Você está na página 1de 14

Prática 1 - Determinação do Coeficiente de

Transferência de Calor por Convecção Natural


e Forçada

ENG 1819 - LAB DE ENGENHARIA QUÍMICA I - 3VA

Professora: Cecília Vilani

Integrantes:

Bruna Camargo - 1512422


Isabela Chiara - 1611273
Mariana Camacho - 1520759
Raíssa Quintela - 1611961

Rio de Janeiro, 9 de Abril de 2021

1. INTRODUÇÃO
Transferência de calor pode ser definida como energia térmica em trânsito
através da interação de determinado sistema com a sua vizinhança em função de
um gradiente de temperatura. Essa transferência pode ocorrer de três diferentes
formas ou modos: por condução, relacionada a um meio estacionário sólido ou
fluido; convecção, relacionada a um meio transiente em que a transferência ocorre
entre uma superfície e um fluido adjacente; e radiação térmica, que dispensa a
necessidade de matéria para a transferência de calor, ocorrendo na ausência de um
meio interposto. [1, 2]
Em um dado sistema, porém, pode haver a ocorrência de mais de um modo
de transferência, como a condução de calor no interior do corpo e a convecção
entre a superfície do corpo e o fluido adjacente. Portanto, para a análise
termodinâmica, é necessária a determinação da relevância de um modo de
transferência em relação ao outro, a qual pode ser avaliada a partir do número de
Biot que consiste em um parâmetro adimensional onde,

h . Lc
Bi= (Equação 1)
k

sendo h o coeficiente de transferência de calor por convecção; Lc o

V
comprimento característico do corpo a ser avaliado ( Lc = ); e k a condutividade
As
térmica do material.
Para o caso em que a convecção se torne mais relevante que a condução,
deve haver uma transferência de calor muito rápida no interior do corpo em
comparação com a transferência entre a superfície e o fluido, o que é denotado,
consequentemente, por um número de Biot pequeno ( Bi <0,1) uma vez que este
pode ser interpretado como a razão entre as resistências de condução e convecção.
Lc
R t ,condução A . k h . L c
Bi= = =
Rt , convecção 1 k
A .h
Considerando, então, que a transferência de calor por convecção é mais
relevante, tendo sido confirmado pequeno o número de Biot, o balanço de energia
para um corpo qualquer inserido em um meio de maior temperatura pode ser
descrito por
dU
=q convectivo
dt
onde o calor recebido por convecção deve ser equivalente ao aumento de
energia interna do corpo em questão ao longo do tempo.
Sendo o calor convectivo q=h . A s . ΔT =h. A s .(T ∞ −T ) e a energia interna à
pressão constante U =m. C p . ΔT tem-se que:
d [ m.C p . ΔT ]
=h . A s .(T ∞−T )
dt
Considerando a massa m e a capacidade calorífica C p constantes em
determinada faixa de temperatura avaliada a equação pode ser reescrita de modo
que a única variável será a temperatura em função do tempo.
dT
m .C p . =h . A s . (T ∞ −T )
dt
Tido que a massa pode ser expressa em função da densidade e do volume,
obtemos uma equação geral de balanço térmico para um corpo qualquer de volume
V e área superficial A.
dT
𝜌 . V . C p. =h . A s .(T ∞−T )
dt
Em função do comprimento característico,
dT
𝜌 . Lc . Cp . =h .(T ∞−T )
dt
Integrando, então, de uma temperatura inicial T 0a uma temperatura final T

T −T ∞
ln ( =) −h
T 0−T ∞ 𝜌 . Lc . C p
.t (Equação 2)

T −T ∞
que pode ser interpretada como uma função linear de ln ( T 0−T ∞ ) variando em

h
função de t onde o coeficiente angular seria , possibilitando a obtenção do
𝜌 . Lc .C p
coeficiente de transferência de calor por convecção de posse dos dados de variação
da temperatura em função do tempo.
Para o caso de um corpo de geometria cilíndrica, V =𝜋 . R2 . H e

A s=2. 𝜋 . R2 +2. 𝜋 . R . H , o comprimento característico

V 𝜋 . R2. H R
Lc = = = .
A s 2. 𝜋 . R2+ 2. 𝜋 . R . H 2( R/ H +1)
O coeficiente h também pode ser determinado por análise dimensional, na
qual utilizam-se parâmetros significativos para a transferência de calor por
convecção como o número de Prandtl Pr, o número de Reynolds ℜ, o número de
Nusselt Nu e o número de Grashof Gr onde
v Cp . μ
Pr= =
α k❑

𝜌. V . D
ℜ=
μ

h.D
Nu=
k

β . g . D 3 . ρ 2 .(T s −T ❑)
Gr=
μ2
Assim, uma vez que o número de Nusselt é função do coeficiente de
transferência por convecção, sendo os números de Prandtl, de Reynolds e de
Grashof calculados, é possível obter h.
Para o caso em que a convecção ocorre de maneira forçada, ou seja,
influenciada por agentes externos como um agitador, o valor de Nusselt será função
do número de Reynolds e de Prandtl, a qual varia de acordo com o tipo de
escoamento (laminar ou turbulento, interno ou externo) e da geometria do corpo.

