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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

Fenômenos de Transporte 2
Mecanismos de Transferência de Calor

Prof. Raniere Henrique P. Lira


raniere.lira@delmiro.ufal.br

Mecanismos de Transferência de Calor

É importante que entendamos os mecanismos físicos que fundamentam


os modos de transferência de calor e que sejamos capazes de usar as
equações das taxas que determinam a quantidade de energia sendo
transferida por unidade de tempo.

A transferência de calor pode ocorrer de 3 modos distintos:


 Condução;
 Convecção;
 Radiação.

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 Condução
A condução pode ser vista como a transferência de energia das
partículas mais energéticas para as menos energéticas de uma
substância devido às interações entre partículas.

Temperaturas mais altas, estão


associadas às energias moleculares
mais altas e quando moléculas
vizinhas se chocam, ocorre uma
transferência de energia das
moléculas mais energéticas para as
menos energéticas.

Figura 1: Associação da transferência de calor por condução à difusão


de energia devido à atividade molecular.

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 Condução
É possível quantificar processos de transferência de calor em termos de
equações de taxas apropriadas.
Essas equações podem ser usadas para calcular a quantidade de
energia sendo transferida por unidade de tempo.
Existindo um gradiente de temperatura em um meio homogêneo, o calor
fluirá da região de temperatura mais alta para a de temperatura mais
baixa.
Para a condução de calor, a equação é conhecida como Lei de Fourier.
dT
q "x   k
dx
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 Condução
O fluxo térmico q”x (W/m2) é a taxa de transferência de calor na direção x
por unidade de área perpendicular à direção da transferência e é
proporcional ao gradiente de temperatura dT/dx.

dT T2  T1
q "x   q "x   k
dx L

A constante de proporcionalidade k é uma


propriedade de transporte conhecida
como condutividade térmica (W/m.K).

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 Condução

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 Condução
A Lei de Fourier fornece um fluxo térmico q”x (W/m2):

T1  T2 T
q "x  k k
L L
A taxa de transferência de calor por condução qx (W), através de uma
parede plana com área A, é então:

T2  T1
q x   kA
L

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 Condução
Exemplo 1: A parede da fornalha de uma caldeira é construída de tijolos
refratários com 0,20 m de espessura e condutividade térmica de
1,3 W/mK. A temperatura da parede interna é de 1127oC e a temperatura
da parede externa é de 827oC. Determinar a taxa de calor perdido
através de uma parede com 1,8 m por 2,0 m.

W
1,3 .3,6m 2 .(1400  1100) K
T1  T2 mK
q x  kA  qx 
L 0,2m

q x  7020 W
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 Convecção
O transporte de calor por convecção abrange dois mecanismos. Além da
transferência de energia devido ao movimento molecular aleatório
(difusão), a energia também é transferida através do movimento global
do fluido.
Camada limite
Quando um fluido a determinada hidrodinâmica Camada limite
térmica
temperatura escoa sobre uma
superfície sólida a temperatura
diferente, ocorrerá transferência de
calor entre o fluido e a superfície
sólida, como consequência do
movimento do fluido em relação a
superfície.
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 Convecção
A convecção pode ser natural ou forçada.
 Convecção Forçada – O movimento ocorre devido a um mecanismo
externo.
 Convecção Natural – O movimento ocorre devido a diferença de
densidade.

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 Convecção
Há processos de convecção nos quais existe também a troca de calor
latente (ebulição e condensação).

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 Convecção
O fluxo de calor por convecção q” (W/m2), é proporcional à diferença de
temperatura da superfície e do fluido, Ts e T ͚ , é dado por:

q "  hTs  T 
Essa expressão é conhecida como a Lei do Resfriamento de Newton, e
o parâmetro h (W/m2.K) é chamado de coeficiente de transferência de
calor por convecção.

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 Convecção
O coeficiente de transferência de calor h depende de propriedades
físicas do fluido, da velocidade do fluido, do tipo de escoamento, da
geometria, propriedades termodinâmicas, etc.

