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18.

Variação e refinamento da forma básica


18.1 Visão geral
Diversas são as maneiras de avaliar a qualidade de um produto, os
consumidores, por exemplo, utilizam alguns parâmetros quando buscam por produtos
capazes de atender determinadas necessidades e com aspectos inovadores.
Pensava-se, há algum tempo, que qualidade e inovação eram variáveis que não
possuíam qualquer relação de dependência, no entanto constata-se que esses parâmetros
são inseparáveis (PEREIRA, 2008). Analogamente, observa-se que não é possível
desenvolver um produto sem que vários de seus aspectos sofram modificações. A
forma, ou contornos de um produto, é um exemplo de parâmetro alterado durante a
evolução de um produto.
Grandes alterações do design podem agregar muito valor a um produto em
desenvolvimento, no entanto é necessário que as modificações sejam feitas de maneira
consciente, aliando as melhorias na forma com o cumprimento das funções para as quais
o objeto se destina. Em vista deste fato, o estudo da variação e refinamento da forma
básica de um objeto mostra-se muito importante, já que alterar somente a forma não é
garantia de aumento do valor. Essa análise prioriza a identificação de um arranjo
estrutural com características visuais melhores.
É comum observar modificações na forma da maioria dos equipamentos
eletrônicos, uma vez que a tendência evolutiva dos quais é a diminuição das dimensões
do produto e a associação de mais funções. Empresas que compreendem as tendências
de mercado e exploram-nas sem comprometer as funções principais do produto
agregam-lhe maior valor.
Para realizar o estudo da variação e do refinamento da forma básica de um
objeto, o conceito de superfície funcional deve ser esclarecido, pois as alterações na
forma dos produtos estão intimamente ligadas com as quais. De acordo com Tjalve
(1979), superfícies funcionais são superfícies que possuem uma função ativa durante o
uso do objeto e são classificadas em dois tipos: superfícies funcionais internas, quando
suas funções estão relacionadas a outros elementos do próprio sistema; e superfícies
funcionais externas, quando uma superfície possui funções que interagem com a
vizinhança. Essas superfícies podem ser alteradas de acordo com quatro parâmetros
específicos: número, arranjo, forma geométrica e dimensão (TJALVE, 1979).
Durante o processo de estudo da forma deve considerar também as restrições no
processo de variação da forma básica de um produto, pois os quais são responsáveis por
garantir que as alterações da forma não prejudiquem o funcionamento do sistema.
Existem regiões em um objeto que não devem ser obstruídas ou alteradas. Em uma
prensa hidráulica, por exemplo, a área destinada ao posicionamento da mão do operador
e a região pela qual o atuador irá atravessar não podem ser obstruídas.
Como já discutido nos capítulos anteriores, as necessidades dos consumidores e
as tendências de mercado são parâmetros que devem ser considerados durante o
desenvolvimento de um produto, contudo o conceito de variação e refinamento da
forma também deve ser considerado durante esse processo. Essa análise possibilita a
escolha das formas mais ergonômicas, robustas e principalmente com características
visuais mais agradáveis e chamativas aos consumidores, que agregam maior valor aos
produtos analisados.

18.2 Passo a passo


1. O estudo de variação e refinamento da forma faz uso do conceito de que
quando um produto é reestruturado, a forma do qual também é modificada e, por
conseqüência, a estrutura funcional também pode sofrer modificações. Dessa forma, a
primeira etapa do processo de análise da forma é a identificação das subfunções
desempenhadas pelo produto e dos subsistemas nos quais as alterações da forma
poderão influenciar. Esse levantamento deve ser feito para que a estrutura funcional do
produto não seja prejudicada de maneira que somente a forma seja alterada.
No quadro “classificação dos subsistemas quanto à influência na forma”,
apresentado abaixo, identifique as subfunções do produto estudado e os nomes do
subsistema no qual a subfunção desempenha suas características.

