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Marina Souza
Nathan G. Pires
Nathan Marzulo
1. Identificação
A proposta é criar uma residência para professores ou convidados que possuem algum
vínculo temporário com a universidade. O programa é simples e se desenvolve a partir do
conceito de uma casa de apenas um quarto, uma sala, cozinha e banheiro, acessível a
partir de um caminho de pedras próximo a Igreja. O terreno conta com árvores centenárias
e uma vista privilegiada para a Baía de Guanabara.
2. Introdução
A atual indústria permite que o arquiteto projete suas próprias peças, seus próprios objetos
arquitetônicos, prodrutos industrializados, mas não necessariamente reprodutivos em série.
A partir dessa ideia a nossa proposta é investigar a poética do projeto Refúgio utilizando
como embasamento trechos do pensamento de Richard Sennet em “O Artífice”, Kenneth
Frampton em “Rappel à l’ordre: argumentos em favor da tectônica” e Carlos Argan em
“Projeto e destino”.
A partir dessa colocação, entra em questão diversas atitudes projetuais que necessitam ser
pensadas. Quando concebemos o projeto do Refúgio, e optamos pelo uso de elementos
pré-fabricados, já sabíamos que essa opção era a mais viável para as circunstâncias locais.
O terreno em declive, somado a falta de espaço para um canteiro de obras, nos levaram a
escolha de trabalhar com o máximo auxílio da indústria. Cada item faz parte de um sistema
de montagem onde todas as peças se conectam. A clarabóia representa exatamente este
processo, seu detalhamento é pensado como parte do encaixe com a laje pré-moldada, que
por sua vez, também possui as medidas e desenhos próprios.
Apesar do refúgio ser um objeto arquitetônico pré-fabricado, ele não é pensado para ser
reproduzido em série. Suas “peças” são únicas, pensadas e projetadas para o contexto
particular onde se insere. Ao projetar o edifício, não pensamos em transformá-lo em um
produto de venda, mas sim em uma edificação única, que mostra a verdade de seus
materiais e se desenvolve a partir das características particulares do lugar.
Nesse sentido, Frampton afirma que a arquitetura deve expressar-se na forma estrutural e
construtiva, sendo essa a base de resistência contra a degeneração cultural - conceito
desenvolvido por Clement Greenberg no ensaio A Pintura Moderna onde tenta reformular as
bases da pintura para evitar assimilação das artes ao entreterimento puro - onde se tem a
unidade estrutural como essência irredutível da forma arquitetonica. Também apresenta
três formas de classificação do objeto arquitetônico: Técnológico, cenográfico e tectônico
que por sua vez pode ser ontológico ou representacional.
Objeto tecnológico, não aborda o caráter criativo da construção e é produzido em
resposta a uma necessidade instrumental;
Objeto cenográfico, é representativo e faz alusão a um elemento ausente ou
escondido tendo como exemplo claro o galpão decorado;
Objeto tectônico ontológico trata da modelação de um elemento construtivo a fim de
enfatizar seu papel estático e cultural;
Objeto tectônico representacional consiste na representação do elemento
construtivo que está presente, mas escondido.
O autor diz que pelo foco do exercício da arquitetura atualmente (anos 80), esses valores
transculturais são postos em segundo plano. Tais valores servem para evocar o “ser” de
objetos inanimados, perceber o edifício como um ente físico, em analogia com o nosso
corpo.
A partir de idéias apresentadas por Gottfried Semper, Frampton divide a forma construída
em dois procedimentos materiais separados: Tectônica da estrutura e estereotômica da
massa comprimida.
-estereotômica
Entendemos assim que o objeto arquitetônico, construído com elementos construtivos que
enfatizam sua verdade e existência, é repleto de significados e sentidos para o homem. O
bloco de concreto pousado na vegetação nativa da Ilha de Bom Jesus se torna um objeto
imponente, simbólico para o contexto, concebido para ser um objeto escultórico.
Richard Sennet cita em seu texto “O Artífice”: “A atribuição de qualidades da ética humana –
honestidade, modéstia, virtude – a materiais não tem por objetivo explicar; ele consiste em
aumentar nossa consciência dos próprios materiais e assim levar-nos a pensar sobre seu
valor.”
As referências usadas tomam como base o emprego do concreto armado, tanto dos objetos
pré-moldados, quanto os moldados in loco. A verdade dos materiais e a utilização de
instrumentos industriais na etapa construtiva também caracteriza e relaciona as referências
de acordo com o projeto do Refúgio.
5. Referências Bibliográficas
FRAMPTON, Kenneth. "Rappel à l'ordre. The case for the tectonic" foi publicado originalmente em
Architectural Design 60, n. 3-4, 1990, pp. 19-25.
SENNET, Richard. O Artífice. Cap. 4: “Consciência material”. Rio de Janeiro: Editora Record, 2009.
SEMPER, Gottfried. The Four Elements of Architecture: and other writings.Cambridge University
Press.Estados Unidos, 1989.
Imagens da Casa no Butantã. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-181073/classicos-
da-arquitetura-casa-no-butanta-paulo-mendes-da-rocha-e-joao-de-gennaro>
Imagens da Casa em Carapicuiba. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-em-
carapicuiba-2>.