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A guerra dos meninos

Assassinatos de menores no Brasil

João Paulo de Morais


Josiane Morais Silva

Resumo

O artigo a seguir tem por objetivo denunciar a morte de centenas de


crianças e adolescentes, praticadas por grupos de extermínio no Brasil tendo
como base cientifica o livro “A guerra dos meninos”. No qual foi utilizado como
materiais entrevistas, reportagens e fotos. Visando esclacer as violências e
atrocidades cometidas contra os menores possibilitando até um denúncia social.
Para abordar, com toda independência, um tema incômodo e difícil como este -
que expõe o Brasil frente a uma chaga vergonhosa internacionalmente. Uma das
contribuições fundamentais desta pesquisa será a investigação e a apuração dos
fatos com o objetivo de informar a sociedade e proteger os principais envolvidos
“as crianças”.

Palavras-chaves: Menores. Grupos de extermínios. Assassinatos.

Introdução

A fotografa Paula Simas, durante a viagem realizada entre os meses de


janeiro e fevereiro por seis capitais brasileiras, percebeu que os casos de mortes
de menores iam se repetindo com freqüência. Afirmando ser impossível manter-se
impassível diante das torturas, maus, tratos e extermínios contra criança,.A idéia
foi simplesmente fazer um retrato o mais nítido possível sobre o assassinato de
crianças e adolescentes por esses grupos de extermínio conhecidos como
“Esquadrão da Morte”,”Justiceiros” ou “Polícia Mineira".
Foram ao todo 315 entrevistas com menores, seus familiares,
governadores, educadores, psicólogos dentre outros, também participaram
integrantes de movimentos de Direitos Humanos. Além de entrevistas informações
nos arquivos de jornais, das delegacias, dos movimentos humanos e de
estudiosos.
Um dos obstáculos encontrados para realizar essa pesquisa, foi a falta de
informação confiável, apesar de terem sido bisbilhotados arquivos oficiais dos
Ministérios da Saúde e da Educação além do IBGE e não oficiais como
UNICEF.Outro obstáculo é o medo , que muitos meninos temem em falar e depois
serem assassinados .O medo também atinge adultos que trabalham ou defendem
menores muitos são ameaçados ou sofrem represálias . Contudo isso comprova-
se que a guerra dos meninos é uma guerra desigual,pois conta com a
participação, apoio ou convivência da polícia.

Ciranda Viciada

A Pastoral do Menor da Diocese de Duque de Caxias funciona em uma casa


simples de dois andares e grades por todos os lados na Baixada Fluminense,
periferia do Rio de Janeiro.Uma das regiões mais violentas do país, na qual
durante o dia os meninos brincam em estreitos corredores, e a maioria servem
para uma sombria estatística, pois quando morrem seus nomes são escritos em
uma placa com letras vermelhas.
Wolmer do Nascimento, 38 anos trabalha na casa da Pastoral e lamenta não ter
dinheiro e nem funcionários. Ele começou a perceber que dezenas de garotos
desapareciam e nunca mais voltavam, por fim com a ajuda de sua esposa
descobriu que elas eram assassinadas por grupos de extermínio. Preocupado
alertou as autoridades sobre o extermínio de menores, a maioria infratores.
Essa guerra dos meninos é uma das sombras desconhecidas da crise social , a
maioria das crianças e adolescentes vivem em famílias que tem renda mensal de
meio salário mínino.São milhões de crianças em situação de carência o que
reproduz e cultiva a violência.Para eles ,cada dia é um dia o próximo pode não
existir.
A violência não é destinada especialmente contra a criança, mas ela se torna cada
vez mais sua maior vitima, com o crescimento do número de garotos e garotas
que buscam na rua seu sustento, por falta de escola ou necessidade de
complementar o orçamento doméstico.Sendo assim a criminalidade infantil está
crescendo a maioria dos furtos cometidos hoje são por menores.
Por fim se torna uma ciranda os grupos de extermínio e os policias que abusam do
poder têm espaço para ousadias também se sentem com respaldo na
sociedade.Os meninos que vivem na rua ou fazem da rua seu sustento
colecionam infindáveis histórias de maus-tratos cometidos por policiais nas
madrugadas quando a cidade dorme.