Quadro 18.1 – Classificação dos subsistemas quanto à influência na forma


CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSISTEMAS QUANTO À INFLUÊNCIA NA FORMA
Subfunção Nome do subsistema do Classificação: principal Ícone representativo
produto que realizará a ou secundário do subsistema
subfunção
Ainda nesse quadro, classifique os subsistemas em principal ou secundário,
utilizando como parâmetro avaliativo o quão cada subsistema influência na forma do
produto. Crie também símbolos para representar os subsistemas, aconselha-se a escolha
por símbolos de vários formatos geométricos, isso facilitará a diferenciação dos
subsistemas.
2. Em seguida, crie pelo menos seis configurações alternativas para o produto,
compostas por combinações dos ícones representativos dos sistemas principais. Essas
combinações devem ser feitas do seguinte modo: posicione os subsistemas classificados
como principais de diferentes maneiras, não considere nesta etapa nenhum aspecto com
o intuito de avaliar a forma, somente considere o arranjo dos subsistemas. Crie diversas
configurações, quanto maior o número de conceitos, maiores são as possibilidades de
encontrar uma forma que agregue mais valor ao produto. No quadro, “Configurações
alternativa para os subsistemas principais” insira as configurações geradas.

Quadro 18.2 - Configurações alternativas para os subsistemas principais


CONFIGURAÇÕES ALTERNATIVAS PARA OS SUBSISTEMAS PRINCIPAIS

Configuração 1 Configuração 2

Configuração 4
Configuração 3

Configuração 5 Configuração 6

3. Após a organização dos subsistemas em diversos arranjos sem considerar


qualquer critério avaliativo, parte-se para a avaliação dessas estruturas. Utilize, para
tanto, os mesmos critérios utilizados na avaliação das concepções (método descrito no
capítulo 17), utilize também a matriz de avaliação relativa para selecionar a melhor
configuração dos subsistemas principais do produto. Na seqüência é apresentado um
modelo de estrutura de uma matriz de avaliação. Preencha-a e identifique a melhor
alternativa.
Quadro 18.3 – Matriz de avaliação
MATRIZ DE AVALIAÇÂO
Critérios de avaliação Pesos Configurações

1 2 3 4 5 6 ...

4. Em seguida, acrescente os subsistemas secundários a estrutura avaliada


anteriormente como a melhor concepção, sem modificá-la. Crie pelo menos seis novas
concepções, o arranjo dos subsistemas deve ser feito da mesma maneira como realizado
para o arranjo formulado a partir dos subsistemas principais.
Avalie as concepções geradas utilizando como princípio avaliativo o consenso
dos integrantes da equipe de desenvolvimento e determine a melhor alternativa.

Quadro 18.4 – Configurações alternativas incluindo os subsistemas secundários


CONFIGURAÇÕES ALTERNATIVAS INCLUINDO OS SUBSISTEMAS SECUNDÁRIOS

Configuração 1 Configuração 2

Configuração 3 Configuração 4
Configuração 5 Configuração 6

5. Na tabela “Configurações alternativas considerando o uso de formas básicas”,


gere pelo menos seis novas configurações a partir da concepção escolhida no item
anterior, agora variando as formas básicas utilizadas (cubos, esferas, cones,
paralelepípedos, entre outras formas básicas). Realize essa variação sem que haja
alteração nas características funcionais do produto Em consenso com a equipe de
desenvolvimento determine a melhor alternativa.

Quadro 18.5 – Configurações alternativas considerando o uso de formas básicas

CONFIGURAÇÕES ALTERNATIVAS CONSIDERANDO O USO DE FORMAS BÁSICAS

Configuração 1 Configuração 2 Configuração 3

Configuração 4 Configuração 5 Configuração 6

6. Na tabela “Modelo geométrico global do produto”, crie um croqui da forma


identificada como a melhor alternativa, ou seja, detalhe como será a forma escolhida.
Quadro 18.6 – Modelo geométrico do produto
MODELO GEOMÉTRICO GLOBAL DO PRODUTO

18.3 Exemplo
Abaixo é apresentado um exemplo de variação e refinamento da forma básica de
um aplicador de vacina em gado de corte. Esse exemplo foi elaborado por alunos do
curso de Engenharia Industrial Mecânica da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, como um trabalho da disciplina de metodologia de projetos.
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS CURITIBA – DIRGRAD – CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA
DISCIPLINA ME67J – METODOLOGIA DE PROJETOS
VARIAÇÃO E REFINAMENTO DA FORMA BÁSICA DO PRODUTO
RESPONSÁVEIS Rennan Müller

