressão de poros normal, psi/m
∆tO = tempo de trânsito observado no folhelho limpo, à profundidade considerada, µs/ft
∆tN = tempo de trânsito lido na linha de tendência normal, na mesma profundidade de ∆tO, µs/ft
RO = resistividade observada em folhelho limpo, à profundidade considerada, ohm
RN = resistividade do folhelho limpo lida na linha de tendência normal, na mesma profundidade de RO,
ohm

47
n = expoente calibrado para cada área; valores do GoM são usuais (3 para equação com tempo de trânsito
e 1,2 para equação com resistividade).

Para desenvolver sua teoria e formular tais equações, Eaton (1975) usou como base: (1) a
equação de Terzaghi (1936); (2) dois postulados estipulados por ele mesmo e (3) a equação
tentativa e erro de Hottman e Johnson (1965), esta última baseada em dados empíricos do Golfo
do México com gradiente de sobrecarga constante.
Aplicando-se o princípio de Terzaghi sob a forma das equações 3.1 e 3.2, a estimativa de
pressão de poros por Eaton é função da pressão de sobrecarga e da hidrostática normal (pressão
de poros normal); da razão entre o parâmetro de porosidade (perfis de sônico ou de resistividade);
do próprio expoente “n” de Eaton (calibrado para um conjunto de poços ou para uma região e
dependente do parâmetro de porosidade utilizado); e, sobretudo da linha de tendência de
compactação normal traçada em folhelhos ou argilas.
Essa tendência representa a variação normal da porosidade com a profundidade por efeitos
do incremento da sobrecarga num processo normal de compactação em folhelhos ou argilas. A
hipótese fundamental é a de que as fugas dessa tendência normal das medidas de porosidade
estão relacionadas com anomalias de pressão de poros.
O método também pode ser aplicado à velocidade sísmica e alguns analistas o usam com o
expoente “d” (taxa de perfuração normalizada11; Jorden e Shirley, 1966), embora esta última
técnica “esteja em desuso” (Rocha e Azevedo, 2009).
Nesse método, o registro que indica a variação da porosidade é colocado num gráfico no
eixo “x” em escala semilogarítmica versus a profundidade no eixo “y”.
Suas principais vantagens são simplicidade de implementação das equações 3.1 e 3.2,
facilidade de aplicação (praticidade) e facilidade de calibração da tendência de compactação com
dados de pressão medida. Por esses motivos, suas equações são as mais utilizadas pela indústria,
estando massivamente presentes nos simuladores comerciais.
No entanto, como as equações estão baseadas em subcompactação, as linhas de tendências
são especialmente adequadas à modelagem de pressões de poros em áreas onde a
subcompactação é o mecanismo predominante.

11
A definição deste expoente também encontra-se no Apêndice V.

48
Observe-se, também, que, se por um lado é fácil calibrar a tendência de compactação, a
dependência da mesma constitui uma limitação (talvez a maior) não somente desse método, mas
de todos aqueles que dependem do traçado dessa linha.
O traçado dessa tendência torna-se difícil ou inviável onde não existe, ou é difícil de se
estabelecer, uma zona normalmente compactada em folhelhos e argilas. Em geral, formações
mais rasas, por serem mais jovens, têm maior probabilidade de estar normalmente compactadas e
são usadas no traçado dessa linha. Entretanto, em profundidades rasas é raro realizar medidas de
pressão em formações permeáveis, de modo que apenas se acredita que as formações
impermeáveis usadas para traçar a tendência estejam sob a condição de compactação normal.
Outro fator relevante é que a inclinação da tendência é subjetiva, por ser traçada pelo
analista, fato este que também influencia o resultado da pressão estimada.
Outro item relacionado ao traçado da tendência que deve ser considerado é que a acurácia
da pressão de poros estimada, depende, fundamentalmente, da similaridade das rochas
investigadas com os atributos daquelas que foram usadas para calibrar a tendência. Como o
resultado da estimativa está diretamente ligado à dispersão dos dados de sônico ou resistividade
em relação à mesma, caso rochas argilosas normalmente compactadas apresentem
comportamentos distintos, por exemplo, em termos de composição mineralógica ou cimentação
da matriz, ou mesmo pertençam a idades geológicas que sofreram processos de compactação
diferentes, a estimativa poderá se afastar da tendência de normalidade, sem que necessariamente
a formação esteja sobrepressurizada. Consequentemente, a pressão calculada para estas
formações poderá ser superestimada.
Há duas alternativas para ajustar ou calibrar o formato da curva de pressão de poros
estimada pelo método, caso seja identificada a atuação de outros mecanismos geradores de
sobrepressão: alterar a tendência de compactação normal ou alterar o expoente de Eaton.
Entretanto, como será discutido no item a seguir, os resultados encontrados, no que se
refere às estimativas de pressão de poros, são diferentes e a aplicação destas alternativas deve
guardar coerência com algumas regras.

3.1.1. Discussão Teórica do Método de Eaton (1975)

Bowers (1995) discutiu o Método de Eaton afirmando que ele subestima a pressão de poros
já que não leva em consideração a possibilidade de ocorrência de expansão de fluidos. Apesar de

49
tal afirmação, em geral, ser verdadeira, como se verá a seguir, Bowers afirma que mesmo com
altíssimos valores de velocidade sônica VN a equação 3.3 irá subestimar a sobrepressão resultante
da desconsideração daquele mecanismo. Comenta-se aqui, entretanto, que o autor não
estabeleceu parâmetros para o que classificou como velocidades altíssimas, mas acredita-se que
tenha se referido a valores maiores que 12.000 ft/s (3.657 m/s, ou seja, tempos de trânsito
menores que 83,3 µs/ft).
Conforme a classificação já apresentada, o Método de Eaton é considerado um método de
aproximação de tensões efetivas, podendo ser computada por:

3
V 
σ = σ 
' '
N
 3.3
 VN 

que é a versão da equação 3.1 explicitando as tensões efetivas (lembrando que a velocidade
sônica pode ser obtida através do inverso do tempo de trânsito). Nela, a velocidade pode ser
isolada como:

V =C σ'( ) 1/ 3
3.4

onde:
σ' = tensão efetiva, psi
σ'N = tensão efetiva calculada pela diferença entre a sobrecarga e a pressão de poros normal, psi
VN = velocidade sônica lida na linha de tendência de compactação normal, na profundidade onde se lê a
sobrecarga, ft/s
V = velocidade sônica observada em qualquer ponto fora da linha de tendência de compactação normal, na
profundidade onde se lê a sobrecarga, ft/s
C = VN / (σ'N)1/3, ft/s/(psi)1/3

A equação 3.3 considera zonas normal ou anormalmente pressurizadas, representados pelas


velocidades VN e V, respectivamente. Estas velocidades, por sua vez, seguem necessariamente a
relação dada pela equação 3.4, trilhando um caminho12, no gráfico de tensão efetiva (na abcissa)
versus velocidade acústica (na coordenada), que segundo Bowers (2001) é característico apenas
de rochas normalmente compactadas ou que sofreram subcompactação.

12
Caminho denominado Curva Virgem, definida no item 3.2 de descrição do Método de Bowers (1995).

50
Consequentemente, o Método de Eaton (1975) subestimaria a pressão de poros por não ser
capaz de considerar a ocorrência de Expansão de Fluidos.
Seguindo a linha de raciocínio de Bowers (1995), em geral se assume uma linha reta para a
tendência da velocidade normal num gráfico semilogarítmico VN vs profundidade, o que é
verdade. Entretanto, de acordo com Bowers, tanto V quanto VN deveriam satisfazer a equação
3.4. Então, para ser consistente, a VN deveria de fato poder ser calculada pela equação 3.4 usando
o valor da σ'N calculado pela diferença entre a curva de sobrecarga e os valores de pressão de
poros normal. Se isso fosse feito, a linha de tendência normal não seria uma linha reta num
gráfico semilogarítmico. Este fato seria responsável por superestimar o valor de VN.
Superestimando VN, a tendência normal semilogarítmica faz a equação 3.3 predizer uma
tensão efetiva menor e consequentemente fornecerá uma estimativa de pressão de poros anormal
maior que aquela fornecida pela equação 3.4. Isso geralmente é verdade, entretanto, vale ressaltar
que, também segundo o autor, mesmo com altíssimos valores assumidos para VN, a equação 3.3
ainda irá subestimar a sobrepressão resultante da expansão de fluidos.
Apesar de exprobar o método de Eaton, Bowers (2001 e 2002) reconhece que há
alternativas possíveis de corrigir baixos valores de pressão de poros estimados pela equação 3.1
como uma tentativa de simular o efeito de descarregamento, denominando essas alternativas de
“Método de Eaton Modificado”. Trata-se de proceder conforme já mencionado no item anterior:
alterar a tendência de compactação normal ou o expoente de Eaton “n” nas equações 3.1 e 3.2.
Em relação a essas alternativas, Bowers (2001) menciona que o efeito prático é o mesmo,
tornando os resultados da curva de pressão de poros mais elevados.
Entretanto, o presente trabalho avalia que: (a) algumas regras devem ser observadas tanto
para alterar uma linha de tendência de compactação normal (calibrada para um grupo de poços ou
uma região específica) quanto para alterar o expoente de Eaton; (b) os resultados práticos são
distintos realizando uma ou outra alteração, embora aquele autor e outras referências
bibliográficas pesquisadas13 que aplicaram o método não mencionem ou considerem o contrário,
conforme exposto no parágrafo anterior. Em Reyna (2007), Pereira (2007) e Domingues (2008)
foi encontrado algum debate sobre isso.

13
Cruz (2009); Silveira, (2009); Tingay et al. (2008, 2010 e 2013); Oliveira (2013); Melo (2013); Santana (2013).

51
No caso da alteração da linha tendência, essas regras, na realidade, constituem limitações
do método:
• sua inclinação deve guardar coerência entre poços de uma região avaliada, conforme será
descrito na aplicação do método e apresentação de resultados;
• deve ser traçada considerando folhelhos mais superficiais, os quais em geral são supostos
normalmente compactados; e deve ser observada a coerência em termos de litologia tanto
entre poços quanto num mesmo poço;
• pode ser usada mais de uma linha de tendência num mesmo poço nos casos em que
expressiva variação de litologia e/ou mudança de idades geológicas justifiquem alteração
significativa no comportamento de perfis de porosidade; trata-se, entretanto de uma técnica
complementar.

Em relação ao expoente “n” de Eaton, casos práticos mostram que o comportamento de


uma curva de pressão de poros pode tornar-se visivelmente mais agressivo (alto), sobretudo na
região não normalmente compactada, se o expoente de Eaton for aumentado, quando comparado
com o comportamento da curva resultante da alteração da inclinação da tendência. Ou seja,
aumentar o valor de “n” significa obter curvas de pressão mais pessimistas (altas) e, portanto, a
janela operacional se torna mais apertada ao longo de todo o poço, mas, sobretudo, na região sob
efeito de algum mecanismo causador de sobrepressão. Mudanças na inclinação do traçado da
linha de tendência resultam em mudanças menos agressivas no comportamento da pressão
estimada.
Isto é, se for possível realizar uma e outra correção, os resultados nas estimativas de
pressões de poros podem ser significativamente diferentes. Entretanto, esses procedimentos
devem guardar coerência com o comportamento das pressões em todo o poço, sobretudo nas
regiões mais rasas. O problema é que em regiões mais rasas, em geral as pressões não são
medidas para que se tenha certeza da qualidade da resposta do método.
É possível também que numa avaliação de post mortem, se suspeite da ocorrência de alguns
fenômenos como a compactação química de argilas, embora sua influência muitas vezes não seja
observada através da resposta do perfil sônico em relação à linha de tendência de compactação
normal estabelecida para os poços (Goulty e Randham, 2012). Ou ainda que a pressão medida em
poços correlatos, aliada à observação da sísmica, revele possível influência de tectonismo numa
região.
52
Nesses casos, deve-se aplicar uma correção da pressão estimada pelo método (calibração da
curva estimada), mas que ainda guarde a citada coerência num mesmo poço e entre poços.
Este trabalho apresenta como exemplo dessa análise a previsão de geopressões para um
poço exploratório de águas profundas da América do Sul realizada por Correia (2013) para a
Área Internacional da Petrobras. O expoente “n” de Eaton foi alterado para o valor 6 de modo a
refletir a atuação de três mecanismos geradores de pressão de poros além da subcompactação no
reservatório: transferência lateral, efeito de flutuabilidade e tectonismo.
Mesmo não sendo factível alterar a tendência de compactação14 estabelecida, sob pena de
perder a coerência com os poços de correlação estudados, foram realizados testes para observar
as respostas no comportamento geral da curva de pressão estimada. A alteração do expoente
forneceu, para o poço exploratório, resultados mais agressivos (maiores em cerca de 2 lb/gal) em
comparação com a mudança da inclinação da tendência, porém mais coerentes com o
comportamento da pressão medida dos poços de correlação.
Além disso, a pressão estimada pelo método precisou ser corrigida (calibrada) em dois
trechos: nas proximidades do topo do reservatório, para simular o efeito do tectonismo observado
na sísmica e pelos altos valores de pressão medidas nos poços correlatos; e dentro do
reservatório, para simular o efeito de flutuabilidade de gás. Esse poço exploratório ainda não foi
perfurado de modo que valores reais da pressão de poros, sobretudo no reservatório, ainda não
são conhecidos para que a qualidade da pressão estimada pelo método seja avaliada.
Outro exemplo do uso do “Método de Eaton Modificado” foi dado em Tingay et al. (2008,
2010 e 2013) com poços da Província de Baram, na Ásia Oriental. Os resultados da comparação
entre a previsão da pressão de poros usando a equação de Eaton e os pontos de pressão medidos
apontaram como sendo satisfatório do uso de “n” = 3 para representar a área sob desequilíbrio de
compactação e n = 6,5 para a área sob efeito de expansão de fluidos e transferência lateral.
Ainda segundo a análise do presente trabalho, outro aspecto que merece ser comentado é
que, na prática, alguns analistas consideram conveniente variar o expoente de Eaton conforme as
propriedades físicas do meio variem em profundidade num mesmo poço ou lateralmente —
embora em nenhuma das bibliografias pesquisadas que aplicou o método tenha sido encontrada

14
Nesse caso, a tendência foi traçada sobre o filtro do sônico derivado da velocidade intervalar da sísmica conforme
possibilidades de cálculo apontadas no item 4.2 de Fluxograma de Trabalho.

53
tal afirmação. Nesse sentido, seria possível variá-lo não só de bacia para bacia, mas também na
profundidade do poço, dependendo da estratégia de calibração.
Entretanto, assim como a mudança de tendência, essa alteração precisaria observar
coerência entre poços inseridos num mesmo contexto geológico e geofísico. Portanto, o valor do
expoente, e sua variação na região de estudo, representam outra incerteza nos cálculos
determinísticos da pressão através do método.
Outra limitação dos métodos baseados em linhas de tendência de compactação é que, na
prática, quando o perfil sônico dos poços apresentarem oscilações não ligadas a anomalias de
pressão (como, por exemplo, aquelas citadas no início deste Capítulo) a resposta da pressão
estimada poderá indicar sobrepressão em uma região onde não necessariamente atuou algum
mecanismo gerador de pressão anormal.
Ressalta-se que o método, em sua essência, não depende da existência de dados de pressão
medida, uma vez que a estimativa da pressão é feita para folhelhos e baseada na compactação dos
mesmos, sendo a estimativa em outros tipos de formações apenas uma aproximação. Entretanto, a
existência desses dados aumenta a confiança na definição da inclinação de uma linha de
tendência de subcompactação por permitir a construção de curvas de pressão calibradas com
dados reais. Essa estimativa será tanto melhor quanto mais em equilíbrio com folhelhos as areias
estiverem, o que em geral ocorre quanto mais finas elas são.
Outro parâmetro envolvido no cálculo da pressão pelo método, mas que encerra uma ordem
de grandeza de incerteza menos significativa que a dos citados antes, no entorno das regiões
sobrepressurizadas, é o valor da pressão da água de referência, definido no Capítulo 1 como
8,345 lb/gal (ou 0,433 psi/ft ou 0,1 kgf/cm2/m). Conforme mencionado ali, a ordem de grandeza
das diferenças resultantes não superaria 0,5 lb/gal em regiões superficiais (em testes com 8,33 e
8,90 lb/gal) e perderia importância a partir do início da região sobrepressurizada.
Em suma, como resultado da análise, foram identificados os seguintes parâmetros incertos
com impacto direto no resultado da pressão de poros estimada pelo Método de Eaton (1975):
(1) Traçado da linha de tendência de compactação normal:
• extensão e qualidade do perfil indicador de porosidade que baliza, em primeira instância, o
traçado da tendência, e que em segunda instância, dita o comportamento da pressão
estimada;

54
• definição da região normalmente compactada para poder traçar a linha, e da quantidade de
linhas ao longo do poço;
• calibração adequada da tendência para os poços estudados, considerando coerência de
lâmina d’água, soterramento, litologia e cronologia geológica;
• definição da inclinação com algum caráter subjetivo:
o existência de mais de uma inclinação que possa representar a tendência normal de
compactação de sedimentos;
• quantidade e qualidade dos pontos de pressão medida (que influenciam os dois últimos
itens).

(2) Expoente “n” de Eaton:


• identificação, quando existirem, de outros mecanismos além da subcompactação;
• definição da estratégia de calibração:
o valor único para toda a profundidade do poço ou valores diferentes por trechos do
poço;
o valor que represente bem a subcompactação, associado à linha de tendência definida
para esse mecanismo.

(3) Fatores não ligados à sobrepressão com reflexos no perfil de porosidade:


• condições mecânicas do poço;
• densidade do tipo de fluido nos poros da rocha;
• tipo de reservatório em relação à matriz da rocha;
• variações litológicas: diferenças de composições mineralógicas, cimentação de matriz,
porosidade, argilosidade;
• variações de salinidade da água contida nos poros da rocha;
• presença de inconformidades / falhas.

(4) Valor da pressão de poros normal ou pressão hidrostática de referência:


• valor constante ou não (diretamente considerado nas equações 3.1 ou 3.2) ao longo de todo
o poço, porém ambos com impacto na definição de poço sobrepressurizado ou não e no
Índice de Sobrepressão.

55
3.2. Descrição do Método de Bowers (1995)

Bowers (1995) propôs um método que considera reversões de velocidade e sua relação com
as tensões efetivas para verificar o comportamento de dois efeitos nas argilas: o da
subcompactação e o da expansão de fluidos15, este último, responsável pelo efeito que denominou
descarregamento ou descarga, conforme já mencionado.
O Método de Bowers (1995) se baseia em duas premissas principais: (1) que a pressão de
poros afeta todas as propriedades geofísicas dos grãos da rocha (como densidade, porosidade,
compressibilidade, resistividade e a velocidade sônica); e (2) que os sedimentos argilosos (como
os folhelhos) são a litologia preferencial para interpretação da pressão de poros, por serem mais
suscetíveis à compactação que a maioria dos demais tipos de rocha. Por isso a detecção da
sobrepressão está centrada no comportamento da deformação desse tipo de sedimentos.
Conforme já discutido no Capítulo 2, a compactação de folhelhos é controlada pela
diferença entre a tensão vertical total aplicada e a pressão de poros do fluido. Essa diferença, que
é a tensão efetiva, representa a porção da tensão total que é suportada pelos grãos da rocha
(princípio de Terzaghi).
Para estimar a pressão de poros, Bowers (1995) apresentou dois modelos de curvas de
velocidade vs tensão efetiva, aplicados no sistema inglês de unidades. Uma curva representa a
compactação normal e a subcompactação (Curva Virgem) e outra, o descarregamento (Curva de
Descarregamento). Cada uma é descrita por uma equação padrão, mas ambas são fundamentadas
no comportamento de folhelhos. Esses dois conceitos estão descritos e ilustrados na Figura 3.1.
É importante ressaltar que, apesar de constituir um método de estimativas de pressões de
poros, na verdade, segundo o próprio autor “é uma guia geral para conduzir a pesquisa das causas
da sobrepressão, e não deve ser usado isoladamente” (Bowers, 1995, p. 1).
Neste trabalho foi escolhida a estratégia de apresentar o gráfico de velocidade versus tensão
efetiva com as unidades usadas pelo autor, ou seja, “pés (ft) por segundo” e “psi”. Para facilitar a
comparação e discussão de resultados, estes valores foram apresentados juntos aos seus
respectivos equivalentes de sônico e de pressão de poros em unidades usuais da perfuração, ou
seja, “microssegundos/pé” e “libras/galão”.

15
Conforme descrito no capítulo anterior, por expansão de fluidos se entendem os seguintes mecanismos: geração de
hidrocarbonetos, expansão térmica da água, transformação mineral e/ou craqueamento de óleo a gás.

56
Rebote
Elástico Legenda:

Velocidade (Kft/s)
Pressão medida
Vmáx,σmáx
Curva de Descarregamento

Curva Virgem

Tensão Efetiva (kpsi)


Figura 3.1: Exemplo ilustrativo obtido com experimentos de laboratório do Campo de Cotton Valey:
compactação em folhelhos, seguindo a Curva Virgem original do campo, e a pequena porção de rebote
elástico16 da compactação, seguindo a Curva de Descarregamento
(Bowers, 2002, modificada)

(a) Estado de Tensão Efetiva Não Decrescente: Curva Virgem ou Curva de Carregamento
Sob aumento de pressão, a compactação de sedimentos argilosos e sua velocidade sônica
aumentam e se aproximam assintoticamente do seu limite superior, ou seja, no limite, a
velocidade atinge valores próximos aos dos grãos de sedimentos e a porosidade se aproxima do
zero. Nesse contexto, define-se Curva Virgem como a relação assintótica velocidade vs tensão
efetiva, para um estado de tensões efetivas não decrescente.
Quando excesso de pressão é gerado pela subcompactação, tanto as formações
normalmente pressurizadas quanto as sobrepressurizadas seguem a mesma relação de
compactação porque a subcompactação não pode causar a redução da tensão efetiva. Esse modelo
de Bowers (1995) para a Curva Virgem é dado pela equação 3.5.
É interessante comentar que esse excesso depende da relação de compressibilidade entre a
matriz da rocha e o fluido. Se a matriz da rocha é muito mais compressiva, mais macia, aumentos
na tensão de sobrecarga serão absorvidos primeiramente pelos fluidos contidos em seus poros. Se
a matriz é muito menos compressiva, mais dura e compacta, então irá sustentar a maior parte da
sobrecarga, não transferindo inicialmente a pressão para o fluido. Por isso, a subcompactação
gera tipicamente maiores pressões em formações mais rasas, que são mais macias.
Vale ressaltar aqui que, em realidade, o conceito de Curva Virgem não é exatamente
inovador uma vez que, da terminologia de Mecânica dos Solos, muito mais antiga, a relação entre
16
Um bloco em repouso, ao sofrer deformação devido a esforço, sofre ruptura e adquire nova posição de equilíbrio,
denominada rebote elástico. Conceito criado pelo engenheiro americano Reide para explicar o terremoto de São
Francisco (EUA) em 1906.

57
a velocidade acústica e a tensão efetiva em processos de crescimento da tensão efetiva é chamada
de Curva de Carregamento Virgem.

Equação da Curva Virgem: Compactação Normal ou Sobrepressão devido à Subcompactação:

2 = 23 + 567 8 9 3.5

onde:
V = velocidade sônica (ft/s)
V0 = velocidade acústica na água do mar = 5.000 ft/s = 1.524 m/s
σ' = σ'CV = tensão efetiva num ponto qualquer da Curva Virgem, psi
A, B = parâmetros calibrados com os dados da relação velocidade vs tensão efetiva dos poços; são usuais
do GoM os valores A = 28,3711 e B = 0,6207

Na equação 3.5 (e, analogamente, na equação 3.6 que será apresentada mais adiante) é
possível utilizar registros do perfil de velocidade sônica ou a velocidade da sísmica (nesse caso,
devem ser usadas velocidades intervalares). Segundo Bowers (1995), essas equações são
apropriadas para os valores de tensão de interesse.
Na prática, em geral se escolhe o ponto de máxima reversão no gráfico do parâmetro de
porosidade versus profundidade e assume-se que todos os pontos mais rasos seguem a Curva
Virgem e, portanto a tensão efetiva deve ser calculada a partir da equação dessa curva (vide
Figura 3.2, mais adiante).

(b) Estado de Redução de Tensão Efetiva: Curva de Descarregamento ou Descarga


A sobrepressão gerada internamente devido a mecanismos de expansão de fluidos afeta a
rocha de maneira diferenciada quando comparada à subcompactação: nela, a sobrepressão resulta
tipicamente da restrição que a matriz da rocha impõe ao fluido na medida em que ele tenta
aumentar de volume. Esse fato, ao contrário da subcompactação, faz com que a pressão aumente
numa taxa maior que a taxa de aumento de tensão de sobrecarga, o que força a tensão efetiva a
diminuir à medida que o soterramento continua e produz a reversão da velocidade (sugere-se
rever a Figura 2.2 e visitar dois exemplos teóricos do Apêndice X).
Outra explicação para entender o descarregamento, é admitir que a compactação é um
processo predominantemente inelástico, ou seja, possui comportamento quase irreversível, sem

58
grandes variações elásticas (Magara, 1980). Porque muito, mas nem toda a perda de porosidade
(e aumento de velocidade sônica) que ocorre durante a compactação, é permanente. Como
resultado, a velocidade não conferirá o formato assintótico à Curva Virgem com a redução da
tensão efetiva, ou seja, não conseguirá fazê-la declinar assintoticamente.
É nesse contexto que se define a Curva de Descarregamento, em que a velocidade segue um
caminho diferente daquele trilhado pela CV, sendo a relação velocidade vs tensão mais rápida,
conferindo formato mais achatado à curva.
O descarregamento pode ser então definido como sendo a pequena porção de rebote
elástico que ocorre quando a tensão efetiva, que age sobre a formação, é reduzida. Esse fenômeno
ocorre somente nos poros de interconexão, sem mudança significativa dos poros de
armazenagem.
O efeito da redução da tensão efetiva (descarga) durante a expansão de fluidos é a
diminuição da velocidade sônica da rocha porque a velocidade é em parte função da tensão que
existe entre os grãos da rocha. Apenas para efeito comparativo com a densidade, esta só irá
reduzir de acordo com o comportamento poro-elástico da rocha, e isso tende a resultar em
mudança de porosidade bem menor (Bowers, 2001 e 2002).
Bowers (2001) comenta que quando o processo de descarregamento (ou descarga) encerra-
se, tem início a recarga, quando a tensão efetiva volta a aumentar e a Curva de Descarregamento
retorna pelo mesmo caminho até que o ponto de máximo valor de tensão efetiva da Curva
Virgem seja ultrapassado, quando a deformação inelástica acaba.
Vale ressaltar que, analogamente à origem do conceito de Curva Virgem na Mecânica
Clássica dos Solos, é o conceito de descarregamento que designa a relação entre velocidade
acústica e tensão efetiva em processos de decrescimento da tensão efetiva.
Pela observação da Figura 3.1 é possível perceber que se a causa da pressão de poros não
for avaliada, se a expansão de fluidos estiver atuando, e se as estimativas de pressão de poros
forem feitas somente a partir da Curva Virgem, a tensão efetiva poderá ser superestimada e
consequentemente a pressão de poros será subestimada, para valores abaixo da velocidade
máxima.
Esse foi o motivo apontado por Bowers (1995) e outros autores (Magara, 1975; Plumley,
1980, citados por Bowers, 1995) para afirmar que o Método de Eaton subestima a pressão de
poros: “o método iguala a tensão efetiva na zona de sobrepressão a um intervalo de pressão

59
normal com a mesma velocidade, assumindo que o dado de sobrepressão está sobre a Curva
Virgem, o que não é verdade em casos onde o descarregamento deveria ser considerado” (p. 91).
Para a construção do gráfico da Figura 3.1, primeiro utiliza-se o conceito fundamental de
Terzaghi (1936), calculando-se a tensão efetiva através da diferença entre a sobrecarga e a
pressão de poros medida. A seguir, para o eixo “y”, usam-se os valores de velocidade acústica
filtrada em folhelhos nas profundidades correspondentes às dos pontos de pressão medida.
A atividade de muitos mecanismos de expansão de fluidos aumenta com a temperatura e
então, com a profundidade. Para ser uma grande fonte de sobrepressão, esses mecanismos
também requerem uma matriz de rocha menos compressiva e capaz de conter os fluidos em seu
interior. Consequentemente, ao contrário da subcompactação, a expansão de fluidos ganha
importância a grandes profundidades, onde as rochas são mais rígidas.
O modelo de Bowers (1995) para o descarregamento é dado pela equação 3.6, a seguir:

Equação de Descarregamento: Sobrepressão devido à Expansão de Fluidos

?
78 @
2 = 23 + 5 :7 8 ;á< = > A
7 8 ;á<
3.6

?
VCáD − V3 I
σ8 CáD = E H
A
para: 3.7

onde:
V0 = velocidade acústica na água do mar = 5.000 ft/s = 1.524 m/s
σ'máx = tensão efetiva máxima, no começo do descarregamento, onde a velocidade também é máxima, psi
Vmáx = velocidade sônica máxima, no começo do descarregamento, ft/s
σ' = tensão efetiva que se quer calcular, num ponto qualquer da Curva de Descarregamento, psi
U = parâmetro adimensional de descarregamento ou parâmetro elasto-plástico; U = 3,13 é usual do GoM

Nos trechos sem grandes mudanças de litologia, a Vmáx costuma ser o ponto onde começa a
reversão da velocidade devido ao descarregamento, no gráfico velocidade vs profundidade. Isso
equivale a assumir que todas as formações, dentro do trecho de reversão de velocidade,
possuíram o mesmo valor de tensão efetiva máxima pelo menos em algum momento no tempo
geológico. Os valores de σ'máx e Vmáx são a tensão efetiva e a velocidade no ponto da Curva
Virgem onde V = Vmáx.

60
O parâmetro “U” é a medida do quão plástico é o sedimento. De acordo com a equação 3.6,
U = 1 implica deformação perfeitamente elástica (sem deformação permanente) e o resultado é o
caminho da Curva Virgem. Com U ⟶ ∞ as deformações são perfeitamente plásticas
(completamente irreversíveis), já que “V” se aproxima de Vmáx para todos os valores de tensão
efetiva menores que σ'máx. Na prática, os valores de U variam entre 3 e 8. O parâmetro U muda o
formato da Curva de Descarregamento: quanto maior o valor de U, maior a curvatura.
A Figura 3.2 explica qualitativa e graficamente o método. Tome-se o ponto B dentro da
região sobrepressurizada, onde se quer calcular a pressão de poros; C como o ponto de máxima
velocidade e o ponto A na perpendicular ao ponto B, porém dentro do trecho de normalidade da
curva de velocidade sônica (compactação normal).

OVB
Tendência normal PPnormal
Teste de PP Curva Virgem
Profundidade Teste de PP
onde há PP
´
Profundidade (ft)

medida
Curva de
Velocidade (Kft/s)

Descarregamento
´
´
VA = VB
´
C
´´
Reversão

´ ´ ´ ´
´

Velocidade (kft/s) Pressão (kpsi) Tensão Efetiva (kpsi)

Figura 3.2: Método de Tensões Efetivas de Bowers (1995) para estimativa de pressões de poros: σ'B < σ'A
porque PPB > PPA devido ao efeito de descarregamento, iniciado em Zmáx (profundidade máxima até onde
ocorreria a subcompactação)

Segundo o Método de Bowers (1995), quando ocorre a expansão de fluidos, o ponto em


que VA = VB não estaria sobre a Curva Virgem, e sim sobre a Curva de Descarregamento, como
resultado da alta pressão de poros medida (σ'B < σ'A). Ou seja, a tensão efetiva calculada por
meio dessa pressão medida (σ'B) é menor que aquela que seria calculada caso o caminho seguido
fosse o da CV (σ'A).

61
A pesquisa de Bowers mostra que, em geral, o estudo de muitos poços de correlação pode
revelar múltiplos comportamentos para a Curva de Descarregamento, diferentemente do que
ocorre com a curva de subcompactação, em que os poços deveriam trilhar aproximadamente um
mesmo caminho.
Dessa forma, para achar o valor de “U” seria necessário transformar essas múltiplas curvas
em uma curva única realizando uma espécie de normalização, como mostra a Figura 3.3. Nela, U
pode ser calculado pela equação 3.8 (que é a solução analítica da Figura 3.3), obtida pela
substituição da equação 3.5 da Curva Virgem na equação 3.6 do Descarregamento:

78 7K8
@
== 8 >
σ8 CáD 7;á<
3.8

σI σ8 M
8 @
∴ 8 == 8 >
σ CáD 7;á<
3.9

onde σ'cv vem de uma analogia da equação 3.7:


?
VNO − V3 I
σ 8
=E H
NO
A
3.10

onde:
σ'B = tensão efetiva no ponto B na Curva de Descarregamento, psi
σ'A = tensão efetiva no ponto A (mais raso) na CV, perpendicular ao ponto B (mais profundo), ou seja,
solução do Método de Bowers para a tensão efetiva em B, psi

62
Curva de Descarregamento
Normalizada

Poço 1
Poço 2
Poço 3
Poço 4
Poço 5
Poço 6

Figura 3.3: Normalização da Curva de Descarregamento (Bowers, 1995, modificada)

3.2.1. Discussão Teórica do Método de Bowers (1995)

Um dos primeiros itens relevantes sobre o método, já comentado, é que, diferentemente do


que, na época, Bowers estudou, o conceito de descarregamento tem sido modernamente usado de
forma mais ampla para designar qualquer fenômeno que provoque a redução da tensão efetiva.
Isso quer dizer que não necessariamente é preciso associar a aplicação do método à
ocorrência de altas temperaturas em um poço ou região, embora esse fator seja apontado na
literatura como um dos principais indicativos da possibilidade de ocorrência daquele efeito.
Autores citam, por exemplo, a redução da tensão vertical (sobrecarga) por efeito da ‘exumação’ e
mesmo por transferência lateral.
Outro ponto a destacar é a impossibilidade de se usar o método para estimar curvas de
poro-pressão em locações exploratórias na ausência de poços correlatos, ou em sua presença
quando os mesmos não possuírem dados de pressão medida mesmo de posse de suas velocidades
sísmicas, devido à necessidade de construção da CV com aquele tipo de dado.
Ji e Fan (2010) discutiram o Método de Bowers (1995), apontando como principal
desvantagem o fato de que, na equação 3.6 da Curva de Descarregamento, a velocidade acústica
nas rochas retorna a 5.000 ft/s quando a tensão efetiva é zero. Como será visto mais adiante,

63
diferentemente do que avaliam esses autores, o presente trabalho aponta outras questões como
maiores limitações.
Na realização de seus experimentos, Ji e Fan usaram dados de pressão medida do leste da
China tanto de pontos conhecidamente sob efeito de carregamento quanto de pontos cuja atuação
do mecanismo de expansão de fluidos (sob efeito de descarregamento) precisava ser confirmada.
Observaram que os pontos de pressão sob efeito de carregamento seguiam a relação
exponencial proposta por Bowers (1995) na equação 3.5: enquanto a velocidade acústica tendia
ao limite máximo, os valores da tensão efetiva calculada (através da diferença entre a sobrecarga
e a pressão medida) aumentavam e a relação entre eles era exponencial. Isso significa que a curva
dada pela equação 3.5 seria válida e razoável (linha azul na Figura 3.4) e como consequência, os
valores das pressões estimadas por meio dela seriam parecidos com os valores reais medidos.

Legenda:

PP medida sob efeito de Carregamento


PP medida sob efeito de Descarregamento
Curva Virgem de Bowers
Curva de Descarregamento de Bowers
Curva de Descarregamento de Ji e Fan

Figura 3.4: Comparação entre as Curvas de Descarregamento de Bowers e a proposta por Ji e Fan para
poços no leste da China (Ji e Fan, 2010, modificada)

Entretanto, para os dados de pressão medida que sofreram descarregamento foram


observados graus de discrepâncias diferentes devido às diferenças entre a velocidade calculada
pela Curva de Descarregamento proposta por Bowers (equação 3.6) e aquela obtida nas
profundidades das pressões medidas. As discrepâncias eram pequenas para valores próximos da

64
origem do descarregamento (σ'máx e Vmáx), mas aumentava na região onde a tensão efetiva estava
próxima de zero.
Essa avaliação está correta porque, nesta região, a velocidade estimada pela equação 3.6 é
quase metade do valor real (~13.200 ft/s) justamente porque a equação força a velocidade a
retornar ao ponto de 5.000 ft/s, como mostra a Figura 3.4.
Avaliam corretamente aqueles autores que, para o modelo de descarregamento de Bowers,
é fisicamente razoável apenas que o fenômeno comece no ponto de σ'máx e Vmáx e mostre redução
da tensão efetiva com o aumento da pressão de poros. Mas não é razoável que a velocidade se
reduza de forma exponencial e volte para seu ponto de carregamento inicial (5.000 ft/s), onde a
tensão efetiva é zero porque “nos estados em que a pressão de poros aumenta a ponto de seu
valor se aproximar da tensão de sobrecarga, a velocidade acústica na rocha não pode ser
restaurada ao valor da equivalente ao da água do mar (5.000 ft/s)” (p.2).
Avaliou-se, no presente trabalho, que o comentário do parágrafo acima está de acordo com
os estudos já citados de Yoshida et al. (1996) e Knowledge Systems (2001) com inúmeros poços,
em que o valor da V0 da equação 3.6 foi alterado para representar as regiões estudadas. Isso leva a
concluir dois pontos, com base nesses estudos:
• que seria inerente ao método obter estimativas de pressões pouco razoáveis nas regiões com
altíssimas pressões medidas (próximas da sobrecarga devido ao efeito de descarga) ao usar
a equação 3.6 com V0 = 5.000 ft/s proposta por Bowers; este valor17 deveria ser alterado
(quando possível) nesta equação para representar o comportamento das pressões e das
velocidades reais dos poços estudados;
• que sedimentos com velocidades em torno de 5.000 ft/s (1.524 m/s ou 200 µs/ft) são
provavelmente muito macios para suportarem pressões tão altas na região de tensões
efetivas próximas de zero e que o descarregamento seria praticamente impossível para
velocidades em torno desse valor. De forma geral, naqueles trabalhos, observa-se que, nos
poços avaliados, apenas nas rochas com velocidades maiores que 9.500 ft/s (2.895 m/s ou
105 µs/ft) é que foram detectados mecanismos geradores de descarregamento, por serem
fisicamente capazes de suportar pressões causadoras desse fenômeno.

17
Sabe-se que V0 também pode variar a depender da salinidade, da pressão hidrostática, da densidade e elasticidade
do meio (funções da temperatura) e das partículas presentes na água.

65
Foi identificado também pelo presente trabalho que os efeitos do valor adotado para a
velocidade acústica na água salgada18, no modelo de Bowers, não são abordados ou foram
pobremente abordados pelos autores pesquisados. Além disso, não é somente na Curva de
Descarregamento que esses efeitos podem ser observados. Ela também marca o ponto de início
da estimativa da pressão de poros na CV, portanto também apresenta influência nas pressões mais
próximas da superfície.
Detectadas através deste trabalho, uma das principais dificuldades no uso do método é que
ele parece fornecer boas estimativas apenas para camadas bem comportadas de litologia. Ou seja,
sem grandes variações ou intercalações entre folhelhos e outras litologias, quando é possível
identificar com segurança o ponto de máxima velocidade a partir de onde começaria a reversão
(vale recordar que assim como o Método de Eaton, o Método de Bowers é recomendado para
estimativas de pressão de poros em argilas e folhelhos, não sendo seu uso adequado a carbonatos
e evaporitos).
Como será visto no Capítulo 5, a realidade da litologia dos poços aqui estudados bem
diferente. Para poços com cenário litológico diversificado e/ou estratificado ou naqueles em que a
reversão da velocidade não se inicia de forma clara, não permitindo identificar com precisão a
Vmáx, a aplicação do método não parece ser confiável e parece exigir um critério diferente.
Esse critério seria escolher uma velocidade dentro da própria zona com variações
litológicas, ou seja, dentro da região de descarga. Bowers (1995) comenta, apenas em linhas
gerais, que em um dos seus estudos de caso (com poços da Indonésia), “a análise de poços de
correlação da área apontou para uma Vmáx dentro da região com reversão” (p. 7).
Entretanto, Bowers não mencionou os critérios que devem ser ou que foram usados para
escolher essa profundidade. Reconhece, apenas, “que as estimativas próximas a essas zonas não
podem ser consideradas confiáveis” (p. 7).
Analisando ainda os parâmetros “A” e “B” da equação 3.5, quando há dados de pressão
medida numa quantidade suficiente para construir uma CV, quando existe uma tendência única
de compactação normal que representa bem o comportamento de uma área e quando as idades
geológicas possuem comportamentos de sônico semelhantes, a(s) relação(s) entre os parâmetros

18
Perry e Chilton (1973) indicam como valor médio da velocidade na água salgada 4.921 ft/s (1.500 m/s) a 0°C considerando
35.000 ppm de NaCl e 1 atmosfera de pressão. Entretanto, este valor pode variar entre 4.550 ft/s (1.387 m/s) e 5.016 ft/s (1.529
m/s), dependendo das características do meio (Nakiboglu, 1993, citado por Reyna, 2007). Este parâmetro pode ainda ser obtido
por meio da sísmica ou de perfilagem do poço, portanto sua incerteza estaria vinculada a possíveis erros de medição e/ou
incerteza no modelo sísmico utilizado.