Nu=f 1 (ℜ, Pr)

Já para a convecção natural, em que o movimento é resultado das diferenças


de densidade resultantes da troca de energia, independente de ações externas, o
número de Nusselt é função dos números de Grashof e de Prandtl, também
dependente da geometria do corpo.
Nu=f 2 (Gr , Pr)

Para um cilindro horizontal, em se tratando de convecção natural, a função


de Nusselt pode ser obtida pela correlação de Morgan [2] que sugere que
Nu=C . Ran (Equação 3)

onde Ra se refere ao número de Rayleigh, relacionado ao número de


Grashof multiplicado pelo número de Prandtl como exposto na equação 4;

β . g . D 3 . ρ❑ .(T s −T ❑ )
Ra=Gr . Pr= (Equação 4)
μ❑ . α
sendo,

β F =coeficiente de expansão térmicado fluido[1/k]


D=diâmetro do cilindro
μ F=viscosidade do fluido [ Pa. s ]

ρ F=densidade do fluido [kg /m3 ]


α F =difusividade térmica do fluido
g=aceleração da gravidade

e C e n são constantes especificadas em função do número de Rayleigh a


partir da Tabela 01.

Tabela 01: Valores das constantes C e n da Equação 3 [2]

2. OBJETIVOS
Essa prática tem como objetivo determinar as mudanças de temperaturas
transientes de um sólido imerso em um fluido de troca térmica (água ionizada). A
partir dos dados experimentais, estima-se os coeficientes de transferência de calor
por convecção natural e forçada. Por último, compara-se os resultados obtidos com
as correlações propostas na literatura para a condição de convecção natural.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

3.1. Materiais utilizados

● Cilindro de aço inox


● Paquímetro
● Termopar
● Suporte metálico
● Isopor
● Gelo
● Béquer
● Água ionizada
● Termômetro
● Cronômetro
● Agitador magnético
● Barra magnética

3.2. Metodologia

Primeiramente determina-se o diâmetro e a altura do cilindro utilizando um


paquímetro. Em seguida, o cilindro é mantido em banho de gelo em um recipiente
de isopor, que atua como isolante térmico, até que a temperatura do corpo sólido se
estabilize entre 0 e 1 °C. Para a leitura da temperatura ao decorrer do tempo utiliza-
se um termopar.
Efetua-se a leitura da temperatura ambiente e do fluido de troca térmica e
anota-se os dados, sendo esses 23 e 22,5°C, respectivamente.
Após a estabilização da temperatura, o cilindro é levado a um béquer
contendo 400 mL de água ionizada, fluido de troca térmica. Registra-se a
temperatura do sólido ao longo do tempo, até que a temperatura se estabilize
próximo a temperatura do fluido, desse modo é possível determinar o coeficiente de
transferência de calor por convecção natural.
Para determinação do coeficiente de transferência forçada, repete-se os
passos anteriores, porém adiciona-se uma barra magnética ao béquer contendo o
fluido e liga-se o agitador magnético. O experimento é realizado em três velocidades
de agitação diferentes.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para o cálculo do coeficiente de convecção h experimental foram utilizados


os dados de variação de temperatura da superfície da amostra ao longo do tempo
sem e com agitação (convecção forçada) que podem ser vistos abaixo.

Tabela 02: Dados para Convecção Natural


Tabela 03: Dados para Convecção Forçada com velocidade 1.

Tabela 04: Dados para Convecção Forçada com velocidade 2.

Tabela 05: Dados para Convecção Forçada com velocidade 3.

Observando os dados é possível perceber que, conforme a agitação


aumenta, ocorre uma redução no tempo para que a amostra alcance a temperatura
de 22 °C pois a taxa de transferência de calor aumenta conforme a velocidade.
Além disso, comparando-se as convecções natural e forçada, a natural tende
a ter uma taxa de transferência de calor menor, o que é comprovado pelo
experimento. Como já previsto na teoria, o aumento na velocidade do fluido causa
um aumento na taxa de transferência de calor por convecção.
Ao tratarmos o cálculo do coeficiente de convecção experimental,
inicialmente foram traçados os gráficos com base na equação (2) para cada um dos
quatro casos estudados. A partir dela é possível obter um gráfico linear onde o
coeficiente convectivo h é obtido a partir da equação da reta e de seu coeficiente
angular correspondente.

−h
𝜌 . Lc .C p
= Coeficiente angular

Gráfico 01: Convecção Natural.

Gráfico 02: Convecção Forçada com velocidade 1.


Gráfico 03: Convecção Forçada com velocidade 2.

Gráfico 04: Convecção Forçada com velocidade 3.

