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Fogo Noturno Leishmaniose A-29

Treinamento Como a compra Aeronave completa


testa tecnologias de aviões ajudou 10 anos de serviço
para combate a combater a doença na FAB

Jul/Ago/Set - 2014 Nº 241 - Ano 40

ALERTA PARA A SEGURANÇA


Animais ao redor de aeroportos ameaçam a segurança do
tráfego aéreo. Foram 1.625 colisões entre aeronaves e aves
em doze meses. Maior problema são os lixões nas cidades.
Prepare seu plano de voo
Edição nº 241 Ano 40
Julho/Agosto/Setembro - 2014

SGT BATISTA / Agência Força Aérea

SGT BATISTA / Agência Força Aérea


ESPORTE cAPA

14 DE OLHO NAS OLIMPÍADAS


Formada como Sargento há menos de um ano, Fernanda
Berti já foi prata no Campeonato Mundial Militar de Vôlei
de Praia e ouro no Grand Slam de Haia, na Holanda. Ela é
24 RISCO DE FAUNA
Números de colisões entre animais e
aeronaves aumentam. Debate agora é
como combater o problema.
uma dos 149 atletas de alto desempenho incorporados pela
Aeronáutica em 2014.

Veja na FAB TV (youtube.com/portalfab)


FAB EM AÇÃO
Você vai conhecer um pouco do papel do
Departamento de Ciência e Tecnologia Aero-
espacial (DCTA) para o desenvolvimento tec-
nológico nacional. Localizado em São José dos
Campos (SP), o DCTA reúne institutos que são
DIVULGAÇÃO / Agência Força Aérea

responsáveis por ensino, pesquisa e inovação.

DIVULGAÇÃO / Agência Força Aérea

FAB & Indústria de Defesa


Conheça como são fabricadas as rações opera-
cionais utilizadas pelos militares em situações de
combate e também em treinamentos. A empresa
que fabrica esse tipo de alimento termoproces-
sado está localizada em Campinas (SP) e fornece
cerca de 430 mil kits para as Forças Armadas.

4 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Veja a edição digital

EnTREViSTA
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

8 NOVO COMANDO E CONTROLE


Major-Brigadeiro Antônio Carlos
Egito do Amaral fala sobre o novo
Centro Conjunto de Operações Aé-
reas, já em operação.

FOGO nOTuRnO
FAB TESTA COMBATE NOTURNO
32 Helicópteros AH-2 Sabre e unidades de
defesa antiaérea testam a capacidade
de combater à noite.

OFFSET
46 MAiS QuE cOMPRAR
Como projetos de reequipamento da
FAB trazem benefícios para o Brasil,
da indústria até o combate a doenças.

SuPER TucAnO
HiSTÓRiA

40 10 AnOS DE OPERAÇÃO
Há uma década o Super Tucano mudou a formação dos novos pilotos
de caça da FAB. Com novas tecnologias, o turboélice fabricado no Brasil
62 UM MUSEU NO RECIFE
Museu do Segundo Comando Aéreo
Regional, no Recife, tem acervo de
também atua em missões de defesa aérea e de ataque. história da aviação militar do Brasil.

MÍDIAS SOCIAIS
Força Aérea Blog
Uma das melhores formas de conhe-
cer as unidades da FAB é acessar o
Força Aérea Blog. Com uma lingua-
gem descontraída, a página iniciou uma série
de posts sobre o trabalho realizado em todos
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

os cantos do País. Toda semana tem um novo


texto e os leitores podem comentar.

Acesse:
http://www.forcaaereablog.aer.mil.br

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 5
Aos Leitores Fogo Noturno
Treinamento
testa tecnologias
Leishmaniose
Como a compra
de aviões ajudou
A-29
Aeronave completa
10 anos de serviço
para combate a combater a doença na FAB

Uma Força Aérea Jul/Ago/Set - 2014 Nº 241 - Ano 40

integrada
Se há uma palavra capaz de resumir brasileiros ao exterior para estudar
muitas das reportagens publicadas nes- doenças tropicais. Vemos, ainda, como
sa edição, não há dúvidas de qual seria: a integração entre os vários órgãos en- ALERTA PARA A SEGURANÇA
Animais ao redor de aeroportos ameaçam a segurança do
integração. Nas páginas seguintes, o volvidos na Copa do Mundo permitiu tráfego aéreo. Foram 1.625 colisões entre aeronaves e aves
em doze meses. Maior problema são os lixões nas cidades.
leitor vai encontrar exemplos claros de a quebra do recorde de movimentos
como a integração é, para o Comando aéreos sobre o Rio de Janeiro com total
da Aeronáutica, a nossa atual realidade, segurança e eficiência. Foto de capa do Sgt Batista
nossa grande meta e a ferramenta para Nossa integração ultrapassa as fron-
cumprir nossa missão. teiras e chega a ações como o exercício
Na entrevista, conhecemos de Cooperación III, um grande treino para
que maneira as operações aéreas são os casos em que as Forças Aéreas da
vistas como parte de um todo. Vê-se a América atuam para ajudar populações
missão de uma aeronave inserida em atingidas por catástrofes. Integrados,
uma estratégia aérea. Já o emprego do cooperamos para o bem de todos.
poder aéreo também é uma parcela do Precisamos também cooperar para
poder militar do País. E, mais ainda, ao minimizar o problema da ameaça da
lado dos militares das Forças Armadas fauna aos voos de aeronaves civis e mi-
estão os militares das polícias e os civis litares, um desafio para todo o País. E,
de tantos órgãos governamentais de por esse motivo, a nossa matéria de capa.
grande importância para o Brasil, tanto Para bem cumprir nossas missões,
em tempos de paz quanto na guerra. na guerra ou na paz, trocamos expe-
É nesse pensamento integrado que a riências, ensinamos, aprendemos, em
Força Aérea Brasileira planeja e treina suma, nos integramos. Desse modo,
para estar sempre preparada. estamos presentes na vida dos brasi-
Mas, claro, missões reais acontecem leiros (e até de estrangeiros!) sempre
a todo instante, e todos os dias. Co- quando necessário e da melhor forma
nhecemos aqui como nossos aviões de possível. Tudo isso para fazer o que
reconhecimento R-35 são importantes uma Força Aérea precisa ter de melhor:
para o Centro Gestor e Operacional sua capacidade de combater e vencer.
do Sistema de Proteção da Amazônia
Boa leitura!
(Censipam). De maneira que até sur-
preende, conhecemos ainda a história Brigadeiro do Ar Pedro Luís Farcic
de como a compra de aviões de trans- Chefe do Centro de Comunicação
porte permitiu a ida de pesquisadores Social da Aeronáutica

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 7
8 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
O céu do Brasil
em uma sala
M
ilitares visualizam detalhes
do espaço aéreo brasileiro e
esquadrinham as telas de controle
com traçados reais ou planejados de aeronaves
SGT REZENDE / Agência Força Aérea

militares envolvidas em missões como a


defesa aeroespacial, transporte, busca e
salvamento, reconhecimento e patrulha
marítima. Aeronaves não tripuladas também
aparecem em um telão de 48 metros quadrados
instalado diante de especialistas em várias
áreas de defesa.
É assim o dia-a-dia do novo Centro
Conjunto de Operações Aéreas (CCOA) no
Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro
(COMDABRA), local de onde as Forças
Armadas acompanham em tempo real as ações
realizadas no espaço aéreo brasileiro. Criado
em 2014, o CCOA modificou a maneira de
realizar as operações militares e já passou com
sucesso pelo teste da Copa do Mundo, quando
a partir dali foram conduzidas missões sobre
várias cidades-sede simultaneamente.
À frente do COMDABRA está o Major-
Brigadeiro do Ar Antônio Carlos Egito do
Amaral. Piloto de caça com mais de 4.500
horas de voo, ele comanda uma unidade que
reúne militares das três Forças Armadas e
agora também se prepara para atuar cada
vez mais próximo de outras organizações
governamentais.
HuMBERTO LEiTE

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 9
Aerovisão – O que significa na prática

CB V. SANTOS / Agência Força Aérea


essa nova metodologia de trabalho?
Major-Brigadeiro Egito – É o
pronto atendimento aos pedidos ou
solicitações de missões aéreas. Antes,
o planejamento das operações aéreas
era dividido em diversas organizações
ou centros de comando e controle. A
solicitação de uma missão de trans-
porte aerologístico para atender a
uma necessidade de um comando ou
do Ministério da Defesa ou de um
Ministério Civil, por exemplo, era
encaminhada para o Comandante da
Aeronáutica. A solicitação chegava
ao COMGAR (Comando-Geral de
Operações Aéreas), do COMGAR ela
era transmitida para a Quinta Força
Aérea (FAE V– instância de comando
subordinada ao COMGAR) e a FAE V
Sala de Comando e Controle no COMDABRA: a fusão de informações permite decisões rápidas.
enviava uma ordem para uma unidade Durante a Copa, local chegou a monitorar quatro cidades-sede simultaneamente.
aérea. Agora, nós podemos agilizar
esse processo fazendo com que o fluxo Major-Brigadeiro Egito – No iní- para a cidade de Salvador. Depois de
dessa ordem seja mais rápido. Nós cio do mês de maio houve uma greve recebermos a ordem do COMGAR,
ganhamos com isso o pronto emprego de policiais em Salvador. Naquela nós transportamos 946 homens da
da Força Aérea. ocasião, foi decretada uma Operação Força Nacional e do Exército Brasilei-
de Garantia da Lei e da Ordem e ro das cidades de Recife, Brasília, São
Aerovisão – Alguma situação recente coube ao Comando da Aeronáutica José dos Campos e São Paulo. Tudo
demonstra esse pronto emprego? o transporte de pessoal e de material isso em menos de 48 horas.

Aerovisão – E como foi o trabalho


durante a Copa do Mundo?
Major-Brigadeiro Egito – Os pon-
tos altos do trabalho foram o estabele-
cimento das áreas de exclusão e a fixa-
ção de regras para voos nesses espaços
aéreos. Esse planejamento foi feito
em conjunto entre o COMDABRA, o
DECEA (Departamento de Controle
do Espaço Aéreo), a SAC (Secretaria
de Aviação Civil) e a ANAC com o
objetivo de criar condições favoráveis
para as ações de defesa aeroespacial e,
ao mesmo tempo, permitir um fluxo
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

seguro e ordenado da aviação civil.

À esquerda, sala de comando e controle no


COMDABRA reúne especialistas de várias
áreas da aviação militar.

