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Transferência de Calor e Massa 1

1.1. INTRODUÇÃO

O curso de Transferência de Calor sucede o curso de Termodinâmica, assim,


surge de imediato a seguinte pergunta entre os alunos: Qual a diferença entre “Termo”
e “Transcal”? ou “há diferença entre elas”?
Para desfazer essa dúvida, vamos considerar dois exemplos ilustrativos das áreas de
aplicação de cada disciplina. Mas, antes vamos recordar um pouco das premissas da
Termodinâmica.

A Termodinâmica lida com estados de equilíbrio térmico, mecânico e químico, e é


baseada em três leis fundamentais:

- Lei Zero (“equilíbrio de temperaturas” – permite a medida de


temperatura e o estabelecimento de uma escala de temperatura)
- Primeira Lei (“conservação de energia” – energia se conserva)
- Segunda Lei (“direção em que os processos ocorrem e limites de
conversão de uma forma de energia em outra”)

Dois exemplos que permitem distinguir as duas disciplinas:

(a) Equilíbrio térmico – frasco na geladeira

Considere um frasco fora da geladeira à temperatura ambiente. Depois, o mesmo é


colocado dentro da geladeira, como ilustrado. Claro que, inicialmente, TG < T f

frasco

∆t

T f = TG
T f = Tambiente

inicial final

As seguintes análises são pertinentes, cada qual, no âmbito de cada disciplina:

Termodinâmica: QT = ∆U = mc∆T - fornece o calor total necessário a ser transferido do


frasco para resfriá-lo baseado na sua massa, diferença de temperaturas e calor específico
médios – APENAS ISTO!
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Transferência de calor: responde outras questões importantes, tais como: quanto


tempo (∆t ) levará para que o equilíbrio térmico do frasco com seu novo ambiente
(gabinete da geladeira), ou seja, para que Tf = TG seja alcançado? É possível reduzir (ou
aumentar) esse tempo?

Assim, a Termodinâmica não informa nada a respeito do intervalo de tempo ∆t para


que o estado de equilíbrio da temperatura do frasco ( T f ) com a da geladeira ( TG ) seja
atingido, embora nos informe quanto de calor seja necessário remover do frasco para
que esse novo equilíbrio térmico ocorra. Por outro lado a disciplina de Transferência
de Calor vai permitir estimar o tempo ∆t , bem como definir quais parâmetros podemos
interferir para que esse tempo seja aumentado ou diminuído, segundo nosso interesse.

De uma forma geral, toda vez que houver gradientes ou diferenças finitas de
temperatura ocorrerá também uma transferência de calor. A transferência de calor pode
ser interna a um corpo ou na superfície de contato entre uma superfície e outro corpo ou
sistema (fluido).

(b) Outro exemplo: operação de um ciclo de compressão a vapor

qc

condensador

compressor válvula

wc evaporador

qe
TERMIDINÂMICA: wc = qe − qc : não permite dimensionar os equipamentos
(tamanho e diâmetro das serpentinas do condensador e do evaporador, por exemplo),
apenas lida com as formas de energia envolvidas e o desempenho do equipamento,
como o COP:
q
COP = e
wc

TRANSFERÊNCIA DE CALOR: permite dimensionar os equipamentos térmicos de


transferência de calor. Por exemplo, responde às seguintes perguntas:

- Qual o tamanho do evaporador / condensador?


- Qual o diâmetro e o comprimento dos tubos?
- Como atingir maior / menor troca de calor?
- Outras questões semelhantes.
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Problema-chave da transferência de calor: O conhecimento do fluxo de calor.

O conhecimento dos mecanismos de transferência de calor permite:

- Aumentar o fluxo de calor: projeto de condensadores, evaporadores, caldeiras, etc.;


- Diminuir o fluxo de calor: Evitar ou diminuir as perdas durante o “transporte” de frio
ou calor como, por exemplo, tubulações de vapor, tubulações de água “gelada” de
circuitos de refrigeração;
- Controle de temperatura: motores de combustão interna, pás de turbinas, aquecedores,
etc.

1.2 MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

A transferência de calor ocorre de três formas, quais sejam: condução, convecção e


radiação térmica. Abaixo se descreve cada um dos mecanismos.

(a) Condução de calor

- Gases, líquidos – transferência de calor dominante ocorre da região de alta


temperatura para a de baixa temperatura pelo choque de partículas mais energéticas para
as menos energéticas.
- Sólidos – energia é transferência por vibração da rede (menos efetivo) e, também, por
elétrons livres (mais efetivo), no caso de materiais bons condutores elétricos.
Geralmente, bons condutores elétricos são bons condutores de calor e vice-versa. E
isolantes elétricos são também isolantes térmicos (em geral).

A condução, de calor é regida pela lei de Fourier (1822)

T1 . . T2
qx

sólido

dT
qx α A
dx

onde: A : área perpendicular ao fluxo de calor q x


T : temperatura

A constante de proporcionalidade α é a condutividade ou condutibilidade térmica do


material, k, ou seja:
Transferência de Calor e Massa 4

dT
q x = kA
dx

As unidades no SI das grandezas envolvidas são:


[ qx ] = W ,
[ A ] = m2 ,
[ T ] = K ou o C ,
[x] = m.
W W
assim, as unidades de k são: [ k ] = o
ou
m⋅ C m⋅K

A condutividade térmica k é uma propriedade de transporte do material. Geralmente, os


valores da condutividade de muitos materiais encontram-se na forma de tabela na seção
de apêndices dos livros-texto.

Necessidade do valor de (-) na expressão

Dada a seguinte distribuição de temperatura:

Para T2 > T1
T

T2

∆T

∆x
T1

x1 x2 x

q < 0 (pois o fluxo de calor flui da região de maior para a de menor temperatura. Está,
portanto, fluindo em sentido contrário a orientação de x)

∆T > 0 ∆T
Além disso, do esquema;  > 0 , daí tem-se que o gradiente também será
∆x > 0  ∆x
positivo, isto é:

dT
>0 mas, como k > 0 (sempre), e A > 0 (sempre), concluí-se que,
dx
então, é preciso inserir o sinal negativo (-) na expressão da condução de calor (Lei de
Fourier) para manter a convenção de que q x > 0
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Se as temperaturas forem invertidas, isto é, T1 > T2 , conforme próximo esquema, a


equação da condução também exige que o sinal de (-) seja usado (verifique!!)

De forma que a Lei da Condução de Calor é:

dT Lei de Fourier (1822)


q x = −kA
dx

(b) Convecção de Calor

A convecção de calor é baseada na Lei de resfriamento de Newton (1701)

q α A(TS − T∞ )

Onde a proporcionalidade α é dada pelo coeficiente de transferência de calor por


convecção, h, por vezes também chamado de coeficiente de película. De forma que:

q = hA(TS − T∞ )

onde:
A : Área de troca de calor;
TS : Temperatura da superfície;
T∞ : Temperatura do fluido ao longe.

- O problema central da convecção é a determinação do valor de h que depende de


muitos fatores, entre eles: geometria de contato (área da superfície, sua rugosidade e sua
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geometria), propriedades termodinâmicas e de transportes do fluido, temperaturas


envolvidas, velocidades. Esses são alguns dos fatores que interferem no seu valor.

(c) Radiação Térmica

A radiação térmica é a terceira forma de transferência de calor e é regida pela lei de


Stefan – Boltzmann. Sendo que Stefan a obteve de forma empírica (1879) – e
Boltzmann, de forma teórica (1884).
Corpo negro – irradiador perfeito de radiação térmica

q = σAT 4 (para um corpo negro)

σ − constante de Stefan – Boltzmann (5,669.10-8 W/m2 K4)

Corpos reais (cinzentos) q = εσAT 4 , onde ε é a emissividade que é sempre ≤ 1

Mecanismo físico: Transporte de energia térmica na forma de ondas eletromagnéticas


ou fótons, dependendo do modelo físico adotado. Não necessita de
meio físico para se propagar. Graças a essa forma de transferência
de calor é que existe vida na Terra devido à energia na forma de
calor da irradiação solar que atinge nosso planeta.
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CONDUÇÃO DE CALOR

Condutibilidade ou Condutividade Térmica, k

Da Lei de Fourier da condução de calor, tem-se que o fluxo de calor, q, é diretamente


proporcional ao gradiente de temperaturas, de acordo com a seguinte expressão:

T
q   k , onde A é a área perpendicular à direção do fluxo de calor e k é a
x
condutividade térmica do material.

A
q

As unidades no SI da condutividade térmica, k, do material, são:

W W
k  qT   k  W
 k  ou
o
C m o C m.K
A m2
x m

Sendo:
k: propriedade (de transporte) do material que pode ser facilmente determinada de forma
experimental. Valores tabelados de diversos materiais se encontram na seção de
apêndice do livro texto.

Exemplo de experimento laboratorial para obtenção de k


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No experimento indicado, uma corrente elétrica é fornecida à resistência elétrica


enrolada em torno da haste do bastão. O calor gerado por efeito joule vai ser conduzido
dentro da haste para fora do bastão (lado direito). Mediante a instalação de sensores de
temperatura (termopares, p. ex.), pode-se levantar o perfil da distribuição de
temperaturas como aquele indicado no gráfico acima. Estritamente falando, esse perfil
temperatura é linear, como vai se ver adiante. Por outro lado, o fluxo de calor fornecido
é a própria potência elétrica q  R  I 2  U  I . Sendo a seção transversal A conhecida,
então, da lei de Fourier, determina-se a condutividade térmica do material da haste, k.
q
Neste caso, k  .
T
A
x

Um aspecto importante da condução de calor é que o mecanismo da condução de calor é


diferente dependendo do estado físico e da natureza do material. Abaixo, indicam-se os
mecanismos físicos de transporte de acordo com o estado físico.

Gases

O choque molecular permite a troca de energia cinética das moléculas mais


energéticas para as menos energéticas. A energia cinética está relacionada com a
temperatura absoluta do gás. Quanto maior a temperatura, maior o movimento
molecular, maior o número de choques e, portanto, mais rapidamente a energia térmica
flui. Pode-se mostrar que.

k T

Para alguns gases, a pressão moderada, k é só função de T. Assim, os dados


tabelados para uma dada temperatura e pressão podem ser usados para outra pressão,
desde que seja à mesma temperatura. Isso não é valido próximo do ponto critico.

Líquidos

Qualitativamente o mecanismo físico de transporte de calor por condução nos


líquidos é o mesmo que o dos gases. Entretanto, a situação é consideravelmente mais
complexa devido à menor mobilidade das moléculas.
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Sólidos

Duas maneiras básicas regem a transferência de calor por condução em sólidos:


vibração da rede cristalina e transporte por elétrons livres. O segundo modo é o mais
efetivo e é o preponderante em materiais metálicos. Isto explica porque, em geral, bons
condutores de eletricidade também são bons condutores de calor. A transferência de
calor em isolantes se dá, por meio da vibração da rede cristalina, que é menos eficiente.

O gráfico abaixo ilustra qualitativamente as ordens de grandeza da condutibilidade


térmica dos materiais. Nota-se que, em geral, a condutibilidade aumento de gases, para
líquidos e sólidos e que os metais puros são os de maior condutividade térmica.

EQ UAÇÃO GERA L DA COND UÇÃO DE CALOR EM COORDENADAS


CARTESIAN AS

Balanço de energia em um
volume de controle elementar
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BALANÇO DE ENERGIA (1ª LE I)

Fluxo de Taxa de Taxa temporal Fluxo de


calor calor de variação calor que
que entra no + gerada = da energia + deixa o
que V.C. no V.C. Interna no V.C. V.C.

(I) (II) (III) (IV)


Sejam os termos:

(I) Fluxo de calor qu e ent ra no V.C.

Direção x
T T
q x   k x dy  dz   -k x dA
x x
Direção y
T
q y   k y dx  dz 
y
qk

Direção
y zq
k

z
y y
T
q z   kz dx  dy 
z

(II ) Ta xa de calor ger ado

E G  q 'G''  dx  dy  dz

onde: q g''' = Taxa de calor gerado na unidade de volume. W  m 3

(II I) Taxa temporal de vari ação da ener gia interna

U u T
E ar  m   dx dy dz  c
t t t

onde: c = calor específico; m = massa elementar do V.C. e  a densidade. kJ / kg oC

(IV) Fluxo de calor qu e deixa o V.C. – expans ão em ser ie de Taylo r:

Direção x
q xqxx dx  q x  q x dx  0(dx 2 )
x
xd
x x

Direção y

q y
q y dy  q y  dy    
y
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Direção z

q z
q z dz  q z  dz    
z

Então, juntando os termos (I) + (II) = (III) + (IV), vem:

T q q y q
q x  q y  q z  q G''' dxdydz  cdxdydz  q x  x dx  q y  dy  q z  z dz
t x y z
+ ordem superior
simplificando os termos q x , q y e q z , vem:

T q x q y q
q G''' dxdydz  cdxdydz  dx  dy  z dz,
t x y z

e, substituindo a Lei de Fourier para os termos de fluxo de calor,

T   T    T    T 
q G''' dxdydz  cdxdydz  k x  dxdydz  k y  dxdydz  k z dxdydz
t x  x  y  y  z  z 

Eliminando o volume de controle elementar dxdydz, temos finalmente:

  T    T    T  T
 kx   k y   k z   q G'"  c
x  x  y  y  z  z  t

Essa é a equação geral da condução de calor . Não existe uma solução geral analítica
para a mesma porque se trata de um problema que depende das condições inicial e de
contorno. Por isso, ela é geralmente resolvida para diversos casos que dependem da
geometria do problema, do tipo (regime permanente) e das condições iniciais e de
contorno. Evidentemente, procura-se uma solução do tipo: T  T ( x, y, z, t ) . A seguir
são apresentados alguns casos básicos.

Cas os:

A) Condu tivida de tér mica un iforme (materi al isotrópico) e constan te (indepen de


de T)

k x  k y  kz  k

 2T  2T  2T
1 Tq g'''
   
2 2 2 k  t
x y z
  
 2T
Transferência de Calor e Massa 12

k
onde,  = c é conhecida como difusibilidade ou difusividade térmica, cuja unidade no
SI é:
 W 
 
   k    m  K   W  m²  s  m²
 c  kg   J  J s s
 m3   kg  K 
  

Essa equação ainda pode ser escrita em notação mais sintética da seguinte forma:

2 q G''' 1 T
 T 
k  t

onde:
2 2 2
2    é o operador matemático chamado de Laplaciano no
x 2 y 2 z 2
sistema cartesiano de coordenadas.
Esta última forma de escrever a equação da condução de calor é preferível, pois,
embora ela tenha sido deduzida para o sistema cartesiano de coordenadas, ela é
independe do sistema de coordenadas adotado. Caso haja interesse em usar outros
sistemas de coordenadas, basta substituir o Laplaciano do sistema de interesse, como
exemplificado abaixo,

1     1 2 2
- Cilíndrico: 2  r   2 
r r  r  r  2 z 2

1   2  1     1 2
- Esférico: 2   r    sen  
r 2 r  r  r 2 sen     r 2 sen 2  2

B) Sem ger ação de calor e k un iform e e constan te, qG'''  0

1 T
 2T 
 t (Eq. de Fourier)

T
C) Regime per manent e (ou estacionári o) e k unifor me e constante, 0
t

qG'''
2T  0 (Eq. de Poisson)
k

D) Regime perm anent e e k constan te e unifor me

(Eq. de Laplace)
 2T  0
Transferência de Calor e Massa 13

CONDUÇÃO UNIDIMENSIONAL EM REGIME


PE RM ANENTE SEM GERAÇÃO – PLACA OU PAREDE PLANA
O caso mais simples que se pode imaginar de transferência de calor por condução é o
caso da parede ou placa plana, em regime permanente, sem geração interna de calor e
propriedades de transporte (condutividade térmica) constantes. Este é o caso ilustrado
na figura abaixo onde uma parede de espessura L, cuja face esquerda é mantida a uma
temperatura T1 enquanto que a face à direita é mantida à temperatura T2. Poderia se
imaginar que se trata, por exemplo, de uma parede que separa dois ambientes de
temperaturas distintas. Como se verá, a distribuição de temperaturas T(x) dentro da
parede é linear.

