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III Simposio Internacional

Infancia, Educación, Derechos de niños, niñas y adolescentes: Las


prácticas profesionales en los límites de la experiencia y del saber
disciplinar

Celebrado en la ciudad de Mar del Plata, Argentina

Los días 11, 12 y 13 de agosto de 2011

ISBN 978-987-544-392-1

………..

 Organizado por:
Universidad Nacional de Mar del Plata - Facultad de Psicología - Sec. de Extensión y Sub. de
Postgrado | Especialización en Infancia e Institución(es).

FLACSO - Argentina - Area Educación - Diplomatura en "Psicoanálisis y Prácticas Socio -


Educativas".

Universidad Nacional de Mar del Plata | FLACSO-Argentina | Centro de Estudios Sup. Universitarios, Univ. Mayor de San Simón, Cochabamba,
Bolivia (CESU-UMSS) | Laboratorio de Estudios e Investigaciones Psicoanalíticas y Educacionales sobre Infancia LEPSI IP/FE-USP | Red de Estudios
en Familia de la Universidad de Murcia, España. REFMUR | Programa de Postgrado en Educación de la Universidad Federal Minas Gerais, Brasil |
Secretaría de Políticas Universitarias de la Nación | Universidad Católica de Santiago del Estero | Universidad Kennedy | CURZA-Viedma,
Universidad Nacional del Comahue

www.psicoinfancia.com.ar

www.mdp.edu.ar/psicologia

educacion.flacso.org.ar
GRUPO DE SALA DE ESPERA: TRABAJO EN UN FÓRUN CON LAS FAMILIAS DE
ADOLESCENTES AUTORES DE ACTO INFRACIONAL

Costantini, Maria1

No ano de 2008, professores de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie procuraram o


Setor de Psicologia do Fórum das Varas Especiais da Infância e Juventude da Capital (Tribunal de Justiça de
São Paulo) solicitando campo de estágio para os alunos do quinto ano. A parceria com a universidade já
havia se mostrado frutífera em experiência anterior, motivo pelo qual propusemos que nos ajudassem a
pensar uma intervenção que atendesse as famílias dos adolescentes acusados de cometimento de ato
infracional, as quais permaneciam considerável parte da tarde em uma sala do fórum, aguardando suas
audiências.

Ao longo dos anos, nos contatos realizados com as famílias, quer fosse no próprio atendimento
psicológico, ou ainda, durante as audiências, verificávamos que estas manifestavam grande angustia pela
situação que passavam e desorientação sobre o que iria acontecer. Não raro, as famílias relatavam que
passavam horas esperando no Fórum para serem atendidas, tanto na ante-sala do Ministério Público quanto
na ante-sala de audiências.

Durante três meses, um grupo de estagiários de psicologia, sob supervisão de professores da


Universidade Presbiteriana Mackenzie e de psicólogas jurídicas do próprio Fórum, procederam em duplas à
observação da sala, de modo a efetuarem um diagnóstico institucional2. Este trabalho consistiu em verificar
o fluxo de pessoas no decorrer da tarde, além de indagá-las sobre: 1) os motivos por que ali estavam, 2) o
tempo de espera e, 3) quais eram suas dúvidas, medos, fantasias e impressões.

Verificou-se que o tempo médio de espera era de aproximadamente uma hora e meia, estendendo-se
muitas vezas até duas horas. Embora esse período não pudesse ser considerado exagerado, a sensação
relatada pelas pessoas era de um tempo superior ao real. Muitos, embora não soubessem declinar o tempo
transcorrido, afirmavam estar lá há muito. O número de presentes oscilava bastante, mas os horários de pico
eram entre 13:00 e 16:00 horas. Nesse momento era comum haver entre 15 e 25 pessoas aguardando
audiências. Quanto ao maior medo apontado, era recorrente a fala que expressava o receio pela internação
dos filhos; esse medo vinha acompanhado da angustia gerada pelo desconhecido, isto é, do que poderia
acontecer. Havia exceções em que a internação se afigurava para as mães como uma saída necessária para
afastar o filho das más companhias ou protegê-lo das drogas ou da morte.

1
Psicóloga do Tribunal de Justiça de São Paulo.
2
O Projeto Sala de Espera foi coordenado pela autora do texto e contou com a valiosa colaboração das psicólogas judiciárias
Altieri, C., Capela, S. e Lorieri, A., além da importante participação dos estagiários de psicologia: Apparecido, P., Ariente, L.,
Armesto, K., Betti, C., Castro, P., Freitas, D., Miranda, P., Mosca, T.,Naime, A.,Pires, A.,Silva, H., bem como dos
professores:Aldrighi,T., Mello, A.C. e Neumann, M.
Queixavam-se que não recebiam informações e, quando as recebiam, estas eram truncadas e/ou
escassas, ou ainda, dadas de uma maneira que não conseguiam compreender.

Além de estar aguardando o julgamento do filho, das fantasias relacionadas ao Juiz, ao Poder
Judiciário, ao fantasma da culpa por “ter um filho infrator”, estes familiares temiam questionar o tratamento
despendido, com receio de que se assim o fizessem acabassem por comprometer o julgamento do seu filho.