66
“A” e “B” pode(m) ser facilmente estabelecida(s) e ainda constitui(m) uma alternativa ao traçado
da linha de tendência de Bowers.
É razoável considerar que, por representarem as características físicas do meio, esses
parâmetros podem variar de bacia para bacia, de poço para poço e ou mesmo dentro de um
mesmo poço. Assim, por exemplo, um dado poço pode possuir mais de um par diferente de
valores de “A” e “B” se a mesma quantidade de CVs for necessária para representar o
comportamento das pressões no poço. Entretanto, vale observar que:
• nem sempre é possível traçar mais de uma CV para um poço porque na maior parte das
vezes as pressões não são medidas ao longo de todo ele, sendo comum adquirir esse tipo de
dado apenas nas profundidades dos reservatórios;
• a estratégia usada para um poço deve ser coerente para o conjunto de poços avaliados em
uma área similar, caso contrário, trata-se apenas de uma manipulação estratégica, uma ação
isolada para que sejam obtidas boas estimativas de pressão para um poço em particular, que
correspondam aos valores das pressões medidas;
• no caso de algumas idades geológicas apresentarem comportamentos distintos em termos
de velocidade acústica, por exemplo, e sofrerem escassez ou ausência de dados de pressão
medida, haverá dificuldade ou impedimento de construção de CVs para esses trechos.
Nesse caso, a curva de pressão de poros estimada para tais extensões do poço poderá não
ser adequada, já que derivará de uma CV traçada considerando o melhor par “A” e “B” de
outras idades.

Sugere-se aqui, nesse mesmo contexto, que é então possível inferir o quão ampla seria a
capacidade desse método em estimar uma curva de pressão de poros realmente representativa de
toda a extensão de um poço avaliando também o tamanho do trecho em que as pressões medidas
estão disponíveis. Ou seja, quanto menor for esse trecho e quanto mais as características das
demais formações forem diferentes do mesmo, menos representativa de todo o poço a CV pode
se tornar. E nesse caso, caberia também a pergunta: trata-se de um método ruim em sua essência
ou há que se gastar mais dinheiro com a aquisição de informação em trechos não compreendidos
por zonas reservatórios, pelo menos para os primeiros poços de uma área, em prol da realização
de melhores estimativas de pressão de poros para futuros poços? Esta não é uma questão que
afeta unicamente o Método de Bowers, mas também o de Eaton.

67
Considerando a análise acima, e ainda o caso de poços da Indonésia (do trabalho de Bowers
1995), foram usados três pares de “A” e “B” para representar um dos poços. Em teoria, o autor
deveria construir três CVs para esse poço e as mesmas deveriam servir para aplicação nos demais
poços avaliados. Entretanto, tal fato não foi mencionado e as curvas também não foram
apresentadas.
Durante o levantamento bibliográfico tanto de títulos recentes (como, por exemplo, Cruz,
2009; Ji e Fan, 2010; Zhang, 2013; Oliveira, 2013; Melo, 2013 e Santana, 2013) quanto de mais
antigos a respeito da aplicação do Método de Bowers, foram encontrados apenas três trabalhos
(Tingay et al., 2008, 2010 e 2013)19 que reconhecessem ou apresentassem a questão discutida nos
três últimos parágrafos.
Não foram encontrados outros trabalhos que observassem aquelas premissas durante a
aplicação do método ou pelo menos as discutissem. Por vezes, a influência da variabilidade de
comportamentos em termos litológicos e geológicos, bem como a presença do tipo de fluido no
reservatório são consideradas “de menor impacto na relação velocidade – tensão efetiva”
(Gutierrez et al., 2006, p. 1.520), no que o presente trabalho dissente por considerá-las premissas
fundamentais.
Além daqueles três trabalhos, a exceção encontrada foi o próprio artigo de Bowers (1995),
que embora não discuta diretamente a questão, menciona o uso de CVs distintas num mesmo
poço em um dos poços estudados.
Observe-se também que a variação dos parâmetros “A” e “B” exercem influências
diferentes: como “B” é um expoente, torna o método mais sensível, então o coeficiente “A” deve
ser usado para ajuste fino da pressão em trechos mais profundos. Estabelecendo um paralelo com
o Método de Eaton, variar o valor de “n” guardaria relação com variar o valor de “B” e variar a
tendência reta guardaria relação com variar o valor de “A”.
Aponta-se no presente estudo, que na escassez ou inexistência de dados de pressão, mas em
presença de perfil de porosidade e de pressão de fluido de perfuração, uma alternativa para obter
estimativas de pressão usando o método seria aplicar o programa PREDICT com seus valores
padrões de “A”, “B” e “V0” (respectivamente 14,2; 0,724 e 5.000 ft/s) e assumir um valor para a
pressão hidrostática. Em seguida, realizar a calibração, tomando a massa específica do fluido de

19
Estudo de altas sobrepressões nas províncias de Barein (Golfo Pérsico) e de Brunei (na Malásia).

68
perfuração como uma referência, embora isso insira ainda maior incerteza nas estimativas usando
o método.
Em seu trabalho, Reyna (2007) utilizou um poço teste desse programa para mostrar essa
sensibilidade do método a variações de “A” e “B”, supondo situações de subcompactação (U = 1)
e atuação de outros mecanismos (3 < U < 8). Já no trabalho de Cruz (2009), na ausência de dados
de pressão, a CV de Bowers foi construída com as curvas de pressão do fluido de perfuração.
Passando agora à análise da dependência do método em relação ao perfil sônico, sugere-se,
aqui, que devem ser considerados dois fatores:
• se por um lado é uma vantagem traçar Curvas Virgem ou de Descarregamento com pontos
de pressão medida, por outro, o método se mostra sensível por ser dependente de valores
pontuais de velocidade acústica, que por sua vez está condicionada aos fatores que exercem
influência no sônico;
• se por outro lado é interessante traçar as curvas com base em perfis de velocidade que
quase sempre estão disponíveis para todo o poço, a exigência de uso de tensões efetivas
calculadas a partir de curvas de pressões previamente estimadas para todas as
profundidades em que a velocidade está disponível é uma desvantagem, porque tais
pressões não constituem dados de pressão categóricos como aqueles medidos.

Foi identificado nesta dissertação que a segunda maior dificuldade do método reside no
primeiro item do parágrafo anterior. Sua interpretação não implica apenas em avaliar se o
comportamento das pressões medidas trilha ou não o caminho de uma curva, porque eles podem
repousar sobre ela e visualmente serem o resultado da influência sofrida pelo perfil sônico dos
fatores não ligados à pressão já discutidos, ou porque o filtro aplicado não representa de forma
adequada um comportamento local. Tais fatos não foram discutidos por Bowers nem pelos
demais autores pesquisados.
Dessa forma, respondendo à pergunta feita anteriormente (que questiona o balanço entre a
qualidade o método e a aquisição de informação de pressão em poços) esta dissertação avalia
que, apesar do método não ser ruim em sua essência, suas exigências de utilização e a
dependência da série de fatores analisados o tornam mais demorado e não tão simples e fácil de
interpretar como o Método de Eaton.

69
Passando agora a analisar o parâmetro “U”, caso no grupo de poços avaliados haja apenas
uma Curva de Descarregamento, esse parâmetro pode ser obtido com ajuda de um programa
computacional que gere uma curva segundo a equação 3.6 (já de posse dos valores de “A” e “B”).
Entretanto, quando há muitas Curvas de Descarregamento, vale ressaltar algumas exigência
para cumprir a solução proposta por Bowers para buscar um valor médio de “U” (um “U”
normalizado”) para o gráfico σ'CV/σ'máx vs σ'/σ'máx da Figura 3.3. Chama-se atenção para o fato de
que essa solução só pode ser aplicada desde que ocorra uma combinação de pelo menos três
fatores, não comentados por Bowers (1995). Quais sejam:
• deve haver uma quantidade mínima de poços para que uma tendência, no gráfico, possa ser
delineada (aqui sugerida como três poços);
• os poços devem dispor de um número tal de pontos de pressão medida sob efeito de
descarregamento que permita caracterizá-la com segurança eliminando a falsa impressão de
ocorrência de descarga (aqui sugerido como no mínimo três pontos sob esse efeito por
poço). Caso contrário, podem restar dúvidas a respeito da própria ocorrência ou não desse
fenômeno, podendo o uso desses dados de pressão para construção da curva de “U”
normalizada comprometer o estudo;
• as pressões medidas sob efeito de descarregamento nos poços devem ter magnitudes
diferentes entre si de tal forma que a curva normalizada apresente uma tendência para a
relação (σ'/σ'máx); caso contrário será obtida uma nuvem de pontos em torno de valores
muito similares de (σ'/σ'máx) e essa tendência não será percebida de modo a identificar o
valor de “U”.

É importante comentar que em muitas áreas exploratórias, caso da maioria dos poços
marítimos perfurados pela Petrobras Internacional, a escassez de poços de correlação ou mesmo
de dados de pressão medida é uma verdade verificada na prática dos últimos anos. Muitas vezes,
quando os dados de pressão medida existem e estão disponíveis, não o são em quantidade
suficiente, impedindo a aplicação desse método. Por vezes, são também antigos e/ou pouco
confiáveis, dificultando a aplicação desse e de outros métodos.
Podem ser dados como exemplos os projetos de perfuração de poços exploratórios
(operados ou não pela Petrobras) nos seguintes países: Irã (2008), Colômbia (2009 e 2014),
Turquia e Nova Zelândia (2010), Tanzânia e Namíbia (2012), Portugal e Benin (2013). Em

70
raríssimas oportunidades nesses projetos, dados de pressões medidas estavam disponíveis, e
nunca numa quantidade superior a três poços de correlação.
Goulty e Ramdhan (2012) debateram ideias mencionadas em Bjørlykke (1998) citadas no
Capítulo 2 (Tabela 2.5) e ampliaram a discussão. Discutem qualitativamente como a ocorrência
de mecanismos como a compactação química dificultariam a identificação da descarga, por serem
capazes de mascarar a resposta da velocidade acústica, tornando-a diferente daquela comumente
esperada para esses casos (que seria de regressão a partir de uma profundidade onde é máxima).
Aqueles autores teorizam que, “sob regime de compactação química, as argilas continuam a
ser compactadas com a continuidade do soterramento e aumento da temperatura, então sua
porosidade é (seria) independente da tensão efetiva até que o extremo da sobrepressão seja
atingido”. Nessa situação, a reversão da velocidade acústica não se apresentaria de forma clara
porque sua taxa de crescimento se reduziria ou simplesmente não ocorreria.
Nesses casos, como seria então o cálculo da pressão de poros aplicando o Método de
Bowers (1995)? Observe-se que não se trata de aplicar exatamente o que ele preconiza porque
não se supõe redução da tensão efetiva sob condições de reversão da velocidade a partir do topo
da região de descarregamento. Trata-se de considerar uma situação análoga àquela mencionada
anteriormente, que pode ocorrer em presença de cenário litológico diversificado, em que a
reversão pode não ser evidente. Trata-se de considerar que a velocidade continuaria aumentando,
embora numa taxa mais suave, ou pararia de aumentar.
No presente trabalho, durante a aplicação do Método de Bowers (1995) aos poços
sobrepressurizados, percebeu-se a existência dessa possibilidade. Somente a partir daí é que se
buscou uma bibliografia que corroborasse essa análise, tendo sido encontrados os citados
trabalhos de Goulty e Ramdhann (2012) e Goulty et al. (2012), mas que não apresentam casos
práticos de estimativa de pressão de poros com aplicação de Bowers (1995).
Foi então criado, aqui, um exemplo teórico que representasse um caso fictício de ocorrência
de descarga sem mudança perceptível da velocidade acústica, e que respondesse à pergunta feita
a dois parágrafos acima. Recomenda-se visitar o Exemplo 2 do Apêndice X.
Em suma, como resultado da presente análise, foram identificados os seguintes parâmetros
incertos, sobretudo nas curvas que balizam o Método de Bowers (1995), com impacto direto no
resultado da pressão de poros estimada por ele:

71
(1) No traçado da Curva Virgem:
• análise, separadamente, de reservatórios com comportamentos distintos de sobrepressão,
em cada poço analisado;
• extensão e qualidade do perfil indicador de porosidade, cujos valores pontuais nas
profundidades onde a pressão é medida são usados na construção da curva, quando a
estratégia é fugir do traçado da CV usando a velocidade acústica disponível ao longo de
todo o poço versus uma curva pressão previamente estimada para ele;
• aplicação de filtro adequado ao perfil de porosidade, para remoção dos ruídos, preservando,
porém a tendência de comportamento;
• existência de pontos de pressão medida sob efeito de compactação normal ou
anormalmente compactados sob efeito de subcompactação, para poder traçar a CV;
o quantidade e qualidade dos pontos de pressão medida;
• quantidade de CVs estabelecidas para o poço, de modo que a curva final de pressão de
poros estimada possa ser representativa de longos trechos do poço:
o caso seja necessário e possível, definição de mais de uma CV;
o amostragem da pressão ao longo do poço deveria ser representativa de litologias e/ou
de períodos/épocas/idades geológicos(as) com diferentes características ou diferentes
comportamentos de pressão em relação ao comportamento reservatório, onde é mais
comum a aquisição de dados de pressão.

(2) No traçado da Curva de Descarregamento:


• análise, separadamente, de reservatórios com comportamentos distintos de sobrepressão,
em cada poço analisado;
• identificação do par Vmáx, σ'máx com algum caráter subjetivo, sobretudo quando o perfil
acústico estiver sob influência de fatores que mascaram a reversão da velocidade;
• quantidade e magnitude das pressões medidas com influência na construção de uma curva
normalizada de “U”:
o quantidade mínima de poços para que uma tendência possa ser delineada (aqui
sugerida como três poços);

72
o presença mínima de pontos de pressão medida para caracterização do efeito de
descarga e eliminação de falsa impressão de ocorrência desse efeito (aqui sugerida
como três pontos por poço);
o magnitude das pressões medidas deve ser diferente entre si de tal forma que a curva
normalizada apresente uma tendência para a relação (σ'/σ'máx);
• valor da velocidade acústica V0 adotado equação 3.6 (com grande impacto):
o esse valor faz a Curva de Descarregamento retornar à tensão efetiva zero e à
velocidade acústica que a rocha apresenta nos trechos superficiais do poço, o que não
são premissas razoáveis; na equação 3.5 da Curva Virgem não há grande impacto
porque será marcado apenas o início da compactação normal.

(3) Na identificação de fatores não ligados à sobrepressão com reflexos no perfil de


porosidade:
• idem ao exposto no Método de Eaton.

Também como resultado da análise da presente dissertação, foram identificados os


seguintes fatores críticos para o processo de diagnóstico da ocorrência do fenômeno de
descarregamento, cuja análise conjunta, positiva e não excludente leva à conclusão sobre sua
ocorrência:
• redução da tensão efetiva;
• observação de que os métodos de subcompactação subestimam a pressão de poros medida,
após descartada a ocorrência dos fatores que influenciam o sônico e não estão ligados à
sobrepressão;
• par velocidade acústica ─ tensão efetiva encontra-se posicionado acima da CV, após
descartada a ocorrência dos fatores citados no item anterior, e acompanhada da análise,
quando couber, dos fatores a partir do próximo item;
• perfil de densidade apresenta comportamento aproximadamente constante no trecho com
descarga, acompanhada de mudança perceptível (ou não) da velocidade acústica e da
resistividade, e acompanhada de redução da tensão efetiva, na mesma região:
o necessário dispor de longo trecho de densidade (preferencialmente maiores que 800
m) para que mudanças na sua tendência de comportamento possam ser observadas

73
(dos três perfis, é o que, em geral, é adquirido apenas nas fases em que o reservatório
se apresenta; isso torna fundamental, para o estudo, a existência de poços com essa
característica);
• velocidades acústicas dos sedimentos maiores que 9.500 ft/s (2.895 m/s ou 105 µs/ft), fator
ligado ao item anterior:
o como regra prática, sedimentos com velocidades abaixo desse valor e sobretudo
abaixo de 8.500 ft/s (3.591 m/s ou 118 µs/ft) e muito mais aquelas próximas de 5.000
ft/s, são considerados macios de modo a não conseguirem suportar pressões capazes
de promover descarregamento;
• profundidades maiores que 2-3 Km:
o quanto mais os sedimentos sobrepressurizados forem profundos, mais compactos e
menos compressíveis tendem a ser e portanto, mais capazes de suportar fluidos a altas
pressões; e também maiores serão as chances de estarem submetidos a gradientes de
temperatura promotores de expansão de fluidos.

74
4. METODOLOGIA

A metodologia usada na geração de curvas de geopressões, nesta dissertação, está apoiada


no fluxograma de trabalho exposto a seguir.
De forma mais ampla, ela também se baseia nas metodologias de FEL (Front End Loading)
e do Ciclo PDCA (Plan, Do, Check and Act). De forma resumida, a primeira significa subdividir
o projeto em fases sequenciais, avaliadas por portões de decisão antes do início da fase seguinte.
A segunda é baseada em resolver problemas (identificar causas e encontrar soluções), dividindo o
processo em quatro etapas encadeadas. No Apêndice VII estão as definições desses
procedimentos aplicados ao contexto de geopressões.
No contexto do PDCA, o Capítulo 1 de Introdução e 2 de Revisão Bibliográfica necessária
ao embasamento teórico, compreensão e discussão dos métodos são equivalentes à etapa de
Planejamento (Plan). Essa etapa também pode englobar a parte do Capítulo 4 de Metodologia
que diz respeito à proposta de aplicação do Método de Bowers dentro de um contexto não
previsto pelo autor e ao Índice de Sobrepressão (que permitiu utilização desse método no
contexto de poços com reservatórios caracterizados por distintos comportamentos de pressão).
O Capítulo 3 de Análise Teórica dos Métodos corresponde à Execução (Do). Também se
pode considerar que essa etapa agrega o Capítulo 4.
O Capítulo 5 de Aplicação dos Métodos, Resultados, Comparações e Discussões e o
Capítulo 6 de Conclusões são equivalentes à etapa de Verificação (Check).
Por fim, o Capítulo 7 de Recomendações seria o equivalente à etapa de Implementação
(Act) das ações corretivas e/ou as lições aprendidas em um próximo poço e/ou projeto de poço.
A metodologia foi aplicada aos campos de águas profundas de Piranema (PRM) e Piranema
Sul (PRMS) na Bacia de Sergipe-Alagoas.

75
4.1. Dados e Ferramentas Utilizadas

Os dados de poços dos campos de PRM e PRMS utilizados nesta dissertação estão
relacionados às disciplinas de Geologia, Geofísica, Perfuração e/ou Reservatórios:
a. Geologia e Geofísica:
• dados de sísmica: velocidade intervalar por profundidade nas locações, extraída da VRMS;
• unidades estratigráficas: cronologia (profundidades de topos e tipos de períodos, épocas,
idades e formações), litologias e zonas geológicas;
b. Perfuração e/ou Reservatórios:
• perfis elétricos a cabo (WRL): raios gama, sônico, resistividade, densidade, caliper;
• planilhas com dados de avaliação de formações e outra informações: pressão real medida
obtida a partir de testes de formação a cabo (TFC) e com coluna (DST e RFT);
permeabilidade medida; tipo de fluido presente no reservatório;
• massa específica de fluido usado na perfuração das fases dos poços;
• pressão equivalente de circulação (ECD);
• relatórios finais de perfuração;
c. Dados da locação:
• LDA, TVD/MD e MWD (trajetória, direção e azimute, no caso de poços direcionais).

O material físico necessário à execução da proposta se constitui de dois computadores (um


com o sistema operacional Windows e o outro, com Unix) para uso das seguintes ferramentas
virtuais (descritas no Apêndice VIII):
• SIGEO (programa computacional da Petrobras), em seus Módulos “Multipoços” e “Vigeo”:
utilizado para aplicação do Método de Bowers, por permitir o acoplamento entre o banco
de dados dos poços e a possibilidade de realizar as atividades necessárias ao emprego do
método (comparação simultânea de perfis de múltiplos poços, construção de equações e
visualização gráfico-numérica de resultados);
• PREDICT (programa computacional da Halliburton): utilizado para o traçado da linha de
tendência de compactação normal em folhelhos de todos os poços e aplicação do Método
de Eaton;

76
• VGE (banco de dados da Petrobras): utilizado para coleta de dados de perfuração e
avaliação de poços (relatórios, boletins etc.).

Observe-se que o uso do programa SIGEO, embora não disponível ao mercado por
pertencer à Petrobras, não impede a aplicação da metodologia mencionada e a utilização do
fluxograma de trabalho proposto usando programa comercial similar e em presença de banco de
dados dos poços nas citadas disciplinas.

4.2. Fluxograma de Trabalho

O fluxograma da Figura 4.1 fornece um panorama das principais atividades executadas. O


lado direito do fluxograma corresponde ao passo a passo para aplicação do Método de Eaton (em
verde) e o esquerdo, do Método de Bowers (em vermelho). Observe-se que os passos de 1 a 5
correspondem à geração de dados de entrada. O Passo 6 dá continuidade à segunda etapa do
trabalho e corresponde à aplicação dos métodos, discussão de resultados e comparação dos
mesmos considerando os resultados.
As setas indicadas por linhas cheias apontam, em cada lado, para as etapas fundamentais à
aplicação de cada método; as setas tracejadas indicam um caminho alternativo, opcional à sua
aplicação. Assim, os Passos 1, 3, 4 e 5 são obrigatórios à aplicação de ambos e fazem parte da
sistemática de trabalho de geopressões da Petrobras Internacional.
O Passo 2 (cálculo do Índice de Sobrepressão, definido a seguir) é importante para o
Método de Bowers quando reservatórios com diferentes comportamentos de pressão (ISs
diferentes) são estudados, caso desta dissertação. Esse passo é opcional para o Método de Eaton,
mas foi contemplado em sua aplicação.
O Passo 3 apoia-se na sistemática de investigação de poços de correlação sugerida por
Pereira (2007).
No Passo 6, o traçado de linha de tendência de compactação normal é obrigatória ao
Método de Eaton, mas opcional ao Método de Bowers, tendo sido dispensado devido à estratégia
de construir o gráfico de velocidade versus tensão efetiva usando apenas dados de pressão
medida nos reservatórios.
Dentro da proposta desta dissertação, detalha-se, a seguir, o passo a passo do fluxograma
mencionado utilizado para os poços:

77
1. Triagem de poços com os dados mínimos necessários ao estudo e
coleta de dados de poço nas disciplinas de Geologia, Geofísica, Perfuração, Reservatórios

2. Cálculo do Índice de
Sobrepressão dos poços

3. Retroanálise de geopressões

4. Cálculo da sobrecarga

5. Suavização do perfil sônico: filtro de folhelhos

6. Aplicação dos métodos para cálculo da PP:


comparação e análise crítica considerando os resultados

Aplicação do Mét. de Bowers Aplicação do Mét. de Eaton


(1995): construção do Gráfico (1975):
velocidade x tensão efetiva
v
Calibração das linhas de
tendência de
compactação normal

σ'
Curvas de PP Avaliação Avaliação Curvas de PP
de Bowers de de de Eaton
PP medida
qualidade qualidade

Figura 4.1: Fluxograma geral deste trabalho

(1) Triagem de Poços e Coleta de Dados de Geologia, Geofísica, Engenharia de Perfuração


e de Reservatórios
a. Triagem dos poços a serem estudados através da combinação mínima de dados disponíveis
segundo uma ordem de prioridade: pressões normal e anormal medidas; perfis a cabo (no mínimo
sônico, raios gama, caliper do poço e densidade); dados de estratigrafia (coluna litológica,
formação, período, época, idade geológicos); relatórios finais de perfuração; pressão exercida
pelo fluido de perfuração; sísmica;

78
• correção dos dados de pressão medida, considerando as diferenças entre tipos diferentes de
métodos de aquisição (vide Apêndice VI);
b. Recebimento, no SIGEO, da sísmica 3D reprocessada dos campos e extração da velocidade
intervalar por profundidade, nas locações, a partir da VRMS.

(2) Cálculo do Índice de Sobrepressão (IS) para os Poços


O Índice de Sobrepressão é definido pela equação 4.1 como a razão entre a pressão de
poros medida do fluido contido na rocha e a pressão de poros da água doce de referência, no
valor de 8,345 lb/gal (1,422 psi/m = 0,433 psi/ft = 0,1 kgf/cm2/m) medida em condições ambiente
de temperatura e pressão:

PQ = ;

RS 4.1

onde:
IS = índice de sobrepressão adimensional expresso em casas decimais ou seu equivalente em porcentagem
ρP medida = massa específica equivalente de fluido usada para expressar a pressão de poros medida, lb/gal
ρP H2O doce ref = massa específica equivalente de fluido usada para expressar a pressão normal da água doce
usada como referência = 8,345 lb/gal

Foram três os objetivos da utilização do IS neste trabalho, além do estabelecimento em si


dos limites de classificação da pressão de poros dos poços estudados, conferindo a essa
abordagem outros significados além daquele denotado por uma abstração matemática para
facilitar o uso de dados de pressão medida:
• o primeiro, foi permitir a utilização do Método de Bowers (1995) na análise de
reservatórios com distintos comportamentos de pressão, sobretudo num mesmo poço;
• o segundo, contribuir para testar a sensibilidade do método frente a fatores não ligados à
sobrepressão, ao permitir a identificação e separação de regiões com distintos valores de
sobrepressão;
• e o terceiro, permitir variar a salinidade da água de referência, alterando o valor da pressão
de poros considerada normal, uma vez que o IS varia entre 8,345 lb/gal até 9,180 lb/gal

79
para esses casos. Conforme já comentado no Capítulo 2, isso é necessário porque a
salinidade das águas das formações varia com as características das bacias.

O IS transforma o valor bruto da pressão em uma relação de porcentagem. Assim por


exemplo, o valor 5.200 psi pode representar uma região sobrepressurizada ou uma região com
pressão normal a depender da pressão hidrostática normal de referência. Entretanto, 120% de IS
indica pressão necessariamente maior do que a hidrostática normal.
Conforme comentado no Capítulo 1, assim como é usual na indústria, o presente estudo
adotou como premissa, limites de referência para a pressão de poros normal (Tabela 4.1).
Enquanto a pressão for maior que 8,345 lb/gal e menor ou igual a 9,180 lb/gal (ou seja, 1,0 < IS ≤
1,1) será considerada normal. Apenas valores superiores a 9,180 lb/gal serão considerados
anormais.
Na prática, isso equivale a admitir certa salinidade na água de referência e não adotar
pressão hidrostática constante para todas as profundidades do poço.

Tabela 4.1: Classificação das PP usada nesta dissertação


Pressão de Poros em termos de
Índice de
Classificação Massa Específica Equivalente de Fluido (ρ ρP)
Sobrepressão
ou Gradiente de Pressão de Poros do Fluido (GPP)
Referência: água doce no valor de 8,345 lb/gal(1)
8,345 lb/gal ≤ ≤ 9,180 lb/gal
1,0 < IS ≤ 1,1
RS ≤ ≤ 9,795 kPa/m ≤ GPP ≤ 10,775 kPa/m
Ou
0,100 kgf/cm2/m ≤ GPP ≤ 0,110 kgf/cm2/m
1,1 RS
Normal
1,422 psi/m ≤ GPP ≤ 1,564 psi/m
100 % < IS ≤
0,433 psi/ft ≤ GPP ≤ 0,476 psi/ft 110%
> 9,180 lb/gal
Anormalmente GPP > 10,775 kPa/m IS > 1,1
Alta ou > 1,1 RS GPP > 0,11 kgf/cm2/m ou
Sobrepressão GPP > 1,564 psi/m IS > 110%
GPP > 0,476 psi/ft
(1) Usando como referência galão americano, conforme Apêndice XI.

Os seguintes passos foram seguidos:


a. Aplicação da equação 4.1 para cálculo do IS;
b. Cálculo do IS para separação dos poços em dois grupos: com pressão normal (100 % < IS ≤
110 %) e anormal (IS > 110%);
c. Separação dos dados de pressão anormal medida de acordo com diferentes zonas dentro da
formação analisada: nessa etapa foi observado que, para um mesmo poço, diferentes zonas

80
possuíam diferentes IS e que a não separação dos dados de pressão de cada zona dificultava ou
inviabilizava a pesquisa do comportamento da pressão anormal em termos de subcompactação
e/ou descarregamento através do Método de Bowers (vide discussão de resultados no Capítulo 5).
Esse passo deve ser usado no Método de Bowers quando o poço atravessar zonas
reservatório com distintos comportamentos de pressão. No Método de Eaton, ele pode ser usado
para facilitar a separação dos poços usados na definição da tendência de compactação normal e
de subcompactação.

(3) Retroanálise de Geopressões dos Poços


A retroanálise de geopressões é uma etapa demorada e demandante quando comparada à
geração de resultados pela aplicação dos métodos. Construiu o embasamento teórico necessário
ao desenvolvimento das etapas seguintes de calibração de tendências de compactação normal (no
Método de Eaton) e de estudo do comportamento da pressão através do gráfico de velocidade
versus tensões efetivas (no Método de Bowers). Essa etapa foi desenvolvida com auxílio do
PREDICT e do SIGEO.
A lógica de inserção dos dados coletados para cada poço foi a seguinte:
a. Carregamento da estratigrafia e dos perfis elétricos, observando semelhanças e discrepâncias
entre os poços;
b. Traçado da linha base de folhelhos e/ou argilas nos perfis de raios gama considerando
valores de corte (cut off) variáveis;
c. Complementação dos trechos sem perfil sônico com a velocidade intervalar da sísmica
(transformada em tempo de trânsito) para viabilização do cálculo da pressão de sobrecarga;
d. Sobreposição dos pontos de folhelho no perfil sônico.

Foi realizado o estudo dos problemas descritos e dos parâmetros medidos durante a operação
de perfuração dos poços, sobretudo daqueles com possibilidade de estarem relacionados ao
aumento de pressão de poros (kicks, prisões de coluna, desmoronamentos, torque elevado,
aumento inesperado da taxa de penetração, gases no fluido de perfuração etc.). Fazem parte desta
etapa:
• o estudo dos relatórios finais da perfuração de cada um dos poços juntamente com as
curvas de pressão dos fluidos usados para perfurar as fases;

81
• o uso das planilhas da UO-SEAL com os dados de pressão medida dos poços, e outras
informações, quando disponíveis, como tipo de HC e permeabilidade medida (periférica ao
estudo);
• a análise dos perfis, para definição do enfoque dado à modelagem de pressões de poros.

Foi pesquisa a ocorrência de possíveis mecanismos geradores de pressões anormais além da


subcompactação:
• revisão de seções sísmicas junto aos geocientistas para pesquisar a ocorrência de falhas,
perigos rasos e/ou estruturas inclinadas atravessando os poços com pressões anormais ou de
eventos geológicas próximos aos poços.

(4) Cálculo da Pressão de Sobrecarga


Seguir as indicações da Tabela 2.4 para o cálculo da sobrecarga usando o PREDICT:
• geração das densidades sintéticas através das equações de Gardner (2.11 e 2.12);
• calibração das densidades sintéticas com o perfil de densidade real medida: ajuste do
coeficiente “a” e do expoente “b” das equações 2.11 e 2.12 de modo que as curvas
sintéticas forneçam bons ajustes com os trechos de densidade medida. Em outras palavras,
definição dos valores “a” e “b” representativos do comportamento dos poços estudados;
• montagem do perfil de densidade final do poço, etapa coloquialmente conhecida por seu
nome em inglês density composite, devido à emenda do(s) trecho(s) sintético(s) com o
trecho do perfil real medido;
• geração da pressão de sobrecarga através das equações 2.8 e 2.10.

(5) Suavização do Perfil de Sônico


O filtro mediana usado para suavizar o tempo de trânsito constitui uma tentativa de
amenizar falsas anomalias de pressão, pelo menos aquelas de pequena escala. Entretanto, o filtro
traçado não é capaz de isolar todos esses efeitos, podendo ocorrer erros na modelagem da pressão
de poros.
Utilizou-se, aqui, a opção Shrink Boxcar do programa PREDICT com 51 pontos, que
pareceu servir bem a todos os poços.

82
(6) Aplicação dos Métodos para Cálculo da Pressão de Poros, Comparação e Análise
Crítica Considerando os Resultados
Aplicação do Método de Eaton (1975) aos poços
a. Traçado da linha de tendência de compactação normal;
b. Cálculo da estimativa de pressão de poros para todos os poços usando a equação 3.1 de
Eaton;
c. Calibração da tendência de compactação normal para ajuste da pressão de poros estimada:
• para os poços com pressão normal, realizar calibração de forma que a resposta da pressão
de poros estimada forneça valor o mais próximo possível da pressão de poros normal
medida; fazer isso observando conjuntamente a necessidade de alterar o expoente “n” da
equação 3.1 (inicialmente testar com o valor “3”);
• para os poços com sobrepressão, usar aas tendências calibradas para estimar “n” que
melhor represente a condição de subcompactação;
d. Análise qualitativa dos resultados.

Ao final, realizar a análise das limitações e fraquezas do método frente aos resultados.

Aplicação do Método de Bowers (1995): definição da Curva Virgem para o período


geológico ou idade geológica e pesquisa de ocorrência de mecanismos geradores de
sobrepressão
Após realizar o cálculo da tensão efetiva “medida” de todos os poços no período, época ou
idade geológica(o) que está sendo avaliado(a) usando a equação 2.2 de Terzaghi, diferença entre
a sobrecarga calculada e a PP medida, seguir os cinco passos abaixo usando o Módulo
Multipoços do SIGEO:
a. Construção da CV (gráfico velocidade acústica filtrada em folhelhos vs tensão efetiva): com
a velocidade sônica filtrada dos poços com PPN e a tensão efetiva “medida”, definição dos
parâmetros “A” e “B” da equação 3.5 como mostra a Tabela 4.2. Sugerem-se as seguintes
estratégias para realizar a análise:
• estabelecer curvas de limite superior e inferior para a CV, de modo a abranger os pontos de
pressão normal medida;

83
• criar filtros “Poço”, “Litologia” e “Zona” que permitam, respectivamente, a análise
individual de poços, litologias e zonas reservatórios com comportamentos diferentes de
pressão;
• traçar polígonos em torno do(s) pontos) de pressão medida para analisá-lo(s)
individualmente: os polígonos permitirão a localização do(s) ponto(s) na(s) coluna(s)
litológica(s) e perfis do(s) poço(s) correspondentes(s).

As estratégias sugeridas no item anterior não estão previstas no Método de Bowers.

Tabela 4.2: Equação da CV para o período, época ou idade geológica(o) em questão


Equação da velocidade sônica Parâmetros
Tensão Efetiva “medida”
filtrada em folhelhos da
(psi) A B
2 = 5.000 + 567 W9
8
Curva Virgem (ft/s)
7 8; = X2Y Z Z − ; estimar estimar
(equação 3.5)

b. Inserção, no gráfico, dos dados dos poços com PPA: análise do comportamento da pressão
anormal em relação à CV para pesquisa da ocorrência de mecanismos geradores de pressão
anormal além da subcompactação;
• sugere-se seguir a mesma estratégia de análise dos poços com PPN;
c. Cálculo da tensão efetiva explicitando essa variável na equação 3.5 da CV, e em seguida
cálculo da pressão de poros através da equação 2.2 como mostra a Tabela 4.3:

Tabela 4.3: Cálculo da PP através da CV


Ocorrência de Subcompactação
Equação da Tensão Efetiva da Cálculo da Pressão de Poros Parâmetros
Curva Virgem (ft/s) (psi) A 1/B
^`a.bbb e/g
[′]^ = _ d = X2Y − 7′K
da da
; Z Z
c Tabela 4.2 Tabela 4.2

d. Construção da Curva de Descarga se for o caso: com a velocidade sônica filtrada dos poços
com PPA e a tensão efetiva “medida”, definição do parâmetro “U” da equação 3.6, como mostra
a Tabela 4.4:

84
Tabela 4.4: Equação da Curva de Descarregamento do poço
Equação da velocidade sônica Parâmetros
Tensão Efetiva “medida”
filtrada em folhelhos da
(psi) A B U
Curva de Descarga (ft/s)
B
 1

Estimar usando
 σ '

V = 5.000 + A σ ´máx  '  

U

7 8; = X2Y −
da da

SIGEO
'
 Z Z ;
 σ máx  
Tabela Tabela
  4.2 4.2
(equação 3.6)

e. Cálculo da tensão efetiva através da Curva de Descarga (explicitar σ' na equação 3.6) e
cálculo da pressão de poros estimada pelo método através da equação 2.2, como mostra a Tabela
4.5:

Tabela 4.5: Cálculo da PP através da Curva de Descarga


Ocorrência de Descarregamento
Equação da Tensão Efetiva da Cálculo da Pressão de Poros Parâmetros
Curva de Descarregamento (ft/s) (psi) A B U
h
^ − a. bbb
[′h = : iE = X2Y − 7′@
g
HA . 6[′ják 9e`h
da da da
c
; Z Z Tabela Tabela Tabela
4.2 4.2 4.4

Usar como referência a Tabela X.1 apresentada no Apêndice X.

Ao final, realizar a análise das limitações e fraquezas do método frente aos resultados.

Conforme mencionado na Tabela 3.1, foram estabelecidos limites para avaliar a qualidade
da pressão estimada pelos dois métodos. Assim, se a pressão estimada for diferente da pressão
medida em valores iguais ou inferiores a 0,7 lb/gal, a estimativa será considerada muito boa e a
diferença entre elas, pequena e aceitável. Caso a diferença seja maior que 0,7 lb/gal e menor ou
igual a 1 lb/gal será considerada mediana mas ainda aceitável, e a pressão estimada será
considerada boa ou razoável. Valores maiores que 1 lb/gal e menores ou iguais a 1,3 lb/gal serão
considerados medianos (erro pouco aceitável) com pressões estimadas de qualidade mediana. E
diferenças superiores a 1,3 serão consideradas ruins (erro não aceitável), resultando em
estimativas consideradas também ruins.

85
86
5. APLICAÇÃO DOS MÉTODOS, RESULTADOS,
COMPARAÇÕES E DISCUSSÕES

Esse capítulo apresenta a aplicação dos métodos apoiando-se na análise teórica dos mesmos
e na metodologia de trabalho, ambas apresentadas, respectivamente, nos Capítulos 3 e 4.

5.1. Base para Construção dos Modelos de Pressão de Poros

Esse item trata da geração de dados de entrada necessários à aplicação dos métodos.

5.1.1. Triagem de Poços, Coleta de Dados e Adequação de Dados de Pressão

Os primeiros critérios usados para a escolha dos poços que seriam estudados partiram da
própria escolha dos campos da concessão de Piranema (PRM e PRMS) como alvo da análise: (a)
ausência de influência de injeção e/ou de influência da produção nos dados de pressão medida;
(b) presença de estratigrafia mais simples da Formação Calumbi, se comparada com a das outras
concessões; (c) presença de 13 poços com medidas de pressão; (d) maior quantidade de poços
com uma combinação mais completa de perfis de interesse (raios gama, sônico, caliper e
densidade).
Assim, os campos marítimos de PRM e PRMS foram escolhidos em detrimento dos
campos marítimos de Dourado e Guaricema, apesar dos IS aí serem mais elevados. Nesses, além
da influência da injeção e/ou da produção, existe maior complexidade em termos de quantidade
de zonas reservatório a considerar e menor quantidade de poços com a combinação de perfis de
interesse.
Nos campos de PRM e PRMS, a Formação Calumbi está dividida em zonas reservatórios,
contidas em calhas de pequena extensão lateral. Por esse motivo, é comum ser perfurado apenas
um par produtor e injetor dentro de uma mesma estrutura de calha. Para um mesmo par de poços
também existe isolamento hidráulico entre diferentes zonas, embora ocorra efetivação da injeção
numa mesma zona (Lira, 2005), conforme ilustra esquematicamente a Figura 5.1.

87
Como numa mesma zona, lateralmente entre pares diferentes de poços, não há comunicação
hidráulica, os dados de pressão, quando foram adquiridos, não haviam sofrido influência da
injeção nem da produção acumulada de outros pares de poços.
Essas zonas são as areias das chamadas Cal 920, Cal 930, Cal 940 e Cal 950. Elas não
necessariamente se apresentam em todos os poços. Os pontos de pressão que não foram
mapeados em nenhuma dessas zonas foram agrupados numa zona chamada X, podendo ser mais
rasa ou mais profunda que as demais. Para os poços em que essas zonas não foram mapeadas, o
comportamento da pressão das areias da Formação Calumbi no Maastrichtiano / Campaniano foi
avaliado de forma geral.

Campos de Descontinuidade e isolamento hidráulico lateral entre


PRM e PRMS pares de poços dentro de uma mesma zona

Par 1

Par 2

Zonas diferentes,
isoladas injeção
hidraulicamente
num mesmo poço e
entre poços num
mesmo par.

Produtor

Injetor
Produtor

Injetor

Figura 5.1: Esquema qualitativo mostrando pares de poços e zonas da Formação Calumbi: aquisição de
dados de pressão livres da influência da injeção e da produção dos campos

É importante ressaltar que a necessidade da separação dos dados de pressão medida em


zonas distintas e a necessidade de calcular os diferentes IS de cada zona foi percebida somente
durante a aplicação do Método de Bowers.
Foi uma estratégia usada para contornar as dificuldades enfrentadas para sua aplicação e
que levou à melhor compreensão do método e suas limitações.

88
Também vale mencionar que foi necessário considerar a correção dos valores das pressões
medidas devido à sua aquisição através de fontes variadas (testes de formação com coluna e
aquisições a cabo). Por exemplo, nos testes com coluna a poço revestido, a profundidade de
posicionamento do registrador de pressão no momento do registro em geral não é a mesma
profundidade do topo do reservatório. Caso o registrador (na hora a operação) tivesse sido
posicionado acima do reservatório, a correção deveria ser feita somando a hidrostática do fluido
presente no poço durante a perfuração até a cota do topo do reservatório; caso estivesse
posicionado abaixo, a hidrostática seria diminuída. O Apêndice VI fala brevemente sobre as
diferenças desses tipos de aquisições de pressão.
As modelagens de pressões de poros por Eaton e Bowers foram unidimensionais. Para
confecção dos modelos de pressão utilizaram-se apenas poços com lâmina d’água profunda (>
300 m). A Figura 5.2 apresenta uma visão geral dos 13 poços selecionados em relação ao
soterramento e lâmina d’água.

