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Prova 4 Julho 2016 Questoes e Respostas
Prova 4 Julho 2016 Questoes e Respostas
António, depois de ter passado um fim-de-semana numa moradia que Filipe possui no
Douro, perguntou a este se não estaria interessado em vender o imóvel. Filipe não
respondeu, mas numa folha A4 escreveu como título “pacto de opção”, declarando
apenas o seguinte: “Comprometo-me a dar prioridade a António se um dia vender a
minha moradia do Douro”. Logo a seguir, a pedido de Filipe, António assinou a folha
A4. Passados alguns meses, António soube que Filipe tinha vendido a Miguel, por
500.000€, a moradia e um terreno rústico localizado perto da moradia. Inconformado,
António foi ter com o seu advogado, mostrando-lhe a folha A4 e perguntando o que
podia fazer.
II
Como os 500.000€ só seriam pagos dentro de nove meses, Filipe, a precisar de dinheiro,
negociou com Tomás a compra e venda do seu direito ao preço, recebendo 300.000€
pelo negócio. Passados dois meses, Miguel conseguiu que Tomás lhe prorrogasse por
mais dois meses o prazo da dívida. Chegado o dia do pagamento, Miguel veio pagar a
Filipe, invocando que nem este, nem Tomás lhe falaram do negócio feito entre ambos.
III
A empresa “Arquitetos, Lda.” propôs contra Bernardo uma ação dizendo que, no
exercício da sua atividade de desenvolvimento de projetos de investimento imobiliário,
estabeleceu negociações com ele com vista à aquisição de um prédio urbano, tendo
apresentado uma primeira proposta de compra do referido prédio e, após aproximação
das respetivas posições e de terem sido afinados os termos do negócio em preparação,
uma segunda proposta, que foi aceite por Bernardo, após o que foi negociada uma
minuta de contrato de compra e venda. Mais invocou que, acreditando na compra do
prédio, abandonou um outro projeto de investimento imobiliário alternativo, que lhe
proporcionaria um lucro não inferior a 1.950.000,00€, tendo, até, com vista à decoração
do imóvel, falado à “Ideias, Lda.” de um possível contrato de prestação de serviços e
entregue, como adiantamento, a quantia de 30.000,00€. Alguns dias depois, Bernardo
tomou a decisão de vender o prédio a Daniel, recusando-se a vender à empresa
“Arquitetos, Lda.”. Esta, se tivesse comprado o prédio, teria desenvolvido o projeto de
investimento imobiliário que tinha previsto e retiraria um lucro não inferior a
5.400.000,00€.
Supondo que ficavam provados os factos referidos, diga (i) se a “Arquitetos, Lda.”
poderá obrigar Bernardo a vender-lhe o prédio e, em caso de resposta negativa, (ii) se
poderá aspirar a ser ressarcida dos prejuízos que possa ter sofrido e (iii) se a “Ideias,
Lda.” terá alguma pretensão contra a “Arquitetos, Lda.”. 1,5+1,5+1,5
(Hipótese inspirada no Acórdão da Relação de Lisboa, de 15.03.2012)
IV
Por ocasião dos festejos do santo padroeiro da localidade, Ana levou o seu filho
Ricardo, de 9 anos de idade, para dar uma volta numa montanha-russa. Apesar das
advertências escritas num quadro fixado sobre a bilheteira, onde se indicava, entre
outras regras de segurança, a obrigação de permanecer sentado durante a viagem,
Ricardo, entusiasmado, ergueu-se na cadeira e acabou por desequilibrar-se e cair sem
que Ana o tivesse conseguido segurar.
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO
1- O advogado terá dito que na folha A4 não tinha sido validamente atribuído
qualquer direito de preferência a favor de António. Não propriamente pelo facto
de o documento ter o título “Pacto de opção” ou constar de uma folha A4, mas
pela circunstância de não estar assinado por Filipe, sendo pois um documento
nulo (art. 415º).
2- Havendo um válido direito convencional de preferência terá havido uma
violação desse direito pois António não foi notificado para o exercer. E devia ser
notificado após a concertação do projeto de venda com Miguel, tendo em conta
o disposto nos arts. 416º e 417º (venda por preço global). António não pode
pedir outra coisa senão uma indemnização por incumprimento contratual.
3- Para poder intentar uma ação de preferência, afastando o direito constituído a
favor de Miguel, António tinha que ser titular de uma preferência com eficácia
real (é utópico configurar no caso um direito legal de preferência). Neste caso,
segundo a melhor doutrina e jurisprudência, deveria intentar a ação contra Filipe
e Miguel.
II