A leitura dos discursos permitiu-nos pensar que talvez o maior impedimento para queixar-se
decorresse da crença de que eles próprios (os familiares) estavam sendo punidos pelo que seus filhos haviam
feito, identificando-se dessa forma com o lugar de infratores. Isso por sua vez levava-nos a pensar que o
lugar que essas pessoas acabavam ocupando já indicava possíveis dificuldades para o exercício de suas
funções, acentuada impotência e condição de não cidadãos. Ou de outro modo, pessoas à margem do laço
social posto que excluídas daquilo que o discurso capitalista propõe.

Consideramos que o psicólogo atravessado pela psicanálise não pode compactuar com o sintoma seja
na clínica ou no social. A ética psicanalítica não permite que nos identifiquemos ao sujeito no papel que ele
escolheu para si: o de expectador inocente dos acontecimentos que modelam o seu destino.

Embora a delinqüência faça parte de nosso cotidiano devemos nos interrogar sobre esse modo de
relação social. Partimos da idéia de que o sujeito não se constitui sem a relação com o semelhante, relação
esta essencial para sua determinação. Não há subjetividade que se organize fora do laço social e nele, a
relação com o objeto determinará a inscrição ou a fratura que comandará a forma de gozo.

Na delinqüência o acesso ao gozo não é organizado pelo símbolo, senão pela apreensão, pelo rapto.

Lacan enuncia uma fórmula, da qual podemos nos servir e que se trata do seguinte: quando as
estruturas sociais são simbólicas, os atos se tornam reais, delimitados justamente pela estrutura simbólica.
Mas quando as estruturas se tornam reais, são as condutas que se manifestam de forma simbólica, por
exemplo, quando o poder das estruturas não vale para o sujeito senão pela sua presença real, encarnada -
policial, armada ou outra - as condutas se tornam simbólicas.

Ali será onde o psicólogo poderá intervir já que o simbolismo diz algo a ser decifrado. Quando
ocorre uma falha na ordem simbólica que impede o reconhecimento como sujeito, este tem sérias
dificuldades para sustentar-se na sua filiação. As razões podem ser de ordem social, quando, por exemplo, o
pai presente na família é demasiadamente desprovido de referência fálica para funcionar como aquele que
introduz o sujeito numa filiação, que não é outra que a cadeia simbólica. Também podem existir razões
culturais, o fato de pertencer por razões históricas ou geográficas a uma cultura diferente daquela do meio
social no qual se vive.

Precisamente estas, entre outras particularidades familiares, são as que nos autorizam a intervir junto
aos pais, na tentativa de elucidar as particularidades desse laço social.
Na literatura científica encontramos trabalhos desenvolvidos nas salas de espera de serviços de saúde
(Neder, 2010; Paixão, 2006; Rodrigues, 2009) e decidimos utilizar essa estratégia no fórum, tendo em vista a
fundamentação citada por vários autores adequar-se perfeitamente à demanda por nós encontrada no
ambiente do fórum.

Pensamos assim no aproveitamento desse tempo de espera e mais ainda, na tentativa de devolver a
essas pessoas sua condição de cidadãs. Escolhemos o trabalho em grupo: 1) como estratégia para
proporcionar um sentimento de coesão e segurança que antes não existia, 2) por ser menos invasivo e, 3) por
permitir àqueles que por ventura se recusassem a participar, terem a possibilidade de observar e se
beneficiar, mesmo que indiretamente.

O objetivo era auxiliar as pessoas a refletirem sobre sua vivência, constituindo-se o grupo de sala de
espera, num ponto de partida para essa análise. Não se pretendia promover uma elaboração sobre o que
estavam passando naquele instante, mas sim ajudar as pessoas a iniciarem uma reflexão sobre sua própria
história e as perspectivas futuras, mostrando que elas próprias poderiam se encaminhar para essa reflexão ou
buscar ajuda para tal.

A interatividade na sala de espera era um desafio, pois se tratava de um grupo flutuante e


heterogêneo quanto a sexo, idade e grau de instrução. Com base nessa realidade as atividades foram
planejadas de modo a serem desenvolvidas dentro do menor tempo possível capaz de garantir um resultado.

Considerando-se que todos os presentes tinham em comum o fato de acompanharem um familiar


adolescente que estava sendo acusado da prática de um ato infracional, já havia de alguma forma algo que os
identificava. Não se pretendia que falassem dos atos em si, da acusação que sofriam, posto que assim
poderiam se expor desnecessariamente, mas falar de sua vivencia e perceber que outras pessoas enfrentavam
as mesmas dificuldades. Era possível, mas não o esperado, que no decorrer do encontro, na medida em que
as pessoas se sentissem acolhidas, o grupo pudesse ter um efeito analítico.

No ano de 2009, ao longo de três meses, realizamos os grupos de sala de espera. Estes eram
oferecidos todas as terças, quartas e quintas-feiras entre 13:00 e 16:00 horas, em dois turnos e a participação
era voluntária.