Para resolver esse caso, vamos partir da equação geral da condução de calor, deduzida
na aula anterior, isto é:
q ''' 1 T
 2T  G 
k  t

Introduzindo as simplificações do problema, vem:

i. Não há geração interna de calor:  qG  0


T
ii. Regime permanente:  0
t
2
iii. Unidimensional: 1  D  2 
x 2

d 2T
Assim, com essas condições, vem que  0 , e a solução procurada é do tipo T(x).
x 2

dT
Para resolver essa equação considere a seguinte mudança de variáveis:  
dx
d
Logo, substituindo na equação, vem que 0
dx
Transferência de Calor e Massa 14

Integrando por separação de variáveis vem:

 d  C 1 , ou seja:   C1

dT dT
Mas, como foi definido    C1
dx dx
Integrando a equação mais uma vez, vem:

T ( x)  C1 x  C 2 Que é a equação de uma reta, como já antecipado.

Para se obter as constantes, deve-se aplicar as condições de contorno que, nesse


exemplo, são dadas pelas temperaturas superficiais das duas faces. Em termos
matemáticos isso quer dizer que

(A) em x = 0  T  T1
(B) e em x = L  T  T2

De (A): C 2  T1
T2  T1
e de (B): T2  C1 L  T1  C1 
L

Assim, x
T ( x)  (T2  T1 )  T1
L

Para efeito de ilustração, suponha que T1  T2 , como mostrado na figura abaixo.

Cálculo do fluxo de calor tran smitido atrav és da


pare de
.
Para isso, deve-se usar a Lei de Fourier, dada por:
dT
q   k
dx
e, substituindo a distribuição de temperaturas,
vem:
d  x 
q  k T2  T1   T1   k 2
T  T1  , ou,
dx  L  L
em termos de fluxo de calor por unidade de área,
q T  T 
temos: q ''   k 2 1
 L
W m2  
Esquecendo o sinal de (-), vem
T
q ''  k
L
Transferência de Calor e Massa 15

Conhecida a eq uação que r ege do fluxo de calor atrav és da par ede, pod emos:

Aumentar o fluxo de calor q” :


. Com o uso de material bom condutor de calor, isto é com k 
. Ou, pela diminuição da espessura da parede, isto é L 

Ou diminu ir o fluxo de calor q” :


. Com o uso de material isolante térmico k 
. Ou, pelo aumento da espessura da parede, isto é L 

CONDUÇÃO UNIDIME NSIONAL EM REGI ME PE RMA NENTE SEM


GER AÇÃO INTE RNA DE CAL OR – TUBO CILÍ NDRI CO.

Este é o caso equivalente, em coordenadas cilíndricas, ao da condução de calor


unidimensional, em regime permanente, sem geração de calor e condutividade térmica
constante estudado acima para uma parede ou placa plana. A diferença é que sua
aplicação é para tubos cilíndricos.

q G''' 1 T
A equação geral é da forma  2T  
k  t

Neste caso, a geometria do problema indica que se deve resolver o problema em


coordenadas cilíndricas. Para isso, basta usar o Laplaciano correspondente, isto é:

1   T  1  2T  2T qG''' 1 T
r    
r r  r  r 2  2 z2 k  t

Introduzindo as simplificações:

i. Não há geração interna de calor:  qG  0


T
ii. Regime permanente:  0
t
iii. Unidimensional: 1  D  , que é válido para um tubo muito longo, ou
 2T
seja, T não depende de z, logo 0
z 2
 2T
iv. Há uma simetria radial, T não depende de , isto é: 2  0


As simplificações (iii) e (iv) implicam que se trata de um problema unidimensional na


direção radial, r. A aplicação dessas condições resulta em:
Transferência de Calor e Massa 16

d  dT 
r   0 , onde a solução procurada é do tipo T  T (r )
dr  dr 

As condições de contorno para a ilustração indicada acima são:

A superfície interna é mantida a uma temperatura constante, isto é: r  ri  T  Ti


A superfície externa é também mantida a uma outra temperatura constante, isto é:
r  re  T  Te

Solução:

1a Integração – separe as variáreis e integra uma vez, para resultar em:

 dT  dT
 d  r dr   0dr  C1  r  C1
dr  dr

Integrando pela 2a vez, após separação de variáveis, vem:

dr
 dT   C 1
r
 C2

T r   C1 ln(r )  C2

Portanto, a distribuição de temperaturas no caso do tubo cilíndrico é logarítmica e não


linear como no caso da parede plana.

Determinação de C1 e C2 por meio da aplicação da condições de contorno:

(A) r  ri  T  Ti  Ti  C1 ln(ri )  C2

(B) r  re  T  Te  Te  C1 ln( re )  C 2

ri T T
Fazendo-se (A) – (B), temos que Ti  Te  C1 ln , ou C1  i e
re r
ln i
re

Finalmente, na eq. da distribuição de temperaturas:

Ti  Te r
T r   ln  Te
ri re
ln
re

Distribuição de temperatura, supondo Ti  Te .


Transferência de Calor e Massa 17

T
Ti Lei logarítmica

Te
ri re
raio

dT
O fluxo de calor é obtido através da Lei de Fourier, isto é, q  k
dr
Atenção a esse ponto, a área A é a área perpendicular ao fluxo de calor e não a área
transversal da seção transversal. Portanto, trata-se da área da “casquinha” cilíndrica
ilustrada abaixo.

A  2rL (casca cilíndrica), L é o comprimento do tubo

Substituindo a distribuição logarítmica de temperatura na equação de Fourier,


T ( r )  C1 ln(r )  C2 , vem:

d
q  k 2rL [C1 ln(r )  C 2 ]
dr
ou, efetuando a derivação, temos:
1
q  2kLrC1
r
ou, ainda: q  2kLC1

q  2kL
Te  Ti 
Substituindo, C1 :  r  (W)
ln i 
 re 

O fluxo de calor total q é constante através das superfícies cilíndricas!


Entretanto, o fluxo de calor por unidade de área q '' depende da posição radial

q 2kL (Te  Ti )
q ''  
A 2rL  ri 
ln 
 re 

k (Te  Ti )
q '' 
r  ri 
W m 
2

ln 
 re 
Transferência de Calor e Massa 18

AULA 4 – PARE DES PLA NAS CO MP OSTAS

Condu ção un idimensional, r egime per manente, sem ger ação de calor – paredes
compostas.

Para resolver de forma rápida e simples este problema, note que o fluxo de calor q é o
mesmo que atravessa todas as paredes. Assim, para cada parede pode-se escrever as
seguintes equações:

(T1  T2 ) qL1
- parede 1: q  k1 A  T1  T2 
L1 k1 A

(T2  T3 ) qL2
- parede 2: q  k2 A  T2  T3 
L2 k2 A

(T3  T4 ) qL3
- parede 3: q  k3 A  T3  T4 
L3 k3 A

Assim, somando os termos _____________


L
de todas as paredes: T1  T4  q  i
ki A
ou, simplesmente,
T
q
R

onde o T refere-se à diferença total de temperaturas da duas faces externas e R é a


L
resistência térmica da parede composta, dada por R   i
ki A

ANALO GIA ELÉTRI CA

Nota-se que existe uma analogia elétrica perfeita entre fenômenos elétricos e térmicos
de condução de calor, fazendo a seguinte correspondência:
iq
U  T
RÔHMICO  RTÉRMICO
Transferência de Calor e Massa 19
q

Por meio de analogia elétrica, configurações mais complexas (em série e paralelo) de
paredes podem ser resolvidas.

Circuito elétrico equivalente

Fluxo de calor que é:


T
q  total
RT
RT  R1  R//  R5
com
1 1 1 1
  
R// R2 R3 R4

CONDUÇÃO EM P LACA PLANA CO M GE RAÇ ÃO INTE RNA DE CALOR

Geração interna de calor pode resultar da conversão de uma forma de energia em calor.

Exemplos de formas de ener gia convertidas em calor:

1. Geração de calor devido à conversão de energia elétrica em calor

P  RI 2 (W)

Onde: P : potência elétrica transformada em calor por efeito joule(W)


R : resistência ôhmica (  )
I : corrente elétrica (A)

Ainda, U : diferença de potencial elétrico (V)


U2
P  UI ou P
R
Transferência de Calor e Massa 20

''' P
Em termos volumétricos, qG ''' (W / m3 ) , qG  (W/m3), onde V : volume onde o
V
calor é gerado.

2. Geração de calor devido a uma reação química exotérmica (qG '''  0) como, por
exemplo, o calor liberado durante a cura de resinas e concreto. Já, no caso de uma
reação endotérmica, qG '''  0 .

3. Outras formas tais de geração de calor devido à absorção de radiação, nêutrons, etc...

Pare de (placa) plana com ger ação de calor un iform e (resi stência elétr ica plan a).

b  L
i
T1
2b

T2

Equação geral

qG
'''
1 T T
 2T   sendo que  0 (regime permanente.)
k  t t
'''
qG
 2T  0 T  T (x)
k

Condi ções de cont orno:

(1) x  L T  T1

(2) x L T  T2
Transferência de Calor e Massa 21

Solução
dT
Seja a seguinte mudança de variável (apenas por conveniência):   ,
dx
'''
Então d  qG

dx k

Integrando essa equação por partes, vem:


'''
 qG
'''
mas como   dT , então dT q
 d   dx  C1 ,   G x  C1
k dx dx k

Integrando novamente:
'''
 qG x2
T ( x)   C1 x  C2
2k

Obs.: Trata-se de uma distribuição parabólica de temperaturas.

 Como no caso da resistência elétrica qG ''' (geração de calor) é positivo e,


claro, k também é positiva, a constante que multiplica o termo x2 é negativa
 parábola com a concavidade voltada para baixo. Por outro lado, se qG '''
for negativo, o que pode ocorrer com processos de curas de algumas resinas
(processos endotérmicos), então a concavidade será voltada para cima.

Determ inação das constan tes C1 e C2 :

Condições de contorno
'' '
q G L2
(1) T1    C1 L  C 2 - temperatura da face esquerda conhecida
2k
' ''
q L2
(2) T2   G  C1 L  C 2 - temperatura da face direita conhecida
2k

Somando (1)+(2), vem:


''' '''
 qG L2 T  T q L2 .
T1  T2   2C 2  C 2  1 2  G
k 2 2k

T2  T1
Substituindo em (1) ou (2), tem-se C1 
2L

Então, a distribuição final de temperaturas é:

q G ''' ( L2  x 2 ) x T1  T2
T ( x)   (T2  T1 ) 
2k 2L 2
Transferência de Calor e Massa 22

 CASOS:

(A) Suponha que as duas faces estejam à mesma


temperatura: T1  T2  TS . Daí, resulta que:

'' '
qG ( L2  x2 )
T ( x)   TS
2k

É uma distribuição simétrica de temperaturas. A máxima temperatura, nesse caso,


ocorre no plano central, onde x  0 (note a simetria do problema). Se for o caso pouco
comum de uma reação endotérmica, ou qG ''' < 0, a concavidade seria voltada para abaixo
e, no plano central, haveria a mínima temperatura.

dT
Também poderia se chegar a essa expressão usando 0
dx
'''
qG L2
TMÁX  TC   TS
2k

O fluxo de calor (lei de Four ier )

dT
q   kA ou
dx
q dT
q ''   k , substituindo a distribuição de temperaturas, vem:
A dx
''' 2 2
d  qG ( L  x ) ,
q ''   k  TS 
dx  2k 
'''
q ''  xqG
ou, simplesmente:

No plano central (x = 0) o fluxo de calor é nulo devido à simetria do problema e das


condições de contorno.

Dessa forma, o plano central age como o caso de uma parede adiabática, q ''  0

(B) Nesse caso, suponha que a temperatura de uma das faces seja maior: T1  T2
Transferência de Calor e Massa 23

Plano em que ocorre a máxima temperatura, Tmáx ( xmáx )

Sabemos que o fluxo de calor é nulo em xmáx :

dT
k 0 ou
dx xmáx

'''
d  qG x T1  T2 
 ( L2  x 2 )  (T2  T1 )    0 , que resulta em:
dx  2k 2L 2 

'''
qG (T  T1 )
 xmáx  2 0
k 2L

Cuja solução é: (T2  T1 )k


xmáx 
2 LqG'''

Substituindo-se o valor de xmáx na expressão da distribuição da temperatura, encontra-se


o valor da máxima temperatura Tmáx . Tente fazer isso!
Transferência de Calor e Massa 24

AULA 5 - COND UÇÃO DE CALOR EM CI LINDRO S


MACI ÇOS EM REGIME PER MANENTE COM GE RAÇÃO
INTE RNA DE CALOR
Nesta aula, vai se estudar o caso da geração interna
de calor em cilindros maciços. Como exemplo de
aplicação tem-se o calor gerado por efeito joule
devido à passagem de corrente elétrica em fios
elétricos, como indicado na figura ao lado.

Partindo da equação geral da condução de calor:


' ''
q 1 T
 2T  G   0 (Regime permanente)
k  t

Onde é conveniente usar o Laplaciano em coordenadas cilíndricas, isto é:

1   T  1  2T  2T
 2 T   r  
r r  r  r 2  2 z 2

Hip óteses adicionais


2
- simetria radial: 0 (não há influência da posição angular numa seção
 2
transversal)
2

- o tubo é muito longo:  0 (não há efeitos de borda na direção axial)
z 2

Logo, trata-se de uma distribuição de temperaturas unidimensional na direção radial, ou


seja, T  T (r )

Assim, introduzindo essas simplificações na equação geral da condução, vem:

'''
1 d  dT  q G
r  0
r dr  dr  k

Ou, integrando por partes:

'''
 dT  qG
' ''
dT q r2
 d  r dr     k rdr  C1 , ou, ainda: r
dr
 G
2k
 C1

Integrando novamente por separação de variáveis:

 q G ' '' C1 
 dT    2k r  r dr  C 2
 
'''
qG r 2
T (r )    C1 ln r  C2
4k
Transferência de Calor e Massa 25

* condições de cont orn o para obten ção das c onstan tes C1 e C2:

(1) T (r  r0 )  TS a temperatura da superfície TS é conhecida


dT
(2) 0 simetria radial na linha central
dr r 0

Isso implica dizer que o fluxo de calor é nulo na linha central e, como decorrência,
também pode-se afirmar que a máxima temperatura Tmáx ocorre nessa linha.

Da segunda condição de contorno, vem que:

 q ''' r C 
lim G  1   0
 2k r 
r 0

Do que resulta em C1  0 , para que a expressão permaneça sempre nula.


Da primeira condição de contorno.

'''
'''
qG r 2 qG r02
TS    C2 ou, C 2  TS 
4k 4k

Finalmente, a equação da condução de calor fica:

'''
qG 2
T
4k

r0  r 2  TS 

É uma distribuição parabólica de temperatura (2º. grau) !

qG '''r02
Sendo, Tmáx   TS
4k
Transferência de Calor e Massa 26

EXEMPLO DE APLICA ÇÃO


Considere um tubo cilíndrico longo revestido de isolamento térmico perfeito do lado
externo. Sua superfície interna é mantida a uma temperatura constante igual a Ti .

Considere, ainda, que ocorre geração de calor qG ''' uniforme.


a) calcule a distribuição de temperaturas;
b) determine o fluxo de calor total removido (internamente);
c) determine a temperatura da superfície externa.

Solução:

Hipóteses: as mesmas que as anteriores.