Poços por lâmina d’água e soterramento

soterramento (m) lâmina d’água (m)

Figura 5.2: Soterramento e lâmina de água dos poços estudados

A maior parte dos pontos de pressão medida em PRM e PRMS foi obtida no Cretáceo
Superior, nas idades do Maastrichtiano / Campaniano, que é onde estão localizados os principais
reservatórios da Formação Calumbi nesses campos. Por isso tais idades foram o foco da análise,
89
sendo alvo da calibração da tendência de compactação normal em Eaton (1975) e da construção
da Curva Virgem em Bowers (1995).
Alguns pontos de pressão medida no Paleoceno, no Albiano (Fm. Riachuelo Mb. Taquari,
carbonático, e Mb. Angico, quartzozo) e no Aptiano (Fm. Maceió) estavam disponíveis para
esses campos e foram coletados. Apesar de não serem o foco da análise foram usados
indiretamente na aplicação dos métodos e nas discussões de resultados para análise das
estimativas de pressão ao longo de todo o poço.
Em relação à coleta de dados das disciplinas técnicas, conforme discutido, a pedra
fundamental estabelecida para selecionar os poços foi a existência de dados de pressão medida. O
segundo critério usado foi a presença obrigatória dos perfis raios gama, sônico, caliper,
densidade, e de estratigrafia.

5.1.2. Cálculo do Índice de Sobrepressão

Embora de maneira geral as areias de Calumbi constituam reservatórios similares (de


característica quatzoza com alguma cimentação calcítica localizada), individualmente as zonas
foram formadas por eventos deposicionais distintos em regime de canais. Apesar do isolamento
hidráulico, o patamar de pressão de cada zona mantém um padrão aproximadamente constante
em todos os poços.
Avalia-se nesta dissertação que essa informação foi importante quando os primeiros
resultados da aplicação do Método de Bowers começaram a ser gerados. Isso porque os poços
sobrepressurizados (à exceção do poço 4) atravessam duas zonas diferentes, com separação entre
elas de cerca de 50 m em alguns deles.
Então, uma das primeiras possibilidades assumidas foi que, caso duas zonas com patamares
de pressão discrepantes apresentassem comportamentos distintos em relação à Curva Virgem
(com uma delas mostrando-se no quadrante de baixas velocidades e baixas tensões), deveria ser
avaliada a possibilidade de ocorrência de diferentes mecanismos geradores de pressão capazes de
promover redução da tensão efetiva naquela com maior pressão.
Foi nessa etapa da geração de resultados que se começou a perceber a grande influência de
diversos fatores que tornam o Método de Bowers sensível, como será discutido durante o Item
5.3. Nesse sentido, a utilização do IS foi uma das soluções encontradas para viabilizar o uso do
método na avaliação de reservatórios distintos e com comportamentos de pressão também

90
distintos. Trata-se de uma adaptação ao método, que não previu seu próprio uso nesse tipo de
situação.
Em estudo recente da UO-SEAL da Petrobras (Marques, 2013, não publicado), que
começou a ser desenvolvido para avaliar o comportamento das pressões da Bacia de Sergipe-
Alagoas no Eoceno, Paleoceno e Cretáceo, levantou-se a hipótese de existência de um
determinado padrão para o comportamento das pressões de poros nessas idades. Pelo menos nas
concessões da Petrobras avaliadas pelo citado estudo até o momento: Salgo, Brejo Grande, Ilha
Pequena, Dourado e Guaricema. A presente dissertação contribui para a avaliação das pressões de
PRM e PRMS.
A Figura 5.3 ilustra um esquema qualitativo do comportamento típico na Formação
Calumbi (curva vermelha tracejada) nas concessões Piranema, Guaricema e Dourado, com IS
médios, respectivamente iguais a 1,1 (IS = 110%, com máximo de 132%), 1,23 (IS = 123%, com
máximo de 130%) e 1,38 (IS = 138%, com máximo de 150%).

Figura 5.3: Esquema qualitativo do comportamento típico das pressões na Calumbi em Piranema, Dourado
e Guaricema. Pontos vermelhos mostram o comportamento atípico dos poços sobrepressurizados
estudados nesta dissertação (Marques, 2013, modificada)

91
Os pontos vermelhos na Figura 5.3 esboçam o comportamento atípico dos poços com
pressão anormal medida no Cretáceo Superior estudados neste trabalho, com IS entre 1,11 e 1,32
(respectivamente 110 e 132%), cujos valores chamam a atenção porque fogem do padrão
esperado para esse período geológico.
Esses poços estão localizados, no bloco baixo da falha que divide os campos conforme
mostra a Figura 5.4: PRM localiza-se no bloco baixo, a leste da falha e PRMS, no bloco alto, a
oeste da falha. A observação, em planta, das feições tectônicas nessa figura, sugere que a falha
pode ter influenciado o comportamento das pressões no bloco baixo, entretanto, não é suficiente
para estabelecer a hipótese de atuação do mecanismo de tectonismo. Por outro lado, a existência
dessa hipótese também não descarta outras explicações para a ocorrência de tais anomalias de
pressões. O que se pode inferir é que num ambiente geologicamente complexo, a previsão da
pressão torna-se mais difícil.

Falha

Bloco Baixo
Bloco Alto

Figura 5.4: Vista em planta dos blocos baixo (PRM) e alto (PRMS), divididos por uma falha:
comportamentos diferenciados da pressão no Cretáceo Superior:
pontos vermelhos, poços com IS > 1,1; pontos amarelos, poços com IS ≤ 1,1

92
A Tabela 5.1 resume a quantidade de poços usados nesta dissertação, a quantidade de
pontos de pressão medida no Cretáceo Superior e o valor médio do IS em cada poço e de cada
zona dentro da Formação Calumbi. Esses pontos de pressão foram diretamente usados no cálculo
do IS para aplicação do Método de Bowers e para separar os poços em sobrepressurizados ou não
a fim de calibrar o tendência de compactação normal durante a aplicação do Método de Eaton.

Tabela 5.1: Tabela resumo dos poços estudados


Poços com Medidas de Pressão de Poros Normal (IS ≤ 1,1 ou IS ≤ 110 %)
PERÍODO Cretáceo Quantidade de
ÉPOCA Superior pontos de PP
IDADE Maastrichtiano / Campaniano medida usados nos
FORMAÇÃO Calumbi Métodos de
ZONA X Cal 920 Cal 930 Cal 940 Cal 950 Bowers e de Eaton
Poço Quantidade de pontos de PP medida / IS médio
142 1 / 1,06 - - - - 1
164 16 / 1,05 - - - - 16
157 32 / 1,05 - - - - 32
129 2 / 1,04 - - - - 2
147 - 6 / 1,09 4 / 1,08 - - 10
Total de pontos medidos com PPN
- 51 6 4 0 0 61

Poços com Medidas de Pressão de Poros Anormalmente Alta (IS > 1,1 ou IS > 110 %)
PERÍODO Cretáceo Quantidade de
ÉPOCA Superior pontos de PP
IDADE Maastrichtiano / Campaniano medida usados nos
FORMAÇÃO Calumbi Métodos de
ZONA X Cal 920 Cal 930 Cal 940 Cal 950 Bowers e de Eaton
Poço Quantidade de pontos de PP medida / IS médio
106 - - 1 / 1,34 4 / 1,32 - 5
3 - - 15 / 1,22 - 5 / 1,16 20
149 - - 9 / 1,22 - 1 / 1,20 10
1 1 / 1,21 - - - 11 / 1,16 12
154 3 / 1,14 - - 11 / 1,14 8 / 1,15 22
2 - - 12 / 1,23 - 7 / 1,16 19
4 - - 22 / 1,22 - - 22
155 8 / 1,12 - - - - 8
Total de pontos medidos com PPA
- 12 - 59 15 32 118

TOTAL GERAL
- 63 6 63 15 32 179

93
Por questões de organização do trabalho, optou-se por apresentar separadamente uma tabela
com a totalidade de dados de pressão coletados (Tabela IV.1) no Apêndice IV, onde também se
encontra a carta estratigráfica dos campos estudados.
Cinco poços apresentam valores de pressão de poros medida considerados normais (PPN),
ou seja, IS ≤ 1,1 (IS ≤ 110%) e encontram-se na parte superior da tabela. Oito poços apresentam
valores de pressão medida considerados anormais (PPA), ou seja, IS > 1,1 (IS > 111%).
Encontram-se na parte inferior da tabela. Dentre os poços com pressão anormal, o poço 106
apresenta patamar mais elevado que os demais.

5.1.3. Retroanálise de Geopressões

Foram estudados os relatórios finais da perfuração de 13 poços, conforme mencionado,


com impacto na construção do embasamento teórico para entendimento da área dos poços, para a
aplicação dos métodos e calibração final das estimativas geradas.
Na pesquisa do mecanismo de transferência lateral foi usada a Tabela 5.1 e uma sessão
sísmica em profundidade em locações com anomalias de pressões no Cretáceo Superior e com
comprovada conexão lateral (Figura 5.5). Esta última foi usada para investigar a possível
existência de reservatórios inclinados comunicando poços com pressão anormal.
As premissas adotadas, comprovadas através de dados de pressão, por PDG nos poços e
pela sísmica, foram as seguintes:
• foco da análise na Cal 930 porque a Cal 950 não possui referência de densidade de
hidrocarbonetos, visto que não foi considera pela UO-SEAL como zona produtora devido à
grande interlaminação entre folhelhos e areias (reservatórios muito finos);
• uso da equação 2.5 para cálculo da pressão de poros expressa em termos de massa
específica equivalente de fluido a certa profundidade:
PP(psi) = 0,1704. ρP(lb/gal). z(m);
• Caso (a): análise da possibilidade de ocorrência de transferência lateral entre os poços 3 e
149 conectados hidraulicamente na Cal 930 com HC de massa específica 6,8 lb/gal;
• Caso (b): análise da possibilidade de ocorrência de transferência lateral entre os poços 2 e 4
conectados hidraulicamente na Cal 930 com HC de massa específica 6,8 lb/gal;
• ausência de comunicação hidráulica entre a Cal 930 dos poços 3 e 149 e a Cal 930 dos
poços 2 e 4 pela presença de uma falha que interrompe essas estruturas;
94
• para os poços 1, 106, 154 e 155 esse efeito não foi avaliado:
o 1 e 106 não possuem outros poços perfurados na mesma estrutura;
o 154 e 155 não são considerados como conectados na Cal 930 pela própria UO-SEAL,
segundo comprovado pelo retrato do tempo e evolução da produção.
• consideração de que não é incomum que sessões sísmicas apresentem determinado grau de
exagero vertical nas profundidades, devido à conversão do domínio do tempo para o de
profundidades e também devido às possíveis diferenças de velocidades acústicas das
camadas acima do topo do reservatório.

2 4 3 154 155
NW SE
149

TERCIÁRIO

Cal 930
CRETÁCEO Cal 930

Maastrichtiano

Cal 930

Cal 950

Campaniano

Intracampaniano

Figura 5.5: Sessão sísmica em profundidade mostrando a assinatura hidráulica dos reservatórios:
conectividade entre os poços 3 e 149 e entre 2 e 4

Caso (a) Análise dos Poços 3 e 149:


Na avaliação da situação mais crítica possível onde o desnível é de 143 m (entre a base da
Cal 930 no poço 149, com topo mais profundo, e o topo da Cal 930 no poço 3, topo mais raso), o

95
acréscimo de pressão devido à transferência lateral seria de apenas 166 psi (ou 0,19 lb/gal), que
pode ser considerada insignificante no desenvolvimento de pressões anormais20.

Tabela 5.2: Pesquisa de ocorrência de transferência lateral entre os poços 3 e 149


Poço 149 – poço com topo da Cal 930 mais profundo
Cota do topo do arenito 2981 m
Cota da base do arenito 3103 m
ρP medida na base do arenito 10,03 lb/gal / 5306 psi
Pressão exercida pelo HC 6,8 lb/gal (41° API)
Poço 3 – poço com topo da Cal 930 mais raso
Cota do topo do arenito 2960 m
PP medida no topo do arenito 10,26 lb/gal (5176 psi)
Cota da base do arenito 3102 m
ρP medida na base do arenito 10,08 lb/gal (5326 psi)
Cálculo do Efeito da Transferência Lateral
Pressão calculada no topo do arenito PP3-topo (calculada) = PP149-base (medida) – (diferença de pressão entre
do poço 3 considerando possível base do poço 149 e topo do poço 3)
transferência lateral do poço 149 para PP3-topo (calculada) = 5306 - 0,1704 * 6,8 * (3103 – 2960)
o poço 3 PP3-topo (calculada) = 5306 - 166
PP3-topo (calculada) = 5140 psi
Diferença entre a pressão medida e ∆PP3-topo = PP3-topo (medida) – PP3-topo (calculada)
estimada por transferência no poço 3 ∆PP = 5176 – 5140 = 36 psi
(verificação da coerência de cálculo)

Caso (b) Análise dos Poços 2 e 4:


No caso dessa dupla de poços, é interessante notar na Figura 5.5 que devido ao exagero
vertical da sísmica, as cotas dos topos dos reservatórios mostram que, aparentemente, o poço 2
possui topo mais raso e o poço 4, topo mais profundo. Entretanto, a marcação das cotas durante
os pré-testes de pressão mostram um desnível mínimo de 1 m, como indica a Tabela 5.3.
Ou seja, apenas pela observação da ausência de desnível entre as cota dos topos desses
poços e das suas pressões medidas já se conclui pela ausência de influência de transferência
lateral entre eles.

20
Essa conclusão corrobora as conclusões do citado estudo de caso de Yardley e Swarbrick (2000), em que mesmo
num aquífero pré-Cretáceo com 2,5 km de desnível entre a crista e o ponto mais baixo da estrutura inclinada 145 psi
foi um valor considerado mínimo para que este mecanismo comece a ter alguma importância.

96
Tabela 5.3: Conectividade nos poços 2 e 4, mas ausência de transferência lateral
Poço 4
Cota do topo do arenito 2952 m
ρP medida no topo do arenito 10,33 lb/gal (5198 psi)
Cota da base do arenito 2993 m
PP medida na base do arenito 10, 20 lb/gal (5200 psi)
Pressão exercida pelo HC 6,8 lb/gal (41° API)
Poço 2
Cota do topo do arenito 2953 m
ρP medida no topo do arenito 10,27 lb/gal (5170 psi)
Cota da base do arenito 3000 m
PP medida na base do arenito 10,25 lb/gal (5241 psi)

A investigação relativamente simples dos Casos (a) e (b) mostrou apenas que os pares de
poços citados estão conectados, nas estruturas consideradas. No caso dos poços 3 e 149, a
diferença de 21 m de profundidade entre os topos da Cal 930 em cada poço foi considerada
irrisória levando-se a acreditar na pequena, quase insignificante, influência da ocorrência daquele
mecanismo distribuidor de pressões. A análise do caso mais severo (desnível de 143 m) revelou
acréscimo de apenas 166 psi.
No caso dos poços 2 e 4, a estrutura nem parece estar de fato inclinada visto que as cotas de
topo e base e as pressões medidas aí são praticamente as mesmas conforme mostra a Tabela 5.3.
É importante notar que a conversão da sísmica do domínio do tempo para o domínio das
profundidades envolve algoritmos e, portanto, incertezas, e que a demarcação das camadas
reservatórios na Figura 5.5 é apenas qualitativa (em termos de inclinação). Entretanto, as
profundidades de topos e bases das duas tabelas incluídas anteriormente constituem medidas mais
confiáveis obtidas de pré-testes e as pressões medidas constituem dados categóricos.
Na pesquisa do efeito de flutuabilidade (buoyancy), não foram verificadas zonas da
Formação Calumbi com extensões em profundidade e colunas de hidrocarbonetos relevantes para
que o mesmo fosse considerado mais um mecanismo gerador atuante. A diferença, por exemplo,
entre topo e base dos reservatórios no poço 2 (47 m) e no poço 4 (41 m) gerou 54,5 psi e 47,7 psi,
respectivamente, e nos poços 3 (142 m) e 149 (122 m) gerou 164,5 psi e 141,4 psi
respectivamente, valores considerados insignificantes nesse sentido.
Em relação à tarefa de pesquisar uma possível influência da ocorrência de diagênese por
efeito da temperatura na pressão alta dos poços, foram lidos trabalhos técnicos prévios realizados
sobre a Bacia de Sergipe-Alagoas, como Alves et al. (1982), em De Gasperi (1997) e Marques et
al. (2009). Tarefa difícil por se tratar de um mecanismo cuja exata identificação de ocorrência
97
envolve objetivos fora do escopo desta dissertação e conhecimento aprofundado de outras
disciplinas, além de se tratar de um tema ainda em debate dentro da própria Petrobras (vide
último trecho da Introdução no Item 2.3).
O que se pode afirmar é que: (1) na bacia estudada, “as áreas com os maiores gradientes
estão localizadas na plataforma continental sergipana, onde predominam as sequências de
folhelhos da Formação Calumbi (Terciário e Cretáceo Superior) e não coincidem
necessariamente com as porções mais quentes da bacia” (De Gasperi, 1997). Isto é, os limites
usuais de temperaturas em que o descarregamento ocorre estão presentes, embora não nas regiões
estudadas. Além disso, (2) “a bacia estaria sob condições de baixa conversão diagenética” (Alves
et al., 1982).
Observe-se que os métodos propostos não são capazes de definir, dentre todos os
mecanismos com atuação possível em uma região, qual deles está ocorrendo além da
subcompactação. Eles sinalizam apenas, seja durante sua aplicação (no caso do Método de Eaton)
ou através da geração de resultados (em ambos os métodos) para a ocorrência simultânea de
mecanismos. Vale destacar que, a retroanálise de geopressões iniciou a construção da hipótese de
ocorrência de subcompactação para os poços com pressão anormal.

5.1.4. Cálculo da Sobrecarga

Para a estimativa de sobrecarga, inicialmente foi calculado um perfil composto de


densidade de rocha a partir de três tipos de valores de densidade. O primeiro, formado pela
densidade nos trechos em que esse perfil fora adquirido (densidade real medida). O segundo,
formado por uma densidade sintética nos trechos em que esse perfil não fora adquirido, sendo
derivado da aplicação da equação de Gardner ao perfil sônico (equação 2.12). E o terceiro tipo,
também derivado de uma densidade sintética, mas criada para os trechos em que nem o sônico
nem a densidade estavam disponíveis. Esta última parcela, considerada de menor qualidade,
também veio da equação de Gardner (2.11), mas aplicada à velocidade intervalar da sísmica.
A maior dificuldade enfrentada ocorreu no cálculo dessa última parcela de densidade, pois
exigiu obter dados de sísmica 3D reprocessada de PRM e PRMS. Para recebimento da sísmica,
foi usado o SIGEO, sendo necessária a ajuda de geólogos e geofísicos para a extração das curvas
das velocidades intervalares nas locações de interesse.

98
Os parâmetros de “a” e “b” de Gardner usados para cada poço, calibrados segundo indicado
no Passo 4 do Item 4.2, encontram-se na Tabela 5.4.
Ao final, as curvas de pressão de sobrecarga foram calculadas com as equações 2.10 e 2.8.
Por motivos de organização do trabalho, elas serão apresentadas juntamente com as curvas de
pressão de poros estimadas em cada método a partir do Item 5.2.

Tabela 5.4: Parâmetros “a” e “b” da equação de Gardner usada


para cálculo da massa específica equivalente da rocha
Poço a b Poço a b
PRESSÃO NORMAL PRESSÃO ANORMAL
142 0,240 0,253 106 0,237 0,250
164 0,244 0,253 3 0,244 0,253
157 0,244 0,253 149 0,244 0,253
129 0,244 0,250 1 0,244 0,252
147 0,244 0,253 154 0,244 0,253
2 0,244 0,252
4 0,244 0,254
155 0,244 0,253

5.1.5. Suavização do perfil sônico

Para a demarcação das porções argilosas foram usados os perfis de raios gama, com valores
de corte variáveis. Para valores de radioatividade natural superando o valor de corte, a rocha era
considerada argilosa, sendo então efetuada a modelagem da pressão para esses pontos. Porções
não argilosas eram interpoladas pelo PREDICT. Esses pontos de folhelho foram lançados sobre o
perfil de sônico e um filtro mediana Shrink Boxcar do programa foi traçado para todos os poços
com base nesses pontos.
Como a escolha da quantidade de pontos do filtro depende da quantidade de dados
disponíveis (dados muito espaçados, filtro maior) e as amostras estavam disponíveis a cada
0,1524 cm em todos os perfis, foi escolhido um filtro mediana com 51 pontos.

5.2. Aplicação do Método de Eaton (1975)

Conforme mencionado no item Motivação, a aplicação do método de Eaton tem como


objetivo entender o comportamento das pressões nos campos escolhidos, previamente à aplicação
do Método de Bowers.

99
5.2.1. Calibração da Tendência de Compactação Normal, Expoente da Subcompactação e
Análise das Estimativas de Pressão de Poros

De acordo com a discussão teórica do método, para respeitar as premissas de uso, alguns
aspectos deveriam ser estabelecidos de forma coerente para os poços: inclinação da tendência de
compactação normal, número de linhas de tendência, calibração entre poços e valor do expoente
“n” da subcompactação.
Além disso, dentro dos limites estabelecidos para a avaliação da qualidade das pressões
estimadas, a calibração das tendências foi buscada para que as estimativas de pressão de poros
pelo método fornecessem correlação muito boa (diferença ≤ 0,7 lb/gal) ou boa (0,7 < diferença ≤
1,0 lb/gal) em torno dos pontos de pressão medida do Maastrichtiano / Campaniano.
Depois de seguir o passo a passo indicado no Item 4.2, a aplicação do método foi iniciada
traçando linhas de tendência retas sobre o perfil sônico filtrado com 51 pontos, usando como
referência de normalidade volumes de folhelhos superficiais com valores de sônico com menos
oscilações laterais.
A calibração das tendências foi realizada, inicialmente, considerando os cinco poços com
PPN medida respeitando coerência de paralelismo entre poços com valores próximos de lâmina
d’água, de soterramento, com coincidência de cronologia geológica e similaridade de tipo de
litologia presente.
Durante a análise, pelo menos três desses critérios foram atendidos, tendo sido traçadas
tendências praticamente coincidentes para os poços com PPN: 157 (LDA = 1.400 m); 129 (1.574
m); 147 (1.644 m); 164 (1.190 m) e 142 (531 m). Para os outros dois últimos poços, apesar das
lâminas d’água serem diferentes, as linhas ajustadas mantiveram coerência.
Paralelamente a essa avaliação, foi escolhida a estratégia de uso de uma única linha reta
para representar essa tendência porque não foi encontrado argumento geológico (observando
cronologias e colunas litológicas) que justificasse sua quebra em mais de uma linha em todos os
poços avaliados. Essa quebra, caso existisse, deveria servir para representar todos eles, ou seja,
com PPN e PPA.
A análise realizada na Figura 5.6 combina o sônico dos poços com PPN com suas colunas
litológicas e cronologia mostrando os trechos mais superficiais da velocidade intervalar da
sísmica (seta azul tracejada), emendada a esse perfil, usada no cálculo da sobrecarga dos poços.

100
Poço 142 Poço 164 Poço 157 Poço 129 Poço 147

TVD (m) LDA (m) – lâmina d’água


DT (µs/ft) – sônico
SHPDT – pontos de folhelho no sônico
SHPDTf – filtro de folhelhos do sônico
Tendência normal
Topo do Paleoceno

DT (µs/ft)
Figura 5.6: Calibração da tendência de compactação normal do sônico para os poços com PPN
(as linhas pretas tracejadas representam a marcação do topo do Paleoceno Superior)

101
No Capítulo 1 estão os nomes e padrões de cores de idades, épocas e períodos geológicos;
formações e zonas litológicas e de litologia. No Apêndice XII estão os mnemônicos de perfis e
curvas estimadas.
Para o grupo de poços com PPN no Cretáceo Superior, o comportamento esperado para o
sônico nesse período era de normalidade. Observe-se que não se trata de uma relação óbvia, já
que o sônico não necessariamente reflete o comportamento exato da pressão, pelos diversos
motivos comentados anteriormente. Já para o Eoceno e o Paleoceno da Calumbi, observou-se que
o sônico, em geral, sugere fuga de tendência normal, aumentando a partir do topo do Paleoceno
Superior (patamares mais altos de sônico, ou seja, menores velocidades). A Figura 5.6 retrata
esses comportamentos.
Sua observação também mostra que, dentro do grupo de poços com PPN, apenas no poço
147 a informação sobre as profundidades de marcação de topo das zonas da Formação Calumbi
estava disponível, por isso nos outros quatro poços seus topos não estão marcados, embora seus
dados de pressão pertençam a zonas específicas, conforme mostrado na Tabela 5.1.
Naquela mesma figura, algumas anomalias localizadas foram detectadas no sônico de dois
desses poços e estão apontadas com círculos vermelhos tracejados. No poço 147, o trecho do
sônico, desde o Eoceno Médio até o topo do Paleoceno Inferior, foi desconsiderado na estimativa
da pressão de poros. Possivelmente a ferramenta não estava calibrada e/ou os valores não foram
corrigidos, apresentando-se incoerentes em relação à fase seguinte (o real motivo do problema
não foi encontrado no BDP). Já no poço 164, a transição entre o Terciário e o Cretáceo Superior
forneceu comportamento contrário ao esperado, com o sônico apresentando queda no Paleoceno
Inferior e pico no topo do Cretáceo Superior.
Conforme discutido anteriormente, no Método de Eaton, o resultado da pressão estimada
está diretamente ligado à dispersão dos dados do sônico em relação à tendência de compactação
normal em folhelhos e diversos fatores não ligados à pressão (como variações litológicas,
problemas mecânicos na parede do poço, ferramenta descalibrada etc.) podem afetar esse perfil
afastando seu comportamento da tendência de normalidade. Nesses casos, embora o resultado
fornecido pelo método possa indicar sobrepressão em uma região, não necessariamente a
formação está de fato pressurizada.

102
Essa hipótese parece ser verdadeira no poço 164, no topo do Cretáceo, como mostram a
Figura 5.6 e a Figura 5.7 na região indicada com um círculo em vermelho tracejado (esta última
traz as estimativas de PP para os PPN).
No poço 164, na região onde imediatamente acima e abaixo há dois pontos com pressão
medida com valores normais, a estimativa de pressão apresentou um formato de “S”, iniciando na
transição dos períodos. Isso ocorreu apesar da estimativa da pressão pelo método ter apresentado
comportamento de normalidade em praticamente todo o Cretáceo: na profundidade do primeiro
ponto de pressão medida (ainda no Paleoceno) a pressão de poros estimada foi 0,48 lb/gal menor
que a medida (repectivamente 8,41 lb/gal e 8,89 lb/gal) e no topo do Cretáceo o valor estimado
chegou a 11 lb/gal.
Seria razoável assumir, então, a necessidade de correção da curva de pressão de poros
estimada naquele trecho, reduzindo-a para valores normais. Para o poço 164, a massa específica
equivalente do fluido de perfuração não estava disponível.
Outra questão relevante do comportamento da pressão no Paleoceno é que como as
tomadas de pressão nos poços aí não são numerosas e são conflitantes, não se pode afirmar com
certeza se nessa época geológica existe uma anomalia de pressão, já que a fuga de tendência
também pode ser resultante de efeitos não ligados à pressão.
Dos poços com PNN no Cretáceo, apenas o poço 164 apresenta pressão medida no
Paleoceno: 2 pontos, com uma média 8,85 lb/gal e IS = 106,1%. Dos poços com PPA no
Cretáceo, apenas o poço 1 também possui pressão medida no Paleoceno: 3 pontos, com uma
média de 9,53 lb/gal e IS = 114 %.
Raciocínio análogo pode ser estabelecido para o poço 142. Para esse poço, de acordo com a
Figura 5.7, a qualidade da resposta do método no Maastrichtiano e no Campaniano foi
considerada muito boa. Entretanto, a qualidade da estimativa acima dessas idades (entre 1.920 e
2.820 m, no Paleoceno) não é clara já que aí não há dados de pressão medida, apenas a curva de
pressão do fluido de perfuração, abrindo espaço a algumas possíveis interpretações.

103
Poço 142 Poço 164 Poço 157 Poço 129 Poço 147
TVD (m)

LDA (m) – lâmina d’água


PPEA (lb/gal) – pressão de poros por Eaton
OVB (lb/gal) – pressão de sobrecarga
MW (lb/gal) – pressão exercida pelo fluido de perfuração
PPmedida (lb/gal) – pressão de poros medida
Sapata dos revestimentos

8,41 lb/gal

Trecho de PP
não estimado
devido ao
descarte do
perfil

11 lb/gal

PP (lb/gal)
Figura 5.7: Estimativa de pressão de poros pelo Método de Eaton para os poços com PPN.
Círculos vermelhos tracejados representam os trechos em que pode haver a necessidade de realizar a calibração da pressão estimada pelo método

104
De acordo com a Figura 5.7, nesse trecho do Paleoceno, a pressão estimada ultrapassa as
pressões exercidas pelo fluido de perfuração sem que o poço tivesse dado indícios (pelo menos
não reportados) de perfuração nearbalance ou underbalance21 (desmoronamento, presença de gás
no fluido, “quebra” na taxa de penetração (aumento da ROP), torque ou arraste elevados).
Na ausência desses indícios e assumindo boa qualidade do relatório final de perfuração, não
se pode exatamente afirmar que o método tenha fornecido estimativa ruim nesse trecho apenas
considerando analogia de comportamento normal com base nos dois pontos de PPN medida do
poço 164. Também é possível, por exemplo, que o poço 142 tenha atravessado finas areias com
fluidos pressurizados, mas pouco permeáveis de modo a não permitir fluxo para o poço, ou que
as formações fossem rígidas o suficiente para não colapsarem naquela região.
Na ausência de pressão medida para calibrar a estimativa de pressão de poros, o fato de a
pressão exercida pelo fluido ser menor que a pressão estimada, por si só, não seria suficiente para
condenar a qualidade do método, embora na prática essa hipótese seja estabelecida com maior
frequência do que aquela.
A mesma analogia também pode ser estabelecida para o poço 129 no Campaniano:
anomalias não ligadas à pressão podem ter afetado a resposta do método em torno dos pontos de
PPN nessa idade, como se pode observar ainda na Figura 5.7. Entretanto, as diferenças aí
encontradas ainda permitiram classificar a estimativa como muito boa.
Para esse poço, no Paleoceno, novamente as baixas velocidades (elevação do sônico)
aumentaram as estimativas da pressão, mas a ausência de pressão medida não conduz à conclusão
de necessidade de correção da pressão, que ainda se apresenta abaixo da pressão exercida pelo
fluido de perfuração.
No pequeno trecho localizado ao final desse poço (no Albiano), o método também forneceu
elevação da tendência normal da curva de pressão. Nessa região, a pressão estimada ultrapassa
em 0,3 lb/gal a pressão do fluido de perfuração. Entretanto, a presença de três pontos de PPN
medida acima desse pequeno trecho e a repetição desse comportamento no Albiano em outros
poços nessa idade (da Tabela IV.1, poços 149, com IS = 107%; 154, com IS = 108%; e 155, com
IS = 110%) também levam a acreditar que, nesse pequeno trecho, a pressão estimada poderia ser
posteriormente corrigida.

21
Nearbalance: termo em inglês que indica pressão de fluido de perfuração muito próxima da pressão de poros;
underbalance: termo em inglês que indica pressão de fluido de perfuração abaixo da pressão de poros.

105
Assim, para o Albiano e Paleoceno dos poços com PPN, há duas conclusões:
• a tendência de compactação normal, estabelecida para que o Cretáceo fornecesse boa
estimativa de pressão, não forneceu boa estimativa para o Albiano dos poços com PPN. O
sônico desses poços mostra desvio a partir do final do Campaniano, resultando em aumento
de pressão de poros naquela idade, pouco compatível com as pressões aí medidas que não
ultrapassam IS de 110%, contabilizando todos os poços estudados. Dessa forma, acredita-
se que o(s) motivo(s) não esteja(m) ligado(s) a aumento real de pressão de poros e por isso
as estimativas para Albiano foram consideradas ruins, com erros inaceitáveis nos poços
com PPN.
• em relação ao Paleoceno não se pode inferir com certeza se aí existe uma anomalia de
pressão, pelos motivos já apresentados.

Para os poços com PPA, a calibração da tendência também respeitou as coerências já


citadas. A Tabela 5.5 esquematiza, através de grupos, a correspondência entre esses poços e
aqueles com PPN.

Tabela 5.5: Divisão dos poços em grupos: coerência no traçado da tendência de compactação normal nos
poços com PPA para pesquisa do expoente de “n” da subcompactação
Grupo
Poço com PPN
com similaridade de LDA LDA
Poço com PPA usado como
tendência de (m) (m)
referência do Grupo
compactação normal
G1 106 729 142 531
3 1127
G2 149 1164 164 1190
1 1169
154 1341
157 1400
G3 2 1377
4 1493 129 1574
G4 155 1691 147 1644

Assim, por exemplo, o grupo 2 (G2) reúne os poços 3, 149 e 1 com PPA, semelhantes entre
si e coerentes com a tendência de compactação normal do poço 164 com PPN. Esse
procedimento foi realizado com intuito de definir um expoente “n” de Eaton que representasse a
subcompactação para os poços sobrepressurizados.

106
Ao estabelecer essa premissa e usar, para os poços com PPA, uma tendência de
compactação coerente com a tendência usada para os poços com PPN, se a resposta das pressões
estimadas pelo método fornecesse correlação muito boa ou boa com os pontos de pressão medida,
então seria correto estabelecer a hipótese de subcompactação. Consequentemente, teria sido
definido um expoente bem representativo da ocorrência desse mecanismo naqueles poços. Além
disso, a confiança no valor do expoente aumentaria caso fosse possível estabelecer uma mesma
tendência para todos os grupos de poços. Foi o que ocorreu.
Para melhor organização do trabalho, foi criado o Apêndice IX para mostrar visualmente o
esquema de grupos e o atendimento às premissas de uso do método, citadas no início.
O valor de “n”, que melhor se adequou à representação da ocorrência do desequilíbrio da
compactação nos poços com PPA, associado à tendência usada, foi “3”, semelhante àquele
empregado para esse mecanismo em poços do GoM.
Outro ponto a observar é que, de acordo com as conclusões citadas acima, foi possível ter
uma ideia de quais resultados deveriam ser esperados para o comportamento, no Cretáceo
Superior, dos poços sobrepressurizados no gráfico de velocidade filtrada em folhelhos versus
tensão efetiva, base da aplicação do Método de Bowers.
Dessa maneira, não era esperado observar, a princípio, a ocorrência nítida de
descarregamento, embora não se pudesse descartar a continuidade da investigação.
Vale ressaltar que, apesar do foco do estudo ser o Cretáceo Superior, a coerência de
tendências é estabelecida para todo o poço, uma vez que devem ser paralelas.
Analogamente à Figura 5.6, a Figura 5.8 mostra as tendências dos poços com PPA.
Observe-se que, de forma geral, o sônico desses poços na Figura 5.8 também sugere fuga
de tendência normal aumentando a partir do topo do Paleoceno Superior (as linhas pretas
representam a marcação do topo dessa época). Entretanto, considerando todos os poços estudados
e os motivos já citados, não se pode afirmar com certeza que aí existe uma anomalia de pressão.

107
Poço 106 Poço 3 Poço 149 Poço 1 Poço 154 Poço 2 Poço 4 Poço 155
TVD (m)
LDA (m) – lâmina d’água
DT (µs/ft) – sônico
SHPDT – pontos de folhelho no sônico
SHPDTf – filtro de folhelhos do sônico
Tendência normal
Topo do Paleoceno

DT (µs/ft)
Figura 5.8: Sônico filtrado em folhelhos e sua tendência de compactação normal para os poços com PPA
(as linhas pretas tracejadas representam a marcação do topo do Paleoceno Superior)

108
De acordo com a Figura 5.9 de maneira geral, o comportamento das pressões estimadas
para o Cretáceo Superior foi considerado muito bom ou bom, com erros pequenos ou médios,
mas aceitáveis. As diferenças entre as pressões estimadas e medidas foram, em sua maioria,
menores que ou iguais a 1 lb/gal. A seguir são comentados os resultados das estimativas apenas
em determinadas profundidades onde as discrepâncias foram maiores:
• poço 106: 0,55 lb/gal abaixo da pressão medida a 3.026 m na Cal 930 (estimativa
considerada muito boa); é interessante notar que nesse poço os valores da pressão medida
são quase os mesmos do fluido usado durante a perfuração, o que não descarta a hipótese
de ocorrência do chamado efeito de sobrecarga durante a aquisição do dado de pressão
medida;
• poço 1: 1,39 lb/gal abaixo da pressão medida a 3.252 m na Zona X (estimativa ruim com
erro inaceitável), ou seja, apenas nessa profundidade, a pressão estimativa foi de 8,67 lb/gal
contra 10,06 lb/gal (IS ≈ 121%) da pressão medida; nos quatro últimos pontos da Cal 950
com pressão média medida de 9,59 lb/gal (IS ≈ 115%) a diferença foi de 0,63 lb/gal acima
da pressão média medida (estimativa considerada muito boa);
• poço 154: 0,73 lb/gal abaixo da pressão medida em torno de 3.180 m na Zona X e em 2
pontos da Cal 940, com IS = 114% (estimativa considerada boa); para os demais pontos da
Cal 940 e para a Cal 950 a estimativa para o Cretáceo Superior foi considerada muito boa
ou boa;
• poço 4: 0,63 lb/gal abaixo da pressão medida em torno dos primeiros quatro pontos de
pressão medida na Cal 930 (IS = 122%); a estimativa geral para o Cretáceo Superior foi
considerada entre muito boa e boa.

De forma geral, o uso de apenas um expoente de Eaton e uma tendência única para
representar todo o poço, embora tenha resultado em boa calibração das curvas de pressões
estimadas no Cretáceo Superior, não mostrou estimativas tão boas para todos os períodos e idades
geológicos porque os comportamentos do Paleoceno, Eoceno e Albiano diferem do Cretáceo em
termos de velocidade acústica.
Houve a necessidade de avaliar o comportamento da curva de pressão de poros, sobretudo
no Paleoceno dos poços 106, 3 e 149 por terem apresentado longo trecho de pressão de poros
estimada ultrapassando as pressões exercidas pelo fluido usado na perfuração das fases. Também
no Albiano dos poços 106 e 1, parece ser coerente realizar a calibração da pressão.

109
Poço 106 Poço 3 Poço 149 Poço 1 Poço 154 Poço 2 Poço 4 Poço 155
TVD (m)
LDA (m) – lâmina d’água
PPEA (lb/gal) – pressão de poros por Eaton
OVB (lb/gal) – pressão de sobrecarga
MW (lb/gal) – pressão exercida pelo fluido de perfuração
PPmedida (lb/gal) – pressão de poros medida
20” Sapata dos revestimentos

PP (lb/gal)
Figura 5.9: Estimativa de pressão de poros pelo Método de Eaton para os poços com PPA.
Círculos vermelhos tracejados representam os trechos em que pode haver a necessidade de realizar a calibração da pressão estimada pelo método

110
5.3. Aplicação do Método de Bowers (1995)

Neste trabalho, foi adotado o valor 5.000 ft/ s (1.524 m/s ou 200 µs/ft) para a velocidade
acústica na água do mar (V0) na equação 3.5, conforme indicado por Bowers (1995).

5.3.1. Construção da Curva Virgem (CV)

Para a aplicação do Método de Bowers, este trabalho adotou quatro estratégias, além da
utilização do Índice de Sobrepressão.
A primeira estratégia foi usar o programa computacional SIGEO da Petrobras, módulo
“Multipoços”, comumente utilizado apenas por geocientistas da empresa.
Como o nome sugere, esse módulo permite a análise simultânea de uma grande quantidade
de poços. Também permite a construção de gráficos com obtenção de equações para curvas e
visualização de dados específicos em colunas litológicas (vide Apêndice VIII).
Usando esse programa, para os cinco poços com pressão normal no Cretáceo Superior (IS ≤
1,1), 142, 164, 157, 129 e 147, foi gerado o gráfico da Figura 5.10: no eixo y, a velocidade sônica
de folhelhos filtrada nas profundidades verticais em que a pressão foi medida; no eixo x, a tensão
efetiva derivada da diferença entre a sobrecarga desses poços e suas pressões medidas.
Note-se que a quantidade de pontos de pressão medida (61), utilizada na construção do
gráfico, corresponde ao valor informado na Tabela 5.1 para os poços com IS ≤ 10%.
Com índice de sobrepressão tão próximo da hidrostática normal no Cretáceo Superior para
aqueles poços, era de se esperar que uma combinação adequada de parâmetros “A” e ”B” na
Figura 5.10 fizesse os pontos trilharem razoavelmente o caminho de uma Curva Virgem. Esses
parâmetros foram então obtidos da curva preta dessa figura, com valores respectivamente de
28,371 e 0,660, e bom coeficiente de correlação R2 = 92,89%.
Observe-se que estes valores de “A” e “B” são similares àqueles usuais da subcompactação
em poços do GoM (A = 28,371 e B = 0,621), segundo Bowers (1995). São também coerentes
com o expoente de Eaton “3” estabelecido para representar a subcompactação nos poços
sobrepressurizados deste estudo no Cretáceo Superior, e também representativo de poços do
GoM segundo Eaton (1975).