Vanildo Vieira de Andrade Junior

DATA 09 de novembro de 2011 NOTA / VISTO

CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSISTEMAS QUANTO À INFLUÊNCIA NA FORMA


Subfunção Nome do subsistema do Classificação: principal ou Ícone representativo
produto que realizará a secundário do subsistema
subfunção

Perfurar o couro Agulha Principal


do gado

Armazenamento
provisório do Reservatório de medicamento Principal
medicamento

Regulagem da Botão de dosagem Secundário


dose

Acionamento da Botão de disparo Secundário


aplicação

Armazenamento Câmara de ar Principal


de ar comprimido

Local reservado Cabo Principal


para sustentar o
produto com a
mão
CONFIGURAÇÕES ALTERNATIVAS PARA OS SUBSISTEMAS PRINCIPAIS
Configuração 1 Configuração 2

Configuração 3

Configuração 4 Configuração 5

Configuração 6 Configuração 7

Configuração 8

Configuração 9
MATRIZ DE AVALIAÇÂO

Critérios de Avaliação Configurações

Pesos
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(Referência)
Durabilidade 7 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0

Segurança 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Resistência ao Impacto 6 0 0 -1 1 1 1 1 1 -1 -1

Precisão da Regulagem 2 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Acionamento da Aplicação 7 0 1 1 -1 1 1 -1 1 1 -1

Facilidade em recarregar o reservatório 5 0 1 1 1 1 1 1 1 -1 1

Tamanho do Reservatório 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Portabilidade 6 0 0 -1 -1 0 1 1 0 -1 -1

Eficiência de Uso 7 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Custo de Produção 6 0 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Custo de Manutenção 2 0 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Reposição de Componentes 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Pesos
Critérios de Avaliação Configurações

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(Referência)
Regulagens na Aplicação(ml/dose) 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Regulagens Ergonômicas 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Peso 4 0 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Fácil Fabricação 3 0 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Fácil montagem 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Fácil embalagem 1 0 0 0 -1 0 0 0 0 -1 -1

Simplicidade dos componentes 1 0 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Mobilidade na aplicação 5 0 0 0 0 0 0 0 0 -1 -1

Fácil limpeza 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Acabamento superficial 3 0 0 0 -1 0 0 0 0 -1 -1

Compacta 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Segurança (trauma no animal) 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Impacto Ambiental 3 0 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Soma ponderada 100 0 2 -10 -16 8 14 7 8 -29 -33


CONFIGURAÇÕES ALTERNATIVAS INCLUINDO OS SUBSISTEMAS SECUNDÁRIOS
Configuração 1 Configuração 2

Configuração 3 Configuração 4

Configuração 5 Configuração 6

Configuração 7
CONFIGURAÇÕES ALTERNATIVAS CONSIDERANDO O USO DE FORMAS BÁSICAS

Configuração 1
Configuração 2
Configuração 3

Configuração 4 Configuração 5 Configuração 6


MODELO GEOMÉTRICO GLOBAL DO PRODUTO

REFERÊNCIAS CONSULTADAS
Notas de Aula. Acesso em: 07 de dezembro de 2011.
Disponível em: Moodle UTFPR <http://ead.ct.utfpr.edu.br/moodle/mod/resource/view.php?id=14841>

Fonte: MÜLLER, R. DE ANDRADE JUNIOR, V. V. Variação e refinamento da forma básica de um


aplicador de vacinas em gado de corte. Trabalho da Disciplina Metodologia do Projeto. Curso de Engenharia
Industrial Mecânica da UTFPR. Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio de Carvalho. Curitiba, 2011.
18.4 Referências

DE CARVALHO, M. A. Notas de aula da disciplina de metodologia de projetos, 2011.

MÜLLER, R. DE ANDRADE JUNIOR, V. V. Variação e refinamento da forma básica de um


aplicador de vacinas em gado de corte. Trabalho da Disciplina Metodologia do Projeto. Curso
de Engenharia Industrial Mecânica da UTFPR. Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio de
Carvalho. Curitiba, 2011.

PEREIRA, Z. L. “Qualidade e Inovação”. Universidade Nova de Lisboa, Caparica, Portugal,


2008.

TJALVE, E.: A Short Introduction to Industrial Design, London: NewnesButterworth, 1979.

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