'''
Eq. 1 d  dT  qG
r  
r dr  dr  k

Condições de contorno:

(1) T (r  ri )  Ti (temperatura interna constante)

dT
(2)  0 (fluxo de calor nulo na superfície)
dr r e

A solução geral, como já visto, é:


'' '
qG r 2
T (r )    C1 ln r  C 2
4k

Onde C1 e C2 saem das condições de contorno do problema específico:

''' 2
q G re2 ''' 2
qG re  ri  
C1  ; C2  Ti     2 ln(ri )
2k 4k  re  

Transferência de Calor e Massa 27

Assim,

'' '
q G re2  ri 2  r 2 r 
T (r )    2 ln    Ti
4k  e r 2
 ri 

O fluxo de calor é:

dT
q   kA
dr

d
q   k ( 2 rL )
T (r )
dr
Após substituir a distribuição de temperaturas e efetuar da derivada, vem:

q

'' '
  qG re2  ri 2  (W/m)
L

A temperatura máxima é:

Tmáx  Te
'''
q G re2  ri 2  re2 r 
Tmáx  Te    2 ln  e    Ti
4 k  re 2
 ri 

OUTRO EXEMP LO DE APL ICAÇÃO

Num fio de aço inoxidável de 3,2mm de diâmetro e 30cm de comprimento é aplicada


uma tensão de 10V. O fio está mantido em um meio que está a 95 o C e o coeficiente de
transferência de calor vale 10kW / m2 oC .
Calcule a temperatura no centro do fio. A resistividade do fio e de 70 cm e sua
condutibilidade térmica vale 22,5W / m o C
Transferência de Calor e Massa 28

Solução:

Calor gerado por unidade de volume, isto é, a potência elétrica dissipada no volume.
2 U2 L
P  Ri  ; R 
R A
  70  108   m
D2 (3,2  103 ) 2
L  0,3m , A    8,0425  10 6 m2
4 4
70  10 8  0,3
R 6
 2,6111  10  2 
8,0425  10
100
P  3,830kW
2,6111  10 2
P 3,83  10 3 3,83  10 3
q G   
V A L 8,0425  10 6  0,3
W
q G  1,587  10 9 3
m
P
P  hA(TP  T )  TP  T 
hA
3
3,83  10
TP  95 
10  10   (3,2  10 3 )  0,3
3

TP  222o C
q   r 2
Tc  TP  G o
4k
1,587  109  (1,6  10 3 ) 2
Tc  222 
4  22,5

Tc  267o C
Transferência de Calor e Massa 29

RESISTÊNCI A TÉRMI CA – Vár ias Situa ções

- pa re des plan as

T1  T2 L
q R
R kA

- cir cuito elétr ico

- pa re des compostas

- Circui to elétri co

Ainda,

onde
1 1 1 1
  
R// R2 R3 R4
REQ  R1  R//  R5
T1  T2
q
REQ
Transferência de Calor e Massa 30

- Tub o cilíndri co

r
ln e 
Ti  Te r
q ; R  i 
R 2kL

- Tub o cilíndri co composto

- Circui to elétri co

Req  Ri

r 
ln i 1 
r
Req    i 
2ki L

Para dois tubos:

r  r 
ln 2  ln 3 
r r
R1   1  R2   2 
2k1L 2k2 L
Transferência de Calor e Massa 31

Por ind ução , como deve ser a re sistência térm ica devi do à convecção de calor?

Lei de convecção (Newton)

Tp  T
q  hA(Tp  T ) e q
1
hA
1
onde, é a resistência térmica de convecção
hA

- Circui to elétri co

Para o caso em que houver convecção em ambas as paredes:

- Con vecção em tub o cilíndric o


Transferência de Calor e Massa 32

Tab ela r esumo de Resistências Térm icas

Fluxo de
Resistências
Circ uito Elétri co Tr ansferência
Tér micas
de calor
Pare de plan a

T1  T2 L
q R
R kA

Pare de plan a com


convecção
R  R1  R2  R3
1 L 1
T1  T 2 R  
q h1 A kA h2 A
R

Pare des compostas

REQ  R1  R//  R5
T1  T2
q 1 1 1 1
REQ   
R// R2 R3 R4

Tub o cilíndri co

r
Ti  Te ln e 
q r
R R  i 
2kL

Tub o cilíndri co
composto

r 
T  Te ln i 1 
q i ri 
REQ Req   
2ki L
Transferência de Calor e Massa 33

Con vecção em tu bo
cilíndr ico
Ti  Te r
ln e 
q r 1
REQ Req   i  
2kL hA

COEFI CIEN TE GLOBAL DE TRANSFERÊN CIA DE CALOR U

O coeficiente global de transferência de calor é definido por:

q  UATtotal

Claramente, U está associado com a resistência térmica,

- pared e plana

1 1 1
R  
h1 A kA h2 A

T
q  UAT
R

1 1
UA  ou U
R RA
Logo,
1
U
1 L 1
 
h1 k h2

- tubo cilíndrico
Transferência de Calor e Massa 34

Há um problema associado com a área de referência. É preciso dizer se U se refere à


área interna do tubo, U i , ou à área externa, U e . No entanto, os dois valores são
intercambiáveis mediante a seguinte expressão:

U e Ae Ttotal  U i Ai Ttotal

Logo, U e Ae  U i Ai
U referido à área externa
1
Ue 
Ae ln  ri  1 re

2kL he
U referido à área interna

1
Ui 
Ai ln  r 
re
i Ai
2kL Ae he

RAIO CRÍTICO DE ISOLAMENT O TÉRM ICO

As tubulações que transportam fluidos aquecidos (ou frios) devem ser isolados do meio
ambiente a fim de restringir a perda de calor do fluido (ou frio), cuja geração implica
em custos. Aparentemente, alguém poderia supor que a colocação pura e simples de
camadas de isolamentos térmicos seria suficiente. Entretanto, um estudo mais
pormenorizado mostrará a necessidade de se estabelecer um critério para realizar esta
operação.

Ti  T
q
lnre ri  1

2kL 2Lre h

2L(Ti  T )
ou, q
ln  
re
ri 1
k re h

Note que no denominador dessa expressão que


o raio externo tem duas contribuições: um no
termo de condução e a outra no termo de _______________________
Transferência de Calor e Massa 35

convecção. De forma que, se o raio externo do isolamento aumentar por um lado ele
diminui uma das resistências térmicas (a de convecção), enquanto que por outro lado a
resistência térmica de condução aumenta. Isto está ilustrado no gráfico acima e dá
origem a um ponto de maximização. Do Cálculo, sabe-se que o máximo da
transferência de calor ocorre em:

 
dq  2L(Ti  T )  1 1 
0 2  k.r 

dre  
 ln re r e h.r 2 
i
1   e 
  
k re h 
 

Assim,
1 1 k

kre hre2
 rcrit 
h

rcrit é o chamado raio crítico de isolamento.

k
Se o raio crítico de isolamento for originalmente menor que a transferência de calor
h
será aumentada pelo acréscimo de camadas de isolamento até a espessura dada pelo raio
crítico – conforme tendência do gráfico. Neste caso, ter-se-ia o efeito oposto ao
desejado de diminuir o fluxo de calor. Por outro lado, se originalmente a espessura de
isolamento for maior que a do raio crítico, adições sucessivas de camadas isolantes vão
de fato diminuir a perda de calor.
Para exemplificar, considere um valor do coeficiente de transferência de calor por
W
convecção de h = (convecção natural), teste de alguns valores da
m2 oC
condutividade de materiais isolantes.

mater ial k W mo C  rcrit (mm)


Teflon 0,350 50,0
Papel 0,180 25,7
Couro 0,159 22,7
Borrac ha macia 0,130 18,6
Silicato de cálcio 0,055 7,9
Lã de vidro 0,038 5,4
Poliestireno expand ido 0,027 3,9
Folhas de pap el e alum ínio
0,000017 0,0024
de vidro laminad o

Como se vê, o raio crítico é relevante para pequenos diâmetros, tais como, fios elétricos.

Exercícios sugeridos do Incropera: 3.4; 3.5; 3.11; 3.32; 3.34; 3.38


Transferência de Calor e Massa 36

AULA 6 - ALETAS OU SUPERFÍ CIES ESTENDIDAS


Considere uma superfície aquecida (resfriada) que se deseja trocar calor com um fluido.

Da lei de resfriamento de Newton, vem que o fluxo de calor trocado é dado por,
q  hATs  T  ,onde h é o coeficiente de transferência de calor por convecção, A é a
área de troca de calor e Ts e T∞ são as temperaturas da superfície do fluido (ao longe).
Por uma simples análise, sabe-se que a transferência de calor pode ser melhorada, por
exemplo, aumentando-se a velocidade do fluido em relação à superfície. Com isso,
aumenta-se o valor do coeficiente de transferência de calor h e, por conseguinte, o
fluxo de calor trocado, como dado pela expressão anterior. Porém, há um preço a pagar
e este preço é o fato que vai se exigir a utilização de equipamentos de maior porte de
movimentação do fluido, ou seja, maiores ventiladores (ar) ou bombas (líquidos).
Uma forma muito empregada de se aumentar a taxa de transferência de calor consiste
em aumentar a superfície de troca de calor com o emprego de aletas, como a ilustrada
abaixo.

Assim, o emprego das aletas permite uma melhora da transferência de calor pelo
aumento da área exposta.

Exemplos de aplicação de aletas:

(1) camisa do cilindro de motores de combustão interna resfriados a ar (velho fusca);


(2) motores elétricos;
(3) condensadores;
(4) dissipadores de componentes eletrônicos.
Transferência de Calor e Massa 37

TIPOS DE ALE TAS

A figura abaixo indica uma série de exemplos de aletas. Evidentemente, existem


centenas ou milhares de formas construtivas que estão, muitas das vezes, associadas ao
processo construtivo das mesmas (extrusão, soldagem, etc).

Figur a 1– Diferentes tipos de superfícies aletadas, de acordo com Kreith e Bohn. (a)
aleta longitudinal de perfil retangular; (b) tubo cilíndrico com aletas de perfil
retangular; (c) aleta longitudinal de perfil trapezoidal; (d) aleta longitudinal de perfil
parabólico; (e) tubo cilíndrico equipado com aleta rad ial; (f) tubo cilíndrico equipado
com aleta radial com perfil cônico truncado; (g) pino cilíndrico; (h) pino cônico
truncado; (i) pino parabólico.

EQUAÇ ÃO GERA L DA ALET A

Volume de controle
elementar, C

Hipóteses:

- regime permanente;
- temperatura uniforme na seção transversal;
- propriedades constantes.
Transferência de Calor e Massa 38

Balanço de energia

 I   II   III 
     
 fluxo de calor que entra    fluxo de calor que que deixa    fluxo de calor que que sai 
 no V.C. p / condução   o V.C. p / condução   do V.C. p / convecção 
     

dT
(I) q x  kAx
dx
dq
(II) qx dx  qx  x dx  o( dx2 ) expansão em serie de Taylor
dx
(III) qc  hA(T  T )
qc  hPdx(T  T )

P : perímetro “molhado”, isto é, a superfície externa da aleta que se encontra em


contato com o fluido.

Substituindo-se as equações acima no balanço global de energia, vem:


dq
q x  q x  x dx  hPdx (T  T )  dx
dx
dq x
 hP (T  T )  0
dx

Ou, substituindo a lei de Fourier da condução:

d  dT 
k  Ax   hP (T  T )  0
dx  dx 

Sendo   T  T  d  dT

d  d  hP
A   0 Equação Geral da Aleta
dx  dx  k
   (x)
A A(x)

ALE TA DE SEÇÃ O TRAN SVERS AL CONSTANT E: RE TANGULAR

Do ponto de vista matemático, a equação de aleta mais simples de ser resolvida é a de


seção transversal constante como, por exemplo, uma aleta de seção retangular ou
circular. Assim, da equação geral para esse caso, com A = cte, vem:
Transferência de Calor e Massa 39

d 2 hP
 m2  0 , m2 
d 2 kA
A solução é do tipo: ,
 ( x)  c1e mx  c 2 e  mx

conforme solução indicada abaixo no “ lembrete de cálculo” , já que o polinômio


característico possui duas raízes reais e distintas (m e –m).

LEMBR ETE DE CÁLCULO

Solução geral de equação diferencial homogênea de 2a ordem e coeficientes constates

d2y dy
 b  cy  0
dx2 dx

Assume y  e nx

Substituindo, vem

m2 e nx  bmenx  ce nx  e nx  
Obtém-se o polinômio característico

n 2  bn  c  0

Caso 1: n1 e n2 reais e distintos

y  c1e n1x  c2 e n2 x

Caso 2: n1 e n2 reais iguais

y  c1e n1x  c 2 xe n1x

Caso 3: conjugados complexos


n1  p  qi ; n2  p  qi

y  e px[c1 cos(qx)  c2 sen(qx)]

b 4c  b 2
Onde, p   ; q
2 2
Transferência de Calor e Massa 40

Determinação das constantes c1 e c2 vêm das condições de contorno:

1a Condição de Contorno

T (0)  Tb
para x  0
 (0)  b  Tb  T

b  c1e0  c2e 0

c1  c2   b

A out ra re lação entre as condições de cont orno , depen de do ti po de ale ta , conform e


os casos (a), (b) e (c), abaixo estu da dos:

(a) aleta muito longa


Nesse caso, admite-se que a aleta é muito longa que, do
ponto de vista matemático, tem-se

x    T  T ou   0

Assim,


0  lim c1e mx  c2 e  mx
x
  c1  0  c2 b
De forma que, a distribuição de temperaturas nesse caso é:
 hP 
 mx  ( x)   x
kA 
 ( x)   b e  e
b

Ou, substituindo a definição de  , vem:

 hP 
T ( x)  T  x
kA 
e 
Tb  T
Transferência de Calor e Massa 41

O fluxo de calor tota l tran sferido pel a aleta

O fluxo de calor total transferido pela aleta pode


ser calculado por dois métodos:

(1) qaleta  qcond . base aleta (o fluxo de calor total


transferido é igual ao fluxo de calor por condução na base da aleta)


(2) qaleta   hP (T  T )dx (o fluxo de calor total transferido é a integral do
0
fluxo de calor convectivo ao longo de toda a superfície da aleta)

Usando o método (1), vem:

dT d
q aleta  kAb   kAb
dx x0 dx x 0

Mas, Ab  A  cte
d
qaleta  kA
dx
 
 b e mx   kA b ( m)e mx x0

hP
qaleta  kA b
kA
qaleta  b hPkA ou q aleta  hPkA ( T b  T  )

Pelo outro método (2):


qaleta   hP  dx ; P  cte
0

qaleta  hP  b e  mxdx
0


  e  mx  hP  b hP  b
q aleta  hP  b lim 
  0
e  mx
dx  hP  b lim  
  m
 
 m   
 
lim e  m  1 
m
 hPkA  b
 0

ou, q aleta  hPkA (T b  T  ) o mesmo resultado anterior!