111
A segunda estratégia foi o estabelecimento de limites para a flutuação da pressão medida
dos poços com pressão normal, em torno da CV. As curvas vermelha e verde foram,
respectivamente, tomadas como os limites qualitativos superior e inferior. Assim, os limites de
10% para cima ou para baixo no valor do parâmetro “A” da CV foram tomados como aceitáveis
porque abrangem todos os dados de pressão normal medida.
Ressalta-se aqui que a construção desses limites não se encontra na descrição do método,
embora tenha sido considerada fundamental para analisar o comportamento do conjunto de poços
sobrepressurizados.
A terceira estratégia usada na análise foi a criação de três filtros (Figura 5.10): (1) “Poço”,
para separar os dois grupos de poços; (2) “Lito”, que permitiu excluir pontos de pressão
eventualmente medida numa litologia diferente de areia (calcilutitos e calcários) e (3) “Zonas”,
para escolher a idade geológica e/ou a época com os dados de pressão de interesse.
A criação do filtro “Zona” foi de grande utilidade porque foi somente durante o estudo dos
poços que se percebeu a grande suscetibilidade do método às diferenças (comuns) de velocidade
sônica entre períodos, épocas e idades geológicas distintas: quanto maiores essas diferenças,
menos representativa de toda a extensão do poço a CV se tornava e consequentemente, piores
eram as expectativas para a qualidade da pressão de poros que seria estimada em regiões
diferentes do Cretáceo Superior.
Nesse sentido, as 17 medidas de pressão disponíveis no Albiano (com representação nos
poços 129, 149, 154, 155), embora estivessem fora do escopo da aplicação direta do método,
suscitaram preocupação (que seria mais tarde comprovada na prática como uma das limitações do
método) a respeito do perfil de pressão de poros que seria estimado para essa idade.
Isso porque seria usada apenas uma CV para estimar a pressão de poros de todo o poço e
que seria aquela que representaria bem o Maastrichtiano e o Campaniano, cujo comportamento
era distinto do Albiano no que se refere a densidade e velocidade. Foi interessante perceber,
estudando esses poços, como os pontos medidos no Albiano, mesmo apresentando pressões
normais (IS ≤ 1,1), se distanciavam da CV estabelecida. Isso pode ser observado, por exemplo,
na avaliação individual dos poços 154 e 155 (Figura 5.22) e 149 (Figura 5.29), mais adiante.

112
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Legenda:
Velocidade (ft/s)

Curva Limite superior:


A = 31,208 e B = 0,660

Curva Virgem:
A = 28,371 e B 0,660

Curva Limite inferior:


A = 25,534 e B = 0,660

Tensão efetiva (psi)


Filtro “Poço”

Filtro “Lito” Filtro “Zona”

Figura 5.10: Acima, gráfico de Bowers para a Curva Virgem (preta) construída com os poços com
pressão normal e curvas dos limites qualitativos (vermelha e verde). Abaixo, os três filtros utilizados

Analogamente à sensibilidade à estratigrafia comentada nos parágrafos anteriores, o


método também se mostrou sensível à ocorrência de intercalações litológicas e às diferenças de
argilosidade em folhelhos, esta última observada pela presença de diferentes patamares de perfis

113
de raios gama em alguns poços. Ou seja, o método também apresentou sensibilidade às
diferenças de velocidade sônica entre volumes diferentes de folhelhos.
Folhelhos normalmente compactados com muitas intercalações de outras litologias ou com
diferentes patamares de argilosidade mostravam comportamentos distintos em relação à curva. Já
volumes mais “limpos” e/ou com patamares de perfis de raio gama similares, normalmente
compactados, foram mais bem representados por ela.
Assim, por exemplo, se os folhelhos vizinhos aos pontos de pressões medidas sofressem
variações do sônico devido a intercalações litológicas ou mesmo devido a mudanças de
argilosidade, os pontos de pressão do gráfico velocidade vs tensão efetiva naturalmente não
trilhavam o caminho da curva definida para o poço para aquela idade estudada, podendo flutuar
abaixo ou acima dela. Esse fato foi observado, por exemplo, nos poços 4 e 106.
Vale ressaltar que alguma flutuação já era inicialmente esperada, visto que o coeficiente de
correlação da curva, apesar de alto, não foi de 100%.
Em suma, mesmo tendo em vista a dependência do método de tantas variáveis, acredita-se
ter conseguido uma Equação para a CV aceitável para o Cretáceo Superior para os poços
estudados.
A quarta estratégia adotada teve como objetivo a identificação e análise de
comportamentos individuais e/ou de tendências peculiares de pontos de pressão medida em
qualquer poço.
A estratégia foi utilizar uma ferramenta que permitisse a identificação rápida da localização
em profundidade, na coluna litológica do poço, de qualquer ponto de pressão do gráfico
velocidade vs tensão efetiva. Assim seria possível analisar o comportamento isolado de um único
dado de pressão medida que parecesse anômalo, ou de um conjunto de pontos, de um mesmo
poço ou de “n” poços ao mesmo tempo.
A ferramenta usada foi o desenho de um ou alguns polígono(s) em torno do(s) dado(s) de
pressão do citado gráfico, com auxílio do programa do “Multipoços” (SIGEO). Essa estratégia
permitiu situar o(s) ponto(s) lado a lado com os perfis elétricos e a(s) coluna(s) litológica(s)
correspondente(s) ao(s) poço(s).
As cores diferenciadas usadas para cada polígono distinguiam os pontos de pressão em
cada zona da Formação Calumbi. Para facilitar então a compreensão dessa estratégia pelo leitor,
na discussão dos resultados de cada poço, sugere-se observar conjuntamente o gráfico de Bowers

114
(como por exemplo, o apresentado na Figura 5.12) e a figura dos perfis que mostra a curva de PP
estimada pelo método e a OVB previamente calculada (como por exemplo, a Figura 5.13), ambas
na página 121.
Essa última estratégia foi utilizada na análise de todos os poços com pressão anormal,
inclusive para descartar a hipótese de ocorrência de descarregamento sob a ótica do Método de
Bowers. É o que se pode perceber ao observar a Figura 5.11.
Nessa figura, os oito poços com valores de pressão anormal (1, 2, 3, 4, 106, 149, 154, 155)
foram colocados no gráfico de velocidade vs tensão efetiva, já com a CV e seus limites tendo sido
previamente fixados, para que seu comportamento pudesse ser avaliado.
Pela observação visual pura, simples e isolada da distribuição de pontos, algumas medidas
dos poços 1, 106 e 149 parecem apresentar comportamento um pouco diferente dos demais, que
se mostram razoavelmente comportados trilhando o caminho da CV ou flutuando próximos a ela.
No item a seguir, a análise individual dos poços mostra como essa visualização isolada
pode resultar em conclusões incorretas tanto em relação à ocorrência de mecanismos causadores
de descarregamento quanto à própria ocorrência de subcompactação.
Essa análise também ressalta a importância de definir os limites superior e inferior para a
CV e a obrigatoriedade de se realizar conjuntamente a avaliação de parâmetros que influenciam o
sônico e que não estão (necessariamente) ligados ao desenvolvimento de pressões anormais.
Note-se, também, na Figura 5.11, a queda (esperada) no valor do coeficiente de correlação
da curva (de ~ 93% para ~ 75%) quando apenas os poços com sobrepressão são colocados sobre
ela.

115
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva
Velocidade (ft/s)

106

149

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.11: Curva Virgem do Cretáceo Superior, seus limites superior e inferior e seu coeficiente de
correlação agregando os poços com PPA (legenda à direita). Comportamento diferenciado da velocidade
dos poços 1, 106 e 149

5.3.2. Análise do Comportamento dos Poços com Pressão Anormal em relação à Curva
Virgem, Análise das Estimativas de Pressão de Poros por Bowers e Comparação
com as Estimativas de Eaton

A análise do comportamento dos pontos de pressão medida foi feita considerando tanto o
gráfico velocidade vs tensão efetiva, quanto a resposta, sobretudo, dos perfis de raios gama,
sônico (ou velocidade sônica) e caliper. Os perfis de densidade e resistividade foram usados para
avaliar a coerência de tendências em termos dos três outros perfis.
O tipo de fluido presente nas zonas da Formação Calumbi e os valores de permeabilidade
foram usados como informações complementares quando a análise dos perfis dificultava as
conclusões e quando essas informações estavam disponíveis.
Foram utilizadas também a Tabela 5.1 e a Tabela IV.1, com os IS de cada zona.

116
É importante ressaltar que nesta análise, buscou-se uma explicação, em cada poço com
pressão alta, para a ocorrência da flutuação dos pontos em torno da CV, mesmo que a flutuação
se mantivesse dentro dos limites qualitativos de normalidade de pressão estabelecidos para ela e
que isso sinalizasse inicial e positivamente para a hipótese de ocorrência apenas de
subcompactação.
O objetivo foi mapear formas de analisar os resultados de maneira mais abrangente do que
aquela disponível nas bibliografias consultadas e mesmo em Bowers (1995), esmiuçando
fraquezas do método, verificando se respostas que trilhavam o caminho da CV poderiam não ser,
necessariamente, devido à normalidade de pressão ou subcompactação.
De forma geral, observou-se que a aplicação desse método para identificação da atuação de
descarregamento através do gráfico é dificultada quando os valores de sobrepressão são
relativamente baixos, estando entre 11% e 30% acima da hidrostática, como é o caso do campo
de PRM.
Dentro desses valores de sobrepressão, o método se mostra ainda mais sensível a variações
pontuais na resposta da velocidade acústica, que podem ocorrer devido a fatores não ligados à
pressão e já mencionados: alterações litológicas (cimentação, composição mineralógica); más
condições mecânicas do poço (caliper ruim); presença de fraturas e presença de hidrocarbonetos.
Assim, por exemplo, numa mesma zona, onde o IS é o mesmo ou similar, não é incomum
encontrar pontos flutuando acima e abaixo da curva, muito próximos ou não a ela, devido a
comportamentos da velocidade sônica em folhelhos afetados por caliper com arrombamento
(como no poço 106 ou na Cal 930 do poço 2), ou devido à presença de óleo leve ou gás (como
nos poços 1, 3, 4 e 149).
Por exemplo, quando o diâmetro do poço está descalibrado em folhelhos próximos aos
pontos amostrados foram observados reflexos na resposta perfil sônico, que em geral fornece
valores mais altos. Esse fato eleva o valor do filtro de folhelhos traçado para o sônico e,
consequentemente, fornece valores mais baixos de velocidade nos pontos onde a pressão foi
medida quando comparados aos valores que o filtro forneceria no reservatório se o poço estivesse
calibrado nos folhelhos imediatamente adjacentes. Por vezes, esse reflexo também foi observado
na resposta do perfil de densidade, que cai.
Vale ressaltar que a pressão é medida na areia e o filtro computa apenas pontos de
folhelhos, fazendo com que a velocidade na areia seja ignorada. Nesse caso, pontos de pressão

117
medidos em uma mesma zona podem apresentar-se, em relação à CV, abaixo ou acima dela, a
depender do diâmetro no local. Podem também aproximar-se dela em função da queda no valor
da velocidade devido ao arrombamento. Esse fato tem relação análoga com o que foi comentado
antes a respeito da sensibilidade do método em relação a intercalações litológicas.
Também, por exemplo, se o hidrocarboneto presente for gás ou óleo leve, o perfil sônico
poderá ser afetado, tendendo a fornecer valores mais baixos de velocidade, que resultam em
maior estimativa de pressão de poros pelos métodos teóricos, sem que necessariamente a pressão
no local seja alta.
Avaliou-se neste trabalho, que os fatores citados acima comprometem, de certa forma, o
julgamento a respeito da qualidade das estimativas de pressão porque ela não dependeria apenas
da capacidade do método de fornecer boas respostas, mas sim da qualidade do dado de entrada,
que com maior gravidade no Método de Bowers, ainda seria um dado pontual, em dada
profundidade.
Esses fatores também poderiam explicar por que um ponto de pressão medida num local
onde se suspeita da ocorrência de descarregamento pode se localizar muito abaixo da Curva
Virgem, com baixa velocidade, ao invés de acima dela e ainda com baixa velocidade como,
teoricamente, o método prega.
A apresentação dos resultados da aplicação do Método de Bowers, em cada poço, consta de
duas tabelas e duas figuras:
• a primeira tabela (como, por exemplo, a Tabela 5.7) mostra o resumo dos dados de pressão
medida existentes em cada poço nas zonas da Formação Calumbi em que eles se
apresentam. Ela equivale à linha correspondente ao poço na Tabela 5.1 e/ou na Tabela
IV.1;
• a segunda tabela (como, por exemplo, a Tabela 5.8) mostra os resultados dos cálculos de
tensão em algumas profundidades onde havia dados de sobrepressão. Não serão mostrados
nessas tabelas os cálculos das tensões dos pontos de pressão que repousam sobre a CV,
tendo sido a discussão deixada, mais restritamente, a resultados que sugerem
comportamentos anômalos. O símbolo “∆PP” significa a diferença entre a pressão de poros
medida e a pressão de poros estimada pelo Método de Bowers (PPGBO) em unidades
usuais na perfuração (lb/gal). Para auxiliar a análise qualitativa da pressão estimada pelo
método, foi usada a lógica da Tabela 5.6:

118
Tabela 5.6: Avaliação qualitativa da PP estimada pelo Método de Bowers
Cálculo da diferença entre as PPs medida e estimada (psi ou lb/gal) através de alternativas equivalentes
(1) ∆ m = ; − ;
CV de Bowers subestima a PP CV de Bowers superestima a PP
Qn ; > ; Qn ; < ;
∴ ∆ m >0 ∴∆ m <0

(2) ∆ m = 7′; − 7′ ;

Qn 7′; < 7′ ; Qn 7′; > 7′ ;


∴ ∆ m <0 ∴ ∆ m >0

• a primeira figura (como, por exemplo, a Figura 5.12) tem ligação direta com os resultados
da segunda tabela. Ela mostra o gráfico de Bowers e os polígonos traçados em torno dos
pontos de pressão medida;
• a segunda figura (como, por exemplo, a Figura 5.13), apresenta a correspondência entre
polígonos, a estratigrafia e os perfis de cada poço, bem como os resultados das estimativas
de pressão por Bowers para trechos do mesmo (PPGBO). Nessas figuras, estão marcados os
topos de cada zona. Sugere-se visita ao Apêndice XII para facilitar a compreensão dos
mnemônicos das curvas de perfis e pressões, e os padrões de cores utilizados nessas figuras.

Por uma questão de estratégia de apresentação de resultados, a análise dos poços seguiu
uma ordem diferente daquela apresentada no Método de Eaton na Tabela 5.5.

119
• Poço 1
Esse poço chama a atenção pelo comportamento anômalo das medidas na Cal 950.
A Tabela 5.7 mostra o resumo dos dados de pressão medida desse poço nas zonas em que
eles se apresentam e a Tabela 5.8, um resumo da tensão efetiva calculada em algumas
profundidades onde havia dados de pressão medida.

Tabela 5.7: Resumo dos dados do poço 1


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
1 1 / 1,21 - - 11 / 1,16 12

Tabela 5.8: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 1
Poço 1 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
Zona / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1) ∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
Cal 950 /
3.296 8.715 3.535 10.990 91 3.325 0,4
4 pontos rasos
Cal 950 /
3.340 8.870 3.670 10.500 95,2 2.923 1,3
4 pontos profundos
σ’med(1) σ'CV ∼ ∆PP(1)
(1) (1) (1)
Período / MD OVB V DT
Comentário (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
Paleoc /
2.750 6.800 2.390 8.496 117,74 1.470 1,9
3 pontos
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na tabela.

120
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Zona X; IS = 121%
Velocidade (ft/s)

~ 91 µs/ft ≅ 10.990 ft/s

~ 95 µs/ft ≅ 10.500 ft/s


8.496 ft/s

Paleoceno
Cal 950; IS = 116%

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.12: Comportamento dos pontos de PPA do poço 1 em relação à CV de Bowers.
No detalhe, as PP medidas no Paleoceno (não usadas para construção da CV)

8 MW 20
SHPDTf
240 40 8 PPGBO 20
RES
0 GR 200 8 CAL 20 240 DT 40 0,2 200 1 DEN 3 8 OVB 20

Paleoceno
1,9 lb/gal

MD
(m)

Zona
X
91 µs/ft 0,4 lb/gal
3.296 m 91 µs/ft
3.340 m 95 µs/ft
1,31 lb/gal

Figura 5.13: Trecho de perfis e PPGBO do poço 1 para o Cretáceo. No canto superior direito, o detalhe
mostra os pontos de pressão medida no Paleoceno e superestimativa de PPGBO pela CV

121
Observando a Figura 5.12 é possível perceber pontos de pressão flutuando abaixo da CV. A
Zona X (polígono verde) e os pontos mais rasos da Cal 950 (polígono vermelho) possuem
praticamente os mesmos valores de velocidade sônica filtrada em folhelhos (~10.990 ft/s).
Entretanto, como o IS na Zona X é um pouco maior que na Cal 950, isso reduz o valor da sua
tensão efetiva, então o ponto se desloca mais para esquerda no eixo x.
Observe-se também a Figura 5.13 para localização das zonas ao lado da coluna litológica e
visualização do perfil de pressão estimado pelo método (PPGBO).
Comparando o comportamento dos pontos de pressão apenas da Cal 950, os mais rasos
(polígono vermelho) possuem filtro do sônico em folhelhos em torno de 91 µs/ft (~10.990 ft/s),
enquanto a média do filtro nos pontos mais profundos (polígono azul) é de 95 µs/ft (~10.500 ft/s).
Ou seja, a velocidade é sensivelmente menor nos pontos mais profundos, posicionando-os
mais baixo em relação aos demais. A pequena diferença de sobrecarga entre esses pontos (~155
psi) pode ser responsável pela também sutil diferença na tensão efetiva (~ 135 psi) uma vez que a
pressão medida é praticamente a mesma em toda a Cal 950 (IS médio = 116%). A Tabela 5.8
apresenta esses resultados.
Para o único ponto de pressão medida na Zona X (polígono verde) a pressão estimada no
Maastrichtiano/Campaniano foi muito boa, o que pela observação do gráfico da Figura 5.12 já era
esperado uma vez que este ponto está posicionado sobre a CV.
Também pode-se dizer o mesmo a respeito da pressão estimada para os quatro pontos mais
rasos da Cal 950: a diferença entre a tensão efetiva calculada pela CV (~ 3.325 psi) e a tensão
efetiva nos pontos de pressão medida (~ 3.535 psi) foi de apenas ~ 210 psi, refletindo numa
diferença de pressão estimada pela CV de apenas 0,4 lb/gal acima da pressão média medida
nesses pontos (~ 9,7 lb/gal).
Ainda na Cal 950, para os quatro pontos mais profundos (polígono azul), a diferença entre a
tensão efetiva calculada pela CV e a tensão efetiva nos pontos de pressão medida chegou a cerca
de 740 psi, refletindo numa pressão de poros estimada pela CV de 10,9 lb/gal, cerca 1,31 lb/gal
acima da pressão média medida nesses quatro pontos (~ 9,59 lb/gal). Essa estimativa foi
considerada pouco aceitável. O Método de Eaton forneceu PP com metade dessa discrepância
(0,63 lb/gal) tendo sido considerada muito boa.
É importante observar ainda, o comportamento peculiar desses pontos, fora dos limites
definidos como aceitáveis para flutuação de pressões anormais sob influência de

122
subcompactação, em torno da CV. Uma explicação possível é que os folhelhos abaixo desses
pontos puxaram o filtro do sônico para valores mais elevados, fazendo a velocidade cair.
Acredita-se também que as leituras do sônico dessa zona Cal 950 tenham sido influenciadas
pela presença de hidrocarboneto (HC), pois nela foi informada presença de óleo leve, fato este
que pode ser observado pela queda bem marcada na densidade e aumento da resistividade e pelo
pico no valor do perfil sônico (queda da velocidade).
A flutuação dos pontos em torno da CV não mostrou comportamento típico de
descarregamento nem indicativos de sua ocorrência. A tensão efetiva aumentou e, conforme já
discutido durante a aplicação do Método de Eaton, em apenas um ponto (na Zona X a 3.252 m) a
estimativa de Eaton subestimou a pressão medida em um valor considerado inaceitável. Para esse
poço acredita-se que somente a subcompactação esteja ocorrendo.
Analisando ainda a qualidade da PPGBO nas demais extensões do poço, foi abordado nos
itens de discussão teórica do método e de construção da CV, que a pressão estimada deveria
mostrar-se muito boa, boa ou razoável para o Maastrichtiano/Campaniano e mediana ou ruim
para o Paleoceno e Cretáceo Inferior (Albiano).
Pode-se observar, no detalhe da Figura 5.13, que a PPGBO superou as três tomadas de
pressão no Paleoceno em cerca de 2 lb/gal (por volta de 2.750 m).
Por um lado, para efeito teórico, as respostas no Paleoceno corroboram a expectativa de
resultados ruins para épocas cujos comportamentos de velocidades são diferentes do
comportamento do Cretáceo Superior e cujas tomadas de pressão não foram usadas na construção
da CV.
Por outro lado, e em termos práticos, a intensidade da resposta ruim já era esperada, visto
que a tensão efetiva da CV nesses pontos mostrou-se inferior em cerca de 920 psi (~ 1,9 lb/gal)
em relação à tensão dos pontos medidos. Como o diâmetro do poço está bem calibrado no
Paleoceno não dando sinais de desmoronamento, 2 lb/gal tende a ser considerado um erro
inaceitável.
Em alguns trechos do poço, a PPGBO foi superior à pressão exercida pelo fluido de
perfuração em cerca de 1 lb/gal. Entretanto, a avaliação da qualidade ficou comprometida porque
o relatório final desse poço não estava disponível para realizar estudo mais aprofundado da
investigação de ocorrência de problemas mecânicos que indiquem que isso teria sido possível
(como, por exemplo, ocorrência de desmoronamento).

123
Através da análise desse poço, ficou evidente como a estimativa de uma única CV e ainda
para um trecho tão curto com pressões medidas pode se tornar insuficiente para estimar a pressão
de poros em toda a extensão do poço usando o método. Sobretudo quando trechos mais
superficiais (Paleoceno, neste caso) apresentam comportamentos de velocidades distintos das
idades cujas pressões foram avaliadas.
Esse fato comprometeu a qualidade da estimativa de pressão de poros para os trechos acima
de onde a pressão foi medida e a própria flutuação da pressão em torno da CV fez com que
mesmo no Maastrichtiano / Campaniano a pressão estimada não fosse tão próxima daquela
medida.
Em suma, a análise desse poço estabeleceu um paralelo com o que foi apresentado
anteriormente (na ocasião, sobre o Albiano) sobre a importância da aquisição de mais
informações em trechos não compreendidos por zonas reservatórios e com comportamentos
litológicos diferenciados, pelo menos para os primeiros poços de uma área, em prol da realização
de melhores estimativas de pressão de poros.
A avaliação desse poço permitiu, ainda, perceber a influência do filtro traçado no sônico no
resultado da estimativa da pressão de poros. Filtros com valores diferentes poderiam ter
aproximado ou afastado os pontos da CV, melhorando ou piorando a estimativa de pressão.

• Poço 2
A Tabela 5.9 mostra o resumo dos dados de pressão medida do poço 2 nas zonas em que
eles se apresentam, e a Tabela 5.10, um resumo da tensão efetiva calculada em profundidade
onde havia dado de pressão medida.

Tabela 5.9: Resumo dos dados do poço 2


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
2 - 12 / 1,23 - 7 / 1,16 19

Tabela 5.10: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 2
Poço 2 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV (1)
∼ ∆PP(1)
Zona(1)
(m) (psi) (psi) (ft/s) (µµs/ft) (psi) (lb/gal)
Cal 950 3.190 8.050 2.830 10.730 93,2 3.110 0,55
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na
tabela.

124
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Cal 950; IS = 116%


Velocidade (ft/s)

Cal 930; IS = 123%

~ 93,2 µs/ft ≅ 10.730 ft/s

∼ 104 µs/ft ≅ 9.600 ft/s

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.14: Comportamento dos pontos de PPA do poço 2 em relação à CV de Bowers

reservatório cimentado ?

contato aproximado
Óleo
Velocidade (ft/s)

Água

0 GR 200 8 CAL 20 240 SHDTf 40 0,2 RES 200 1 DEN 3 8 MW 20


8 PPGBO 20
8 OVB 20

Tensão efetiva (psi)

Figura 5.15: Contato óleo-água na Zona Cal 950 no poço 2 : no lado esquerdo, a ampliação do polígono
laranja da Figura 5.14; no lado direito, a ampliação qualitativa da Figura 5.16 dos perfis

125
8 MW 20
240 SHPDTf 40 8 PPGBO 20
0 GR 20 8 CAL 20 240 DT 40 0,2 RES 200 1 DEN 3 8 OVB 20
0

~ 104 µs/ft

MD arrombamento
(m)
104 µs/ft

~ 79 µs/ft
3.190 m ∼ 93 µs/ft 2
0,55 lb/gal

Figura 5.16: Trecho de perfis e PPGBO do poço 2

Como se pode observar na Figura 5.14, todos os pontos de pressão da Cal 930 (polígono
marrom) estão sobre a CV e os pontos da Cal 950 (polígono laranja) estão próximos ao limite
superior. A Cal 930 possui IS médio de 123%, apresentando-se com tensões efetivas menores,
portanto, que a Cal 950, que tem IS mais baixo (116%).
As diferenças entre os valores das velocidades sônicas filtradas também são responsáveis
pelo comportamento diferenciado dos grupos de pontos: a Cal 930 apresenta maiores valores de
sônico e, portanto menores velocidades quando comparada com a Cal 950.
Na Figura 5.16 percebe-se que o diâmetro do poço nos folhelhos na Cal 930 (polígono
marrom) encontra-se com arrombamento, podendo ter influenciado o sônico no local, puxando o
filtro para valores mais altos (velocidades mais baixas). Isso pode ter aproximado os pontos da
CV induzindo o método a fornecer muito boa estimativa de pressão de poros nessa zona.
Observe-se, também que na Cal 930, a PPGBO passa pelos pontos medidos e como seu IS
é mais elevado que na Cal 950, para descartar qualquer suspeita sobre a ocorrência de descarga,
partiu-se para analisar o comportamento desta última — o mais comum, tanto para

126
subcompactação quanto para descarga, seria encontrar a Cal 950 com maior IS que a Cal 930, por
ser mais profunda que esta última e não o contrário.
Na Cal 950 (polígono laranja), apesar do maior distanciamento da CV, os pontos se
localizam dentro dos limites estabelecidos para ela e nessa zona o poço mantém-se bem
calibrado, de modo que o perfil sônico provavelmente não sofreu influência desse parâmetro.
Nesse poço, nessa zona, estava disponível a informação de que foi detectado um contato
óleo leve / água22, com três pontos de pressão medidos na água. Como a presença da água não
tende a interferir no perfil sônico como a presença de HC (fornecendo assim resultados mais
precisos para estimativas de pressão de poros através desse perfil) e como o valor do filtro na
velocidade acústica nesses pontos é igual para os folhelhos, então se acredita que as velocidades
flutuem realmente dentro dos limites aceitáveis da CV.
A Figura 5.15 (ampliação qualitativa do polígono laranja) ilustra essa observação,
mostrando a profundidade aproximada de separação entre os fluidos, marcada pela queda da
resistividade e aumento da densidade próximo do contato.
Os fatos citados nos dois últimos parágrafos não levam a desconfiar de que esteja
ocorrendo outro mecanismo além da subcompactação nesse poço.
Em relação à curva de pressão de poros estimada (PPGBO), conforme comentado, era de se
esperar estimativa muito boa para os pontos da Cal 930 que estão praticamente em sua totalidade
sobre a curva, e uma estimativa boa para os pontos da Cal 950, muito próximos a ela. Foi o que
ocorreu. No caso dessa última zona, como mostram os cálculos da Tabela 5.10, era esperado que
a pressão estimada pelo método subestimasse os valores dos pontos medidos em cerca de 0,55 a
0,70 lb/gal, uma vez que a diferença entre a tensão efetiva dos pontos medidos (cerca 2.830 psi) e
a tensão média calculada através da CV para esses pontos (cerca de 3.110 psi) é de ~ 280 psi (~
0,55 lb/gal).

22
Observe-se que a entrada em reservatório bem cimentado é uma hipótese possível para explicar que o sônico tenha
apresentado queda ao entrar na zona com HC (maior velocidade acústica ao invés de menor pela presença de óleo
leve).

127
• Poço 3
A Tabela 5.11 mostra o resumo dos dados de pressão medida do poço 3 nas zonas em que
eles se apresentam e a Tabela 5.12, um resumo da tensão efetiva calculada em profundidades
onde havia dados de pressão medida.

Tabela 5.11: Resumo dos dados do poço 3


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
3 - 15 / 1,22 - 5 / 1,16 20

Tabela 5.12: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 3
Poço 3 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
Zona / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1) ∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
Cal 930 /
quatro pontos 3.113 8.195 2.880 10.800 92,5 3.170 0,5 a 06
mais profundos
Cal 950 / 5 pontos 3.145 8.310 3.150 11.250 89,5 3.480 0,5 a 0,6
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na tabela.

Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Cal 950; IS = 116%


Velocidade (ft/s)

89,5 µs/ft ≅ 11.250ft/s


92,5 µs/ft ≅ 10.800 ft/s
98µs/ft ≅ 10.200 ft/s
102 µs/ft ≅ 9.800 ft/s

Cal 930 (4 pontos profundos); IS = 121%

Cal 930 (11 pontos rasos); IS = 123%

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.17: Comportamento dos pontos de PPA do poço 3 em relação à CV de Bowers.

128
8 MW 20
240 SHPDTf 40 8 PPGBO 20
RES
0 GR 200 8 CAL 20 240 DT 40 0,2 200 1 DEN 3 8 OVB 20

102 µs/ft
98 µs/ft
MD
(m)

Areia onde
não foi
detectado
92,5 µs/ft HC
3.113 m

0,5 lb/gal
3.145 m
89,5 µs/ft
0,6 lb/gal

Figura 5.18: Trecho de perfis e PPGBO do poço 3

Óleo
Velocidade (ft/s)

8 MW 20
SHPDTf

RES

8 PPGBO 20
DEN
CAL

8 20 240 40 0,2 200 1 3 8 OVB 20

óleo Baixíssima
Cal leve K
930
Tensão efetiva (psi) lente sem
HC;
Cal porosidade ?
950
óleo Baixa
leve K

0 200
GR

Figura 5.19: Ampliações qualitativas da Figura 5.17 e da Figura 5.18 mostrando a possível influência da
presença de HC na resposta dos perfis do poço 3

No poço 3, a análise é similar: a Cal 930 possui IS médio de 122%, apresentando-se com
tensões efetivas mais baixas quando comparada à Cal 950, que tem IS mais baixo (116%).
Novamente o comportamento pouco usual de pressões mais altas em menores profundidades.

129
As diferenças entre os valores das velocidades sônicas filtradas nessas zonas são mostradas
na Figura 5.17 e na Figura 5.18 e resultam na flutuação de pontos próximos à CV. Observe-se
também que o diâmetro do poço se mantém calibrado, de modo que o perfil sônico não deve ter
sido afetado por esse parâmetro.
Pela observação da Figura 5.17, era de se esperar muito boa calibração da curva de pressão
de poros estimada pelo método (PPGBO na Figura 5.18) para os 11 pontos de pressão medida
mais rasos da Cal 930 (polígono verde musgo), que estão quase em sua totalidade muito
próximos da CV. Calibração também muito boa era esperada para os quatro pontos mais
profundos dessa zona (polígono azul claro) e para os cinco da Cal 950 (azul escuro).
A Tabela 5.12 mostra os valores das diferenças: para os pontos mais profundos da Cal 930
(polígono azul claro) era de se esperar que a PPGBO subestimasse os valores medidos em cerca
0,5 lb/gal; e para a Cal 950, era esperado PPGBO cerca de 0,6 lb/gal abaixo da medida. Foi o que
aconteceu, como mostra a Figura 5.18.
A análise desses pontos foi dificultada devido à presença de HC nessas zonas, conforme
ilustra a Figura 5.19: aumento da resistividade (mais pronunciado na zona de baixíssima
permeabilidade e menos pronunciado na zona de baixa permeabilidade) e queda da densidade
(também maior na zona de baixíssima permeabilidade e menor na zona de baixa permeabilidade).
Uma vez descartada a influência das condições mecânicas do poço (porque o diâmetro
encontra-se calibrado), possivelmente a velocidade acústica lida nessa região apresentou valor
mais baixo do que seria esperado, por causa da presença de HC. Essa queda pode ser observada
estabelecendo um comparativo com a lente de areia onde não foi detectada a presença de HC
indicada pela seta preta na Figura 5.18 (localizada entre as áreas com HC acima e abaixo dela). A
velocidade na lente sem HC é maior: o sônico cai para um patamar nitidamente mais baixo
possivelmente porque “encontra” matriz e porosidade da rocha e não a presença de HC.
Ou seja, cabe a pergunta: se as velocidades acústicas possivelmente tendem a ser menores
na presença de HC, puxando o filtro de folhelhos para valores mais baixos, é possível que essa
queda tenha aproximado os pontos da CV, levando-os para dentro dos limites aceitáveis
estabelecidos para a hipótese de subcompactação? Não é possível responder a essa pergunta com
certeza, mas é possível afirmar que esse comportamento fez com que o método fornecesse boas
estimativas de pressão no Cretáceo Superior, assim como no poço 2.

130
Por outro lado, não há indicativos da ocorrência de descarregamento nesse poço: a tensão
efetiva calculada não está caindo e o Método de Eaton forneceu estimativa muito boa no
Maastrichtiano / Campaniano (conforme ilustra a Figura 5.9) tendo subestimado a pressão de
poros em apenas 0,2 lb/gal nos pontos mais profundos da Cal 930 (próximos de 3.113 m),
diferença considerada pequena e aceitável.

• Poço 4
A Tabela 5.13 mostra o resumo dos dados de pressão medida do poço 4 na zona em que
eles se apresentam e a Tabela 5.14, um resumo da tensão efetiva calculada em algumas
profundidades onde havia dados de pressão medida.

Tabela 5.13: Resumo dos dados do poço 4


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
4 - 22 / 1,22 - - 22

Tabela 5.14: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 4
Poço 4 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
Zona / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV (1)
∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
Cal 930 /
pontos rasos do 3.020 7.256 2.070 9.800 102 2.380 0,6
polígono laranja
Cal 930 / 0,7
3.066 7.417 2182 9.000 111 1.804
polígono cinza (descartado!)
Cal 930 /
pontos profundos 3.136 7.670 2.565 9.700 103 2.300 0,4
do polígono azul
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na tabela.

131
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva
Velocidade (ft/s)

IS = 121%
IS = ~ 122%

97 µs/ft ≅ 10.300 ft/s @ 3.235 – 3.240 m


103 µs/ft ≅ 9.700 ft/s @ 3.136 m
111 µs/ft ≅ 9.000 ft/s @ 3.066 m

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.20: Comportamento dos pontos de PPA do poço 4 em relação à CV de Bowers. No detalhe, dois
pontos cujas pressões estimadas por Bowers foram discutidas

8 MW 20
240 SHPDTf 40 8 PPGBO 20
RES
0 GR 200 8 CAL 20 240 DT 40 0,2 200 1 DEN 3 8 OVB 20

MD
(m) 0,6 lb/gal

3.020 m 103 µs/ft


0,7 lb/gal
3.066 m 111 µs/ft
103 µs/ft

0,4 lb/gal
3.136 m ~103 µs/ft

3.235 m 97 µs/ft

Figura 5.21: Trecho de perfis e PPGBO do poço 4

132
O poço 4 só apresenta dados de pressão na Cal 930. Observa-se que a maioria deles (72%)
encontra-se muito próximos à CV.
O ponto de pressão que possui comportamento sutilmente diferenciado dos demais grupos
(polígono cinza) apresenta velocidade sônica filtrada um pouco mais baixa no trecho onde está
inserido. Seu IS de 122% é equivalente ao dos pontos de pressão mais rasos (polígono laranja) e
levemente superior aos seis pontos mais profundos (delimitados pelo polígono azul), que
possuem IS de 121%. A análise do comportamento dos perfis da Figura 5.21, levou a desconfiar
da qualidade do filtro nesse ponto, pelos motivos descritos a seguir.
Nesse ponto ocorre a redução bem marcada no perfil de raio gama, a redução brusca do
perfil sônico (velocidade aumentando), acompanhada do aumento pontual da densidade, ambos
talvez sinalizando a característica calcítica do topo da areia, e a alta resposta do perfil de
resistividade (havia a informação de essa areia apresentava baixíssima permeabilidade). Mesmo
com valor baixo de sônico, o filtro do sônico no ponto de folhelho imediatamente abaixo do
ponto de pressão medida, foi puxado para um patamar superior devido às leituras nos folhelhos
acima e abaixo dessa areia.
Entretanto, ao invés de se manter com valor parecido com os vizinhos, entre 102 e 103
µs/ft, o filtro mostrou valor não compatível, de 111 µs/ft. Ou seja, acredita-se que o filtro nesse
ponto não seja representativo, de modo que foi descartado o comportamento dessa medida de
pressão no gráfico de Bowers da Figura 5.20.
Como se pode observar ainda pela Figura 5.20, muito boa estimativa de pressão de poros
era esperada para a maioria dos pontos (polígono laranja), uma vez que trilham praticamente o
caminho da CV.
Para ilustrar as diferenças entre a PPGBO e a pressão real, foram usados os pontos mais
distantes da CV: um do polígono laranja e um do polígono azul (sinalizados no detalhe à direita
da Figura 5.20), cujos resultados foram resumidos na Tabela 5.14.
Para o primeiro deles era esperada que PPGBO subestimasse a pressão medida em cerca de
0,6 lb/gal, e para o segundo, que ela fosse superestimada em 0,4 lb/gal. Acredita-se que a nuvem
de pontos de velocidade dentro do polígono laranja pode ser devida à grande variação litológica
entre folhelhos e areias nesse trecho e à variação de patamares de raios gama entre trechos

133
diferentes de folhelhos e entre trechos diferentes de areias. Entretanto, a flutuação de todos os
pontos em relação à CV está dentro dos limites qualitativos definidos para subcompactação.
O perfil de caliper mostrou-se relativamente comportado em 12 ¼” em todo o trecho
avaliado, possivelmente não tendo exercido influência na qualidade do sônico.
Por fim, o Método de Eaton forneceu muito boa estimativa de pressão de poros para os
pontos de pressão medida, tendo subestimado a pressão de poros real em 0,63 lb/gal somente nos
pontos mais rasos da Cal 930 como foi mostrado na Figura 5.9.
Para esse poço acredita-se na hipótese de ocorrência de subcompactação e de forma geral,
para o Cretáceo Superior, a estimativa pelo método foi considerada muito boa ou boa.

• Poços 154 e 155


Para esses poços, as sobrepressões medidas do Maastrichtiano / Campaniano forneceram
respostas bem comportadas no gráfico de velocidade versus tensão efetiva, trilhando caminhos
próximos da CV e próximos também uns dos outros (Figura 5.22).
No poço 155, inclusive, o IS das diferentes zonas é baixo e bem próximo da normalidade
(12%), sendo, portanto, esperada boa correlação com a CV e identificação de subcompactação.
Já para as sete medidas normais do Albiano dos dois poços, observa-se distanciamento da
CV, pelas diferenças de velocidade acústica entre as idades geológicas, conforme já mencionado.
Nos perfis de caliper da Figura 5.24 e da Figura 5.26, apresentadas mais adiante, o
diâmetro da fase onde as pressões foram medidas mostra-se bem calibrado em 12 ¼”,
possivelmente sem interferência na qualidade do sônico em ambos os poços.
Para ambos, não foram encontrados indícios de ocorrência de outros mecanismos além da
subcompactação.

134
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Pressão normal
Velocidade (ft/s)

no Albiano

Poço 154
Poço 155

Sobrepressão no
Cretáceo Superior

Tensão efetiva (psi)

Figura 5.22: Comportamento dos pontos de PPA dos poços 154 e 155 em relação à CV de Bowers

135
(a) 154
A Tabela 5.15 mostra o resumo dos dados de pressão medida do poço 154 nas zonas em
que eles se apresentam, e a Tabela 5.16, um resumo da tensão efetiva calculada em
profundidades onde havia dados de pressão medida.

Tabela 5.15: Resumo dos dados do poço 154


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
154 3 / 1,14 - 11 / 1,14 8 / 1,15 22

Tabela 5.16: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 154
Poço 154 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
Zona / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1) ∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
entre 3.171 7.970 2.890
X e e e 10.150 98,5 2.650 0,4
3.186 8.020 2.860
Cal 940 / entre 3.200 8.060 2.890 0,4
presença de e e e 10.190 98,17 2.680 e
HC 3.218 8.130 2.950 0,5
Cal 950 / entre 3.236 8.190 / 2.930 0,6
presença de e a a 10.050 99,5 2.570 e
água 3.274 8.320 2.990 0,7 a 0,8
Idade / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1) ∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
entre 3.660 9.737 4.118 13.458 74,3 5.613 2,43
Albiano /
e e e e e e e
3 pontos
3.703 9.892 4252 13.837 72,27 5.997 2,82
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na tabela.

136
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva Cal 950

Zona X
Cal 940

Zona X, Cal 940; IS =114%


Velocidade (ft/s)

Albiano
∼ 98,5 µs/ft ≅ 10.150 ft/s
~ 13.458 ft/s

∼ 99,5 µs/ft ≅ 10.050 ft/s

Cal 950; IS = 115%

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.23: Comportamento dos pontos de PPA do poço 154 em relação à CV de Bowers para o Cretáceo
Superior. Nos detalhes, em cima, zonas da Fm. Calumbi com comportamentos diferentes de pressão e
embaixo, as pressões medidas no Albiano (não usadas na construção da CV)
8 MW 20

240 SHPDTf 40 8 PPGBO 20


0 GR 200 8 CAL 20 240 DT 40 0,2 RES 200 1 DEN 3 8 OVB 20

MD
(m)

Zona
X
~ 98,5 µs/ft

3.170 m ~ 99,5 µs/ft


3.200 m
3.240 m
Albiano

Figura 5.24: Trecho de perfis e PPGBO para o poço 154. No canto inferior direito, o detalhe mostra,
qualitativamente, a subestimativa da PPGBO nas profundidades da pressão medida no Albiano

137
Observe-se, na Tabela 5.16, que os valores de tensão efetiva de cada ponto são muito
parecidos nas três zonas porque o IS médio é próximo (114% e 115%) e a sobrecarga não varia
tanto entre os pontos de amostragem (apenas 350 psi) uma vez que as três zonas estão dentro de
uma extensão de cerca de 103 m. Pode-se considerar que as medidas mais confiáveis de sônico
desse poço estão na Cal 950, pois estava disponível a informação de que aí o fluido encontrado
era água.
Note-se pela Tabela 5.15, que se apenas os IS fossem comparados, os pontos da Cal 950
deveriam posicionar-se, no detalhe superior da Figura 5.23, à esquerda dos pontos da Zona X e da
Cal 940 já que aqueles possuem maior IS que estes. Entretanto, o aumento da sobrecarga no
trecho de 103 m avaliado entre a Zona X e a Cal 950 (grosseiramente 350 psi) foi um pouco
maior que o aumento da pressão de poros (250 psi), deslocando os pontos da Cal 950 mais para a
direita.
Pela observação da Figura 5.24, as estimativas de pressão de poros pelo método foram
consideradas entre muito boas e boas para o Cretáceo, uma vez que as diferenças em relação à
pressão medida se mantiveram menores que 0,8 lb/gal como mostra a Tabela 5.16.
Para esse poço não foram encontrados indícios de ocorrência de descarregamento. As
estimativas de pressão por Eaton, inclusive, considerando subcompactação, também forneceram
estimativas entre muito boas e boas para as pressões medidas nas três zonas, conforme já
discutido na aplicação desse método.
Já com relação às pressões tomadas no Albiano (na Formação Riachuelo), mostradas no
detalhe do canto direito inferior da Figura 5.23, observa-se que a CV fez a PPGBO subestimar a
pressão medida para aquela idade, porque uma vez construída para o Maastrichtiano /
Campaniano, mostra tensão efetiva significativamente maior que os valores reais medidos
naquela idade (Tabela 5.16).
A PPGBO no Albiano foi tão menor que a pressão tomada aí que extrapolou inclusive o
limite inferior da escala (8 lb/gal), tendo sido considerada irreal, com erro inaceitável (entre cerca
de 2,43 e 2,82 lb/gal), como mostra o detalhe da Figura 5.24.
Essa avaliação é similar àquela realizada para o Paleoceno no poço 1 e constitui mais um
exemplo prático de um dos itens abordados na discussão teórica empreendida para o método.