10 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
O planejamento começou em 2012, atribuição constitucional das Forças Ar-
foi aplicado na Copa das Confederações madas, é um dever do Estado e exige a
e na Jornada Mundial da Juventude. contribuição de toda a sociedade.
Nós também analisamos os processos
que foram utilizados em grandes even-
“nós transportamos Na verdade, o emprego das Forças
Armadas em coordenação com órgãos
tos pelo mundo afora, as Olimpíadas 946 homens da governamentais ocorre de forma sis-
de Londres, a Copa da África do Sul,
as Olimpíadas de inverno do Canadá
Força Nacional e do temática em outros países. Eu tive a
oportunidade de conhecer centros de
e o Super Bowl americano. Toda essa Exército Brasileiro comando e controle nos Estados Uni-
experiência, mais o trabalho integrado
aqui no Brasil, facilitou sobremaneira
(...) em menos de 48 dos e no Canadá, nos quais militares e
civis trabalhavam juntos para planejar
a defesa aeroespacial das cidades-sede horas”. e conduzir ações integradas com o ob-
durante os jogos da Copa do Mundo. jetivo de defender seus territórios, seus
patrimônios e suas sociedades.
Aerovisão – O senhor vê a integração No meu ponto de vista, nós podemos
das Forças Armadas com outros órgãos, Pensando nessas possibilidades, o criar mecanismos e melhorar processos
inclusive civis, como necessária para a Centro Conjunto de Operações Aéreas para integrarmos as ações das forças
condução das operações? tem posições reservadas para essas militares e das agências governamen-
Major-Brigadeiro Egito – Sim. O agências, que podem ser configuradas tais nos possíveis cenários de emprego
emprego das Forças Armadas em co- de acordo com a situação. previstos na Lei Complementar.
operação com órgãos governamentais
faz parte das atribuições subsidiárias Aerovisão – Atuar com outros Aerovisão – Brigadeiro, voltando o
estabelecidas na Lei Complementar órgãos governamentais é, então, uma foco para o Centro Conjunto de Opera-
Nº 97. Essas atividades dizem respeito necessidade? ções Aéreas (CCOA), como é possível
a situações de não guerra, nas quais o Major-Brigadeiro Egito – Sem dúvi- fazer a coordenação das operações a
Poder Militar pode ser usado de forma da alguma, a operação integrada entre partir de um só lugar?
eventual para ajudar na solução de militares e civis é muito importante, pois Major-Brigadeiro Egito – A Força
problemas diversos. De fato, a cada a defesa da Pátria, ainda que seja uma Aérea tem características próprias,
ano cresce a quantidade de operações
conjuntas e interagências realizadas
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

entre Forças Armadas e as agências


governamentais brasileiras. A Operação
Ágata 8 e a Copa do Mundo 2014 são
exemplos recentes desse tipo de ação
integrada. Além disso, o COMDABRA
tem um longo histórico de cooperação
com órgãos federais para reprimir o uso
do espaço aéreo brasileiro para a prática
de ilícitos, com ênfase no combate ao
tráfico de drogas, armas e munições.
Eu entendo que em um cenário
de conflito armado, a integração com
órgãos de segurança pública, agências
governamentais e órgãos não governa-
mentais também será necessária e es-
sencial, pois esses organismos poderão
fazer parte do esforço de defesa nacio-
nal, coordenando inúmeras ações junto
à população civil como, por exemplo, a
defesa aeroespacial passiva e a seguran- Militar da FAB e bombeiro do Espírito Santo desembarcam de um helicóptero H-34
ça das instalações de interesse do Estado. Super Puma com moradores resgatados após enchente.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 11
“a Força Aérea
não precisa ter um
centro de Comando e
Controle implantado
em cada área de
operações (...) nós
usamos a tecnologia
a nosso favor”
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

tabilizadores de energia, computadores,


antenas de telecomunicações e uma série
de equipamentos, além de precisar de um
Aeronave P-95, de patrulha marítima, cumpre missão sobre o Oceano Atlântico sob coordena- grande número de técnicos para montar
ção do CCOA. O Brasil possui a responsabilidade de realizar missões de busca e salvamento essa estrutura. Isso nos tomava tempo e
sobre 22,5 milhões de Km², que abrange o próprio território e uma ampla área do Atlântico. dinheiro. Agora, temos um único centro
de comando, com todos os sistemas
necessários, a partir do qual podemos
distintas dos demais componentes do que estamos “colocando todos os ovos planejar e controlar todas as operações
Poder Militar. Por exemplo, mobilida- na mesma cesta” ao centralizar todas as aéreas em qualquer parte do Brasil
de e pronta-resposta são pontos fortes decisões no COMDABRA. Para minimi-
que devem ser constantemente poten- zar possíveis limitações nesse sentido, Aerovisão – Durante a Copa, o
cializados. Por outro lado, dependên- vamos operar com sistemas seguros e COMDABRA atuou na defesa aeroes-
cia de tecnologia e de infraestrutura redundantes. Além disso, quando for ne- pacial e também com missões de apoio,
são aspectos negativos que impactam cessário, poderemos trabalhar a partir de como o transporte aerologístico. Chega-
no emprego de poder aeroespacial centros de comando alternativos, como ram a ocorrer até quatro jogos por dia e
e precisam ser neutralizados. Para os existentes nos Centros Integrados de também partidas simultâneas. Houve um
conduzir uma operação, a Força Aérea Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo sobrecarregamento do COMDABRA? Há
não precisa ter um centro de coman- (CINDACTA). capacidade para operações tão intensas?
do e controle implantado em cada Major-Brigadeiro Egito – Eu não
área de operações, porque podemos Aerovisão – Manter um grande Cen- tenho dúvidas de que nós temos essa
rapidamente desdobrar aeronaves, tro não sai mais caro? capacidade. O COMDABRA tem um
pessoal e equipamentos para qual- Major-Brigadeiro Egito – Na verdade efetivo relativamente pequeno para aten-
quer ponto do País, comandando-os a é mais barato manter um único centro de der às demandas, mas nós adotamos um
partir de um único lugar. Para isso nós comando. Imagine se nós tivéssemos im- processo de trabalho que tem se mostra-
usamos a tecnologia a nosso favor. A plantado, na Copa do Mundo, doze cen- do eficaz. Oficiais do Estado-Maior e do
rede de detecção e telecomunicações tros de coordenação de operações aéreas, CCOA formam o grupo de planejamento
empregada pelo COMDABRA, que é um em cada cidade-sede. Quanto sairia de operações aéreas, que é responsável
a mesma do sistema de controle do isso? Um dos fatores motivadores para a pelos estudos iniciais que vão resultar em
espaço aéreo brasileiro, possibilita a implantação do CCOA foi justamente a um Plano de Operações Aéreas.
visualização e controle de todo o es- redução nos custos com os desdobramen- Quando a operação é iniciada, acres-
paço aéreo nacional e a comunicação tos. Antes de adotar esta nova estrutura centamos ao grupo do CCOA os especia-
com as Unidades de Aeronáutica des- do CCOA, a cada operação tínhamos listas necessários para conduzir as ativi-
dobradas. Alguns podem argumentar que montar barracas com geradores, es- dades planejadas. Esses especialistas são

12 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
o que chamamos de “efetivo flutuante”. Comando Conjunto da estrutura Major-Brigadeiro Egito – O espaço
Foi o que aconteceu na Copa. Nosso gru- militar de defesa permanentemente é o desafio que precisamos vencer em
po principal elaborou todo o planejamen- ativado. Há muitos anos, militares da seguida. Nos próximos anos, teremos
to da Operação Copa 2014 e, uma semana Marinha, do Exército e da Aeronáu- a implantação do Centro de Operações
antes de iniciar a Operação, convocamos tica trabalham de forma harmônica e Espaciais, que vai ser construído aqui ao
especialistas de outras organizações da integrada no Estado-Maior Conjunto lado e vai nos prover serviços satelitais
Aeronáutica para, trabalhando em tur- do COMDABRA. A partir da implan- de comunicações, geoposicionamento e
nos, contribuir com seus conhecimentos tação do CCOA, esperamos que outros imagens que serão usadas em proveito
para a condução das ações planejadas. militares das forças singulares possam das operações militares. A futura rede
ser incorporados ao nosso grupo, pois de satélites brasileiros certamente au-
Aerovisão – O COMDABRA é o só assim seremos efetivamente capazes mentará a capacidade de comunicações
único Comando Conjunto, que reúne de realizar operações militares. das Forças Armadas, mas eu creio que a
militares da Marinha e do Exército, além grande conquista será o incremento na
da Força Aérea. Como é essa integração? Aerovisão – Outra novidade é a capacidade de produzir conhecimento
Major-Brigadeiro Egito – Como questão espacial. Como é o planejamento de inteligência a partir da observação das
você disse, o COMDABRA é o único para essa área? áreas de interesse.

SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

Calamidades como enchentes, queimadas, deslizamentos, epidemias e até o incêndio da boate Kiss, além de operações como a Ágata, são exemplos
de como a Força Aérea pode multiplicar o alcance de atuação de várias instituições.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 13
ESPORTE

A CAMINHO DO PÓDIO
A dois anos dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, atletas brasileiros de alto rendimento
encontram no programa de incorporação da FAB apoio para se concentrarem no
treinamento e aumentarem as chances de conquistar medalhas para o País

Jussara Peccini

14 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
SGT BATISTA / Agência Força Aérea
S
em salário fixo e com patro- profissionais em várias modalidades”,
cínios sazonais, nem sempre avalia o Tenente-Coronel Pedro Celso
é fácil a realidade de quem Gagliardi Palermo, chefe da Divisão de
escolhe o esporte como profissão no Desporto Militar (DDM) da Comissão
Brasil, em especial de modalidades de Desportos da Aeronáutica (CDA),
com pouca visibilidade. “É comum unidade que gerencia o programa de
a gente ter que correr atrás de ações atletas de alto rendimento dentro da
para reverter em dinheiro para o nos- FAB. Na CDA, que fica no campus da
so sustento”, explica o agora Sargento Universidade da Força Aérea, no Rio
Diego Sclebin. Atleta de triátlon há de Janeiro, eles também têm estrutura
14 anos, atualmente 2º colocado no para treinamentos.
ranking brasileiro e 10º no ranking Os atletas têm o contrato renovado
olímpico, ele é um exemplo dessa anualmente e podem permanecer no
situação. “Eu sou atleta e não tinha programa da FAB por até nove anos.
nenhum [salário] fixo por mês. Agora, Porém, o grupo de gerenciamento
posso fazer um cronograma pensan- trabalha na organização dos crité-
do em resultados no esporte. Ajuda rios de avaliação individual para os
muito”, avalia. esportistas continuarem. “Quem não
A contribuição financeira talvez está apresentando o retorno esperado
seja um dos impactos mais fortes pode não ter o contrato renovado no
na carreira dos atletas à medida que próximo ano”, explica Gagliardi.
permite aumentar o foco nos treinos. A aproximação com o Comitê Olím-
Desde o final de março deste ano, pico Brasileiro ajudou a identificar as
149 atletas de alto rendimento foram modalidades que mais precisavam de
incorporados à Força Aérea Brasileira. suporte das Forças Armadas. Além da
Eles foram selecionados de acordo FAB, Marinha e Exército participam
com o ranking das confederações de do programa do Ministério da Defesa.
ciclismo, handebol, vôlei de praia, O objetivo é contribuir com o esforço
tiro com arco, basquete, orientação, olímpico brasileiro, com foco na sexta
badminton, triátlon e atletismo. edição dos Jogos Mundiais Militares,
No posto de Terceiro Sargento, os atle- no ano que vem, na Coréia do Sul, e
tas, e agora também militares, ajudam o também em ampliar as chances brasi-
País a conquistar posições de destaque leiras nas Olimpíadas de 2016.
em campeonatos nacionais e internacio- Para os jogos militares, a expecta-
nais. “A gente conseguiu recrutar bons tiva é ampliar o resultado da última