(b) caso em que a extremidade da aleta é adia bática


(finito)
Nesse caso, admite-se que a transferência de calor na
extremidade da aleta é muito pequeno. Portanto,
Transferência de Calor e Massa 42

admite-se que é adiabático:

dT d d
dx
0 
dx
(extremidade adiabática), ou
dx
 
c1e mx  c2e mx  0
x L x L

be mL
De onde, se obtém, c2 
e mL  e  mL

Mas como c1  c2  b , então:  e  mL 


c1  b  mL  mL 
e  e 

Logo, substituindo na equação, vem:


 e  mL e mL
 mL  mL e mx  mL  mL
e  mx
b  e  e e e 
c1 c2

Ou
 e m( L x)  e  m( L x)  / 2
b

emL  emL / 2 ou
 ( x) coshm( L  x)

b coshmL

lembrete de funções hiperbólicas:

FUNÇÃO DEF INIÇÃ O DERI VADA


senhx e x  e x cosh x
2
cosh x e  e x
x senhx
2
tghx senhx sec h 2 x
cosh x

O fluxo de calor tota l tran sferido pel a aleta

O mesmo resultado do caso anterior


d d  cosh( L  x)m
qaleta   kA   kA  b  
dx x0 dx  cosh mL  x0

 kA b senh(mL)
  ( m)
cosh(mL)

 kA b m tgh(mL)
Transferência de Calor e Massa 43

q  b hPkA tgh(mL)

(c) aleta finita com perda de calor por convecção na extremidade

Caso realista.
Condição de contorno na extremidade:

 dT
em x L   k  h(TL  T ) condução na extremidade = convecção
 dx x L

Distribuição de temperaturas

h  
 ( x) coshm( L  x)  mk senhm( L  x)

b cosh mL  h
mk
senh(mL) 
Fluxo de calor

q  hPkA b
 mkconh(mL)
senh(mL)  h
cosh(mL)  h senh(mL)
mk

Comprimento Corrigido de Aleta

Em muitas situações, costuma-se usar a solução do caso (b) – extremidade adiabática –


mesmo para os casos reais. Para isso, usa-se o artifício de “rebater” a metade da
espessura t para cada lado da aleta e definir o chamado comprimento corr igido de aleta,
LC. Com isso, usa-se o caso (b) de solução mais simples.

b
t

L t/2

Lc=L+t/2

Lc  L  t / 2

O erro introduzido por


essa aproximação será
menor que 8% desde que
ht
 0,5
k
Transferência de Calor e Massa 44

AULA 7 – EFICI ÊNCIA E EFETI VIDADE DE ALET AS


Eficiência de Aleta

A teoria desenvolvida na aula anterior é bastante útil para uma análise em detalhes para
o projeto de novas configurações e geometrias de aletas. Para alguns casos simples,
existem soluções analíticas, como foi o do caso estudado da aleta de seção transversal
constante. Situações geométricas ou que envolvem condições de contorno mais
complexas podem ser resolvidas mediante solução numérica da equação diferencial
geral que governa o processo de transferência de calor na aleta. Na prática, a seleção de
aletas para um caso específico, no entanto, geralmente usa o método da eficiência da
aleta. Sendo que a eficiência de aleta,  A , é definida por

fluxo de calor transmitid o p / aleta  caso real


A 
fluxo calor que seria transmitid o caso a aleta estivesse à temp.base  caso ideal

Pode ser utilizado o comprimento corrigido, dado por: Lc = L+ t/2

Para o caso estudado na aula anterior da aleta retangular de extremidade adiabática, a


aplicação da definição de eficiência de aleta resulta em:

hPkA  btgh(mLc ) tgh(mLc ) hP


A   , com m 
hPLc b mLc kA

Por outro lado, o perímetro molhado é dado por

P  2(b  t )  2b (para t << b, aleta fina), sendo A  bt , de onde se obtém:


2h
mLc  Lc
kt
Transferência de Calor e Massa 45

Cálculo do Fluxo de Calor Atr avés da A leta

Da definição de eficiência de aleta, o fluxo de calor real transferido pela aleta, qA, pode
ser obtido por meio de q A   A qmax , onde o máximo fluxo de calor transferido, qmax, é
aquele que ocorreria se a aleta estivesse toda à temperatura da base, isto é:

q max  hAa  b ,

onde Aa é a área total exposta da aleta e  b  Tb  T

Assim, o fluxo de calor real transferido pela aleta é:

q A   a hAa b

Note que a eficiência da aleta,  a , selecionada sai de uma tabela, gráfico ou equação.
Na página seguinte há uma série de gráficos para alguns tipos de aletas.

Deve-se usar aleta quand o:

(1) h é baixo (geralmente em convecção natural em gases, como o ar atmosférico)

(2) Deve-se usar um material de condutividade térmica elevado, tais como cobre e
alumínio, por razões que veremos adiante.

O alumínio é superior devido ao seu baixo custo e baixa densidade.

Exemplo de Aplicação

Em um tubo de diâmetro externo de 2,5 cm são


instaladas aletas circulares de alumínio por um processo
de soldagem na superfície. A espessura das aletas é de
0,1 cm e o diâmetro externo das mesmas é de 5,5 cm,
como ilustrado. Se a temperatura do tubo for de 100 oC
e o coeficiente de transferência de calor for de 65
W/m2 K, calcule o fluxo de calor transferido pela aleta.

Solução

Trata-se de aleta circular de alumínio. O valor da condutividade térmica é de


aproximadamente 240 W/mK (obtido por consulta a uma tabela de propriedades
termofísicas dos sólidos). Vamos calcular os parâmetros do gráfico correspondente dado
na página 50 à frente.
Transferência de Calor e Massa 46

t  0,001 m
(5,5  2,5) t
L  0,01  0,015 m  Lc  L   0,0155 m
2 2
0, 5

AP  Lc t  0,0155  0,001  1,55  10 5 m 2  L3c 2 h kAP 1 2  0,01551,5 65 240  1,55  10 5   0,255

Para o uso do gráfico, precisamos ainda da razão entre o raio externo corrido e o raio
interno da aleta.

r 2c r2  t / 2 2,75  0,1 / 2
   2,24 Com esses dois parâmetros no gráfico, obtemos
r1 r1 1,25
 A  91% . Assim, o fluxo de calor trocado pela aleta é:
q A   a hAa  b  0,91 65  0,00394  75  17,5 W, Já que a área exposta da aleta,
vale, Aa  2   r22c  r12   0,00394 m .
2

Exemplo de Aplicação (cont. ..)

Admitindo que o passo das instalações da aleta é de 1 cm, qual deve ser o fluxo de calor
total transferido pelo tubo, se o mesmo tiver 1 m de comprimento.

Solução

O tubo terá 100 aletas. O fluxo de calor trocado por aleta já é conhecido do cálculo
anterior. O fluxo de calor da porção de tubos sem aletas será:

q sa  hAsa (Ts  T ), onde Asa é a área do tubo em que não há aletas.

Asa  2  r1  ( LT  N a  t )  2 1,25100  100  0,1  706,8 cm 2  0,07068 m 2

Assim, q sa  65  0,07068(100  25)  344,6 W

O fluxo de calor trocado pelas 100 aletas será q ca  100  17,5  1750 W

Finalmente, o fluxo total de calor trocado pelo tubo será

1750
qT  q sa  q ca  344,6  1750  2094,5 W e %  100%  83,6%
2095

Como se vê, a instalação das aletas aumenta consideravelmente a transferência de calor.


Transferência de Calor e Massa 47

Fluxo de calor transmitido


pela aleta:

q   a hAa b

 b  Tb  T

Aa é a área total exposta da


aleta

Para obter a eficiência da


aleta, use os dados
geométricos disponíveis e
os indicados nos gráficos.
Uma vez obtida a
eficiência da aleta, calcule
o fluxo real de calor
através da simples
expressão acima.

Comentários :

Aleta triangular (y ~ x)
requer menos material
(volume) para uma mesma
dissipação de calor do que
a aleta retangular. Contudo,
a aleta de perfil parabólico
é a que tem melhor índice
Ap – área de seção transversal de aleta de dissipação de calor por
unidade de volume (q/V),
mais é apenas um pouco
Tipo Aa área total exposta da aleta superior ao perfil triangular
Retangular 2bLc e seu uso é raramente
Triangular b – largura da justificado em função de

2b L2  ( L / 2) 2 1/ 2 aleta maior custo de produção.
Parabólica Lc = L-corrigido A aleta anular é usada em

2,05b L2  ( L / 2) 2 1 / 2 t = espessura
tubos.
Anular 1/ 2

2b r2c 2  r12 
Transferência de Calor e Massa 48

Efetividad e da Aleta

Como visto, a eficiência de aleta é somente um procedimento de cálculo, mas não


indica se a transferência de calor realmente aumenta ou não com a instalação de aletas.
Claro que está informação é crucial se o engenheiro pretende decidir pela instalação de
aletas para incrementar a transferência de calor.Tal análise só pode ser feita através da
análise da efetividade. Para que se possa efetivamente tomar uma decisão sobre o uso
ou não de aletas, deve-se lançar mão do método da efetividade de aleta, .
Nesse método, compara-se o fluxo de calor devido à presença da aleta com o fluxo
de calor caso ela não tivesse sido instalada, ou seja:

qaleta q
  aleta
q s / aleta hAb b

Note que o fluxo de calor sem a aleta, q s/aleta, é o que ocorreria na base da aleta,
conforme ilustração acima. Como regra geral, justifica-se o caso de aletas para ε > 2.

Para aleta retangular da extremidade adiabática

hPkA  b tgh(mLc )

hAb b

tgh(mLc )
Nesse caso: A = Ab e, portanto,  
hA/ kP
Transferência de Calor e Massa 49

Exemplos de Aplicação

Exemplo de aplicação 1 – Uma aleta de aço inoxidável, seção circular de dimensões L


= 5 cm e r = 1 cm é submetida a três condições de resfriamento, quais sejam:

A – Água em ebulição; h = 5000 W/m2K


B – Ar – convecção forçada; h = 100 W/m2K
C – Ar – Convecção natural; h = 10 W/m2K

Calcule a efetividade da aleta, para os seguintes dados

- k aço inox = 19 W/m K


- Comprimento corrigido: Formula

Solução:

tgh(mLc )
 , com
hA/ kP

hP h 2r 2h 2h
m     3,24 h e mLc  3,24 h 0,05  0,01 / 2 , ou
kA kr 2 kr 19.0,01

seja: mLc  0,178 h .

hA hr 2 hr h.0,01
No denominador tem-se:     0,0162 h .
kP k 2r 2k 2.19
Substituindo estes dois resultados na expressão da efetividade, vem:

tgh(0,178 h )

0,0162 h
Transferência de Calor e Massa 50

Agora, analisando os três casos (valores diferentes de h)

tgh(0,178 5000 ) 1
Cas o A : h = 5000 W/m2 K     0,873
0,0162 5000 1,145

tgh(0,178 100 ) 0,945


Cas o B : h = 100 W/m2 K     5,833
0,0162 100 0,162

tgh(0,178 10 ) 0,510
Cas o C : h = 10 W/m2K    10,0
0,0162 10 0,051

Comentário

- Como visto, a colocação da aleta nem sempre melhora a transferência de calor. No


caso A, por exemplo, a instalação de aletas pioraria a transferência de calor. Um critério
básico é que a razão hA/Pk deve ser muito menor que 1 para justificar o uso de aletas.

hA
Caso (A)   1,31
kP
hA
Caso (B)   0,026
kP
hA
Caso (C)   0,00262
kP

- Informação importante: A aleta deve ser colocada do lado do tubo de menor


coeficiente de transferência de calor que é também o de maior resistência térmica.

Exemplo de aplica ção 2 – Considerando o problema anterior, suponha que a aleta seja
constituída de três materiais distintos e que o coeficiente de transferência de calor seja h
= 100 W/m2 oC. Calcule a efetividade.
Das tabelas de propriedades de transporte dos materiais, obtém-se:

A – Cobre  k = 368 W/m K


B – Aço inox  k = 19 W/m K
C – Alumínio  k = 240 W/m K

Solução:

2h 2.100 141,4 141,4


m   e, portanto, mLc  0,05  0,01 / 2  7,76
kr k.0,01 k k k
Transferência de Calor e Massa 51

hA hr 100.0,01 1
No denominador, agora temos:   
kP 2k 2k 2k

Substituindo ambos resultados, obtém-se:

  2k  tgh(7,76 / k )

Cas o (A): k = 368 W/m K (cobre) ε = 10,7

Cas o (B): k = 19 W/m K (aço inox) ε = 5,8

Cas o (C): k = 240 W/m K (alumínio) ε = 10,1

Comentário:

O material da aleta é bastante importante no que toca a efetividade de uma aleta. Deve-
se procurar usar material de elevada condutividade térmica (cobre ou alumínio).
Geralmente, o material empregado é o alumínio por apresentar várias vantagens, tais
como:

(1) É fácil de ser trabalhado e, portanto, pode ser extrudado;


(2) Tem custo relativamente baixo;
(3) Possui uma densidade baixa, o que implica em menor peso final do
equipamento;
(4) Tem excelente condutividade térmica.

Claro, que cada caso é um caso. Em algumas situações as aletas podem ser parte do
projeto original do equipamento e serem fundidas juntamente com a peça, como ocorre
com as carcaças de motores elétricos e os cilindros de motores resfriados a ar, por
exemplo. Nesse caso, as aletas são feitas do mesmo material da carcaça do motor.
Transferência de Calor e Massa 52

AULA 8 – CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME


TRANSITÓRIO – SISTEMA CONCENTRADO

Introdução

Quando um corpo ou sistema a uma dada temperatura é bruscamente submetido a novas


condições de temperatura no seu contorno como, por exemplo, pela sua exposição a um
novo ambiente, certo tempo será necessário até que seja restabelecido o equilíbrio térmico.
Exemplos práticos são aquecimento/resfriamento de processos industriais, tratamento
térmico, entre outros.
No esquema ilustrativo abaixo, suponha que um corpo esteja inicialmente a uma
temperatura uniforme T0. Subitamente, ele é exposto a um ambiente que está a uma
temperatura maior T∞2. Uma tentativa de ilustrar o processo de aquecimento do corpo está
indicada no gráfico temporal do esquema. A forma da curva de aquecimento esperada é, de
certa forma, até intuitiva para a maioria das pessoas, baseado na própria experiência
pessoal.

T∞ 2

T∞1

T0 = T∞1

T∞ 2

∆t

Uma análise mais detalhada e precisa do problema do aquecimento do exemplo


ilustrativo acima vai, entretanto, indicar que o aquecimento do corpo não ocorre de forma
uniforme no seu interior. Na ilustração que segue, indica-se de forma indicativa a
temperatura na no centro Tc, e numa posição qualquer na superfície Ts. Note que as curvas
Transferência de Calor e Massa 53

de aquecimento não são iguais. Isto indica que a variação da temperatura no corpo não é
uniforme dentro do corpo, de uma forma geral. Esta análise que envolve o problema da
difusão interna do calor, é um pouco complexa do ponto de vista matemático, mas pode ser
resolvida para alguns casos de geometrias e condições de contorno simplificadas. Casos
mais complexos podem ser resolvidas de forma numérica. Entretanto, o interesse da aula de
hoje é numa hipótese simplificadora que funciona para um grande número de casos
práticos. A ideia consiste em assumir que todo o corpo tenha uma única temperatura
uniforme a cada instante, como foi ilustrado anteriormente, de forma que se despreze a não
uniformidade da temperatura interna. Esta hipótese é chamada de sistema concentrado,
como discutido na sequência.

T∞ 2 T∞ 2

Sistema Concentrado

A hipótese é que a cada instante de tempo t, o sistema tenha uma só temperatura


uniforme T(t). Isto ocorre em situações nas quais os sistemas (corpos) tenham sua
resistência interna à condução desprezível face à resistência externa à troca de calor
(geralmente convecção).
Para conduzir essa análise, será lançado mão do esquema abaixo para o qual se realiza
um balanço de energia, indicado a seguir.

T∞

q convecção

T0
Transferência de Calor e Massa 54

Balança de energia

Taxa temporal de Fluxo de calor


variação de energia = Trocado por
interna do corpo convecção
(I) (II)

Termo (I):

dU du du dT
=m = ρ∀ = ρc∀
dt dt dt dt

m = massa do corpo;
U = energia interna do corpo;
u = energia interna específica do corpo;
ρ = densidade do corpo;
∀ = volume do corpo;
c = calor específico do corpo.

Termo (II):

qconv = −hA(T − T∞ )

h = coeficiente transferência de calor por convecção para o fluido circunvizinho;


A = área da superfície do corpo em contato com o fluido;
T = temperatura instantânea do corpo T = T (t);
T∞ = temperatura ao longe do fluido.

Assim, pelo esquema do balanço de energia, vem:

dT
ρ∀c = − hA(T − T∞ )
dt

Essa é uma equação diferencial de primeira ordem, cuja condição inicial é T(t=0) = T0

Separando as variáveis para se realizar uma integração por partes, vem:

dT − hA
= dt
T − T∞ ρc∀

Por simplicidade, seja θ = T − T∞ ⇒ dθ = dT , então:


Transferência de Calor e Massa 55

θ
dθ hA dθ
t
hA
θ
=−
ρc∀
dt , ou ∫
θ
θ
=−∫
t =0
ρc∀
dt , do que resulta em:
0

θ  hA
ln  = − t.
 θ0  ρc∀
Finalmente,

hA hA
θ − t T − T∞ − t
= e ρc∀ ou = e ρc∀
θ0 T0 − T∞

Analogia Elétrica

Essa equação resulta da solução de um sistema de primeira ordem. Soluções desse tipo
ocorrem em diversas situações, inclusive na área de eletricidade. Existe uma analogia
perfeita entre o problema térmico apresentado e o caso da carga e descarga de um capacitor,
como ilustrado no esquema abaixo.

Inicialmente o capacitor C é carregado até uma tenção elétrica V0 (chave ligada).


