Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E TEORIA

FAH 361 - Teoria de Arquitetura 2 - 2015.1


Profª: Maria Cristina Cabral
Turma: A

Marina Souza
Nathan G. Pires
Nathan Marzulo
1. Identificação

Título do Projeto: Refúgio


Localização: Ilha do Fundão, Rio de Janeiro
Autor: Nathan G. Pires.
Profª: Beatriz Santos

Projeto do Refúgio, concebido no ano de 2011 para a disciplina Concepção da Forma


Arquitetônica II. É localizado na Ilha do Fundão, ao lado da Igreja do Bom Jesus, em um
terreno inclinado, com mata de característica densa e altura elevada.

A proposta é criar uma residência para professores ou convidados que possuem algum
vínculo temporário com a universidade. O programa é simples e se desenvolve a partir do
conceito de uma casa de apenas um quarto, uma sala, cozinha e banheiro, acessível a
partir de um caminho de pedras próximo a Igreja. O terreno conta com árvores centenárias
e uma vista privilegiada para a Baía de Guanabara.
2. Introdução

O processo construtivo, mais precisamente o de caráter industrial, tende a criar forças ao


arquiteto na hora de planejar um edifício com etapa de construção acelerada e racional. O
uso de elementos pré-fabricados, desenhados e elaborados pelo próprio autor do projeto,
que também é parte fundamental do processo construtivo, é produzido fora do canteiro de
obras.

A atual indústria permite que o arquiteto projete suas próprias peças, seus próprios objetos
arquitetônicos, prodrutos industrializados, mas não necessariamente reprodutivos em série.
A partir dessa ideia a nossa proposta é investigar a poética do projeto Refúgio utilizando
como embasamento trechos do pensamento de Richard Sennet em “O Artífice”, Kenneth
Frampton em “Rappel à l’ordre: argumentos em favor da tectônica” e Carlos Argan em
“Projeto e destino”.

PLANTA BAIXA E CORTE


3. Desenvolvimento

No texto “Módulo-medida e módulo-objeto” de Carlos Argan é observado como tema central


o debate sobre a industrialização na atual conjuntura da arquitetura. O ponto de vista crítico
do autor nos leva a entender e questionar diversos aspectos sobre o produto da indústria de
objetos arquitetônicos. Em certos momentos ele cita alguns pontos de reflexão acerca dos
elementos pré-fabricados, mostrando os aspectos positivos e negativos da industrialização
em série concebida pelo arquiteto autor do projeto:

“(...)deixamos de lado o fato, todavia incontestável, de que aquele elemento - industrial -


não será apenas o produto da invenção do arquiteto, mas da sua colaboração com os
dirigentes técnicos e as competências da indústria.”

A partir dessa colocação, entra em questão diversas atitudes projetuais que necessitam ser
pensadas. Quando concebemos o projeto do Refúgio, e optamos pelo uso de elementos
pré-fabricados, já sabíamos que essa opção era a mais viável para as circunstâncias locais.
O terreno em declive, somado a falta de espaço para um canteiro de obras, nos levaram a
escolha de trabalhar com o máximo auxílio da indústria. Cada item faz parte de um sistema
de montagem onde todas as peças se conectam. A clarabóia representa exatamente este
processo, seu detalhamento é pensado como parte do encaixe com a laje pré-moldada, que
por sua vez, também possui as medidas e desenhos próprios.

Apesar do refúgio ser um objeto arquitetônico pré-fabricado, ele não é pensado para ser
reproduzido em série. Suas “peças” são únicas, pensadas e projetadas para o contexto
particular onde se insere. Ao projetar o edifício, não pensamos em transformá-lo em um
produto de venda, mas sim em uma edificação única, que mostra a verdade de seus
materiais e se desenvolve a partir das características particulares do lugar.

No texto Rappel à l’ordre: argumentos em favor da tectônica de Kenneth Frampton, o autor


justifica o tema central do ensaio a partir da critica a tendencia da arquitetura reduzida à
cenografia que é explicado por Robert Venturi em seu livro Aprendendo com Las Vegas
onde afirma que “quando os sistemas de espaço, estrutura e programa são distorcidos por
uma forma simbólica global, chamamos essa classe de edifício que se converte em
escultura de pato (...) quando os sistemas de espaço e estrutura estão diretamente a
serviço do programa, e o ornamento se aplica sobre estes com independência, chamamos a
este tipo de galpão decorado” podemos tomar como exemplo o drive-in “The Long Island
Duckling”, pato que é citado na passagem.

