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Manual prático

sobre ácaros do
amendoim no Brasil

Daniel Júnior de Andrade


Cirano Cruz Melville
Marcos Doniseti Michelotto

Jaboticabal-SP
Funep - 2016
Copyright©: Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão - Funep

Editoração e Impressão Gráfica:


Funep

M294 Manual Prático sobre ácaros do amendoim no Brasil / Coordenadores


Daniel Júnior de Andrade, Cirano Cruz Melville, Marcos
Doniseti Michelotto. -- Jaboticabal : Funep, 2016
iii, 22 p. : il., retrs.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7805-161-7

1. Arachis hypogaea. 2. Fabaceae. 3. Tetranychidae. 4.


Tetranychus ogmophallos. 5. Mononychellus planki. 6. Neoseiulus
anonymus. I. Andrade, Daniel Junior de. II. Melville, Cirano Cruz.
III. Michelotto, Marcos Doniseti. IV. Título.
CDU 595.42:633.368

Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da


Informação - Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de
Jaboticabal.

2016
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão punidos na forma da lei.

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Prefácio

É com muita satisfação que prefacio este manual técnico ela-


borado por esses experientes profissionais, cujas trajetórias cien-
tíficas tive a honra de acompanhar durante suas formações.
Trata-se de uma publicação com viés didático sobre os ácaros
da cultura do amendoim, cujos ensinamentos nele contidos con-
tribuirão indubitavelmente para um manejo mais eficiente des-
ses prejudiciais ácaros que têm comprometido significativamen-
te a produtividade dessa oleaginosa.
Os autores disponibilizam informações técnicas de cunho
prático, porém baseadas em conhecimentos resultantes de suas
pesquisas, as quais possibilitarão aos alunos, aos técnicos e aos
produtores rurais superar esses graves problemas fitossanitários.
Espero que os leitores deste manual desfrutem de seu con-
teúdo e apliquem-no corretamente em suas atividades para um
eficaz manejo dos ácaros da cultura do amendoim, utilizando-se
de técnicas eficientes, visando a aumentar sua produtividade e
preservando o meio ambiente.

Prof. Dr. Carlos Amadeu Leite de Oliveira


Professor e Pesquisador aposentado da FCAV/UNESP
Jaboticabal, 29 de abril de 2016.
Sobre os autores

Daniel Júnior de Andrade


Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual Paulista “Jú-
lio de Mesquita Filho” (FCAV/UNESP). Doutor em Agronomia (En-
tomologia Agrícola) pela FCAV/UNESP. Professor Assistente Doutor
da FCAV/UNESP da disciplina de Acarologia Agrícola oferecida ao
curso de graduação em Agronomia. É credenciado junto ao Programa
de Pós-Graduação em Agronomia (Entomologia Agrícola) da FCAV/
UNESP. Desenvolve projetos relacionados ao manejo, bioecologia e
comportamento de ácaros de importância agrícola.
E-mail: daniel.andrade@fcav.unesp.br

Cirano Cruz Melville


Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Roraima
(UFRR). Mestrado em Agronomia com ênfase em Entomologia Agrí-
cola pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
(FCAV/UNESP). Atualmente cursa doutorado em Agronomia com
ênfase em Entomologia Agrícola na FCAV/UNESP. Desenvolve pes-
quisas na área de Acarologia Agrícola, atuando nos seguintes temas:
manejo integrado de pragas, manejo de ácaros de importância agríco-
la, comportamento de ácaros fitófagos em relação à planta, estratégias
visando ao controle de ácaros em grandes culturas.
E-mail: ciranomelville@outlook.com

Marcos Doniseti Michelotto


Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de
Lavras (UFLA), mestrado e doutorado em Agronomia (Entomologia
Agrícola) pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Fi-
lho” (FCAV/UNESP). É pesquisador científico da Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios desde Bolsista de Produtividade em De-
senvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora do CNPq - Nível
2.  Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Entomo-
logia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: manejo
integrado de pragas das culturas de algodão, amendoim, milho e fru-
tíferas. Desde 2014 é professor do Módulo de Controle de Pragas no
MBA de Fitossanidade do Instituto Agronômico de Campinas. 
E-mail: michelotto@apta.sp.gov.br
Sumário