Depois, a chave é aberta e o capacitor começa a se descarregar através da resistência R.
A solução desse circuito RC paralelo é

t
V −
= e RC
V0

Note a Analogia

Elétrica Térmica
Tensão, V T − T∞
Capacitância, C ρ c∀
Resistência, R 1 / hA
Transferência de Calor e Massa 56

Circuito térmico equivalente

ρc∀ 1 / hA

T∞
Constante de tempo do circuito elétrico, τ

τ = RC

A constante de tempo é uma grandeza muita prática para indicar o quão rápido o
capacitor se carrega ou se descarrega. O valor de t = τ é o instante em que a tensão do
sistema atingiu o valor de e-1 ~ 0,368

τ
V − 1
= e τ = e −1 = = 0,368
V0 e

Com isso, pode-se fazer uma análise muito interessante, como ilustrado no gráfico
abaixo que indica a influência da tensão no capacitor para diferentes constantes de tempo.
Quanto maior a constante de tempo, mais o sistema demora para atingir o valor de 0,368V0.

τ1 τ 2 τ 3 τ4

Por analogia, a constante de tempo térmica é tudo o que “sobrar” no denominador do valor
da exponencial, isto é:

hA t
T − T∞ − t − ρc∀
= e ρc∀ = e τ t → τ t =
T0 − T∞ hA

Veja o gráfico ilustrativo abaixo para ver a influência da constante de tempo térmica.
Transferência de Calor e Massa 57

T − T∞

T0 − T∞

0,368(T0 − T∞ )
τt

Um exemplo interessante da aplicação dos conceitos de transitório térmico é o caso da


medida de temperaturas com sensores do tipo termopar e outros. Esses sensores consistem
de dois fios fundidos em uma extremidade que formam uma pequena “bolinha” a qual é
exposta a um ambiente em que se deseja mediar sua temperatura. Suponha de forma
ilustrativa, um ambiente que idealmente sua temperatura tem o comportamento ilustrado
pela linha cheia no esquema abaixo, isto é, sua temperatura oscila entre T∞1 e T∞2, de
período em período (onda quadrada). Agora deseja-se selecionar um sensor que acompanhe
o mais próximo possível o seu comportamento. Três sensores de constantes térmicas
diferentes são mostrados. Note que o sensor de maior constante térmica, τ 3 , praticamente
não “sente” as variações de temperatura, enquanto que o sensor de menor constante térmica
acompanha melhor as variações de temperatura. Esse exemplo poderia ser o caso de um
motor de combustão interna em que as temperaturas da câmara variam com a admissão e
combustão dos gases. Com esse simples exemplo, mostra-se a importância da constante
térmica.

T − T∞
τ 2 < τ1 τ1
T0 − T∞1
τ 3 > τ1

T0 − T∞ 2
Transferência de Calor e Massa 58

A equação que rege o regime transitório concentrado pode ainda ser reescrita para se obter
a seguinte forma
T − T∞
= e − Bi Fo
T0 − T∞
hL
Onde, Bi é o número de Biot, definido por Bi = , e Fo é o número de Fourier, definido
k
αt
por Fo = (trata-se de um “tempo” adimensional)
L2

h = coeficiente transferência de calor por convecção;


α = difusividade térmica;
k = condutividade térmica;
L = comprimento característico do corpo;
O número de Biot é uma razão entre a resistência interna à condução de calor e a resistência
externa à convecção.
Pode-se adotar L como sendo a razão entre o volume do corpo pela sua área exposta à troca
de calor.
V → volume do corpo
L=
A → área exposta
Para concluir esta aula, deve-se informar o limite da aplicabilidade da hipótese de sistema
concentrado. Mostra-se que a hipótese de sistema concentrado admite solução razoável
desde que:
Bi < 0,1

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 1 (adaptado de Incropera, ex. 5.1)

Termopares são sensores muito precisos para medir temperatura. Basicamente, eles são
formados pela junção de dois fios de materiais distintos que são soldados em suas
extremidades, como ilustrado na figura abaixo. A junção soldada pode, em primeira análise,
ser aproximada por uma pequena esfera de diâmetro D. Considere um termopar usado para
medir uma corrente de gás quente, cujas propriedades de transporte são: k = 20 W/m K,
Transferência de Calor e Massa 59

c = 400 J/kg K e ρ = 8500 kg/m3. Inicialmente, o termopar de D = 0,7 mm está a 25 oC e é


inserido na corrente de gás quente a 200 oC. Quanto tempo vai ser necessário deixar o
sensor em contato com o gás quente para que a temperatura de 199,9 oC seja indicada pelo
instrumento? O coeficiente de transferência de calor vale 400 W/m2K.

SOLUÇÃO
V D 0,7 × 10 −3
Comprimento característico: L = = = = 1,167 × 10 − 4 m
A 6 6

hL 400 × 1,167 × 10 −4
Número de Biot: Bi = = = 2,333 × 10 −3
k 20

1  T − T∞  1  199,9 − 200 
Da expressão da temperatura, vem Fo = − ln =− ln  = 3200,76
Bi  T0 − T∞ 
 2,333 × 10 −3
 25 − 200 

k 20 αt
Dado que α = = = 5,883 × 10 −6 e Fo = 2 , vem:
ρc 8500 × 400 L

t=
Fo × L2
=
(
3200,76 × 1,167 × 10 − 4 )
2
= 7,4 s
α 5,883 × 10 −6

Comentário: note que o número de Biot satisfaz a condição de sistema concentrado Bi < 0,1 .
Um tempo relativamente longo é necessário para obter uma leitura precisa de temperatura.
O que aconteceria com o tempo se o diâmetro do termopar fosse reduzido à metade?

EXEMPLO DE APLICAÇÃO 2

Melancias são frutas muito suculentas e refrescantes no calor. Considere o caso de uma
melancia a 25 oC que é colocada na geladeira, cujo compartimento interno está a 5 oC. Você
acredita que o resfriamento da melancia vai ocorrer de forma uniforme, ou se, depois de
alguns minutos, você partir a melancia, a fatia da mesma estará a temperaturas diferentes?
Transferência de Calor e Massa 60

Para efeito de estimativas, considere que a melancia tenha 30 cm de diâmetro e suas


propriedades termofísicas sejam as da água. Considere, também, que o coeficiente de
transferência de calor interno do compartimento da geladeira valha h = 5 W/m2 oC.

Solução:

á  0,025 /°


Cálculo do Nº de Biot

 
  , sendo  
 

0,3
  0,05
6

D= 0,3 m
D = 0,3 m
,
   10
,

Conclusão, a melancia não vai resfriar de forma uniforme. Isto está de acordo com sua
experiência?
Transferência de Calor e Massa 61

AULA 9 – CONDUÇÃO DE CALO R EM REGIM E


TRA NSITÓR IO – SÓLID O SEMI -INF INITO

Fluxo de Calor num Sólido Semi-Inf inito


Na aula anterior foi estudado o caso da condução de calor transitória para sistemas
concentrados. Aquela formulação simplificada começa a falhar quando o corpo possui
dimensões maiores de forma que a resistência interna à condução não podem ser
desprezadas (Bi > 0,1). Soluções analíticas existem para casos em que uma das
dimensões é predominante e muito grande que, em termos matemáticos, é dito infinito.
Considere o esquema abaixo de um sólido com uma superfície exposta à troca de calor
(à esquerda) e sua dimensão se estende à direita para o infinito (daí o nome de semi-
infinito). A face exposta sobre bruscas mudanças de condição de contorno, como se
verá.

Condi ções de cont orno

(A) Temperatura constante na fa ce exposta:

Solução: T(x, t)

Equação geral condução de calor

q ' ' ' 1 T


 2T  
k  t

 2T 1 T
Por não haver geração interna de calor, vem que  , a qual é submetida as
x2  t
seguintes condições:

- Condição inicial: T ( x,0)  Ti


- Condição de contorno: T (0, t )  T0

Sem apresentar detalhes da solução do problema, prova-se que a distribuição de


temperaturas é dada por:
Transferência de Calor e Massa 62

T  T0  x 
 erf   , onde
Ti  T0  2 t 

erf é a chamada função e rro de Gaus s, cuja definição é dada por:

x
2 t
 x  2  2
erf   e d
 2 t   0

Vista em forma gráfica, esta função tem o seguinte comportamento.

Para valores numéricos de T = T (x,t), veja a Tabela B – 2 do livro do Incropera


e Witt. Note que o seu comportamento se parece com uma exponencial “disfarçada”.

Tabel a B-2 do Incropera


Transferência de Calor e Massa 63

Fl uxo de calor numa posição x e tempo t

Para se obter o fluxo de calor instantâneo numa dada posição qualquer, basta aplicar a
lei de Fourier da condução. Isto é feito substituindo a distribuição de temperaturas
acima, na equação de Fourier, isto é:
x
 2 t

T   x    2 2 
q x  kA   kA T0  (Ti  T0 )erf ( )  kA(Ti  T0 )  e

d 
x x  2 t  x   0 
 
x2
 kA2(Ti  T0 )    x 
 e 4t
, do que, finalmente, resulta em:
 x  2 t 

x2
 kA(Ti  T0 ) 
qx  e 4t

t

(B) Fluxo de calor constan te na face exposta:

Neste outro caso, estuda-se que a face exposta está submetida a um fluxo de calor
constante,

 2T 1 T
Partindo da equação da condução de calor  , submetida as seguintes
x2  t
condições:

- Condição inicial: T ( x,0)  Ti


T
- Condição de contorno:  kA  q0
x x 0
Transferência de Calor e Massa 64

A solução é:

x2
t  4t
2q 0 e
 q x  x 
T  Ti   0 1  erf  
kA kA   2 t  

NOTA: Obtenha o fluxo de calor!!

(C) Convecção de calor na face exposta

Nesse terceiro caso, analisa-se o caso em que ocorre convecção de calor na face
exposta à esquerda.

T

Novamente, partindo da equação da condução de calor sem geração interna, vem:


 2T 1 T
 , a qual é submetida às seguintes condições:
x2  t

- Condição inicial: T (x,o) = Ti


T
- Condição de contorno:  kA  hAT (0, t )  T  (condução interna =
x x 0
Convecção)

A solução é:

  hx h2t  
T  Ti  x    k  k 2     x h t 
 1  erf   e 1  erf   
T  Ti  2 t      2 t k 
 

NOTA: Obtenha o fluxo de calor! – use a Lei de Fourier!


Transferência de Calor e Massa 65

Outros cas os de condução trans itória de interes se

Placas, chapas, cilindros e esferas são geometrias muito comuns de peças


mecânicas. Quando o número de Biot é pequeno, basta que se use a abordagem de
sistema concentrado. Entretanto, quando isso não ocorre, há de se resolver a equação
geral da condução de calor. No entanto, para essas geometrias básicas, Heisler
desenvolveu soluções gráficas, como mostrado na tabela abaixo.

Tabela – convenção para uso dos diagramas de Heisler

Placas cuja espessura é Cilindros cujos diâmetros são Esferas


pequena em rela ção as outras pequenos quando comparados
dimensões com o comprimento

T
T T

  T ( x, t )  T ou   T (r , t )  T
 i  Ti  T
 0  T0  T
 e  Te  T
hL
Número de Biot: Bi 
k

L – dimensão características (dada no gráfico)

Número de Fourier, Fo (tempo adimensional), definido por

t kt
Fo  2

L cs 2

Calor total trocado pelo corpo Qi

Q  c(T  T )  c
Transferência de Calor e Massa 66

Gráficos de Heisler para uma placa de espessura 2L. Para outras geometrias (esfera e
cilindro): ver Apêndice D do Incropera e Witt
Transferência de Calor e Massa 67

Exemplo:

Uma placa de espessura de 5 cm está inicialmente a uma temperatura uniforme de


425 ºC. Repentinamente, ambos os lados da placa são expostos à temperatura ambiente,
T = 65 ºC com hmédio = 500 W/m2 ºC. Determinar a temperatura do plano médio da placa
e a temperatura a 1,25 cm no interior da mesma, após 3 min.

Dados:

k = 43,2 W/mK
α = 1,19 x 10-5 m2/s h

5 cm

Solução:

2L = 5 cm = 0,05 m → L = 0 ,025 m

hL 500  0,025
Bi    0,289  0,1
k 43,2
Não se aplica a solução de sistema concentrado. Portanto, use a solução de Heisler. Para
isso, deve-se calcular os parâmetros para os gráficos da página anterior, que são:

1 1 t 1,19 10 5  180


  3,45 e F0  2   3,43
Bi 0,289 L 0,025 2
1 1
Do diagrama de Heisler (página anterior), vem:   3,45 0
Bi 0,165  0,45
i
F0  3,43

e 65  (425  65).0,45  227 . Assim,


T0  227 oC Na linha de centro após 3 mim

Do gráfico para uma posição qualquer x:

1 / Bi  3,45 
0,0125  0,95
x/ L   0,5 0
0,05

T  T  (T0  T )  0,95  65  (281  65)  0,95


x
T  270,2o C p/  0,5 , t  3 min
L
Transferência de Calor e Massa 68

AULA 10 – CONDUÇÃ O DE CALO R EM REGIM E


PERMA NENTE BIDIM ENSIONAL

Condu ção Bidimensional

Até a presente aula, todos os casos estudados referiam-se à condução de calor


unidimensional em regime permanente, ou seja, não se considerava a distribuição
espacial da temperatura para além de uma dimensão. Evidentemente, muitos problemas
reais são bi ou tridimensionais. Soluções analíticas existem para um número limitado de
problemas. Os casos mais realistas devem ser resolvidos de forma numérica. Entretanto,
neste curso introdutório é importante que o estudante tenha uma visão das soluções
analíticas existentes e, para isso, é resolvido um problema clássico que é o método da
separação das variáveis para uma placa retangular bidimensional.

O Método da Separaç ão de Variávei s

Seja uma placa retangular, submetida às condições de contorno ilustrados, isto é, todos
os lados estão à mesma temperatura T1, exceto o lado superior que está à T2.

Placa retangular com as condições de contorno indicadas, procura-se T (x,y)

Equação da condução de calor

q ' ' ' 1 T


 2T  
k  t

Hipót eses:

(1) Regime permanente


(2) Sem geração interna de calor
(3) Bidimensional
Transferência de Calor e Massa 69

 2T  2T
As hipóteses resultam em:  2T  0 ou  0
x2 y 2

Condição de contorno – temperatur as dos quatr o lados

(1) T(0,y) = T1
(2) T(L,y) = T1
(3) T(x,0) = T1
(4) T(x,b) = T2

É conveniente realizar uma mudança de variáveis

T  T1

T2  T1

Condições de contorno na nova variável θ são:

(1) θ(0,y) = 0
(2) θ(L,y) = 0
(3) θ(x,0) = 0
(4) θ(x,b) = 1

dT
De onde se tem também que a variação elementar de temp. é  d
T2  T1

 2  2
Então,   0 Esta é a equação da condução na nova variável.
x2 y 2

A técnica de separação das variáveis supõe que a distribuição de temperaturas


θ(x,y), é o produto de duas outras funções X e Y as quais, por sua vez, são funções
exclusivas apenas das variáveis do problema x e y, respectivamente, isto é:

 ( x, y)  X  x  Y y

Assim, a derivada parcial em relação à x dessa nova função são:

 dX
Primeira derivada: Y
x dx
2
 d2X
Segunda derivada:  Y
x 2 dx 2

Analogamente em relação à y:
 2 d 2Y
Segunda derivada:  X
y 2 dy 2
Transferência de Calor e Massa 70

Logo, substituindo essas derivadas segundas parciais na equação diferencial da


condução, vem:

d2X d 2Y
Y  X 0
dx 2 dy 2

ou, dividindo pelo produto XY, vem:


1 d 2Y 1 d2X
 
Y dy 2 X dx 2

É digna de nota que na equação acima o lado esquerdo é uma função exclusiva de y
e o lado direito, uma função exclusiva de x. No entanto, os dois lados da igualdade são
sempre iguais. Isto implica dizer que a igualdade não pode ser nem função de x, nem de
y, já que de outra forma não seria possível manter a igualdade sempre válida. De forma
que a igualdade deve ser uma constante que, por conveniência matemática, se usa o
símbolo 2 . Dessa forma, tem se:

1 d2X
  2 e
X dx 2

1 d 2Y
 2
Y dy 2

Note que a equação diferencial parcial original deu origem às duas outras equações
diferenciais comuns ou ordinárias, mostradas acima. As soluções dessas duas novas
equações são bem conhecidas (lembre-se do polinômio característico) e são:

X  x  C1 cos x  C 2 senx , e

Y y  C3 e  y  C 4 e y

De forma que, voltando à variável original,  ( x, y)  X  x  Y y , a solução global é:

  x, y  C1 cos x  C 2 senx.C 3 e  y  C 4 e y 

Nesse ponto, a análise se volta para cada caso especifico dado pelas condições de
contorno. É preciso fazer isso com critério.