Os mortos também são adotados

Quando um corpo chega ao IML com marcas de violência, o atestado de óbito não
pode ser feito, presume-se crime. E, por conseqüência abertura de
inquérito.Sendo assim, a saída imaginada por entidades assistenciais é encontrar
um “pai adotivo” o menino é adotado, e pode ter um enterro e passa a ter um
sobrenome.
Para os grupos de extermínio a solução encontrada são os cemitérios
clandestinos, daí a dificuldade saber a extensão precisa dos assassinatos dos
menores e se obter uma estatística rigorosamente confiável. Não há estímulos
para as investigações e muitos sofrem ameaças ou ataques diretos. Quando se
inicia os trabalhos testemunhas desaparecem muitas vezes os principais
envolvidos.
Quem cala, vive

A lei do silêncio faz parte da rotina da maioria das pessoas que protegem
infratores exige apuração ou apontam nomes de envolvidos nos assassinatos.
Em alguns locais do Brasil os grupos de extermínios patrocinados ou amparados
por policiais são muito ousados. Lá ,segundo trabalhos do Ibase, 57%dos
homicídios são praticados por eles. Preocupadas com essas mortes mulheres
organizaram o chamado S.O.S criança. E além de encaminharem as denúncias
também passaram o cuidar exclusivamente do problema. Entra cena o famoso
“Esquerdinha” que aterrorizava os favelados. Para sobreviver a melhor forma era
fingir que não sabia de nada.

O arquivo do silêncio

Muitas vezes, pessoas influentes como governadores, advogados e religiosos com


o mínino de apoio tem dificuldades de enfrentar os exterminadores, imaginem
então suas vítimas, ou seja, as crianças e conhecem perfeitamente o sentido da
expressão “queima de arquivo”.
Esse é um dos motivos que se esconde atrás do extermínio de menores, eles
geralmente sabem os nomes de policiais e exterminadores envolvidos em crimes
e esquadrões, porém não dizem uma só palavra.
É grande o risco de denúncia não levar a nada, mesmo que sejam apresentados
nomes,há também muitas agressões dentro e fora das delegacias praticadas
pelos seguranças para afastar os menores.

Contos da carrocinha

Impressionantes descobertas sobre o aborto foram feitas como por exemplo o


estilo “pezada” . Médicos que atendem em pronto-socorro públicos, soube que
uma grande quantidade de meninas se submetiam aos chutes no estômago era
internada, depois, com graves infecções.
O projeto das pessoas que tratam das meninas é estabelecer pontes
afetivas, a fim de reintroduzi-las na vida fora da prostituição.É comum que essa
ponte seja interrompida antes mesmo de sua finalização.
O cidadão que anda na rua não está preocupado com considerações
sociológicas quer apenas andar sem ser assaltado, considerando ter mais direitos,
por ser trabalhador e pagar impostos, do que o marginal. Assim os menores são
tratados como cães, colocados em carros e depois simplesmente somem.
denunciava a morte de centenas de crianças. Coincidentemente, três dias depois,
o público que assistia ao documentário "A Guerra dos Meninos", um dos médias
em competição, via na tela as imagens sobre a tragédia que, indiretamente,

violências cometidas contra menores no Brasil

Nesta quinta-feira, 10, quando, finalmente, ao menos alguns paranaenses estarão


conhecendo as imagens contundentes do mais importante documentário deste
ano - em exibição especial no auditório do SENAC (Rua André de Barros, 750,
14h30), patrocinada pela Câmara Municipal, não será surpresa se em algum jornal
ou informativo de rádio e televisão estiverem sendo veiculadas notícias sobre
novas atrocidades cometidas contra os menores.