1 Introdução.................................................................................................... 01

2 Ácaro-vermelho-do-amendoim: Tetranychus ogmophallos


Ferreira & Flechtmann (Acari: Tetranychidae)...............................01

3 Ácaro-verde: Mononychellus planki (McGregor)


(Acari: Tetranychidae)................................................................................08

4 Ácaro-rajado: Tetranychus urticae Koch


(Acari: Tetranychidae)................................................................................12

5 Microácaro-do-amendoim:
Aceria pintoi Ferreira & Flechtmann (Acari: Eriophyidae)........13

6 Manejo dos ácaros em amendoim.....................................................14

6.1 Controle cultural....................................................................................14


6.1.1 Preparo do Solo....................................................................................14
6.1.2 Controle de plantas daninhas......................................................14
6.1.3 Época de plantio.................................................................................15
6.1.4 Manejo de pragas e doenças..........................................................15
6.1.5 Colheita adequada.............................................................................16

6.2 Monitoramento dos ácaros...............................................................16


6.3 Controle biológico.................................................................................17
6.4 Controle químico...................................................................................18

7 Literatura consultada............................................................................21
Introdução

A cultura do amendoim no Brasil apresenta elevada impor-


tância socioeconômica, especialmente na região Sudeste. O
Estado de São Paulo, maior produtor nacional, com destaque
para as macrorregiões de Ribeirão Preto e Marília, respondeu,
na safra de 2015/2016, por aproximadamente 90% da produção
nacional, estimada em 413 mil toneladas. No entanto, a cultura
é acometida por diversas pragas e doenças que podem compro-
meter a produtividade e a qualidade do amendoim produzido.
Com relação aos ácaros, diversas são as espécies que habitam
as plantas de amendoim, porém somente algumas apresentam
sérios problemas à produção e à qualidade dos grãos produzi-
dos. Neste manual, serão apresentadas informações atualizadas
sobre os principais ácaros-do-amendoim no Brasil com o intuito
de auxiliar no reconhecimento e no controle destes pequenos
artrópodes no campo.

2 Ácaro-vermelho-do-amendoim: Tetranychus
ogmophallos Ferreira & Flechtmann  (Acari: Te-
tranychidae)
O ácaro T. ogmophallos, popularmente conhecido como áca-
ro-vermelho-do-amendoim, devido à coloração vermelho-car-
mim intenso dos indivíduos adultos, possui importância para
a cultura do amendoim, principalmente nos períodos de seca
prolongada. Altas infestações do ácaro-vermelho podem causar
reduções de até 100% da produção se as condições forem favo-
ráveis e se não houver intervenção pelos produtores.
No campo, sua infestação inicia-se em pequenas reboleiras, o
que dificulta o diagnóstico precoce da praga na área, sendo per-
cebida, na maioria das vezes, somente quando a população está
bastante alta (Figuras 1 e 2). Desde que haja condições climáti-

1
cas favoráveis, o ácaro-vermelho pode ocorrer desde os
primeiros estágios de desenvolvimento até o final do ciclo da
cultura. Um dos sinais mais característicos da presença deste
ácaro é a elevada quantidade de teia produzida. As teias
podem chegar a cobrir toda a planta de amendoim e são
mais densas comparadas às teias produzidas por outros ácaros
tetraniquídeos (Figura 3).
Infesta principalmente folhas, porém é comum observar áca-
ros sobre as hastes jovens, principalmente quando a
população está elevada. Nas folhas inicialmente atacadas,
surgem pontua-ções esbranquiçadas devido à sua
alimentação, e rapidamente as folhas adquirem manchas
brancas ou amareladas que podem cobri-las totalmente (Figura
4). No final, as folhas secam e caem, afetando a capacidade
fotossintética das plantas, podendo levá-las à morte (Figura
4). Reduções da parte aérea das plantas também aumentam
as perdas na colheita, pois muitas vagens não são arrancadas
do solo pelas colhedoras.

Figura 1. Reboleira evidenciando grande quantidade de teias causada pelo


ácaro-vermelho-do-amendoim Tetranychus ogmophallos. (Foto: gentileza
Engenheiro Agrônomo Edvaldo Pereira dos Santos - COPLANA).

2
Figura 2. Área de amendoim totalmente infestada pelo ácaro-vermelho-
-do-amendoim Tetranychus ogmophallos. (Foto: gentileza Engenheiro
Agrônomo Edvaldo Pereira dos Santos - COPLANA).