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 Convecção
Exemplo 2: O ar a uma temperatura de Tar = 25oC escoa sobre uma
placa lisa mantida a Ts = 150oC. O coeficiente de transferência de calor
por convecção é de 80 W/m2K. Determinar a taxa de calor considerando
que a placa possui área de A = 1,5 m2.

q"  h(Ts  T ) Como : q  q".A

W 2
q  hA(Ts  T )  q  80 2
. 1,5 m (423  298) K
m K

q  15kW
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 Radiação
A radiação térmica é a energia emitida pela matéria que se encontra a
uma temperatura não nula. Todos os corpos emitem energia devido a
sua temperatura.
A radiação não necessita de um meio físico para se propagar.
A energia se propaga por ondas eletromagnéticas ou por fótons.

E = Poder Emissivo
G = Irradiação

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 Radiação
A radiação que é emitida pela superfície tem sua origem na energia
térmica da matéria delimitada pela superfície e a taxa na qual a energia
é liberada por unidade de área (W/m2) é conhecida como
Poder Emissivo E.
En   Ts4
Essa expressão é conhecida como a Lei de Stefan-Boltzmann, onde Ts é
a temperatura absoluta (K) da superfície e σ é a constante de Stefan-
Boltzmann (σ = 5,67x10-8 W/m2.K4).
Tal superfície é chamada um radiador ideal ou corpo negro.

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 Radiação
O fluxo térmico emitido por uma superfície real é menor que aquele
emitido por um corpo negro à mesma temperatura e dado por:

E  Ts4
Onde ε é uma propriedade radiante da superfície conhecida por
emissividade, com valores na faixa de 0 ≤ ε ≤ 1.

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 Radiação
O fluxo de radiação que incide sobre uma área unitária de superfície é
chamado de Irradiação G (W/m2).
Uma parte, ou toda a irradiação, pode ser absorvida pela superfície.
A taxa na qual a energia térmica é absorvida por unidade de área, pode
ser calculada pela equação:
Gabs  G
Onde α é uma propriedade radiante da superfície conhecida por
absortividade, com valores na faixa de 0 ≤ α ≤ 1.

G  Tviz4
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 Radiação
Se a superfície for considerada uma superfície cinza (admitindo α = ε), a
taxa líquida de transferência de calor por radiação por unidade de
área é:
" q
qrad   E  Gabs  Ts4  Tviz4
A
"
qrad 
  Ts4  Tviz4 
Essa expressão fornece a diferença entre a energia térmica liberada
devido à emissão e aquela recebida devido à absorção de radiação.

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 Radiação
Podemos expressar a toca líquida de calor por radiação através de uma
expressão na forma de coeficiente de transferência de calor por
radiação:
q rad  hr ATs  Tviz 

Onde hr é o coeficiente de transferência de calor por radiação, dado por:


hr   Ts  Tviz  Ts2  Tviz2 

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 Radiação
Exemplo 3: Uma tubulação de vapor d’água sem isolamento térmico
atravessa uma sala cujas paredes encontram-se a 25oC. O diâmetro
externo do tubo é de 0,07 m e o comprimento de 3 m, sua temperatura é
de 200oC e sua emissividade igual a 0,8. Considerando a troca por
radiação entre o tubo e a sala semelhante a aquela entre uma superfície
pequena e um envoltório muito maior, determinar a taxa de calor perdida
por radiação pela superfície do tubo.


qrad  A Ts4  Tviz4    5,67 x10 8 W / m 2 K 4
W
qrad  0,8 . 5,67 x10 8 2 4
. .0,07.3m 2 (4734  298 4 ) K 4
m K
qrad  1261,9W
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 Mecanismos Combinados
As superfícies podem simultaneamente transferir calor por convecção e
radiação.
A taxa total de transferência de calor saindo da superfície é:

q  qconv  q rad  hA(Ts  T )  A Ts4  Tviz4 

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Exercício: Determine o calor perdido por uma pessoa, por unidade de
tempo, supondo que a sua superfície exterior se encontra a 29ºC, sendo
a emissividade de 0,95. A pessoa encontra-se numa sala cuja
temperatura ambiente é 20ºC sendo a área do seu corpo de 1,6 m2. O
coeficiente de transferência de calor entre a superfície exterior da
pessoa e o ar pode considerar-se igual a 6 W/m2K.