138
(b) 155
A Tabela 5.17 mostra o resumo dos dados de pressão medida do poço 155 nas zonas em
que eles se apresentam e a Tabela 5.18, um resumo da tensão efetiva calculada em profundidades
onde havia dados de pressão medida.

Tabela 5.17: Resumo dos dados do poço 155


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
155 8 / 1,12 - - - 8

Tabela 5.18: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 155
Poço 155 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
Zona / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1) ∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
entre 3.280 7.700 2.513 0,3
X/
e e e 9.756 102,5 2.310 e
pontos rasos
3.322 7.840 2.596 0,5
X/ entre 3.361 7.980 2.830(2) 10.310 97 2.772 0,1
pontos e e e e e e e
profundos 3.480 8.410 2.770(2) 10.100 99 2.607 0,3
Idade / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1) ∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
entre 3.832 9.706 3.774 12.764 78,34 4.928 1,77
Albiano /
e e e e e e e
4 pontos
3.865 9.822 3.559 13.401 74,62 5.554 3,07
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na tabela.
(2)
Observe-se que, entre dois pontos, com o sutil aumento da sobrecarga a tensão efetiva se reduziu discretamente porque a
pressão medida no ponto mais profundo aumentou sutilmente mais do que o aumento da sobrecarga. Entretanto, a média
informada de IS para a zona se mantém porque as diferenças são muito discretas. No trecho de 200 m não houve redução da
tensão efetiva.

139
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Zona X; IS = 112% Albiano

13.401 ft/s
Velocidade (ft/s)

12.764 ft/s

∼ 97 µs/ft ≅ 10.300 ft/s e


~ 99 µs/ft ≅ 10.100 ft/sft/s
∼ 103 µs/ft ≅ 9.760 ft/s

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.25: Comportamento dos pontos de PPA do poço 155 em relação à CV de Bowers. No detalhe, o
comportamento da PP medida no Albiano (não usada para construção da CV)

8 MW 20
240 SHPDTf 40 8 PPGBO 20
RES
0 GR 200 8 CAL 20 240 DT 15 0,2 200 1 DEN 3 8 OVB 20
4
MD
(m)

3.280 m

~ 103µs/ft
3.322 m

~ entre 97 e
99 µs/ft

3.832 m Albiano

3.865 m

Figura 5.26: Trecho de perfis e PPGBO do poço 155. No canto inferior direito, o detalhe mostra,
qualitativamente, a subestimativa da PPGBO nas profundidades da pressão medida no Albiano.

140
Para o poço 155, as pressões no Cretáceo foram tomadas apenas na Zona X e se mantêm
muito próximas da CV. Não há indícios de comportamento de descarregamento.
Existe apenas uma ligeira diferença de tensões efetivas entre os dois polígonos dessa zona,
considerando as pressões medidas no ponto mais raso (a 3.280 m) e no mais profundo (a 3.480
m), num trecho de 200 m. Ela chega a 257 psi (para mais): as sobrecargas variam cerca de 710
psi, e não ocorre mudança significativa no IS médio (que é baixo, em média 112%), com as
pressões sofrendo acréscimo de 453 psi.
Observe-se que, entre os pontos mais profundos, a tensão efetiva sofre ligeira diminuição
(60 psi, pois a sobrecarga aumenta 430 psi e a pressão medida aumenta 490 psi). Esse valor é
pouco ou nada significativo em termos de geração de pressão anormal por descarregamento.
Pela observação da Figura 5.26, as estimativas de pressão de poros pelo método foram
consideradas muito boas para o trecho avaliado uma vez que as diferenças em relação à pressão
medida se mantiveram menores que 0,6 lb/gal, como mostra a Tabela 5.18.
Em comparação com as estimativas de pressão por Eaton para esse poço, considerando
apenas subcompactação, forneceram resultados também bastante compatíveis com as pressões de
poros medidas no Cretáceo: a maior discrepância observada foi de 0,38 lb/gal a 3.361 m (8,65
lb/gal de PPEA contra 9,03 lb/gal de pressão medida).
Já observando o detalhe da Figura 5.25 pode-se inferir conclusão análoga à do poço 154
sobre o comportamento das pressões no Albiano (Formação Riachuelo). A CV forneceu PPGBO
que subestima a pressão medida para aquela idade, fornecendo tensões efetivas
significativamente maiores que os valores reais medidos. Isso resultou em PPGBO no Albiano
tão menor que a pressão tomada aí que extrapolou inclusive o limite inferior da escala, tendo sido
considerada irreal, com erros inaceitáveis (entre cerca de 1,77 e 3 lb/gal).

141
• Poço 106
Esse poço chama a atenção pelo maior IS apresentado pelas zonas e pelo comportamento
anômalo do ponto medido na Cal 930.
Assim como nos demais poços, abaixo são mostrados o resumo dos dados de pressão
medida do poço 106 nas zonas em que eles se apresentam (Tabela 5.19) e a tensão efetiva
estimada nas profundidades onde havia dados de pressão medida (Tabela 5.20).

Tabela 5.19: Resumo dos dados do poço 106


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
106 - 1 / 1,34 4 / 1,32 - 5

Tabela 5.20: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 106
Poço 106 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
Zona / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1)
∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
Cal 930 /
3.026 8.189 2.451 10.828 92,4 3.192 1,44
1 ponto
Cal 940 / 3.084 8.386 2.612 10.310 97 2.772 0,3
4 pontos 3.091 8.413 2.618 10.416 96,1 2.856 0,44
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na tabela.

142
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Influência do
calibre na
velocidade
Zona 930;
IS = 134%
Velocidade (ft/s)

∼ 92,4 µs/ft ≅ 10.828 ft/s


∼ 97 µs/ft ≅ 10.310 ft/s
∼ 96 µs/ft ≅ 10.416 ft/s

Zona 940;
IS = 132%

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.27: Comportamento dos pontos de PPA do poço 106 em relação à CV de Bowers. Os triângulos
representam qualitativamente um possível comportamento para a velocidade com poço calibrado

8 MW 20
240 SHPDTf 40 8 PPGBO 20
RES
0 GR 200 8 CAL 20 240 DT 40 0,2 200 1 DEN 3 8 OVB 20

2.100 m 114 µs/ft

~ 92,4 µs/ft
1,44 lb/gal

3.031 m
3.077 m
~ 96 µs/ft
3.200 m 0,44 lb/gal

Figura 5.28: Trecho de perfis e PPGBO do poço 106


143
Na fase de 8 ½”, onde estão os pontos de pressão medida, há uma espessura de folhelho de
aproximadamente 45 m entre a base das areias da Cal 930 (a 3.031 m) e o topo das areias da Cal 940
(a 3.077 m). Conforme mostra a Figura 5.28, nesse folhelho o diâmetro da fase apresenta-se com
intenso arrombamento, com valores que ultrapassam o valor máximo da escala definida para o perfil
de caliper (20”).
A qualidade da leitura do sônico naqueles folhelhos (e mesmo naqueles localizados acima da
Cal 930) está comprometida e os valores lidos nessa região não são confiáveis, apresentando-se
provavelmente mais altos (velocidades mais baixas) do que aqueles que seriam lidos se o poço
estivesse calibrado.
Consequentemente, o filtro do sônico nos folhelhos nessa região pode ter sido puxado para
cima (ficou entre 93 e 97 µs/ft). Apesar do diâmetro do poço naquelas areias se mostrar entre 8 ½” e
9 ½”, pela própria metodologia, o filtro de folhelhos ignora a leitura do sônico aí. Isso significa que
a resposta do filtro do sônico nessas areias pode ter tendido para valores também maiores (e
velocidades menores) justamente onde a pressão foi medida.
Ou seja, na Figura 5.27, as velocidades indicadas no polígono rosa (~ 10.828 ft/s) e no
polígono verde (entre ~ 10.310 e 10.420 ft/s) possivelmente seriam mais altas, conforme ilustram
qualitativamente os triângulos rosa. Situação similar ocorreu na Cal 930 do poço 2.
A consequência é que os pontos da Cal 940 foram se aproximando da CV, fazendo com que
nesse caso, a PPGBO fosse bastante próxima da pressão medida, como mostra a Tabela 5.20, em
que as diferenças são menores que 0,5 lb/gal.
Já a estimativa da pressão de poros na Cal 930 subestimou a pressão de poros em 1,44 lb/gal,
resultado considerado ruim, com erro inaceitável.
Vale observar, em paralelo, que o caliper com arrombamento possivelmente também exerceu
influência no comportamento geral da densidade, que eventualmente forneceu densidades menores
quando comparadas àquelas que seriam lidas se o diâmetro estivesse calibrado nos folhelhos.
Exemplo dessa influência, nos folhelhos descalibrados, são os valores de densidade que
ultrapassam o limite inferior definido para a escala desse perfil (1 g/cm3). Além disso, a ausência
desse perfil em trechos mais superficiais dificulta o estabelecimento de uma comparação segura com
relação à tendência que o poço vinha seguindo. Considerando essas limitações, infere-se que, no
geral, a densidade parece seguir uma tendência crescente, até o topo do Albiano (Fm. Maceió) e esse
comportamento não sugere descarregamento na Cal 930.

144
Outro motivo que também pode ter influenciado a resposta do sônico naquela região é a
influência da litologia, pela presença de forte intercalação entre finas areias e lentes de folhelhos que
parece começar a ocorrer mesmo antes da Cal 930. Esse fator, conforme citado na discussão teórica
do método, não deve ser desconsiderado na análise porque pode resultar em respostas nos perfis que
levam a falsos indicativos de ocorrência de pressões anormais.
Analogamente ao que foi observado nos outros poços, para desenhar uma tendência da tensão
por Bowers (CV) é preciso dispor de dados de melhor qualidade de sônico não só no reservatório,
mas sobretudo na vizinhança, em folhelhos. A dependência, do método, de valores pontuais de filtro
de sônico em folhelhos, parece deixá-lo vulnerável, sobretudo quando se dispõe de um único ponto
de pressão medida em uma zona (caso da Cal 930).
Além disso, o método está diretamente ligado à litologia do poço, sendo aplicado com maior
sucesso em formações sem grandes mudanças litológicas e sem muitas intercalações, conforme
também já comentado. Acredita-se, que a aplicação do método, nesse poço, não se mostrou eficaz
em função dos motivos citados acima.
Por fim, o último fator que corroborou para acreditar nas hipóteses e interpretações acima, foi
o fato de que a estimativa de PP por Eaton considerando apenas subcompactação foi classificada
como muito boa, tendo apenas um ponto com subestimativa de 0,55 lb/gal da pressão medida (a
3.026 m na Cal 930, conforme a Figura 5.9).
Note-se que a problemática analisada até esse momento, no poço 106, envolve a qualidade do
perfil sônico e não a qualidade da medição da pressão de poros, fazendo com que a dúvida gire em
torno da flutuação do ponto no eixo Y.
Entretanto, nesse poço, os valores dos cinco pontos de pressão medida coincidiram com a
massa específica de fluido de perfuração, não podendo, em última instância, ser descartada com
certeza a hipótese de ocorrência de efeito de sobrecarga durante a aquisição dos dados de pressão.
Nesse caso, a dúvida também existiria em relação à flutuação do ponto no eixo X.
Dentro da complexa conjuntura com influência no sônico (baixa qualidade mecânica do poço
e fatores ligados à litologia) não se deve desconsiderar o fato de que esse poço apresenta alto IS e
que alguma explicação para esses altos valores de pressão deve ser buscada.
Nesse caso, seria possível que com o poço calibrado (isolando um pouco a influência
litológica) um perfil sônico e um perfil de densidade de melhor qualidade resultassem em
conclusões diferentes daquelas mencionadas nos parágrafos anteriores. Só que, nesse caso, também

145
seria conveniente avaliar a possibilidade de usar outra tendência de compactação normal no Método
de Eaton, coerente não só com esse poço, mas com os demais.
No intuito de mostrar o passo a passo de trabalho quando o descarregamento ocorre foi que se
elaboraram dois exemplos teóricos simples, apresentados no Apêndice X. O primeiro para ilustrar o
passo a passo envolvido no cálculo da PPGBO quando uma situação de ocorrência de
descarregamento se apresenta de forma clara no sônico. E o segundo para discutir a situação em que
a ocorrência de determinados mecanismos podem mascarar a resposta de perfis de porosidade
dificultando a identificação daquele fenômeno.

• Poço 149
Esse poço também chama a atenção pelo comportamento anômalo na Cal 930.
Abaixo são mostrados o resumo dos dados de pressão medida do poço 149 nas zonas em que
eles se apresentam (Tabela 5.21) e a tensão efetiva estimada em profundidades onde havia dados de
pressão medida (Tabela 5.22).

Tabela 5.21: Resumo dos dados do poço 149


N° de pontos de pressão medida / IS médio N° de pontos
Poço Zona X Cal 930 Cal 940 Cal 950 CV Bowers
149 - 9 / 1,22 - 1 / 1,20 10

Tabela 5.22: Resumo dos resultados da estimativa de PP para alguns pontos do poço 149
Poço 149 Parâmetros dos pontos de pressão medida Bowers
Zona / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1)
∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) (µµs/ft) (psi) (lb/gal)
3.003 7.734 2.527 9.227 108,37 1962 1,11
Cal 930
3.020 7.785 2.563 9.227 108,37 1962 1,17
(pontos mais rasos)
3.042 7.865 2.624 9.108 109,8 1.879 1,45
Cal 930
3.122 8.140 2.835 10.121 98,8 2.626 0,39
(ponto mais profundo)
Cal 950
3.138 8.198 2.862 10.282 97,26 2.750 0,21
(vermelho)
Idade / MD OVB(1) σ’med(1) V(1) DT σ'CV(1) ∼ ∆PP(1)
Comentário(1) (m) (psi) (psi) (ft/s) µs/ft)
(µ (psi) (lb/gal)
entre
Albiano / 3.679
~10.168 ~4.564 ~13.759 ~72,68 ~5.917 ~ 2,17
8 pontos e
3.716
(1)
Valores aproximados para o trecho compreendido pelos pontos de pressão medida da linha de referência na tabela.

146
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Albiano

1 ponto na Cal 950; IS = 120%


1 ponto profundo da Cal 930; IS = 120%
Velocidade (ft/s)

~ entre 98,8 e 97 µs/ft


≅ 10.121 e 10.282 ft/s
~ 108 µs/ft ≅ 9.260 ft/s

8 pontos rasos da Cal 930; IS = 122%

Tensão efetiva (psi)


Figura 5.29: Comportamento dos pontos de PPA do poço 149 em relação à CV de Bowers. No detalhe do
canto superior direito, as pressões medidas no Albiano (não usadas na construção da CV)

8 MW 20
240 SHPDTf 40 8 PPGBO 20
RES
0 GR 200 8 CAL 20 240 DT 40 0,2 200 1 DEN 3 8 OVB 20

MD
(m)

1,11
3.014 m a
3.019 m 1,42
~ 108 µs/ft
lb/gal

0,39 lb/gal
~ 99 µs/ft
97 µs/ft
0,21 lb/gal

Figura 5.30: Trecho de perfis e PPGBO do poço 149


147
Ao entrar nas areias porosas da Cal 930 na fase de 12 ¼”, o perfil de raios gama cai e a
densidade também. O sônico diminui marcadamente (a velocidade aumenta) ao entrar no
reservatório, talvez sinalizando característica calcítica no topo.
Ao mesmo tempo, a resistividade aumenta, num indício de hidrocarboneto (nessa zona foi
encontrado óleo), também caracterizado pela queda no valor da densidade. Cerca de 10 m após ser
detectado o topo da areia, o sônico aumenta (a velocidade recua para um patamar menor)
possivelmente devido à presença do HC. O filtro de folhelhos, entretanto, ignora essas diferenças na
areia, como se pode observar na Figura 5.30.
O patamar do filtro de folhelhos do sônico na Cal 930 está em torno de 108 µs/ft (~ 9.227 ft/s),
e considerando que praticamente toda a fase mostra-se bem calibrada, acredita-se que a qualidade
desse perfil não tenha sido afetada (à exceção de um pequeno trecho de 4 m entre 3.014 e 3.019 m
que está descalibrado).
O IS da Cal 930 é um pouco mais alto (122%) se comparado ao único ponto de pressão
tomado na Cal 950 (20%), onde o poço também está bem calibrado e o patamar do filtro do sônico
em folhelhos é mais baixo (~ 97,3 µs/ft ou 10.282 ft/s). O resultado dessas diferenças, refletido na
Figura 5.29, representa o fato de a Cal 930 possuir menores valores de tensão efetiva e de
velocidade acústica em relação à zona inferior.
Nesse poço não há indicativos da ocorrência de descarregamento. Como se pode observar pela
Tabela 5.22, a tensão efetiva aumenta ao longo do trecho, o sônico diminui e a estimativa de pressão
de poros pelo Método de Eaton considerando subcompactação forneceu valores muito bons
conforme mostrado na Figura 5.9.
A estimativa de pressão pelo Método de Bowers, entretanto, se mostrou muito ruim nos pontos
de pressão medida mais rasos da Cal 930, pois superestimaram os valores medidos em cerca de 1,24
lb/gal, em média.
Para o ponto mais profundo da Cal 930 e o único ponto da Cal 950, a estimativa mostrou-se
muito boa, apresentando uma diferença de apenas cerca de 0,32 lb/gal, na média.
Nesse caso, é interessante notar uma descontinuidade na leitura dos perfis no final da fase de
12 ¼” e início da fase de 8 ½”, onde o ponto mais profundo da Cal 930 foi medido. Se essa
informação não for levada em conta, a queda na densidade (ultrapassando o mínimo da escala) e o
caliper dando falsa impressão de arrombamento na região poderiam conduzir à interpretação

148
incorreta de que a alteração dos perfis teria sido responsável por influenciar a resposta da estimativa
de pressão (nesse caso).
Já observando o detalhe da Figura 5.29, pode-se inferir conclusão análoga à dos poços 154 e
155 sobre o comportamento das pressões no Albiano (Formação Riachuelo). A CV forneceu
PPGBO que subestima a pressão medida para aquela idade, porque mostra tensão efetiva
significativamente maior que os valores reais medidos (5.917 psi contra 4.564 psi, respectivamente).
A PPGBO no Albiano foi tão menor que a pressão tomada aí extrapolou inclusive o limite inferior
da escala, tendo sido considerada irreal, com erro inaceitável (2, 17 lb/gal).

5.4. Comparação dos Métodos e Considerações Gerais

O intuito desse item ao final da análise de resultados é apresentar um resumo do trabalho e


tecer considerações gerais que balizarão as conclusões.
Este trabalho está baseado em três pilares fundamentais. O primeiro é que a pressão de poros
de uma formação só pode ser diretamente medida a partir de formações permeáveis. O segundo, é
que os métodos teóricos de estimativas de pressão de poros, atualmente disponíveis na literatura,
como Eaton (1975) e Bowers (1995), são baseados na compactação de formações impermeáveis e na
resposta de perfis elétricos. O terceiro se apoia no fato de que a melhoria do entendimento de
estimativas de pressão geradas pelos métodos teóricos exige a compreensão da relação entre os
seguintes aspectos básicos: mecanismos geradores de alta pressão, tensão efetiva, litologia /
estratigrafia e comportamento dos poços durante a perfuração.
Dentre os fenômenos resultantes de mecanismos geradores de alta pressão, ganham destaque a
subcompactação, por ser o mais frequente em escala mundial, e aqueles dos quais resulta o
fenômeno de descarregamento, pela magnitude das pressões que podem gerar e porque sua atuação
pode estar ligada a circunstâncias ainda pouco conhecidas (como a que envolve a compactação
química de argilas). Os de maior destaque foram discutidos na revisão bibliográfica e um resumo
dos mesmos foi apresentado no item 2.4.3 (p.37). Os demais foram abordados no Apêndice III.
Um dos fatos relevantes é que em regiões onde o descarregamento atua, os principais métodos
de estimativas de pressões de poros disponíveis na literatura, que levam em conta apenas a
ocorrência de subcompactação, como Eaton (1975), podem conduzir a erros significativos pela

149
desconsideração do incremento de pressão gerado por aquele fenômeno (Bowers, 1995, 2001, 2002;
Swarbrick, 2002).
Os métodos de Eaton (1975) e Bower (1995) foram aplicados em 13 poços de águas profundas
da concessão de Piranema, na Bacia de Sergipe-Alagoas, com o objetivo de investigar suas
premissas, vantagens e desvantagens e, paralelamente, analisar a ocorrência de mecanismos
geradores de pressão de poros na Formação Calumbi no Cretáceo Superior, mais precisamente no
Maastrichtiano e no Campaniano.
As curvas de pressão de poros de post mortem de cada poço foram determinadas e comparadas
com dados de pressão medida daquelas idades. Os 13 poços foram selecionados por sua abundância
de medições de pressão, pela presença do conjunto de perfis a cabo definido para o estudo e pela
ausência de influência de injeção e de produção acumulada.
Eoceno, Paleoceno e Albiano foram também analisados à luz dos resultados das estimativas de
pressões de poros fornecidas pelos métodos. Embora não tenham sido foco do estudo, participaram
indiretamente da aplicação dos mesmos devido à escassez ou ausência de dados de pressão medida
aí.
A sistemática de trabalho em geopressões adotada, na qual se insere a aplicação dos métodos,
foi descrita no fluxograma do Capítulo 4 e conduziu à análise geral a respeito das conclusões, como
descrito nos próximos parágrafos.
Em complemento a essa sistemática, foi apresentado o Índice de Sobrepressão (IS), razão
entre a pressão de poros medida no poço e a pressão hidrostática de referência, com alusão à água
doce no valor de 8,345 lb/gal (1,422 psi/m). O IS de todos os poços foi calculado para classificá-los
em normal ou anormalmente compactados. Cinco poços apresentaram IS ≤ 1,1 (IS ≤ 110%), sendo
classificados como normalmente compactados, e oito apresentaram IS > 1,1 (IS > 110%), sendo
considerados anormalmente compactados.
O cálculo deste índice partiu da necessidade de considerar cinco zonas reservatórios dentro da
Formação Calumbi, com diferentes valores de pressão, quando da aplicação do Método de Bowers.
Esse método exige a separação, sobretudo num mesmo poço, de reservatórios com comportamentos
de pressão diferentes, o que não torna sua aplicação tão rápida, fácil e ampla quanto a do Método de
Eaton. Entretanto, tal classificação acabou sendo útil também na aplicação deste último método, na
definição do grupo de poços que seria utilizado para representar a situação de compactação normal e

150
calibrar a tendência normal em folhelhos, posteriormente usada nos poços sobrepressurizados para
representar a subcompactação.
O trabalho conjunto da aplicação da sistemática citada com a aplicação dos métodos e
comparação das respostas das pressões estimadas com os dados de pressão medida com IS > 1,1 não
forneceu evidências da influência de outros mecanismos além da subcompactação no Maastrichtiano
/ Campaniano nos oito poços sobrepressurizados, como será descrito nos próximos parágrafos.
Na investigação quantitativa da possibilidade de ocorrência de transferência lateral, apenas
dois pares de poços foram avaliados por serem os únicos de um mesmo par considerados conectados
lateralmente em uma das zonas reservatório, a Cal 930 (Figura 5.5). Nos poços 3 e 149, o desnível
entre os topos dessa estrutura comunicante (21 m) não se mostrou significativo de tal forma a
resultar em diferenças consideráveis entre a pressão normal a certa profundidade e a pressão
encontrada durante a perfuração.
Na avaliação da situação mais crítica possível (em que a transferência ocorreria entre os 143 m
de desnível entre a base da Cal 930 no poço 149, com topo mais profundo, e o topo da Cal 930 no
poço 3, com topo mais raso) o acréscimo de pressão gerado por transferência lateral foi de apenas
166 psi (equivalente a 0,19 lb/gal), tendo sido considerado irrelevante enquanto mecanismo gerador
de pressão anormalmente alta.
No caso dos poços 2 e 4, a estrutura não se mostrou de fato inclinada visto que as cotas de
topo e base e as pressões medidas aí são praticamente as mesmas.
Na pesquisa do efeito de flutuabilidade (buoyancy), não foram verificadas zonas da Formação
Calumbi com extensões em profundidade e colunas de hidrocarbonetos relevantes para que o mesmo
fosse considerado mecanismo gerador atuante. A diferença, por exemplo, entre topo e base dos
reservatórios no poço 2 (47 m) e no poço 4 (41 m) gerou 54,5 psi e 47,7 psi, respectivamente, e nos
poços 3 (142 m) e 149 (122 m) gerou 164,5 psi e 141,4 psi, respectivamente, valores considerados
insignificantes nesse sentido.
No Método de Eaton a etapa de calibração da linha de tendência de compactação normal foi
considerada equivalente à etapa de construção da Curva Virgem do Método de Bowers (CV).
Ambas foram realizadas para definição dos parâmetros que melhor representam as pressões medidas
no Cretáceo Superior dos poços.
Assim como a Curva Virgem do Método de Bowers e seus limites visaram representar o
comportamento dos poços com pressão normal ou com sobrepressão devido à subcompactação,

151
observando se fugas de tendência apontavam para a ocorrência de descarga, a calibração da
tendência de compactação normal reta no Método de Eaton visou definir a inclinação que melhor
representava o comportamento dos poços nessas mesmas condições.
Nesse contexto, os parâmetros dos modelos teóricos de Eaton e Bowers que melhor
representaram as medidas reais de pressão, tanto para os poços normalmente compactados quanto
para os poços sobrepressurizados sob efeito de subcompactação23 estudados foram: expoente “n”
igual a 3 atrelado à tendência definida para os poços; coeficiente “A” e expoente “B” da equação da
CV iguais a 28,371 e 0,660, respectivamente, e limites superior e inferior da CV, respectivamente,
com os pares A = 31,208 e B = 0,660 e A = 25,534 e B = 0,660.
Ressalta-se aqui que a construção de limites da CV é uma abordagem nova, constituindo uma
contribuição deste trabalho. Ela não se encontra na descrição do método, embora tenha sido
considerada fundamental na análise, pelo Método de Bowers, de reservatórios com distintos
comportamentos de pressão.
A observação das feições tectônicas dos campos estudados sugere que a falha que divide os
blocos da concessão de Piranema, pode ter influenciado o comportamento das pressões em PRM (IS
> 1,1). Entretanto, se por um lado sua presença não foi considerada suficiente para estabelecer a
hipótese de atuação do mecanismo de tectonismo, por outro lado, também não descartou a hipótese
de existirem outras explicações para a ocorrência de tais anomalias de pressões. O que se pode
inferir é que num ambiente geologicamente complexo, a previsão da pressão torna-se mais difícil.
Entretanto, mas ainda nesse contexto, a possível influência dessa falha nas estimativas de
pressão dos poços não foi percebida por meio da resposta dos métodos. Na prática, a influência
quantitativa de alguns mecanismos, como o efeito do tectonismo e aqueles ligados à temperatura,
não pode ser diretamente mensurada nas estimativas de cálculo da pressão de poros, pela
indisponibilidade, na literatura, de métodos teóricos que calculem quantitativa e especificamente a
porção devida a esses efeitos.
No Método de Bowers, por exemplo, não foram identificadas Curvas de Descarregamento no
gráfico de velocidade versus tensão efetiva. Já no Método de Eaton, não foi necessário aumentar o
expoente “n” da equação 3.1 além daquele definido para a subcompactação, após ter sido definida
uma linha de tendência que representasse a situação de compactação normal.

23
Valores similares a estes são usuais na representação da subcompactação nos poços do Golfo do México e foram
usados na construção dos modelos teóricos criados por Eaton e Bowers em suas épocas; a saber: n = 3; A = 28,371 e B =
0,621.

152
Diante da ausência clara de indícios de ocorrência de outros mecanismos além do
desequilíbrio da compactação, pode-se dizer que aqueles parâmetros (A e B apontados antes) podem
ser usados para representar a influência, sobretudo deste mecanismo no Maastrichtiano /
Campaniano em poços sobrepressurizados na área.
Maior tempo foi dedicado à análise crítica do Método de Bowers (1995) devido a fatores
como: (a) complexidade do processo de diagnóstico para detecção de ocorrência de
descarregamento através dele, por causa da dependência da análise em relação a diversos fatores,
não comentada na exposição do método pelo autor; (b) à variedade de resultados possíveis para sua
identificação, ambos observados durante a aplicação do método aos 13 poços; (c) aplicação não tão
ampla como a do Método de Eaton; (d) literatura disponível ainda pobremente acompanhada de
questionamento a respeito das premissas que devem ser obedecidas (ou que foram assumidas).
Em função do exposto no parágrafo anterior, e como não foi detectado descarregamento nos
oito poços sobrepressurizados, este trabalho elaborou dois exemplos teóricos com base nos dados de
um deles, o poço 106.
O primeiro deles teve como objetivo ilustrar o procedimento de cálculo da curva de pressão
quando tanto uma Curva Virgem quanto uma Curva de Descarregamento são identificadas num
mesmo poço. O outro estabeleceu breve discussão teórica sobre a hipótese de que a ocorrência de
mecanismos ligados à expansão de fluidos pode mascarar a resposta de perfis de porosidade e, nesse
caso, aumentar a dificuldade de aplicação do próprio método, por dificultar a identificação da
profundidade onde começaria a atuação daquele fenômeno.
A abordagem conjunta destes dois elementos (resposta mascarada de perfis e construção do
gráfico de velocidades versus tensões efetivas) é nova, constituindo outra contribuição deste
trabalho. Sobre o tema, foi encontrada apenas uma propaganda do site da empresa Sigma 3 (de maio
de 2012), que referencia um trabalho não disponibilizado publicamente.
Trabalhos atuais como o de Goulty e Ramdhan (2012) e Goulty et al. (2012) discutem, sob
circunstâncias teóricas, a complexa avaliação em regiões onde mecanismos causadores de
descarregamento mascaram o comportamento de perfis de porosidade. Entretanto, não aplicam, na
prática, estas situações sob a ótica de construção do gráfico usado no trabalho de Bowers (1995).
Ainda durante o desenvolvimento destes exemplos teóricos foram detectados alguns requisitos
para cumprir a proposta de Bowers (1995) de normalização do parâmetro “U” da Curva de
Descarregamento (gráfico σ'cv/σ'máx vs σ'/σ'máx), também não comentadas pelo autor. São elas:

153
• quantidade mínima de poços para que uma tendência possa ser delineada (aqui sugerida como
três poços);
• presença mínima de pontos de pressão medida para caracterização do efeito de descarga e
eliminação de falsa impressão de ocorrência desse efeito ou fortalecimento da hipótese da sua
ocorrência (aqui sugerida como três pontos por poço);
• magnitude das pressões medidas deve ser diferente entre si de tal forma que a curva
normalizada apresente uma tendência para a relação (σ'/σ'máx), caso contrário será obtida uma
nuvem de pontos em torno de valores similares dessa tendência que não permitirá a definição
do valor de “U” através do gráfico.

Conforme comentado durante este trabalho, diversos fatores não ligados a aumentos de
pressão de poros foram identificados como possíveis fontes de erro para as estimativas de pressão
obtidas através de ambos os métodos. Foram usados como hipóteses possíveis, durante a aplicação
dos mesmos, para explicar a dispersão do sônico da tendência de compactação normal estabelecida,
seja através das dispersões em relação à Curva Virgem, seja em relação à tendência reta no Método
de Eaton, uma vez que este trabalho conclui pela ausência de descarregamento nos poços
sobrepressurizados avaliados e na presença de subcompactação apenas.
Exemplo destes fatores foram: (a) intensa intercalação de diferentes litologias, como folhelhos
e areias ou calcários, observadas no Cretáceo Superior; (b) alterações litológicas, como variações de
argilosidade de folhelhos, cimentação da matriz da rocha reservatório (resultando em mudanças de
porosidade) e sua composição mineralógica (como a presença de areias radioativas); (c)
comportamento diferenciado entre folhelhos do Eoceno e do Paleoceno (com velocidades acústicas
mais baixas) quando comparados com os do Cretáceo Superior (com velocidades acústicas mais
altas); (d) massa específica do fluido contido no poro da rocha e salinidade da água da formação; (e)
más condições mecânicas de poço (poço descalibrado).
Dentro desse contexto, a análise individual dos poços durante a aplicação do Método de
Bowers mostrou como a observação visual isolada do comportamento da pressão no gráfico de
velocidade versus tensão efetiva pode resultar em conclusões incorretas a respeito da ocorrência de
mecanismos além da subcompactação. Além disso, ressaltaram a importância de estabelecer os
limites superior e inferior para a CV.

154
Em presença daqueles fatores, a resposta do perfil de sônico devido a aumentos reais de
pressão pode ser obscurecida, embora para os oito poços sobrepressurizados estudados a magnitude
da sobrepressão corroborasse para a hipótese de ausência de descarga.
Ainda dentro do contexto da influência no sônico dos fatores citados, o Método de Bowers se
mostrou mais suscetível que o de Eaton, porque a CV, cuja equação baliza a estimativa de cálculo da
curva de pressão do poço pelo método, quando construída com valores pontuais de sônico filtrado
nas profundidades onde a pressão é medida, parece tornar o método instável, tendo sido aí observada
sua maior fragilidade.
Ou seja, considerando o gráfico de velocidades acústicas (no eixo “x”) versus tensão efetiva
(no eixo “y”) e sem questionar a qualidade da pressão medida (flutuação do ponto em torno do eixo
“x”), não se consegue anular totalmente a influência daqueles fatores na flutuação da velocidade,
mesmo aplicando um filtro adequado ao perfil sônico.
Esse fato exigiu, por vezes, a análise conjunta de outros fatores para que fosse descartada a
ocorrência de descarregamento, tais como: análise de perfil de caliper (principalmente), de
resistividade, de densidade, do tipo de fluido presente no reservatório etc. Em tempo, não se descarta
a hipótese de que o filtro mediana aplicado (51 pontos), embora considerado adequado, possa ter
sido insuficiente para isolar alguma influência daqueles efeitos, pelo menos no Método de Bowers,
fornecendo respostas menos claras.
Outras possíveis fontes de dúvida ou de erro observadas durante a construção do modelo de
Bowers são as leituras dos perfis de porosidade em reservatórios com hidrocarbonetos (sobretudo
gás e óleo leve), por não serem consideradas tão confiáveis como aquelas obtidas quando o fluido
presente é unicamente água. Em presença de hidrocarbonetos, a velocidade acústica pode ter seus
valores reduzidos no eixo “y”, fazendo com que o ponto no gráfico de velocidade versus tensão
efetiva se aproxime da CV, mascarando possível ocorrência de descarregamento onde a pressão
medida é alta. Exemplo de discussão sobre essa análise foi realizada nos poços 1, 3, 4 e 149.
A aplicação do Método de Bowers, através do citado gráfico, também não se revelou capaz de
fornecer respostas contundentes quando os valores de sobrepressão do campo são relativamente
baixos, estando entre 11% e 30% acima da hidrostática, como foi o caso de Piranema.
Dentro daquele limite de sobrepressão, o método mostrou-se ainda mais sensível a variações
pontuais na resposta da velocidade acústica, devido aos fatores citados nos últimos oito parágrafos.
Assim, por exemplo, numa mesma zona e num mesmo poço, onde o IS é o mesmo, não foi incomum

155
encontrar pontos flutuando em relação ao eixo “y” acima e abaixo da CV, próximos ou não a ela,
devido a comportamentos da velocidade em folhelhos afetados por má condição mecânica do poço
ou devido à presença de óleo leve ou gás (como foi o caso do poço 106 e na Cal 930 do poço 2).
A etapa de triagem de dados de pressão também se mostrou fundamental na aplicação do
Método de Bowers porque pressões medidas em formações muito interlaminadas ou em idades
geológicas que apresentem respostas diferentes em termos de velocidade acústica (por motivos não
ligados ao aumento da pressão), conforme comentado, prejudicam ou dificultam a construção do
modelo que, em sua essência, propõe a construção de apenas uma CV para o poço. Foram os casos,
respectivamente, dos poços 4 e 106 e dos poços 1, 149, 154 e 155.
Aquele método parece funcionar a contento para litologias bem comportadas sem grandes
variações ou intercalações com outras litologias. Ou seja, parece funcionar para grandes volumes de
folhelhos, em formações com velocidades acústicas compatíveis ou em porções contínuas de areias
com dados de pressão medida. Não obstante, em areias de grande espessura (da ordem de centenas
de metros), a ocorrência de efeito centroide pode atrapalhar as estimativas em folhelhos vizinhos.
Nesse caso, o uso dos 32 dados de pressão medida na Cal 950 da Formação Calumbi, que a
princípio parecia ser favorável devido à quantidade de dados disponíveis, prejudicou a construção
do modelo de Bowers, pois esta zona apresenta intensa interlaminação litológica.
Entretanto, aqui se esclarece que a etapa de triagem não deve descartar a coleta de nenhum
dado de pressão medida que não esteja sob suspeita de qualidade da aquisição, porque eles são
importantes tanto na discussão da qualidade das curvas de pressão de poros estimadas pelos métodos
em toda a extensão do poço (como foi o caso deste trabalho), quanto na realização de calibração
final das mesmas curvas pelo especialista em geopressões.
Em presença de tantas variáveis com incertezas, a realização de cálculos puramente
determinísticos nas estimativas de pressão (ou seja, a ausência de uma análise de sensibilidade das
variáveis de entrada dos métodos), dificulta a avaliação de qual parâmetro exerce maior influência
sobre os modelos de pressão e, consequentemente, a qual deles deveria ser dedicado conhecimento
mais aprofundado, tendo sido observada maior suscetibilidade do Método de Bowers, às incertezas,
do que do Método de Eaton.
Em suma, a aplicação do Método de Bowers não elimina o uso de uma abordagem mais
abrangente, devendo ser acompanhada de uma metodologia complementar de estimativa de pressão
de poros (como, por exemplo, o próprio Método de Eaton), que abranja não somente a análise das

156
características estratigráficas do poço e a resposta conjunta de perfis elétricos, mas também o
conhecimento a respeito do tipo de fluido presente no reservatório, e da existência, num mesmo
poço, de zonas reservatórios com ISs diferenciados.
Entretanto, após o estudo dos poços dos campos de Piranema e Piranema Sul, acredita-se que,
observadas as limitações e exigências para aplicação já apresentadas (e de outras possíveis
limitações que não foram identificadas por este trabalho), o Método de Bowers pode ser usado
quando se suspeita da influência de outro mecanismo de geração de pressão anormal, além da
subcompactação.
O Método de Eaton pode ser considerado mais simples, fácil de aplicar (prático), fácil de
calibrar e a análise dos resultados é menos complicada, quando comparada com a análise atrelada à
construção da Curva Virgem e de Descarga do Método de Bowers.
Sua aplicação para geração de curvas de pressões de poros não exige estar de posse de dados
de pressão medida, embora a avaliação da qualidade do perfil dessas curvas e a calibração das
mesmas, sim.
No Método de Bowers, a estratégia de fugir da construção de uma linha de tendência de
compactação normal, por meio da definição de uma equação para a Curva Virgem que vincula
dados pontuais de velocidade acústica a tensões efetivas calculadas com pressões medidas, está
diretamente ligada à existência destes dados de pressão. Isso significa que o uso do método para
previsão da curva de pressão de poros para um poço exploratório deveria estar condicionada à
existência de poços de correlação com medidas de pressão.
Foi identificada que a maior fragilidade do Método de Eaton está na dependência do traçado
de linhas de tendência, sujeita a uma série de fatores como: (a) existência de uma região rasa
normalmente compactada, que nos poços estudados não possuía dados de pressão medida, assim
como é usual na indústria; (b) coerência de calibração entre os poços estudados, tendo sido
observados, no presente estudo, no mínimo três dos seguintes fatores: lâminas d’água,
soterramentos, cronologias e litologia; (c) subjetividade na definição da sua inclinação: no caso dos
poços estudados foi traçada uma única linha de tendência para cada poço (respeitando a coerência
do item “b”), não tendo sido descartada a possibilidade de existência de outras tendências que
possam representar a compactação normal na área; (d) a já comentada qualidade / confiabilidade do
perfil indicador de porosidade sobre o qual a tendência é traçada.