Da 1a Condição de contorno: θ(0,y) = 0

 
 0, y  C1 cos .0  C 2 sen.0. C3 e y  C 4 e y  0
Transferência de Calor e Massa 71

De onde se conclui que a única possibilidade é que C1  0

Agora, da 3ª condição de contorno: θ(x,0) = 0

0  C2 senx
. C3  C 4 

de onde se obtém que C 3  C 4  0  C3  C 4

Da 2ª condição de contorno: θ(L,y) = 0


0  C2 senL. C4 (e y  e  y ) 
mas, como simultaneamente as duas constantes não podem ser nulas, isto é:
C2 e C4  0 , logo, deduz-se que sen(L)  0

Os possíveis λ que satisfazem essa condição são: L  n


n
ou, seja   n = 1,2,3, .....
L

nota: λ = 0 , resulta na solução trivial e não foi considerada.

Portanto, a distribuição de temperaturas até o presente é:

 nLy 
ny

 x  e  e L 
 n  x, y  2C2C4 sen n  
  L  2
Cn 
 
ny
senh ( )
L

x y
ou, seja  n  x, y  C n sen(n ) senh(n )
L L

Para cada n = 1,2,3,... Existe uma solução particular θn. Daí também ter juntado as
constantes C 2 e C 4 num nova única constante Cn que dependem do valor de n.

Então a solução geral deve ser a combinação linear de todas as possíveis soluções.


 nx   ny 
  x, y   C n sen  senh 
n 1  L   L 

Cn deve ser obtido da última condição de contorno: θ(x,b) = 1, isto é:


 nx   nb 
1   Cn sen  senh 
n 1  L   L 
Transferência de Calor e Massa 72

A última e mais difícil tarefa é de encontrar os coeficientes Cn da série acima para


obter a distribuição final de temperaturas. Essa tarefa é realizada usando a teoria das
funções ortogonais, revista abaixo.

REVISÃO DO CONCEITO DE FU NÇÕES ORTOGONAIS


Um conjunto infinito de funções g1(x), g2(x), é dito ortogonal no domínio a  x  b , se
b

g
a
m ( x) g n ( x)dx  0 p/ m n

(dica: note que se parece com produto escalar de vetores: dois vetores
ortogonais tem o produto escalar nulo)
x x
Muitas funções exibem a propriedade de ortogonalidade, incluindo sen(n ) e cos(n ) em
L L
0 x L
Verifica-se também, que qualquer função f(x) pode ser expressa numa série infinita de funções
ortogonais, ou seja:

f ( x)   Am g m ( x)
m1

Para se obter os coeficientes Am; procede-se da seguinte forma:

(1) Multiplica-se por g n (x) , ambos os lados da igualdade:


g n ( x) f ( x)  g n ( x) Am g m ( x)
m1

(2) Integra-se no intervalo de interesse:

b b 

 g n ( x) f ( x)dx    g n ( x) Am g m ( x)dx
a a
 m1 
Usando a propriedade de ortogonalidade, ou seja
b
 g m ( x) g n ( x)dx  0 se m  n
a

Pode-se eliminar a somatória, então:

b b 2
g
a
m ( x) f ( x)dx   Am g m ( x)dx
a

Finalmente, as constantes da série Am podem ser obtidas:

b
 g m ( x) f ( x)dx
Am  a
b 2
 g m ( x)dx
a
Transferência de Calor e Massa 73

Voltando ao problema, tem-se:


 nx   nb 
1   Cn sen  senh  (A)
n 1  L   L 

Comparando com o caso acima, vemos que f(x) = 1 e que

 nx 
g n ( x)  sen  ; n  1,2,....

 L
funcão ortogonal

Logo, expandindo a função f(x) = 1, vem


 nx 
1   An sen 
n1  L 

Assim, pode-se obter os coeficientes da série do já visto na revisão acima:

L nx 
 sen dx
0
 L  2 (1) n 1  1
An  
2  nx  n
L 
0 sen  L dx
Então,

2 (1) n1  1  nx 
1  sen  (B)
n1  n  L 

Comparando (A) com (B), vem:

n 1

 nx   nb   2 (1)  1  nx 
 C n sen  senh  
 sen 
n1  L   L  n1  n  L 

Então, da igualdade das séries:

Cn 

2 (1) n 1  1  ; n  1,2,3,....
 nb 
nsenh 
 L 

De forma que a solução final do problema é:

 ny 
n1 senh 
2 
(1)  1  nx   L 
 ( x, y)   sen 
 n1 n  L  senh nb 
 
 L 
Transferência de Calor e Massa 74

É interessante ver o gráfico desta função

 1

  0.75
 0
 0 0.50
0.25
0.10

 0

Calcule o fluxo de calor. Nesse caso, você precisa calcular qx e qx. Note que o fluxo de
calor, nesse caso, será dado de forma vetorial, isto é:

 T   T    
q x  k i e q y  k j . Sendo que o fluxo total de calor será q   q x  q y e o
x y
módulo do fluxo de calor será q   q x 2  q y 2 em W/m2

Faça os Exercícios 4.2 e 4.3 do Incropera e Witt

Método Grá fico

O método gráfico é empregado para problemas bidimensionais envolvendo condições


de contorno adiabáticas ou isotérmicas. Exige paciência, sendo que o objetivo é
construir uma malha formada por isotérmicas e linhas de fluxo de calor constante.
Com a finalidade de ilustrar o método, considere uma seção quadrada, cuja superfície
interna é mantida a T1 e a externa T2.

(1) O primeiro passo é identificar todas as possíveis linhas de simetria do problema


tais linhas são determinadas pela geometria e condição simétricas.
Transferência de Calor e Massa 75

(2) As linhas de simetria são adiabáticas, ou seja, não há fluxo de calor na direção
perpendicular a elas. Portanto, podem ser tratados como linhas de fluxo de calor
constante.

(3) Traças algumas linhas de temperatura constante. Lembre-se que elas são
perpendiculares às linhas de fluxo constante.

(4) As linhas de fluxo constante devem ser desenhadas criando quadrados


curvilíneos. Isto é feito fazendo como que as linhas de fluxo cruzem as linhas
de temperatura constantes em ângulo reto e impondo que todos os quadrados
tenham aproximadamente, o mesmo comprimento.

(5) Quando houver um “canto” isotérmico”, a linha de fluxo cte. Deve bissectar o
ângulo formado pelas duas superfícies


O fluxo de calor, por unidade de espessura de material, que atravessa o quadro


curvilíneo ilustrado é:

 T 
qi  kl   (1)
 l 
Transferência de Calor e Massa 76

O fluxo de calor acima é o mesmo que atravessa qualquer região que esteja limitada
pelas mesmas linhas de fluxo constantes desde T1 até T2. Então, pode-se escrever que.

T2  T1
T  (2)
N

Onde N é o numero de incrementos de temperatura entre T1 e T2. (no exemplo N = 5).


Assim, de (1)

(T2  T1 )
qi   k (3)
N

O fluxo de calor total, q, é a soma de todos os M “Faixas” formadas por duas linhas
adjacentes de fluxo de calor (no exercício M = 5)

M
M
q   qi  k(T2  T1 )
i 1 N

Define-se a razão M/N como o fator de forma do sistema, assim:

q  5k (T2  T1 )
Transferência de Calor e Massa 77

AULA 11 – SOL UÇÃO NUMÉ RI CA DE FERENÇ AS FINIT AS

Como se viu, a solução da equação da condução de calor em muitas situações é bastante


complexa e, verdadeiramente, na maioria dos casos práticos não existe nem solução
analítica. Nesse caso, lança-se mão de métodos numéricos. Há uma grande variedade de
métodos disponíveis na literatura, mas vamos nos ater a apenas um dos métodos: o das
diferenças finitas.
A idéia consiste em dividir a região que está sendo examinadas em pontos discretos ou
pontos nodais, e aplicar um balanço de energia para cada ponto nodal, conforme ilustrado
abaixo. Assim, transforma-se o meio contínuo em que se dá a transferência de calor em um
meio discreto formado por uma matriz de pontos com propriedades que “concentram” as
informações do meio contínuo original. Veja a figura abaixo. Após a discretização do meio
contínuo, considere o ponto nodal (m,n) indicado na figura abaixo, tendo como vizinhos os
pontos nodais (m-1,n) à esquerda, (m+1,n) à direita, (m,n-1) abaixo e (m,n+1) acima. A
distância entre os pontos nodais é x e y, nas duas direções principais.

m,n

m,n+1
x Pontos Nodais
y,n

x,m m,n
m-1,n m+1,n

m,n-1
Transferência de Calor e Massa 78

 2T  2T
A equação da condução de calor   0 pode assim ser discretizada:
x 2 y 2

T (Tm,n  Tm1,n )
 (Primeira derivada na direção x – face esquerda)
x 1
m , n x
2

T (Tm1,n  Tm,n )
 (Primeira derivada na direção x – face direita)
x 1
m , n x
2
Assim,

T T

 2T x 1
m , n x 1
m , n
 2 2
(Segunda derivada na direção x – centro)
x 2 x

 2T Tm1,n  Tm1,n  2Tm,n


Ou, ainda, após substituição das primeiras derivadas: 
x 2 m, n
(x) 2

 2T Tm,n 1  Tm,n 1  2Tm,n


Analogamente, na direção y: 
y2 m, n
(y) 2

Assim, a equação da condução de calor diferencial pode ser aproximada por uma equação
algébrica,

 2T  2T
  Tm1,n  Tm1,n  Tm,n 1  Tm,n 1  4Tm,n  0 se Δx = Δy
x 2 y 2

A equação acima é a forma da equação do calor em diferenças finitas. Note que a


temperatura nodal Tm,n representa a média aritmética das quatro temperaturas da sua
redondeza.
Transferência de Calor e Massa 79

O que acontece nas regiões de contorno do problema?

Suponhamos que haja convecção, conforme ilustrado. Um nó (à direita) se situa sobre a


superfície ou contorno do meio.

T

Procede-se a um balanço de energia para o ponto (m,n) em questão

(Tm,n  Tm1,n ) x (Tm,n  Tm,n 1 ) x (Tm,n  Tm,n 1 )


 ky k k  hy(Tm,n  T )
x 2 y 2 y

se Δx = Δy

 x  x 1
Tm,n  h  2   h T  (2Tm1,n  Tm,n 1  Tm,n 1 )  0
 k  k 2

Para outras condições de contorno, equações semelhantes podem ser escritas.

Por exemplo, um canto superior à direita:

T

 x  x
2Tm, n  h  1  2h T  (Tm1,n  Tm,n 1 )  0
 k  k

Ver tabela 4.2 (Incropera) ou Tabela 3.2 Holman para outras condições e geometrias.
Transferência de Calor e Massa 80

Tabela 4.2 do Incropera.

Uma vez que as equações de todos os pontos nodais foram estabelecidas, obtém-se um
sistema de N equações por N incógnitas do tipo (N=m.n):
Transferência de Calor e Massa 81

a 11T1  a 12T2  . . . a 1N TN  c1
a 21T1  a 2 2T2  . . . a 2 N TN  c 2
. . . .
. . . .
. . . .
a N 1T1  a N 2T2  . . . a NN TN  cN

Ou, em notação simplificada, vem:

[ A].[T ]  [C ]

Estudar exemplo resolvido 4.3 (Incropera)

Uma técnica antiga de solução manual de sistemas lineares de equações é o chamado


método da relação. Nesta técnica, a equação nodal é, primeiramente, igualada a zero:

a m1T1  a m2T2  . . .  a mnTn  c n  0


Em seguida é igualada a um resíduo e depois segue-se o procedimento de solução:

1 – Admite-se uma distribuição inicial de temperatura;


2 – O valor do resíduo em cada ponto nodal é calculado;
3 – “Relaxar” o maior resíduo encontrado para zero (ou próximo) mudando a temperatura
do ponto nodal correspondente;
4 – Recalcular os resíduos para esta nova temperatura;
5 – Continuar o processo 3 – 4 até que todos os resíduos sejam nulos ou próximos de zero.

Hoje em dia, há muitos programas de computador e até de calculadoras que resolvem um


sistema linear de equações por diversas técnicas. Basta selecionar um deles. Por exemplo, o
método de eliminação gaussiana.

Exemplo Resolvido

Uma placa retangular é submetida às condições de contorno ilustradas na figura. Pede-se


calcular a distribuição de temperatura nos pontos nodais mostrados, dados que:

h = 200 W/m2 ºC
Transferência de Calor e Massa 82

T = 20 ºC
k = 10 W/m ºC
 x =  y = 10 cm

T  20C

OBS: Observar a simetria do problema (nós com o mesmo número)

Solução:

Pontos nodais interiores (1-4) - vale a seguinte equação:

TM 1, N  TM 1, N  TM , N 1  TM , N 1  4TM , N  0

Portanto,

nó 1 :  4T1  T2  T3  2(100)  0
nó 2 : 2T1  4T2  T4  100  0
nó 3 : T1  4T3  T4  T6  100  0
nó 4 : T2  2T3  4T4  T7 0

Ponto nodal 5 (canto) – vale a seguinte equação

 x  x
Tm , n  h  2  h T  (Tm 1, n  T fixo )  0
 k  k

 200  0,1  200  0,1


nó 5: T5   2  20  (T6  100)  0 , ou
 10  10

 4T5  T6  140  0
Transferência de Calor e Massa 83

Pontos nodais com convecção (6 – 7) – vale a seguinte equação:

 x  x 1
Tm ,n  h  2  h T  2Tm ,n 1  Tm 1,n  Tm 1,n   0
 k  k 2

 200  0,1  200  0,1 1


nó 6: T6   2  20  2T3  T5  T7   0 , ou
 10  10 2

 200  0,1  200  0,1 1


T6   2  20  2T3  T5  T7   0 , ou ainda,
 10  10 2

1 1
T3  T5  4T6  T7  40  0
2 2

1
nó 7: 4T7  40  (2T4  2T6 )  0 , ou
2

T4  T6  4T7  40  0
Em forma de Matriz temos:
 4 1 1 0 0 0 0  T1    200 
    
 2 4 0 1 0 0 0  T2    100 
 1 0 4 1 0 1 0  T3    100 
    
 0 1 2 4 0 0 1  T4    0 
 0 0 0 0 4 1 0  T5    140 
 1 1    
 0 0 1 0 4  T6    40 
 2 2    
 0 0 0 1 0 1  4  T7    40 

Solução do sistema pelo método de eliminação gaussiana

T1  90,4  C
T2  87,2  C
T3  74,3 C
T4  68,2  C
T5  44,7  C
T6  38,8 C
T7  36,7  C
Transferência de Calor e Massa 84

AULA 12 – INTRODUÇÃO À TRAN SFERÊ NCIA DE


CALO R CONVEC TIV A

Lei de Resfriam ento de Newton

Já vimos que a transferência de calor por convecção é regida pela simples de lei de
resfriamento de Newton, dada por:

q  Ah(TS  T )
onde,

Ts, T∞ – temperatura da superfície aquecida e do fluido ao longe;


A – área de troca de calor, isto é, a área de contato do fluido com a superfície;
h = coeficiente de transferência de calor por convecção.

O problema fundamental da transferência de calor por convecção é a determinação do


valor d h para o problema em análise. Nota-se que a expressão da transferência de calor
é consideravelmente mais simples que a da condução. No presente caso, basta resolver
uma equação algébrica simples para que o fluxo de calor seja obtido desde que, claro, se
conheça o valor de h, enquanto que no segundo caso, exige-se a solução da equação
diferencial da condução de calor. Essa aparente simplicidade é, no entanto, enganosa,
pois na verdade, em geral, h é função de um grande número de variáveis, tais como as
propriedades de transporte do fluido (viscosidade, densidade, condutividade térmica),
velocidade do fluido, geometria de contato, entre outras. Nessa e nas demais aulas,
serão apresentados expressões e métodos de obtenção daquela grandeza para diversas
condições de interesse prático. Mas, antes, vamos apresentar os números adimensionais
que controlam a transferência de calor convectiva.