q perdido  qconv  q rad   5,67 x10 8 W / m 2 K 4


W
qconv  hA(Ts  T )  6 2
.1,6m 2 302  293K  qconv  86,4W
m K
W
 
q rad  A Ts4  Tviz4  0,95.5,67 x10 8 2 4
m K
 
.1,6m 2 302 4  2934 K 4  q rad  81,7W

q perdido  86,4W  81,7W  q perdido  168,1W  168,1 J


s
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Conservação de Energia
 Relação com a Termodinâmica
É importante observarmos as diferenças fundamentais entre a
termodinâmica e a transferência de calor.
Termodinâmica – voltada para as iterações envolvendo calor (primeira e
segunda lei), ela não considera nem os mecanismos que viabilizam a
transferência de calor nem os métodos que existem para calcular a taxa
de troca de calor.
Está interessada nos estados de equilíbrio da matéria, eliminando a
existência de um gradiente de temperatura, não leva em consideração
que a transferência de calor é por essência um processo de não-
equilíbrio.
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 Conservação de Energia
A primeira lei da Termodinâmica é uma ferramenta de grande utilidade
em problemas de transferência de calor. É simplesmente um enunciado
de que a energia total de um sistema é conservada.

tot
Eacu  Q W

Onde ∆Eacutot é a variação da energia total acumulada no sistema, Q é


calor transferido para o sistema e W é o trabalho efetuado pelo sistema.
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 Conservação de Energia
A primeira lei pode ser aplicada em um volume de controle (ou sistema
aberto), uma região do espaço delimitada por uma superfície de controle
através da qual a massa pode passar.

Primeira Lei da Termodinâmica durante um intervalo de tempo (∆t)


O aumento na quantidade de energia acumulada em um volume de
controle deve ser igual à quantidade de energia que entra no volume de
controle menos a quantidade de energia que deixa o volume de controle.

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 Conservação de Energia
Para o estudo da transferência de calor, deveremos ter atenção nas
formas de energia mecânica e térmica.
Devemos saber que a soma das energias térmica e mecânica não é
conservada, pois pode existir conversão entre outras formas de energia
e energia térmica, por exemplo uma reação química.
Assim podemos pensar na conservação de energia como resultado em
geração de energia térmica.
Dessa forma, um enunciado da primeira lei que é adequado par análise
da transferência de calor é:

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 Conservação de Energia
Equação das Energias Térmica e Mecânica em um instante (t)
A taxa de aumento da quantidade de energia térmica e mecânica
acumulada em um volume de controle deve ser igual à taxa na qual as
energias térmicas e mecânica entram no volume de controle, menos a
taxa na qual as energias térmica e mecânica deixam o volume de
controle, mais a taxa na qual a energia térmica é gerada no interior do
volume de controle.

E& acu  E& entra  E& sai  E& g

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 Balanço de energia em uma superfície
Com frequência vamos ter oportunidade de aplicar a exigência de
conservação de energia em uma superfície de um meio. Nesse caso, as
superfícies de controle estão localizadas em ambos os lados da fronteira
física e não envolvem massa ou volume.
A conservação da energia se torna:

E& entra  E& sai  0


As exigência de conservação vale tanto para condições de regime
estacionário como de regime transiente.

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 Balanço de energia em uma superfície


Na Figura são mostrados três termos da transferência de calor para a
superfície de controle.
O balanço de energia:
" " "
qcond  qconv  qrad 0
Expressando cada um dos termos
usando a equação de fluxo
apropriada:

Ti T s
k
L
 
 hTs T     Ts4  Tviz4  0
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Exemplo: Humanos são capazes de controlar suas taxas de produção
de calor e de perda de calor para manter aproximadamente constante
sua temperatura corporal de Tc = 37oC. Este processo á chamado de
termorregulação. Com a perspectiva de calcular a transferência de calor
entre o corpo humano e sua vizinhança, focamos em uma camada de
pele e gordura, com sua superfície externa exposta ao ambiente e sua
superfície interna a uma temperatura um pouco abaixo da temperatura
corporal, Ti = 35oC = 308 K. Considere uma pessoa com uma camada de
pele/gordura com espessura L = 3 mm e com condutividade térmica
efetiva k = 0,3 W/mK. A pessoa tem uma área superficial de 1,8 m2 e
está vestindo roupa de banho. A emissividade da pele é ε = 0,95.