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 15
edição, realizada no Rio de Janeiro e quadras de igual para igual com con- emocional vem da família. O avô pa-
em 2011, quando o Brasil conquistou correntes à altura. Os pódios, medalhas terno militar criou os filhos dentro de
114 medalhas e liderou o ranking dos e títulos, alguns inéditos, já começaram uma disciplina rígida. “Tenho certeza
111 países participantes. “Algumas a aparecer. O primeiro título mundial que meu pai se sente muito orgulhoso
modalidades não estão listadas nos para o basquete militar brasileiro veio em me ver fardada”, conta.
Jogos Mundiais Militares. Mas coloca- com um time completamente formado O torneio na cidade de Meyenheim,
mos para ajudar no esforço olímpico por militares da FAB. na França, reuniu delegações de dez
nacional”, afirma Gagliardi. A conquista do ouro no campeonato países e elegeu a Sargento Soeli Gar-
A meta para 2016 é ultrapassar a organizado pelo Conselho Internacional vão como a melhor jogadora. “Foi
marca dos 100 participantes militares de Esporte Militar, em junho, foi com surpresa, eu sou uma jogadora que
na delegação brasileira. Nas Olimpí- uma vitória na final sobre os Estados pensa mais no jogo do time, na equi-
adas de Londres, em 2010, 67 atletas Unidos, uma referência na modalidade. pe, em dar assistência, defender. Não
eram militares das Forças Armadas, As americanas haviam derrotado as bra- sou a cestinha. Mas o europeu analisa
de acordo com a Comissão Desportiva sileiras no primeiro jogo. “Não nos aba- o jogador como um todo”, diz.
Militar do Brasil (CDMB).  temos. Tivemos um mês de treinamento Na visão da jogadora, o basquete
muito forte e a equipe estava unida”, no Brasil não está entre os principais
Resultados afirma a Sargento Karla Costa, que acu- destaques do momento. A falta de
Com trabalho árduo e uma lista de mula a experiência de três olimpíadas. investimento na base e no suporte aos
competições que não se restringe ao Foi a sua primeira conquista impor- diferentes estágios da carreira, deixan-
círculo militar, eles batalham nas pistas tante vestindo a farda azul. A ligação do lacunas entre gerações, contribuem
Foto / Acervo pessoal

Diego Sclebin é o segundo colocado no ranking olímpico de triátlon. Hoje, como


sargento, ele treina com o apoio do Comando da Aeronáutica para competições.

16 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
SGT REZENDE / Agência Força Aérea
Esporte dominado por asiáticos, o badminton ainda é pouco difundido no Brasil. Mesmo assim, a meta do Comitê Olímpico é garantir a parti-
cipação do Brasil nos Jogos Olímpicos. Treinamentos acontecem em um ginásio da Comissão de Desportos da Aeronáutica.

para a carência de valorização. Neste o destaque brasileiro na II Etapa da prova atípica. Muitos atletas preferem
aspecto, a incorporação das atletas à Copa do Mundo de Triathlon, realiza- não participar e todos chegam bem
FAB foi uma injeção de ânimo. “Per- da na Cidade de Huatulco, no México. exaustos”, descreve.
cebemos que tem gente interessada Entre 56 atletas de oito países, foi um Mesmo com tantos fatores adversos,
no nosso esporte. Estamos muito hon- dos 30 que conseguiram completar a Sclebin conseguiu a quinta colocação
radas de representar o País e também prova, disputada em um ambiente de com o tempo de 2h 02min 49s, apenas
uma instituição bem vista”, afirma. alta umidade relativa do ar e tempe- um minuto após o primeiro colocado.
O orgulho em ostentar as cores na- ratura de até 37 graus Celsius. “Essa Além desta prova, o Sargento par-
cionais é percebido pelos dirigentes. combinação é bem dolorosa para o ticipou de provas em Chicago, nos
“Além das conquistas, elas estão fa- atleta”, sintetiza. Estados Unidos, e em Hamburgo, na
zendo questão de mostrar para o pú- A explicação vem da fisiologia. Ao Alemanha. O desempenho nas etapas
blico que são militares e fazem parte secar, o suor deveria ajudar a baixar do mundial renderam 1.200 pontos
da FAB”, afirma o chefe da equipe de a temperatura corporal. Com a umi- para o ranking olímpico. Até 2016 ele
basquete, Tenente Júlio Maciel. dade, esse processo não ocorre, razão precisa acumular dois mil pontos para
No triátlon, Diego Sclebin teve uma pela qual os atletas jogam água gelada ser cotado para os Jogos Olímpicos.
conquista literalmente suada. Ele foi com frequência no corpo. “É uma Falta menos da metade.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 17
Peteca a 300 km/h
A seleção brasileira de badminton hoje é formada
por atletas incorporados à FAB. Pouco conhecido
por aqui, este é o segundo esporte mais praticado no
mundo. “Quem domina são os asiáticos”, afirma o
técnico Marco Paulo Vasconcelos, natural da Ilha da
Madeira, em Portugal. Com experiência de 36 anos
como atleta e participação em três olimpíadas, há três
anos no Brasil ele está à frente da seleção brasileira
para contribuir para o amadurecimento do grupo.
“A equipe precisava de trabalho tático e muita mo-
vimentação de quadra”, explica.
O desafio dos atletas é bater e rebater uma peteca
com apenas 25 gramas, feita de pena de ganso, e
que pode chegar a 300 km/h. Mais do que força, o
jogo é rápido e explosivo, o que exige coordenação
e reflexo. “É um esporte que requer muita concen-
tração, agilidade, equilíbrio emocional”, descreve
a Sargento Fabiana Silva, primeira colocada no
ranking brasileiro feminino.
A cada campeonato regional, realizados em diferen-
tes pontos do país, o badminton atrai novos simpatizan-
tes. A tarefa reforça a missão dos 18 atletas da seleção
brasileira incorporados à FAB de difundir a prática de
um esporte que tem características próprias.
Resultados positivos também acontecem nos
campeonatos sul-americanos. No segundo Mercosul
Internacional, disputado em junho na cidade de Foz
do Iguaçu (PR), eles conquistaram bronze, prata e
ouro nas diferentes categorias que reuniram 93 atletas
de 13 países. A Sargento Luana Tamara Vicente, ficou
em primeiro lugar em dupla feminina. O resultado
se repetiu em Buenos Aires, na Argentina, no torneio
internacional daquele país. No mesmo mês, Daniel
Paiola e Hugo Arthuso subiram no lugar mais alto
do pódio na Venezuela.
O desafio agora é repetir a boa campanha em
agosto, quando o Brasil vai sediar os duelos entre os
melhores da modalidade. A copa internacional será
disputada na Comissão de Desportos da Aeronáutica,
no Rio de Janeiro, e vai reunir 200 atletas, inclusive
os asiáticos, tidos como favoritos.
Até lá, os brasileiros treinam em Campinas (SP)
de segunda a sábado, pelo menos seis horas por dia.
Intervalo, só para beber água. A seriedade e o sotaque
SGT REZENDE / Agência Força Aérea

português do técnico Marco Paulo Vasconcelos marcam


o estilo de trabalho disciplinado e rígido do treinador.
“Não pode chegar atrasado, tem que cuidar da alimen-
Para os leigos, o badminton é uma espécie de tênis jogado com tação. Durante o treino não pode brincar ou falar ao ce-
uma peteca, na realidade, chamada de volante. Cada partida lular. Na alta competição temos que ser assim”, justifica.
pode ter até três sets de vinte e um pontos.

18 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Guerreiras
das
areias
FOTO: FIVB

A
mais recente conquista no batalhas nas areias. “Busquei a praia
vôlei de praia brasileiro justamente por um desafio. Foi uma
é a medalha de ouro que grande mudança e não sabia como
a Sargento Fernanda Berti (à es- iria me adaptar ”, afirma.
querda) e sua companheira Taiana As metas da jogadora são traçadas
ganharam no Grand Slam disputa- a curto prazo, mas sem perder de vis-
do na praia de Haia, na Holanda. ta os jogos mundiais. “A olímpíada é
A dupla, formada há menos de um um sonho “, revela. Para ela, o Brasil
mês, treinou por apenas quatro dias é uma referência no vôlei de praia e
e derrotou as alemãs numa partida quem conseguir a vaga tem grande
com 55 minutos de duração no dia chance de conquistar uma medalha.
20 de julho. “Muitas duplas passam Em junho, jogando ao lado da
anos para conseguir um resultado Sargento Josemari Alves, ela con-
desse”, afirma Fernanda por email, quistou a medalha de prata no Cam-
já na Áustria para disputar outra peonato Mundial Militar de Vôlei de
etapa do mundial. Praia realizado em Warendorf, na
Curioso é que no ano passado, Alemanha. O torneio, organizado
nesta mesma época, Fernanda pelo Conseil International du Sport
acompanhou a final do torneio Militaire (CISM), contou com dele-
pela televisão. “Vi o jogo no sofá gações de dez países.
de casa e desejava muito estar neste Outras guerreiras também estão
campeonato. Agora participei e fui fazendo bonito nas areias mundo a
campeã”, celebra. fora. Fabíola Constâncio e Thaís Fer-
Por uma década, a sargento jogou reira conquistaram o segundo lugar
na quadra. Em 2012, a partir de um no Circuito Sul-Americano realizado
FOTO: FIVB

convite da Confederação Brasileira de em Viñas Del mar, no Chile. Elas


Vôlei (CBV), passou a disputar suas foram convocadas pela CBV.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 19
COPA DO MUNDO
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

Recorde no ar
Final da Copa do Mundo no Brasil teve duas vezes mais movimento
aéreo que o registrado na África do Sul, quatro anos antes. Jogos
do Brasil também registraram recordes

C
ada linha da foto acima registra da Copa do Mundo de 2014: o movi- movimentos, o dobro da média para o
o pouso ou decolagem de uma mento aéreo foi o dobro do registrado período e uma nova marca para o aero-
aeronave em uma das pistas do na África do Sul, quatro anos antes. porto. Foram 442 voos de companhias
Aeroporto Internacional Tom Jobim / Foram 1.731 pousos e decolagens aéreas, 89 charter (fretamentos), 321 de
Galeão, no Rio de Janeiro, na madrugada nos três aeroportos do Rio de Janeiro. aviação geral (aeronaves particulares e
do dia 13 para o dia 14 de julho de 2014. Em 2010, Joanesburgo registrou 807 de táxi aéreo) e 28 militares, que inclui
A foto captou 52 minutos da cena e revela movimentos aéreos. A marca seria supe- aeronaves das comitivas dos Chefes de
parte do recorde alcançado após o final rada somente pelo Galeão, que teve 880 Estado. O recorde anterior do Galeão era