Figura 3. Teias produzidas pelo ácaro-vermelho-do-amendoim Tetranychus


ogmophallos, envolvendo totalmente a planta, e aspecto geral de uma planta
após o ataque do ácaro, evidenciando amarelecimento total das folhas.

3
Figura 4. Evolução dos sintomas do ácaro-vermelho-do-amendoim
Tetranychus ogmophallos, do início da infestação à morte da planta.

Importante ressaltar que, na literatura, são encontrados re-


gistros dos ácaros Tetranychus evansi Baker & Pritchard (Acari:
Tetranychidae) e Tetranychus ludeni Zacher (Acari: Tetranychi-
dae)  infestando plantas de amendoim no Brasil. No Estado da
Paraíba, em 2015, foi relatado pela primeira vez a ocorrência de
Tetranychus neocaledonicus André (Acari: Tetranychidae) em
plantas de amendoim (SILVA; GONDIM JUNIOR, 2016). Entre-
tanto, acredita-se que os trabalhos que citaram o ácaro T. evansi
em amendoim tratava-se, na verdade, de T. ogmophallos. Esses
possíveis equívocos ocorridos na identificação são atribuídos à
semelhança entre os ácaros.
O ciclo biológico de T. ogmophallos é constituído pelas fases
de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. A duração mé-
dia do ciclo biológico é de 14 dias sobre amendoim (BONATO et
al., 2000) (Figura 5). Na fase adulta, os machos são menores que

4
Ovo

Larva
Ciclo total:
14 dias (25º C)

Adulto

Protoninfa
Deutoninfa
Figura 5. Ciclo biológico do ácaro-vermelho-do-amendoim Tetranychus
ogmophallos.

as fêmeas. Os indivíduos jovens geralmente apresentam colo-


ração vermelho-clara, enquanto os adultos possuem coloração
que varia desde vermelho-clara até vermelho bastante escuro.
Pesquisas desenvolvidas na Faculdade de Ciências Agrá-
rias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/
UNESP), Câmpus de Jaboticabal, demonstraram que plantas
de amendoim infestadas nos primeiros estádios de desenvolvi-
mento não resistem ao ataque do ácaro T. ogmophallos. Pois, a
alimentação dos ácaros causa redução na taxa de crescimento,
tanto da parte aérea como da raiz, no número de folíolos, re-
dução no número de ginóforos e, consequentemente, morte da
planta (MELVILLE, 2015) (Figura 6). Em termos de produtivi-
dade, as plantas infestadas com o ácaro-vermelho apresentam
redução no tamanho e no rendimento de grãos, e na produti-

5
vidade de vagens (KASAI, 2012). Caso a infestação ocorra nos
últimos estádios de desenvolvimento das plantas, há redução
na produtividade ao redor de 85% (MELVILLE, 2015).

(A) (B)

Figura 6. (A) Planta de amendoim infestada pelo ácaro-vermelho Tetranychus


ogmophallos e (B) planta não infestada pelo ácaro. (Plantas de mesma idade).
A presença de tigueras e provavelmente algumas plantas da-
ninhas são responsáveis por infestações precoces nas lavouras
de amendoim, pois proporcionam abrigo e alimento aos ácaros
durante a entressafra. No Estado de São Paulo, o amendoim é
plantado em áreas de renovação do canavial e, portanto, após a
colheita do amendoim, é realizado novamente o plantio da cana-
-de-açúcar. O que se observa com frequência no campo é a pre-
sença de plantas de amendoim em canaviais recém-plantados,
favorecendo ácaros, tripes, lagartas e doenças como a mancha-
-preta e viroses (Figura 7).
Com relação às plantas de cana-de-açúcar, não há estudos in-
dicando que as mesmas possam servir de alimento para T. ogmo-
phallos. Sabe-se que plantas de soja e feijão podem servir de hos-
pedeiras do ácaro-vermelho (BONATO et al., 2000). Porém, ainda
não existem relatos a campo de sua ocorrência nessas culturas.
Para amostragem deste ácaro, sugere-se que esta seja realiza-

6
da de modo a obter o máximo de representatividade do talhão.
Para garantir a confiabilidade da amostragem, ela deverá ser rea-
lizada em intervalos de 7 a 10 dias, utilizando-se de lupa de bolso
de 10 vezes de aumento para a visualização dos ácaros presentes.
As áreas de cultivo devem estar separadas em talhões, de no má-
ximo, 5 hectares para a realização da amostragem. Em caminha-
mento em zigue-zague, recomenda-se amostrar 100 folhas (400
folíolos) do terço inferior das plantas por talhão, anotando-se
presença e ausência do ácaro em toda folha (Figura 8). O nível de
controle sugerido é de 10% de folhas com presença do ácaro em
qualquer fase de desenvolvimento, com exceção dos ovos.