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1. Estando a pessoa no ar em repouso a T ͚ = 297 K, qual é a


temperatura superficial da pele e a taxa de perda de calor para o
ambiente? A transferência de calor por convecção para o ar é
caracterizada por um coeficiente de convecção natural h = 2 W/m2K.
2. Estando a pessoa imersa em água a T ͚ = 297 K, qual é a temperatura
superficial da pele e a taxa de perda de calor? A transferência de
calor para a água é caracterizada por um coeficiente de convecção
h = 200 W/m2K.

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Considerações:
 Regime estacionário.
 Transferência de calor por condução unidimensional.
 Água líquida opaca para a radiação.
 Roupa de banho não afeta a perda de calor do corpo.
 Radiação solar desprezível.

1) Fazendo um balanço de energia p/ fluxo de calor na superfície da pele,


" " "
q cond  q conv  q rad 0
Ti  T
k
L
s

 h T s  T     T s4  T viz4  0 

Poderemos determinar Ts usando hr: h r   T s  T viz T s2  T viz2  
kT i
 ( h  h r )T 
k
Ti  T s 
 h T s  T    h r T s  T viz   0  T s  L 1 
L k
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 ( h  hr ) 33
L

 Calculando hr, método interativo:  


h r   T s  T viz T s2  T viz2 
σ = 5,67x10-8 W/m2.K4
p/ estimativa inicial: Ts = 305 K, T ͚ = Tviz = 297 K → hr = 5,9 W/m2K
Substituindo na eq. (1), temos:

0 , 3W / mK . 308 K
3
 ( 2  5 ,9 )W / m 2 K . 297 K
Ts  3 x10 m  Ts  307 , 2 K
0 ,3W / mK
3
 ( 2  5 ,9 )W / m 2 K
3 x10 m

 Recalculando hr e Ts:
p/ Ts = 307,2 K, T ͚ = Tviz = 297 K → hr = 5,9 W/m2K
Assumimos Ts = 307,2 K
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Logo, a taxa de calor perdido no ar pode ser determinada através da camada
pele/gordura.
Ti  T s 0 ,3W / mK .1,8 m 2 .( 308  307 , 2 ) K
q s  kA   q s  144W
L 3 x10  3 m

2) Como a água é opaca p/ radiação térmica, a perda de calor na superfície da


pele ocorre por apenas por convecção, hr = 0.
Da eq. (1):
0 , 3W / mK . 308 K
3
 200 W / m 2 K . 297 K
Ts  3 x10 m  Ts  300 ,7 K
0 , 3W / mK
3
 200 W / m 2 K
3 x10 m
Logo, a taxa de calor perdido na água:
Ti  T s 0,3W / mK .1,8m 2 .(308  300 ,7 ) K
q s  kA   3 Transporte 2
 q s  1314 W
L Fenômenos
3 x10 de m 35

Mecanismos de Transferência de Calor

Bibliografias Consultadas:

BIRD, B., STEWART, W. E. e LIGHTFOOT, E. N., Fenômenos de Transporte, 2ª ed. Rio de


Janeiro: LTC, 2004.
FILHO, W. B., Fenômenos de Transporte para Engenharia, 2ª Edição, Rio de Janeiro: LTC, 2006.
CANEDO, E. L. Fenômenos de Transporte, 1ª Edição. Editora LTC, 2010.
INCROPERA, F. P. & DeWITT, D. P., Fundamentals of Heat and Mass Transfer, 6ª Ed., Wiley,
2007.
KREITH, F. e BOHN, M. S., Princípios de Transferência de Calor, Editora Cengage Learning, 1ª
Ed, 2003.
LIVI, C. P., Fundamentos de Fenômenos de Transporte: Um Texto para Cursos Básicos, 2ª
Edição, Rio de Janeiro: LTC, 2012.
SISSOM L. E. e PITTS D. R., Fenômenos de Transporte, Ed. Guanabara Dois S.A., 1979.

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