20 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
de 715 aeronaves, após o encerramento recorde local. Em 4 de julho, dia da semifinal, entre Argentina e Holanda,
dos Jogos Pan-Americanos de 2007. partida com a Colômbia, foram 362 registrou em São Paulo 1.564 movi-
Durante toda a Copa do Mundo, movimentos em Fortaleza, 69% a mais mentos, também acima do alcançado
os jogos do Brasil registraram os picos que a média. na decisão da Copa de 2010.
do tráfego aéreo. No dia 23 de junho, Em 8 de julho, na semifinal Brasil e O Comando da Aeronáutica atuou
quando a seleção venceu Camarões Alemanha, os aeroportos de Belo Ho- também na defesa do espaço aéreo e
em Brasília, a Capital Federal regis- rizonte registraram 767 movimentos recepção de autoridades e delegações
trou 619 pousos e decolagens, um aéreos, outra marca inédita. A outra em Bases Aéreas.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 21
6
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

Aerovisão
Jul/Ago/Set/2014
22
1

5
SGT REZENDE / Agência Força Aérea

SGT BATISTA / Agência Força Aérea


2 3

SGT REZENDE / Agência Força Aérea


4
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

(1) A grande final protegida: artilheiro a bordo de um H-60 Black Hawk observa o
céu do Rio de Janeiro enquanto seleções entravam em campo. (2) Horas antes, Angela
Merkel, Primeira Ministra da Alemanha, era recepcionada na Base Aérea do Galeão. A
recepção de autoridades e de delegações durante o torneio foi uma constante nas Bases
Aéreas. (3) O efetivo de controle de tráfego aéreo foi duplicado no dia da quebra do
recorde. (4) H-60 decola para missão de defesa aérea sobre o Rio de Janeiro. (5) Pouco
antes da disputa da final da Copa, o Galeão estava com 313 aeronaves estacionadas.
(6) Depois do jogo, jatos executivos aguardam decolagem de avião russo no Galeão.
(7) Militares e civis trabalharam juntos no Centro de Gerenciamento da Navegação
Aérea, no Rio de Janeiro.
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 23
SEGuRAnÇA DE VOO

Monitorar
para
prevenir
Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos alerta
para riscos de colisões entre aeronaves e animais. Foram 1.739 ocorrências
somente em 2013
RAQuEL SiGAuD
Foto: CENIPA

24 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
E
m 2013, o Centro de Investigação habilidade para pousar no Rio Hudson, A aviação civil enviou 95,23% das
e Prevenção de Acidentes Ae- salvando a vida de 155 pessoas. fichas ao CENIPA, enquanto a aviação
ronáuticos (CENIPA) registrou No Brasil, o trabalho do CENIPA é militar, representada pelas três Forças Ar-
4.600 ocorrências aeronáuticas com ani- incentivar que os casos sejam relatados madas, enviou 4,77%. “A aviação civil se
mais no Brasil. Os números revelam um a fim de manter o banco de dados na- envolve mais com a fauna, porque realiza
aumento de 21,62% em relação a 2012. A cional para direcionar ações preventivas. maior quantidade de voos. Já os aviões
maior parte dos registros, 2.344 casos, foi Sempre que alguém avistar um animal militares voam menos, mas tendem a so-
de avistamentos de animais na trajetória perto de aeronaves, identificar uma car- frer dano mais severo quando atingidos
de aeronaves, condição que resultou em caça na pista do aeródromo ou perceber por ave, em razão da alta velocidade e
1.625 colisões com aves, 114 colisões com uma colisão deve informar ao CENIPA, da baixa altura durante treinamentos,
outros animais e 517 quase colisões. por meio de um formulário online. compartilhando o mesmo espaço com as
Dependendo da fase do voo e do Com 125 colisões, o Aeroporto Inter- aves que se concentram mais próximas ao
ponto de colisão na aeronave, mesmo nacional de Guarulhos, em São Paulo, foi solo”, alerta o Tenente-Coronel Henrique
o impacto de um animal pequeno pode o que mais informou as ocorrências com Rubens Balta de Oliveira, assessor de
provocar sérios problemas e até resultar fauna em 2013. Contudo, quando verifi- risco de fauna do CENIPA.
em acidente aeronáutico. Um caso conhe- cado o índice de colisões pelo movimento
cido ocorreu em 2009, em Nova Iorque, de aeronaves, a primeira colocação vai Banco de dados
quando um Airbus A320 da empresa US para o aeroporto de Joinville, em Santa O banco de dados nacional de risco
Airways colidiu com gansos canadenses Catarina. O local registrou um índice de de fauna é mantido pelo CENIPA com
que entraram nas duas turbinas. Elas 35,16 ocorrências para cada 10.000 pou- informações enviadas pela comunidade
pararam de funcionar e a aeronave per- sos e decolagens. Em seguida, aparecem aeronáutica. O Sistema de Gerenciamen-
deu potência. Felizmente, o piloto teve Juazeiro do Norte (CE) e Bagé (RS). to do Risco Aviário (SIGRA) integra ope-

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 25
radores de aeronaves, de aeródromos “Os dados ajudam os profissionais A preocupação com o assunto gerou
e controladores de tráfego aéreo, civis dos aeroportos a identificarem as normatização no Brasil: em outubro de
e militares. Muitas vezes, a mesma co- particularidades do perigo no local, 2012, foi aprovada a Lei nº 12.725, que
lisão é reportada por três profissionais para adotar medidas internas de con- dispõe sobre o controle da fauna ao
diferentes e isso permite que a equipe trole do risco de fauna. Os números redor de aeródromos. Agora, está para
do CENIPA faça o cruzamento dos da- mostram aos municípios e autori- ser aprovado o decreto regulamentador
dos. Assim, uma ficha complementa a dades ambientais que o bom uso do dessa lei, que vai definir as atribuições
outra, gerando um relato mais fiel para solo urbano também é indispensável das autoridades ambiental, municipal,
o banco de dados nacional. para reduzir o problema”, explica o aeronáutica militar e de aviação civil,
No mundo, estima-se que a parcela Tenente-Coronel Rubens. além do administrador aeroportuário,
de colisões informada aos órgãos res- nas atividades de gerenciamento do
ponsáveis pelo registro de dados de Papel do poder público risco da fauna no Brasil. “O setor aéreo
risco de fauna esteja entre 20% e 40% do nacional aguarda ansiosamente pelo
número real das ocorrências. No Brasil, De acordo com o especialista em decreto, um instrumento de integração
toda colisão com fauna é classificada segurança de voo, é necessário haver entre diferentes setores no gerencia-
como incidente e, segundo o Código uma atenção especial às atividades que mento desse risco, no momento em que
Brasileiro de Aeronáutica (CBA), deve possam atrair aves na área de 20 quilô- o processo de regionalização da aviação
ser comunicada ao CENIPA. Já o pro- metros em torno das pistas dos aeródro- aumentará a oferta do transporte aéreo
fissional que se preocupa em informar mos, a chamada área de segurança ae- em cidades onde o saneamento básico
as quase colisões e os avistamentos roportuária. É exatamente nas fases de ainda carece de melhorias”, avalia o
contribui mais ainda para a avaliação pouso e decolagem que se concentrou Tenente-Coronel.
do risco em cada aeródromo e para o a maior parte das colisões registradas Conforme está definido na Consti-
reforço das ações de prevenção. em 2013, com 76% dos casos. tuição Federal de 1988, o planejamento
Foto: CENIPA

26 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Índice de colisões a cada 10
mil movimentos (pousos +
decolagens)
Em números relativos

1. Joinville (Sc) - 35,16

2. Juazeiro do norte (cE) - 24,31

3. Bagé (RS) - 23,47

4. corumbá (MS) - 22,83

5. uberaba (MG) - 17,13

6. Teresina (Pi) - 15,49

Foto: CENIPA
7. Parnaíba (Pi) - 15,24

8. Tabatinga (AM) - 14,88

9. Ponta Porã (MS) - 13,58


CASOS RECENTES
10. Londrina (PR) - 13,33
Em 30 de maio de 2014, uma anta atravessou a pista
do aeródromo de Porto Urucu (AM) e foi atingida por
uma aeronave ATR 42 que havia iniciado a decolagem. A
Aeródromos que mais repor-
tripulação decidiu prosseguir no voo até o Aeroporto In-
ternacional Eduardo Gomes, em Manaus. Na aterrissagem
taram colisões em 2013
ocorreu a quebra do trem de pouso. Todas as 47 pessoas a Em números absolutos
bordo saíram ilesas.
1. Guarulhos (SP) - 125

2. Porto Alegre (RS) - 101


Em 23 de agosto de 2013, o motor esquerdo de um Air-
bus foi atingido por ave não identificada (provavelmente 3. Brasília (DF) - 98
um urubu-de-cabeça-preta). A aeronave havia decolado do
Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, no Rio de 4. campinas (SP) - 88
Janeiro, às 10h40 e teve que consumir combustível durante
30 minutos antes de regressar para pouso. 5. Galeão (RJ) - 86

6. São José ds Pinhais (PR) - 80

7. Salvador (BA) - 79
Em 10 de novembro de 2013, um T-27 da Força Aérea
Brasileira colidiu com urubu-de-cabeça-preta em Salvador
8. Várzea Grande (MT) - 58
(BA). A ave quebrou o canopi do avião (foto acima) e atingiu
o rosto do piloto, que perdeu a visão de um dos olhos. O
9. congonhas (SP) - 57
piloto na nacele traseira conseguiu pousar a aeronave no
Aeroporto Internacional Luiz Eduardo Magalhães. A amos-
10. Recife (PE) - 51
tra da ave foi coletada e o acidente está sendo investigado.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 27
e o controle do uso do solo urbano são manejo direto de animais, captura Para manejar as demais espécies pre-
de competência da autoridade muni- e translocação, destruição de ovos e sentes no aeródromo, o operador conti-
cipal. Dessa forma, é papel das pre- ninhos e, em último caso, o abate. nuará seguindo o processo de aprovação
feituras decidir quais atividades serão Atualmente, a administração dos exigido pelo órgão ambiental competen-
instaladas, mantidas ou encerradas com aeroportos precisa aguardar a apro- te. A regulamentação dos procedimentos
o objetivo de reduzir a atração de aves vação do plano de manejo pela auto- de controle de fauna mantém a remessa
na área de segurança aeroportuária. ridade ambiental. Com a resolução, do plano de manejo à autoridade ambien-
“Aterro sanitário é o atrativo mais bastará cumprir os requisitos para po- tal, confeccionado sob a responsabilidade
comum para as aves, pois nem sempre der intervir diretamente nas espécies de um técnico habilitado. Além disso,
esses empreendimentos cumprem as nocivas que tenham sido classificadas com base nos conceitos de transparência,
normas previstas, como o recobrimen- como de alto risco à aviação no local. deverá ser dada publicidade à lista de es-
to dos resíduos sólidos ao término “O controle da fauna nos aeródro- pécies nocivas e ao resultado da avaliação
de cada jornada de trabalho. O que mos já é executado pelos operadores. de risco em cada aeródromo.
se vê na prática são vazadouros de A novidade trazida pela resolução é o A resolução apresentará uma matriz
lixo, pois o material orgânico fica ex- estabelecimento de requisitos claros de avaliação de risco para orientar o
posto e serve para alimentar grande que, se forem seguidos pelos operado- manejo de fauna pelos operadores. Os
quantidade de aves, que passam a res, eliminam o tempo de espera pela censos de fauna somados aos dados
morar próximo da fonte de alimento. aprovação do plano, que deve ser ela- do Sistema de Gerenciamento do Risco
Quando isso ocorre no entorno do ae- borado normalmente”, explica Ayrton Aviário (SIGRA), mantido pelo CENI-
ródromo, aumenta o risco de fauna”, Klier Péres Júnior, Doutor em Biologia PA, servirão para subsidiar a análise de
esclarece o Tenente-Coronel Rubens. Animal pela Universidade de Brasília. risco. Todos os parâmetros de avaliação
Abatedouro, terminal pesquei-
ro, zoológico, plantação de grãos e
frutas são exemplos de atividades
que podem funcionar dentro da área
de segurança aeroportuária, desde
que utilizem práticas que reduzam
a presença de aves. Quem autoriza
a instalação dessas atividades é a
prefeitura, após parecer da auto-
ridade ambiental e da autoridade
aeronáutica militar. “Lagos, bosques
e manguezais também atraem aves,
por isso é necessário considerar os
ambientes naturais antes de escolher
uma área para a construção de aeró-
dromo. O desafio dos operadores é
monitorar as aves fora do aeródromo
e controlar a sua presença dentro do
sítio aeroportuário, mesclando várias
técnicas mundialmente conhecidas”,
afirma o oficial da FAB.