O documentário da carioca Sandra Werneck, 40 anos, quase 20 de cinema, é isto


mesmo! É uma espécie de jornal filmado (e falado) de uma das mais trágicas
realidades de nossos dias: a violência que atinge a toda sociedade civil - mas que
vem mostrando escalada na faixa mais pobre daqueles que, ironicamente, seriam
"os homens (e mulheres) de amanhã". Repetimos, aqui, o que já escrevemos
algumas vezes: "A Guerra dos Meninos" é o maior exemplo de cinema de
Utilidade Pública. O cinema feito, pensado e utilizado para fazer com que aquelas
pessoas que vejam suas imagens conscientizem-se - e passem a agir como
elementos multiplicadores - de uma realidade que embora sabida de todos, é
escamoteada com a desculpa individualista de que "eu pago meus impostos, o
governo que cuide do problema". Há dois meses, em Gramado, Sandra Werneck
nos dizia que ao ler o livro reportagem de Gilberto Dimenstein, 33 anos, sobre a
guerra silenciosa, "não declarada oficialmente, mas que nos últimos cinco anos
atingiu mais de 2 mil crianças no Brasil", sentiu que apesar de todo êxito da obra -
semanas em primeiro lugar entre os livros de não-ficção mais vendidos - era
necessário dar uma dimensão ainda maior as denúncias formuladas. Dimenstein,
hoje, o mais respeitado jornalista brasileiro por suas corajosas posições em
denunciar escândalos e arbitrariedades de autoridades (especialmente a
Presidência da República) através das páginas da "Folha de São Paulo", apoiou
Sandra na realização deste filme de dificílima produção, que só se viabilizou
graças a recursos obtidos em organismos internacionais - conforme aqui já
registramos anteriormente (O Estado do Paraná, 8/9/91). ////Para abordar, com
toda independência, um tema incômodo e difícil como este - que expõe o Brasil
frente a uma chaga vergonhosa internacionalmente - Sandra teve que se arriscar
pessoalmente. Com o fotógrafo Guy Gonçalves e seu ex-marido, o também
documentarista Sílvio Da-Rin ("A Igreja da Libertação") fazendo o som direto,
Sandra buscou na Baixada Fluminense, no Recife, em São Paulo e outros locais
os personagens reais de seu drama sem-ficção: as crianças que sobreviveram a
massacres, os comerciantes que apóiam a existência de esquadrões de
extermínio aos menores delinqüentes, um matador que cumpre pena numa
penitenciária em São Paulo e outro, em liberdade, que só concordou em falar
devidamente encapuzado - num dos mais difíceis momentos de filmagens ("fui
conduzido a ele sob mira de metralhadoras e avisada de que não sairia viva se o
irritasse" conta Sandra). De aparência frágil, feminina e bonita, Sandra é,
entretanto, uma mulher de idéias seguras e corajosa. Anteriormente, já havia
descido ao mundo de marginalidade para, com sua sensibilidade tentar entender a
criminalidade em "Pena/Prisão" e "Damas da Noite", curtas também antológicos
sobre as mulheres que cumprem prisão e as meninas conduzidas a
prostituição.///// Há três anos, outra mulher corajosa, a ex-atriz Marlene França
após ter realizado um contundente documentário sobre o frei Tito - uma das
vítimas da ditadura militar - rodou "Meninos de Rua", média metragem e que