Figura 7. Tigueras de amendoim em área com plantio de cana-de-açúcar.


(Foto: gentileza Prof. Dr. Odair Aparecido Fernandes – FCAV/UNESP).

Figura 8. Local de retirada da folha de amendoim para amostragem do ácaro-


-vermelho-do-amendoim Tetranychus ogmophallos (terço inferior).

7
3 Ácaro-verde: Mononychellus planki (McGregor)
(Acari: Tetranychidae)
É um ácaro facilmente encontrado nas lavouras de amendoim
do Brasil, especialmente no Estado de São Paulo. É também conhe-
cido como o ácaro-verde-da-soja (Figura 9). Infesta outras plantas
cultivadas além de amendoim e soja, tais como algodoeiro e fei-
joeiro. Diferentemente do ácaro-vermelho, não tece teias, e sua
população geralmente é bem distribuída nas áreas de amendoim
(distribuição aleatória), portanto não ocorre em reboleiras. Sua
mobilidade é baixa, comparada a outros tetraniquídeos e prefe-
re alimentar-se na superfície abaxial das folhas, principalmente
junto à nervura central. As condições climáticas mais favoráveis
para a ocorrência do ácaro-verde são temperaturas amenas (em
torno de 25º C) e umidade relativa mais elevada, entre 60 e 80%.
O ciclo biológico do ácaro-verde é idêntico ao ciclo do ácaro-ver-
melho, porém com duração média de 13-16 dias (Figura 9).
Este ácaro infesta toda a parte aérea da planta, todavia é veri-
ficada maior quantidade de ácaros no terço superior. A alimenta-
ção do ácaro reduz o tamanho dos folíolos e diminui a capacidade
fotossintética das plantas. Na safra de 2012/2013 e 2013/2014, fo-
ram observadas altas populações deste ácaro em áreas de amen-
doim, na região de Jaboticabal-SP (Figura 10). Em algumas áreas,
foram estimadas perdas de até 10% causadas por este ácaro.
Os sintomas causados às folhas pelo ácaro-verde são bastan-
te característicos. Nestas, surgem inicialmente pontuações es-
branquiçadas, popularmente conhecidas como mosqueamento
ou salpicado das folhas (Figura 11).

8
Ovo

Adulto

Ciclo total:
Larva
13-16 dias
(25º C)

Protoninfa

Deutoninfa

Figura 9. Ciclo biológico do ácaro-verde Mononychellus planki.

9
Figura 10. Área de amendoim altamente infestada pelo ácaro-verde
Mononychellus planki na região de Jaboticabal-SP. (Foto: gentileza do Prof. Dr.
Odair Aparecido Fernandes – FCAV/UNESP).

Figura 11. Sintomas típicos (iniciais) causados pelo ácaro-verde Mononychellus


planki em folíolos de amendoim, conhecido como mosqueamento ou salpicado.

Quando há infestações dos ácaros vermelho e verde no cam-


po ao mesmo tempo, observa-se que o ácaro-verde passa a ser

10
deslocado pelo ácaro-vermelho, por ser menos competitivo e
por não formar colônias. Os prejuízos causados pelo ácaro-ver-
de geralmente são desconsiderados ou subestimados pelos pro-
dutores, pois o nível populacional deste ácaro geralmente é bai-
xo no campo e bem inferior ao do ácaro-vermelho. Além disso,
a ausência de teias induz a uma avaliação equivocada dos danos
e dos prejuízos, porém o ácaro-verde pode afetar grande núme-
ro de plantas em uma área, e os prejuízos são “mascarados”. De
maneira geral, o ácaro-verde pode afetar negativamente o de-
senvolvimento das plantas, acarretando diminuição do número
e do tamanho das vagens produzidas.
A amostragem do ácaro-verde em amendoim pode ser rea-
lizada da mesma forma como sugerido para o ácaro-vermelho.
Entretanto, as folhas amostradas devem ser retiradas do terço
superior da planta, sendo o nível de controle sugerido de 40%
de folhas com a presença do ácaro em qualquer fase de desen-
volvimento, exceto ovos (Figura 12).