CONAMA debate resolução


O Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA) discute uma
resolução que, se aprovada, regula-
mentará o manejo de espécies da fau-
na nocivas à aviação dentro do aeró- Urubus ao lado de dois aviões C-95 Bandeirante da Força Aérea. Já foram regis-
dromo (civil e militar). São previstas trados casos de colisões com até 16 aves ao mesmo tempo.
medidas como manejo do ambiente,

28 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
de risco estabelecidos na resolução
foram baseados em artigos científicos
de fontes internacionais consagradas
na área de risco da fauna.
“As medidas de manejo têm o objetivo
de aumentar a segurança nos aeroportos
e reduzir a quantidade de animais mortos
após colisões com aeronaves”, defende o
assessor de Risco da Fauna do CENIPA,
Tenente-Coronel Rubens.
A ideia de elaborar uma resolução
sobre o manejo da fauna dentro do
aeródromo partiu da Secretaria de Bio-
diversidade e Florestas do Ministério do
Meio Ambiente, com o apoio da Empresa
Brasileira de Infraestrutura Aeropor-
tuária (Infraero), Instituto Nacional do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Foto: CENIPA
Renováveis (Ibama), Centro de Apoio ao
Desenvolvimento Tecnológico da Univer-
sidade de Brasília (CDT-UnB) e CENIPA.

Espécies da fauna nocivas à aviação


Segundo parecer técnico do Ministério do Meio Ambiente, foram decla-
radas espécies nocivas à aviação aquelas que representam risco à segurança
do transporte aéreo e se beneficiam das atividades humanas, chamadas de
espécies sinantrópicas.
Acesse o site do
CENIPA: Nome científico Nomes populares
Coragyps atratus
urubu-de-cabeça-preta, urubu-preto

Vanellus chilensis
quero-quero, tetéu

Carcara plancus   carcará, gavião-de-queimada

Columba Lívia pombo-doméstico, pombo-comum

Bubulcus íbis garça-vaqueira, garça-carrapateira

Ardea Alba garça-branca-grande, garça-branca

Egretta thula garcinha-branca, garça-pequena

Tyto furcate coruja-da-igreja, coruja-das-torres


TEN ENILTON / Agência Força Aérea

coruja-buraqueira, caburé-de-cupim,
Athene cunicularia
caburé-do-campo

Canis lupus familiaris cachorro-doméstico, cão-comum

Felis silvestris catus gato-doméstico, gato-comum

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 29
OPERAciOnAL

Fogo noturno
A noite não é mais obstáculo para o combate. Com o uso de tecnologias como os
óculos de visão noturna, aeronaves da FAB cumprem suas missões a qualquer
hora do dia ou da noite. No solo, tropas armadas com mísseis antiaéreos também
conseguem destruir seus alvos com precisão.
iRiS VAScOncELLOS
CB V. SANTOS / Agência Força Aérea

32 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 33
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea
EU VOEI O GRIPEN

1
2
(1) A cabine das aeronaves precisa ser adaptada
para o uso de óculos de visão noturna, ou a ilumi-
nação irá atrapalhar seu funcionamento. (2) Na
janela de um H-60 Blackhawk, artilheiro utiliza
NVG para atingir alvos à noite. (3) Tropas de solo
também já treinam com a tecnologia. (4) Para
realizar esse tipo de missão, os tripulantes passam
por treinamentos específicos para se adaptarem às
características do aparelho. (5) H-60 visto com o
auxílio de óculos de visão noturna. (6) Aviadora
se prepara para um voo no avião de transporte
SGT REZENDE / Agência Força Aérea

C-105 Amazonas em período noturno. Aerona-


ves A-29 Super Tucano e helicópteros também
utilizam a tecnologia.

5
SGT REZENDE / Agência Força Aérea

34 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
SGT REZENDE / Agência Força Aérea

SGT JOHNSON / Agência Força Aérea


3

Aerovisão
Jul/Ago/Set/2014
35
6
4

5
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea
M
adrugada no Campo de de 80 mm e disparos do canhão calibre
Provas Brigadeiro Velloso 23mm destroem os alvos: veículos, ae-
(CPBV), sul do Pará. O relógio ronaves e radares simulados.
marca 3 horas da manhã e os militares do O exercício, chamado de Zarabata-
Esquadrão Poti, unidade que opera o he- na V, marcou a capacitação do Esqua-
licóptero de ataque AH-2 Sabre da Força drão Poti em voar e combater à noite,
Aérea Brasileira, trabalham no hangar do com o uso de NVG. “Para um esqua-
CPBV. São os ajustes finais para empregar drão de ataque e de defesa aérea, como
armamentos em cenário noturno. o nosso, dominar o ambiente noturno
Para que os tripulantes consigam e conseguir empregar o armamento de
operar à noite, eles contam com o maneira eficiente é fundamental para
auxílio dos óculos de visão noturna, o o sucesso no ambiente do campo de
NVG (do inglês, night vision goggles). batalha”, comemora o Comandante
O acessório funciona com o processo da unidade, Tenente-Coronel Rodrigo
de otimização da imagem: a pouquís- Gibin Duarte.
sima luz presente em um ambiente é Além do AH-2 Sabre, sediados
capturada e multiplicada em até 50 em Porto Velho (RO), os H-60 Black
mil vezes. No caso da operação do Hawk, H-36 Caracal e H-1H Huey,
Esquadrão Poti, o exercício foi execu- baseados em Santa Maria (RS), Manaus
tado com a presença da luz da lua no (AM), Belém (PA) e Campo Grande
cenário da operação. (MS), também já voam com esse tipo
Na escuridão, o AH-2 Sabre decola. de tecnologia. “Todos os combates
As duas turbinas VK-2500 podem ser modernos são feitos prioritariamente

CB V. SANTOS / Agência Força Aérea


ouvidas, mas não é possível enxergar no período noturno, onde a detecção é
nada. Já na cabine, o piloto e o artilheiro, menor e a furtividade é maior, princi-
ambos com seus NVG, conseguem ver palmente para a aviação de asas rotati-
claramente o terreno e, mais adiante, o vas”, complementa o Tenente-Coronel,
alvo. A missão é um sucesso: foguetes referindo-se à aviação de helicópteros.
CB V. SANTOS / Agência Força Aérea

36 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Helicóptero AH-2 Sabre se prepara para o voo no
período noturno. A aeronave conta com sistemas
eletro-óticos para guiagem dos seus armamentos, que
inclui mísseis, foguetes e o canhão de 23mm.
SGT REZENDE / Agência Força Aérea

SGT REZENDE / Agência Força Aérea


SGT REZENDE / Agência Força Aérea

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 37
Nos esquadrões de helicópteros essa Medicina Aeroespacial (IMAE), no Rio De olho no céu escuro
tecnologia tem sido aplicada também de Janeiro. Ali eles aprendem a lidar A necessidade de operar à noite
para operações de busca e salvamen- com características dos aparelhos, como não é apenas da aviação. Os Grupos
to. Nestes casos, devido à urgência a visão monocromática, a diminuição do de Defesa Antiaérea (GDAAE) da FAB,
no socorro das vítimas, o horário de campo visual em 40° e a falta de noção sediados em Manaus (AM) e em Canoas
realização da missão não pode ser um de profundidade. “Na realidade, o NVG (RS), realizaram também pela primeira
empecilho. Aviões de ataque A-29 Super não transforma a noite em dia. Não é um vez uma ação noturna. Os militares dos
Tucano e de transporte C-105 Amazonas voo nem diurno, nem noturno. É um grupos lançaram o míssil IGLA S.
também empregam a tecnologia. voo diferenciado”, resume o Suboficial O treinamento, também realizado
Mas não basta os tripulantes ajus- Carlos Renato Fontes, do IMAE. O trei- no Campo de Provas Brigadeiro Ve-
tarem os óculos nos capacetes para namento incluiu exercícios e simulações loso, tinha como alvo um paraquedas
cumprirem missões. Antes de qualquer com o uso de uma maquete com obstá- iluminativo lançado por uma aerona-
voo com NVG, cada militar da FAB culos como dunas, montanhas, linhas de ve F-5M do Esquadrão Jambock. O
realiza um treinamento no Instituto de transmissão e prédios. alvo gera calor como as turbinas das
CB V. SANTOS / Agência Força Aérea

Lançamento do míssil IGLA S durante o dia. À noite, os militares utilizam um visor ter-
mal para buscar seu alvo e têm a vantagem de poderem se esconder com maior facilidade.

