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Comentarios Biblicos e Estudos Pastorais
Comentarios Biblicos e Estudos Pastorais
INDICE
Esboço sintético 04
Esboço amplo 05
Comentários
07
Bibliografia 66
Apêndice 1 – Salvação 67
1
Amado Timóteo, Editora Fiel, cap 11, p. 161
3
possível determinar. É melhor supor que um grupo misto era a composição das
igrejas.
Os comentaristas dividem-se quanto à data em que a epístola foi escrita. A
divergência gira em torno de uma questão: Judas usou o material de 2ª Pedro, ou
Pedro usou a carta de Judas? Os dois usaram o apócrifo “Livro de Enoque” como
fonte referencial e aceito a opinião da maioria: Pedro usou o material de Judas.
A carta é pequena, mas de conteúdo contundente. Ao lado do material nas
cartas de Paulo, Pedro e João que denunciam a presença de falsos mestres, a carta
de Judas reveste-se de um impacto mais estrondoso. Suas denúncias são
fervorosas. Elas clarificam a paixão do autor pela verdade. É algo que
urgentemente precisamos na igreja brasileira.
2
Ver outros exemplos de esboços no apêndice 5
5
ESBOÇO AMPLO
II. O apelo aos fiéis para defenderem a fé consumada por causa da infiltração do
ensino herético dos falsos mestres enfatiza o julgamento de Deus reservado aos
ímpios. 14 a 16
III. O apelo aos fiéis para defenderem a fé consumada por causa da infiltração do
ensino herético dos falsos mestres contém uma chamada à resistência leal por
parte da igreja verdadeira. 17 a 19
IV. O apelo aos fiéis para defenderem a fé consumada por causa da infiltração do
ensino herético dos falsos mestres estimula a perseverança santa e a prática da
misericórdia nos relacionamentos. 20 a 23
6
COMENTÁRIOS:
Autor: Judas
Descarta-se a possibilidade de Judas ser um dos apóstolos por causa da indicação
no verso 17 – “dos apóstolos”. Há outras citações de pessoas com o mesmo nome.
O apóstolo é descrito em Lucas 6.16 e Atos 1.13 – como Judas, filho de Tiago. O
texto de Atos 15.22,32 menciona um Judas, chamado Barsabás. Não há
concordância entre os comentaristas se se trata da mesma pessoa. É mais provável
que não seja. Em 1ª Coríntios 9.5, há uma referência aos irmãos de Jesus que
trabalhavam no ministério “levando suas esposas”. Soma-se a isto a apresentação
do autor como “servo de Jesus” e “irmão de Tiago”.
Judas, o autor da epístola, era meio-irmão de Jesus Cristo. José e Maria tiveram,
pelo menos, 4 filhos – Mateus 13.55. Ele é mencionado em João 7.5 e depois em
Atos 1.14. Podemos notar a transformação que ocorreu na vida dele e de seu irmão
Tiago, autor da outra carta e líder da igreja em Jerusalém. Vários teólogos atribuem
à ressurreição de Cristo um peso decisivo na conversão dos irmãos.
Percebe-se a humildade de Judas no uso da expressão “servo de Jesus Cristo,
porém irmão de Tiago”. Não ostentou seu laço sanguíneo com o Salvador. O autor
usa o “porém” (traduzido por “e”) para destacar o irmão - líder mais importante e
conhecido com o objetivo de receber a atenção para suas verdades. Além da
humildade, notamos outras virtudes dele na carta: submissão – ao referir-se a
Jesus como Senhor (4,17, 21, 25); gratidão (24,25); devoção (1, 3, 20)...
JUSTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO
Posição legal Condição interna
De uma vez por todas Continua por toda a vida
Obra inteiramente de Deus Nós cooperamos
Perfeita nesta vida Não perfeita nesta vida
A mesma em todos os cristãos Maior em alguns do que em outros
Judas objetiva que seus leitores considerem sua posição de separados para Deus
quando mencionar os pecados dos falsos líderes. Os crentes precisam ter em mente
a verdade da santificação como instrumento de avaliação. Quem foi chamado e
separado (santificado) tem o alvo de conformar-se com Deus, que é Santo - 1ª
Pedro 1.16.
(3) Guardados em Cristo
Desfrutamos do cuidado presente e eterno de nosso Salvador. Ele nos
assegurou isto em João 10. 28. Quão vil seria o Salvador em dar o bem mais
10
precioso que um pecador necessita e por causa de algo retirar a dádiva. Talvez,
pior do que o pensamento anterior é o ensino correlato na doutrina da perda de
salvação de que o homem é quem pode manter ou sustentar sua salvação. Jesus é
Deus todo-poderoso e fiel. Sua Palavra não falha. Nosso salvador prometeu que das
mãos do Deus triúno nada e ninguém tem poder para tirar as Suas ovelhas. Ver
João 10.29. Mesmo que a Bíblia não apresentasse outros versos que comprovassem
a segurança eterna ou perseverança dos santos, o texto de João 10.29 seria
suficiente.
“Nosso Senhor não foi apenas ressurreto dentre os mortos e
glorificado no céu como o vencedor. Ele “vive para sempre” para o
propósito de “fazer intercessão por nós” (Hebreus 7:25 e Romanos
8:34). Vê a lógica de Paulo? É ridículo imaginar que Cristo, o Juiz,
morreu por nós e faz intercessão por nós de um lado de Sua boca
e então, nos condena do outro lado de Sua boca. É impossível que
Ele possa nos salvar e condenar ao mesmo tempo! Oh, que os
crentes compassivos possam sentir a plenitude desta verdade que
liberta a alma. Aquele que morreu pelos nossos pecados é a
mesma pessoa que está assentada à mão direita de Deus, e Ele
está orando especificamente por você. Isto é glorioso!”5 Ver 1ª
João 2.1”
“Em Romanos 8.26, Paulo nos lembra que o Espírito Santo
está em nós e não somente nos ajuda a orar, mas realmente faz
intercessão por nós quando não sabemos como orar. No verso 26,
o Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade está em nós
orando, e no verso 34, o Filho de Deus, a segunda pessoa da
Trindade, está à mão direita de Deus orando para que sejamos
guardados salvos e seguros para sempre! Temos a terceira Pessoa
da Trindade orando em nós, e a segunda Pessoa da Trindade no
céu orando por nós; temos feito isto a despeito do Diabo, provas e
mesmo nossos próprios corações pecaminosos!”6
8.28,30 – chamados;
8.30 – glorificou; (santificação é doutrina integrante da glorificação)
8.31– guardados;
8.33 – guardados;
8.34 – guardados (condenar);
8.35 a 39 – guardados;
8
DITNT, v. III, p.177
13
Cremos que um crente pode agir de maneira contrária com que foi tratado – não
ser misericordioso; não tratar outra pessoa com compaixão. Isto não o levará à
perda da salvação. Qual consequência terá? Orações não respondidas. Perdas de
galardões. No dia do tribunal de Cristo será tratado mais com ira do que com
misericórdia (1ª Co 3.15).
Paz – Resumo geral: Temos a paz de Deus por causa da nossa justificação (ver:
Rm 5.1). Temos paz porque fomos adotados na família de Deus e porque deixamos
de ser inimigos. Deus quebrou, em Cristo, as barreiras da separação, da inimizade
entre Ele e nós; e em Efésios entre os judeus e os gentios. A Paz de Deus tem
efeito sobre nossa vida emocional e relacional. (Ver: Rm 14.19; Hb 12.14)
(1) A paz que Deus planejou. Ef 2.17
A obra expiatória de Deus através da cruz de Cristo na qual Ele reconcilia o
mundo conSigo mesmo e reconcilia os inimigos uns com os outros. Esta, é claro, foi
a maior conquista da cruz onde, como Paulo diz em Efésios 2.17, Cristo fez a paz
através do Seu sangue na cruz. Mas, esta é a obra de Deus. Sua obra objetiva,
histórica e expiatória. É Plano de Deus.
(2) A paz que Deus dá: Reconciliação pessoal – 2ª Co 5.18
... que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo...
Por Jesus ter morrido por nossos pecados, quando depositamos nossa fé nEle
somos reconciliados com Deus e temos paz com Deus. A paz no coração e na
consciência. Este também é um presente muito precioso e penso que está
relacionado com o que Paulo quer dizer quando menciona paz no fruto do Espírito.
Paz com Deus. A paz, porém, que Deus dá não é apenas paz com Deus, mas
também a paz de Deus. Isto é: liberdade da ansiedade e do pânico no meio dos
estresses, ocupações e preocupações da vida. É algo que Paulo descreve muito bem
em Filipenses 4:6-7: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém,
sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica,
com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará
o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”.
(3) A paz de Deus dá: Reconciliação coletiva - Ef 2.13-15
No ano 1871, arqueólogos, escavando em torno do local do templo em
Jerusalém, descobriram uma pedra gravada com um aviso. Estas são as palavras
traduzidas tanto do hebraico como do grego:
16
Assim, temos que entender que aboliu não significa acabou, pois em outros
lugares Paulo valoriza a Lei: Rm 3.31; 13.8-11 e 7.22 que diz: tenho prazer na Lei
de Deus. O foco de Paulo é o caráter ameaçador da Lei que é um código que revela
a perfeição moral de Deus e seu padrão; evidencia o pecado e a sua maior
consequência – a morte. (baseado em Estevan Kirschener)
2ª - Quais os benefícios da Paz que Jesus dá?
(1) Paz com Deus – Lc 2.14
Paz é criação de Deus. O anúncio dos anjos é: de paz na terra em Lc 2.14 feito
como uma proclamação de luz com dois focos. Primeiro, ele proclamou que a paz
de Deus está disponível para homens e mulheres agora. Atente as palavras de
Lucas 2:14: "Glória a Deus nas alturas, e na terra a paz entre os homens com
quem Ele se agrada”.
Quem são aqueles com quem Ele está satisfeito? Eles são aqueles que têm suas
vidas debaixo da autoridade do princípe da Paz: "O Senhor se compraz nos que o
temem, naqueles que esperam pela sua misericórdia" (Salmo 147: 11, VKJA).
O anúncio do anjo de "paz na terra" declarou a chegada do Único que pode trazer
paz duradoura na terra. Que tipo de Paz trouxe?
(3) A paz de Jesus dá firmeza – Cl 3.15 (... paz o árbitro nos corações)
Ela cria condições para a serenidade diante dos conflitos (confiança, esperança,
sabedoria, equilíbrio).
Um cristão é sereno. Diante dos conflitos, tem a oportunidade de desenvolver a
sua confiança. Diante dos problemas, alimenta-se de esperança. Ao passar pelas
dificuldades, sua sabedoria se fortalece. Em meio às pressões, consegue o
equilíbrio. Em termos ideais, assim deveria ser. No entanto, nem sempre “saber” se
torna “viver”.
18
9
Em www.monergismo.net
19
Fosse Deus apenas uma pessoa, somente dessa forma tal amor poderia ser
exercido. Mas na Trindade da Divindade, é encontrado, no amor das pessoas
separadas umas para com as outras, outro modo no qual esse amor de
complacência pode ser exercido nesse mais alto sentido. Tal amor é também
sentido por Deus pelos seus propósitos. À medida que ele contempla-os como
sendo justos, sábios e graciosos, ele aprova e os considera com amor complacente.
Mas esse amor se estende também às criações, que resultam desse propósito.
Isso é verdade da criação inanimada. Ela é perfeita, conquanto conformada à sua
vontade, e ajustada para realizar o seu fim, e como tal Deus pode considerá-la e
pronunciá-la como sendo boa. Assim, descobrimos que ele fez isso na criação,
como registrado em Gênesis 1:10, 12. O mesmo registro é feito no versículo 25,
quanto à criação animal, antes daquela do homem; e após a criação, e investidura
do homem com o domínio sobre a terra, com suas plantas e animais, nos é dito, no
versículo 31: “E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”.
O amor complacente de Deus, portanto, se estende não só para si mesmo e sua
vontade, mas a toda a sua criação inocente, e mesmo à natureza inanimada. Esse
amor de complacência, contudo, como é exercido em seu mais alto grau para
consigo mesmo, assim também é exibido, na mais próxima semelhança deste, para
com aqueles seres que são mais parecidos com ele, tendo sido feitos à sua
natureza e semelhança. Um anjo inocente, ou um homem inocente é, portanto, por
natureza uma alegria para Deus, assim como é a criança para o pai que vê nela
uma semelhança peculiar consigo mesmo.
Mas o culpado não pode ser amado dessa forma. O homem pecador não pode
receber tal amor, enquanto for pecaminoso. Mesmo o penitente crente em Jesus,
até o tempo de sua perfeita santificação na vida porvir, e sem dúvida mesmo
então, tem acesso a Deus somente através de Cristo, e, de si mesmo, não pode de
forma alguma assegurar a aprovação de Deus.
2. Há o amor de benevolência, que corresponde à ideia da bondade de Deus para
com as suas criaturas.
Esse é o produto dos seus desejos pela felicidade deles. Não é dependente do
caráter deles, como é o amor de complacência, mas é exercido para o inocente
bem como para o culpado. Ele é geral em sua natureza, não especial, e existe para
com todos, mesmo os demônios, e os homens ímpios, pois a natureza de Deus é
benevolente, e, portanto, ele “deve” desejar a felicidade de suas criaturas.