Figura 12. Local de retirada da folha de amendoim para amostragem do ácaro-


-verde Mononychellus planki (terço superior).

11
4 Ácaro-rajado: Tetranychus urticae Koch (Acari:
Tetranychidae)

Além do amendoim, o ácaro-rajado infesta mais de 1.100


espécies de plantas cultivadas. É o ácaro mais prejudicial à
agricultu-ra em diversas regiões do mundo. É encontrado em
amendoim, principalmente nos períodos de temperatura
elevada e baixa umidade relativa. Tece quantidade
moderada de teias compa-rado ao ácaro-vermelho. No campo,
o ácaro-rajado é facilmente reconhecido pelas duas manchas
escuras no dorso e coloração amarelo-dourada (Figura 13).

Figura 13. Fêmea adulta do ácaro-rajado


Tetranychus urticae.

Em diversas plantas, o ácaro-rajado possui alta preferência


para se alimentar da superfície abaxial das folhas. Entretanto,
em amendoim, isso não é verificado, pois o ácaro alimenta-se
em ambas as superfícies foliares, parecendo não ter preferên-
cia por alguma das superfícies. Pode infestar toda a parte aé-
rea, todavia, em amendoim, observa-se maior prevalência pelas
folhas maduras, localizadas mais internamente nas plantas. Os
sintomas são característicos e iniciam-se com pontuações cloró-
ticas (amareladas) que evoluem para um mosaico, que são áreas
verdes intercaladas com áreas cloróticas (Figura 14).

12
(A) (B)

Figura 14. (A) Folíolo de amendoim com pontuações amareladas decorrentes


da alimentação do ácaro-rajado Tetranychus urticae e (B) Folíolos mais
infestados pelo ácaro-rajado aparecem sintomas denominados de mosaico.

O potencial deste ácaro como praga em amendoim é elevado,


tendo em vista sua vasta distribuição e incidência em diversas
culturas. Na região de Jaboticabal-SP, a ocorrência de T. urticae
em amendoim parece ser esporádica, e as maiores populações
geralmente são encontradas no final do ciclo da cultura. Toda-
via, ainda são necessários estudos sobre a dinâmica populacio-
nal e o impacto econômico desta praga na cultura.
A amostragem do ácaro-rajado em amendoim deve ser efe-
tuada de forma semelhante ao sugerido para o ácaro-vermelho.

5 Microácaro-do-amendoim: Aceria pintoi Fer-


reira & Flechtmann (Acari: Eriophyidae)
Este ácaro foi descrito em 1997 sobre plantas de amendoim-
-forrageiro (Arachis pintoi Krapov. & W. C. Greg). Diferentemente
dos ácaros tetraniquídeos, A. pintoi pertence à família que agrupa
ácaros conhecidos popularmente como microácaros (Eriophyi-
dae), devido ao tamanho diminuto comparado a ácaros de outras
famílias e por possuir apenas dois pares de pernas em todo o ci-
clo biológico. Portanto, A. pintoi não pode ser observado a olho
nu. Para ser encontrado sobre as plantas, é necessário um exame
minucioso dos folíolos, hastes, gemas e botões florais utilizando
lupa de bolso no campo ou, de preferência, microscópio estereos-
cópico em laboratório. Este ácaro foi encontrado em lavouras de

13
amendoim na região de Jaboticabal-SP (MELVILLE, 2015). Infor-
mações sobre dinâmica populacional e impacto econômico desta
espécie são totalmente desconhecidas pelos pesquisadores.

6 Manejo dos ácaros em amendoim


6.1 Controle cultural

6.1.1 Preparo do Solo

O manejo de ácaros em amendoim inicia-se com o preparo do


solo, corrigindo-se a acidez e a fertilidade sempre que necessário.
Deve-se preparar o solo de forma adequada, para um bom desen-
volvimento da cultura, evitando terrenos compactados e com
“pé-de-grade”, comum em áreas cultivadas com cana-de-açúcar.
Plantas mal desenvolvidas ou desbalanceadas nutricionalmente
são mais atraentes às pragas, inclusive aos ácaros. Além disso, po-
dem aumentar a suscetibilidade das plantas a estresse hídrico e
consequentemente favorecer a ocorrência dos ácaros.
Com relação ao plantio direto, trabalhos realizados nos Esta-
dos Unidos mostram que este sistema não possui efeito sobre a
ocorrência de ácaros.