trouxe imagens também impressionantes sobre a violência sofrida pelos menores
nas grandes cidades. Embora aparentemente ficcional, "Pixote", que o romancista
José Louzeiro escreveu há 15 anos e que o argentino-brasileiro Hector Babenco
filmou em 1980, representou o primeiro brado internacionalmente ouvido de alerta
sobre o que vem acontecendo com a infância e juventude brasileira. Ironicamente,
o próprio ator-principal daquele filme, o então menino Fernando, se tornaria vítima
do processo: mesmo com as portas abertas pelo êxito do filme (premiado
internacionalmente e exibido com sucesso nos EUA/Europa) não teve condições
de se profissionalizar, caiu na marginalidade e foi assassinado pela Polícia Militar
do Estado de São Paulo há menos de três anos. Portanto, ////"A Guerra dos
Meninos" pode, aos mais insensíveis, não trazer novidades, pois as imagens que
Sandra Werneck foi buscar nas ruas fazem parte de um cotidiano trágico.
Entretanto, é através de trabalhos como estes que artistas sensíveis a uma
realidade oferecem sua contribuição./// Apresentada no mercado mundial de
televisão em Cannes, de 19 a 23 de abril, despertou o interesse imediato de
programadores de documentários de TVs de pelo menos 20 países, índice que foi
considerado "um recorde" pela agência de notícias France Press (em despacho
feito a 25/4/91). Já foi vendido para vários países e convidado oficialmente para,
entre outros festivais, os de San Sebastian, na Espanha e San Francisco, nos
EUA. No Rio de Janeiro, durante cinco semanas foi exibido no Cine-Clube
Estação Botafogo, com sessões abertas a menores de rua. Em Curitiba, graças ao
apoio que os vereadores Nely Almeida e Horácio Rodrigues deram a nossa
sugestão, haverá ao menos esta exibição especial, quinta-feira à tarde, a qual se
espera compareçam não só os vereadores da cidade, mas também todas as
pessoas que direta ou indiretamente tem a obrigação de fazer algo para que a
guerra silenciosa que dizima centenas de crianças mensalmente em nosso País
seja terminada, naquilo que, nas palavras de Gilberto Dimenstein, "se esconde
sob o tapete da nação e cuja ponte saliente se revela no extermínio sistemático de
crianças". xxx Graças a iniciativa da deputada Emília Belinatti e, especialmente de
sua assessora, a jornalista Rose Arruda, "A Guerra dos Meninos" será
apresentado também em sessão especial em Londrina, com patrocínio de várias
entidades locais. Infelizmente, devido a problemas pessoais, Sandra Werneck -
convida para vir as exibições em Curitiba e Londrina não poderá estar presente.
Entretanto, a força das imagens de seu filme é o melhor depoimento que poderia
oferecer. Espera-se que na sessão de quinta-feira, 10, comparecendo a Sra. Fany
Lerner, Secretaria Municipal da Criança - e que vem realizando admirável trabalho
nesta área - oficialize-se a solicitação de que este documentário mereça ser
programado pelo menos por duas semanas numa das salas de exibição mantidas
pelo povo curitibano e que estão sendo tão mal administradas pela FUCUCU.
Afinal, só se justifica que a Prefeitura financia cinemas se abri-los para filmes de
real utilidade pública.