20
Que essa felicidade não é obtida, nem obtenível, é devido, não a ele, mas ao
próprio pecado deles. Quando a benevolência de Deus é exercida ativamente na
concessão de coisas boas sobre suas criaturas, isso é chamado de sua beneficência.
Pelo primeiro, ele deseja a felicidade deles, pelo último, ele confere bênçãos para
torná-los felizes.
Isso é feito ao perverso também, assim como ao justo. É a isso que Cristo se
refere, em Mateus 5:45: “Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover
sobre justos e injustos.”
3. Há o amor que é de compaixão.
Esse corresponde à nossa ideia de piedade. É a disposição benevolente para
aqueles que estão sofrendo ou em desgraça. Esse também pode ser exercido para
com o culpado ou o inocente, se for possível supor que a culpa e sofrimento são
separáveis.
Tem sido muito comumente defendido que eles são inseparáveis. Acredita-se que
dor, sofrimento e angústia é resultado do pecado, e consequentemente,
inseparáveis da culpa. Mas essa é uma noção enganosa. O homem num estado de
inocência foi feito capaz de ter sofrimento físico. Aquela capacidade era necessária
para a proteção do seu organismo físico.
Os animais inferiores também sofrem. Portanto, seja qual for a adição feita à
capacidade de sofrimento pela queda, e pela consequência do pecado, não temos o
direito de concluir com base nisso que não pode haver sofrimento onde não há
pecado.
A capacidade de sofrer pode pertencer de tal forma a um organismo superior,
que naturalmente escolheríamos esse organismo, com essa capacidade, ao invés de
um inferior sem sofrimento. Se assim for, Deus pode nos criar dessa forma de
forma justa. Se a miséria, então, pode ser a porção do inocente, o amor de
compaixão de Deus pode ser exercido para com o tal.
Ele pode e é também exercido para com o culpado. Vemos isso na paciência com
a qual ele retarda seu castigo, na sua constante oferta de misericórdia, no seu
anseio pela sua salvação, e mais notadamente, no dom do seu Filho Unigênito,
“para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João
3:16.
4. Há o amor de Deus correspondente ao que chamamos de misericórdia.
21
Esse pode ser exercido somente para com pecadores. Sua própria natureza
contempla culpa em seus objetos. Ela consiste, não somente no desejo de não
infligir o castigo devido ao pecado, à negligência e à rejeição, mas no real perdão
do ofensor. Ela não pode ser exercida para com um ser justo, pois nele não há
pecado ou culpa para ser perdoado.
Contudo, o mesmo não é um atributo novo em Deus, que surgiu por causa da
existência do pecado, e o qual é, portanto, uma adição aos seus atributos. É uma
virtude inerente em sua natureza, e é especialmente apenas uma forma na qual o
seu amor se apresenta, o mesmo amor daquela benevolência que as criaturas
inocentes evocam, e o mesmo amor que na forma de complacência tem sido
eternamente exercido na Divindade.
Quando dizemos que essa misericórdia deve ser exercida de acordo com a
verdade e justiça de Deus, dizemos não mais o que é verdade de cada um dos
atributos de Deus. Nenhum pode ser exercido de uma forma que destrua o outro.
Cada um deve estar em harmonia com os outros. Ou, lembrando o que declaramos
antes, esses atributos não são faculdades separadas; tudo o que significa nesse
caso, como em todos os outros, é que Deus deve agir em harmonia com a sua
natureza.
Os objetos do exercício desse atributo são todos aqueles a quem Deus perdoa
ofensas de qualquer tipo. Não devemos limitar isso aos pecadores redimidos,
embora esse seja o maior sinal de demonstração.
Sob a dispensação antiga, Deus governou como rei teocrático sobre Israel. Os
pecados da nação, e dos indivíduos em sua capacidade de cidadãos da nação, eram
perdoados. Debaixo daquela dispensação, Deus ocupou para aquelas pessoas a
posição de governador terreno, e consequentemente, poderia perdoar pecados
contra seu governo se assim desejasse, mediante arrependimento, e com base em
princípios meramente governamentais – isto é, que garantissem obediência à lei, e
a paz, ordem e bem-estar da nação. Essas eram ofensas contra a mera pessoa do
rei ou das leis do seu Estado, e não contra os princípios de santidade e justiça; daí,
soberania e conveniência poderiam decidir em cada caso o que poderia ser feito,
sendo a misericórdia exercida e a justiça dispensada.
Mas isso é muito diferente do caso de Deus, o Justo juiz, o dispensador, não de
lei arbitrária, mas de uma lei baseada na sua própria natureza e da do homem, à
22
qual é necessária uma obediência essencial, não para manter o governo, mas para
preservar e manter o direito e impedir a violação sem punição da lei eterna.
Em ambos os casos Deus deve agir em harmonia com toda a sua natureza. Mas
naquele de Israel, nenhum obstáculo era apresentado por aquela natureza ao
perdão de pecados individuais e nacionais contra o rei teocrático.
Daí, a misericórdia era estendida, pelo menos aparentemente, sem compensação
para a justiça. Todavia, havia, nas ofertas sacrificiais com as quais o povo deveria
se aproximar de Deus – buscando perdão para pecados individuais e nacionais – tal
semelhança à expiação feita por Cristo, que, de alguma forma, naquela expiação,
pode, afinal de contas, ser encontrada a razão pela qual Deus, mesmo naqueles
casos, poderia ser justo e ainda justificar os ofensores.
5. Há o amor que é a afeição.
Essa forma difere do amor de complacência, visto que nem sempre demanda um
objeto digno. Isso é exibido na parábola do “Filho Pródigo”.
Difere do amor de benevolência, visto que eu objeto não é visto em geral com
todos os outros, mas é um de interesse especial.
Difere do amor de compaixão e de misericórdia, pois o objeto não pode estar em
desgraça, nem ser pecaminoso. Ele surge do:
(1) Relacionamento mútuo; como do Pai para com o Filho, e de todas as
pessoas na Trindade para com cada uma das outras; de Deus para com Israel, de
Cristo para os seus apóstolos, discípulos e sua igreja, e dos filhos adotados para
com Deus-Pai.
(2) De dependência; como de criaturas para com o criador, e dos redimidos
para com o redentor.
(3) De propriedade; como de Deus sobre os homens, de Deus sobre Israel, e
de Cristo sobre os redimidos. Isso é ilustrado na dracma perdida em Lucas 15:8, 9.
Esse tipo de amor origina-se em cada uma dessas formas no homem, e, como
mostram as Escrituras, é encontrado também em Deus. É desse aspecto do amor
de Deus que procede a graça, que deve ser distinguida do amor, piedade e
misericórdia.
O amor, como vimos, é a característica geral, que se mostra dessas cinco
formas diferentes.
A misericórdia é uma dessas, mas é dada somente ao culpado.
23
Verso 3 – Judas esclarece que seu intuito original era de uma carta que
tratasse da doutrina da salvação. Veja as palavras: “empregar diligência” – É uma
palavra que significa prontidão. Esta palavra dá ênfase à continuação do que se
está falando. A grande solicitude, prontidão e diligência para escrever acerca da
salvação comum acentuam o compromisso e dedicação do pastor em preparar bem
seu material de estudo. Daí, diz que estava pronto para ensinar e revelar seu
entendimento da salvação. Uma doutrina ampla com tantas possibilidades de
ampliar o horizonte da fé cristã do grupo. O seu objetivo mudou e escreveu uma
exortação apologética. A “necessidade” da heresia martelou sobre seu coração e, a
dedicação e empenho pegam a curva da estrada. Deixa a doutrina em si e se lança
na defesa da fé. Isto é muito importante. Qual validade de comentar um assunto
profundo e teológico quando seu rebanho é seduzido pelos lobos disfarçados. Caso
venham a ter êxito na propagação de suas heresias, a doutrina não teria eco no
coração da igreja. Poderia ser descartada como material subversivo pelo ensino dos
falsos mestres. Sem dúvida, o homem de Deus entendia seu tempo, bem como
acompanhava a vida da Igreja. A ameaça herética vinha não só na perversão da
doutrina, mas no estilo de vida imoral dos falsos mestres.
A expressão “batalhar diligentemente” é um termo relacionado à agonia,
pois a defesa da fé é uma luta. Há um preço a pagar pela manutenção da fé. Os
que a defendem não são bem vistos pelo grupo herético. Têm que enfrentar os
sarcasmos; as portas fechadas; viver na periferia das luzes da oportunidade.
Talvez, agonizar no ministério de um grupo pequeno que não vende sua fé.
A chamada para batalhar concentra-se na “fé consumada”. O termo “fé”
refere-se ao conjunto de verdades que compõe a sã doutrina. Judas não
simplesmente disse: “defendam a fé”. Sua carta traz inúmeras citações de fatos
históricos que autenticam doutrinas; também expressões que indicam sua
aceitação e seu conhecimento das doutrinas fundamentais da Igreja. Alguns
exemplos:
24
v. 1 – fé em Deus;
v. 1,4,14,21 – divindade de Cristo;
v. 4 – Graça de Deus na salvação;
v. 5 – salvação e condenação eterna;
v. 5,7 – historicidade do AT;
v. 6 – existência dos anjos;
v. 9 – sobre o diabo; Moisés como personagem real e histórico;
v. 14 – a volta de Cristo;
cristãs, porém viver uma vida imoral? Ao longo dos séculos, a Igreja tem
presenciado tais coisas. Os primeiros terão como recompensa “um certo” alívio das
penas na condenação eterna (ver: Ap 20.12). Acerca dos outros: alguns são
crentes e vivem sob o juízo de Deus (ver: Hb 12.5-12). Certamente, no julgamento
de suas vidas, não perderão a salvação, mas galardões; os demais são professos e
serão condenados eternamente. A ênfase nas doutrinas como “já entregue”,
portanto, imutável e inalterável tem o objetivo de dar bases para Judas argumentar
contra os falsos mestres. Prepara, também, seus leitores para rejeitar qualquer
nova doutrina ou nova revelação.
Homens imorais; Homens insubordinados. Este ensino tem apoio em Paulo – ver
Romanos 9.22 e em Pedro – ver 1ª Pedro 2.8. A doutrina da reprovação é lógica à
doutrina da predestinação, mesmo que esta seja positiva, no sentido de descrever
a predestinação para salvação (Ef 1.5).
O falso ensino deles – (1) mudam a Graça de Deus em libertinagem. A
Graça de Deus é um dos maiores temas do NT. Aqui mais um pouco desta doutrina
maravilhosa. (ver comentário do verso 2 – Graça)
A doutrina expressa o ensino bíblico de que o homem está morto em seus
delitos e pecados (Ef 2.1-2). Isso não significa que todos os homens sejam
igualmente maus, nem que o homem é tão mau quanto poderia ser, embora,
alguns, cheguem ao ápice da maldade. Essa doutrina ensina que, uma vez que o
homem segue o curso do pecado: segundo poderes do mundo; desejos da carne (Ef
2.1-2), desta maneira o homem natural está completamente dominado pelo
pecado, tendo motivações pecaminosas, por isso, é filho da desobediência e da ira.
Seu estado espiritual é de incapacidade de fazer ou querer qualquer coisa que o
conduza à salvação, bem como é totalmente incapaz de merecer ou negociar a
salvação mediante suas próprias obras.
Somos todos pecadores e nosso salário, isto é, a recompensa natural por
nossos méritos, é a morte (Rm 3.23; 6.23). Para recebermos vida, é preciso que
Deus aja conosco de modo que nossos méritos, obras ou justiça não são
consideradas, pois nada valem, portanto pela Graça Deus dá aquilo que não
merecemos. É justamente esse favor que recebemos de Deus sem merecer que se
chama “graça”.
Não temos a capacidade de nos salvarmos. A salvação não pode ser
comprada ou conquistada por nós. Na verdade, a salvação teve um preço sim, mas
o preço era muito alto para que eu ou você pudéssemos pagar. Quem pagou foi
Cristo. Ele comprou nossa salvação com Seu sangue e Sua obediência. Por isso a
salvação vem de graça para nós, e tem que ser recebida de graça, como um
presente.
Não temos nenhuma obra que contribui para a nossa salvação. SOLA
GRATIA significa que nenhuma obra nossa pode nos salvar. A nossa salvação não
acontece por causa dos nossos atos, nem mesmo os atos que fazem parte da
conversão. Isto é, na salvação nós nos arrependemos dos nossos pecados,
27
confiamos na obra de Cristo por nós, na morte de Cristo para o castigo dos nossos
pecados e obedecemos a Cristo como Senhor; mas nada disso é que nos salva.
Deus é que nos salva por Sua graça, pois Ele é quem nos dá o
arrependimento, a fé e a obediência, por uma obra sobrenatural do Espírito Santo
em nós. A obra de Deus por nós e em nós que nos salva é Jesus Cristo morto e
ressuscitado, não as nossas obras.
Por fim, a advertência de Judas é sobre a mudança que os líderes ímpios
fazem da Graça verdadeira numa “desgraça” – libertinagem. Por isso, “Afirmamos
a centralidade da Graça de Deus tanto na salvação como na santificação”.