Análise Dimensional

A análise dimensional é um método de reduzir o número de variáveis de um problema


para um conjunto menor de variáveis, as quais não possuem dimensão física, isto,
tratam-se de números adimensionais. Alguns adimensionais que o aluno já deve estar
familiarizado a essa altura são o número de Reynolds na Mecânica dos Fluidos, os
números de Biot e de Fourier.
Transferência de Calor e Massa 85

A maior limitação da análise dimensional é que ela não fornece qualquer informação
sobre a natureza do fenômeno. Todas as variações que influenciam devem ser
conhecidas de antemão. Por isso deve se ter uma compreensão física preliminar correta
do problema em análise.
O primeiro passo da aplicação do método consiste na determinação das dimensões
primárias. Todas as grandezas que influenciam no problema devem ser escritas em
função destas grandezas. Por exemplo, considere o sistema primário de grandezas
MLtT, onde:
Comprimento L
Tempo t
Massa M
Temperatura T

Nesse sistema de grandezas primárias, por exemplo, a grandeza força tem as seguintes
dimensões:
Força ML/t2

O mesmo pode ser feito para outras grandezas de interesse:

Condutividade térmica ML/t3T


Calor ML2/t2
Velocidade L/t
Densidade M/L3
Velocidade M/Lt
Calor específico a pressão constante L2/t2T
Coeficiente De transmissão de calor M/t3T

Teore ma dos ou de Buckingha m

Esse teorema permite obter o número de adimensionais independentes de um problema.


É dado por:
M=N–P
Onde,
M – número de grupos adimensionais independentes;
N – número de variáveis físicas dos problemas;
P – número de dimensões primárias;
Sendo  um adimensional genérico, pode-se escrever, então:
F ( 1 ,  2 ,... m )  0
Transferência de Calor e Massa 86

Para exemplificar, considere um fenômeno físico de 5 variáveis e três dimensões


primarias. Logo,
M = 5-3 = 2, de onde se obtém:
F ( 1 ,  2 )  0 ou
pode-se escrever um adimensional como função do outro da seguinte forma.
 1  f ( 2 )
Essa relação funcional pode ser teórica ou experimental, obtida em laboratório, como
indicado no gráfico abaixo. Note que seria necessário se realizar experimentos com
apenas uma variável (grupo adimensional 2) e observar a dependência de  . Com isso,
reduz-se drasticamente o número de experimentos. Caso contrário, seria necessário
fazer experimentos envolvendo as 5 variáveis originais do problema.

f ( 2 ) curva exp erimental


1

2

Outro exemplo, seria o caso de um fenômeno descrito por 3 grupos adimensionais.


Nesse caso, tem-se:
F ( 1 ,  2 ,  3 )  0 , ou  1  f ( 2 ,  3 )

Pode-se, assim, planejar experimentos laboratoriais mantendo 3 constantes, e variando


2, observando como 1 varia, como ilustrado no gráfico abaixo.

1 curvas de  3 cons tan tes

2
Transferência de Calor e Massa 87

Adimensionais da tr ansferê ncia de calor por convecção forç ada

Considere o escoamento cruzado em um tubo aquecido, como ilustrado na figura


abaixo.

D
Sabe-se de antemão que as grandezas que interferem na transferência de calor são:

Var iáveis Eq. Dimensional


D Diâmetro do Tubo L
k Condutividade térmica do fluido ML/t3T
V Velocidade do fluido L/t
ρ Densidade do fluido M/L3
μ Viscosidade do fluido M/Lt
CP Calor especifico a pressão constante L2/t2T
h Coef. de transferência de calor M/t3T

Portanto, há N = 7 grandezas e P = 4 dimensões primárias, do que resulta em:

M = 7 – 4 = 3 (3 grupos adimensionais)

Seja um grupo adimensional genérico do tipo:

  D a K bV c  d  ec p f h g

Substituindo as equações dimensionais de cada grandeza, vem:

b c d e f g
 ML   L   M   M 
a  L2   M 
 L 3     3    2   3 
 t T   t   L   Lt  t T  t T 

ou, após rearranjo, vem:

  M b d e  g La b c 3d e  2 f t 3b c e  2 f 3 g T  b  f  g 

Por se tratar de um adimensional, todos os expoentes devem ser nulos, isto é:


Transferência de Calor e Massa 88

b  d  e  g  0
a  b  c  3d  e  2 f  0


 3b  c  e  2 f  3 g  0
 b  f  g  0

Há um sistema de 7 incógnitas e 4 equações. Portanto, o sistema está indefinido. O


método pressupõe que se assumam alguns valores para os expoentes. Aqui é um ponto
crítico do método, pois há de se fornecer valores com critérios. Por exemplo,

(A) – Como h é uma grandeza que nos interessa, vamos assumir o seguinte conjunto de
valores
g  1

c  d  0

Assim, pode-se resolver a equação do grupo adimensional, resultando em:

a=1
b = -1
e=f=0

Esse primeiro grupo adimensional recebe o nome de número de Nusselt, definido por:

Dh
1   Nu
k

(B) – Agora vamos eliminar h e assumir outros valores

g  0
 (para não aparecer h)
a  1
f 0

A solução do sistema fornece:

b=0
c=d=1
e = -1

De onde resulta o outro grupo adimensional relevante ao problema que é o número de


Reynolds, dado por:

VD
2   Re D

Transferência de Calor e Massa 89

(C) - Finalmente, vamos assumir os seguintes valores

e = f =1
b = -1

Daí resulta, o terceiro e último número adimensional que recebe o nome de número de
Prandtl .
c 
 3  p  Pr
k
Então, há uma função do tipo

F ( 1 ,  2 ,  3 )  0 ou F ( Nu, Re D , Pr )  0 .

Isolando o número de Nusselt, vem:

Nu  f (Re D , Pr )

Assim, os dados experimentais podem ser correlacionados com as 3 variáveis (os


grupos adimensionais) ao invés de sete (as grandezas que interferem no fenômeno).
Vimos, então, que:
Nu  f (Re D , Pr )
Diversos experimentos realizados com ar, óleo e água mostraram que existe uma ótima
correlação envolvendo estes três adimensionais, conforme ilustrado no gráfico abaixo.
Note que, ar, água e óleo apresentam propriedades de transporte bastante distintas e, no
entanto, os coeficientes de transferência de calor nesses três fluidos podem ser
correlacionados por meio dos números adimensionais. Isto também indica que, uma vez
obtida a expressão que rege a transferência de calor, nos sentimos à vontade para usar
com outros fluidos, caso não existam dados experimentais de laboratório disponíveis.

Nu  0,82 Pr 0,3 Re 0,4


10

Nu
Pr 0,3
1 3<ReD<100

água
óleo
ar
0,01
1 10 100
Re
Transferência de Calor e Massa 90

AULA 13 – CAMADA LIMITE LAMINAR SOBRE UMA


PLACA OU SUPERFICIE PLANA

Na aula passada vimos que a transferência de calor no escoamento externo sobre uma
superfície resulta na existência de 3 números adimensionais que controlam o fenômeno.
Essas grandezas são o número de Nusselt, Nu, o de Reynolds, Re, e o de Prandtl, Pr. De
forma que existe uma relação do tipo Nu = f(Re, Pr), a qual pode ser obtida de forma
experimental ou analítica em algumas poucas situações.
Na aula de hoje apresentar-se-á uma situação particular em que esta relação pode ser
obtida de forma analítica e exata. Para isso, serão apresentadas as equações diferenciais
que regem a transferência de calor em escoamento sobre uma superfície plana em
regime laminar. Depois será indicada a solução dessas equações. Para começar o estudo,
considere o escoamento de um fluido sobre uma superfície ou placa plana, conforme
ilustrado. Admita que o fluido tenha um perfil uniforme de velocidades (retangular)
antes de atingir a placa. Quando o mesmo atinge a borda de ataque, o atrito viscoso vai
desacelerar as porções de fluido adjacentes à placa, dando início a uma camada limite
laminar que cresce em espessura à medida que o fluido escoa ao longo da superfície.
Note que esta camada limite laminar vai crescer continuamente até que instabilidades
vão induzir a uma transição de regime para dar início ao regime turbulento, se a
extremidade da placa (borda de fuga) não for antes atingida. Admite que a transição
u ∞ xρ
ocorra para a seguinte condição Re xtransição = > 5 × 10 5 (às vezes também se usa
µ
3 ×105), onde x é a distância a partir do início da placa (borda de ataque).

u∞
Transferência de Calor e Massa 91

No regime laminar, o fluido escoa como se fossem “lâminas” deslizantes, sendo que a
du
tensão de cisalhamento (originária do atrito entre essas camadas) é dada por τ = µ
dy
para um fluido newtoniano (como o ar, água e óleo). Essa condição e geometria de
escoamento permitem uma solução exata, como se verá a seguir.

Equações da continuidade e quantidade de movimento na camada limite laminar

Hipóteses principais:

- Fluido incompressível
- Regime permanente
- Pressão constante na direção perpendicular à placa
- Propriedades constantes
- Força de cisalhamento na direção y constante

Considere um elemento diferencial de fluido dentro da camada limite laminar (CLL),


como indicado.

Equação da continuidade ou da conservação de massa.

∂v
ρ (v + dy )dx
∂y

∂u
ρ (u + dx)dy
ρudy ∂x

ρvdx

Como m& sai = m& entra , então substituindo os termos, vem:


∂v ∂u
ρudy + ρvdx = ρ(v + dy)dx + ρ(u + dx)dy . Simplificando, tem-se
∂y ∂x
∂u ∂v v
+ =0 ou DivV = 0
∂x ∂y
Transferência de Calor e Massa 92

r ∂ r ∂
Onde Div é o gradiente, Div = i +j .
∂x ∂y

Equação da conservação da quantidade de movimento

Da 2ª lei de Newton, tem-se que

∑F ext = Variação do fluxo da quantidade de movimento

Balanço de forças na direção x.

Forças externas (pressão e atrito – gravidade desprezível)


∂τ
(τ + dy )dx
∂y

∂p
(p + dx)dy
pdy ∂x

τdx

∂τ ∂p
∑F x = pdy + (τ +
∂y
dy )dx − τdx − ( p +
∂x
dx)dy

∂τ ∂p
ou, simplificando, ∑F x =
∂y
dxdy − dxdy
∂x

∂u
Mas, por ser um fluido newtoniano, tem-se τ = µ que, substituindo, em.
∂y

∂ 2u ∂p
∑ Fx = µ ∂y 2
dxdy − dxdy
∂x

Agora, vamos calcular o fluxo de quantidade de movimento (direção x)


Transferência de Calor e Massa 93

∂v ∂u
ρ (v + dy )(u + dy ) dx
∂y ∂y

∂u
ρu 2 dy ρ (u + dx) 2 dy
∂x

ρvudx

Juntando todos os termos, tem-se a seguinte expressão:

∂u ∂v ∂u
ρ (u + dx) 2 dy − ρu 2 dy + ρ (v + dy )(u + dy )dx − ρuvdx =
∂x ∂y ∂y

∂u ∂u ∂u ∂v
= ρu 2 dy + 2 ρu dxdy + ρ ( dx) 2 dy − ρu 2 dy + ρvudx + ρv dxdy + ρu dxdy +
∂x ∂x ∂y ∂y
∂v ∂u
+ρ ( dy ) 2 dx − ρuvdx =
∂y ∂y

∂u ∂u ∂v
= 2 ρu dxdy + ρv dxdy + ρu dxdy + termos de ordem superior
∂x ∂y ∂y

Ainda é possível simplificar esta equação para obter

∂u ∂u
= ρ (u
∂u ∂u
+ v )dxdy + ρu
∂u ∂v
( + )
= ρ (u + v )dxdy
∂x ∂y ∂x ∂y
dxdy ∂x ∂x
1424 3
= 0 continuidade

Portanto, agora podemos juntar os termos de resultante das forças externas com a
variação do fluxo da quantidade de movimento, resultando na seguinte equação:

∂u ∂u ∂ 2 u ∂p
ρ (u +v )=µ 2 −
∂x ∂y ∂y ∂x

Equação da conservação da energia, ou primeira lei da termodinâmica

- Condução na direção x desprezível


- Energia cinética desprezível face à entalpia
Transferência de Calor e Massa 94

∂u ∂h ∂(uτ ) ∂T ∂ T 2
ρρ(u(v++ ∂vdydy)()(hu++ ∂udydy) dy (uτ + dy )dx − kdx( + dy )
∂∂yy ∂y∂y )dx ∂y ∂y ∂y 2

∂u ∂h
ρ (u + dy )(h + dy ) dy
∂u
ρ (u + ∂x dx) 2 dy ∂x
dy ∂x
ρuhdy

dx
∂T
ρvhdx uτdx − kdx
∂y

Potência (térmica) líquida das forças viscosas

 ∂(uτ )  ∂ (uτ ) ∂  ∂u 
uτ + ∂y dy  dx − uτdx = ∂y dydx = ∂y  uu ∂y dydx
   

Conservação de energia:

 fluxo de energia que   fluxo de energia que 


   trabalho líquido   
 entra no volume de     deixa o volume de 
 controle diferencial  +  realizado na =
controle diferencial 
   unidade de tempo   
 na unidade de tempo   na unidade de tempo 
   

Agora, vamos tratar cada termo em particular

Entalpia + Condução de calor (note que a condução na direção x é desprezível)

∂T
ρvhdx + ρuhdy − kdx
∂y

Trabalho na unidade de tempo (potência térmica gerada pelas forças viscosas)

∂  ∂u 
 uµ dxdy
∂y  ∂y 

Fluxo de energia que entra

∂v ∂h ∂u ∂h ∂T ∂ 2T
ρ (v + dy )(h + dy ) dx + ρ (u + dx)(h + dx) dy − kdx( + dy )
∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y 2

Desprezado os termos de ordem superior


Transferência de Calor e Massa 95

∂  ∂u  ∂h ∂u ∂h ∂v ∂ 2u
0−0+  uµ dydx = ρu dxdy + ρh dxdy + ρv dxdy + ρh dxdy − k 2 dxdy
∂y  ∂y  ∂x ∂x ∂y ∂y ∂x
∂  ∂u  ∂h ∂h ∂u ∂v ∂ 2u
 uµ  = ρu + ρv + ρh ( + ) − k 2
∂y  ∂y  ∂x ∂x ∂x ∂y ∂x
1424 3
=0 continuidade

Com ∂h = c p ∂T e substituindo todos os termos na equação de balanço, resulta na forma


diferencial da equação da energia para a camada limite laminar, dada abaixo:

∂T ∂T ∂ 2T ∂  ∂u 
ρc p u + ρc p v = k 2 +  uµ 
∂x ∂y ∂y ∂y  ∂y 

Em geral a potência térmica gerada pelas forças viscosas (último termo) é desprezível
face ao termo da condução de calor e de transporte convectivo de energia (entalpia).
Isso ocorre a baixas velocidades. Assim, a equação da energia pode ser simplificada
para:

∂T ∂T ∂ 2T
u +v =α 2
∂x ∂y ∂y

Retornando agora à equação da conservação da quantidade de movimento. Se o


escoamento se der à pressão constante, aquela equação pode ainda ser reescrita como:

∂u ∂u ∂ 2u
u +v =υ 2
∂x ∂y ∂y

µ
onde, υ = é a viscosidade cinemática
ρ

υ
Comparando as duas equações acima, nota-se que quando υ = α , ou seja, Pr = =1
α
corresponde ao caso em que a distribuição da temperatura é idêntica a distribuição de
velocidades, o que ocorre com as maiorias dos gases, já que 0,65 < Pr < 1 .