A vereadora Nely Almeida (PSDB) emocionou-se tanto ao assistir "A Guerra dos
Meninos", que na sexta-feira, 6, telefonou a sua realizadora, Sandra Werneck,
consultando sobre a possibilidade de ser feita uma exibição deste documentário
no plenário da Câmara de Curitiba em outubro próximo, quando das discussões
em torno do problema do menor - e já estiver definido o Conselho Municipal de
Defesa da Criança e do Adolescente. O vereador Horácio Rodrigues (PL),
presidente da casa - que também viu uma parte do vídeo - apoiou a idéia,
entendendo a importância deste documentário de 52 minutos que já tem exibições
asseguradas em mais de 10 países - e que concorrendo no 19º Festival de
Gramado do Cinema Brasileiro (5 a 10 de agosto) recebeu os Kikitos de melhor
curta e melhor direção. xxx A primeira cena mostra um garoto de 12 anos
fabricando caixões em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A última seqüência
focaliza um grupo de meninos de rua representando uma execução em que as
armas se transformam magicamente em sorvete. Entre estes dois pontos, Sandra
Werneck, uma carioca de 40 anos completados no último dia 5 de maio, realizou
um dos mais profundos, sinceros e corajosos documentários brasileiros. Com toda
razão, na sessão em que "A Guerra dos Meninos" foi projetada no auditório
Lupiscinio Rodrigues no Serrano Centro de Convenções, em Gramado, muitos
espectadores saíram com lágrimas nos olhos. A emoção atingiu também aos
membros do júri (do qual fizemos parte), que mesmo considerando a importância
de outros média-metragens em competição (*), foram unânimes: pela sua
atualidade e importância, "A Guerra dos Meninos" merecia os dois prêmios na
categoria de média-metragem. Para falar neste documentário que só foi possível
ser realizado graças a ajuda da Unicef, e, especialmente, da Kinderpostegels, uma
fundação holandesa de proteção à criança (que se uniram e doaram US$ 35 mil
para a produção, cerca de 30% do orçamento do filme), temos que repetir aquela
definição, que já utilizamos algumas vezes: CINEMA DE UTILIDADE PÚBLICA.
Realmente, uma cineasta que vem construindo uma obra da maior consciência
político-estética como Sandra Werneck, não poderia ter escolhido um assunto
mais atual e necessário de ser discutido com todas as letras e imagens.
Coincidentemente, no domingo, 4 de agosto, que aconteceu a abertura do Festival
de Gramado, "O Estado de São Paulo" dedicou duas páginas a uma belíssima
reportagem de Roldão Arruda, jornalista londrinense, com a manchete "Violência
liquidou em julho 30 menores nas ruas de São Paulo". A realidade terrível, da
verdadeira guerra que diariamente acontece em dezenas de cidades brasileiras
contra a infância e adolescência desprotegida, fez com que o livro-reportagem de
Gilberto Dimenstein, 33 anos, da sucursal da "Folha de São Paulo" em Brasília,
publicado há três anos pela Brasiliense (Cr$ 2.500,00), se transformasse numa
obra de maior impacto. Quando Sandra leu o livro, imediatamente decidiu que a
denúncia ali feita merecia ganhar uma forma ainda mais ampla de ser levada "ao
maior número possível de pessoas", conforme nos disse em Gramado. - "Mesmo
com o livro de Dimenstein alcançando os primeiros lugares nas listas dos mais
vendidos, sabemos que é ainda uma minoria que lê no Brasil. A televisão, mesmo
quando denuncia a violência contra os menores, o faz de forma sintética, sem
aprofundar. Portanto, senti que tinha a obrigação de fazer este filme". Cineasta
que sempre trabalhou com temas sociais - em "Bom Dia, Brasil", 1976, em sua
estréia, acompanhava a trajetória de um nordestino na grande cidade, seguindo-
se "Rito de Passagem" (1980), para, em 1984, realizar um contundente estudo
sobre as internas do Instituto Penal Talavera Bruce, em "Pena Prisão". Em 1987,
após um média em que discutiu a indústria e consumismo cultural ("Geléia Geral",
1986), Sandra abordava a prostituição infantil em "Damas da Noite". Portanto, o
livro de Gilberto Dimenstein não poderia encontrar uma realizadora mais
identificada às suas preocupações. Relata Sandra: - "Em setembro e outubro do
ano passado, com uma equipe de 12 pessoas, percorri favelas e comunidades da