38 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
aeronaves e atrai a cabeça de guia-
mento do míssil.
Além de simular o cenário de com-
bate, o objetivo principal do exercício
foi atestar o lançamento noturno do
míssil com o uso de um visor termal.
O Comandante do 2° GDAAE, Tenen-
te-Coronel Cláudio Nascimento exempli-
fica porque o aparelho é importante para
o grupo. “Em Manaus, nós fizemos trei-
namento à noite tanto com helicópteros
H-60 Black Hawk quanto com aeronaves
A-29 voando na condição de night vision,
ou seja, completamente apagados. E nós
não enxergamos mesmo a aeronave,
apenas ouvimos o barulho e não a vimos
passando. Com o dispositivo, é possível
ver a aeronave com facilidade”, explica.
O visor termal funciona com a
captura de ondas infravermelhas,
luz invisível ao olho humano, que é
traduzida e convertida em imagens
apresentadas em um mostrador espe-
cial. Dependendo da intensidade da
emissão de infravermelho, as imagens
aparecem em diferentes cores, que vão
do vermelho vivo (para o que for mais
quente), passando pelo amarelo, até
chegar ao azul (para pontos com menor
emissão de infravermelho).
Para o Chefe da Seção de Operações
do 1° GDAAE, Major Nilton Sigenori
Takezawa, o visor termal proporciona um
aumento da capacidade da FAB. “Hoje
a forças aérea de qualquer nação vão
procurar sempre se basear em recursos
tecnológicos para conseguir a dissuasão
e obter a vantagem sobre uma eventual
ameaça”, afirmou.
CB V. SANTOS / Agência Força Aérea

O IGLA S é guiado pelo calor. Em treinamentos,


o míssil é atraído por iluminadores lançados de
aeronaves de caça. Como o sistema de mira não
emite ondas eletromagnéticas, os militares po-
dem ficar escondidos até o momento do disparo.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 39
SuPER TucAnO

O primeiro combate
O A-29 Super Tucano completa 10 anos de serviço na Força
Aérea Brasileira. Foi nesse modelo que 235 pilotos de caça
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

da FAB aprenderam a combater

HuMBERTO LEiTE

40 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
H
á dez anos, a Força Aérea
Brasileira começou a colocar
em prática uma escolha sin-
gular: treinar seus futuros pilotos de
caça em uma aeronave mais moderna,
porém, mais lenta e menos manobrável
que seu antecessor. O primeiro A-29
Super Tucano pousava pela primeira
vez na Base Aérea de Natal em 7 de
outubro de 2004 para substituir os jatos
AT-26 Xavante. Houve quem tivesse
dúvidas sobre a capacidade do A-29,
mas após ser usado para formar 235
pilotos ao longo de uma década, o
CB V. SANTOS / Agência Força Aérea

avião atestou o acerto da FAB.


“O A-29 cumpre plenamente a fun-
ção de formar o piloto de caça”, resume
o Brigadeiro Mário Jordão, comandante
da Terceira Força Aérea, que reúne as
unidades de caça e de reconhecimento.
A diferença do A-29 para outras aerona-
ves do mesmo porte está na sua cabine, O A-29 é armado com duas metralhadoras de 12,5mm e pode levar mais 1.550 kg de
bombas e foguetes.
criada para parecer ao máximo com a
de um avião de combate de última ge- Os avanços da aviação de combate em aviões T-25 Universal e 90 nos T-27
ração. Do assento ejetável ao manche, nas últimas décadas tornaram a pi- Tucano. Em Natal, eles passam pelo
todos os detalhes são semelhantes aos lotagem também mais facilitada, e o Curso de Tática Aérea, totalmente
caças mais modernos. O mesmo acon- desafio agora não é mais “dominar” teórico, e em março se apresentam
tece com os sistemas de bordo: quando o avião, e sim saber utilizar seus siste- no Esquadrão Joker para iniciar os
entrou em operação, o A-29 era o avião mas para cumprir a missão. estudos sobre o Super Tucano e os
mais avançado da FAB. O Brigadeiro Jordão vai na mesma treinos no simulador. Daí são seis
O resultado aparece na transição linha: “Ser gerente de sistemas é muito voos na companhia de um instrutor
dos aviadores que treinaram no Super importante”. Segundo ele, a partir de até a primeira missão sozinhos na
Tucano para aeronaves de desempenho 2006, quando começaram a voar nos cabine. O chamado “solo” acontece
maior, como os F-5 modernizados. esquadrões de caça os primeiros F-5 por volta do mês de abril.
“Quando o piloto vai para a primeira modernizados, se tornou mais comum Na segunda metade do ano, os
linha ele não sente diferença nenhuma”, haver dificuldades de adaptação de aviadores aprendem a voar em forma-
explica o Tenente-Coronel Rômulo aviadores sem experiência no Super turas táticas e realizam suas missões
Coutinho Lucas, atual comandante do Tucano. “Os pilotos que não voaram de ataque, interceptação e combate
Esquadrão Joker, unidade sediada na o A-29 precisavam estudar muito”, aéreo. “A gente dá a noção de todas as
Base Aérea de Natal que tem como mis- explica. Para o comandante da Tercei- missões que o piloto de caça vai cum-
são formar os futuros pilotos de caça. ra Força Aérea, o treinador também prir”, diz o Tenente-Coronel Lucas.
De acordo com o Tenente-Coronel irá cumprir bem o papel de preparar As missões acontecem sobre o interior
Lucas, o fato de um F-5 poder superar aqueles que futuramente voarão o Gri- do Nordeste e sobre o mar, numa
os 1.700 km/h e o A-29 chegar somente pen NG, próximo caça da FAB. região onde a meteorologia ajuda a
a 593 km/h não é uma dificuldade para aproveitar todos os dias para voos. A
os pilotos. No atual estágio tecnológico Primeiro voo em dois meses 65 quilômetros da Base também está
da aviação, o Super Tucano oferece a Formados na Academia da For- o estande de tiro de Maxaranguape,
possibilidade de o aviador já poder ça Aérea em Pirassununga (SP), os onde cada piloto treina a sua pontaria
treinar a gestão dos sistemas de acor- Aspirantes-a-Oficial selecionados em alvos simulados no solo.
do com a missão. “Essa é a parte mais para o curso de formação de pilotos Diferentemente dos aviões mais
difícil, na verdade”, explica. de caça têm cerca de 50 horas de voo antigos, o Super Tucano permite o lan-

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 41
SGT PAULO / Agência Força Aérea SGT JOHNSON / Agência Força Aérea SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

42
Jul/Ago/Set/2014
Aerovisão
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea
çamento simulado de armamentos. Os Nessas unidades, os pilotos também
sistemas de bordo podem se comportar participam de missões para o uso de
como se a aeronave estivesse armada armamentos e realizam o curso de lide-
e avisam sobre o sucesso ou não do rança na aviação de caça, o último passo
ataque virtual. Junto com tecnologias na formação. Só então, após dois a cinco
como o CCRP (Continuously Compu- anos, estarão prontos para avançarem
ted Release Point - ponto de lançamento para as unidades de primeira linha,
continuadamente calculado), que atualmente equipadas com caças A-1 e
informa ao piloto o momento ideal de F-5 e, em breve, com o Gripen.
disparar, o índice de acertos aumentou.
Após um ano no Esquadrão Joker, 200 mil horas de voo
os aviadores seguem para um dos O Super Tucano foi desenvolvido
três esquadrões do Terceiro Grupo pela Embraer nos anos 90 após uma
de Aviação, com sedes em Boa Vista, definição de pré-requisitos elaborada
Porto Velho e Campo Grande. Nesse pela FAB. O Brasil recebeu 99 unidades
segundo passo, já como pilotos ope- e mais de cem outras unidades foram
racionais, vão participar do alerta de encomendadas até agora por Ango-
defesa aérea, uma missão real reali- la, Burkina Faso, Chile, Colômbia,
zada durante as 24 horas de cada um Equador, Estados Unidos, Indonésia,
dos dias do ano e dividida em escalas Mauritânia, República Dominicana e
por todos os pilotos. Com baixa ve- Senegal. Em 2007, o modelo conquis-
locidade, o Super Tucano é ideal para tou as manchetes mundiais ao ser
interceptar aeronaves de baixo de- utilizado pela Colômbia para destruir
sempenho em voos irregulares ou até posições das Forças Armadas Revo-
ilegais. Além da atuação nas frontei- lucionárias da Colômbia (FARC). A
ras, os A-29 também são empregados frota mundial já superou a marca de
em missões especiais de defesa aérea, 200 mil horas de voo, mais de 58 mil
como ocorreu durante a Copa. só no Esquadrão Joker.
Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 43
INDÚSTRIA DE DEFESA
CB SILVA LOPES / Agência Força Aérea

MAIS QUE COMPRAR


Projetos de compensações comerciais nos contratos da FAB trazem benefícios
para a indústria aeronáutica brasileira e até para pesquisas na área de saúde
Humberto Leite

A
leishmaniose afeta quase três da Aeronáutica. “Foi uma surpresa. In- (COPAC) já conduziu quase 300 iniciati-
mil brasileiros por ano, segun- clusive ninguém entendia como vinha vas de offset entre seus diversos projetos
do o Ministério da Saúde. Em o dinheiro. O próprio pró-Reitor não de aquisição ou modernização de mate-
nove estados, entre 2000 e 2011, a doença conhecia”, conta a Professora Doutora rial. O que beneficiou a Universidade
matou mais que a dengue. Também co- Marina Tavares, da USP. A parceria foi de São Paulo é uma inovação: até ali, os
nhecida como “calazar”, está presente em fruto de um acordo de offset incluído no beneficiários eram empresas brasileiras
todo o País, sendo transmitida por um projeto de aquisição de doze aeronaves da área de defesa ou de engenharia.
mosquito para seres humanos e outros C-105 Amazonas, fabricadas pela Air- Um caso que ilustra bem como a
animais, como cachorros e ratos. O assun- bus na Espanha. (Leia mais na página 49) indústria nacional ganha com o projeto
to é grave, mas parece não ter nenhuma Offsets são compensações que o de offset e traz benefícios para o próprio
relação com a Força Aérea. Parece. Brasil e outros países exigem no caso Comando da Aeronáutica aconteceu com
Desde 2012, vinte alunos de Dou- de compras de material militar, bens e a empresa AEL Systems. No início dos
torado e de Pós-Doutorado, a maioria serviços vindos do exterior. Há várias anos 2000, a aquisição de equipamentos
da Universidade de São Paulo (USP), modalidades de offset, podendo envolver da israelense Elbit para a modernização
já participaram de um programa de benefícios de natureza industrial, tecno- dos caças F-5 levou a empresa gaúcha a
estudos sobre doenças tropicais na lógica ou comercial. absorver tecnologia de manutenção de
Universidad de San Pablo, na Espanha, Desde 2002, a Comissão Coordena- sistemas de bordo. Engenheiros brasi-
graças a um convênio com o Comando dora do Programa Aeronave de Combate leiros foram enviados para treinamento

46 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

Caças A-1, A-29 e F-5 em


fábrica da Embraer. O nú-
mero de projetos de offset
cresce com as iniciativas
de aquisição e de moder-
nização de aeronaves.

