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São Paulo
2018
João Paulo Veloso Matos. Nº 8976111
Noturno.
São Paulo
2018
Introdução
O papel dos mitos românticos tinha como uma das funções criar uma
identidade nacional. A matéria medieval foi adotada por muitos poetas e
romancistas europeus para servir de chão para tais novos mitos, das novas [velhas]
origens dos povos. A matéria medieval era usada como oposição a matéria
greco-latina do classicismo, além disso, também houve uma apropriação das formas
medievais, tanto na lírica, como na prosa. Georg Lukács mostra como o romance
tem uma de suas origens na literatura medieval, sendo uma dissolução da épica.3
Romantismo no Brasil
1
ROSENFELD, Anatol; Guinsburg, Jacó. “Romantismo e classicismo” in In Guinsburg, Jacó (org.). O
Romantismo. São Paulo : Perspectiva. 2008. 4ªed. p. 261
2
NUNES, Benedito. “A Visão Romântica”. In Guinsburg, Jacó (org.). O Romantismo. São Paulo :
Perspectiva. 2008. 4ªed. p.59
3
LUKÁCS, Georg. “O Romance como epopéia burguesa” in Ensaios Ad Hominem - N. 1, Tomo II:
Música e Literatura. São Paulo: Estudos e Edições Ad Hominem. 1999 pp. 87-136
“Quanto aos traços que é possível considerar mais característicos,
destaca-se obviamente, como vimos, o nacionalismo, transformação do
nativismo que vinha do começo do século XVIII e talvez tenha significado
mais político do que estético, porque foi um desígnio correlativo ao
sentimento de independência. No limite, o seu pressuposto de originalidade
nacional era ilusório, porque implicava um estado imaginário de separação
no conjunto das literaturas ocidentais, às quais a brasileira pertence
organicamente e das quais não pode ser destacada. Às vezes o
nacionalismo exaltado daquele período (mais teórico do que prático)
parece a clássica rejeição dos pais pelos filhos no momento da
adolescência, – os pais sendo no caso os portugueses.”4
4
CANDIDO, Antonio. O romantismo no Brasil. São Paulo : Humanitas / FFLCH. 2002. pp. 87-88.
Grifos meus.
5
MAZZEO, Antonio Carlos. Estado e Burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. São
Paulo: Boitempo. 2015. 3ªed
6
Leia-se “conciliatória” e cooptada, diferente da burguesia que conduziu os processos da revolução
burguesa na Europa.
7
MAZZEO, Antonio Carlos. Estado e Burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. São
Paulo: Boitempo. 2015. 3ªed. p.132
modernização-subalternizada do capitalismo brasileiro, em relação ao
conjunto societal burguês”8
8
MAZZEO, Antonio Carlos. Estado e Burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. São
Paulo: Boitempo. 2015. 3ªed. p.132
9
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. 2ª ed. São Paulo:
Ciências Humanas. 1979. p. 33
“Era uma onça enorme; de garras apoiadas sobre um grosso ramo
de árvore, e pés suspensos no galho superior, encolhia o corpo,
preparando o salto gigantesco.
Batia os flancos com a larga cauda, e movia a cabeça monstruosa,
como procurando uma aberta entre a folhagem para arremessar o pulo;
uma espécie de riso sardônico e feroz contraía-lhe as negras mandíbulas,
e mostrava a linha de dentes amarelos; as ventas dilatadas aspiravam
fortemente, e pareciam deleitar-se já com o odor do sangue da vítima.”10
10
ALENCAR, José de. O Guaraní. São Paulo: Ed. Círculo do Livro. [19??]. p.28. Grifos meus
11
ALENCAR, José de. O Guaraní. São Paulo: Ed. Círculo do Livro. [19??]. p.28. Grifos meus.
“civilizado”, mas o rei da floresta, ou seja, esse herói atinge o ideal romântico da
pureza na e da natureza. É um rei na ordem natural.
Essa cena tem a função de introduzir certas características atribuídas pelos
europeus aos indígenas, como uma maior proximidade ao estado natural do homem
do que teriam os Europeus, os homens “civilizados”. Com essa aproximação entre
homem e natureza, há também uma animalização — em certo grau — do herói e,
consequentemente, dos indígenas de um modo geral. Além disso a cena de luta
entre homem e fera é um topos dos livros de cavalaria. Peri derrota a onça numa
luta corporal, cena que remete muitos enfrentamentos de feras, como o seguinte,
presente no livro de cavalaria “Amadís de Gaula”:
“— Sei o que queres dizer; não partilho essas idéias que vogam
entre os meus companheiros; para mim, os índios quando nos atacam, são
inimigos que devemos combater, mas são homens!”13
Essa fala de dom Antônio Mariz está num contexto em que se discutia o
assassinato de uma índia Aimoré cometida por dom Diogo, filho de dom Antônio. Tal
12
MONTALVO, Garci Rodríguez de. Amadís de Gaula. Editado por Juan Manuel Cacho Blecua.
Madrid: Ediciones Cátedra, S. A., 1996. 3ª ed. p. 229
13
ALENCAR, José de. O Guaraní. São Paulo: Ed. Círculo do Livro, [19??]. p. 39.
ato traz uma série de consequências na narrativa — a principal delas, o cerco da
casa de dom Antônio pelos Aimorés —, sendo retomado em analepse no capítulo
XIV da primeira parte, que mostra a cena sendo testemunhada por Peri. O
assassinato acidental é categorizado como “capricho de caçador”. Nesse momento,
o narrador assume parcialmente o ponto de vista de Peri:
A Conjunção mítica
14
ALENCAR, José de. O Guaraní. São Paulo: Ed. Círculo do Livro. [19??]. p. 81. Grifos meus
15
ALENCAR, José de. O Guaraní. São Paulo: Ed. Círculo do Livro. [19??]. p. 81-82
cantigas de amor e dos livros de cavalaria, se assemelhando a relação de suserania
e ao culto católico de santas:
17
A obra citada por Firin é “CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira (momentos
decisivos). 2.ª ed. São Paulo: Martins, v. II, 1964.”
18
FIORIN, José Luiz. “Língua portuguesa, identidade nacional e lusofonia.” in Confluência[ S.l: s.n.],
2008. pp. 56-59
Referências bibliográficas
ALENCAR, José de. O Guaraní. São Paulo: Ed. Círculo do Livro. 19??
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. 2ª ed.
São Paulo: Ciências Humanas. 1979
MONTALVO, Garci Rodríguez de. Amadís de Gaula. Editado por Juan Manuel
Cacho Blecua. Madrid: Ediciones Cátedra, S. A., 1996. 3ª ed.
NUNES, Benedito. “A Visão Romântica”. In Guinsburg, Jacó (org.). O Romantismo.
São Paulo : Perspectiva. 2008. 4ªed. pp. 51-75