157
Também agregam incertezas ao método de Eaton: (e) o valor conferido ao expoente “n” (foi
usada a estratégia de calibração de valor único para toda a profundidade dos poços); e (f) o valor da
pressão de poros normal adotado como referência (foi usado o conceito de IS normal, ou seja, 8,345
lb/gal ≤ IS ≤ 9,180 lb/gal).
Observando os fatores aqui expostos, foram buscadas estimativas de pressão para o
Maastrichtiano / Campaniano pelo Método de Eaton as mais próximas possível das pressões
medidas. O fato de haver boa calibração dos resultados, nestas idades, mesmo quando calculados em
poços perfurados em lâminas d’água rasas e profundas, com soterramentos diferentes e com
condições de pressões diferentes, aumentou a confiança no modelo usado (combinação da tendência
escolhida com o expoente n = 3) e apontou para a hipótese de ocorrência de apenas subcompactação
nos poços sobrepressurizados.
Para avaliar a qualidade da pressão estimada por ambos os métodos, foram estabelecidos
limites para a diferença entre a pressão calculada e a pressão medida: se a diferença fosse menor ou
igual a 0,7 lb/gal, a estimativa seria considerada muito boa (erro aceitável). Caso a diferença fosse
maior que 0,7 lb/gal e menor ou igual a 1 lb/gal, seria considerada boa (erro ainda aceitável).
Valores maiores que 1 lb/gal e menores ou iguais a 1,3 lb/gal seriam considerados medianos (erro
pouco aceitável) e diferenças superiores a 1,3 lb/gal seriam consideradas ruins (erro não aceitável).
Muito boas ou boas respostas no Cretáceo Superior eram esperadas: no Método de Eaton
devido à boa calibração da tendência estabelecida; e no Método de Bowers, porque a CV havia sido
desenhada com dados de sônico e de pressão medida neste período geológico.
Já para o Eoceno e o Paleoceno (abrangendo formações mais rasas) a expectativa, de forma
geral, era obter resultados entre ruins e inaceitáveis pelos mesmos motivos citados e porque o sônico
nessas idades apresentava valores mais altos que os das tendências normais do Cretáceo.
Na maioria dos poços estudados, a escassez ou ausência de dados de pressão medida no
Eoceno e no Paleoceno (que ainda apresentava medidas discrepantes) não permitiram afirmar se no
Paleoceno existe ou não uma anomalia de pressão. De todos os poços, apenas o 164 e o 1
apresentavam pressão medida no Paleoceno (respectivamente 2 e 3 pontos com IS 106% e 114%).
Nesse caso, a fuga do sônico da tendência normal pode ser resultante, por exemplo, do efeito de
variações litológicas.
No caso da aplicação do Método de Eaton, a aquisição de dados de pressão em formações
rasas serviria para diminuir as incertezas no traçado da linda de tendência normal ou para indicar a

158
necessidade ou não de realizar calibração da curva estimada (na ausência de indícios claros
reportados em boletins de perfuração). No caso do Método de Bowers, poderiam ser estabelecidas
Curvas Virgens representativas destas idades. Em ambos os casos, o resultado seria a melhoria das
estimativas naquelas idades e o aumento da qualidade da previsão em futuros poços.
Para o Albiano, o sônico em geral apresentou comportamento tendendo à normalidade. O IS
aí foi de 106% a 110%. 18 medidas de pressão estavam disponíveis nessa idade (nos poços 129,
149, 154, 155, respectivamente com 3, 8, 3 e 4 pontos medidos e com IS de 108%, 107%, 108% e
110%).
Considerando os limites de qualidade estabelecidos e o Cretáceo Superior, no Método de
Eaton as estimativas de pressão foram consideradas muito boas ou boas para os poços 129 e 142. As
diferenças entre as pressões estimadas e as medidas foram, em sua maioria, menores ou iguais a 1
lb/gal. Maiores discrepâncias foram encontradas em poucas medidas pontuais em quatro poços
sobrepressurizados (106, 1, 154 e 4).
Através da análise do poço 1 no Método de Bowers, ficou evidente como a estimativa de uma
única CV e ainda para um trecho tão curto com pressões medidas pode se tornar insuficiente para
estimar a pressão de poros em toda a extensão do poço usando o método. Sobretudo quando trechos
mais superficiais (Paleoceno, neste caso) apresentam comportamentos de velocidades distintos das
idades cujas pressões foram avaliadas.
Esse fato comprometeu a qualidade da estimativa de pressão de poros para os trechos acima de
onde a pressão foi medida e a própria flutuação da pressão em torno da CV fez com que mesmo no
Maastrichtiano / Campaniano a pressão estimada não fosse tão próxima daquela medida.
No poço 2, nos 12 pontos de pressão da Cal 930, acredita-se que o caliper arrombado tenha
influenciado o aumento dos valores do sônico, com consequente queda da velocidade acústica,
aproximando os pontos da CV (posicionando-os praticamente sobre ela) induzindo o Método de
Bowers a fornecer muito boa estimativa de pressão de poros nessa região. Na Cal 950, a presença de
três pontos de pressão medida na água (abaixo da região de HC) elevou a confiança da estimativa,
que foram consideradas muito boas, com erros entre 0,5 e 0,7 lb/gal em relação à pressão medida.
No poço 3, para os 15 pontos da Cal 930 e para os cinco pontos da Cal 950 a pressão estimada
pelo Método de Bowers foi considerada muito boa. Na primeira, houve subestimativa de 0,5 lb/gal
em apenas quatro pontos e na segunda, a subestimativa foi de 0,6 lb/gal. Nesse poço, a presença de
HC também dificultou a análise do sônico, sendo necessário observar conjuntamente o

159
comportamento da resistividade, a permeabilidade da rocha, a densidade do HC e as condições
mecânicas do poço.

160
6. CONCLUSÕES

• Os métodos de Eaton (1975) e Bowers (1995), baseados na equação de Terzaghi (1936), foram
aplicados a uma massa de dados de geoengenharia dos campos de Piranema (PRM) e
Piranema Sul (PRMS) da Bacia de Sergipe-Alagoas, com foco no comportamento das
pressões medidas no Maastrichtiano e Campaniano da Formação Calumbi, tendo sido
observada maior vantagem do primeiro.
• O Método de Eaton mostrou-se mais simples, rápido e prático, com maior fragilidade
detectada no traçado da tendência de compactação normal, devido aos fatores citados no
Capítulo 3: (a) extensão e qualidade do perfil indicador de porosidade; (b) definição da região
normalmente compactada; (c) calibração para os poços estudados, considerando coerência de
lâmina d’água, soterramento, litologia e cronologia geológica; (d) caráter subjetivo na
definição da inclinação; (e) quantidade e qualidade dos pontos de pressão medida (que
influenciam os três últimos itens).
• O Método de Bowers mostrou maiores exigências de uso e limitações, além de aplicação mais
complexa e demorada em função da maior dependência em relação a diversos fatores não
ligados à pressão e da variedade de resultados possíveis para eliminação ou identificação de
ocorrência de descarregamento através da velocidade sônica. Tais fatores, que tornam o
método sensível a instabilidades da velocidade nas profundidades onde a pressão é medida,
são: (a) intercalação de diferentes litologias (quando intensa); (b) alterações litológicas
resultando em mudanças de porosidade (como variações de argilosidade de folhelhos,
cimentação da matriz da rocha reservatório) e sua composição mineralógica (como a presença
areias radioativas); (c) comportamento diferenciado do perfil sônico entre idades / épocas
diferentes; (d) massa específica do fluido contido no poro da rocha e salinidade da água da
formação; (e) más condições mecânicas de poço (Capítulo 3).
• O Método de Bowers, diferente do Método de Eaton, não pode ser aplicado no cálculo de
curvas de poro-pressão em locações exploratórias na ausência de poços correlatos ou, em sua
presença, quando os mesmos não possuírem dados de pressão medida, mesmo de posse das

161
suas velocidades sísmicas, pela impossibilidade, nesses casos, de construção da Curva Virgem
(CV) ou de Descarga (Capítulo 3).
• Dentro do contexto da influência no sônico dos fatores citados, o Método de Bowers se
mostrou mais frágil e instável que o de Eaton porque a construção da CV se apoia em valores
de sônico filtrado nas profundidades onde a pressão é medida. Não foi descartada a hipótese
de que o filtro mediana aplicado (51 pontos de folhelho) pode ter sido insuficiente para isolar a
influência de tais efeitos, pelo menos no Método de Bowers, tendo fornecido respostas menos
claras em relação à não ocorrência de descarregamento, e portanto exigindo a análise conjunta
de outros fatores para que fosse descartada (como análise dos perfis de caliper, resistividade e
densidade e do tipo de fluido presente no reservatório) (Capítulo 5).
• Para a aplicação do Método de Bowers, sugere-se a construção de limites superior e inferior
para a CV a fim de representar o comportamento dos poços com pressão normal. Trata-se de
uma adaptação ao método, que não previu sua construção (Capítulo 4).
• Foi apresentado o Índice de Sobrepressão (IS) como a razão entre a pressão de poros medida
do fluido contido na rocha e a pressão de poros da água doce de referência, no valor de 8,345
lb/gal (1,422 psi/m = 0,433 psi/ft = 0,1 kgf/cm2/m) medida nas condições ambiente de
temperatura e pressão (1 atm e 25°C). Sua utilização foi uma das soluções que viabilizou o uso
do Método de Bowers para avaliar reservatórios com distintos comportamentos de pressão,
caso de PRM e PRMS. O IS também permitiu admitir certa salinidade na água doce de
referência, uma vez que varia entre 8,345 lb/gal até 9,180 lb/gal para os casos de normalidade
de pressão. Trata-se de uma adaptação ao método, que não previu sua aplicação nesse tipo de
situação (Capítulo 4).
• Dentro dos limites de sobrepressão apresentados pelos poços do campo de PRM,
considerados, por este trabalho, relativamente baixos, estando entre 10% e 30% acima da
hidrostática, o Método de Bowers mostrou-se mais sensível que o Método de Eaton a
variações pontuais na resposta da velocidade acústica (Capítulo 5).
• O conjunto da aplicação da sistemática de trabalho em geopressões com a aplicação de ambos
os métodos e comparação das respostas das pressões estimadas com os dados de pressão
medida não forneceu evidências concretas da influência de outros mecanismos além da
subcompactação naquelas idades geológicas nos oito poços sobrepressurizados como: (a)
comportamentos fora dos limites de normalidade estabelecidos para a CV, com redução de

162
tensão efetiva; (b) reversões de velocidade que levassem à conclusão de descarregamento; (c)
discordância entre a flutuação da pressão em torno da CV e o expoente “n” estabelecido para a
subcompactação naqueles campos e (d) ocorrência de diferenças significativas de pressão
devido à transferência lateral ou efeito de flutuabilidade (Capítulo 5).
• Os parâmetros dos modelos teóricos de Eaton (1975) e Bowers (1995) que melhor
representaram as medidas reais de pressão, tanto para os poços normalmente compactados
quanto para os poços sobrepressurizados sob efeito de subcompactação foram: expoente “n”
igual a 3 atrelado à tendência de compactação normal definida para os poços; constante de
Biot α = 1 na equação de Terzaghi; equação da CV com coeficiente “A” e expoente “B”
respectivamente iguais a 28,371 e 0,660, e limites superior e inferior, respectivamente
representados pelos pares A = 31,208 e B = 0,660 e A = 25,534 e B = 0,660 (Capítulo 5).
• Acredita-se que, para os poços estudados, ocorre o inverso do que seria esperado em relação à
normalidade de comportamento de pressão com a profundidade: os sedimentos mais jovens,
do Terciário (Paleoceno) apresentam valores mais altos, entre (106% < IS < 114%), por
motivos que podem ou não estar ligados a aumento de pressão de poros, mas o comportamento
tende à normalidade na medida em que se avança para formações mais antigas, do Cretáceo
Inferior (Albiano), passando por zonas sobrepressurizadas no Cretáceo Superior
(Maastrichtiano e Campaniano) apenas em alguns poços (Capítulo 5).
• Após o estudo dos poços de PRM e PRMS, acredita-se que somente observando as limitações
e exigências para aplicação apresentadas neste trabalho (e de outras que possam não ter sido
identificadas aqui), o Método de Bowers (1995) pode ser usado com segurança quando se
suspeita da influência de outro mecanismo de geração de pressão anormal além da
subcompactação. O estudo deve considerar:
o que a observação visual e isolada do comportamento do par velocidade – tensão efetiva
em torno da CV ou da Curva de Descarregamento pode levar a conclusões incorretas
sobre a ocorrência apenas de mecanismos geradores de sobrepressão;
o que é necessário estabelecer os limites superior e inferior para a flutuação do
comportamento de normalidade da pressão em torno da CV;
o as diferenças de velocidade acústica entre idades geológicas no traçado da CV
(intercalações de litologias diferentes, diferenças de cimentação de matriz e de processos
de sedimentação, porosidade etc.);

163
o que é possível que um poço precise de mais de uma CV para ser representado e que a
construção dessa curva depende da existência de dados de pressão medida em trechos
diferentes ao longo da sua extensão;
o que formações reservatórios com diferentes comportamentos de pressão de poros, ou
seja, com IS diferentes, devem ser analisadas separadamente em termos de construção
da CV;
o a qualidade do perfil de caliper na região de folhelhos adjacentes aos reservatórios onde
as pressões são amostradas e a presença de hidrocarbonetos;
o a sugestão de construção da Curva Normalizada de Descarga com, no mínimo, três
poços, com no mínimo três dados de pressão medida cada, com comportamentos
distintos em termos de IS de tal forma que a curva normalizada apresente uma tendência
para a relação (σ'/σ'máx);
o a substituição da V0 na equação da Curva de Descarregamento por valor que melhor
represente os poços estudados, pois não é razoável a construção dessa curva com valor
que a faz retornar à 5.000 ft/s onde a σ' = 0, pois nesse estado de tão alta pressão a
velocidade acústica na rocha não pode ser restaurada ao valor da água do mar.
• A estimativa de uma única CV e ainda para um trecho curto com pressões medidas pode se
tornar insuficiente para estimar a pressão de poros em toda a extensão do poço usando o
Método de Bowers. Sobretudo quando há trechos com comportamentos de velocidades
distintos das idades usadas para definição da CV. Esse fato comprometeu a qualidade da
estimativa de pressão de poros para os trechos acima e abaixo de onde a pressão foi medida
(Capítulo 5).
• A realização de cálculos puramente determinísticos nas estimativas de pressão (ou seja, a
ausência de uma análise de sensibilidade das variáveis de entrada dos métodos) em presença
de tantas variáveis incertas com influência no perfil sônico, torna subjetiva a avaliação de qual
parâmetro exerce maior influência sobre os modelos de pressão. E, consequentemente, a qual
deles deveria ser dedicado conhecimento mais aprofundado, tendo sido observada maior
suscetibilidade do Método de Bowers (1995), às incertezas, do que do Método de Eaton
(1975) (Capítulo 5).

164
7. RECOMENDAÇÕES

São feitas as seguintes sugestões para futuros trabalhos:

• Realizar estudo das pressões de outras concessões da Bacia de Sergipe-Alagoas (inclusive nas
concessões exploratórias, em momento oportuno) para continuar a investigação do seu
comportamento na Formação Calumbi, em Sergipe:
o prosseguir a pesquisa da distribuição da sobrepressão e do Índice de Sobrepressão, ou
seja:
a. estudar a magnitude das pressões e investigar a hipótese de existência de seu
crescimento em direções ou zonas preferenciais;
b. investigar se a origem da sobrepressão ocorre dentro de uma sequência estratigráfica
distinta daquela englobada pela Formação Calumbi;
c. investigar a hipótese de ocorrência de diagênese de argilas na formação geradora
abaixo da Calumbi, como possível mecanismo gerador de sobrepressão.
• Aplicar a sistemática de trabalho utilizada nesta dissertação e os métodos investigados para
gerar curvas de pressão de poros para os poços dos Campos de Dourado e Guaricema, onde os
ISs são mais elevados que nos campos de Piranema:
o investigar a ocorrência de descarregamento através do Método de Bowers;
o testar a hipótese de que o valor do IS influencia a busca por evidências desta ocorrência.
• Verificar a influência do uso de outros valores de filtro mediana em folhelhos no perfil de
porosidade utilizado, na resposta da pressão de poros pelos métodos.
• Estudar a influência do uso de constante de Biot com valor diferente de 1 (um) aplicada ao
cálculo da pressão de poros, com impacto na equação de Terzaghi.
• Realizar a calibração das curvas de pressão de poros estimadas pelos métodos para os poços
estudados, a fim de disponibilizar os gradientes finais de pressão de post mortem.
• Estudar formas de introduzir uma abordagem probabilística e heurística de incertezas nas
variáveis de entrada dos métodos de estimativas de curvas de geopressões, para gerar cenários
P10, P50 e P90 possíveis para essa e outras bacias.

165
• Estudar formas de automatizar e padronizar a geração de linhas de tendência de compactação
normal retas ou curvas em programas computacionais preditivos de pressão de poros, para
minimizar ou eliminar erros decorrentes da interpretação humana, aumentando, com rapidez, a
precisão e a qualidade dessas curvas para que tenham no mínimo a qualidade de resultado que
seria fornecido por um analista de pressão de poros. Um exemplo seria o uso da abordagem
computacional de Documentos Ativos (ou do inglês, Active Design Documents) no processo
de aquisição de informação e conhecimento.

166
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178
Apêndice I Tensões

O estado de tensões ao qual está submetida uma rocha em subsuperfície pode ser
inicialmente considerado em equilíbrio. No momento em que o poço é perfurado e a rocha
removida, esse estado de equilíbrio no subsolo se altera nas paredes do poço e sua vizinhança.
Para recompor esse equilíbrio, é usado fluido de perfuração. Entretanto, essa não é uma tarefa
simples. Ela passa pela definição das tensões in situ da formação, do estabelecimento de um
sistema de coordenadas e da direção do poço.
Campos (1983) discute em detalhes o tema “tensões” no contexto de Engenharia de
Petróleo com base na teoria da Elasticidade e no conceito de tensão efetiva de Terzaghi (1936).
Descreve as tensões desenvolvidas nas vizinhanças de poços de petróleo, bem como as alterações
e redistribuições dessas tensões provocadas pela presença de poços propriamente ditos, pela
pressão em seu interior e pelo fluxo de fluidos no meio poroso. Com as equações apresentadas
pelo autor, é possível estimar tensões subsuperficiais; prever a pressão de quebra em um
fraturamento e a pressão de propagação de uma fratura; dimensionar fluidos de perfuração de
modo a evitar desmoronamento ou quebra da formação e estimar constantes elásticas das rochas
usando dados de pressão obtidos durante operações de fraturamento.
Conforme mencionado no item Introdução, os conceitos citados no primeiro parágrafo são
importantes na estimativa de geopressões. Isso porque a determinação em si do estado de tensões
atuantes na parede do poço pode levar ao entendimento de como ele pode conduzir a problemas
ligados a sua estabilidade durante a perfuração, com consequentes perdas de tempo, dinheiro e
segurança. Além disso, em conjunto com a pressão de poros, é a relação do estado de tensão com
a resistência da rocha que define os limites de pressão dentro dos quais o poço pode ser perfurado
(janela operacional).
O objetivo desse Apêndice é apresentar simplificadamente os conceitos de tensões, fratura e
colapso no contexto de geopressões. Ainda que não tenham sido abordados no trabalho, são tão
importantes quanto pressão de poros e de sobrecarga, foco deste estudo.
Segundo AadnØy & Looyeh (2010), as tensões atuantes em subsuperfície podem ser
classificadas em normais ou cisalhantes. A Figura I.1 apresenta um esquema ilustrativo dessa
classificação:
179
Normais (σ)

Cisalhantes (τ)

Figura I.1: Figura esquemática dos dois tipos de tensões em um sistema tridimensional

Tensões normais são aquelas cuja direção é perpendicular ao plano considerado. Quando se
observam as tensões atuantes num ponto e se consideram sistemas de eixos ortogonais
coordenados, existe um sistema em que as tensões cisalhantes são nulas, restando apenas as
tensões normais. Nesse caso, elas são também chamadas de principais: principal vertical (σv) ou
de sobrecarga (σOVB), principal horizontal maior (σH) e principal horizontal menor (σh), como
ilustrado na Figura I.2:

σv = σOVB

σh

σH

Figura I.2: Figura esquemática de tensões normais (principais) num sistema coordenado em que as tensões
cisalhantes são nulas

As tensões normais principais podem ser subdivididas em:


• Tensões Trativas ou Sistema de Extensão ou Distensão: numa convenção usual de sinais,
usada, por exemplo, em geotecnia24 e mecânica das rochas, são consideradas negativas,

24
Geotecnia é a aplicação de métodos científicos e princípios de engenharia para a aquisição, interpretação e uso do
conhecimento dos materiais da crosta terrestre. Abrange as áreas de mecânica dos solos e mecânica das rochas e
muitos dos aspectos de engenharia da Geologia, Geofísica, Hidrologia e ciências afins.

180
ponderando o tempo geológico. Nelas, a tensão vertical é maior que a tensão horizontal máxima,
que, por sua vez, é maior que a horizontal mínima:
σv > σH > σh I.1
São exemplos desse tipo de tensão as falhas normais, também chamadas gravitacionais (do
termo em inglês normal faults) e falhas por fraturas.

• Tensões de Compressão: pela mesma convenção de sinais e ponderando o tempo geológico,


são consideradas positivas. Nelas, a tensão horizontal máxima é a maior tensão, superando a
vertical e a horizontal mínima:
σH > σv > σh: Sistema de Tensões Transcorrentes I.2
σΗ > σh > σv: Sistema de Tensões Reverso I.3
São exemplos desse tipo de tensão as falhas inversas, também chamadas de reversas ou de
empurrão (do termo em inglês thrust faults) e falhas por colapsos das paredes do poço.

As tensões cisalhantes são aquelas cuja direção é paralela ao plano considerado. Enquanto
as tensões normais são responsáveis pela variação de volume dos sólidos, as tensões cisalhantes
são responsáveis pela distorção na forma dos mesmos.

Os nomes dados às falhas são relacionados ao movimento que blocos adjacentes sofrem.
Assim, se os blocos se movimentam verticalmente, movendo-se para cima ou para baixo, as
falhas são ditas normais ou inversas. Se se movem horizontalmente, são ditas transcorrentes.
Das definições acima, pode-se classificar os sistemas de falhas em dois tipos principais
relacionadas a valores excessivos ou insuficientes de massa específica equivalente de fluido de
perfuração:
• Falhas por Tração, que ocorrem devido a esforços de tração, quando os valores da pressão
de fratura superior ou inferior são atingidos;
• Falhas por Cisalhamento, que ocorrem devido a esforços compressivos, quando os valores
da pressão de colapso superior ou inferior são atingidos.

Segundo AadØy e Looyeh (2010) e Campos (1983), por definição, pressão de fratura da
formação é a aquela requerida para causar a fratura da rocha por tração a uma dada profundidade.

181
Rocha e Azevedo (2009) definem pressão de fratura superior como a pressão que causa a fratura
superior da rocha por tração. Considerando o interior de um poço perfurado, isso ocorreria “se a
massa equivalente de fluido de perfuração tiver valor equivalente ou superior ao valor da pressão
de fratura superior”. Analogamente, pressão de fratura inferior seria aquela que causa a fratura
inferior da rocha por tração, devido a valor de massa equivalente de fluido dentro do poço igual
ou menor ao valor da pressão de fratura inferior. Segundo os mesmos autores, raciocínio
equivalente se aplica às falhas por cisalhamento nas definições de pressões de colapso superior e
inferior.
Como mencionado antes, são a pressão de poros e a relação entre o estado de tensões nas
paredes do poço com a resistência da rocha que definem os limites de pressão da janela
operacional da perfuração. E, nesse caso, para entender que problemas podem ocorrer, é
necessário entender os critérios de ruptura que podem levar à falha da rocha (para consulta mais
aprofundada recomenda-se o Capítulo 5 de AadØy & Looyeh, 2010).
Um bom exemplo disso é a observação, durante a perfuração, da geometria dos cascalhos
na peneira. É possível perceber se o poço está sendo perfurado com sub-balanceio ou se estão
sendo perfuradas zonas sobrepressurizadas pela identificação de processos de ruptura das paredes
do poço (por cisalhamento ou tração), e em seguida tomar providências adequadas ao problema
envolvido.
Assim, folhelhos em forma de lascas ou lascados (Figura I.3), em geral, possuem formato
angular, com aspecto mais pontiagudo e fino, com faces aproximadamente paralelas. Sua
superfície também pode apresentar estrutura de pluma. Em geral, são resultado de falhas por
tração, sendo muitas vezes associado a zonas anormalmente pressurizadas ou a sub-balanceio do
poço. A solução é aumentar a massa específica do fluido de perfuração.
Já cascalhos desmoronados (Figura I.4) possuem aspecto combinado entre angular e
retangular, com faces não paralelas muitas vezes curvo-planas, cisalhadas. São mais espessos
quando comparados com folhelhos lascados. Em geral são resultado de falhas por cisalhamento
(devido ao alívio de tensões com colapso das paredes do poço) e de peso de lama também
insuficiente, porém não de zonas sobrepressurizadas. A solução é aumentar a massa específica do
fluido de perfuração para equilibrar o estado de tensões das paredes, mas também pode ser
melhorar a limpeza do poço (melhorar a circulação de cascalhos no anular).

182
Vale ressaltar, entretanto, que neste trabalho não foi realizada a avaliação da geometria dos
cascalhos dos poços.

faces aproximadamente paralelas

origem
da
ruptura
cascalhos
finos

Figura I.3: Exemplos da geometria de cascalhos lascados, característicos de zonas sobrepressurizadas e


resultantes de falha por tração

183
geometria ovalada ao redor do
poço devido ao
desmoronamento por
cisalhamento (ou do inglês,
breakout)

faces não paralelas, curvo-planas

Figura I.4: Exemplos da geometria de cascalhos desmoronados resultantes de falhas por cisalhamento

184
Apêndice II Esquema Ilustrativo da Compactação Normal e da
Subcompactação

Figura II.1: Esquema ilustrativo dos processos de compactação normal e subcompactação


(AadØy & Looyeh, 2010; Rocha e Azevedo, 2009, modificadas)

Situação 1: Compactação Normal


σOVB1 σOVB2 σOVB3 Antes da compactação:
σ i' = σ OVB − PP

σh1 σh2 Considerando a


σh3
compactação normal,
σH σH2 σH temos: PP = PH
Aumento das tensões com
Após a compactação
aumento da drenagem de
normal:
fluido
σ 'f = σ OVB − PH = σ i'

PP = PH PP = PH PP = PH

Situação 2: Subcompactação
σOVB1 σOVB2 σOVB3 Antes da
subcompactação:
σ i' = σ OVB − PP
σh1
σh2 σh3
Considerando a
σH σH2 σH subcompactação, temos:
PP = PH + ∆P
Aumento das tensões sem
aumento da drenagem de
fluido
Após a subcompactação:
σ 'f = σ OVB − PH − ∆P
Nesse caso, a σ'f é maior
que σ'i ou igual a ela.
PP = PH PP = PH PP > PH

Legenda:
σ'i = tensão efetiva inicial, psi
σ'f = tensão efetiva final, psi
σOVB = tensão vertical ou de sobrecarga (σOVB1 < σOVB2 < σOVB3), psi
σH = tensão horizontal maior (σH1 < σH2 < σH3), psi
σh = tensão horizontal menor (σh1 < σh2 < σh3), psi
PP = pressão de poros, psi
PH = pressão hidrostática do fluido, psi
185
186
Apêndice III Mecanismos Geradores de Sobrepressão Além da
Subcompactação

III.1. Mecanismo relacionado à Tensão: Tectonismo

Segundo Chilingar et al. (1989), o tectonismo é uma denominação geral dada a qualquer
movimento compressivo da crosta terrestre com origem em processos tectônicos. Esses
movimentos podem ser (a) horizontais ou laterais (orogenéticos) ou (b) verticais (epirogenéticos).
Os movimentos horizontais podem ser entendidos como o conjunto de processos que
envolvem atividades tectônicas regionais ou locais que ocorrerem, em geral, de forma rápida,
pela deformação compressiva da litosfera continental, como falhas, dobramentos,
escorregamentos laterais, diápiros de sal, abalos sísmicos etc.
Swarbrick e Osborne (1998 e 2002) comentam que a parcela da compressão horizontal
parece ser pequena em margens continentais passivas e áreas intratectônicas, mas pode, por
exemplo, contribuir para geração de sobrepressão em sequências não formadas de bacias
sedimentares onde as rochas não dobram nem falham.
Já os movimentos compressivos verticais podem ser definidos como movimentos cujo
sentido é ascendente ou descendente, atingindo vastas áreas continentais, porém de forma lenta,
inclusive ocasionando regressões e transgressões marinhas.
Os mesmos princípios de geração de sobrepressão que se aplicam ao mecanismo da
subcompactação (incompleta expulsão de fluidos e redução do volume poroso), aplicam-se ao
tectonismo.
Entretanto, a atividade tectônica modifica de forma tão rápida o campo de tensões atuantes
em uma região (tanto a intensidade quanto a direção) que pode resultar em forças compressionais
maiores do que aquelas decorrentes da subcompactação, ou seja, pode gerar pressões anormais de
magnitudes maiores.
Em realidade, a ocorrência de tectonismo também pode levar ao fraturamento ou falha da
rocha de forma a liberar as pressões, reestabelecendo o regime de pressão de poros, caso elas
resultem em dreno efetivo e não em selo. Ou seja, é possível que nesses casos, a estrutura original

187
do reservatório e de formações selantes adjacentes seja modificada, mantendo ou liberando
pressões (Yassir e Addis, 2002; Rocha e Azevedo, 2009).
Na prática, a influência quantitativa deste mecanismo no cálculo de pressão de poros não
pode ser diretamente mensurada pela indisponibilidade, na literatura, de métodos teóricos de
estimativas de pressões de poros. A hipótese da sua influência, entretanto, pode ser inferida, por
exemplo, do estudo de sessões sísmicas ou do estudo das tensões verticais e horizontais atuantes
em uma região.
Duas alternativas para simular o efeito dessa influência na pressão estimada são: (a) alterar
determinados parâmetros nos modelos teóricos de cálculo de pressão de poros (como, por
exemplo, o expoente “n” do modelo teórico de Eaton) ou (b) identificar uma fuga de tendência da
subcompactação através da construção do gráfico de velocidade versus tensão efetiva ou de
velocidade versus densidade. Estas alternativas estão discutidas no Capítulo 3.
Yassir e Addis (2002) comentam que o aumento das tensões verticais e horizontais
necessariamente resulta em sobrepressão em sedimentos normalmente consolidados e de baixa
permeabilidade e que a sobrepressão gerada pode ser muito maior que aquela gerada pela rápida
sedimentação.
Comentam, ainda, as dificuldades na previsão da pressão em áreas geologicamente
complexas, onde a variabilidade de relações porosidade versus pressão de poros versus tensão
para diferentes mecanismos geradores de sobrepressão (sobretudo em ambientes sob influência
de tectonismo) apontam para a necessidade de criação de novos modelos preditivos de gradientes
de pressão e de métodos que considerem riscos e incertezas nessa área.
Os autores citam o trabalho de Henning (2002) para afirmar que a tectônica confinada (não
drenada) pode resultar em sobrepressão sem impacto nas propriedades dos perfis em folhelhos.
Nesse caso, seria preciso dispor de sísmica e de dados de pressão.

III.2. Mecanismos relacionados à Expansão de Fluidos

Nos próximos itens serão analisados os mecanismos relacionados à expansão de fluidos:


expansão térmica da água, diagênese de argilas, geração de hidrocarbonetos e craqueamento de
óleo e betume a gás.

188
III.2.1 Expansão Aquatermal

Os efeitos térmicos foram estudados teoricamente por Lewis e Rose (1970). Os autores
defenderam a ideia de que argilas em zonas de alta pressão são subcompactadas e aprisionam
uma quantidade maior de água em relação a outras argilas não subcompactadas na mesma
profundidade, sendo também pobres condutoras de calor. Sugeriram com isso, que elas teriam
temperatura maior que as rochas vizinhas e que o aumento da temperatura favoreceria a
pressurização da água dentro de um volume isolado de rocha, da ordem de aproximadamente 200
psi/°C.
Ou seja, se a temperatura aumentasse 5° C, seria gerado um excesso de pressão de 1.000
psi. Usualmente, a Petrobras adota como valor usual de gradiente normal de temperatura 35
°C/km.
‘Expansão aquatermal’ (do inglês aquathermal pressuring ou aquathermal expansion) foi o
termo proposto por Barker (1972) para o mecanismo de expansão da água devido ao aumento da
temperatura gerando altas pressões de poros. Em seu estudo teórico sobre o assunto, o autor
discutiu as consequências do tempo geológico no isolamento de formações sobrepressurizadas,
de forma a somar o efeito da influência da temperatura na busca por uma explicação a respeito da
geração dessas pressões anormais. Enfatizou a importância da pressurização por expansão
térmica da água quando um volume isolado de sedimentos era submetido a aumento de
temperatura durante o soterramento.
Usando a costa norte do Golfo do México como exemplo, o autor destacou ali o contínuo
processo de deposição, defendendo a ideia de que qualquer isolamento de uma potencial
formação de alta pressão num tempo geológico significativamente antes do presente significaria
que o isolamento ocorreu em profundidades mais rasas do que a profundidade atual. Isso
corresponderia à menor compactação de argilas e menor salinidade da água de formação, já que a
salinidade geralmente aumenta com a profundidade. O mesmo raciocínio seria válido para a
temperatura: o isolamento teria ocorrido numa temperatura menor do que a temperatura do
presente.
Barker (1972) propôs também um diagrama pressão x temperatura x densidade da água,
usando gradiente geotérmico de 25°/km, típico da costa da Louisiana, para avaliar estes efeitos.
Propôs que um gradiente geotérmico de pelo menos 15°C/km é necessário para que a expansão

189
aquatermal contribua significativamente para o aumento da pressão de poros, e que a influência
do gradiente seria tanto maior quanto maior fosse seu valor.
O autor concluiu que para maiores gradientes geotérmicos, menores incrementos de
profundidade são necessários para gerar os mesmos incrementos na pressão de poros. Também
concluiu que o mecanismo de expansão térmica da água é um possível gerador de pressão
anormal.
Fez uso da seguinte argumentação: “já que a expansão térmica da água é muito maior que a
do sólido da matriz porque o coeficiente de dilatação de um fluido é maior que o da rocha, o
fluido se expandiria mais que a rocha, causando aumento de pressão de poros e redução da tensão
efetiva. Excesso de pressão seria gerado sob aumento de temperatura se o sistema fosse
completamente isolado”.
Barker (1972) discutiu ainda, mesmo que superficialmente, a transformação mineral que
ocorre com a liberação da água doce e como esta pode ser responsável tanto por elevar a pressão
do fluido, como promover significativa perda de pressão (pela abertura de fraturas e liberação da
pressão).
Shi e Wang (1986), por sua vez, argumentaram que essa afirmação de Barker (1972)
somente seria verdadeira se o volume de poros não mudasse ao ser submetido a mudanças de
tensões efetivas. Entretanto, na realidade, todas as relações até então conhecidas entre porosidade
e tensão efetiva mostravam que a porosidade diminuía com o aumento da tensão efetiva.
Além disso, considerando que a compressibilidade da rocha é maior que a da água na
maioria das rochas sedimentares, o aumento da porosidade devido à diminuição da tensão efetiva
enfraqueceria a efetividade do efeito térmico mesmo em um sistema completamente isolado.
Dessa forma, quanto maior a compressibilidade da rocha, menor seria o efeito térmico e vice-
versa, concluíram aqueles autores.
Luo e Vasseur (1992) deram uma contribuição significativa ao tema, porque apresentaram
um modelo matemático para simplificar as complexas equações que descrevem as bacias
compactadas (modelo hidrodinâmico baseado na solução de equações simultâneas, sobretudo a
Equação de Darcy e a relação porosidade e profundidade de Athy de 1930).
O modelo propunha avaliar de forma direta a contribuição dos efeitos térmicos no
desenvolvimento de altas pressões. Para isso, os autores consideraram alguns parâmetros
representativos de ambientes geológicos: (a) coeficiente de compactação; (b) taxa de

190
soterramento ou deposição de sedimentos; (c) gradiente geotérmico e (d) condições de
isolamento da rocha (selo).
Valores extremos foram usados para cada parâmetro porque, segundo os autores, muitos
pesquisadores consideravam que “sob condições geológicas ordinárias, a permeabilidade não é
pequena o suficiente para formar eficientes condições de selo de modo que o mecanismo de
expansão aquatermal contribua suficientemente para o excesso total de pressão” (p. 1.552).
“Como em muitos ambientes geológicos o efeito deste mecanismo é muito menor que o efeito da
subcompactação em termos de excesso de pressão (..)”, os cálculos foram feitos em duas etapas:
a primeira considerando apenas a subcompactação, e a segunda considerando os dois mecanismos
atuando juntos.
Além disso, no modelo matemático daqueles autores, os valores de cada parâmetro foram
variados em experimentos separados, de modo que a influência do efeito térmico pudesse ser
observada no crescimento da pressão de poros.
Ao discutir os resultados, os autores indicaram que, sob condições gerais, incluindo
condições extremas que pareciam favoráveis à influência do efeito da expansão aquatermal, esse
mecanismo não tinha intensidade capaz de exercer um importante papel no desenvolvimento do
excesso de pressão. Isso significaria que, em um ambiente geológico geral, “a porosidade diminui
devido ao mecanismo de compactação e a situação de selo correspondente não seria suficiente
para permitir que o efeito térmico influenciasse a pressão a ponto de gerar uma sobrepressão” (p.
1.554).
Considerando a possibilidade de redução da permeabilidade pela diagênese química em
folhelhos, o modelo matemático dos autores multiplicava a permeabilidade por 10-n (onde n = 1,
2 etc) para profundidades de soterramento superiores a 1.500 m, ou seja, “a profundidade média a
partir da qual pode começar a ocorrer a transformação química de esmectita em ilita”.
Usando diferentes coeficientes de selo, observaram que se a permeabilidade é reduzida de
uma magnitude (n = 1), o excesso de pressão aumenta significativamente, mas incrementos
adicionais de magnitude n > 4 não resultam em aumento de pressão comparável e, nesse caso, as
pressões calculadas e o efeito da expansão aquatermal são muito similares “significando que os
sedimentos podem ser considerados como completamente selados a partir de n > 4” (p. 1.554).
Em outras palavras, mesmo que uma camada de argila fosse praticamente impermeável, o
excesso de pressão devido à expansão aquatermal não aumentaria muito e teria um pequeno papel

191
no desenvolvimento de pressões anormalmente altas, menor que o esperado inclusive por muitos
outros autores como o próprio Barker (1972).
Luo e Vasseur (1992) também discutiram os estudos de Barker (1972), o qual, conforme
comentado, propôs que um gradiente geotérmico de pelo menos 15°C/km seria necessário para
que o mecanismo da expansão térmica da água contribuísse de modo significativo para o
aumento da pressão de poros. No modelo matemático desses autores, os resultados mostraram
que à medida que o gradiente de temperatura aumentava, o efeito da expansão térmica da água de
fato aumentava (embora levemente), mas ao mesmo tempo a pressão de poros total decrescia.
Essa redução ocorreria devido à redução da viscosidade com a temperatura, que afetaria a
difusão e, nesse caso, o excesso de pressão causado pela expansão térmica da água seria tão
pequeno que não seria capaz de compensar a diminuição da pressão devido ao efeito da redução
da viscosidade, mesmo com um gradiente geotérmico de 50°C/km.
Para testar o efeito da taxa de soterramento e seus efeitos na evolução da pressão, os
autores testaram quatro valores (50, 100, 500 e 1.000 m/milhões de anos), mantendo fixos os
valores da constante de compactação (c) em 0,0004 m-1 e do gradiente de temperatura em
30°C/km.
Colocaram em um gráfico de pressão x profundidade os resultados com as diferentes taxas
de soterramento. As curvas mostraram que quando a taxa de soterramento aumenta a pressão de
poros também aumenta, mas que sob nenhuma daquelas condições de soterramento o excesso de
pressão é significativamente afetado pela expansão térmica.
Já o parâmetro constante de compactação foi considerado como o de maior impacto dentre
os quatro avaliados na evolução da pressão de poros, por exercer influência na permeabilidade e
na porosidade dos sedimentos. Os cálculos demonstraram que o aumento desse parâmetro de fato
aumenta a pressão de poros, embora essa influência não seja facilmente detectada e, que, por
outro lado, quanto maior o valor da constante de compactação, menor a influência da expansão
térmica.
Esses resultados contradizem os estudos de Magara (1975), que enfatizava que se a
constante se tornar grande o suficiente criará uma permeabilidade baixa tal, que o excesso de
pressão produzida será alto e, como resposta, uma fração desse total de pressão gerada será
devido à expansão térmica.

192
Luo e Vasseur (1992) fizeram observações de campo e laboratório e concluíram que, para c
= 0, a porosidade diminui com o aumento da tensão efetiva mesmo que a deformação não seja
reversível. Em relação ao diagrama da água proposto por Barker (1972), afirmaram que ele não
poderia ser usado de forma direta para estudar o efeito do mecanismo térmico de expansão da
água. Esta observação também foi feita por Shi e Wang (1986).
Em suma, aqueles autores concluíram que de forma geral, em ambientes geológicos reais, a
expansão térmica de argilas não tem papel importante na ocorrência de pressões anormais. Além
disso, selos de melhor qualidade tendem a aumentar a pressão de poros, mas não são capazes de
oferecer condições suficientes para manter efeito térmico significativo. Dessa forma, em estudos
práticos de geopressões, este mecanismo poderia ser negligenciado.
Um ano depois da publicação dos estudos de Luo e Vasseur, Miller e Luk (1993)
promoveram uma discussão do modelo matemático proposto por aqueles autores. Eles
argumentaram que as equações fundamentais usadas como premissas na proposta não consideram
completamente as condições nas quais a tensão efetiva dos sedimentos é reduzida. E afirmaram
que aqueles autores, apesar de mencionarem estas condições, nas quais a sobrepressão se
desenvolve, consideram, em seus cálculos, rochas ou com alta compressibilidade ou
incompressíveis.
Ao contrário de Luo e Vasseur (1992), Miller e Luk (1993) apresentaram um modelo
matemático para calcular o efeito da compactação de sedimentos com compressibilidades
intermediárias, que consideravam mais representativo dos valores medidos em rochas reais.
Embora esse modelo não seja discutido aqui, pode-se afirmar que os autores chegaram à
conclusão de que os efeitos térmicos podem sim afetar de maneira significativa a sobrepressão,
de modo que seu efeito não pode ser negligenciado. Entretanto, não afirmaram que tal efeito seja
a causa dominante na geração de altas sobrepressões.
Foram os primeiros a admitir, de forma clara, a complexidade dos cálculos envolvidos
quando há relação de mecanismos geradores, e o fato de que nenhum deles domina os outros em
todas as situações e ambientes.
Ainda referindo-se ao modelo matemático de Luo e Vasseur (1992), Miller e Luk (1993)
afirmam: “porque a expansão térmica não somente causa sobrepressão, reduzindo a tensão
efetiva, seus efeitos serão minimizados por cálculos que não levam em conta tais reduções. Além

193
disso, não seria “geologicamente” correto desprezá-los, uma vez que exercem importante papel
em questões geológicas como velocidade acústica e potencial de fratura” (p. 2.006).
Em contraste com Luo e Vasseur (1992), que afirmam que mesmo gradientes geotérmicos
maiores que 50°C/km não seriam geradores de altas pressões de poros, Miller e Luk (1993)
estabeleceram valores próximos de 30°C/km como já potencialmente importantes na geração de
sobrepressão.