6.1.2 Controle de plantas daninhas

Manter a cultura no limpo, evitando plantas daninhas e ti-


gueras que podem servir como refúgio e abrigo para os ácaros,
é bastante importante. Atenção especial deve ser dada às áreas
vizinhas quanto à presença de tigueras de amendoim e de plan-
tas daninhas hospedeiras de ácaros. Em áreas próximas, cultiva-
das com cana-de-açúcar de primeiro corte e que teve plantio de
amendoim na safra anterior ou mesmo outras culturas, é muito
comum a presença de tigueras de amendoim. Estas plantas são
responsáveis pelas infestações iniciais de ácaros nos campos de
amendoim.

14
6.1.3 Época de plantio

A escolha da época de plantio, quando possível pelo produtor,


pode auxiliar no manejo de ácaros, especialmente do vermelho,
que causa atualmente os maiores prejuízos. De maneira geral,
o amendoim plantado no início das chuvas, no Estado de São
Paulo (setembro e outubro), tem menos chances de sofrer com
altas infestações do ácaro-vermelho, devido à maior frequência
de chuvas ao longo do desenvolvimento da cultura. Pois, como
mencionado, o ácaro-vermelho ocorre em populações mais ele-
vadas nos períodos mais secos e com baixa umidade relativa. Ao
contrário, o amendoim plantado mais tardiamente (novembro e
dezembro) tem maiores chances de sofrer com altas infestações
do ácaro-vermelho em razão dos menores índices pluviométri-
cos a partir de fevereiro.
Entretanto, ressalta-se que pode haver mudanças nessas
condições de um ano para outro e alterar totalmente a dinâmi-
ca populacional dos ácaros no campo. O fato é que a ocorrência
de veranicos durante o desenvolvimento da cultura favorece,
em muito, o aumento populacional dos ácaros.

6.1.4 Manejo de pragas e doenças

O manejo fitossanitário realizado para outras pragas e doen-


ças, na cultura do amendoim, pode favorecer o aumento e os
surtos populacionais dos ácaros. No amendoim, é frequente o
uso de inseticidas de amplo espectro de ação, como os piretroi-
des, para o controle de lagartas e de tripes, os quais geralmente
são prejudiciais aos predadores de ácaros. Além disso, na cultu-
ra do amendoim, são utilizados diversos fungicidas para contro-
le de doenças, o que acaba prejudicando diretamente os fungos
benéficos que controlam naturalmente os ácaros-praga.
O aumento das populações de ácaros pode ainda estar re-
lacionado ao efeito de doses subletais de inseticidas aos ácaros
fitófagos, o que estimula o desenvolvimento populacional des-
tes, principalmente tetraniquídeos, devido à ação direta do in-

15
seticida sobre os ácaros, causando o fenômeno conhecido como
hormoligose. Por definição, hormoligose significa efeito estimu-
lante de uma pequena dose de determinada substância que, em
doses maiores, são tóxicas para o ácaro.

6.1.5 Colheita adequada

Estima-se que cerca de 8 a 10% do total produzido são perdi-


dos durante os processos de arranquio do amendoim (LAMB et
al., 2004). Dependendo das condições de maturação do amen-
doim, essas perdas podem ser ainda maiores, da ordem de 40
a 50% (ROWLAND et al., 2006). Nessas áreas, as vagens reti-
das e perdidas durante o processo de arranquio e colheita do
amendoim dão origem às tigueras, no qual servem de substrato
aos ácaros fitófagos, fornecendo abrigo, alimento e favorecendo
sua permanência na área. Desse modo, a colheita do amendoim
deve ser realizada de modo a evitar o máximo de perdas para
contribuir para o manejo mais adequado dos ácaros.