Tt 2.11 - Ao mesmo tempo em que proclamamos que Cristo salva o pecador da
condenação pela Graça, temos que concluir que o Espírito Santo transforma o eleito
pela Graça. “Ou é tudo pela Graça ou nada pela Graça”. A salvação nos colocou na
posição de “santos” na cruz de Cristo. Nela temos justificação e santificação. O
Espírito Santo nos conduz diariamente, momentaneamente em santificação,
embora isto tenha que ter participação nossa (Hb 12.14).
A nossa santificação é a continuação da obra de salvação iniciada mediante a
fé. Ela é nossa, posse definitiva, mas devemos desenvolvê-la com temor e tremor –
Fp 1.6; 2.12; 1 Pe 1.2; 1.9 A Graça de Deus é a fonte, o motivo e a força que
impele a nossa santificação. Pela Graça, o poder do Espírito Santo torna a
santificação possível. Pela Graça, Deus nos transforma dia após dia na imagem do
Seu Filho Jesus. Pela Graça a Palavra é aplicada aos nossos corações, faz Seu
trabalho de transformação. Pela Graça, Deus nos salvou; pela Graça, Ele completa
essa salvação.
Agostinho, pelo estudo das cartas de Paulo afirmou que: A Graça é a primeira
e última palavra sobre a salvação. Ela é o todo de nossa vida; a fonte de todo o
bem em nós e a fonte de toda liberdade espiritual.
Na justificação FOMOS salvos da condenação do pecado, na santificação
ESTAMOS SENDO salvos do poder do pecado, na glorificação SEREMOS salvos da
presença do pecado. Mas tudo pela Graça de Deus, do começo ao fim. Dependemos
totalmente de Deus para tudo.
Libertinagem10 – A palavra se utiliza em vários lugares do Novo Testamento.
significa: desejos incontrolados, excesso de maldade, lascívia, insolência, atos
indecentes e ilícitos. É a palavra que aparece em Gálatas 5.19-21 para referir-se a
10
Ver anexo 6 - pequeno estudo da palavra aselgeia - lascívia
28
11
Dicionário Internacional de Teologia do NT, volume IV
12
Perron, op cit
30
(2) Os anjos - v. 6
Judas se utiliza do material apócrifo chamado “Livro de Enoque”. O
resumo de vários comentários (Gray e Adams; Green; Lenski13) se expressa nestas
ideias: A respeito do livro de Enoque, citado por Judas, sua citação numa passagem
dá uma sanção inspirada somente à verdade dessa passagem, não ao livro inteiro.
13
Autores citados várias vezes no estudo. Ver Bibliografia.
31
14
J.I. Packer, teologia Concisa, editora Cultura Cristã, p 63
32
15
Lewis S. Chafer, Teologia Sistemática, I, p. 418
33
16
Passim - Michael Green, ver Bibliografia.
34
é obvio nos dois momentos. A salvação em Cristo pela Graça de Deus tem nestes
episódios uma ótima ilustração. No dilúvio, Deus salva 8 pessoas na arca e pune os
pecadores. No derramamento de fogo e enxofre nas cidades da campina, Deus
salva Ló com sua família e pune os pecadores. Assim, Deus mostra Sua Graça e
Sua ira justa. Judas quer que entendamos tal relação: Graça e ira.
Os pecados são punidos. Deus não deixa impunes os transgressores. O
pagamento com o fogo eterno é um lembrete permanente para que todos atentem
para a ira de Deus. Os verdadeiros líderes têm a responsabilidade de formar vida
na igreja:
A característica da mente do crente – fidelidade;
A característica do coração do crente – submissão;
A característica da vontade do crente – adoração.
“Da mesma sorte” - Judas mira sua flecha de advertência nos falsos
mestres. Vai descrevê-los. O propósito é que a Igreja reconheça tais homens por
suas práticas e ideias; por sua conduta e caráter.
Verso 8 – Sonhadores (alucinados – é uma palavra acrescentada na
nossa tradução) é o adjetivo que Judas dá aos falsos mestres. O termo assume
uma posição de sinônimo de ímpios. Atrela-se a ele as designações descritivas das
atitudes dos “ímpios sonhadores”. Deus em Deuteronômio 13.1-6 dá instruções
sobre quem fala de sonhos ou visões, mas não é Palavra de Deus. Blasfêmia que
deveria ser punida com a morte.
Judas identifica três (3) atitudes dos falsos mestres sonhadores (v. 8) que
demonstram as verdades das ilustrações acerca da declaração de condenação dos
ímpios e suas obras. Os pecados das ilustrações são: imoralidade; irreverência e
insubordinação.
17
Manifesto Cristão, Francis Schaeffer, editora Refúgio, p.99
37
infamatório) e verso 10. Nada sabemos sobre o conteúdo das difamações. Paulo
entregou dois homens ao juízo e a Satanás para que não mais blasfemassem em 1ª
Timóteo 1.20. Não podemos afirmar qual grupo de anjos era alvo dos impropérios.
Os verdadeiros líderes aceitam o fato de que não temos direito de insultar,
zombar de qualquer anjo. Lutam por manter uma mente pura sem recorrer àquilo
que é imoral. Ensinam o povo de Deus a ter o mesmo ideal. Seguem o princípio de
orar pelos homens investidos de autoridade. Mantêm uma sobriedade acerca das
questões éticas e políticas para não difamar, não agredir, mas também,
equilibrando uma responsabilidade com as questões da justiça social.
18
Passim – Léxico do Novo Testamento Grego
38
que Satanás pode ter resistido à elevação de Moisés para a vida eterna em razão
do pecado de Moisés em Meribá (Dt 32.51).
O ponto assinalado por Judas é este: Miguel é um Arcanjo; Satanás o
chefe dos demônios; Miguel estava empenhado numa tarefa da qual Deus lhe havia
encarregado; o chefe dos demônios procurou impedi-lo, dizendo que não tinha
direito algum. E, mesmo em tais circunstâncias, que lhe eram totalmente
favoráveis, Miguel não se atreveu a falar mal do diabo, não proferiu nenhuma
acusação contra ele, mas sim lhe disse, simplesmente: “O SENHOR te repreenda!”.
Neste ponto focal é a atitude de Miguel que se ressalta. Isto nos lembra
Zacarias 3.1,2. Miguel não profere palavras frívolas ou grosseiras (ou seja: não
blasfemou). Não agiu com desrespeito. Deixou a situação nas mãos de Deus. Se
um arcanjo teve uma atitude de tamanho respeito quanto mais os meros homens
mortais devem ter.19
A citação de Judas do ocorrido ajuda a Igreja a se opor ao ensino herético
de que o arcanjo Miguel é Jesus Cristo como alguns grupos pregam. Juntamos o
texto de Daniel em que o nome Miguel aparece 3 vezes (10.13,21 e 12.1) e 11.1
também pelo uso pronominal. Daniel dá certeza de que o primeiro anjo (arcanjo)
Miguel não é Jesus Cristo. A leitura simples do texto indica isto. Aliás, seria mais
fácil identificar o ser angelical (um homem) sem nome que aparece para consolar
Daniel e fazer guerra contra demônios com Jesus do que Miguel com Cristo 20. O ser
angelical não é Gabriel que aparece nos capítulos anteriores de Daniel; não é
Miguel, pois o texto diz que o arcanjo veio para ajudá-lo e não é Cristo, visto que
precisou de ajuda para derrotar os demônios. O texto de Daniel 11.1 enfatiza que
“um homem” – ser angelical socorreu a Miguel: para fortalecer e animar. Leon
Wood diz: “O visitante de Daniel havia suprido as qualidades de ambos conceitos a
Miguel dois anos antes... Miguel querendo que o retorno fosse efetuado, tinha
aparentemente encontrado dificuldade em influenciar Dario e Ciro para esse
fim...”21 Então, tratando o pensamento herético nos perguntamos: Como Miguel,
que é Jesus, que é Deus precisa de consolo e ajuda? Respondemos: Miguel é um
anjo criado por Jesus e não Jesus pré-encarnado. Igrejas que igualam Miguel a
19
Este versículo nos ajuda a refutar o falso ensino que as Testemunhas de Jeová e outros grupos propagam de que
Miguel é Jesus ou vice versa. Ver também Hebreus 1.5-14 –atenção aos versos 5,6 e 13.
20
Leon J. Wood, Comentário de Daniel, editora Batista Regular, no comentário de 10.17 explica que: “Meu senhor”
(adoni) é um termo de respeito, não de divindade que seria (adonay)
21
Ibid, p.300
39
Jesus são grupos heréticos. Eles não aceitam e não defendem a doutrina da
Triunidade. O texto de Judas contribui e reforça nossa posição.
Green faz um resumo das advertências: A decadência espiritual dos falsos
mestres permeava a totalidade de suas personalidades. Fisicamente – tornavam-se
imorais; intelectualmente – tornavam-se arrogantes; espiritualmente – tornavam-
se desobedientes ao Senhor.
A chamada de Judas é para que tenhamos uma integridade moral; uma
intelectualidade humilde; uma inteireza espiritual.
Caim – Por que Caim torna-se o exemplo que Judas usa? Caim foi
assassino de seu irmão. Foi invejoso, materialista e desprezou a Palavra e a Pessoa
de Deus; não respeitou os homens (ver: Gn 4.8-15). O que Judas intentou
relacionar aos ímpios? Green entende que de modo sutil Caim tipifica o homem que
não tem cuidado com seu irmão. O autor de Hebreus 11.4 interpreta Caim como
uma pessoa incrédula. Tais pensamentos se encaixam na correlação de Caim e com
os ímpios. Eles não matavam o corpo, mas a alma dos homens. Buscavam coisas
materiais ao invés das espirituais. Desprezavam a Deus. Eram pessoas que não
viviam pela fé.
O cristão atenta às palavras de Deus: “o pecado jaz à porta, mas você
deve dominá-lo” – Gênesis 4.7. Ele não se entrega ao ódio pelo próximo. Age em
amor. Vive pela fé.
3ª – São avarentos sexuais – v. 11b
Balaão é o típico religioso motivado pelo dinheiro. Para se conhecer mais
de sua vida ímpia, leia Números 22 a 24. Mesmo conhecendo a Deus, o ímpio
profeta se propôs a amaldiçoar o povo de Deus por dinheiro. Além da área
financeira, Balaão envolveu Israel no pecado de idolatria e imoralidade em Baal-
Peor – Números 31.16. Motivou os Israelitas a pecarem fazendo-os crer desta
maneira: vocês são o povo de Deus, o povo da aliança e Deus não os punirá. O erro
foi detectado e combatido por Paulo em Romanos 6.1-10. Assim, os Israelitas
pecaram indo e adorando falsos deuses; praticando pecados sexuais.
41
22
Passim – O Novo Comentário da Bíblia
43
Verso 15 – Jesus virá para exercer juízo. Em 2ª Pedro 3.7 declara que a terra
e os céus são guardados para destruição no dia reservado para destruição dos
ímpios. A leitura da ACF – “condenar todos os ímpios” (3 vezes só neste verso)
46
No verso 16, Judas detalha com cores mais vívidas as acusações contra os
ímpios pecadores. Os detalhes aqui fazem uma conexão explicativa mais
pormenorizada das duas atitudes descritas no verso 15.
As acusações:
(1) São murmuradores – conecta-se com “palavras duras”. Paulo usa a
mesma palavra em 1ª Coríntios 10.10. Assim como os israelitas no deserto que se
entregaram às queixas, os falsos líderes dedicam-se a produzir sons que
transmitem sua amargura e resmungam acerca de tudo. A murmuração acontece
quando não se apercebe da sabedoria e soberania de Deus na vida humana. Os
muitos percalços, provações, problemas e perturbações que vivencia uma pessoa
são formadores de sentimentos. Os sentimentos são avaliados pela percepção de
quem é Deus; são alimentados pelo assentimento a respeito do poder de Deus e de
quem sou eu. Os desvios são inúmeros nesta ponte estreita sobre a estrada da vida
pessoal.
47
O pecado fez o estrago total nos sentimentos. Danificou a visão correta do ser
imagem de Deus. E o pior, ensinou que o ser humano tem poder para enfrentar a
soberania e senhorio de Deus na vida humana. Formou no coração humano a
destrutível ideia de que se pode viver sem Deus. Mas, quando algo dá errado;
quando não se consegue ter o que se deseja; ou qualquer dificuldade que aconteça,
há um culpado: Deus! Interessantemente, no exercício da murmuração muitos
fazem boa teologia. Seus argumentos são: “Se Deus conhece tudo, porque não
impediu?” “Deus é bom, porque me faz passar por tais provas?” O coração
mergulhado na ira, na revolta, conduz a boca a reclamar contra Deus e contra os
líderes (ver: Nm 20.1-6).