A aquisição de doze C-105 Amazonas fabricados na Espanha aumentou a capacidade da FAB de realizar
missões como transporte de carga e lançamento de paraquedistas. E também permitiu que acadêmicos se
aprofundassem em suas pesquisas.

no exterior e, cerca de dez anos depois, Avibrás e Mectron. O objetivo inicial era produtos para o mercado geral que aca-
foram eles quem desenvolveram a nova utilizar a tecnologia no projeto de um bam se incorporando a nosso dia-a-dia”,
cabine do C-95 Bandeirante, hoje em Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) explica Aldo da Silva Júnior, Diretor
processo de modernização. nacional e acabou se tornando possível Comercial e de Negócios da Akaer. A
Outro exemplo aconteceu com os ajudar também no desenvolvimento de empresa está atualmente envolvida no
contratos para modernização dos caças mísseis e de foguetes. desenvolvimento do cargueiro KC-390,
F-5, que trouxe um projeto de trans- Essas tecnologias não se destinam da Embraer, e deve participar do projeto
ferência de conhecimento na área de somente ao mundo militar. “Historica- de construção do futuro Gripen NG.
sistemas GPS e de navegação inercial. mente os desenvolvimentos de produtos “Na realidade, o Comando da Ae-
Inicialmente a ideia seria beneficiar de defesa qualificam as empresas para ronáutica sempre trabalhou com offset,
apenas o Departamento de Ciência e aplicações na área civil. Podemos citar o antes mesmo de ser uma diretriz da
Tecnologia Aeroespacial (DCTA), uma GPS e o uso de estruturas em fibras de Estratégia Nacional de Defesa”, afirma o
organização da própria Aeronáutica, carbono como alguns deles. A tendência atual Presidente da COPAC, Brigadeiro
mas logo foram envolvidos o Instituto é que os conhecimentos adquiridos nes- José Augusto Crepaldi Affonso. A defi-
de Pesquisas da Marinha e as empresas ses projetos sejam utilizados em novos nição de projetos tem como foco a busca

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 47
A aquisição de caças Gripen NG da Suécia irá envolver
projetos de offset em um valor que deve superar o desembolso
necessário para a compra.

pela autonomia nacional na manuten- mento da aeronave, além da criação deste ano. Na mesma data, deve
ção, operação e futuras atualizações dos de uma versão específica, para dois ocorrer a assinatura do acordo de
equipamentos adquiridos do exterior. O pilotos. A Suécia contará apenas com compensação comercial entre a SAAB
Estado-Maior da Aeronáutica definiu modelos para um piloto. A SAAB já e o Comando da Aeronáutica.
como estratégicas as áreas de sistemas está em negociação com as brasileiras O avanço tecnológico faz com que
de armas, energia, espacial, materiais, AEL Sistemas, Akaer, Atech, Embraer, os sonhos da indústria comecem a ir
micro e nano tecnologias, tecnologia de Inbra e Mectron. além das Forças Armadas brasileiras.
informações e telecomunicações. De acordo com a COPAC, o valor “O Brasil, felizmente, já possui uma
Para 2014, a expectativa é a assi- total dos acordos de compensações tradição industrial bem estabelecida na
natura de mais acordos de offset no comerciais vai passar de 100% do área de defesa e segurança – o que é um
âmbito da aquisição dos 36 caças Gri- montante envolvido na aquisição dos privilégio de poucos países. Dada esta
pen NG da empresa sueca SAAB. O Gripen NG. A assinatura do contrato base, acho que podemos nos inspirar em
parque industrial brasileiro deve ser de aquisição das aeronaves está pre- outros países para conduzir a indústria
envolvido no término do desenvolvi- visto para acontecer em dezembro nacional para um outro patamar”, opi-

48 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Foto / Acervo pessoal
O que Leishmaniose tem a ver com
Forças Armadas?
“Se você pensar em uma estratégia
militar, existe uma relevância no estudo
dessas doenças”. Quem explica é o Pro-
fessor Doutor Emerson Martins, da Uni-
versidade Federal do Amapá. Entre 2011
e 2012, ele cursou seu Pós-Doutorado na
Espanha como um dos beneficiários da
parceria entre a Universidade de São
Paulo e o Comando da Aeronáutica.
De acordo com o professor, a leish-
maniose causa muitas baixas em Forças
Armadas que atuam em áreas endêmi-
cas. “Ela pode ser até uma barreira para
penetração no País. Funciona como uma
barreira natural”, explica.
O desafio, contudo, é saber impedir
a proliferação da doença. A leishma-
niose, é, nas palavras do pesquisador,
“negligenciada”. Há poucas pesquisas
na Jorge Ramos, Presidente da Atech, na área porque as regiões atingidas ge-
empresa beneficiada com offsets dos ralmente ficam em países pobres, longe
projetos de modernização dos P-3AM e do interesse da indústria farmacêutica.
compra dos helicópteros EC725. Cerca Após a conclusão dos estudos, todos
de 50% da mão de obra da empresa está os pesquisadores que viajaram para o
ligada a projetos ligados a FAB, mas a exterior com o apoio da Aeronáutica fi-
perspectiva é ampliar o leque de clientes. zeram uma apresentação para militares
“Podemos ser ambiciosos, e almejar um da Diretoria de Saúde da Aeronáutica
papel de relevância em relação a solu- (DIRSA). Também foram lançados artigos
ções de produtos e serviços voltados a científicos. “Todos os participantes têm
países com necessidades similares a do pelo menos uma publicação em revistas
DIVULGAÇÃO / SAAB

Brasil. Nossas competências nos per- de impacto”, conta a Professora Doutora


mitem, e mesmo nos demandam, esta Marina Tavares, que fez a seleção dos
ambição”, finaliza o empresário. participantes do projeto.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 49
AEROnAVES HiSTÓRicAS
XXXXXXX

T-6 TEXAN
O T-6 é mais antigo no Brasil que a própria Força Aérea Brasileira. As primeiras unidades
do treinador pousaram aqui em 1938 e 1939, com as cores da Marinha e do Exército. Em
1941, quando o então Ministério da Aeronáutica foi criado, os T-6 foram transferidos, mas
não para funções de treinamento. Em tempos de guerra, os T-6, armados com metralhadoras
e bombas, voavam sobre comboios de navios mercantes, prontos para revidarem ataques de
submarinos inimigos. Depois, o modelo se tornou figura presente na Academia da Força Aérea,
nas Esquadrilhas de Reconhecimento e Ataque (ERAs) e na Esquadrilha da Fumaça, que realizou
1.270 apresentações com o modelo até 1976, quando foi desativado na FAB. Ao todo, 15.495
aviões deste modelo voaram em todos os continentes, sendo mais de 150 no Brasil.
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

50 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Utilização na FAB: 1941-1977 Potência: 600 HP

Comprimento: 8,83 m Envergadura: 12,80 m

Velocidade máxima: 337 km/h Peso Máximo: 2.404 kg

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 51
inDÚSTRiA DE DEFESA

CENA DE UM
FUTURO
PRÓXIMO

FAB avança nas negociações para o recebimento dos


caças Gripen. Enquanto isso, já aguarda a chegada
dos seus KC-390
HuMBERTO LEiTE

U
m KC-390 reabastecer em voo novos caças antes do inicialmente espe- Enquanto isso, em Gavião Peixo-
dois Gripen da Força Aérea rado: está em negociação o recebimento to, no interior de São Paulo, avança
Brasileira ainda é uma cena de um número ainda não divulgado a construção do primeiro protótipo
possível de ser vista apenas em uma arte de aviões usados das versões C e D, do KC-390. A Embraer planeja o pri-
digital. Mas isso pode mudar em pouco as mais avançadas em uso atualmente. meiro voo ainda este ano e recebeu
mais de dois anos. A negociação para a Após a assinatura do contrato de um incentivo em maio, quando foi
compra dos novos caças está em anda- aquisição dos NG, poderá ser acerta- assinado o contrato de aquisição. As
mento, enquanto que o protótipo do novo do o acordo para cessão temporária 28 unidades para a FAB serão entre-
avião de transporte e reabastecimento em de um número ainda não definido de gues ao longo de doze anos, sendo a
voo já está em construção. aeronaves hoje em uso na Força Aérea primeira no final de 2016. Com valor
A expectativa do Comando da da Suécia. Já em 2015 os primeiros total de R$ 7,2 bilhões, o contrato
Aeronáutica é assinar o contrato para pilotos brasileiros poderão começar os prevê o fornecimento de um pacote
aquisição de 36 Gripen NG em dezem- treinamentos na Suécia. As primeiras de suporte logístico, que inclui peças
bro deste ano. Mas a FAB deve receber aeronaves pousariam por aqui em 2016. sobressalentes e manutenção.
52 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
FOTO: EMBRAER

Protótipo do KC-390 já em fase


avançada de construção na fábrica
da Embraer em Gavião Peixoto
(SP). A expectativa é do primeiro
voo ainda este ano.

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 53
OPERACIONAL

Missão Amazônia

Aeronaves da FAB participam de projeto de mapeamento em


3D de municípios da região amazônica para ajudar a identificar
áreas suscetíveis a tragédias naturais
CARLA OLIVEIRA
SGT JOHNSON / Agência Força Aérea

54 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 55
U
ma parceria entre o Centro rizando situações de risco”, argumenta
Gestor e Operacional do Siste- o diretor-geral do Censipam, Rogério 450 m
ma de Proteção da Amazônia Guedes. Depois de pronto, o trabalho
(Censipam), Serviço Geológico do Brasil ficará disponível no portal eletrônico da 400 m
(conhecido pela sigla CPRM), Exército e CPRM para a sociedade e instituições.
a Força Aérea Brasileira auxilia no ma- A FAB já começou a sobrevoar a 350 m
peamento de áreas suscetíveis a desliza- maioria desses municípios produzindo
mento de terra, enxurrada e inundações imagens através do sensor ADS 80, uma 300 m
em 42 municípios da Amazônia Legal. câmara de alta resolução espacial insta-
O objetivo é produzir cartas topográ- lada nas aeronaves de reconhecimento 250 m
ficas que identifiquem áreas próprias R-35 Learjet. Com sete sensores lineares
para a ocupação humana, diminuindo multiespectrais, o equipamento gera ima- 200 m
o surgimento de novas áreas de riscos e gens contínuas ao longo das faixas de voo
contribuindo para o planejamento urbano com um nível de detalhamento suficiente 150 m
e gestão dos recursos hídricos. para delinear objetos de 35 centímetros.
As cartas de suscetibilidades serão Nesse primeiro momento, a decodi-
100 m
elaboradas a partir do uso dos modelos ficação dessas imagens é realizada na
digitais de terreno (MDT), que permi- estação de processamento de solo do Es-
50 m
tem a visualização em 3D do relevo do quadrão Carcará, com sede na Base Aé-
município, e modelos digitais de ele- rea do Recife (PE). A partir de outubro, 14 m
vação (MDE). “Os modelos fornecem o procedimento ocorrerá em Brasília, em
informações sobre os processos geodi- equipamento adquirido recentemente 0 mi 10 mi 20 mi 30 mi 40 mi
nâmicos que podem atingir parte da pelo Censipam com um investimento
malha urbana nos municípios, caracte- de R$ 3 milhões. A compra foi possível

FOTO: CENSIPAM

As imagens coletadas pelas aeronaves da FAB podem ser usadas para realizar o flagrante de situações como o desmatamento e a elaboração de
estudos aprofundados sobre a proteção da Amazônia. As missões são elaboradas de acordo com as demandas do Censipam.