Cada encontro era desenvolvido em três fases: a primeira fase visava o aquecimento e
estabelecimento de vínculo entre os participantes e os estagiários. Os estagiários se apresentavam e
expunham os motivos que nos haviam levado a criar o projeto de sala de espera. Dizia-se basicamente dos
sentimentos de angustia e desorientação referidos anteriormente pelas pessoas que por lá passavam.

Na segunda fase da atividade era apresentada a dinâmica a ser desenvolvida no dia. Em todas as
dinâmicas aplicava-se um jogo facilitador com duração aproximada de 15 minutos seguida de período
semelhante para manifestações e reflexões dos presentes. Especialmente nesse momento, cabia aos
coordenadores incentivar a discussão e direcionar as reflexões decorrentes da dinâmica proposta. Finalizava-
se com uma breve síntese dos comentários.

Exemplificaremos com um dos jogos facilitadores utilizados. Consiste em distribuir-se uma folha de
papel em branco para cada participante. O coordenador lê frases que retratam situações do cotidiano e após
cada frase a pessoa deve rasgar um pedaço da folha conforme se identifica com a afirmação apresentada.
Todas as frases trazem mensagens de dificuldades. Ao finalizar essa sequência o coordenador orienta que a
seguir deverão remontar um pedaço de folha por vez, à medida que se identificarem com as novas frases.
Nesse momento, as frases são marcadas por afirmativas de soluções. O objetivo desse jogo é reconhecer a
existência de dificuldades e apontar para a possibilidade de encontrar algumas soluções, até então não
pensadas.

Por último, na terceira fase, eram distribuídas filipetas de avaliação do trabalho proposto. Como
percebemos que a maioria das pessoas poderia enfrentar dificuldades com a escrita, as filipetas tinham caras
com diferentes expressões representando estados de ânimo. Havia também um espaço para comentários
escritos.

Realizaram-se 42 grupos que contaram com a participação total de 883 pessoas, resultando numa
média de 21 participantes por grupo. Conforme colocado, no início a participação não era obrigatória, do
que temos que o total de pessoas presentes na sala foi de 1073. Este número nos permite concluir que 82%
dos presentes participaram efetivamente, embora não descartemos a possibilidade daqueles que se recusaram
a participar terem indiretamente se beneficiado. As avaliações demonstraram alta satisfação, sendo que 50%
consideraram ótima a atividade, 41% boa, 7% regular e 2% ruim.

Um resultado adicional à atividade refere-se ao fato de que a atenção dispensada por nós para a sala
serviu também para que outros setores do Fórum passassem a perceber sua existência e propor outras formas
de intervenção. Um dia após iniciarmos os grupos foi colocada na sala uma garrafa térmica com café a
disposição dos usuários. Além disso, a Defensoria Pública passou a vislumbrar ali um espaço importante
para orientação das famílias de modo geral. Os escreventes que no início entravam para chamar as pessoas
para as audiências sem se preocupar com o desenrolar da atividade, começaram a esperar e programar as
chamadas de modo a não comprometer a sequencia da atividade. Outros funcionários ficavam parados,
olhando, sem saber como agir. Isso também nos levou a organizar um seminário interno para contarmos aos
funcionários o quê e por que estávamos fazendo uma atividade fora dos moldes tradicionais de avaliação
psicológica. Concluímos que humanizar a instituição passa por respeitar não só a população, mas também os
funcionários.

As atividades apresentadas tinham um caráter fundamentalmente lúdico, poderíamos até dizer que
eram despretensiosas, mas nos surpreenderam quanto ao alcance que permitiam. Talvez a melhor forma que
temos para exemplificar seja através dos resultados das avaliações feitas pelas próprias pessoas, para tanto
citamos algumas manifestações:
“Continue. Estou tensa, mas este momento pensei eles se importam conosco. Continue assim.”

“Uma boa iniciativa. Esta sala realmente nos remete a muitos pensamentos, às vezes negativos.”

“Preciza ter mais atividade com os pais dos adolescentes pois não sabemos como tratar os
problemas com os filhos ... falta apoio com as famílias, é muito importante.”

Bibliografia
Melman, C. (1992). Alcoolismo, delinquencia e toxicomania. São Paulo: Escuta.

Nazar, M. (1999). Tempos modernos. O adolescente e a modernidade - Congresso Internacional de Psicanálise e suas
Conexões (pp. 32-42). Rio de Janeiro: Companhia de Freud.

Neder, C. R. (2010). Terapia comunitária em ambulatórios universitários. O Mundo da Saúde , 520-525.

Nicodemos, C. (2006). A Natureza do sistema de responsabilização do adolescente autor de ato infracional. In: A. S.
ILANUD, Justiça, adolescente e ato infracional: socioeducação e responsabilização (p. 592). São Paulo: ILANUD.

Paixão, N. D. (2006). Grupo sala de espera: trabalho multiprofissional em Unidade Básica de Saúde. Boletim de Saúde
, 71-78.

Rodrigues, A. D. (2009). Sala de espera: um ambiente para efetivar a educação em saúde. Vivencias , 101-106.

Teixeira, M. d. (1995). O espectador inocente. In: R. (. Goldenberg, Goza! Capitalismo, globalização e psicanálise (pp.
71-91). Salvador: Ágalma.

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