(3) São arrogantes no falar – Mayor é citado por Green: “Assim como o
temor a Deus expulsa o medo aos homens, assim também o desafio a Deus tende a
colocar o homem no lugar dEle, como fonte principal do bem ou do mal aos seus
companheiros.” A palavra “arrogante” também aparece em 2ª Pedro 2.18 –
jactanciosas. A arrogância de suas palavras visa impressionar outras pessoas. A
frase seguinte indica tal ação. São pessoas que falam de si mesmas; exaltam suas
48
(4) São aduladores – é uma expressão que designa a admiração por outra
pessoa. Seu uso é positivo. Aqui, porém, Judas usa para caracterizar uma ação
negativa dos ímpios. Palavras que elogiam são boas quando o coração não almeja
obter favores. Fora da motivação amorosa, desejos se transformam em demagogia,
em adulação. Eles falavam coisas bonitas e boas para um propósito pessoal. Eles
queriam se dar bem. Desejavam ser lembrados para as festas. Queriam que seus
nomes aparecessem nos informes. A hipocrisia se tornou o modo operacional
desses homens. Não era mais uma máscara que usavam de vez em quando. Passou
a ser o rosto deles. A lisonja é um mal. (Ver Pv 24.24; Mt 6.3) Bill Ascol chama a
atenção dos pastores fiéis da seguinte maneira: “E por coragem evangélica me
refiro ao compromisso incondicional de ministrar o Evangelho com compaixão, a
despeito das consequências e a qualquer preço”. Ele alerta para dois perigos no seu
artigo: “muito permissivo” ou “muito exigente”23. Os falsos mestres na carta de
Judas são enquadrados no primeiro.
Os líderes cristãos devem falar a verdade, com amor e mansidão. Que sua
vida expresse a alegria de depender de Deus; que seu coração viva contente, pois
confia no amor e no cuidado de Seu Senhor. Não busca favorecer uns em
detrimento de outros. Trata a todos de igual modo, rico ou pobre. Seu coração
nutre a gratidão. Suas orações são repletas de ações de graça.
“Na verdade, podemos entender porque o mundo, a igreja, os seres humanos
em geral estão tão fascinados pela religião da Psicologia. Por havermos nos tornado
adoradores dos deuses do absurdo e dos deuses impessoais, nos tornamos
adoradores de nós mesmos. Nós nos tornamos o padrão moral de valores e de
princípios. Nós, seres humanos, desesperadamente queremos nos tornar deuses.”24
Adauto Lourenço
23
Amado Timóteo, Cap. 8
24
Citação que reconhece o autor, mas infelizmente sem os dados referenciais.
49
25
À margem da História – Brasil: crítica e solução, Ed. Mundo cristão, p. 81
50
ensinos é trabalhar para que haja mudança mental. Se não há profecia o povo
perece. Há muito tempo, o sábio em Provérbios 29.18, já falava.
Judas continua seu ataque, porém, agora o faz por meio das palavras dos
apóstolos. Seu alvo são os crentes. Nesta primeira exortação deseja usar as
profecias apostólicas para incentivar a resistência. Na luta ou no batalhar
diligentemente pela fé, a Igreja não pode abrir a guarda. O fato da presença dos
líderes ímpios no seio da igreja não deveria assustá-la, ou desanimá-la.
Novamente, Judas reconhece que os irmãos têm conhecimento das verdades
apresentadas.
Por isso, diz: “lembrem-se”. Os apóstolos anteciparam o intercurso dos
ímpios pecadores na vida da igreja. Quando há esquecimento das verdades de Deus
por parte dos crentes, os falsos líderes têm um campo propício para semear suas
heresias. Green diz que isto traz a deterioração espiritual. Pior do que matar os
profetas ou os apóstolos é ignorá-los. Judas grita com toda a força de seus pulmões
– lembrem-se!
O verso 17 praticamente reproduz 2ª Pedro 3.2,3. A diferença está em que
Judas relaciona a profecia aos apóstolos e Pedro aos santos profetas. Bem,
devemos provar que a profecia é verdadeira. Pedro em 3.15,16 testificou sobre
Paulo como autor de mensagens que alguns deturpavam para sua destruição. Uma
relação simples de registros proféticos: Mateus 7.15; 21 e 22 – falsos profetas;
Atos 20.29,30 – penetrarão lobos entre os crentes; 1ª Timóteo 4.1 – apostasia por
causa de ensinos enganadores; 2ª Timóteo 3.1 a 9 – descreve as atitudes e
sentimentos dos homens que entram sorrateiramente nas casas dos crentes; 1ª
João 2.18 – os anticristos; 1ª João 4.1 – falsos profetas.
O verso 19 continua a descrição das práticas dos ímpios que a Igreja deve
atentar para resistir na manutenção da fé consumada.
“Promovem divisões” – O objetivo dos zombadores ímpios era causar a
divisão no grupo de irmãos. Isto no lembra 1ª Coríntios 1 a 4. Os crentes de
Corinto se vangloriavam de seu conhecimento, de sua sabedoria. A cosmovisão de
uma pluralidade de deuses conduziu-os à formação de grupos. Os grupos regiam-se
por uma pretensa identificação com líderes cristãos – 1ª Coríntios 3.4. Paulo
argumenta atacando o que eles mais estimavam – seu conhecimento – 1ª Coríntios
1. 26-31; 2.6-16. Green chama-os de fariseus cristãos. A razão: Os fariseus (cuja
palavra significa separação) ostentavam uma vida superior aos demais do povo. A
aplicação é boa.
Judas ao usar a expressão “sem o Espírito” alinha-se na sua argumentação
ao estilo de Paulo ao usar o termo “sensuais”. Paulo trata a questão em 1ª
Coríntios entre “sensuais” e “espirituais”. Judas identifica que a intenção da
separação tem como fonte aquilo que é traduzido por “sensual”. Uma palavra sem
um equivalente em Português. O conceito da palavra pode ser resumido assim:
aquilo que naturalmente governa e anima o corpo. Souter citado por Robertson
52
2ª exortação:
Verso 20 – “Orando no Espírito Santo” – A relação entre a frase anterior e
esta exortação é de uma lógica espiritual aprimorada. A expressão “orando no
Espírito Santo” não é particular de Judas. Ela pertence à Igreja cristã. A prova disto
é que Paulo a usa. Ver 1ª Coríntios 14.14,15; 2ª Coríntios 10.3-5; Ef 6.18. O que
Judas e Paulo querem dizer com a expressão? É uma indicação de que o crente
quando em oração deve estar sob o controle do Espírito Santo. Seus desejos
submetidos à vontade da terceira pessoa da Trindade. Sua vontade é fazer o que
Deus quer. Quando se dispõe a orar na dependência e suficiência do Espírito Santo,
o crente deixa a influência e o poder do Espírito orientar sua oração. O crente que
“ora no Espírito” o fará segundo as orientações da Palavra. Isto envolve: com
súplicas; intercessões; ações de graça; para Glória de Deus; o tempo todo.
Em Romanos 8.26,27 lemos que o Espírito Santo nos auxilia na oração. O
que Paulo quis dizer? Sem oração não há crescimento. Sem oração não haverá
discernimento profundo das Escrituras. Sem oração não haverá revestimento
54
26
Bietenhard, DITNT, artigo “Senhor”, volume IV
56
um grupo de irmãos que vacilam diante dos argumentos dos falsos mestres; outros
já aceitaram as seduções das mentiras deles. Contudo, há um terceiro grupo de
“outros”. Estes defendem as heresias.
Os dois versículos têm variações textuais. Green, Robertson e Lenski optam
pela leitura de 3 grupos como traduzido em ARC e NVI contra Van Gorder que
segue ARA com dois grupos. Green trata com detalhes as diferenças dos textos.
Aqui queremos somente indicar os dados. Uma razão para apoiar a leitura de 3
grupos é a preferência de Judas pelas tríades.
Além da decisão sobre o número de grupos, há variações em relação às
primeira e segunda cláusulas no versículo. A primeira cláusula há 3 possibilidades
de material nos manuscritos. Green e Lenski preferem “repreendei”; Robertson e
Gorder optam pela traduzida em ARA – “compadecei”. A melhor leitura é
“repreendei”. A segunda cláusula também tem uma disputa entre duas
possibilidades quanto à expressão que complementa repreender. São os leitores
que estão na dúvida, ou os que pertencem ao grupo de irmãos? A leitura de ACF
diz: “com discernimento” e NVI e ARA “estão na dúvida”. A expressão pertence a
um grupo de palavras que podem ligar-se ao verbo “separar”, “discriminar” ou
“duvidar”. A palavra aparece no verso 9 “disputava” ou “contender”. Ver o
comentário. Aqui continuamos com a indicação dos eruditos seguindo ARA e NVI –
“estão na dúvida” ou vacilantes.
5ª exortação:
Verso 22 – “repreender”. O 1º grupo – aqueles que têm dúvidas acerca
de quais são as doutrinas bíblicas. Judas exorta os fiéis para “corrigir”, “expor a
verdade” “trazer à luz” os erros daqueles que “estão na dúvida”. A intenção do
autor é: falem as verdades do Evangelho e não os deixem vacilar sem
confrontação. Os crentes firmes devem atentar nas coisas que falam e fazem os
que frequentam a igreja. Ao menor sinal de fumaça herética chamar a pessoa,
identificar as crenças e corrigir as falhas. Enquanto a planta da heresia é um broto
no coração humano é fácil tirar. Quando se deixa sem confronto, ela se enraíza e
cria estrutura na mente. Dará muito trabalho para extrair as mentiras; talvez, não
se consiga. Green afirma o seguinte: “Um homem que está flertando com falsos
ensinos não deve ser ostracizado pelos seus amigos cristãos; devem convidá-lo
para tomar um café e conversar com ele... com amor”.
57
6ª exortação:
Verso 23 – “salvar”. Quem é o objeto da ação? O 2º grupo – aqueles que
estão no “fogo”. O termo é o mesmo da salvação realizada por Deus. Judas não
ensina que os crentes podem dar salvação – perdão dos pecados; justificação; vida
eterna. A palavra tem seu uso não redentivo ou expiatório. Como acontece na
nossa cultura. Um bombeiro que socorre uma pessoa num incêndio – salva-a; um
salva-vida no mar, ao socorrer alguém que se afoga, salva-a. O que deve fazer um
crente quando sabe de uma pessoa que está no incêndio da heresia? O mesmo que
um bombeiro ou salva-vida faz. O verbo é um imperativo e demonstra assim a
seriedade do encorajamento. Correr para a pessoa e salvá-la. A ação é de quem
está fora, pois quem está dentro certamente está sem força, sem orientação e sem
direção. A maneira de salvar é por meio de um “arrebatamento” ou “rapto”. Uma
ação rápida é necessária, pois o grupo já cedeu aos falsos ensinos. Nada, porém de
ficar com conversinhas. A salvação é por meio de “repreensão”. Numa atitude
veloz, apontar os erros dos ensinos dos falsos mestres.
Judas escreve baseado em algum verso do AT? Zacarias 3.2 e Amós 4.11
tratam do tema. Zacarias diz que Josué é um “tição tirado do fogo”; Amós fala do
povo de Israel como “um tição arrebatado da fogueira”. Ou, simplesmente, não
tinha nenhuma das citações em mente? Pela expressão seguinte, o texto de
Zacarias é preferível. O pensamento de Tiago 5.20 ecoa e sussurra em nossos
ouvidos: escutem Judas.
A interpretação da palavra “fogo” indicará o pensamento de salvar pelo
rapto. Duas possibilidades são comuns: fogo das paixões; fogo do juízo. A segunda
opção corresponde melhor ao contexto. Judas já disse que os ímpios serão
58
7ª exortação:
Verso 23 – “ter misericórdia”. O 3º grupo – “aqueles que apostataram”.
Judas ensina duas atitudes: compaixão ou ser misericordioso e detestar a
presença dos falsos irmãos. Dentre os incrédulos e dos frequentadores da igreja, há
alguns que serão salvos – sentido espiritual e doutrinário; outros de nenhum dos
sentidos da palavra salvação. O que Judas quer ensinar com as duas práticas?
Como é possível ter misericórdia e detestar a convivência dos hereges? Com a
misericórdia somos convocados a nutrir o sentimento divino. Ser compassivo com
os hereges, pois são pecadores e seguem o pai da mentira. Seguem, pois estão
cegos para a Luz da Verdade de Cristo; surdos para a chamada da Graça de Deus.
Com o “detestar a roupa contaminada” recorda-se de Zacarias 3.2-4 onde Josué
(representando Israel) precisa tirar as roupas sujas (pecados). Assim como Deus
que detesta o pecado, assim devem os fiéis proceder. “Carne” – tem o mesmo
sentido de outros escritores do NT. A carne é: corpo físico ou a natureza humana
contaminada pelo pecado. A pregação de Ageu 2.10 a 19, especificamente o verso
12 a 14 merece nossa atenção. Serve com um ponto a considerar no argumento de
Judas. Após o exercício da paciência vinda da misericórdia, chega um tempo que se
aceita que o herege não mudará. A convivência não é mais possível. As diferenças
doutrinárias têm a prioridade na manutenção da verdade.
Podemos relacionar o conceito de roupa na vida cristã. João fala dela em
Apocalipse 7.14 e 19.8 – os crentes terão uma roupa limpa pelo sangue do
Cordeiro. Isaías 61.10 – vestes de salvação e manto de justiça. É Deus quem dá
aos Seus filhos.