III.2.2 Liberação da Água devido à Transformação Mineral – Diagênese de Argilas

Esmectita, caulinita, ilita e clorita são alguns dos principais minerais que compõem as
argilas, e por isso são também conhecidos como argilo-minerais. Apresentam comportamentos e
propriedades diferentes e suas transformações estão vinculadas à desidratação com liberação de
água associada sendo mais comuns: a transformação de esmectita em ilita; a desidratação da
gipsita em anidrita; e a desidratação da esmectita. Esta última, a mais comum, seria função de
efeitos de temperatura, em menor grau, da pressão e, sobretudo da capacidade da esmectita de
absorver água, função, por sua vez, do desbalanceamento da sua atividade iônica interna.
Alguns autores, como Burst (1969) e Law (1984), afirmam que a desidratação da esmectita
seria dividida em dois ou três estágios de liberação de água, os quais seriam direcionadores de
hidrocarbonetos das rochas geradoras para as rochas reservatório.
O mecanismo da diagênese foi estudado por Bruce (1984), que manteve o foco no Mioceno
das bacias dos EUA (Colorado River, no Texas e Mississipi, na Louisiana). Essa região, segundo
o autor, indica íntima relação entre a desidratação/transformação de esmectitas-ilitas com o
crescimento da pressão do fluido e como possível veículo para a migração de hidrocarbonetos.
O autor afirma que a pressão anormal exerce controle parcial no tipo e quantidade de
hidrocarbonetos porque afeta de maneira potencial a direção do fluxo do fluido, influenciando a
geometria de falhas e dobras na bacia, onde as estruturas argilosas são predominantes.
A partir do final da década de 1980, muitos estudos em reservatórios sobrepressurizados
surgiram em outras bacias daquela região, como por exemplo, o de Spencer (1987), que
investigou a Região das Montanhas Rochosas. Para as bacias aí contidas, a geração/maturação de
hidrocarbonetos foi reconhecida como mecanismo dominante. Colton-Bradley (1987), citado por
Swarbrick e Osborne (1998), levantaram uma questão interessante: a de que a sobrepressão
gerada pela própria diagênese de argilas seria responsável também pela inibição da continuidade

194
do processo, uma vez que as temperaturas da desidratação seriam elevadas com o aumento da
pressão.
Em relação à transformação da esmectita em ilita, alguns autores afirmam que em muitas
bacias predominantemente argilosas, uma gradual e sistemática mudança de esmectita para ilita é
percebida através de seções estratigráficas coincidentemente junto com a transição de grandes
valores de pressão. Essa mudança seria observada entre 70°C e 150°C e aparentemente
independente da idade dos sedimentos e da profundidade de soterramento. Entretanto, a mudança
de volume envolvida não é bem conhecida, em parte porque as exatas reações químicas
envolvidas também não são.
Swarbrick e Osborne (1998) explicam, em linhas gerais, que a transformação seria
acompanhada da mudança física das características do sedimento.
Primeiro, o colapso da estrutura da esmectita e a liberação de água influenciaria a
compressibilidade do sedimento. Se a compressibilidade da rocha aumenta, a sobrecarga induz
compactação adicional requerendo expulsão de mais água para manter o equilíbrio. Se a baixa
permeabilidade da rocha agir para reter o fluido, o resultado será a sobrepressão, ou seja, a
subcompactação devido à desidratação mineral. Nesse caso, a desidratação mineral seria um
mecanismo promotor da subcompactação.
Em segundo lugar, a transformação da esmectita liberaria sílica, que reduziria a
permeabilidade das argilas agindo como um cimento, produzindo selos hidráulicos e, portanto, a
transição para uma zona de pressão com comportamento distinto.
Nesse ponto, há outros autores como Freed e Peacor (1989), citados em Swarbrick e
Osborne (1998), que discutem a coincidência da sobrepressão próxima às profundidades de
transformação de esmectita em ilita.
Esta coincidência seria devida não à cimentação promovida pela sílica resultante da
transformação (porque as mudanças de volume ocorreriam a taxas muito lentas para criar
sobrepressão). Mas sim devido à reorganização da ilita nas camadas de folhelhos. E a
reorganização promoveria a redução da permeabilidade porque resultaria em reordenação de
outros minerais que reteriam os fluidos, contribuindo para a retenção da sobrepressão. Esse
processo, entretanto, não seria responsável por disparar o efeito do crescimento da pressão.
Goulty e Ramdhan (2012) destacam as dificuldades na estimativa de pressões de poros em
poços exploratórios nas profundidades em que a temperatura excede 100°C. Concordam com a

195
hipótese de Bjørlykke (1998) de que em profundidades em que a temperatura está próxima de
70°C, tanto na subcompactação quanto no descarregamento é possível estabelecer uma relação
entre o atributo de porosidade e a tensão efetiva e neste sentido os métodos preditivos
tradicionalmente usados (como Eaton e Bowers) funcionam.
Entretanto, estabelecem a hipótese de que em profundidades onde a compactação química
seria dominante (a partir de 2 - 3 km e acima de 100°C, conforme ilustrado na Tabela 2.5, p. 31)
os métodos tradicionais falhariam porque a relação entre a porosidade e a tensão efetiva se
perderia, passando a ser dependente da história da tensão efetiva.
Segundo os mesmos autores, a diagênese de argilas poderia atuar não somente como
mecanismo causador de sobrepressão, mas também como efeito mascarador para sua
identificação através de perfis. É onde começa a aumentar a importância de um estudo integrado
de rocha e perfis. Estes pesquisadores de Universidades da Inglaterra são membros importantes
de um projeto em parceria com a Petrobras, comentado ao final do Item 2.3 (p. 29).
Em recente entrevista25 com profissionais da Petrobras (setembro de 2013), os mesmos
reafirmaram algumas das conclusões de seu artigo “The Challenge of Pore Presure Estimation in
Diagenetically Consolidated Mudrocks” de dezembro de 2012. São elas:
• descarregamento pode ser definido como qualquer processo de compactação responsável
pela redução de tensão efetiva; é essa a definição que está sendo usada nesta dissertação;
• o mecanismo de transferência lateral e o fenômeno de exumação (remoção da sobrecarga
por evento geológico) podem ser classificados como causadores de descarregamento.

III.2.3 Geração de Hidrocarbonetos

As duas principais reações envolvidas na geração de óleo e gás de petróleo a partir de


rochas geradoras são: (a) maturação de querogênio para produzir hidrocarbonetos e (b)
craqueamento de óleo e betume a gás (Swarbrick e Osborne, 1998 e Durand, 1980). O primeiro
tipo de reação ocorre tipicamente a profundidades de 2 a 4 km de soterramento e dentro de uma
janela de temperatura de 70° a 120°C e o segundo, de 3 a 3,5 km e 90° a 150°C (Barker, 1990).
Tingay et al. (2013) corroboram as conclusões de Swarbrick e Osborne (1998) de que
apesar dos diversos tipos de mecanismos relacionados à expansão de fluidos, o único tipo capaz

25
Fonte pessoal.

196
de produzir magnitudes de pressões classificadas como alta sobrepressão é a geração de
hidrocarbonetos, ou seja a transformação de querogênio26 em hidrocarbonetos líquido ou gasoso.
A maturação do querogênio em gás durante a geração de hidrocarbonetos resulta em larga
expansão de volume de fluidos, que em sedimentos de baixa permeabilidade pode potencialmente
gerar sobrepressões de magnitude litostática.
A cinética das reações dos diversos tipos de querogênio (I, II, II-enxofre e III) tem sido
amplamente discutida na literatura, mas a cinética de cada uma das muitas reações que ocorrem
individualmente não é bem conhecida.
Já na década de 1970 e 80, autores como o já mencionado Barker (1972) e diversos autores
renomados como os Ph.Ds Chilingar, Donaldson e Robertson (1989) realizaram experimentos
hipotetizando os demais mecanismos ligados à expansão de fluidos citados anteriormente
(diagênese de argilas e expansão aquatermal) como geradores de pressões anormais.
Entretanto, suas modelagens sob condições ideais indicaram que esses mecanismos só
poderiam gerar uma pequena parcela de sobrepressão, embora pudessem corroborar para criação
de selos hidrodinâmicos que promoveriam sobrepressões devido à subcompactação. Sendo assim,
à exceção da geração de hidrocarbonetos, os outros mecanismos seriam apenas secundários na
contribuição da sobrepressão (Swarbrick e Osborne, 1998; Wagen, 2001, citado em Swarbrick e
Osborne, 1998, e Tingay et al. 2013).
Há dois processos paralelos e que ocorrem, geralmente, na mesma época geológica, que
envolvem as mudanças de volume que ocorrem durante a maturação do querogênio com geração
de hidrocarbonetos: (1) geração de fluidos (sobretudo óleo e gás, mas também CO2, H2S e água)
provenientes da matéria sólida imóvel do querogênio; e (2) criação de volume poroso que
permanece em desequilíbrio com a compactação normal devido à sobrecarga até que o fluido
tenha sido expelido.
A teoria se baseia no conceito mundialmente aceito de que altas pressões de poros são
necessárias à expulsão do fluido a partir de rochas geradoras de baixa permeabilidade para
camadas de rochas adjacentes (definição de migração primária). A pressão de poros nas rochas
geradoras deve ser suficiente para forçar a expulsão do hidrocarboneto dos microporos e iniciar

26
Querogênio é a parte insolúvel (em solventes orgânicos) resultante das transformações de matéria orgânica de
origem marítima ou terrestre, que permanece retida em sedimentos primitivos. A formação de petróleo se dá quando
o querogênio e a matéria orgânica existente nas camadas sedimentares sofrem a ação de ambiente redutor e do
aumento gradativo de temperatura e pressão, constituindo um estágio intermediário de uma transformação mais
ampla que quando completa, produz metano e grafite.

197
as microfraturas que liberam o petróleo. Se não houver mudança de volume de fluidos durante a
maturação inicial, como o hidrocarboneto migraria para fora dessas rochas? A migração primária
poderia ser atingida sem mudança de volume poroso? O item (2) do parágrafo acima poderia
responder a essas questões.
Paralelamente, a maturação do querogênio envolve aumento de volume poroso como
consequência da transformação de querogênio sólido imóvel em fluidos móveis (líquidos, gases e
resíduos). A redução dessa porção sólida altera a distribuição da tensão de sobrecarga entre a
rocha sólida e a matriz porosa. Onde o querogênio sustenta parte da tensão de sobrecarga, a
tensão será em parte transferida para a fase líquida, que se não puder escapar, gerará aumento de
pressão de poros.
Embora não comentem sobre como chegaram a seus resultados, Swarbrick e Osborne
(1998) dão um exemplo prático em que uma rocha fonte com 13% de porosidade tem esse valor
aumentado para 18% durante a maturação de querogênio. Nesse experimento, 10% do volume
poroso são representados por querogênio em processo de maturação. Se 50% desse querogênio
em volume fossem transformados em HC líquido, a porosidade aumentaria 5% e a matéria
orgânica sólida se reduziria de 87% para 82% do volume original, assumindo perda zero de HC
na migração primária.
Ocorreria, então, transferência da tensão de sobrecarga do querogênio para a parte líquida,
que, se não escapasse, provocaria sobrepressão (como comentado).
Na prática, a magnitude da sobrepressão resultante desse mecanismo vai variar de acordo
com a rocha fonte a depender da distribuição do querogênio: finas lâminas poderão experimentar
pequena mudança, enquanto lâminas mais espessas e/ou contínuas poderão experimentar pressões
de magnitudes quase litostáticas se quase toda a sobrecarga for suportada pela parte fluida.
O principal enfoque dado acima foi a maturação de querogênio com geração de HC líquido.
Entretanto, a geração do produto gasoso também é parte importante do processo de geração de
pressões anormais.
Onde as rochas geradoras produziram quantidades significativas de hidrocarboneto gasoso,
e especialmente onde a fase gasosa é composta por gás seco e gás condensado, há grande chance
de a sobrepressão ser devida às grandes mudanças de volume ocorridas.
Embora esse fato seja conhecido, ainda permanecem sem avaliação a quantificação dessas
mudanças de volume, as taxas de aumento aí implicadas e a influência das mudanças provocadas

198
pelas mudanças de pressão. Também não se conhece como o crescimento da sobrepressão
durante a geração de gás influencia a taxa da reação que governa a maturação do querogênio. É
possível que embora a transformação de querogênio seja uma reação cineticamente controlada, o
crescimento da pressão possa agir como retardador desta reação.
Apesar das grandes mudanças de volume, a presença de óleo e gás em fases separadas (da
água), especialmente dentro de rochas com grãos finos incluindo as rochas geradoras, vai reduzir
a permeabilidade efetiva das rochas, e esse fenômeno terá influência na capacidade de retenção
dessas rochas e em sua habilidade em selar o excesso de pressão gerado por qualquer mecanismo
gerador de pressão anormal.
Como exemplo desse fato, Swarbrick e Osborne (1998) citam o trabalho de Law (1984)
“Relação entre rochas geradoras, efeitos térmicos e sobrepressão para geração de gás e ocorrência
de baixas permeabilidades em rochas do Cretáceo Superior e Terciário Inferior no Colorado e em
Utah”. Neste trabalho, se comenta que o gás na Bacia River, nos EUA, originalmente gerado a
partir do tipo III de querogênio em rochas carbonáticas geradoras e hoje aprisionado
sobrepressurizado em rochas reservatório, foram aí trapeados pela redução da permeabilidade ao
gás.

III.2.4 Craqueamento de Óleo e Betume a Gás

Em altas temperaturas o óleo é convertido a hidrocarbonetos mais leves e em última


instância a gás metano. O craqueamento térmico se inicia, em geral, a temperaturas de 120°C e
140° C e a temperaturas ao redor de 180°C ocorre o craqueamento quase total, gerando,
sobretudo, o metano.
Em condições padrão de temperatura e pressão, um volume de óleo gera 534,3 volumes de
gás, mais uma pequena parcela de grafite como resíduo. Essa observação levou Barker (1990) a
sugerir que quando um sistema é suficientemente isolado, ocorre um imediato e dramático
aumento de pressão quando o óleo se transforma em gás. Seus cálculos mostraram que apenas
1% de craqueamento de óleo é requerido para que a pressão atinja o gradiente litostático e leve à
fratura da rocha liberando o gás.
Entretanto, um volume muito menor de gás é gerado em profundidades de soterramento (3
a 5 km) onde a compressibilidade do gás e também sua solubilidade em água salgada (brine)
devem ser consideradas.

199
Assim como no mecanismo citado no item anterior, neste mecanismo gerador de pressão
anormalmente alta o efeito do incremento de pressão nas taxas da reação de craqueamento
também é pobremente conhecido.
Vale a afirmativa do item anterior de que fases separadas de gás e óleo também reduzem a
permeabilidade efetiva da rocha, contribuindo para a capacidade de retenção e habilidade de
manter a sobrepressão gerada por outros mecanismos. Por isso este efeito não pode ser
desconsiderado em alguns casos, mesmo com atuação secundária.
Há muitos exemplos de bacias ao redor do mundo onde a distribuição da sobrepressão
coincide com suas porções mais profundas, onde se comprovou a ocorrência de craqueamento de
óleo a gás, como em Geaarenstroom et al. (1993); Hunt et al. (1994); Cayley (1987) e Holm
(1998), citados em Swarbrick e Osborne (1998).

III.3. Mecanismos relacionados ao Movimento de Fluidos

Nos próximos itens serão comentados os mecanismos relacionados ao movimento de


fluidos: osmose, efeito hidráulico, flutuabilidade e transferência lateral.

III.3.1 Osmose

O mecanismo osmótico em argilas, passagem de fração de água para o lado mais


concentrado da membrana argilosa, foi descrito por Marine e Fritz (1981) para explicar
geopressões anormais em dois poços que penetraram o Triássico na formação Durgarton na
Carolina do Sul, nos EUA.
Marine & Fritz (1981) citam um modelo desenvolvido por Young & Low (1965) e Kemper
& Rollins (1966) com experimentos de laboratório, tomando como base estudos laboratoriais
prévios que mostraram que materiais geológicos podem agir como membranas. O modelo
proposto foi o seguinte:
• a água salgada existente em rochas triássicas foi o resultado de processos hidrogeoquímicos
prévios;
• a água doce vinda de sedimentos da parte plana da costa da Carolina do Sul atravessou as
rochas do Triássico localizadas acima, através de osmose em argilas num movimento
ascendente, aumentando a pressão dos fluidos dentro dessas rochas;

200
• quando a pressão do fluido no Triássico aumentou até atingir o equilíbrio osmótico, o fluxo
cessou em sua base;
• nesse momento do tempo, a força osmótica de entrada de fluidos aumentou a baixa
permeabilidade da matriz e confinou os fluidos na base (foi assumido que a base do
Triássico possuía baixa permeabilidade);
• a continuidade da existência do equilíbrio osmótico indicaria que a integridade física da
membrana foi mantida durante longo período de tempo, o que também indicaria a não
existência de aberturas na membrana, considerada então suficientemente grande para que
íons em solução não sofressem influência elétrica da carga de dupla camada de argilas;
• o confinamento do fluido somente se aplicaria à parte do fluido líquido, mas a solução
continuaria a se mover bem devagar em ambas as direções através da membrana;
• o fluxo de água doce diminuiria a salinidade da água contida nas margens da base do
Triássico, diminuindo a pressão osmótica nessa região e isolando a célula osmótica no
centro da bacia;
• como a membrana não é ideal, o fluxo de saída do sal e o movimento de entrada de água
doce (diluição), criariam uma zona de menor concentração salina que, com o tempo
geológico, permitiria o retorno do funcionamento da célula osmótica, cuja taxa dependeria
do fluxo em si e da quantidade total de solução salina nos sedimentos do Triássico.

Nesse modelo, foi discutido o caso ideal, no qual a pressão da zona sobrepressurizada
permanece isolada e com densidade constante. Não se considerou que a condição de isolamento é
geologicamente instável na natureza e que poderia ser aliviada por movimentos de quaisquer
ordens, como falhas ou diaparismos.
Na natureza, é possível que o volume das rochas e das massas trapeadas, ou mesmo ambas,
mudem. No primeiro caso, se a formação estiver isolada como o conteúdo de um balão, o volume
poderia aumentar sem perda de fluido. Mas se o volume aumenta, ele age reduzindo a densidade
da rocha e, por conseguinte, reduzindo a pressão. Entretanto, como as rochas são imperfeitamente
isoladas então algum conteúdo escapa e isso também resultaria na perda de pressão.

201
III.3.2 Efeito Hidráulico ou Hydraulic Head

O Efeito Hidráulico pode ser definido como o resultado, em termos de pressão, que a
elevação de uma coluna de águas em regiões de terras altas (provedoras da água) provoca em
reservatórios ou aquíferos de subsuperfície cobertos por um selo, como mostra o desenho
esquemático da Figura III.1.
O efeito é medido a partir da altura vertical da referência, que geralmente é estabelecido no
nível do mar, convertida em pressão quando se conhece a densidade do fluido da formação.
Nesse caso, a situação de equilíbrio de pressão seria a relação entre a pressão calculada a partir da
profundidade da referência e a sobrepressão nos sedimentos.

Pressão

Selo
Profundidade

zona de transição

reservatório sobrepressurizado

Figura III.1: Figura ilustrativa do efeito hidráulico como mecanismo gerador de sobrepressão
(Swarbrick e Osborne, 1998, modificada)

Para que esse mecanismo opere é necessário que haja: (1) conectividade entre a zona alta
de captação de água (provedora na superfície) e as rochas reservatório ou aquífero (em
subsuperfície); (2) continuidade lateral do reservatório ou do aquífero abaixo do selo; (3) selo
contínuo.
Como a quantidade de sobrepressão devida ao efeito hidráulico (que nada mais é do que a
energia potencial nos aquíferos e reservatórios) não pode exceder a altura da elevação da coluna
de água a partir da referência, e em muitas bacias a pressão medida é bem superior a isso, uma
explicação poderia ser a combinação com outros mecanismos geradores de sobrepressão.

202
III.3.3 Flutuabilidade ou Efeito Buoyancy

Esse mecanismo está ligado ao contraste de densidades de hidrocarbonetos contidos em


formações permoporosas. Segundo Swarbrick e Osborne (1998), sua atuação é restrita a trapas
estruturais e estratigráficas, não podendo ser causador de sobrepressão regional, apenas local.
Nesse mecanismo, o excesso de pressão no topo da acumulação de hidrocarbonetos é
gerado pela diferença de densidade do gás, do óleo e da água contidos numa coluna hidrostática,
conforme ilustra o exemplo prático da Figura III.2.

Pressão (psi)

Topo do reservatório 648 psi


PP@ 2.400 m = 0,1704 * ρ * h = 0,1704 * 9,3 * 2400
PP@ 2.400 m = 3.803 psi
400 m de Gás
Coluna de gás 2 lb/gal PP@ 1.900 m = 3.803 − Phid coluna de óleo

PP@ 1.900 m = 3.803 − 0,1704 * 6 * ( 2.400 − 1.900)


511 psi
Contato gás-óleo PP@ 1.900 m = 3.292 psi ⇒ G@ 1.900 = 10,17lb / gal
Profundidade (m)

PP@ 1.500 m = PPtopo do reservatór io


Óleo
500 m de
Coluna de óleo
6 lb/gal PP@ 1.500 m = 3.292 − Phid coluna de gás

PP@ 1.500 m = 3.292 − 0,1704 * 2 * (1.900 − 1.500)


PP@ 1.500 m = 3.156 psi ⇒ G@ 1.900 = 12,35lb / gal
Contato óleo-água

Coluna de água
Água no aquífero
9,3 lb/gal

Figura III.2: Esquemático do efeito buoyancy como mecanismo gerador de sobrepressão


(Swarbrick e Osborne, 1998, modificada)

Não haverá geração de gradientes de pressões anormais por esse mecanismo se a coluna
contiver apenas água. A geração de sobrepressão ocorrerá apenas quando, acima do aquífero,
houver reservatório com hidrocarboneto(s) menos denso(s) que a água. A densidade da coluna de
fluidos é reduzida, resultando em gradientes de pressão mais altos (Rocha, 2009). Segundo o
autor, “na prática o efeito desse mecanismo é pequeno, sendo necessários intervalos de grandes

203
extensões para que o efeito seja pronunciado”. Além disso, a pressão devido ao efeito Buoyancy
sozinha é insuficiente para a liberação de hidrocarbonetos através de microporos e microfraturas.
O cálculo da sobrepressão gerada por esse mecanismo é simples se são conhecidas as
densidades esperadas dos fluidos contidos no reservatório. A estimativa de sobrepressão é
calculada considerando que o excesso de pressão aumenta de baixo para cima a partir do contato
do óleo com a água: a pressão no topo do reservatório é igual à pressão no contato óleo-água
menos os gradientes de pressão dos fluidos contidos até o topo.
Como exemplo, tome-se uma situação hipotética, em que a pressão de poros em uma
formação impermeável logo acima do topo do reservatório tenha sido estimada em 9,0 lb/gal,
normal, e que a pressão exercida pelo fluido de perfuração usado para atravessar tal formação
fosse 9,5 lb/gal, haveria grandes chances de ocorrência de kick quando a profundidade da
perfuração atingisse o topo desse reservatório.
Trata-se de um cálculo com algumas simplificações, pois são desconsideradas a influência
da permeabilidade da rocha, a compressibilidade da rocha e do fluido e, em termos gerais, as
condições de pressão e de temperatura necessárias para geração de gás livre (simplificações estas
que continuam pobremente avaliadas).
A previsão é incerta porque se esse mecanismo cria pressões, o gás, que antes existia numa
fase livre, pode ser solubilizado se a pressão aumentar demais. Além disso, a adição da pressão
gerada por esse efeito com a sobrepressão gerada por outros mecanismos pode ser suficiente para
destruir a capacidade selante da camada acima do reservatório.

III.3.4 Transferência Lateral

O conceito envolvendo a transferência lateral de pressões e o efeito centroide foram


primeiramente estudados por Dickinson (1953) e expandidos mais tarde na Inglaterra por
Mackenzie et al. (1987), Traugott e Heppard (1997), citados por Zoback (2007), e Swarbrick e
Osborne (1998).
Em 2007 e 2009 respectivamente, Zoback e Rocha e Azevedo, também dedicaram algumas
páginas de seus livros a comentar esse mecanismo e o cálculo da pressão envolvido.
Alguns autores não o consideram exatamente como mecanismo primário de geração de
pressão de poros em bacias sedimentares, como Swarbrick e Osborne (1998). Para esses autores,
o processo de transferência lateral é considerado como um dos principais controladores da

204
distribuição das sobrepressões nesse tipo de bacia. Definem transferência lateral de
hidrocarbonetos como o processo de redistribuição do excesso de pressão que ocorre através de
camadas de formações permeáveis inclinadas, localizadas em subsuperfície, inseridas em
formações não permeáveis ou pouco permeáveis.
Formações permeáveis inclinadas e outras estruturas geológicas podem resultar em efeitos
hidrodinâmicos causando pressurização significativamente maior ou menor que em folhelhos
adjacentes. O movimento dos fluidos é dirigido pelas diferenças de excesso de pressão e
densidade de fluido, e depende da permeabilidade das rochas.
Dessa forma, seções de reservatórios muito permeáveis são mais suscetíveis à
redistribuição da pressão quando são geradas, enquanto em reservatórios pouco permeáveis é
necessário um longo período geológico para que o equilíbrio se estabeleça.
O esquema da Figura III.3 (Swarbrick e Osbornme, 1998) mostra um poço perfurando as
estruturas permeáveis E, F, C e G.

A. Poço
Corpos isolados de
estruturas permeáveis

Folhelhos sob
Compactação Normal

Profundidade de Retenção de Fluidos

B. Pressão Folhelhos
Sobrepressurizados
Profundidade

Zona de transição

Gradiente litostático
PP
Figura III.3: Figura esquemática da transferência lateral como mecanismo gerador ou controlador da
distribuição de sobrepressão (Swarbrick e Osborne, 1998, modificada)

As flechas indicam a transferência de pressão para equilibrar as altas pressões na base das
estruturas permeáveis de C, D, F e G (e folhelhos adjacentes) com as pressões mais baixas nas

205
cristas (e também dos folhelhos adjacentes). As areias A, B e E estão confinadas dentro de
folhelhos normalmente compactados e possuem pressão normal, confirmada pelo dado de pressão
de E, como mostra o quadro B da Figura III.3. O poço também atravessa as formações
permeáveis F e G no topo, que estão sob influência das maiores pressões vindas da base. Em F, a
sobrepressão é apenas um pouco maior; já em G, a quantidade de sobrepressão faz com que a
janela operacional se torne mais estreita. Em C, o poço enfrenta as sobrepressões da base da
areia.
A estratégia de cálculo de pressão de poros adotada em corpos de arenitos inclinados pode
‘exigir uma avaliação diferente daquela usada pelos modelos convencionais, os quais consideram
apenas a subcompactação, onde a pressão nos folhelhos é considerada igual à do arenito
adjacente.
O primeiro passo é identificar a conectividade hidráulica dentro da estrutura inclinada e
depois é preciso investigar a existência do efeito centroide nessas estruturas. Criador dessa
denominação, Traugott (1996), citado por Yardley e Swarbrick (2000), definiu esse efeito como
um “método empírico para estimar a distribuição da pressão de poros no entorno de aquíferos
inclinados” (p. 523).
Em seu livro sobre Geomecânica de Reservatórios, Zoback (2007) define esse conceito
como “a profundidade na qual a pressão de poros na areia e nos folhelhos adjacentes está em
equilíbrio”. Segundo o autor, esse efeito pode gerar incompatibilidade na estimativa de pressão
de poros no corpo do arenito e nos folhelhos em profundidades diferentes do centroide.
Essa incompatibilidade ou desequilíbrio de pressões seriam tanto maiores quanto menor a
massa específica do fluido no reservatório inclinado. Isso equivale a dizer que a calibração dos
métodos convencionais em arenitos inclinados submetidos a este efeito pode gerar erros
significativos e que, portanto, não se deve calibrá-los para a pressão nessas areias.
Segundo a Figura III.3, acima da profundidade do centroide a pressão por esses métodos
seria subestimada, aumentando o risco de tomar um kick, enquanto abaixo dessa profundidade a
pressão seria superestimada, expondo a coluna de perfuração ao risco de prisão por diferencial de
pressão.
Importante contribuição sobre o tema também foi encontrada em Yardley e Swarbrick
(2000). Dois estudos de caso foram analisados usando aquíferos inclinados com diferentes
evoluções da estrutura: um no Delta do Mississipi no Golfo do México (a estrutura se tornou

206
inclinada durante o soterramento); e o outro no Mar do Norte do período pré-Cretáceo (a
estrutura já era inclinada antes da fase recente de soterramento). Através de modelagem de fluxo,
os autores chegaram às seguintes conclusões:
• o valor mínimo de incremento de pressão que resultaria em contribuição significativa
devida a este mecanismo seria 10 MPa (145 psi);
• para que a redistribuição da pressão por transferência lateral se manifeste com valores
significativos seria necessário combinar fatores fundamentais:
o desnível de profundidades entre a crista e a parte mais baixa da estrutura inclinada
(pior caso testado considerou 2,5 km de desnível no Mar do Norte); esse fator se
traduz no que o autor denominou “alívio de pressão do aquífero”, simulada pela
variação da quantidade de sedimentos impermeáveis e jovens depositados acima da
estrutura inclinada (cobertura onipresente de folhelhos), em sua porção mais
profunda, nos últimos 30 milhões de anos27: quanto mais pressurizados estiverem os
folhelhos, maior será a dissipação através da estrutura inclinada, da base para a crista
da mesma;
o baixa permeabilidade da cobertura impermeável: 10-7 mD foi considerado baixo;
o alta taxa de soterramento da cobertura impermeável ( > 500 m por milhões de anos);
• mesmo a combinação dos efeitos acima não foi capaz de provocar significativo incremento
de pressão no Mar do Norte devido à transferência lateral;
• quando a transferência lateral é capaz de provocar descarregamento nos folhelhos
localizados nos entornos da crista da estrutura, por causa do efeito centroide, a velocidade
sônica pode apresentar um salto na interface entre a areia e o folhelho adjacente.

27
O autor usou 30 milhões de anos para separar o que considerou folhelhos jovens e velhos.

207
208
Apêndice IV Bacia de Sergipe-Alagoas e Casos de Sobrepressão
no Brasil e no Mundo

Ocorrências de pressões de poros anormalmente altas em bacias sedimentares brasileiras da


margem continental têm sido reportadas e estudadas: Santos (Granitoff, 2004, citado por
Domingues, 2008); Espírito Santo (Domingues, 2008); Foz do Amazonas (Cobbold et al., 2004);
Bacia Potiguar (Rocha, 2006; Rocha e Azevedo, 2009) e Sergipe-Alagoas (Alves et al., 1982;
Marques et al., 2009).
A Bacia de Sergipe-Alagoas recebeu destaque ao longo deste anexo porque é o foco deste
trabalho, entretanto, são comentados casos de sobrepressão em campos do exterior estudados
pelo grupo de geopressões da gerência de suporte técnico à perfuração de poços exploratórios da
Área Internacional da Petrobras.
Ao final, é comentado o estudo que os autores Law e Spencer (1998) apresentaram no
Capítulo 1 do seu livro, resultado de vasta pesquisa realizada em nível global para identificar a
localização de campos terrestres e marítimos com pressões anormalmente altas e suas causas.
A Bacia Sergipe-Alagoas é costeira, com área de 22.000 km2, com mais da metade
submersa. É composta por quatro sub-bacias independentes, assinaladas na Figura IV.1 e no
mapa estrutural da Figura IV.2: as de Jacuípe, de Sergipe, de Alagoas e do Cabo, que possuem
diferentes histórias tectono-sedimentares e preenchimentos distintos:
• as sub-bacias de Sergipe e de Alagoas são separadas pelos Altos de Japoatã e Penedo,
situados ao longo do rio São Francisco;
• as sub-bacias de Sergipe e Jacuípe são separadas pelo Alto do rio Real;
• as sub-bacias de Alagoas e Cabo são separadas pelo Alto de Maragogi (antigamente
considerada a porção Sul da Bacia de Pernambuco-Paraíba).

209
Figura IV.1: Localização das sub-bacias da Bacia de Sergipe-Alagoas (Lima, 2002)

Sub-bacia
de Alagoas

Sub-bacia
de Sergipe

Áreas de
interesse

Figura IV.2: Arcabouço estrutural da Bacia de Sergipe-Alagoas, sensu stricto, ao nível do embasamento
(Lima, 2002, modificado)

210
Fm.Calumbi

Figura IV.3: Carta estratigráfica da sub-bacia de Sergipe (Lima, 2002, modificada)B

Esta bacia (não necessariamente o campo de PRM) possui áreas de pressão anormalmente
altas, por duas razões bem diferentes:
• camadas de arenito inconsolidado, em forma de lentes ou canais, dentro da massa de mais
de dois mil metros de espessura de folhelho da Formação Calumbi, de idade variável entre
Mioceno e Cretáceo Superior (Mastrichtiano / Campaniano), conforme mostra a Figura
IV.4, na área de Sergipe (Baixo de São Francisco e Baixo de Mosqueiro). A sobrepressão

211
varia de 1,1 a 1,6 vezes a pressão normal da água. Os maiores gradientes são encontrados
em Guaricema e Dourado (marítimos) e Salgo e Brejo Grande (terrestres);
• camadas profundas levadas à superfície por tectonismo e subsequente erosão das camadas
superiores, como é o caso em Alagoas, da Formação Morro do Chaves, de idade Aptiano,
cuja sobrepressão chega a atingir 1,5 vezes a pressão normal da água doce.

A Formação Calumbi é uma das muitas formações sedimentares (arenitos) espalhadas ao


longo da costa atlântica brasileira, formadas durante a abertura do oceano Atlântico Sul no final
do Jurássico Cretáceo. A Figura IV.4 mostra a localização das concessões mais antigas
(Piranema, Guaricema, Dourado, Ilha Pequena, Salgo e Brejo Grande) e das recentes descobertas
(concessões de Barra, Muriú, Moita Bonita, Farfan e Cumbe).

Figura IV.4: Blocos de desenvolvimento da produção e exploratórios na sub-bacia de Sergipe com


produção ou expectativa de produção de HC nos reservatórios da Formação Calumbi

Essa formação possui grande potencial de desenvolvimento, principalmente no mar, onde a


Petrobras divulgou a descoberta de óleo leve no campo de Muriú, em lâmina d’água de 2.583 m,
no Bloco BM-SEAL-10. Essa descoberta segue-se a outras anunciadas pela empresa, como Barra,

212
Farfan, Cumbe e Moita Bonita, todas dentro de um raio de 90 km de Aracaju. (Fonte:
Informativo PCSR, Jan. 2013 - ano 7 n 1, p. 5). As acumulações da Formação Calumbi de
Piranema são o objeto do estudo. Em 2014 completaram-se 36 anos desde a perfuração do poço
pioneiro, 1-SES-92, que encontrou a primeira acumulação de óleo em arenitos do Cretáceo da
referida formação em Piranema. Marques et al. (2009) comentam:

“em 2001 houve a retomada do esforço exploratório levando à perfuração do poço 1-SES-142,
resultando em nova descoberta sendo que desta vez reteve-se a área para avaliação. Entre 2002 e 2004
foram perfurados mais oito poços exploratórios que resultaram na descoberta de mais quatro acumulações
(...). No final de 2004 foi declarada a comercialidade da área. (...) Sua localização e lâmina d’água
profunda impõem custos elevados, que aliados ao caráter pioneiro e estratégico das jazidas, levam à
concentração de esforços do corpo técnico da Unidade Operacional de SE-AL para maximizar a
otimização da área” (p. 1).

Essas acumulações situam-se a 30 km da costa, a sudeste de Aracaju, em cotas batimétricas


que variam entre 200 e 2.000 m. Ocorrem em duas áreas: a principal, a leste, no bloco baixo de
uma falha, chamado simplesmente de Piranema, com maiores espessuras e melhores condições
permoporosas. A outra, a oeste, fica no bloco alto dessa falha, chamado Piranema Sul. Detalhes
sobre os dados dos poços dessas concessões estão amplamente discutidos no Capítulo 5.
A Tabela IV.1 apresenta o complemento da Tabela 5.1 com todos os dados de pressão
medida coletados.

213
Tabela IV.1: Tabela resumo dos poços estudados com todos os dados coletados: destaque para Terciário e Cretáceo Inferior
Poços com Medidas de Pressão de Poros Normal (1,0 < IS ≤ 1,1 ou IS ≤ 110%)
PERÍODO Terciário Cretáceo Pontos de PPmedida
ÉPOCA Paleoceno Superior Inferior Quantidade Total coletado
IDADE - Maastrichtiano / Campaniano Albiano usada usado direta e
FORMAÇÃO - Calumbi (foco do estudo) Riachuelo diretamente indiretamente
Zona Cal Cal Cal Cal nos Métodos de nos Métodos de
ZONA - -
X 920 930 940 950 Bowers e Eaton Bowers e Eaton
POÇO Quantidade de pontos de PP medida / IS médio
142 - 1 / 1,06 - - - - - 1 1
164 2 / 1,06 16 / 1,05 - - - - - 16 18
157 - 32 / 1,05 - - - - - 32 32
129 - 2 / 1,04 - - - - 3 / 1,08 2 5
147 - - 6 / 1,09 4 / 1,08 - - - 10 10
Total de pontos medidos de PPN
- 2 51 6 4 0 0 3 61 66

Poços com Pressão de Poros Anormalmente Alta (IS > 1,1 ou IS > 110%)
PERÍODO Terciário Cretáceo Pontos de PPmedida
ÉPOCA Paleoceno Superior Inferior Quantidade Total coletado
IDADE - Maastrichtiano / Campaniano Albiano usada usado direta e
FORMAÇÃO - Calumbi (foco do estudo) Riachuelo diretamente indiretamente
Zona Cal Cal Cal Cal nos Métodos de nos Métodos de
ZONA - -
X 920 930 940 950 Bowers e Eaton Bowers e Eaton
POÇO Quantidade de pontos de PP medida / IS médio
106 - - - 1 / 1,34 4 / 1,32 - - 5 5
3 - - - 15 / 1,22 - 5 / 1,16 - 20 20
149 - - - 9 / 1,22 - 1 / 1,20 8 / 1,07 10 18
1 3 / 1,14 1 / 1,21 - - - 11 / 1,16 - 12 15
154 - 3 / 1,14 - - 11 / 1,14 8 / 1,15 3 / 1,08 22 25
2 - - - 12 / 1,23 - 7 / 1,16 - 19 19
4 - - - 22 / 1,22 - - - 22 22
155 - 8 / 1,12 - - - - 4 / 1,10 8 12
Total de pontos medidos de PPA
- 3 12 0 59 15 32 15 118 136

TOTAL GERAL
- 5 63 5 63 15 32 18 179 202

214
Já a Bacia Potiguar é caracterizada por poços HTHP (P > 700 kgf/cm2 ou ~10.000 psi e T >
149°C ou 300°F), onde se acredita haver a influência da elevada temperatura atuando em
conjunto com a subcompactação na geração de pressões elevadas.
Nessa área é comum se observar rápidos incrementos de pressão em pequenos intervalos de
rocha (o que propicia a ocorrência de kicks e/ou o desmoronamento de poço) e problemas
relativos à utilização de ferramentas convencionais de LWD, em geral limitadas à temperatura de
150°C.
Poços com lâmina d’água rasa, como por exemplo, ao redor de 50 m, dificultam o
resfriamento eficaz do fluido de perfuração, limitando, consequentemente, o uso dessas
ferramentas.
Há exemplos de poços nessa bacia com incremento brusco de pressões de poros ao redor de
3.600 m, passando de 1,32 para 1,62 vezes a pressão normal da água doce (de 11 para 13,4
lb/gal). O estudo de sessões sísmicas e de poços de correlação bastante próximos revelava a
comunicação entre eles através de falhas nas quais atua o mecanismo de transferência lateral,
conduzindo a elevados níveis de pressão em profundidades menores do que aquelas em que esses
valores seriam esperados.
Há também alguns exemplos de poços exploratórios perfurados no exterior pela Petrobras
Internacional como, por exemplo, na Líbia, na Turquia e na Colômbia, todos eles poços de alta
complexidade e com pressões anormalmente altas variando entre 1,44 e 1,68 vezes a pressão
normal da água doce (12 e 14 lb/gal).
Na Líbia, por exemplo, acredita-se que as temperaturas elevadas de cerca de 190°C (375°F)
próximas à profundidade final programada para o poço (que inviabilizaram, na época, atingir a
TVD por indisponibilidade de ferramentas de LWD capazes de operar sob tal condição extrema)
possam ter sido responsáveis pelo incremento de pressão de poros, chegando a 1,44 vezes a
pressão normal da água doce (12 lb/gal), nos arredores do Cretáceo. Acredita-se na coatuação de
dois mecanismos geradores de pressão de poros nessa região: subcompactação e expansão
térmica.
Na Turquia, a estreita janela operacional prevista de 0,12 vezes a pressão normal da água
doce (1 lb/gal) para a perfuração do poço exploratório foi responsável pelo grande número de
colunas de revestimentos necessárias para enfrentar sua alta complexidade (oito fases) e atingir a
TVD com robustez. A sistemática de estudos de geopressões da Petrobras foi seguida, e embora à

215
época de planejamento estivesse disponível apenas um poço de correlação, a janela operacional
revelada mostrou que a curva de pressão de poros foi estimada com erro inferior a 10% em
relação àquela prevista, com diferenças inferiores a (0,084 vezes a pressão normal (0,7 lb/gal)
durante a perfuração da fase de 10 ⅝” x 12 ¼”.
No golfo colombiano, os poços de correlação utilizados em estudos de geopressões de
projetos de poços exploratórios marítimos recentes (2013), comentados no Item 3.1.1, mostram
comportamentos similares em termos de nível de pressão de poros nos entornos do Oligoceno
(1,44 a 1,80 vezes o gradiente normal ou 12 a 15 lb/gal). Acredita-se, que na região dessas bacias,
diversos mecanismos geradores de pressão de poros além da subcompactação possam estar
atuando conjuntamente para gerar tais patamares de pressão, como intenso tectonismo dos Andes,
transferência lateral e efeito de flutuabilidade dentro dos reservatórios.
Law e Spencer (1998), apresentaram, no Capítulo 1 do Memorial 70, o resultado de vasta
pesquisa realizada em nível global para identificar a localização de campos marítimos e terrestres
com pressões anormalmente altas, como mostra a Figura IV.5. Nessa figura, as áreas em
sombreado cinza são terrestres e aquelas em amarelo são marítimos; observar que há indexação
de números para nomear cada região e essa indexação pode ser conferida na Tabela IV.2.
A princípio se poderia pensar em concentração no hemisfério Norte. Note-se, entretanto,
que uma análise mais cuidadosa leva à conclusão de que essa concentração se deve mais à
quantidade de trabalhos desenvolvidos sobre o tema nessa porção do globo, do que propriamente
à ocorrência de pressões anormais em especial nessa porção da terra.
Tomando como base a Figura IV.5, a bibliografia pesquisada manteve o foco em dois dos
oito principais países do globo com bacias sedimentares nas quais esse comportamento da
pressão foi mapeado: Estados Unidos (na América do Norte) e Brasil (na América do Sul). Os
outros países estão na Europa Oriental (Rússia, Cazaquistão e Ucrânia); na América do Norte
(Canadá); e Oceania (Austrália e Indonésia). Os números indexados às diversas regiões fazem
referência aos seus respectivos países e são apresentados mais adiante na Tabela IV.2 que resume
alguns dos atributos encontrados em regiões de alta pressão.