Nesse sentido, Frampton afirma que a arquitetura deve expressar-se na forma estrutural e
construtiva, sendo essa a base de resistência contra a degeneração cultural - conceito
desenvolvido por Clement Greenberg no ensaio A Pintura Moderna onde tenta reformular as
bases da pintura para evitar assimilação das artes ao entreterimento puro - onde se tem a
unidade estrutural como essência irredutível da forma arquitetonica. Também apresenta
três formas de classificação do objeto arquitetônico: Técnológico, cenográfico e tectônico
que por sua vez pode ser ontológico ou representacional.
Objeto tecnológico, não aborda o caráter criativo da construção e é produzido em
resposta a uma necessidade instrumental;
Objeto cenográfico, é representativo e faz alusão a um elemento ausente ou
escondido tendo como exemplo claro o galpão decorado;
Objeto tectônico ontológico trata da modelação de um elemento construtivo a fim de
enfatizar seu papel estático e cultural;
Objeto tectônico representacional consiste na representação do elemento
construtivo que está presente, mas escondido.

O autor diz que pelo foco do exercício da arquitetura atualmente (anos 80), esses valores
transculturais são postos em segundo plano. Tais valores servem para evocar o “ser” de
objetos inanimados, perceber o edifício como um ente físico, em analogia com o nosso
corpo.
A partir de idéias apresentadas por Gottfried Semper, Frampton divide a forma construída
em dois procedimentos materiais separados: Tectônica da estrutura e estereotômica da
massa comprimida.

Tectônica da estrutura trata de elementos de comprimentos variados que são


combinados para abarcar com o campo espacial tendendo para o aéreo,
desmaterialização da massa, à imaterialidade da armação e à luz;
Estereotômica da massa comprimida é construída pelo empilhamento de unidades
idênticas tendendo a materialidade da massa, para o telúrico - escavando cada vez
mais fundo na terra - e à escuridão.

-estereotômica

“.., e a estereotômica da massa comprimida que, embora possa incluir o espaço, é


construída pelo empilhamento de unidades idênticas. (…) um dos materiais mais comuns é
o tijolo ou os equivalentes do tijolo aptos à compressão, como a rocha, a pedra ou a terra
batida e, mais tarde, o concreto armado.”

Entendemos assim que o objeto arquitetônico, construído com elementos construtivos que
enfatizam sua verdade e existência, é repleto de significados e sentidos para o homem. O
bloco de concreto pousado na vegetação nativa da Ilha de Bom Jesus se torna um objeto
imponente, simbólico para o contexto, concebido para ser um objeto escultórico.

Richard Sennet cita em seu texto “O Artífice”: “A atribuição de qualidades da ética humana –
honestidade, modéstia, virtude – a materiais não tem por objetivo explicar; ele consiste em
aumentar nossa consciência dos próprios materiais e assim levar-nos a pensar sobre seu
valor.”

O levante da construção do objeto como um bloco de concreto talhado para adequar as


funções mostra esse desinteresse na facilitação do entendimento para o público, a ponto de
criar assimilações de caráter antropomorfológico, de grandes valores ou até de caráter
informal. Como parte de um processo consolidado de construção (concreto armado e pré-
moldado), acredita-se que o projetista teve o desenho limitado e/ou facilitado, mas isso não
funciona desta maneira, pelo contrário, com a dominância dos processos construtivos, o
arquiteto tem o desenho mais livre. A ponto de explorar e se arriscar mais, podendo pensar
o projeto como um todo de uma só vez.

A maquete funciona, no mundo do artífice, como uma provocação: o negativo de que


precisamos para imprimir um positivo “real”. A maquete ou o pré-moldado nos leva a pensar
melhor sobre a natureza. “A natureza e a virtude que temos em mente dizem respeito a nós
mesmos.”
4. Referências projetuais

Casa Butantã - Paulo Mendes da Rocha

Casa em Carapicuíba - Angelo Bucci

As referências usadas tomam como base o emprego do concreto armado, tanto dos objetos
pré-moldados, quanto os moldados in loco. A verdade dos materiais e a utilização de
instrumentos industriais na etapa construtiva também caracteriza e relaciona as referências
de acordo com o projeto do Refúgio.
5. Referências Bibliográficas

FRAMPTON, Kenneth. "Rappel à l'ordre. The case for the tectonic" foi publicado originalmente em
Architectural Design 60, n. 3-4, 1990, pp. 19-25.
SENNET, Richard. O Artífice. Cap. 4: “Consciência material”. Rio de Janeiro: Editora Record, 2009.
SEMPER, Gottfried. The Four Elements of Architecture: and other writings.Cambridge University
Press.Estados Unidos, 1989.
Imagens da Casa no Butantã. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-181073/classicos-
da-arquitetura-casa-no-butanta-paulo-mendes-da-rocha-e-joao-de-gennaro>
Imagens da Casa em Carapicuiba. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-em-
carapicuiba-2>.

Você também pode gostar