8ª exortação:
Por isso Judas acrescenta “em temor”. É o ponto de equilíbrio na vida do
fiel. Exercer misericórdia e detestar o pecado sem uma consciência da santidade e
do juízo de Deus pode encher o coração de hipocrisia. Os crentes não têm nada do
que se gloriar. A eleição não faz os salvos melhores que outros, visto que somos
constituídos do mesmo barro pecaminoso. É a Graça de Deus que merece a honra.
59
27
Lições aos meus alunos, Editora Mundo Cristão, sermão em 2ª João 2
28
Ascol, op.cit., p. 159
60
dia percebemos uma grande ignorância acerca de Deus. Fala-se muito em Deus,
porém a idéia da Pessoa dEle é superficial e capenga. James Orr disse o seguinte:
“Não é exagero afirmar que em princípio toda questão de importância que surge em
teologia já está praticamente resolvida na doutrina de Deus e seus atributos”29. Se
as pessoas que se dispõem a ingressar num grupo religioso que, pretensamente,
diz ser cristão estudasse a doutrina de Deus, a maioria sairia.
Com a proliferação de grupos que usam o nome de igreja e de líderes que se
intitulam “pastores”, “bispos” e até “apóstolos” distorceu-se o conceito de quem é
Deus. O atributo do poder de Deus é o mais enfatizado, mas de maneira
mercadológica. Ensinam: Deus tem poder para – dar dinheiro; dar emprego; dar
marido ou esposa; para curar. Não negamos o poder de Deus para atuar em áreas
específicas. Mas, poder de Deus sem os demais atributos é não cristianismo. Poder
de Deus para solucionar emergências da vida comum, não é ensino bíblico. Poder
de Deus sem denúncia ao pecado é misticismo e não cristianismo. Judas, tampouco
diz que o “poder de Deus para guardar de tropeços” signifique que estamos
isentos de doenças; prejuízos financeiros; adultérios, etc.
1º benefício – “Guardar” tem sentido de manter em segurança; proteger
algo precioso de ataques. O termo “Tropeços” é única citação no NT. Na literatura
se encontra na descrição de “cavalos que caem por causa de obstáculos”. O sentido
aqui é tropeçar nos obstáculos religiosos dos falsos mestres. A verdade de que
Deus guarda, conforta o fiel na sua luta contra os heréticos. Há uma promessa de
proteção quando pulamos no fogo (ver verso 23) para salvar os duvidosos e
extraviados. Uma palavra de advertência se faz necessária. Novos convertidos no
seu afã de demonstrar o amor do Senhor muitas vezes entram no fogo herético.
Envolvem-se com pessoas de seitas ou amigos que estão em grupos falsos. Eles,
ainda, não têm bases bíblicas e teológicas firmadas para argumentar. A
conseqüência normalmente é perdê-los para algum movimento herético. Alguns,
pela Graça de Deus, conseguem se manter firmes depois dos fracassos. Por isso,
temos que investir na formação doutrinária de nossos irmãos.
do ser igreja tem obstáculos. Eles, porém não podem ofuscar o brilho da “Glória
de Deus”. A presença de Deus é de tamanho esplendor, pureza e beleza que não
se pode descrever em palavras. A palavra “glória” viabiliza uma imagem. O tema
da “Glória de Deus” percorre toda a Escritura. Não é por acaso que os
dispensacionalistas a usam para representar o propósito da história humana. A
palavra relaciona-se com o poder, a majestade e a presença de Deus. Ver Apêndice
2.
30
Spurgeon, op.cit, sermão sobre Judas 24,25
63
eternos de autoconsciência, cada qual sendo “Eu” em relação aos dois que são
“Vós”, e cada qual participando da plena essência divina (a substância da deidade,
se assim podemos chamá-la) juntamente com os outros dois”31 (J.I. Packer). A
verdadeira Igreja confessa Deuteronômio 6.4 – O SENHOR é o único Deus. Judas
atribui o título de “Salvador” a Deus (ver: 1ª Tm 1.1; Tt 1.3; 3.4; Sl 106.21; Is
45.3,11,15,21). A Teologia Cristã afirma que a Trindade está envolvida na salvação
dos crentes “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a
estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”.(Romanos
8:29-30). . Assim Anthony Hoekema se expressa: “Convém lembrar que a obra da
salvação é executada pela Trindade; isto é um mistério revelado em parte a nós,
ainda que não compreendamos totalmente a natureza de Deus que é Uno e trino.
Se Deus não fosse triúno, não haveria salvação para os homens”32.
Os louvores a Deus são dados “por meio ou mediante Jesus Cristo,
nosso Senhor”. Senhorio de Cristo – Quando falamos em salvação incluem-se
duas verdades nela: a suficiência única em Cristo para o perdão dos pecados e
assim libertação da condenação eterna; e, o compromisso com Cristo através da
obediência ao Seu senhorio (ver: Lc 6.16; Rm 6.23; 1ª Co 2.8; 12.3). A salvação
permite ao crente ter uma compreensão de Deus e expressar-se corretamente
diante dEle. Jesus é o nosso Salvador. Os benefícios de Sua justiça e redenção e
santidade são doados aos crentes mediante a fé (ver: Rm 8.30; Ef 2.8-10) ou
“imputados” conforme a leitura e a aplicação de Romanos 5.12. Michael Horton
chama nossa atenção assim – “Porém, qualquer pessoa justificada, foi regenerada,
enxertada na vida de Cristo, e frutos de gratidão inevitavelmente se seguirão. Sem
um interesse no Salvador e na Sua Palavra e sacramentos, não há vida. O senhorio
de Cristo não é uma opção para os cristãos de primeira classe, mas uma
33
inevitabilidade para todos os que compartilham Sua vida.” Ver verso 21. A
doxologia é um contraponto doutrinário aos princípios heréticos dos falsos mestres.
Como expressão de gratidão, então, os crentes oferecem-na a Deus:
31
J.I. Packer, Teologia Concisa
32
Criados à imgem de Deus, Ed. Cultura Cristã
33
Site: www.monergismo.com artigo Salvador, mas não Senhor?
64
“Glória” – Toda a honra a Deus. Dar glória ou honra significa fazer o melhor
– quer seja em pensamentos ou palavras; desejos ou atos. J.I. Packer descreve o
conceito de “glória” assim: “...a glória, que é seu alvo, é um relacionamento de dois
lados, de duas etapas: é, precisamente, uma conjunção de (a) atos revelatórios de
sua parte, por meio dos quais ele mostra sua glória aos homens e aos anjos com
espontânea generosidade, com (b) adoração responsiva da parte deles, por meio da
qual prestam-lhe glória de gratidão pelo que têm visto e recebido. A alternância de
contemplar a glória de Deus e dar-lhe glória é a verdadeira realização da natureza
humana em sua essência, o que traz suprema alegria ao homem, tanto quanto a
Deus (cf. Sf 3.14-17)”34. Ver o Apêndice 2.
34
Teologia Concisa, p. 59
65
BIBLIOGRAFIA
35
Crer também é pensar
67
Warfield – “crer em Deus segundo o AT é, portanto, não apenas assentir com a sua
palavra, mas com firme e inabalável confiança poder descansar na segurança e
credibilidade em relação a ele.” “O poder salvador da fé reside, então, não em si
mesma, mas no poderoso Salvador em quem ela repousa... Não é estritamente
falando, nem mesmo a fé em Cristo que salva, mas Cristo que salva por meio da fé.
O poder salvador reside exclusivamente, não no ato da fé ou na atitude de fé ou na
natureza da fé, mas no objeto da fé.”
“Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como
também padecer por ele” - Filipenses 1.29.
Aqui Paulo fala de duas coisas que foram “concedidas” aos cristãos. O termo
“concedido” é: “dar como um dom”. O que foi “concedido” aos crentes? O olho
corre para o final da frase, “padecer por ele”. Isto é o que a mente parece absorver
quando lemos a passagem. Tem sido concedido como um dom o padecer por
Cristo! Que pensamento estranho para muitos hoje que não experimentam
perseguição e sofrimento, mas certamente não o era para aqueles a quem Paulo
estava escrevendo. Mas, assim como o sofrimento não é algo produzido pelo nosso
“livre-arbítrio”, assim também não é com a primeira coisa que nos foi concedida:
crer em Cristo. Este é o termo normal usado para a fé salvadora – Deus nos
concedeu o crer em Cristo. Por que isso seria concedido já que, como somos
informados, qualquer um pode “crer”?
Hebreus 12:1-2
Jesus é descrito como o “autor e consumador” da fé. As palavras foram escolhidas
pelo autor são as mais interessantes - Autor: refere-se à origem, fonte, começo, e
então, por extensão, ao autor. Consumador: refere-se a alguém que completa ou
aperfeiçoa. O que isto significa: Jesus é a origem e fonte da fé; o objetivo da fé;
também é Aquele que completa e aperfeiçoa a fé. Certamente, parece que toda a
vanglória por parte do vaso, por ter contribuído com seu livre-arbítrio para crer, é
deixada de lado. Para os cristãos estas são palavras preciosas. Quando estamos
fracos. Quando estamos desencorajados. Quando parece que possivelmente não
68
poderemos continuar. Qual é a nossa única confiança? Cristo! Deus não abandonará
os Seus. Somos guardados pelo poder da fé, mas não uma fé meramente humana.
É uma fé divina, um dom de Deus! Por que alguns tropeçam e caem (abandonar a
igreja ou a fé), enquanto outros perseveram? Será que alguns são melhores e mais
fortes do que outros? Não. A razão descansa na diferença entre ter fé salvadora e
ter uma confiança que não é divina na origem ou natureza. Muitos são aqueles que
fazem uma profissão de fé não baseada na regeneração. Tal “fé” que é originada
neles não sobreviverá. Jesus ensinou esta verdade na parábola do solo em Mateus
13:3-9, 18-23. Algumas das sementes que foram semeadas resultaram em
crescimento imediato. O crescimento, porém não produziu fruto e não sobreviveu.
Estes são aqueles que têm uma fé falsa e humana. Os que têm a verdadeira fé
produzem fruto e perseveram. Ver também Simon Kistemaker - Hebreus e W.
Hendriksen sobre Mt 13.
36
site www. monergismo.com - artigo - Fé salvadora: dom de Deus
69
37
Jonathas Edwards, O diário de David Brainerd
70
crítica vazia dizer que Paulo fala aqui somente da simples provisão da possibilidade
de salvação. Ele diz que seus leitores foram salvos pela graça através da fé. Eles já
tinham entrado no estado de salvação e continuavam nele. Os meios de sua
salvação são ditos ser pela graça, livre graça. Eles foram salvos através da fé.
Até este ponto todos concordam, pelo menos nos assuntos básicos. O debate
começa com a próxima frase: “e isto não vem de vós, é dom de Deus”. O assunto
básico é, “a que a palavra “isto” se refere?” O termo é um pronome neutro
singular demonstrativo. A regra básica é procurar um pronome neutro singular no
contexto imediato, como o antecedente do pronome. Todavia, não há nenhum
pronome neutro na primeira frase de Efésios 2.8. “Graça” é singular feminino; “sois
salvos” é um particípio masculino; “fé” é singular feminino.
Assim, a que isto se refere?
A resposta simples é: a toda frase “porque pela graça sois salvos, através da fé”. É
uma boa gramática grega usar um pronome neutro para abranger uma frase ou
uma série de pensamentos numa simples palavra. O ponto de Paulo é que a
inteireza da obra da salvação é um dom de Deus, não obra do homem. Tudo dela é
livre, tudo dela é divino, não humano. Ver os comentários de W. Hendriken, John
Stott e Martin Llyod-Jones sobre Efésios.
E sobre a reivindicação de que Efésios 2.8 ensina que a fé é um dom de Deus? É
comum para muitos apontarem triunfantemente que: a “fé” é feminino e “isto” é
neutro, então: fé não pode ser um dom. Isto é somente parcialmente verdadeiro.
Quem defende assim terá que admitir que a graça mencionada em Efésios 2:8 é um
dom: todavia, ela é feminino singular também, o que, se seguirmos o raciocínio
dele, significaria que a graça não é um dom, não mais do que a fé o é. Tal
argumentação é muito superficial para permitir que uma conclusão significativa seja
extraída.
Não há razão, contextual ou gramatical, para aceitar que o fato de que dois dos
três elementos substantivos (graça e salvação) sejam um “dom”, enquanto que o
terceiro, fé, seja uma contribuição estritamente humana. A teologia de Paulo,
incluindo o fato de que ele especificamente se refere à fé como algo que nos é
“concedido” (Filipenses 1:29), indica que todos os três elementos juntos constituem
um dom singular de Deus, porque certamente a graça é Sua, para livremente dar;
a salvação é Sua, para livremente dar, e da mesma forma, a fé salvadora é o dom
de Deus dado aos Seus eleitos.
A fé vem pelo ouvir a mensagem da Palavra. Deus decretou instrumentos para
chamar os homens à fé. O pecador ouve sobre Cristo e Sua obra (conhecimento);
aceita tais fatos e reconhece que é pecador (aprovação). Ambos os elementos não
trazem salvação. É preciso que alie-se ao conhecimento e à aprovação, a confiança.
Baseado em The Potter”s Freedom, de James White (disponível em ebook).
