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Elemento de Controle Térmico, Lumínico e Acústico
Elemento de Controle Térmico, Lumínico e Acústico
Egon Vettorazzi (1) Marcelo Langner (2) Odoni Ruschel Junior (3) Patrícia Soares Teixeira (4)
(1) Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil.
e-mail: egon.vettorazzi@unila.edu.br
(2) Centro Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil.
e-mail: marcelolangner@hotmail.com
(3) Centro Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil.
e-mail: odoni.com@hotmail.com
(4) Centro Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil.
e-mail: patriciasoaresteixeira@gmail.com
Resumo: Neste trabalho foi desenvolvido um dispositivo de controle da radiação solar direta que
também tem a finalidade de melhorar o desempenho acústico, luminoso e a eficiência energética do
ambiente ao qual é aplicado. Esse elemento pode ser instalado durante ou após a construção da
edificação, sendo adaptado facilmente a maioria das janelas disponíveis no mercado. Além de
bloquear os ruídos externos e a radiação solar excessiva, permite a entrada de iluminação e
ventilação natural no interior das edificações, melhorando as condições internas de conforto
ambiental ao mesmo tempo que contribui com a eficiência energética devido a diminuição do uso de
ar condicionado. Para realização do trabalho foi construído um protótipo em escala real para testar
o desempenho na redução de ruídos no interior de uma edificação. Para a avaliação do desempenho
quanto à proteção da radiação solar e à iluminação natural, foram realizadas simulações com uso de
programas computacionais. Os resultados demonstram uma redução entre 9,4 e 16,1 decibéis dos
ruídos no interior da edificação, representando uma diminuição aproximada de três a cinco vezes na
intensidade do som. Além disso, foi constatado que o elemento de proteção solar desenvolvido protege
da radiação solar direta, ao mesmo tempo em que diminui a excessiva iluminação natural no interior
da edificação.
Abstract: We have developed a device to control direct solar radiation which also aims to improve the
sound , light performance and energy efficiency of the environment to which it is applied. This element
can be installed during or after construction of the building and is easily adapted to most of the
windows available on the market . In addition to block outside noise and excessive solar radiation,
allows the entry of natural lighting and ventilation inside the building , improving the internal
conditions of environmental comfort while contributing to energy efficiency due to decreased use of
air conditioning . To perform the job it was built a prototype to test the real performance in noise
reduction inside a building scale. For the evaluation of the performance as the protection from solar
radiation and daylighting simulations using computational programs were held. The results show a
reduction of between 9.4 and 16.1 decibels of noise within the building , representing an approximate
decrease three to five times the sound intensity. Furthermore , it was found that the element of sun
protection designed protect from direct sunlight , while it decreases the excessive natural light inside
the building .
Keywords: element of sun protection; acoustic comfort; noise; noise pollution.
1. INTRODUÇÃO
O crescimento desordenado da população no meio urbano acarreta diversos problemas sociais,
econômicos e ambientais. No Brasil, segundo o censo demográfico do IBGE (2010), cerca de 84% da
população vive em meio urbano. Entre os problemas diagnosticados atualmente, a poluição sonora e o
aumento de consumo de energia per capita são alvos de estudo, em virtude das dificuldades
encontradas para o controle do problema.
A poluição sonora, segundo dados publicados na revista Summa (2012), é considerada a terceira maior
causa de poluição no planeta, atrás apenas do ar e da água, sendo um problema de saúde pública,
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade estima que 800 milhões de pessoas
sofram com a perda auditiva, e este número deverá aumentar para 1,1 bilhão até 2015,
aproximadamente 16% da população mundial. Esses ruídos geralmente são originados por fontes que
produzem sons excessivos, como indústrias, canteiros de obras, meios de transporte, áreas de
recreação, atividades de lazer etc. Além disso, há relatos sobre a ocorrência de efeitos negativos em
níveis moderados de ruído, uma vez que lentamente vão se instalando estresse, distúrbios físicos,
mentais e psicológicos, insônia e problemas auditivos (MEDEIROS, 1999).
Um fator que contribui para o aumento do consumo de energia elétrica é o desconforto causado à
população pela exposição a níveis elevados de ruídos urbanos. Para se proteger dos ruídos, o usuário
fecha as janelas, o que diminui a ventilação e a iluminação natural e muitas vezes, recorre ao uso de
soluções artificiais de conforto térmico, como o uso do ar-condicionado.
A OMS considera que, para não causar prejuízos ao ser humano, um som deve atingir um nível de até
50dB. A partir disso, começam a surgir os efeitos negativos. De acordo com Frota (1995), o conforto
ambiental é considerado um dos principais objetivos da arquitetura, visando ao máximo o bem-estar
do usuário. Sendo assim, é necessário agregar elementos arquitetônicos que auxiliem o conforto
ambiental dos ambientes. Esses elementos não só devem promover o conforto, mas priorizar
estratégias de ventilação e iluminação natural. Consequentemente, levam à redução do consumo de
energia elétrica e fazem toda a diferença nas construções que agregam esses dispositivos. Para o
desenvolvimento deste trabalho, adotou-se o brise, elemento arquitetônico de proteção solar,
atribuindo-lhe uma nova função, o conforto acústico.