6.2 Monitoramento dos ácaros


Embora as aplicações de produtos fitossanitários em amen-
doim sejam tradicionalmente realizadas por calendário, a
amostragem é fundamental para garantir o controle adequado
dos ácaros, evitando o uso desnecessário de produtos fitossani-
tários. Com a realização da amostragem de forma rotineira, é
possível identificar as infestações iniciais dos ácaros, nos quais
os métodos de controle utilizados neste momento são mais
eficientes. É bastante comum, nas áreas de amendoim, que os
produtores e técnicos detectem a presença de ácaros somente
quando as populações já estão muito elevadas e causando da-
nos severos às plantas. Neste momento, os prejuízos muitas ve-
zes são irreversíveis, e os métodos de controle empregados são
pouco eficazes. No caso do controle químico, os acaricidas geral-
mente necessitam ser reaplicados duas ou até três vezes para o
controle das populações.

16
6.3 Controle biológico
Dentre os inimigos naturais dos ácaros fitófagos, os ácaros
predadores da família Phytoseiidae são um dos mais importan-
tes. O ácaro Neoseiulus anonymus (McGregor) (Acari: Phytoseii-
dade) é o único predador, até o momento, encontrado associado
à cultura do amendoim (MELVILLE et al., 2014) (Figura 15).
Neoseiulus anonymus apresenta grande capacidade de bus-
ca pelos ácaros fitófagos, possui alta mobilidade e habilidade no
caminhamento sobre teias e alta capacidade de predação, além
de elevada taxa de crescimento populacional quando alimenta-
do com o ácaro-vemelho T. ogmophallos (Figura 15). Trabalhos
realizados na FCAV/UNESP têm demostrado a presença desse
ácaro em áreas sem aplicação de produtos fitossanitários.

Figura 15. (A) Ácaro predador Neoseiulus anonymus predando o ácaro-


-vermelho-do-amendoim, (B) Caminhamento do ácaro predador sobre as
teias do ácaro-vermelho-do-amendoim e predação, e (C) Ácaro-vermelho-do-
-amendoim morto pelo ácaro predador.

17
6.4 Controle químico
Um dos principais entraves no controle de ácaros em amen-
doim no Brasil é a falta de acaricidas registrados no Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). No entanto,
a homologação recente do amendoim como integrante do grupo
de culturas denominadas pelo MAPA como “Minor Crops” (pe-
quenas culturas) pode amenizar o problema da falta de acaricidas
e dos demais produtos. Com a entrada do amendoim no grupo
dos “Minor Crops”, o registro de produtos fitossanitários pelas em-
presas é facilitado e poderá ser obtido mais rapidamente.
Pesquisas realizadas na FCAV/UNESP, com autorização do
MAPA, por meio do Registro Especial Temporário (RET), de-
monstraram eficácia do fenpyroximate (Orthus® 50 SC) em
condições de laboratório e de campo sobre os ácaros verme-
lho e verde em amendoim (SANTOS, 2015). Nos experimentos
de laboratório, constatou-se que o fenpyroximate, nas doses
acima de 50 mL p.c/100L, foram eficientes a partir do terceiro
dia após a aplicação sobre o ácaro-vermelho, com percentuais
de controle de 100% (Figura 16 A). Para o ácaro-verde, doses
de fenpyroximate acima de 50 mL p.c/100L foram eficientes a
partir do quinto dia após a aplicação em laboratório (Figura 16
B). Em relação aos experimentos de campo, os resultados para
fenpyroximate também foram promissores. Constatou-se que o
fenpyroximate, em dosagens acima de 0,5 L p.c/ha, foi eficiente
no controle dos ácaros vermelho e verde (Figura 17).

18
Figura 16. (A) Eficiência de doses de fenpyroximate e de abamectina sobre
adultos do ácaro-vermelho Tetranychus ogmophallos a 1; 3; 5; 10 e 15 dias após
as aplicações em laboratório. (B) Eficiência de doses de fenpyroximate e de
abamectina sobre adultos de Mononychelus planki a 1; 3; 5; 10 e 15 dias após as
aplicações (SANTOS, 2015).

19
Figura 17. (A) Eficiência de doses de fenpyroximate e de abamectina sobre o
ácaro-vermelho Tetranychus ogmophallos a 7; 14 e 21 dias após as aplicações
em campo. (B) Eficiência de doses de fenpyroximate e de abamectina sobre
o ácaro-verde Mononychelus planki a 7; 14 e 21 dias após as aplicações em
campo (SANTOS, 2015).

20
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