71
que o homem age) resolveu salvar (pois todos estavam mortos; ninguém tinha
salvação) um número definido de pessoas dentre a humanidade (não todos
os homens), como indivíduos, não em face de alguma obra praticada ou
mérito de tais indivíduos, muito menos por qualquer valor que possam ter
diante dEle (não por causa de fé, obras, santidade), mas por Seu beneplácito
(aprovação), simplesmente porque Ele se agradou em assim escolhê-los.
Dizemos também que aqueles a quem Deus predestinou para a vida, Ele se
agrada em chamar eficazmente, no tempo aceitável e por Ele determinado, por
meio da Sua Palavra e de Seu Espírito: do estado natural de pecado e morte – para
a graça e a salvação por Jesus Cristo.
A doutrina da eleição nos ensina que o homem é responsável por sua
condenação, pois todos pecaram e todos estão mortos espiritualmente. Ensina
também que aqueles que foram eleitos serão salvos, pois não podem resistir à
Graça salvadora, obviamente, respondem afirmativamente pela fé (que é dom de
Deus).
Muitos crentes usam Rm 8.29 para dizer que Deus escolheu aqueles que Ele
conheceu, pois sabia que eles aceitariam o Evangelho. A palavra “de antemão
conheceu” significa “amor prévio, “designação prévia”; é usada como
conhecimento temporal (At 26.5); a relação de Deus com Israel (Rm 11.2); o
sacrifício de Cristo (At 2.23; 1ª Pe 1.20); o povo de Deus hoje (1ª Pe 1.2). “Segue-
se disto que este conhecimento depende do beneplácito (aprovação) divino, visto
que, ao adotar aqueles a quem Ele quis, Deus não teve qualquer conhecimento
antecipado das coisas fora de Si mesmo, senão que destacou aqueles a quem
propôs eleger” - Calvino, comentário de Rm 8.29. Como o conceito de
relacionamento envolve tal palavra? Deus anteviu fé e não pessoas? Ou vice-versa?
Certamente, Deus viu pessoas e o Seu relacionamento com elas – ver 1ª Pe 1.2; At
2.23; Rm 11.2. O conhecimento prévio inclui o processo usado na obra de salvação
sem a participação do escolhido. Os pecadores estão mortos e não podem chegar,
por si mesmos à fé e ao arrependimento. Em João 6.44,65; 10.25-28, Jesus nos diz
que os pecadores que O escolhem, fazem-no porque Deus os concedeu ao Filho.
Quando aconteceu a eleição? (baseado em Warfield)
A resposta envolve o que chamamos de “ordem dos decretos”. A pergunta
inicial envolve a decisão sobre duas linhas de pensamentos: (1) “Deus planejou
simplesmente deixar o homem com capacidade maior ou menor para si mesmo se
salvar”. Ou (2) “planejou intervir Ele próprio para o salvar”. É claro, nossa posição
é: Deus é quem salva o homem. O homem não tem poder para se salvar.
A segunda decisão que temos de tomar envolve outras duas linhas de
pensamentos que estão relacionadas com os que adotam a posição 2 acima e
relaciona-se na maneira como o poder salvador de Deus é exercido na alma do
homem: (a) Deus, por cujo único poder efetua a salvação, salva os homens por
uma relação direta e imediata com eles como indivíduos; ou (b) Deus, salva-os por
meio de agências com poder sobrenatural por Ele estabelecidas no mundo. Em
outras palavras: Deus salva os homens por ação imediata da Sua Graça ou usa algo
(agência) para tal fim? Certamente, nossa posição é a que esta descrita em (a).
Cremos que Deus opera diretamente na alma humana, sem qualquer intermediário.
A Igreja reconhece que Deus pode usar instrumentos para que o Espírito Santo faça
a obra de salvação, mas tais instrumentos não são agentes que operam a salvação.
A terceira decisão discute se o poder para a salvação que vem de Deus é
diretamente na alma: (1) atinge todos os homens indiscriminadamente para que
sejam salvos ou não; ou (2) exerce somente sobre alguns (individualmente) que
serão realmente salvos. A divergência envolve: Deus tem um plano (1) para salvar
75
todos os homens pela Sua graça eficaz ou (2) se a Sua graça salvadora apenas é
derramada sobre os homens, pois a cada um individualmente, dado por ação direta
que cada um responda à Graça salvadora. Não somos universalistas (1), mas
optamos pelo particularismo (2). Mesmo esta tem seus dois grupos divergentes.
A quarta decisão é se o decreto de Deus da eleição e da reprovação diz
respeito aos homens (1) considerados simplesmente como homens ou (2)
considerados já como pecadores – uma raça corrupta? Dr Warfield toca no ponto
central da questão: o pecado. Ele diz: “tem de haver a perspectiva do pecado para
o estabelecimento de um decreto de salvação, assim como para o estabelecimento
de um decreto de punição.” Por isso, Deus por não desejar que todos os homens
morressem em seus pecados, intervém para salvar da ruína e da destruição um
grupo numeroso. Faz assim de acordo com Sua justiça, movido por Sua compaixão
e Graça. Assim, aceitamos o item 2.
O esquema do plano de salvação pode ser assim descrito: (1) permissão da
queda; (2) eleição de alguns para a salvação; (3) Morte de Cristo como fundamento
e oferta da salvação; (4) dádiva do E. Santo para salvar os eleitos; (5) santificação;
(6) glorificação.
APÊNDICE 4
O Significado de 1ª Pedro 3.19
por Egon Paulitsch
O Argumento da Carta
Pedro escreve a sua primeira epístola com um propósito pastoral. Seus
destinatários são “os peregrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e
Bitínia” (cap. 1.1).
De que maneira os crentes devem agir e reagir diante dos sofrimentos?
Para dar base aos seus pedidos, Pedro se vale das doutrinas da eleição,
salvação e escatologia. Elas se tornam uma força motivadora que diz qual é a
posição que os crentes têm em Cristo e orientam a postura que devem manter
enquanto “estrangeiros residentes38 neste mundo.
O apóstolo Pedro exorta os crentes a terem uma vida exemplar para com os
de fora: prática zelosa de boas-obras; submissão às autoridades; tratar as pessoas
com respeito; estimula-os a viverem um estilo de vida segundo o exemplo de Jesus
Cristo. Também, dá-lhes ânimo quanto à perseguição que sofriam e que ainda
viriam a sofrer, pois, de Roma, onde Nero imperava, se irradiava uma terrível
perseguição contra os cristãos. Eles estão dispersos, mas, ali, a perseguição os
atingiria. Eles deveriam estar cônscios de que, assim como no passado, Noé
recebeu afrontas, escárnios, provações quando pregava aos antediluvianos e Cristo
em Seu ministério terreno; os peregrinos (paroikos), do mesmo modo, deviam,
pacientemente, suportar as perseguições, pois, para eles, estava assegurada a
maravilhosa esperança - a ressurreição que Cristo prometera. Pedro ilustra a futura
vindicação dos cristãos apontando para Jesus Cristo e Sua exaltação como
recompensa de Deus por Sua fidelidade.
38
MUELLER, Pedro., I Pedro - Introdução e Comentário, p. 30
76
O Texto e o Contexto
O texto de 3.18 a 20
18 – οτι και χριστος απαξ περι αμαρτιων επαθεν δικαιος υπερ αδικων ινα ημας
προσαγαγη τω θεω θανατωθεις μεν σαρκι ζωοποιηθεις δε τω πνευματι
19 – εν ω και τοις εν φυλακη πνευμασιν πορευθεις εκηρυξεν
20 – απειθησασιν ποτε οτε απαξ εξεδεχετο η του θεου μακροθυμια εν ημεραις
νωε κατασκευαζομενης κιβωτου εις ην ολιγαι τουτ εστιν οκτω ψυχαι διεσωθησαν δι
υδατος39
(tradução livre):
18 - Porque também Cristo sofreu de uma vez por todas pelos pecados, o
justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus; foi, certamente, morto na carne,
mas foi feito vivo no espírito;
39
Há uma diversidade grande de manuscritos para a leitura nesta palavra. Os melhores indicam como
probabilidade maior que foi esta a palavra empregada por Pedro.
77
1. Identificar os problemas
Introdução
Alguns já denominaram esse texto de "O Oráculo negro do Novo Testamento";
e outros: de “o menor texto de maior dificuldade”. É no Credo Apostólico que
aparece a frase: "desceu ao inferno". Muitos comentaristas bíblicos buscam desatar
o "nó" desse problema. Ou seja: Jesus desceu ao inferno? Não é incomum observar
que tratam do tema unificando 3 passagens: Efésios 4.9 – “... descera às regiões
mais baixas da terra”; 1ª Pedro 4.6 - “... foi pregado o evangelho também aos
mortos, ...” e o nosso texto de análise. Os textos não se referem ao mesmo evento.
A passagem de Efésios interpreta-se como uma referência à Encarnação de Cristo
Jesus40. A intenção de Pedro em 4.6 é, no contexto, de testificar que cristãos
mortos na carne ou no corpo (julgados pelos homens) porque creram no Evangelho
que lhes foi pregado, agora vivem no espírito (segundo Deus) 41. Portanto, o nosso
texto está sozinho.
Os problemas
O texto apresenta 5 problemas hermenêuticos:
(1) Onde estavam os espíritos?
(2) Quem são os espíritos mencionados?
(3) Quem pregou aos espíritos?
(4) Quando se deu a pregação?
(5) Qual foi o conteúdo da mensagem?
e “espírito” no qual pregou? Além disto, qual justificativa para uma mudança na
tradução da conjunção δὲ de “em” por “pelo” para, assim, melhor expressar a
intenção do argumento?
(g) Por que Pedro usaria o termo πνευμασιν (pneumasin) para anjos se ele dá
indicações de preferir ἄγγελοι (angeloi) em 2ª Pe 2.4,11?
(h) Dizer que a “proclamação” se deu entre a morte e a ressurreição não é
ignorar que 3.18 afirma que Jesus foi vivificado no espírito, ou seja, que Cristo já
ressuscitara? (Os evangelhos de Mateus, Lucas e João dizem que quando Jesus
morreu – entregou o Seu espírito.)
(i) Qual é a relação aplicativa que Pedro tinha em mente ao usar o argumento
de 3.19 com os sofrimentos que a perseguição impingia sobre os cristãos?
Argumento linguístico – Pedro diz que “os espíritos” estavam em prisão. Não
livres ou soltos. O termo é melhor entendido como substantivo e não adjetivo, pois
vem antes do verbo e assim demonstra sua ênfase.
Champlin tem muitos argumentos contra esta posição em seu comentário.
3.2 Alternativa: credo apostólico – Cristo desceu ao inferno entre Sua morte e
ressurreição.
Refutações:
Argumento linguístico – A expressão “vivificado no espírito” significa
“ressurreição”. Por que devemos entendê-la assim? A palavra “vivificar” significa
“fazer viver”; “dar a vida”; “trazer à vida”42. O que foi vivificado em Cristo? Jesus
na cruz disse: Pai, entrego em Tuas mãos meu espírito. É uma referência à Sua
morte. O corpo (carne do verso 18) morreu – perdeu suas funções vitais. Cremos
que a Bíblia afirma a imortalidade da alma (ou espírito). Por isso, a expressão é
uma referência à ressurreição de Cristo.
Argumento teológico – Independente do conceito acerca do conteúdo da
proclamação, precisamos nos perguntar: O que Jesus faria no local chamado
“prisão” antes da Sua ressurreição? É a ressurreição que autentica a vitória na cruz.
É pela ressurreição que a vitória sobre a morte é atestada e assegurada (Rm 4.25).
Além disto, Pedro faz uma antítese no verso 18 entre “carne – morte” e “espírito -
vivo”.
42
Léxico do NT, edições Vida Nova, Gingrich e Danker, vocábulo ζωοποιεω
80
4. Considerações finais
Qualquer que seja a alternativa escolhida estará sujeita a “chuvas e trovoadas”
teológicas. Devemos optar pela alternativa que melhor responda aos princípios
hermenêuticos. A busca do significado do texto necessita explicar o sentido
pretendido por Pedro no seu argumento de fornecer uma vindicação divina aos
crentes da sua época. Certamente, duas alternativas parecem satisfazer nossa
preocupação: alternativa agostiniana ou a triunfalista. O problema é que ambas
indicam “espíritos” como pessoas. A nossa conclusão se apresenta como triunfalista
modificada ou reconciliação cósmica.
5. Conclusão final
5.1 – Tempo
Concluímos que a expressão “vivificado no espírito” (3.18) refere-se à
ressurreição de Cristo44.
5.2 – Ouvintes
43
O verbo empregado por Pedro é ekêryxen, que se deriva de kerysso, que significa: “proclamar como um
arauto”. O verbo aparece 61 x no NT. Às vezes, é usado para descrever a pregação do Evangelho – e.g. Rm 10.8; Gl
2.2. O seu uso corrente, entretanto não é este. Para tanto ver 4.6 onde Pedro se utilizou de um termo específico
(euengelísthe) à pregação da salvação.
44
Ver 3.2 – argumento linguístico
81
5.3 – Local
Concluímos que a palavra “prisão” é algum lugar não especificado na Bíblia,
portanto não há como identificá-la. Pode ser um lugar dentro do inferno.