Considerando os aspectos expostos, quanto à dificuldade de sanar a questão dos ruídos urbanos e a
fatores referentes ao conforto térmico, associando diretamente esses problemas ao crescimento
demográfico e ao consumo excessivo de energia elétrica, torna-se necessário o desenvolvimento de
sistemas que busquem amenizar os impactos resultantes da terceira maior causa de poluição no
planeta, a poluição sonora.
O brise móvel acústico foi desenvolvido para amenizar as ondas sonoras nocivas à saúde da
população. A tecnologia visa controlar a incidência direta de raios solares, diminuir os níveis de ruídos
transmitidos para dentro dos ambientes sem afetar a ventilação natural e, consequentemente, reduzir o
uso de aparelhos condicionadores de ar.
Diante dos dados apresentados sobre os problemas provenientes da poluição sonora, este trabalho
procurou desenvolver uma nova tecnologia capaz de solucionar de maneira sustentável o problema, ou
seja, promover a combinação de materiais acústicos com o brise. Nas dimensões corretas, essa
combinação pode proporcionar uma redução significativa no nível dos ruídos externos, possibilitando
a utilização das janelas abertas e, consequentemente, otimizando a ventilação e a iluminação natural,
controlando a radiação solar direta no interior dos ambientes, de modo a aumentar o conforto térmico
e diminuir o consumo de energia elétrica.
2. OBJETIVO
O objetivo principal deste projeto é propor uma solução simples, e economicamente viável, para
resolver problemas das edificações urbanas relacionados com o conforto térmico, acústico e lumínico.
A proposta tem como foco primordial reduzir a entrada de ruídos urbanos no interior da edificação e,
ao mesmo tempo, permitir a entrada de luz e ventilação natural, aumentando o nível de conforto e
diminuindo o consumo de energia elétrica com o uso de ar-condicionado.
3. JUSTIFICATIVA
Este trabalho se justifica pela necessidade do estudo de soluções que amenizem os problemas relativos
a poluição sonora sem que, no entanto, prejudicar o conforto térmico e a eficiência energética dos
ambientes devido ao fechamento das janelas e o impedimento da ventilação e iluminação natural.
4. MÉTODO EMPREGADO
A metodologia do trabalho se divide em duas etapas principais: Projeto do brise móvel acústico
(protótipo) e ensaios de desempenho: acústica, radiação solar e iluminação natural.
O protótipo foi construído com os seguintes materiais: policloreto de vinila (PVC) expandido de 2mm;
espuma acústica absorvente com 50mm de espessura; cola instantânea e impermeabilizante líquido. As
figuras 7 e 8 apresentam fotos do protótipo.
FIGURA 7 – Foto frontal do protótipo. FIGURA 8 – Foto lateral do protótipo.
O dispositivo de ensaio foi desenvolvido com uma caixa com materiais acústicos que simula a
abertura de uma edificação. O dispositivo de ensaio consiste em uma caixa de camada dupla de
laminado prensado com um material acústico absorvente entre as camadas. As figuras de 9 a 11
demonstram, respectivamente, a caixa externa, a caixa interna e o dispositivo completo, medindo
externamente L= 100cm × H= 100cm× P= 100cm e internamente L= 80cm × H= 80cm × P= 90cm. A
Figura 12 mostra a foto do dispositivo de ensaio sem o protótipo e a Figura 13 mostra a foto do
protótipo do brise móvel acústico acoplado ao dispositivo de ensaio.
FIGURA 12– Diferentes situações do dispositivo de ensaio para realização dos ensaios acústicos.
A fonte sonora ficou a uma distância de 230cm do dispositivo de ensaio e apresentou uma intensidade
sonora de 76,5dB (Figura 13). Para os ensaios foi utilizado um decibelímetro digital modelo MSL
1351C, marca Minipa (Figura 14).
5. RESULTADOS OBTIDOS
Os resultados da aplicação do brise móvel acústico estão divididos em: análise do desempenho
acústico, análise do desempenho da proteção contra a radiação solar e análise da capacidade de entrada
de iluminação natural.
Aberto
76,5 76,5 0
Fechado
76,5 56,2 20,5
Lâminas na
Horizontal 76,5 65,4 10,3
Lâminas a 25
graus interno 76,5 66,3 9,4
Lâminas a 25
graus externo 76,5 65,9 9,8
Lâminas a 40
graus interno 76,5 59,6 16,1
O ambiente sem proteção, com a janela aberta, apresentou níveis de ruído iguais a 76,5dB, ou seja,
sem redução do nível de ruído em comparação com o meio externo.