De posse dos coeficientes angulares, foram considerados os seguintes dados


para o cálculo deh:
- O comprimento característico para uma superfície cilíndrica
R
Lc = onde R = 0,008 m e H = 0,0149 m
2(R/ H +1)
- A densidade de um aço inox igual a 8000 kg/m3
- A capacidade calorífica do aço inox 310 de 502,08 J/Kg.C
Tabela 06: Valores obtidos experimentalmente para h.

Calculando agora o valor teórico de h para a convecção natural, é preciso


calcular os valores de Ra e Nu de acordo com as equações já apresentadas.

Para a água pura a 20 °C, tem-se os seguintes parâmetros:

Tabela 07: Parâmetros característicos da água a 20 °C.

Tendo sido calculado o valor de Ra por meio da equação (4) verifica-se na


tabela 1 os valores de C e n, de acordo com o método de Morgan. A partir destes
parâmetros, é possível calcular Nu por meio da equação (3). Com isso, o valor do h

h.D
teórico é calculado explicitando este valor a partir da equação Nu= . Obteve-se
k

W
então hteórico =310,57 e erro experimental de, aproximadamente, 138,5 %, de
m2 . K
acordo com o cálculo abaixo.
Tabela 08: Valor teórico de h e erro.

|valor teórico−valor experimental|


erro= =138,5 %
valor teórico

Dando continuidade à discussão de resultados, é necessário abordar sobre a


validação do método. A equação (2) utilizada para determinar h no procedimento
experimental utiliza como argumento base o fato de que a transferência de calor por
convecção é mais relevante, ou seja, Bi <0,1. Desta forma, a fim de validar o método
é necessário calcular o número de Biot. Considerando a condutividade térmica k do
aço inoxidável a 293 K sendo igual a 16 W/m.K teremos:

Tabela 09: Cálculo dos números de Biot.

Espera-se que, para que seja possível o uso deste método para o cálculo de
h, os valores encontrados para o número de Biot sejam menores que 0,1, o que não
ocorreu neste experimento. O número de Biot, como já foi abordado anteriormente,
é a razão entre o coeficiente de transferência convectiva e a condutância do sólido.
Desta forma, quando a condutância do sólido é muito maior que o coeficiente de
transferência convectiva, este parâmetro será menor que 0,1 e por isso
consideramos que a temperatura do sólido é uniforme uma vez que a transferência
de calor em seu interior deve ocorrer rapidamente. Como os valores de h foram
maiores que 0,1 é possível dizer que, na verdade, não podemos considerar que a
temperatura é uniforme em todo o sólido, ou seja, existe um gradiente de
temperatura envolvido no cilindro.

5. CONCLUSÃO

A partir dos valores fornecidos de variação de temperatura em função do


tempo, foi possível formular os gráficos e obter seus respectivos coeficientes
angulares. Dessa forma, o coeficiente convectivo h foi calculado nas quatro
situações avaliadas, sendo elas a convecção natural e as convecções forçadas com

W W W
velocidades 1, 2 e 3, obtendo-se os valores 740,6 2 , 939,4 2 , 1353,6 2 ,
m .K m .K m .K

W
1440,5 , respectivamente.
m2 . K
Para fins comparativos, foi feito também o cálculo do coeficiente teórico para

W
convecção natural, tendo sido obtido hteórico =310,57 a partir da correlação de
m2 . K
Morgan, caracterizando um erro experimental de 138,5%. Esse erro elevado pode
ser devido à correlação utilizada partir da consideração de que o cilindro é horizontal
para simplificação do equacionamento, ou seja, que o diâmetro é mais significativo,
sendo que, apesar de o diâmetro do cilindro utilizado ser maior do que a altura, os
valores não são tão discrepantes de modo que a troca térmica na superfície lateral
não poderia ser desprezada.
Para compreender melhor este valor encontrado, foram calculados os números
de Biot. Na hipótese utilizada, Biot deveria ser menor que 0,1 uma vez que deseja-
se que a convecção seja mais significativa do que a condução. A partir dos cálculos,
os valores obtidos foram de 0,12; 0,15; 0,22; 0,23 para as convecções natural e
forçada com velocidades 1, 2 e 3, respectivamente. Desta forma, como os números
de Biot calculados foram maiores do que 0,1, pode-se concluir que a temperatura no
interior do cilindro não varia uniformemente e, consequentemente, a troca de calor
por condução, não ocorre tão rapidamente quanto esperado. Isso explica o valor de
138,5% de erro encontrado.

6. REFERÊNCIAS

[1] INCROPERA, F.P.; DEWITT, D.P. Fundamentos de Transferência


de Calor e de Massa, 3a edição, LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora
S. A., R. J. 1990.
[2] WELTY, J. R.; Rorrer, G. L.; Foster, D. G. Fundamentos de
Transferência de Momento, de Calor e de Massa, 6a edição, LTC gen.
Editora. 2017.

[3] The Engineering ToolBox; Disponível em:


<https://www.engineeringtoolbox.com/>

Você também pode gostar