5.4 – Mensageiro
Concluímos que foi Jesus Cristo quem pregou ou proclamou aos “espíritos
em prisão”46.
5.5 – Mensagem
Jesus Cristo foi e proclamou aos “demônios em prisão” a Palavra de
reconciliação sobre todas as coisas que, atestado por Sua vitória na cruz, Sua
ressurreição e Sua entronização, era o governante do universo.
Explicação:
Os textos de 1ª Coríntios 15.24 a 28; Efésios 1.10; 1.20 a 22; Filipenses 2.9
a 11; Colossenses 1.20; Hebreus 2.8,9 falam de uma reconciliação cósmica 47.
Certamente, não é uma mensagem salvífica universalista. Iniciamos com o texto de
Efésios 1.10 que tem seu foco no programa da história de Deus ou nas palavras de
W. Hendriksen é “o tempo apropriado” “... particularmente com o período que
começou com a ressurreição e a coroação de Cristo”. Então, parte do mistério (Ef
1.9; Cl 1.27) é revelado: o governo de Cristo sobre todas as coisas. A coroação de
Cristo (Ef 1.20-22) é a Sua justa recompensa por ter realizado a obra mediadora,
então, por causa dessa, governa todas as coisas no interesse da Sua noiva – a
Igreja.
O texto em questão, bem como os demais, tem sua atenção para a
exaltação e poder governante sobre todos os seres angelicais agora (ressurreição e
ascensão) e no futuro (Ef 1.21; Hb 2.9). A finalidade da posição que Deus deu a
Cristo e da Sua extensão temporal descrita em Efésios 1.22 (também: Fp, Hb e 1ª
Co) é – “sujeitar todas as coisas debaixo de Seus pés” ou nas palavras de Calvino:
“... mas o Pai tem dado o poder a Cristo, para que possa administrar em Seu nome
o governo dos céus e da terra”. A reconciliação de “todas as coisas” não significa
salvação (2ª chance) ou aniquilação dos não eleitos, embora os incrédulos estejam
contemplados. No mesmo nível de ação, portanto os seres angelicais são
contemplados.
Ralph Martin levanta corretamente a pergunta (Cl 1.20): “Qual tipo de
reconciliação universal é contemplada como sendo um fato completado?” Nas suas
observações aqui resumidas e aplicadas à defesa da posição do presente artigo: (1)
refutar qualquer ideia de que algo no universo ficasse fora da obra reconciliadora;
(2) nenhum poder espiritual hostil poderia operar destruição à Igreja; (3) A cruz (Cl
2.15) incapacitou e venceu o maligno; (4) desta maneira, os poderes malignos são
reconciliados e restaurados ao seu lugar sob seu legítimo cabeça, pois tinham se
rebelado (Cl 2.10)48. O efeito da reconciliação para os demônios é serem feitos
subjugados ao senhorio supremo de Cristo. Somamos outras perguntas a fim de
esclarecer o assunto da reconciliação cósmica.
45
Ver 3.3 – argumento gramatical
46
Ver 3.1 – os vários argumentos.
47
Expressão empregada aqui para limitar o estudo e sua aplicação aos anjos maus.
48
MARTIN, Ralph., Colossenses – Introdução e Comentário, Edições Vida Nova, pp. 70,71
82
APLICAÇÃO
O apóstolo Pedro utiliza-se da reconciliação cósmica para animar seus leitores a
enfrentarem as dificuldades e as perseguições. Assim como Deus exaltou Jesus por
Sua obediência e Sua obra na cruz, assim Deus honrará os fiéis. O ponto que
sinaliza é o juízo de Deus. A vindicação aconteceu com Cristo e ela acontecerá com
a Igreja. Os leitores de Pedro poderiam se tranquilizar de que no reino de Deus não
49
Não penso que os anjos maus em sua forma espiritual possuíram as mulheres, mas, é possível, que tenham
possuído os corpos dos “filhos de Deus” – descendência de Sete, incitando-os à prostituição (Jd 7).
83
Posição Agostiniana:
Agostinho, bispo de Hipona, interpretou assim: "Os espíritos encarcerados na prisão
são os ímpios que viviam no tempo de Noé, cujos espíritos ou almas se achavam
presos na escuridão da ignorância, como em uma prisão; Cristo pregou a eles, não
na carne, pois ainda não se encarnara, mas no espírito, isto é, em sua natureza
divina" (Ad Evodiam, ep. 99).
Ênio Mueler
Jesus desceu ao inferno após sua ressurreição e proclamou aos demônios –
identificados como “os filhos de Deus” de Gn 6. Jesus anuncia sua vitória por meio
da morte e ressurreição.
50
Site: www. universocatolico.com.br
84
lá eles estavam quando o apóstolo escreveu: temos de aprender que era Cristo,
que existia na sua natureza divina antes de ser encarnado.”
John Piper:51
“Acredito que ele significa que, quando essas pessoas estavam vivas nos dias de
Noé, o Espírito de Cristo pregou a eles através da pregação de Noé; e agora eles
estão em prisão.”
“Assim, minha conclusão é que não existe nenhuma base textual para crer que
Cristo desceu ao inferno. De fato, ele disse ao ladrão sobre a cruz: “Em verdade te
digo que hoje estarás comigo no Paraíso”. Essa é a única pista que temos quanto
ao que Jesus estava fazendo entre a morte e a ressurreição. Ele disse, “Hoje – na
tarde dessa Sexta, após estarmos mortos – você e eu estaremos no Paraíso
juntos”. Não penso que o ladrão foi ao inferno e que o inferno seja chamado
Paraíso. Acredito que ele foi para o céu, e que Jesus estava ali com ele.”
Carlos O. Pinto52
(a) a expressão πνευματι acomoda tanto a ideia de um estado pré-encarnado de
vida quanto o conceito de Noé como o agente humano de tal proclamação; (b) a
descrição da audiência como τοις εν φυλακη πνευμασιν (tois en phulake
pneumasin) está de acordo com sua condição espiritual presente; (c) sua descrição
como απειθησασιν ποτε ... κιβωτου (apeithesasin pote ... kibotou) aponta mais
claramente para os contemporâneos humanos de Noé do que para anjos cujo
suposto relacionamento sexual com mulheres poderia ter acontecido séculos antes
da vida de Noé; (d) há um melhor paralelo contextual entre Noé como pregador,
passando por provações e sendo libertado, e os leitores de Pedro oferecendo uma
(apologian), passando por provações, e esperando libertação.
51
Artigo – Cristo desceu ao inferno? no site: www.monergismo.com
52
Apostila Teologia Bíblica do Novo Testamento, em fase de editoração para publicação – Foco em
desenvolvimento no Novo Testamento.
85
BIBLIOGRAFIA
ESBOÇO DETALHADO
1. Saudação – 1,2
2. Razão da carta – 3,4
3. Retrospectiva histórica da impiedade – 5 a 16
3.1 – Olhar o passado – v. 5 a 7
3.2 – Olhar o presente – v. 8 a 13
3.2.1 – As atitudes dos ímpios – v. 8
3.2.2 – A atitude do Arcanjo Miguel contraposta a dos ímpios. V.9
3.2.3 – Descrições das atitudes dos ímpios – v. 10,11
3.2.4 – Descrição do comportamento dos ímpios – v. 12,13
3.3 – Olhar o futuro – v. 14 a 16
4. Resistência contra os ímpios – 17 a 19
5. Recomendações aos santos – 20 a 23
5.1 – Perseverança na pureza – 20, 21
5.2 – Piedade no procedimento – 22,23
6. Adoração – 24, 25
Anatomia da apostasia – 5 a 16
Atitude ante a apostasia – 17 a 25
ANEXO 6 - ASELGEIA
Adaptado de: http://liberdadeepensar.blogspot.com/2007/10/lascvia-definio-
tradicional-aurlio.html#ixzz4rBzGmmIT
1. Aselgeia (ἀσέλγεια )
Definição tradicional (Aurélio)
Sensual, libidinoso, lúbrico; desregrado; luxúria.
Luxúria: Dissolução, corrupção, libertinagem, Incontinência.
Definição bíblica
Aselgeia (no grego) = denota excesso, licenciosidade, ausência de restrição, indecência,
libertinagem sexual, às vezes incluindo outros vícios.
Passagens bíblicas:
É um dos males que saem do coração do homem – Marcos 7.22;
É um dos males que Paulo fala que a igreja de Corinto pratica – 2ª Coríntios 12:21;
É classificado entre os pecados da carne – Gálatas 5.19;
É uma das coisas nas quais alguns descrentes (ímpios) transformaram a Graça de
Deus – 1ª Pedro 4:3 (traduzido como dissoluções) e Judas 4 (libertinagem);
É um dos pecados sobre os quais os crentes são avisados para não praticarem –
Romanos 13:13 (dissoluções);
É um caminho pernicioso – ruína ou perda física/mental/espiritual – 2ª Pedro 2:2
(libertinagem);
Envolve inclusive conversas dissolutas (anastrophe – conversações) – 2ª Pedro 2:7
(libertinagem).
Ler todo o texto de 2ª Pedro, capítulo 2. Este texto, em geral, fala sobre pessoas que viveram
uma vida imoral e as consequências punitivas que colheram para suas vidas.
89
Exemplos gerais
Na Igreja:
Infelizmente é comum vermos em algumas igrejas a manifestação deste pecado sem muitas
reservas. A lascívia apresenta-se nas pessoas que, levadas por sentimentos diversos, deixam-
se moldar pelos costumes comuns aos ímpios e lançam mão de roupas inadequadas aos
servos de Cristo.
É a moda que obriga as mulheres a usarem saias curtíssimas; calças justíssimas; fazerem uso
de vestidos curtos e decotes que expõem os seios e costas. É a sensualidade que se
manifesta com grande intensidade. “Portanto, usem o seu corpo para a glória dEle.” 1ª Co 6.12-
20 – Atente para as palavras de Werner de Boor: “Em Corinto existia a tendência de igualar a
vida sexual simplesmente ao ―alimentar-se‖. Ela é a satisfação de uma necessidade natural e,
por conseqüência, irrelevante para minha vida com Deus. Muito bem, diz Paulo, “os alimentos
para o estômago e o estômago para os alimentos”. Porém tenham em conta que “Deus
destruirá tanto estes como aquele”. Nessa esfera de fenômenos naturais, e por isso
passageiros, tudo pode transcorrer de forma natural. Contudo, a situação de nosso ―corpo‖ é
completamente diferente. Nosso ―corpo‖ faz parte de nossa ―pessoa‖; ele não é, como ―o
estômago‖, algo meramente natural e passageiro. Conseqüentemente, de forma alguma deixa
de ser importante o que fazemos com nosso corpo. Esse ―corpo‖ pertence ―ao Senhor‖ e
deve pertencer-lhe. “Porém o corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor,
para o corpo.” Por isso é coerente que não deva servir “à impureza”. “Agora pode ser feita a
clara solicitação: “Fugi da impureza!” Essa formulação é de grande significado prático. Diante
das tentações na área sexual Paulo não convoca para ―resistir‖, nem para ―lutar‖, nem para
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Qual o objetivo de estar na moda e usar roupas que não condiz com os ensinamentos do
Senhor Deus? Com certeza, despertar no próximo uma série de sentimentos “carnais”
perturbando-o, chamando para si as atenções e fazendo renascer nos corações a velha
natureza. Sobre esta questão é oportuno as palavras de Joel Beeke no site mulheres piedosas:
“Modéstia é um valor do Novo Testamento, tendo a ver com nossa conduta ou nossa escolha
de vestuário. Então, por exemplo, um bispo ou alguém mais velho deve ser “modesto” (1ª Tm
3:2) e as mulheres cristãs devem “se ataviar com modéstia e bom senso” (1ª Tm 2:9). Em
ambas as referências, o texto grego usa a mesma palavra, kosmios, derivada da palavra da
mesma família, cosmos, a qual é usada no Novo Testamento para “universo”. Assim como o
universo reflete a ordem e beleza do seu Criador, também os cristãos devem refletir o caráter
de seu Senhor e Salvador em sua conduta e vestimenta. Lideres de igrejas devem ser, de
acordo com várias traduções, “ordenados”, “controlados”, “corteses” e “dignos”. Simplificando,
eles devem andar assim como Jesus andou (1ª João 2:6). Em contraste com os estilos atuais,
mulheres cristãs escolhem vestir-se de modo simples e sensato, atentas para o fato de serem
seguidoras de Cristo e servas do Senhor. Nessas questões, assim como em todas as coisas, o
alvo é fazer tudo para a glória de Deus (1ª Co 10.31).
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Jeff Pollard, define modéstia como “autogoverno interior, enraizado em uma compreensão
adequada de si mesmo diante de Deus, o que se exibe exteriormente em humildade e pureza
vindas de um amor genuíno por Jesus Cristo, ao invés de se exibir em autoglorificação ou
autopromoção.”
Considere as perguntas de Beeke: (apesar de escritas para as mulheres, os homens devem
pensar nas perguntas, sim.)
1.Você está se vestindo modestamente por amor a Cristo?
2. Você está lembrando em sua vestimenta que, se você é crente, você é templo do
Espírito Santo?