216
Figura IV.5: Mapa do globo mostrando, em sombreado cinza, a distribuição de PPA terrestres e em
amarelo, marítimos (Law e Spencer, 1998, modificada)

Como se pode observar nessa tabela, ambientes com sedimentos sobrepressurizados


costumam ser encontrados tanto em bacias sedimentares jovens, em profundidades rasas com
pequena sobrecarga de rocha (ao redor de algumas centenas de metros) quanto em bacias
sedimentares mais antigas com profundidades superiores a 5.000 m. Além disso, embora ocorram
frequentemente em sequências de folhelhos e arenitos, não são incomuns em seções de evaporitos
(calcitas e dolomitas) e carbonatos (anidritas, halitas etc.).
Vale ressaltar que o conhecimento do período, da época e da idade geológicos em que uma
litologia se revela é fundamental na estimativa de pressão de poros, porque se acredita que a
maneira como a compactação ocorreu pode variar de um período/época/idade para o outro(a),
assim como as pressões resultantes e os mecanismos de sobrepressão atuantes. A relação entre a
causa da pressão anormal e a idade das rochas sugere que deve haver um processo contínuo
responsável pelo desenvolvimento de pressões anormais, embora tanto os mecanismos quanto as
pressões sejam transientes no tempo.
No mesmo estudo, Law e Spencer (1998) afirmam que a maioria das publicações
disponíveis na literatura aponta o mecanismo de subcompactação como principal causa de
sobrepressão, seguido de perto pela geração de HC. Especulam que em alguns casos, como em

217
sistemas deltaicos, com altas taxas de deposição, pressões anormais podem ter início na
subcompactação, mas conforme o soterramento continuou e esses ambientes se tornaram cada
vez mais profundos e experimentaram maiores temperaturas, “a geração de HC poderia suplantar
o desequilíbrio da compactação como principal causa de desenvolvimento de altas pressões” (p.
3).
Em sequências de rochas derivadas de ambientes deltaicos, onde as rochas geradoras de HC
ocorrem estratigraficamente abaixo dos sedimentos afetados pelo desequilíbrio da compactação, a
geração de HC pode ter resultado em sobrepressão que fisicamente pode ter sido transferida para
cima através de desenvolvimento de gradientes de pressão diferenciados, dentro da região de
subcompactação.

218
Tabela IV.2: Law e Spencer (1998, modificada): Atributos de zonas com pressão anormalmente alta apresentados pelas bacias pesquisadas pelos autores
Prof. do Topo da Máximo ou Pressão @ Prof do
Formação com PPA Mínimo Topo da Fm. com
(m) GP e Pressão PP Anormal

Estratigrafia

Indexado
Máximo Causas ou Referências citadas
c/ Mínimo Mínima Máxima Tipo de


Bacia País Topo (psi/m) (lb/gal) Mecanismos em
Pressão Topo (psi) (psi) Fluido
Inform Geradores Law e Spencer (1998)
AnormAL

Alaska National
EUA 1 Cretáceo 3048 - 2,76 16,17 8400 - ñ inf. incerta Gautier et al. (1987)
Wildlife Refuge
Beaufort Paleozóica e água e
Canadá 2 1996 4998 2,79 16,37 5568 13940 ñ informado Hitchon et al. (1990)
Mackenzie Miocena gás
Triássico, Masters (1979, 1984)
Alberta Deep Canadá 3 914 - ñ inf. - - - gás GH
Juráss. Cretác. Welte et al. (1984)
Jeanne d'Arc Canadá 4 Jurássico 2895 4602 3,25 19,06 9405 14949 água e gás incerta Rogers & Yassir (1993)
Canadá Mudford & Best (1980)
Scotian Shelf 5 Jurássico 4496 - 2,85 16,75 12833 - ñ inf. DC / GH
Rogers & Yassir (1993)
Columbia EUA 6 Terciário 2743 3048 2,62 15,40 7200 8000 gás GH Law et al. (1994)
Mississipiano
Willston EUA 7 2743 - 2,40 14,06 6570 - óelo GH Meissner (1978)
Devoniano
gás e Spencer (1987)
Powder River EUA 8 Cretáceo 3048 - 2,62 15,40 8000 - GH
condens. Surdam et al. (1994)
Big Hom EUA 9 Cretáceo 3353 - 1,97 11,55 6600 - gás ñ inf. Spencer (1987)
Mississipiano Bilyeu (1978)
Wind River EUA 10 variável - 0,8 ? ñc ñc - gás GH
Cretác. / Terc. Johnson et al. (1996)
McPeek (1981)
Greater Green Cretáceo
EUA 11 2438 2,95 17,33 7200 gás GH Law (1984)
River Terciário
Spencer (1987)
Mississipiano Spencer (1987)
Piceance EUA 12 1829 2438 2,69 15,79 4920 6560 gás GH
Cretáceo Johnson et al. (1987)
Lucas e Drexler (1976)
Uinta EUA 13 Terciário 3048 - 2,72 15,98 8300 - óleo GH
Spencer (1987)
Cretáceo Berry (1973)
Sacramento EUA 14 1189 3048 2,79 16,37 3315 8500 gás T / AE
Terciário Lico & Kharaka (1983)
GH
Mississipiano Breeze (1970)
Anadarko EUA 15 2743 3048 2,95 17,33 8100 9000 gás O
Pensylvaniano Al-Shaieb et al. (1994)
DC
Russell (1972)
Davis (1984)
Appalachian EUA 16 Siluriano 232 762 1,18 6,93 274 900 gás GH
Zagorski (1988)
Law e Spencer (1993)

219
Prof. do Topo da Máximo ou Pressão @ Prof do
Formação com PPA Mínimo Topo da Fm. com
(m) GP e Pressão PP Anormal

Estratigrafia

Indexado
Máximo Causas ou Referências citadas
c/ Mínimo Mínima Máxima Tipo de


Bacia País Topo (psi/m) (lb/gal) Mecanismos em
Press Topo (psi) (psi) Fluido
Inform Geradores Law e Spencer (1998)
Anorm.

Jurássico óleo
Dickinson (1953)
Costa do Golfo EUA 17 Cretáceo 1829 4877 ñ inf. - - - gás DC / GH
Bradley (1975)
Terciário água
óleo
West Cretáceo a DC / GH ? /
Trinidad 18 457 3657 3,12 18,29 1425 11400 gás Heppard et al.
Indies Terciário AE ? / T ?
água
Tríass., Juras. óleo Buhrig (1989)
DC / GH /
Mar do Norte - 19 Cretáceo 1798 - 2,85 16,75 5133 - gás Leonard (1993)
AE / T
Paleoceno água Gaarenstroom (1993)
gás
DC / GH /
ekes Hungria 20 Neogeno 549 1798 2,82 16,56 1548 5074 água Spencer et al. (1994)
CO2
condens.
água
~ grad
Adriático Itália 21 Plioceno 2286 - ñc ñc ñc gás DC Carlin & Dainelli
litost)
óleo
gás
Delta do Nilo/ Jurássico-
Egito 22 518 3700 2,92 17,14 1513 10805 água DC /AE / GH Nashaat
Norte Sinai Plioceno
óleo
água + Evamy et al. (1978)
Delta do Niger Nigéria 23 Terciário 2743 - ñ inf. ñc ñc ñc gás DC Chukwu (1991)
dissolv. Ejedawe et al. (1986)
Devniano óleo
GH
Timan Pechora Rússia 24 Carboníferous 91 305 1,25 7,32 114 380 gás Law et al. (1996)
(no Permiano)
Permiano água
Denieper-Donets- GH Polutranko
Ucrânia 25 Carboníferous 457 4496 2,59 15,21 1185 11653 gás
Donbas (no Permiano) Law et al. (1997)
água e Bredehoeft et al. (1988)
Sul do Casa-
26 Terciário 3000 ñ inf 2,79 16,37 8367 ñc gás em DC Gurevich & Chilingar
Cáspio quistão
solução (1995)
Burrus et al. (1992)
Indoné- água e Oldin e Picard (1982)
Mahakam Delta 30 Mioceno 3505 3993 2,85 16,75 10005 11397 DC
sia gás Burrus (em Law e Spencer,
1998)
Austrá- Jurássico
Dampier 31 259 875 2,79 16,37 723 2440 ñ inform. DC / TM Nyein et al. (1977)
lia Cretáceo
DC = Desequilíbrio da Compactação; GH = Geração de Hidrocarbonetos; T = Tectonismo; AE = Aquathermal Explansion; O = Osmose; TM = Transformação de Minerais
ñc = não é possível calcular

220
Apêndice V Equações de Cálculo de Gradiente de Pressão de
Poros por Eaton

Para desenvolver sua teoria e formular as duas equações fundamentais (a primeira baseada
no sônico e, a segunda, na resistividade), Eaton (1975) usou como base (1) a equação de Terzaghi
(1936), (2) dois postulados estipulados por ele mesmo e (3) a equação tentativa e erro de Hottman
e Johnson (1965), esta última baseada em dados empíricos do Golfo do México em gradiente de
sobrecarga constante. Abaixo, está a demonstração da equação 3.2, função da resistividade.
Reorganizando a equação de Terzaghi (1936) σ ' = σ OVB − PP e dividindo-a pela

profundidade “D” para achar os correspondentes gradientes, tem-se que:

PP σ OVB σ '
= − V.1
D D D
logo:
PP σ σ'
= f  OVB ,  V.2
D  D D

Para a relação PP/D, Eaton postulou duas equações que definem a relação direta entre o
comportamento dos parâmetros de porosidade que estudou (resistividade e sônico) e o
comportamento da pressão de poros:

PP R 
= f  O  V.3
D  RN 
ou:
RO  PP 
= f  V.4
RN  D 
e:
= f (∆tO − ∆t N )
PP
V.5
D
ou:
 PP 
∆tO − ∆t N = f   V.6
 D 

221
Das equações acima, observa-se que os parâmetros de porosidade são função de PP/D (e
PP/D é função de σOVB/D e σ’/D, conforme a equação de Terzaghi, 1936).
A partir desse ponto, para prosseguir seu raciocínio, Eaton (1975) usou a equação de
Hottman e Johnson (1965) abaixo, baseada em dados empíricos do Golfo do México e também
na equação de Terzaghi (1936):

7 v3 ?,x
E H = − 0,535 E H
r r vw
V.7
s Z

7 78 v3 ?,x
onde:

−E H == > = 0,535 E H
r r r s vw
V.8
s Z ; Z

Nessa equação V.8 tanto a relação σOVB/D quanto a relação RO/RN foram assumidas
constantes e iguais, respectivamente a 1 psi/ft e 1. Nesse caso, o gradiente de pressão de poros
passou a assumir o valor também constante de 0,465 psi/ft e a relação σ'/D passou a assumir o
valor 0,535 psi/ft:

E H = 1 − 0,535619?,x = 0,465|}~/•€
r
V.9
s ; Z

Entretanto, segundo Eaton (1975), o gradiente de sobrecarga constante não é uma condição
irrelevante ou mesmo verdadeira em áreas onde a sobrepressão é causada pelo aumento dessa
sobrecarga devido a soterramento em grandes profundidades. Assim, voltando à equação de
Terzaghi (1936) transformada em gradientes, porém agora na condição de pressão normal e
tomando σ’/D como constante (e igual a 0,535 psi/ft), também na condição de pressão normal,
tem-se que:

78 7
= > = 0,535 = −E H
r w r r w ; Z
V.10
Z

Tomando o lado direito da equação V.10 e substituindo a constante 0,535 da equação V.8
tem-se que:

78 7 v3 ?,x
= > =• −E H ‚E H
r s r r w ; Z vw
V.11
Z

Substituindo o lado direito da equação V.8 pelo lado direito da equação V.11, tem-se:

222
7 7 v3 ?,x
−E H =• −E H ‚E H
r r s Z r r w ; Z vw
V.12

ou:
v3 ?,x
ƒ −ƒ = 6ƒ − ƒ w9 E H
s
vw
V.13

por fim
v3 ?,x
ƒ =ƒ − 6ƒ − ƒ w9 E H
s
vw
V.14

que é praticamente a equação 3.2 apresentada na página 47, a menos do expoente “n”.

Até postular uma de suas equações fundamentais, o valor do expoente n = 1,5 não havia
sido questionado. Foi quando Eaton resolveu testá-lo para checar a validade de sua equação. O
expoente foi avaliado com valores de 1,2, 1,3, 1,4 e 1,5. Foram usados valores de pressão medida
e calculados os valores dos gradientes de sobrecarga e para cada par foi encontrado um valor para
a relação RO/RN.
A equação V.14 foi usada para calcular a pressão de poros fornecendo como resposta
valores equivalentes para R0/RN: os resultados foram tabelados e apresentados em Eaton (1975),
onde o expoente eleito como mais adequado foi 1,2. Vale lembrar que esse expoente é empírico
do Golfo do México e pode ser mudado a depender das características da área e da história da
perfuração dos poços de correlação e isso é que é feito na prática nos estudos de geopressões.
É interessante notar que apesar de as equações V.5 e V.6 terem sido apresentadas por Eaton
no início do seu trabalho mostrando a pressão de poros como uma função da diferença entre os
tempos de trânsito observado e normal, o autor não faz menção, durante o texto que apresenta
seus estudos, ao gradiente de pressão de poros como mostra a equação 3.1 (p. 47), que assume
como função da relação direta entre o valor normal do tempo de trânsito e o valor observado para
esse parâmetro.
Foi citado, durante a apresentação do Item 3.1, Descrição do Método de Eaton (1975) que,
além de usar perfis elétricos para indicar zonas anormalmente pressurizadas, o Método de Eaton
também pode ser aplicado à taxa de perfuração normalizada, também conhecida como expoente
“d” (Jorden e Shirley, 1966). No passado, este expoente era muito usado em análises de pressões
de poros. Entretanto, modernamente, caiu em desuso. Ele representa um modelo matemático da

223
“perfurabilidade” das rochas, visando isolar a influência de parâmetros de perfuração como o
peso sobre a broca, a rotação da coluna de perfuração e a própria taxa de penetração, conforme
mostra a equação V.15:

vX
‡„ˆ _ d
n |„n…€n † = 60 v ‰
12‹XY
‡„ˆ _ Œ d
10 YQ
V.15

onde:
expoente d = indicativo da taxa de penetração normalizada
ROP = taxa de perfuração, ou do inglês, rate of penetration (ft/h)
RPM = número de rotações da broca por minuto
WOB = peso sobre a broca, ou do inglês, weight on bit (lb)
BS = diâmetro da broca, ou do inglês, bit size (in)

A equação V.15 também pode ser expressa por:

vX
1,26 − ‡„ˆ _ v ‰d
n |„n…€n † =
‹XY
1,58 − ‡„ˆ _ YQ d
V.16

onde:
ROP = taxa de perfuração (m/h)
WOB = peso sobre a broca (ton)
BS = diâmetro da broca, ou do inglês, bit size (in)
1,26 e 1,58 = fatores de conversão de unidades

Analogamente ao que se faz para os perfis de porosidade, traça-se uma tendência de


compactação normal para este expoente. Entretanto, enquanto aumentos de perfis de porosidade
(indicativos de subcompactação) são indicativos de pressão anormalmente alta, tendências de
queda deste expoente é que são indicativas de tais zonas. Quando a razão ROP/RPM < 0, o valor
absoluto do log (ROP/RPM) varia inversamente à ROP, fazendo o expoente “d” variar
inversamente à taxa de penetração. Também é traçado num gráfico semilogarítmico e em geral
varia de 0 a 3.

224
Rehm e McClendon (1971) perceberam que mesmo atenuando a influência dos
parâmetros de perfuração, o expoente “d” sofria interferência da massa específica do fluido usado
na perfuração das fases. Criaram então, o expoente “Dc”, uma correção para o expoente “d”, que
seria mais confiável:

w
n |„n…€n r = 6n |„n…€n †9
Ž r V.17

para:
∆P
Ž r= +
Z
;
. V.18

onde:
ρPN = pressão de poros normal da área expressa em unidade de massa específica equivalente de fluido
(lb/gal)
ECD = massa específica do fluido de perfuração durante a circulação, ou do inglês, equivalente
circulating density (lb/gal)
ρmud = massa específica do fluido de perfuração, que em situação estática é o mesmo que ESD, termo em
inglês que designa equivalente static density (lb/gal)
∆Panular = pressão equivalente às perdas de carga no anular entre a coluna de perfuração e o poço (revestido
ou não) desde a broca até a superfície (psi)
C = constante de conversão de unidades = 0,1704, para “PP” em psi, “z” em metros; ou 0,0519, para “PP”
em psi e “z” em pés
z = profundidade vertical (metros ou pés)

225
226
Apêndice VI Medições de Pressão: Testes de Formação

De maneira simplificada, os testes de formação podem ser feitos com coluna (por
tubulação, como por exemplo, DSTs) ou a cabo.
Testes de formação por tubulação são operações que visam indicar a presença de
hidrocarbonetos de um reservatório e sua produtividade, além de medir a pressão de poros. São
corriqueiramente chamados de testes com coluna porque as ferramentas são descidas no poço
através da coluna de perfuração. Tais ferramentas isolam um intervalo do poço (o reservatório),
submetendo-o à produção de fluidos (fluxo) e executando medidas de pressão, entre elas a
pressão estática, que pode ser considerada como igual à pressão de poros.
Podem ser realizadas a poço aberto (popularmente conhecidos como TFs) ou poço
revestido (popularmente conhecidos como TFRs). No primeiro caso, o registrador de pressão é
posicionado na frente do reservatório, não sendo necessário realizar nenhum cálculo de correção
da pressão medida. No segundo caso, como o posicionamento do registrador pode ser acima ou
abaixo do reservatório é necessário corrigir a pressão medida, somando ou subtraindo a
hidrostática do fluido presente no poço no momento da medição.
Já os testes de formação a cabo (popularmente conhecidos como TFCs) são operações
realizadas por uma ferramenta que é descida no poço através de um cabo de aço com conexões
elétricas, e que realiza medidas de pressão diretamente na parede do poço. As informações são
transmitidas à superfície através do cabo e não é necessário realizar correções na pressão como
nos TFRs.

227
228
Apêndice VII FEL e PDCA: Aplicação no Contexto de Geopressões

• FEL (Front End Loading): metodologia em que o projeto é subdividido em fases


sequenciais, cujas etapas são avaliadas antes do início de uma próxima fase através de
portões de decisão, sendo possível priorizar a execução dos itens mais críticos.
No contexto de projetos de Engenharia de Perfuração de poços (pelo menos aqueles
planejados pela Área Internacional da Petrobras), essas fases são: Projeto Conceitual, Engenharia
Básica e Execução do Projeto Básico. Os portões de decisão são: (1) Estudos de Projeto (Study
Meeting), quando é escolhida uma opção de Projeto Conceitual de geopressões e assentamento de
sapatas do poço; (2) Reunião Colegiada para Análise Crítica (Peer Review), quando a opção de
Projeto Básico é detalhada, não somente em termos da disciplina de geopressões mas também de
todas as demais disciplinas de Engenharia de Perfuração (brocas, revestimento, cimentação,
cabeça de poço, fluidos de perfuração, direcional etc.) — e apresentada a um grupo de
especialistas, podendo o mesmo aprová-la ou não; (3) Reunião de ‘Perfuração do Poço no Papel’
(Drill Well on Paper, ou DWOP), realizado pouco antes da execução da perfuração, quando o
Operador se reúne com companhias de serviço e equipe da sonda de perfuração para revisão final
do Projeto; (4) Fechamento (Close Out), quando são apresentadas as lições aprendidas,
posteriormente à perfuração do poço.
• Planejamento (Plan): planejamento das metas, objetivos, métodos e procedimentos;
• Execução (Do): execução das tarefas planejadas;
• Verificação (Check): revisão dos resultados das tarefas executadas e identificação de
possíveis correções e lições aprendidas;
• Implementação (Act): implementação das ações corretivas e/ou as lições aprendidas num
próximo poço e/ou projeto de poço.

229
230
Apêndice VIII Aplicação das Ferramentas Virtuais

Na aplicação direta do Método de Bowers (1995), com construção do gráfico de velocidade


filtrada em folhelhos vs tensão efetiva, obtenção da Equação da Curva Virgem e cálculo da
estimativa de pressão de poros, foi usado o módulo “Análise Multipoços” da ferramenta SIGEO,
programa computacional desenvolvido pela Petrobras.
O Multipoços permitiu a análise de múltiplos dados de poços simultaneamente, sobretudo a
visualização lado a lado de seus perfis e sua estratigrafia. Esta dissertação identificou inúmeras
vantagens do uso dessa ferramenta na aplicação do método. Elas estão ligadas à/ao:
• análise simultânea de todos os poços com bom desempenho gráfico;
• acesso direto à base de dados integrada mais atual da área de Exploração e Produção da
Petrobras; os dados de perfis e a estratigrafia dos poços escolhidos para estudo foram
recuperados usando este programa;
• acesso aos dados de MWD (direção, azimute) dos poço direcionais com conversão da
profundidade medida em profundidade vertical para cálculo da pressão de poros;
• geração de gráficos de propriedades e atributos com possibilidade de criar uma indicação
gráfica (através do traçado de polígonos) em torno de um dado ou de um intervalo de
interesse, com sua consequente visualização nos perfis e na estratigrafia do poço. Assim,
determinado dado com comportamento atípico e/ou anômalo pôde ser rapidamente
identificado.

Na aplicação direta do Método de Eaton utilizou-se o PREDICT, programa da Halliburton.


Sua vantagem reside na facilidade de geração de linha de tendência de compactação normal em
folhelhos, com comparação entre linhas de tendências de poços diferentes um mesmo track de
visualização. Os resultados em termos de estimativas de pressão de poros gerados através de
ambos os métodos foi visualizado no PREDICT.
O VIGEO (Visualizador de Dados integrados do E&P) e o VGE (Sistema de Informações
de E&P) são as bases de dados primárias da área de E&P da Petrobras e também possibilitaram a
recuperação de informações das disciplinas já citadas.

231
232
Apêndice IX Comparação de Linhas de Tendência de Compactação Normal para Aplicação
do Método de Eaton

(1) Grupo 1
Poço 106 (PPA) Poço 142 (PPN) Calibração de tendências
TVD (m)

LDA (m) – lâmina d’água


DT (µs/ft) – sônico
SHPDT – pontos de folhelho no sônico
SHPDTf – filtro de folhelhos do sônico
Tendência normal

DT (µs/ft)
Figura IX.1: Calibração da tendência de compactação normal do sônico para o poço sobrepressurizado 106
233
Poço 106 (PPA) Poço 142 (PPN)

TVD (m)
20”

LDA (m) – lâmina d’água


PPEA (lb/gal) – pressão de poros por Eaton
OVB (lb/gal) – pressão de sobrecarga
MW (lb/gal) – ρfluido de perfuração
PPmedida (lb/gal) – pressão de poros medida
Sapata dos revestimentos

PP (lb/gal)

Figura IX.2: Estimativa de pressão de poros por Eaton para o poço com PPA 106 e para o poço com PPN 142

234
(2) Grupo 2

Poço 3 (PPA) Poço 149 (PPA) Poço 1 (PPA) Poço 164 (PPN) Calibração de Tendências
TVD (m)

LDA (m) – lâmina d’água


DT (µs/ft) – sônico
SHPDT – pontos de folhelho no sônico
SHPDTf – filtro de folhelhos do sônico
Tendência normal

DT (µs/ft)
Figura IX.3: Calibração da tendência de compactação normal do perfil sônico para os poços sobrepressurizados 3, 149 e 1
235
Poço 3 (PPA) Poço 149 (PPA) Poço 1 (PPA) Poço 164 (PPN)
TVD (m) LDA (m) – lâmina d’água
PPEA (lb/gal) – pressão de poros por Eaton
OVB (lb/gal) – pressão de sobrecarga
MW (lb/gal) – ρfluido de perfuração
PPmedida (lb/gal) – pressão de poros medida
Sapata dos revestimentos

PP (lb/gal)
Figura IX.4: Estimativas de pressão de poros por Eaton para os poços com PPA 3, 149 e 1 e para o poço com PPN 164

236
(3) Grupo 3

Poço 154 (PPA) Poço 2 (PPA) Poço 157 (PPN) Poço 4 (PPA) Poço 129 (PPN) Calibração de tendências

TVD (m) LDA (m) – lâmina d’água


DT (µs/ft) – sônico
SHPDT – pontos de folhelho no sônico
SHPDTf – filtro de folhelhos do sônico
Tendência Normal

DT (µs/ft)
Figura IX.5: Calibração da tendência de compactação normal do perfil sônico para os poços sobrepressurizados 154, 2 e 4

237
Poço 154 (PPA) Poço 2 (PPA) Poço 157 (PPN) Poço 4 (PPA) Poço 129 (PPN)
TVD (m) LDA (m) – lâmina d’água
PPEA (lb/gal) – pressão de poros por Eaton
OVB (lb/gal) – pressão de sobrecarga
MW (lb/gal) – ρfluido de perfuração
PPmedida (lb/gal) – pressão de poros medida
Sapata dos revestimentos

PP (lb/gal)
Figura IX.6: Estimativas de pressão de poros por Eaton para os poços com PPA 154, 2 e 4 e para os poços com PPN 157 e 129

238
(4) Grupo 4
Poço 155 (PPA) Poço 147 (PPN) Calibração de Tendências
TVD (m) LDA (m) – lâmina d’água
DT (µs/ft) – sônico
SHPDT – pontos de folhelho no sônico
SHPDTf – filtro de folhelhos do sônico
Tendência normal

DT (µs/ft)
Figura IX.7: Calibração da tendência de compactação normal do perfil sônico para o poço com PPA 155

239
Poço 155 (PPA) Poço 147 (PPN)

TVD (m)
LDA (m) – lâmina d’água
PPEA (lb/gal) – pressão de poros por Eaton
OVB (lb/gal) – pressão de sobrecarga
MW (lb/gal) – ρfluido de perfuração
PPmedida (lb/gal) – pressão de poros medida
Sapata dos revestimentos

PP (lb/gal)

Figura IX.8: Estimativa de pressão de poros por Eaton para o poço com PPA 155 e o poço com PPN 147

240
Apêndice X Exemplos Teóricos: Cálculo da Pressão de Poros pelo
Método de Bowers Supondo Descarga no Poço 106

Exemplo - 1: Descarregamento com reversão de velocidade: como gerar a Curva de


Descarregamento para estimar a pressão de poros
Considere que o poço 106 estivesse calibrado em toda sua extensão, que o sônico fosse de
boa qualidade e mostrasse reversão a partir de uma tendência de compactação normal, com
redução da tensão efetiva na região da medição da pressão. Considere que o ponto de pressão
medida na Cal 930 fosse o do polígono rosa, conforme ilustrado na Figura X.1.
Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva

Pto de máx velocidade


e máxima σ' da região
de Subcompactação

Pto de PP medida
dentro da região de
reversão sob efeito de
Descarga
Curva Virgem
definida para os poços
Velocidade (ft/s)

Curva de Descarregamento
do exemplo teórico 1

Parâmetros da Equação
de Descarregamento:
A = 28,3711
B = 0,66
U = 4,2
Vmáx = 11.198 µs/ft
Equação da Curva de Descarregamento
σ'máx = 3.504 psi

Tensão efetiva (psi)

Figura X.1: Exemplo teórico 1: simulação da situação de descarregamento com reversão de velocidade

241
A Tabela X.1, abaixo, foi construída para apresentar os cálculos necessários à estimativa da pressão de poros.
Observe-se que a pressão estimada a 3.011 m de profundidade vertical (5.717 psi) foi similar à pressão medida aí (5.738
psi) porque a Curva de Descarga passa pelo ponto sob efeito de descarregamento, como mostra a Figura X.1.
Observe-se, também, que a coluna “Gráfico (σ'/σ'máx)” da Tabela X.1 precisa ser preenchida apenas quando é
detectado mais de um ponto de pressão sob efeito de descarregamento, a fim de delinear uma tendência para “U” na
Figura X.2. No caso desse exercício ilustrativo, a equação da Curva de Descarregamento, e consequentemente o valor de
U, foi inferida com auxílio do SIGEO, usando como referência um único ponto, partindo do ponto de máxima velocidade
teórica da CV.

Tabela X.1: Cálculo da PP sob efeito de descarregamento – exemplo teórico


Compactação Normal ou Subcompactação
Equação: V = 5000+ A (σ')B = 5000 + 28,3711 (σ')0,66
∴ σ' = [(V – 5000)/A](1/B) = [(V-5000)/28,3711](1,5152)
σ'máx
MD TVD SHPDTfmín Vmáx OVB da Eq. da
Ponto de CV
- - - - - - - -
Máximo m m µs/ft ft/s m/s psi lb/gal psi
3.004 2.994 89,3 11.198 3.413 8.165 15,95 3.504
Descarregamento

∴ σ' = [(σ'máx)U]*[( σ'máx)(1-U)] = [(35044,2)]*[(3504)(1-4,2)]


Equação: V = 5000 + A [σ'máx(σ'U/σ'máx)(1/U)]B

Gráfico Da Eq. de
SHPDT no σ'
(σ' / σ'máx)
(σ Descarga PPestimada =
MD TVD pto de VCV Vmedida OVB PPmedida
Ponto sob σ'U = σ'U / σ'CV / OVB - σ'U
suspeita de PPmedida σ'CV VU σ'U
OVB – PP σ'máx σ'máx
Descarga
m m µs/ft ft/s ft/s m/s psi lb/gal psi lb/gal psi psi - - ft/s psi psi
3.026 3.011 92,02 9.896 10.867 3.312 8.189 15,88 5738 11,18 2.451 3.224 0,7 0,92 10.860 2.470 5.717

242
Figura X.2: Exemplo da normalização de “U”, caso outras medidas de pressão sob suspeita de
descarregamento existissem para o poço

Exemplo - 2: Descarregamento sem reversão perceptível de velocidade acústica


Agora, considere-se que o poço 106 estivesse calibrado em toda sua extensão; que o sônico
fosse de boa qualidade, mas não mostrasse reversão a partir de uma tendência de compactação
normal; que o valor do filtro de folhelhos no sônico fosse adequado e confiável; que houvesse
redução da tensão efetiva a partir da região da Cal 930 e que, por fim, o ponto de pressão medida
na Cal 930 estivesse representado pelo triângulo preto ilustrado na Figura X.3.
Considere-se, ainda, que algum mecanismo, por exemplo, a compactação química de
argilas, estivesse atuando e provocasse descarregamento na Zona Cal 930 e abaixo dela.
Seria possível que o descarregamento resultante desse mecanismo tivesse mascarado a
resposta da velocidade acústica tornando-a diferente daquela comumente esperada para estes
casos (que seria de regressão a partir de um ponto de máximo)? Ou seja, seria possível que a
velocidade tivesse sua taxa de crescimento apenas reduzida?
Segundo Goulty e Ramdhan (2012), sim, seria válida a hipótese de que a ocorrência desse
fenômeno pode não provocar reversão na velocidade e/ou a mascará-la.
Quando esta situação ocorre, ela seria qualitativamente ilustrada na Figura X.3.
Supõe-se que deveria ser estabelecida a profundidade do topo da região onde o fenômeno
de descarregamento começa (ponto vermelho), que estaria ainda sob a CV, em algum ponto mais
profundo que o último ponto de pressão medida sob efeito de subcompactação (ponto azul). Este

243
ponto vermelho seria equivalente, em termos qualitativos, ao ponto de máxima profundidade da
região de subcompactação no exemplo anterior.
Para esse caso, poderia ser construída uma curva de descarregamento de Bowers
“adaptada” (vermelha tracejada) ligando o topo da região com descarregamento ao próximo
ponto de pressão medida mais profundo (triângulo preto). Esta curva não teria continuidade além
da profundidade do triângulo preto.
A partir daí, seria definida a equação de outra curva (rosa tracejada) para simular o
comportamento da velocidade e da pressão medida em regiões mais profundas (triângulos rosa)
que aquela do triângulo preto. Consequentemente, os valores da pressão estimada para os
triângulos rosa seriam mais próximos dos valores da própria pressão medida, quando comparados
àqueles estimados por apenas uma Curva de Descarregamento, como tradicionalmente seria feito.
Entretanto, a dificuldade estaria em definir onde começaria a influência do fenômeno, já
que a reversão da velocidade não é percebida.

Velocidade sônica em folhelhos x Tensão efetiva Topo da região de


descarregamento

Pto de PP medida
dentro da região de
Subcompactação
Velocidade (ft/s)

Pto de PP medida dentro


da região sem reversão de
velocidade mas sob efeito
de descarregamento

Pto de PP medida que


não existe mais porque
não há região com
reversão da velocidade

1ª Curva de
Descarregamento
quando a velocidade não
mostra regressão

Continuação da 1ª Curva
de Descarregamento
redução da σ' quando a velocidade não
mostra regressão

Tensão efetiva (psi)

Figura X.3: Exemplo fictício da aplicação do Método de Bowers quando a ocorrência de um mecanismo
mascara o efeito de descarregamento pela ausência de reversão da veolocidade ou redução do seu
crescimento

244
Observe-se que não se trata exatamente de aplicar o que preconiza o Método de Bowers
porque ele supõe redução da tensão efetiva sob condições de reversão da velocidade a partir do
topo da região de descarregamento. Trata-se de considerar uma situação em que a reversão não é
evidente e a velocidade continuaria aumentando, porém em ritmo menos elevado.
Ideia similar foi apresentada também, em 2012, em uma propaganda impressa (Figura X.4)
da companhia americana Sigma 3, da qual o Prof Dr. Allan Huffman é um dos acionistas. Nela é
oferecido o serviço de previsão da pressão de poros em ambiente de ocorrência de múltiplos
mecanismos geradores de sobrepressão (dentre os quais a subcompactação e a compactação
química) e se faz referência a um estudo de caso (não revelado).
Nessa propaganda, a figura “D” chama a atenção pela semelhança com o exemplo acima
proposto. A diferença está em que a propaganda considera que existe um trecho onde ainda se
percebe a reversão da velocidade devido à ocorrência de descarregamento (curva laranja) e
somente a partir de certa profundidade é que não mais (curva vermelha).
Indagada a respeito do estudo a cuja propaganda faz referência, a companhia disponibilizou
apenas um resumo em poucas linhas do trabalho Geophysical pressure prediction for ultra-deep
wells: When the reservoir becomes the enemy de Alan Huffman (2008) publicado em jornal
técnico do Oriente Médio, mas que não está disponibilizado publicamente.

245
Figura X.4: Propaganda impressa da companhia americana Sigma 3: previsão de pressão de poros em
ambientes com múltiplos mecanismos geradores de pressão

246
Apêndice XI Conversão de Unidades

Tabela XI.1: Referência de Unidades


SISTEMA DE UNIDADES DE
SISTEMA DE UNIDADES
PETRÓLEO USUAIS NA
INTERNACIONAL
PERFURAÇÃO
Pressão Pa psi
Pressão expressa em massa
específica equivalente de g/cm3 lb/gal ou ppg
fluido
Gradiente de pressão Pa/m, kgf/cm2/m psi/m ou psi/ft
Massa específica de fluido g/cm3 lb/gal ou ppg
MASSA ESPECÍFICA
Massa específica da água
doce usada como
referência neste trabalho RS @ ‘x°K ? ;
= 1,0 g/cm3 = 8,345 lb/gal
em condições ambiente, ou (usando como referência galão americano ou U.S. gallon)
seja, 1 atm e 25°C
(Perry & Chilton, 1973)

141,5
=
Pressão exercida pelo HC
RK 6Z“/ Z9
° 5 P + 131,5
expressa em unidade de
massa específica @ 15,5°C
GRADIENTE DE PRESSÃO

ƒ
Gradiente da água usada
como referência nesta RS 9,795 kPa/m = 1,422 psi/m = 0,433 psi/ft = 0,1 kgf/cm2/m
dissertação

RK 6 / ;” 9 *ƒ RS 6Z“/ Z9
Gradiente de pressão do
HC
CONVERSÃO DE UNIDADES
1 MPa = 145,04 psi = 145 lb/pol2 = 10,197 kgf/cm2
1 kgf/cm2 = 14,22 psi
1 psi = 0,070307 kgf/cm2
PP (psi) = 0,1704 . ρP (lb/gal) . h(m)
PP (psi) = 0,0519 . ρP (lb/gal) . h(ft)
-
1lb = 453,59 g
1 g/cm3 = 8,345 lb/gal = 2,203 lb/l
1 l = 0,264 U.S.gallon
1 U.S.gallon = 3,785 l
1 lb/gal = 40,462 kPa/m

247
248
Apêndice XII Mnemônicos das Curvas de Perfis e Padrões de
Cores de Litologia

Tabela XII.1: Padrões utilizados na discussão de resultados do Método de Bowers, nas figuras de cada
poço: mnemônicos das curvas de perfis e de pressão; escala de valores e cores correspondentes
ESCALA /
CURVAS MNEMÔNICO COR DESCRIÇÃO
UNIDADE

0 - 200
GR verde Perfil de raios gama
° API

8 - 20
CAL in marrom
Perfil de caliper da fase

240 − 40 Perfil sônico ou tempo de trânsito em folhelhos,


DT
µs/ft azul inverso da velocidade acústica
Perfis
240 − 40 Filtro mediana traçado sobre os pontos de folhelho
SHPDTf
µs/ft verde do perfil sônico

0 − 200
RES ohm.m
marrom Perfil de resistividade

1−3
DEN rosa Perfil de densidade total da rocha
g/cm3

8 − 20 verde Pressão exercida pelo fluido de perfuração expressa


MW musgo em termos de massa específica equivalente de fluido
lb/gal
Pressão de poros estimada pelo Método de Bowers
8 − 20
PPGBO marrom expressa em termos de massa específica equivalente
lb/gal
de fluido
Pressão
8 − 20 Pressão de sobrecarga da rocha expressa em termos
OVB lb/gal
rosa
de massa específica equivalente de fluido

8 − 20 Pressão de poros medida expressa em termos de


PPmed lb/gal massa específica equivalente de fluido

249
Tabela XII.2: Padrões utilizados na discussão de resultados do Método de Eaton, nas figuras de cada poço:
mnemônicos das curvas de perfis e de pressão; escala de valores e cores correspondentes
ESCALA /
CURVAS MNEMÔNICO COR DESCRIÇÃO
UNIDADE
Perfil sônico ou tempo de trânsito em folhelhos,
DT inverso da velocidade acústica
azul

SHPDT 240 − 40 Pontos de folhelho sobre o perfil sônico


Perfis
µs/ft
Filtro mediana traçado sobre os pontos de
SHPDTf amarelo
folhelho do perfil sônico

Tendência
de vermelho Tendência normal de compactação traçada sobre
NCTDT -
o perfil sônico
Compactação
Normal preto

Pressão de poros estimada pelo Método de Eaton


8 − 20
PPEA lb/gal
vermelho expressa em termos de massa específica
equivalente de fluido
Pressão exercida pelo fluido de perfuração
8 − 20 verde
MW lb/gal musgo
expressa em termos de massa específica
equivalente de fluido
Pressão
8 − 20 Pressão de sobrecarga da rocha expressa em
OVB lb/gal
rosa
termos de massa específica equivalente de fluido

8 − 20 Pressão de Poros medida expressa em termos de


PPmed
lb/gal massa específica equivalente de fluido

Tabela XII.3: Padrão de litologia usado nas figuras da aplicação dos métodos de Eaton e Bowers
LITOLOGIA PADRÃO

Folhelho

Marga

Areia

Calcário

250

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