Baixada Fluminense e da Zona Sul, e a Cinelândia, além de comunidades pobres
de Recife e São Paulo". Na roteirização, Sandra teve ajuda de Maria Clara Morais
e posteriormente uma de suas consultoras foi Ana Filgueiras, coordenadora do
Centro Brasileiro de Defesa da Criança e do Adolescente. ///Corajosamente,
Sandra enfrentou barras pesadíssimas para dar o máximo de realismo ao seu
filme. Em Nova Iguaçu, visitou uma fábrica de caixões e um cemitério de
indigentes. Em Duque de Caxias, entrevistou o coordenador regional do
Movimento Nacional de Meninos de Rua, Valmor Nascimento, que sofreu diversas
ameaças de morte e um seqüestro para tentar desmoralizá-lo. Em Caxias,
entrevistou também a promotora Maria Salles Moreira e ali conheceu uma menina
de 15 anos que estava jurada de morte por ter presenciado o assassinato do
namorado e um garoto de 16 anos, gerente de uma boca de fumo. Em São Paulo,
onde a produção executiva teve o apoio da experiente Assunção Hernandez,
Sandra conseguiu entrevistar um matador profissional que está preso em Taubaté
acusado de mais de 70 homicídios. Em Diadema, ouviu uma mãe contar o
assassinato de seus três filhos, em maio de 1990. - "Em muitos momentos, fui
filmar somente com o fotógrafo Guy Gonçalves, sendo levada vendada e sob
pistolas e metralhadoras. Não poderia haver maior realismo". Deste material -
quase 8 horas de filmagens em 50 latas de 10 minutos cada - Sandra montou um
documentário enxuto, perfeito e emocionante de 52 minutos, que lançado em
junho no Cineclube Estação Botafogo (Rua Voluntários da Pátria, Rio de Janeiro),
ficou quatro semanas em cartaz, com sessões franqueadas aos próprios meninos
de rua - muitos dos quais apareciam na tela. Levado em abril ao Mercado
Internacional de Programas para Televisão (MIP), em Cannes, foi comprado por
vários países - incluindo a Inglaterra, Holanda, Canadá, Japão, EUA e Noruega.
Dois dias antes de chegar a Gramado, Sandra teve confirmação de que seu filme
foi aceito para participar dos festivais de San Sebastian (Espanha, setembro) e
Chicago. - "Fiquei feliz mas não sei se poderei ir. Afinal, até hoje não tive o menor
auxílio do Governo. Antes, pelo contrário..." - diz, lamentando que no XXIV
Festival do Cinema Brasileiro de Brasília (3 a 10 de julho), seu filme foi
misteriosamente vetado pela comissão de seleção. As mais diferentes instituições
ligadas ao problema social - especialmente das questões das crianças - tem
procurado Sandra para promover sessões deste filme, que em circuito comercial
dificilmente será exibido. Ligada familiarmente ao Paraná - aqui reside uma das
suas tias, Sandra mostra-se disposta a vir especialmente para algumas sessões
em que seu filme seja debatido, prometendo, inclusive, empenhar-se para que o
jornalista Gilberto Dimenstein - "uma pessoa admirável, que abriu mão de
qualquer exigência autoral e tem dado a maior força" - a acompanhe. Para isto,
basta que a Câmara de Curitiba (e por que não a Secretaria da Criança, que Fani
Lerner dirige com tanta dedicação?) ofereçam as mínimas condições. A visão das
imagens de "A Guerra dos Meninos" vale por mil discursos e não há quem não se
conscientize em torno desta questão, ao ver o problema - com visão jornalística e
imparcial que Sandra faz deste que é um dos mais terríveis e angustiantes dramas
de nossos dias. Nota (*) "Isto é Noel", média-metragem de Roberto Sganzerla
sobre Noel Rosa (1910-1937), "O Vôo Solitário" (Der Einsanme Flug), de Ewerson
Foganello e "Nosso Amigo Radamés Gnatalli", de Moisés Kendler e Aluísio Didier
(RJ) foram os outros concorrentes. O documentário sobre Gnatalli, a exemplo do
que ocorreu no Festival de Brasília, mereceu o prêmio especial do júri. LEGENDA
FOTO 1 - Sandra Werneck, no encerramento do 19º Festival de Gramado do
Cinema Brasileiro, recebendo os dois merecidos Kikitos pelo seu atualíssimo
documentário "A Guerra dos Meninos" (foto Tiomkim). LEGENDA FOTO 2 -
Filmado no Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, "A Guerra dos Meninos" é o mais
contundente documentário sobre a violência praticada diariamente contra as
crianças e adolescentes.

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