3. Você está se vestindo para conseguir atenção de outras pessoas?
4. A sua vestimenta reflete o seu amor pelos outros?
5. Sua aparência exterior diminuiria o valor de sua aparência interior?
6. Você está honrando o seu pai com o que você tem vestido?
7. Estaria tudo bem se sua mãe usasse isto?
8. Você pode pedir a benção de Deus sobre o que você está vestindo?
9. Vocês, homens jovens, mostram pelo seu vestir e seu agir que vocês valorizam a
modéstia bíblica tanto em vocês quanto nas mulheres jovens?
10. Como suas roupas trazem glória a Deus?
No trabalho:
Se o temor a Deus não foi suficiente para coibir o uso de vestimentas inadequadas na igreja,
com certeza, no dia-a-dia, na rua, trabalho e nas obrigações sociais a situação torna-se mais
grave. Geralmente é preciso apresentar-se bem e quando o Espírito Santo não está no controle
(Gl 5.16,17), a carne manifesta-se com toda a sua força. Entra em cena todo um conjunto de
roupas e ações sensuais; algumas sentem satisfação em despertar no próximo a cobiça e
sentimentos baixos; alegram-se com “cantadas” e insinuações maliciosas feitas por colegas;
assemelham-se com os ímpios, impossibilitando visualizar o senhorio de Jesus Cristo na vida
(Romanos 13:14 ).
No lar:
A lascívia também encontra lugar nos lares, na intimidade dos casais, que levados por desejos
incomuns aos servos do Senhor, procuram fazer uso de diversas práticas mundanas que por
sua natureza imunda, entristece o Espírito Santo.
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“Vocês fazem parte do povo de Deus; portanto, qualquer tipo de imoralidade sexual, indecência
ou cobiça não pode ser nem mesmo assunto de conversa entre vocês.” (Ef 5.3)
“Em Ef 4.9 Paulo já havia indicado “toda sorte de impureza em cobiça” como característica dos
gentios separados de Deus. Também aqui ele descreve inicialmente as realizações de uma
vida determinada pelo pecado, para depois lembrar a ruptura que Cristo produziu nos
destinatários da carta (“outrora trevas – agora luz”: v. 8) e admoestar para que se conduzam de
forma equivalente “Devassidão” (grego: porneia) refere-se sobretudo ao relacionamento com
prostitutas (cf. At 15.20; Lv 19.29) e ao adultério (Mt 19.9), porém inclui, por extensão, toda
sorte de relações sexuais extraconjugais e até as perversões da sexualidade concedida por
Deus, mencionadas em Rm 1.24ss e 1ª Co 6.9. Visto que o corpo do cristão é um templo do
Espírito Santo, ele é requisitado para uso exclusivo de Cristo, o seu Senhor (1ª Co 6.13,19). Ao
mesmo tempo o corpo de cada crente é membro de Cristo (1ª Co 6.15), e por isso só pode ter
comunhão com Cristo, que é o cabeça do corpo. Os cristãos também romperam total e
definitivamente com a devassidão. Por exemplo, alguns coríntios tinham sido enleados por
esse pecado: “Mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o
nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1ª Co 6.11). A separação de tais
amarras deve ser preservada na vida do crente, pois o “conhecimento básico” da doutrina
cristã” inclui a consciência do fato que os injustos não herdarão o reino de Deus”. Aos “injustos”
pertencem, entre outros, os devassos, os idólatras, os adúlteros, os rapazes de programa, os
abusadores de rapazes, os ladrões, os avarentos (1ª Co 6.9s). Embora a “devassidão” tenha
sido colocada enfaticamente no começo, Paulo amplia a exortação para “toda sorte de
impureza”. Jesus emprega o termo em seu discurso de crítica aos fariseus e escribas, que ele
compara com sepulcros, belos por fora, porém “cheios de podridão” no interior (Mt 23.27). Na
mesma forma genérica Paulo fala da impureza à qual Deus entregou as pessoas (Rm 1.24), de
modo que seus membros servissem à impureza (Rm 6.19). Em Gl 5.19 o apóstolo menciona
entre as “obras da carne” igualmente a impureza e a “dissolução”. Cabe lembrar a formulação
em Ef 4.19: os gentios se “entregaram à dissolução para se ocupar de toda sorte de impureza
com avidez”. Também aqui Paulo cita a “ganância” diretamente ao lado da “devassidão” e
“impureza”, de forma que – como já em Ef 4.19 – a periculosidade da busca desenfreada por
satisfação sexual e por enriquecimento material são vistas em conjunto. Uma prática de vida
assim descrita, à qual os ímpios “se renderam obtusamente”, não deve nem mesmo servir de
assunto para conversas ou reflexão no seio da igreja. A libertação dos vícios do “velho ser
humano” acontecida por meio de Cristo (cf. 1ª Co 6.11) também diz respeito a pensamentos e
palavras, motivo pelo qual também é reforçada pela exortação. Visto que a contaminação do
ser humano vem do coração (entre outros, com maus pensamentos, adultério, devassidão,
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roubo) (Mt 15.19), a renovação do coração (cf. 2ª Co 4.6) também precisa ter conseqüências
nos pensamentos e no linguajar da igreja”. (Eberhard Hahn, Comentário Esperança)
“Que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo
de concupiscência, como os gentios que não conhecem a Deus.” (1ª Ts 4.4,5)
Veja o comentário de Werner de Boor: “Pois esta é a vontade de Deus, vossa santificação.”
Também aqui precisamos levar em conta que “vontade” é mais que a nossa “intenção”, a qual
enfeitamos com a palavra “vontade”. A “vontade de Deus” – é com ela que nossa “santificação”
se torna um alvo imprescindível e necessário. No entanto, ficamos quase consternados ao
notar que essa “santificação” não se refere a nada “grandioso”, nem a nada especial, mas
“simplesmente” a “que vos abstenhais da impureza”. “Santificação” é, portanto, uma questão
muito sóbria, muito prática, mas justamente por isso também muito necessária e, ainda assim,
também muito grandiosa. Nessa cidade portuária grega ela se refere singularmente à área de
nossa vida que também hoje, como em todos os tempos, representa um campo de batalha de
cunho especial: nossa vida sexual. No mundo helenista daquele tempo, as relações sexuais
“na paixão da lascívia” (v. 5) eram um “direito” óbvio do homem. Por que, afinal, “os povos que
desconhecem a Deus” deveriam se privar de algo que nossas pulsões demandam e que é
capaz de propiciar à vida uma plenitude tão colorida? Mas – acontece que os tessalonicenses
não pertencem mais a esses “povos”. Conhecem a Deus e sabem que a vontade séria e
incondicional de Deus é sua santificação. Para a vida sexual isso significa “que cada um de vós
saiba conquistar seu próprio utensílio em santificação e honra” (v. 4)... E mais ainda diz: “O
paralelo mais próximo da presente passagem seria, nesse caso, 1ª Co 7.2. Tanto lá como cá o
olhar de Paulo não se dirige diretamente aos valores intrínsecos do matrimônio e da família,
como esperamos a partir do pensamento moderno. Pelo contrário, o poder da pulsão sexual,
que ameaça levar à “impureza”, i. é, para a satisfação indisciplinada e degradante, é visto de
forma muito sóbria. A liberdade plena dele não é “dom” de cada um (1ª Co 7.7). Por isso “cada
um deve ter sua própria esposa” (1ª Co 7.2), “cada um conquistar sua própria mulher”. Indo
além de 1ª Co 7, a presente passagem estaria trazendo uma palavra fundamental acerca de
como deve ser constituído um verdadeiro matrimônio: “em santificação e honra, não em paixão
de lascívia.” O matrimônio como tal, como mera instituição, não nos protege contra a violência
indomada da pulsão. Quantos casamentos acontecem na “paixão da lascívia”, contendo por
isso de antemão o gérmen da desgraça e da aflição matrimonial, porque o cônjuge não é
valorizado e amado como “tu”, como pessoa, mas foi tomado apenas como objeto da
satisfação egoísta do prazer pessoal. O matrimônio na igreja de Jesus não deve ser construído
assim! O matrimônio não deve ser o espaço em que todas as paixões “gentílicas” pensam
poder extravasar-se com sanção estatal e eclesiástica. A própria “conquista” da mulher deve
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acontecer “em santificação e honra”. Em “santificação”: afinal, são pessoas “santas” que
celebram uma aliança entre si aqui. Em “honra”: cada um precisa ver e respeitar o outro como
filho de Deus redimido, herdeiro de glória eterna. Aqui se torna concreto o “andar de modo
digno do chamado”.
Hebreus 13.4 fala da santidade no leito matrimonial. “Quando o matrimônio é violado por
prostituição e adultério, o mandamento e a ordem de Deus são transgredidos (Gn 1,2). O
apóstolo sabe que a decadência moral e a incontinência sexual do mundo não cristão ao redor
procuram penetrar também nas fileiras da igreja (cf. 1Co 5.1). Por isto ele adverte
enfaticamente contra as transgressões morais: Digno de honra entre todos seja o matrimônio,
bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros. Ele sabe quanto
pecado acontece às escondidas, que jamais será investigado por um tribunal humano. Deus,
porém, tem o poder de julgar também sobre os pecados ocultos, e o fará no seu dia.” (Fritz
Laubach, Comentário Esperança)
É inconcebível que o nosso agir apague o Espírito de Deus em nossa vida, porém, entre as
“quatro paredes” muitos têm feito uso de fetiches, tais como: filmes pornôs; revistas de sexo;
novelas eróticas; objetos; com o objetivo de despertar e satisfazer o desejo sexual, de forma
antinatural.
Exemplo prático
Uma das palavras mais populares do vocabulário dos jovens e adolescentes é amor. Poucos,
porém deles realmente sabem o que é amor de verdade. Muitos confundem amor com lascívia,
desejo, cobiça. Amor é de Deus - lascívia é do diabo. O amor liberta - a lascívia lhe prende na
armadilha.
Adolescentes cheios de lascívia e desejo têm produzido contextos que chocam qualquer senso
de decência. Uma onda de promiscuidade sexual varre o país e o mundo. Os jovens
conversam abertamente sobre viverem juntos sem estarem casados, anticoncepcionais,
gravidez, fornicação vergonhosa. As doenças venéreas estão atingindo milhares de
adolescentes. As escolas estão alarmadas. Os pastores se preocupam. Os pais estão
horrorizados. Os adolescentes estão sendo lançados numa órbita de luxúria e de paixões
abomináveis e implacáveis.
Ler 2º Samuel 13 – Amonn e Tamar. Também é a história de um número incontável de
adolescentes por todo lado. A Bíblia diz: "Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando
esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o
pecado, uma vez consumado, gera a morte" (Tiago 1:14-15). A cobiça produz a morte!
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Entenda - você sabe o resultado do jogo. A rota da cobiça, da lascívia - é a rota do inferno. E o
inferno é a armadilha final do diabo! A atitude moderna em relação ao pecado não é nova em
absoluto. Satanás enlaçou Eva com as mesmas mentiras que usa para prender na armadilha
os adolescentes de hoje. Uma mesma rota sempre leva ao mesmo final. Flertar com o pecado
sempre o levará àquele ponto onde você se verá subjugado por ele, incapaz de dar um jeito.
Quando o jovem tenta se livrar das leis de Deus, ele acaba pego na armadilha pelo diabo.
O mais triste de Tamar é que ela só buscava o amor - todo adolescente o busca. E os que
buscam o amor nos pecados e prazeres da satisfação própria, cairão na armadilha exatamente
como ela caiu.
Relação com outros pecados:
Quando a Bíblia fala na lascívia, ela está envolvida em um número muito grande de outros
males, tão ruins quanto a própria lascívia.
Mc 7.22
Gálatas 5.19-21
1 Pe 4.3
Algumas destas palavras dizem mais do que uma leitura rápida destas passagens diz.
Vejamos:
Imundícia (impureza física ou moral)- akatharsia
Imoralidade – (incluindo adultério, incesto e fornicação) – porneia
Bebedeiras –(intoxicações em geral, não somente o álcool) - méthai
Emulações – (ciúmes, inveja) – zélos
Dissensões – (divisões) – dichostasía
Concupiscência – (desejo, paixão pelo que é proibido) - epithumía
Glutonaria – também significa (orgia e descontrole) – o que acompanha e é
consequência da embriaguez - kómos
Idolatria – (adoração à imagem ou ídolo pode ser literal ou figurativamente) - eidololatría
Feitiçaria – (medicação mágica por extensão) - farmakeía
Entende-se desta maneira o homem que está possuído por seu pecado e tem perdido a
capacidade de envergonhar-se por seus atos impuros, sendo que não lhe importa o que as
pessoas em geral pensam a seu respeito.
O pecado da maioria das pessoas é realizado às ocultas. Quem desenvolve “aselgeia” torna-o
público. Atores e atrizes de pornografia; pessoas que se prostituem e pessoas que assumem
sua homossexualidade são “aselgeias”. Pessoas que se entregam ao vicio do álcool, drogas
são “aselgeias”, pois se vê que perderam a vergonha e não se importam em chocar a
comunidade ao redor com seu comportamento. Aqueles que não praticam alguns dos pecados
relacionados, mas apoiam as que praticam são “aselgeias”.