56 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
MODELO DIGITAL DE TERRENO
RURÓPOLIS - PA

Acima, modelo digital elaborado após as missões de reconhecimento dos R-35. Abaixo, imagem em alta definição. A variedade de
sensores que podem ser levados contribui para aprimorar os levantamentos solicitados pelo Censipam.
50 mi

a partir de um Termo de Cooperação dade foi feita levando em conta a análi- da Lei Federal que institui a Política
com o Comando da Aeronáutica, em se da incidência de desastres naturais Nacional de Proteção e Defesa Civil
novembro de 2013. O Censipam já tem que afetaram a população de municí- (PNPDC). A PNPDC altera o Estatuto
as imagens espaciais produzidas duran- pios brasileiros nos últimos 20 anos e das Cidades e torna obrigatório ela-
te o Projeto Cartografia da Amazônia. o número de mortes, além de conside- borar carta geotécnica (mapeamento)
Para iniciar os trabalhos de elabo- rar a taxa de crescimento populacio- como ferramenta de planejamento
ração das Cartas, em maio o Censipam nal. Segundo informações da CPRM, urbano, de infraestrutura, de ges-
e o CPRM montaram um Projeto Piloto e s sa s r eg iõ e s dema nda m ma ior tão de recursos hídricos e de uso e
em Belém, construindo o mapa de sus- atenção por possuírem um histórico ocupação do solo. O PNDC está es-
cetibilidade do município de Rurópolis mais crítico e provavelmente vão de- truturado em quatro eixos temáticos:
(PA). A metodologia para confecção mandar novos loteamentos devido ao Mapeamento; Prevenção; Monitora-
das Cartas será a mesma utilizada para aumento da população. mento e Alerta; e Resposta. Ao todo,
os demais municípios selecionados. A elaboração das Cartas ocorre 286 municípios de todas as regiões
“No caso de nossa parceria, o diferencial em âmbito nacional devido à edição brasileiras serão contemplados.
é que analistas de ambas as instituições
FOTO: CENSIPAM

farão todas as etapas de elaboração das


Cartas: recebimento de imagens do
aerolevantamento cartográfico, cons-
trução do MDT e MDE, qualificação
do mapa, que pode precisar de verifi-
cação em campo, e envio ao Setor de
Homologação de Dados do CPRM”,
explica o diretor de Produtos do Censi-
pam, Péricles Cardim. O projeto piloto
será replicado nos Centros Regionais do
Censipam em Manaus e em Porto Velho.
A seleção dos municípios para a
elaboração das Cartas de Suscetibili-
Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 57
EXERCÍCIO

FORÇAS AÉREAS
EM COOPERAÇÃO
TEN ENILTON / Agência Força Aérea

58 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Exercício Cooperación III, realizado no Peru, reúne
aeronaves de sete países das Américas para treinar missões
de ajuda a populações civis em caso de tragédias naturais
Saulo Vargas

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 59
A simulação envolveu,
além dos voos, as ativi-
dades de coordenação de
missões entre as aerona-
ves de vários países.

TEN ENILTON / Agência Força Aérea


Bombeiros também participaram do
exercício Cooperación III. As cenas
lembraram casos reais recentes,
como o terremoto do Haiti (2010),
o tsunami no Chile (2010) e as en-
chentes na Bolívia (2008).
TEN ENILTON / Agência Força Aérea

ajuda à população civil, independente


da nacionalidade.
Para o Major Silvio Roberto Assun-
ção de Oliveira Filho, do Esquadrão
Pelicano, de Campo Grande (MS),

U
o exercício aprimorou as missões.
m terremoto de 8 graus na esca- cumprem missões de busca e resgate. “Pudemos colocar em prática todo o
la Richter teve como epicentro As aeronaves brasileiras voaram ao treinamento de evacuação aeromédica
um ponto no Oceano Pacífico, lado de aeronaves das forças armadas e transporte aerologístico, além de co-
próximo à cidade litorânea de Pisco, no da Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, nhecer os procedimentos de comando e
Peru. O abalo provocou um tsunami e Estados Unidos, Peru e Uruguai. Tam- controle para apoio frente a um desastre
cidades inteiras ficaram sem água nem bém houve a presença de observadores natural”, disse.
comida, além de haver a necessidade militares da Guatemala, México, Pana- Militares das outras Forças Aéreas
urgente de resgate de feridos. má, Paraguai e República Dominicana. também destacam a importância da
A situação, felizmente simulada, Além de treinar a utilização das realização do exercício. “Com as ações
foi o cenário do Exercício Cooperación aeronaves de vários países no mesmo que estamos realizando no Peru, po-
III, promovido pelo Sistema de Coope- cenário e em missões de cooperação, o demos perceber a capacidade que as
ração das Forças Aéreas Americanas objetivo foi integrar as coordenações de Forças Aéreas da América têm de poder
(SICOFAA). A Força Aérea Brasileira Comando e Controle no apoio a calami- ajudar uma população frente a uma
participou do treinamento com uma dades públicas e assistência a desastres catástrofe”, revelou o Coronel Claudio
aeronave SC-105 do Esquadrão Pelica- naturais. Em caso de tragédias como Salaberry, coordenador em terra das
no e um helicóptero H-60 Black Hawk, a que foi simulada, todos os países atividades do Esquadrão de C-130 Hér-
do Esquadrão Harpia, unidades que poderão se envolver nas missões de cules da Força Aérea Argentina.

60 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
CULTURA
SGT BATISTA / Agência Força Aérea

Um museu em
Boa Viagem
Próximo da famosa praia do Recife, o Segundo Comando Aéreo
Regional está aberto ao público para mostrar relíquias da história
da aviação brasileira
Humberto leite

62 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
Q ual a relação entre Eduardo
Gomes e Marcos Pontes? O
primeiro era o Comandante
da então “Segunda Zona Aérea” na
Boa Viagem, a 300 metros da famosa
praia pernambucana.
Aberto de segunda a sexta-feira,
com entrada gratuita, o Museu exibe a
O próprio museu fica em um prédio
histórico, construído em 1943, durante
a Segunda Guerra Mundial, para servir
como quartel-general das forças norte-
época em que a FAB travava a “Bata- Bandeira do Brasil levada por Marcos -americanas, responsáveis pelo Atlân-
lha do Atlântico” contra submarinos Pontes ao espaço. Também estão lá mó- tico Sul, com uma uma área de atuação
nazi-fascistas. O segundo foi o primeiro veis originais, que mostram o ambiente que ia de Belém, no Pará, até Caravelas,
astronauta brasileiro. Ambos entraram de trabalho de Eduardo Gomes no Recife na Bahia. Desde 1995 o espaço é dedi-
para a história do Brasil por seus feitos em 1942, época em que ele autorizou o cado a preservar a memória da aviação
como militares da Aeronáutica e hoje ataque contra qualquer submarino que civil e militar no Brasil.
são homenageados com destaque no ameaçasse navios brasileiros. São relí- Há sete exposições permanentes:
Museu do Segundo Comando Aéreo quias que contam capítulos relevantes História da Aviação, Marechal do Ar
Regional, localizado no Recife no bairro da história da Aeronáutica e do Brasil. Eduardo Gomes, Segunda Guerra

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 63
Mundial, Primeiro do Sexto Grupo de Do lado de fora, está um avião
Aviação, Uniformes da Força Aérea VU-93, modelo utilizado entre 1968
Brasileira, Material Bélico e Instrumen- e 2007 no transporte de autoridades
tos Aeronáuticos. Os visitantes podem a partir da Base Aérea de Brasília. A
conhecer, por exemplo, câmeras utili- aeronave foi recebida em 2008 em
zadas pelos aviões de reconhecimento, uma operação que incluiu a retirada
bússolas, manches, bombas, mísseis já das asas e o transporte pelas ruas do
lançados no Brasil, espoletas, condeco- Recife durante a madrugada. Há ain-
rações, distintivos, equipamentos e ins- da uma sala específica para mostrar

SGT BATISTA / Agência Força Aérea


trumentos de voo, macacões utilizados equipamentos já operados no Terceiro
por pilotos e até um painel completo de Centro Integrado de Defesa Aérea e
um avião de combate AT-26 Xavante. Controle de Tráfego Aéreo (CINDAC-
Para os plastimodelistas, grupo que TA III), também sediado no Recife.
gosta de montar miniaturas de aerona- O museu do II COMAR está a 900
ves, a grande atração mesmo é a mesa que metros da estação Porta Larga do
recorda um campo de pouso da Força metrô do Recife. Nas proximidades

SGT BATISTA / Agência Força Aérea


Aérea Brasileira na Segunda Guerra também está localizado o Morro dos
Mundial. Estão lá, em detalhes, as bar- Guararapes, local da histórica batalha
racas, os detalhes do campo de aviação e que marcou a vitória sobre os invasores
os aviões P-47, o “trator voador” da FAB. holandeses no século XVII.

Serviço
Museu do II COMAR
Av. Armindo Moura, 500 - Boa Viagem – Recife (PE)
Aberto a visitação de segunda a quinta das 8h às 12h e das 13h30 às 17h
e na sexta das 8h às 12h. Visitas guiadas podem ser agendadas.
Entrada gratuita
Telefone (81) 2129-7194

PORTA LARGA

64 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
SGT BATISTA / Agência Força Aérea
O acervo do museu inclui de
peças de vestuário até uma
maquete de uma base bra-
sileira na Segunda Guerra
Mundial. Os visitantes podem
ainda conhecer o avião VU-93,
em exposição estática na frente
do museu (página anterior).

Aerovisão Jul/Ago/Set/2014 65
EXPEDIENTE

Publicação oficial da Força Aérea Brasileira, a revista Aerovisão é produzida pela


Agência Força Aérea, do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER).

Chefe do CECOMSAER:
Brigadeiro do Ar Pedro Luís Farcic
Chefe da Divisão de Comunicação Integrada:
Coronel Aviador Max Luiz da Silva Barreto

Chefe da Divisão de Comunicação Corporativa:


Coronel Aviador Paulo César Andari

Chefe da Subdivisão de Produção e Divulgação:


Tenente-Coronel Aviador André Luís Ferreira Grandis

Chefe da Subdivisão de Publicidade e Propaganda


Tenente-Coronel Aviador Emerson Mariani Braga

Repórteres: Carla Oliveira, Tenente Relações Contato:


Públicas Saulo Vargas e Tenentes Jornalistas redacao@fab.mil.br
Humberto Leite, Raquel Sigaud, Jussara Pec- Esplanada dos Ministérios, Bloco M, 7º Andar
cini e Iris Vasconcellos. CEP: 70045-900 - Brasília - DF

Revisão (Texto): Tenente-Coronel Aviador Tiragem: 15 mil exemplares


Cláudio David, Tenente-Coronel Aviador
Período: Julho/Agosto/Setembro - 2014 - Ano 41
Aloísio Sechhin, Major Aviador Rodrigo
Cano, Major Aviador Bruno Pedra e Tenentes Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais
Hugo Silva, Bruna Sousa, Iris Vasconcellos e das matérias, desde que mencionada a fonte.
Evelyn Abelha.
Distribuição Gratuita
Editoração/infográficos/arte: Tenente Rachid Veja edição eletrônica: www.fab.mil.br
Jereisatti, Tenente André Longo, Tenente José
Maurício Brum de Mello, Suboficial Edmil- Impressão: Gráfica Editora Pallotti
son Maciel, Sargento Emerson Guilherme
Rocha Linares, Sargento Ednaldo da Silva,
Sargento Marcela dos Santos e Sargento
Daniele Azevedo.

Fotógrafos: Tenente Enilton Kirchhof, Sargen-


to Paulo Rezende, Sargento Johnson Barros,
Sargento Bruno Batista, Cabo Silva Lopes e
Cabo Vinicius Santos.

66 Jul/Ago/Set/2014 Aerovisão
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