O ambiente com o brise móvel acústico acoplado à janela e com as lâminas na posição horizontal
apresentou níveis de ruído iguais a 65,4dB, reduzindo 10,3dB do ruído externo, o que, em média,
representa uma redução de três vezes na intensidade do ruído.
O ambiente com abertura acoplada de brise móvel acústico com as lâminas inclinadas a 25 graus
interno apresentou níveis de ruído iguais a 66,3dB, reduzindo 9,4dB do ruído externo, o que, em
média, representa uma redução de três vezes na intensidade do ruído.
O ambiente com abertura acoplada de brise móvel acústico com as lâminas inclinadas a 25 graus
externo apresentou níveis de ruído iguais a 65,9dB, reduzindo 9,8dB do ruído externo, o que, em
média, representa uma redução de três vezes na intensidade do ruído.
O ambiente com abertura acoplada de brise móvel acústico com as lâminas inclinadas a 40 graus
interno (levemente fechados), sem vedação ou hermeticidade, apresentou níveis de ruído iguais a
59,6dB, reduzindo 16,1dB do ruído externo, o que, em média, representa uma redução de cinco vezes
na intensidade do ruído.
Para Bergund e Lindvall (1995) e Bergund, Lindvall e Schwela (1999), quando exposto durantes 8
horas diárias a níveis de ruídos de 75dB, o ser humano corre sérios riscos de perda de audição e,
segundo a NBR 10115 (2000), o nível máximo de decibéis permitido é de 55dB em zonas residenciais
e de 60dB em áreas mistas com vocação comercial e administrativa. Sendo assim, os resultados
obtidos com o brise móvel acústico, de redução de 10,3 a 16,1 decibéis, o caracterizam como elemento
arquitetônico que auxilia o bem-estar e o conforto ambiental, sem aumento do consumo de recursos
naturais e energéticos.
(a) Sem brise móvel acústico. (b) Sem brise móvel acústico.
FIGURA 15– Radiação solar no interior de edificação em Porto Alegre sem e com brise móvel acústico.
A Figura 16 ilustra comparativamente os resultados da iluminação natural com o uso de uma janela
convencional aberta e com a utilização do brise móvel acústico na cidade de Porto Alegre.
(a) Sem brise móvel acústico. (b) Cem brise móvel acústico.
FIGURA 16– Iluminância (lux) no interior de edificação em Porto Alegre sem e com brise móvel acústico.
Na figura 17 é possível analisar, esquematicamente, que uma edificação com janela convencional
aberta, sem elementos de proteção, está exposta a radiação solar direta, ruídos externos e iluminação
excessiva. É possível observar a tripla função do brise móvel acústico, que barra a radiação solar
direta, diminui a intensidade do som e controla a iluminação, sem prejudicar a ventilação natural.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do brise remodelado como elemento de barragem do som, quanto a seu desempenho
acústico, térmico e lumínico, demonstrou resultados satisfatórios, tendo em vista sua aplicabilidade em
razão da facilidade de instalação e adaptação a diferentes situações. O brise móvel acústico apresenta
flexibilidade de manejo e pode ser facilmente instalado em edificações novas, além de poder ser
acoplado sobre janelas de edificações existentes. Outra característica marcante é o fato de poder ser
produzido em larga escala, o que reduz seu custo final.
Ao fim dos estudos e testes com o brise móvel acústico, foi constatada sua eficiência por meio da
significativa diferença encontrada nos níveis de ruídos do ambiente interno com e sem o uso do
dispositivo. Além disso, foi comprovada sua eficiência em barrar a radiação solar e na capacidade de
controle da iluminação solar sem prejudicar a ventilação natural no interior das edificações.
Conforme ressaltado neste trabalho, mais de 80% da população urbana é afetada por problemas
relacionados com o ruído urbano. Para alcançar o conforto acústico dos ambientes, sem prejudicar o
conforto térmico e lumínico, o trabalho apresentado demonstra que o emprego do brise móvel acústico
colabora efetivamente para o controle da radiação solar, diminuindo os gastos de energia elétrica com
condicionamento térmico e auxiliando na iluminação e ventilação natural.
Além de economicamente viável e correto do ponto de vista ambiental, o projeto agrega outros
valores, proporcionando bem-estar, saúde e eficiência energética.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGUND, B.; LINDVALL, T.; SCHWELA, D. H. – Guidelines for Community Noise – WHO,
Stockholm, 1999.
FROTA, A.; SCHIFFER, S. Manual de Conforto Térmico. São Paulo: Studio Nobel, 1995.
OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Resumo das orientações das diretivas da OMS,
relativas ao ruído no meio ambiente. 2004.