Em resumo, as três equações diferenciais que regem a transferência de calor na camada


limite laminar são:
Transferência de Calor e Massa 96

∂u ∂v
Conservação de massa + =0
∂x ∂y
∂u ∂u ∂ 2u ∂p
ρ (u +v ) = µ 2 −
∂x ∂y ∂y ∂x
Conservação da quantidade de movimento
∂u ∂u ∂ 2u
direção x u +v =υ 2 Pressão constante
∂x ∂y ∂y
∂T ∂T ∂ 2T
Conservação de energia u +v =α 2
∂x ∂y ∂y

Ver solução das camadas limites laminares hidrodinâmica e térmico no apêndice B do


Holman e item 7.2 do Incropera. Solução de Blasius.

Os principais resultados da solução dessas equações diferenciais são os seguintes:

5x
Espessura da camada limite hidrodinâmica (CLH): δ = ;
Re x

−1 / 2
Coeficiente local de atrito local: c f , x = 0,664 Re x ;

Coeficiente local de atrito médio desde a borda de ataque:


L
1 −1 / 2
c f , L = ∫ C f , x dx = 2 * C f x= L = 1,328 Re L ;
L0

Razão entre as espessuras das camadas limites hidrodinâmica (CLH) e térmica (CLT):
δ
= Pr 1/ 3 ;
δt

Número de Nusselt local: Nu x = 0,332 Re x Pr 1 / 3 0,6 ≤ Pr ≤ 50


1/ 2

L
1
L ∫0
1/ 2
Número de Nusselt médio: N u L = Nu x dx = 2 * Nu x = L =0,664 Re L Pr 1/ 3 .

τs
Definição do coeficiente de atrito: c f = , τ s tensão de cisalhamento na parede
ρu ∞ 2 / 2

Os gráficos abaixo indicam o comportamento das camadas limites. Note que o número
de Prandtl desempenha um papel importante no crescimento relativo das CLT e CLH.
Transferência de Calor e Massa 97

u∞ , T∞

δ T (Pr < 1)
δ = δ T (Pr = 1)
δ T (Pr > 1)

T∞ u∞

C.L.T C.L.H

TS

1 1
Temos as seguintes relações: C f , x ∝ , hf ,x ∝ .
x x
Transferência de Calor e Massa 98

AULA 14 – CAMADA LIMITE LAMINAR – SOLUÇÃO


INTEGRAL OU APROXIMADA DE VON KARMAN

Na aula passada, vimos as equações diferenciais da camada limite laminar. Os


resultados da solução clássica de Blasius foram apresentados. A solução per si não foi
discutida, uma vez que o livro-texto apresenta em detalhes o procedimento de solução
para o aluno mais interessado. Nesta aula, vamos ver uma solução aproximada baseada
no método integral, também conhecida como solução de von Karman.
Neste caso, define-se um volume de controle diferencial apenas na direção x do
escoamento, enquanto que a altura H do mesmo se estende para além da camada limite,
isto é, H > δ , conforme ilustrado na figura abaixo.

Leis de conservação na camada limite laminar no elemento diferencial acima:

H
Fluxo mássico na face 1 – A: ∫ ρudy
0

d  
H H
Fluxo mássico na face 2 – A: ∫ ρudy +  ∫ ρudy dx
0
dx  0 
d  
H
Fluxo mássico na face A – A:  ∫ ρudy dx

dx  0 

Balanço de fluxo de quantidade de movimento na direção x

∫ ρu dy
2
Fluxo de Q. M. na Face 1 – A:
0
Transferência de Calor e Massa 99

d 
H H
Fluxo de Q. M. na Face 2 – A: ∫ ρu dy +
2
 ∫ ρu 2 dy dx

dx  0 
0 

d  
H
Fluxo de Q. M. na Face A – A: u ∞  ∫ ρudy dx

dx  0 

Fluxo líquido de quantidade de movimento para fora do volume de controle

(face 2-A) – (face A – A) – (face 1 – A) =

d   d  
H H
Fluxo liquido de Q. M. =  ∫ ρu 2 dy dx − u ∞  ∫ ρudy dx

dx  0  
dx  0 
 

Lembrando da regra do produto de diferenciação que:

d (αβ ) = αd ( β ) + βd (α ) ou
αd ( β ) = d (αβ ) − β d (α )

Fazendo α = u∞
H
β = ∫ ρudy , vem
0

d   d   H  du
H H
u∞  ∫ ρudy dx =  u ∞ ∫ ρudy dx −  ∫ ρudy  ∞ dx
dx  0 
 dx  0 


0
 dx

d   du  
H H
=  ∫ ρu∞ udy dx − ∞  ∫ ρudy dx
dx  0  dx  0 

Agora, substituindo na expressão do fluxo líquido de Q. M, vem:

d   d   du ∞  H 
H H
   
fluxo Q.M . =  ∫ ρu dy dx −  ∫ ρu ∞ udy dx +
2
 ∫ ρudy dx
dx  0  dx  0  dx  0 

Os dois primeiros termos da integral podem ser reunidos para obter a seguinte forma
mais compacta:

d   du  H 
H
fluxo Q.M . =  ∫ ρ (u − u ∞ )udy dx + ∞  ∫ ρudy dx
dx  0 
 dx  0 

Agora, vamos obter a resultante das forças externas. No presente caso, só vamos
considerar as forças de pressão e de atrito.
Transferência de Calor e Massa 100

dP
- força resultante da pressão: − H dx
dx

∂u
- força de cisalhamento na parede: -dx τ p = −dxµ
∂y y =0

Finalmente, a equação integral da camada limite laminar hidrodinâmica pode agora ser
escrita (2ª lei de Newton):

∂u dP H  du H 
− µdx −H dx =  ∫ ρ (u − u ∞ )udy dx + ∞  ∫ ρudy dx
 
∂y y =0
dx 0  dx 0 

Se a pressão for constante ao longo do escoamento, como ocorre com o escoamento


sobre uma superfície plana (no caso do escoamento dentro de um canal ou tubo, essa
dP
hipótese não vale): =0
dx

Essa hipótese de P = cte. Também implica em que a velocidade ao longe também seja
constante, já que, fora da camada limite, é valida a eq. de Bernoulli, ou
P u∞
+ = cte
ρ 2

dP 2u ∞ du ∞
De forma que, na forma diferencial: + = 0 ⇒ du ∞ = 0
ρ 2
Assim, a equação da conservação da Q. M. se resume a:
∂u dp  
H
−µ =  ∫ ρ (u − u ∞ )udy 
∂y 
dx  0 
y =0 

Mas como H > δ a velocidade é constante u = u∞, então:

δ
d   ∂u
ρ  ∫ (u ∞ − u )udy  = µ

dx  0  ∂y y =0

Esta é a forma final da equação da conservação da Q.M., válida para o escoamento


laminar sobre uma superfície ou placa plana. Até o presente momento, o
equacionamento é exato, pois nenhuma aproximação foi empregada. A questão é: se
conhecermos o perfil de velocidades u(y), então, a equação acima pode ser integrada.
Transferência de Calor e Massa 101

Daí, pode se obter, entre outras coisas, a lei de crescimento da camada limite laminar
hidrodinâmica, isto é, a espessura da camada limite laminar numa posição x a partir da
borda de ataque. δ(x).
A solução aproximada, objeto desta análise, começa quando se admite um perfil de
velocidades na direção perpendicular ao escoamento, isto é, u(y). Claro que a adoção
desse perfil deve seguir certos critérios. Pense: Se você tivesse que admitir tal perfil de
velocidades, provavelmente faria o mesmo que o apresentado aqui. Isto é, você imporia
um polinômio de grau tal que as condições de contorno do perfil de velocidades fossem
satisfeitas. Certo? Pois é exatamente isso é que é feito. Então, primeiro passemos a
analisar as condições de contorno do problema, que são:
u=0 p/ y = 0
u = u∞ p/ y =δ
∂u
=0 p/ y =δ
∂y
∂ 2u
=0 p/ y = 0
∂y 2

As três primeiras condições de contorno são simples e de dedução direta. A primeira


informa que a velocidade na superfície da placa é nula (princípio de não-
escorregamento); a segundo diz que fora da CL a velocidade é a da corrente fluida e a
terceira diz que a transição entre a CL e a corrente livre é “suave”, daí a derivada ser
nula. A última c.c. é um pouco mais difícil de perceber. Há de se analisar a equação
diferencial da conservação da quantidade de movimento da camada limite laminar (aula
anterior que requer que essa condição seja nula sobre a superfície da placa). Como são
quatro as condições de contorno, uma distribuição que satisfaz estas condições de
contorno é um polinômio do 3º grau, dado por:

u ( y ) = C1 + C 2 y + C 3 y 2 + C 4 y 3

Daí, aplicando as c.c. para se obterem as constantes C1 a C4, tem-se o perfil aproximado
de velocidades:
3
u( y) 3 y 1  y 
= −  
u∞ 2 δ 2δ 

Introduzindo-o na eq. da Q. M., vem:


Transferência de Calor e Massa 102

d   3 y 1  y   3 y 1  y   
δ 3 3
∂u
ρu∞ ∫   dy  = µ
2
1 − +    −

dx  0  2 δ 2  δ   2 δ 2  δ    ∂y y =0

Do que resulta, após algum trabalho:

d  39  3 µu∞
 ρu∞ 2δ  =
dx  280  2 δ

Integrado essa equação, lembrando que para x = 0  δ = 0 (a CL começa na borda de


ataque):

vx δ ( x) 4,64
δ ( x) = 4,64 , ou =
u∞ x Re x

δ ( x) 5
Lembrando da aula anterior que solução exata (Blasius) fornecia: =
x Re x
Ver Holman Apêndice B ou Incropera

Considerando as aproximações realizadas, o resultado aproximado é bastante razoável.

Camada Limite Térmica Laminar

Uma vez resolvido o problema hidrodinâmico acima, agora pode-se resolver o problema
térmico. O objetivo é o cálculo do coeficiente de transferência de calor, h. Note que
junto à superfície todo calor transferido da mesma para o fluido se dá por condução de
calor e depois este fluxo de calor vai para o fluido. De forma, que pode-se igualar os
dois termos da seguinte maneira:
∂T
h(T p − T∞ ) = −k , ou
∂y y =0

∂T
−k
∂y y =0
h=
T p − T∞

Assim, para se obter o coeficiente de transferência de calor é preciso conhecer a


distribuição de temperaturas T(y). De forma semelhante ao que foi feito para o caso
hidrodinâmico, pode-se aplicar as seguintes c.c. para a distribuição de temperaturas:
Transferência de Calor e Massa 103

Condições de contorno

T = Tp p/ y =0
∂T
=0 p / y = δt
∂y
T = T∞ p / y = δt
∂ 2T
=0 p/ y =0
∂y 2

Método integral (aproximado)

u∞
T∞ δt δ

T p = cte

Considere a figura acima, em que o aquecimento da superfície começa a partir de um


ponto x0, a partir da borda de ataque. De forma análoga ao caso hidrodinâmico,
desenvolvendo um balanço de energia num V.C. de espessura maior que δ, vem:
(ver Holmam)

µ  H  du  
2
d   ∂T
H

 ∫ (T∞ − T )udy  +  ∫   dy  = α
 
dx  0  ρc p  0  dy   ∂y y =0

Admitindo uma distribuição polinomial de grau 3 para a distribuição de temperaturas e


aplicando as c.c., vai se obter a seguinte curva aproximada:
3
θ ( y) T ( y) − T p 3 y 1  y 
= = −  
θ∞ T∞ − T p 2 δ t 2  δ t 

(o mesmo que o de velocidades, pois as c.c. são as mesmas)


Desprezando o termo de dissipação viscosa, obtém-se a seguinte relação entre as
espessuras de camadas limites:

1/ 3
δt 1 −1 / 3
  x0  3 / 4 
= Pr 1 −   
δ 1,026   x  

Se a placa for aquecida ou resfriada desde a borda, x0 = 0, temos


Transferência de Calor e Massa 104

δt 1
= Pr −1/ 3
δ 1,026

No desenvolvimento admitiu-se δt < δ o que é razoável para gases e líquidos


Pr δt /δ
≈1 ≈1
>1 <1
Finalmente, agora, podemos calcular o h, por substituição da distribuição de
velocidades, calculada junto à parede

∂T
−k
∂y y =0 − k (T p − T∞ ) 3 3 k 3kδ 
hx = = = =   , ou
T p − T∞ (T p − T∞ )δ t 2 2 δ t 2 δ  δ t 
−1 / 3
3k 1,026 Pr 1 / 3   x0  3 / 4 
hx = 1 −    , ou ainda
2 δ   x  

−1 / 3
 u∞ 
1/ 2
  x0  3 / 4 
hx = 0,332k Pr 1/ 3
  1 −   
 νx    x  

hx x
Lembrando da definição do número de Nusselt, Nu x = , vem:
k
−1 / 3
  x0  3 / 4 
Nu x = 0,332 Pr 1 −   
1/ 3 1/ 2
Re x
  x  

As equações anteriores são para valores locais.

O coeficiente médio de transferência de calor será, se x0 = 0:

L 1/ 2 L
 u∞  dx
∫ h dx   ∫x
1/ 3
0,332 Pr
ν 
x 1/ 2
hL = 0
= 0
, ou
L L

1/ 2
u 
0,332 Pr  ∞  1/ 3
L1 / 2
hL = ν  , ou finamente:
L/2

 u  
1/ 2

hL = 2 ×  0,332 Pr 1 / 3  ∞   = 2hx = L
  νL  

Analogamente, para esse caso:


Transferência de Calor e Massa 105

hL
NuL = = 2 Nu x = L
k

Quando a diferença de temperatura do fluido e da placa for substancial, as


propriedades de transporte do fluido devem ser avaliadas á temperatura de película, Tf

T p + T∞
Tf =
2
E se o fluxo de calor for uniforme ao longo da placa, tem-se:

hL
Nu L = = 0,453 Re L Pr 1 / 3
1/ 2

k
Ver exercícios resolvidos do Holmam 5.4 e 5.5

Exemplo resolvido (extraído do livro de Pitts e Sissom)

Num processo farmacêutico, óleo de rícino (mamona) a 40ºC escoa sobre uma placa
aquecida muito larga de 6 m de comprimento, com velocidade de 0,06 m/s. Para uma
temperatura de 90ºC. Determine:

(a) a espessura da camada limite hidrodinâmica δ ao final da placa


(b) a espessura da camada limite térmica δ no final da placa
(c) o coeficiente de transferência de calor local e médio ao final da placa
(d) o fluxo de calor total transferido da superfície aquecida.

São dados:
40 + 90
Propriedades calculadas a T f = = 65 0 C
2
α = 7,38×10-8 ms/s
k f = 0,213 W/moC
ν = 6,5×10-5 m2/s
ρ = 9,57×102 kg/m3 u∞
µ = 6,22×10-2 N.s/m2
J T∞
C p = 3016
k g oC
Tp = 90°C

Solução

Verificação se o escoamento é laminar ai final da placa

u∞ L 0,06 × 6
Re L = = = 5538 < Re transição (5 × 10 5 )
ν 6,5 × 10 −5
Transferência de Calor e Massa 106

Método Exato Método Aproximado


a) δ 5 δ 4,64
= ; x = L = 6m = ; x = L = 6m
x Re x x Re x
5× 6 4,64 × 6
δ= = 0,40m δ= = 0,37m
5538 5538
b) δt  6,5 × 10 −5  δt 1
= Pr −1 / 3 = (ν / α ) −1 / 3 =   = 881−1 / 3 = Pr −1 / 3
−8  δ 1,026
δ  7,38 × 10 
1 0,37
δt =
0,4
= 0,042m δt = = 0,037m
8811 / 3 1,026 8811 / 3
c) u 
1/ 2
u 
1/ 2

hx = 0,332k Pr  ∞ 1/ 3
hx = 0,332k Pr  ∞ 
1/ 3

 νL   νL 
 0,06 
1/ 2 Obs*: Tanto a solução exata como a
hx = 0,332 × 0,213 × (881) 1/ 3
 −5
 aproximada leva a constante ao
 6,5 × 10 × 6  mesmo valor de 0,332
W W
= 8,4 hx = 8,4 2
m 2 °C m °C
W W
hL = 2h x = L = 2 × 8,4 = 16,8 hL = 2h x = L = 2 × 8,4 = 16,8 2
m 2 °C m °C
d) q = Ah (Ts − T∞ ) q = Ah (Ts − T∞ )
q q
= h L(Ts − T∞ ) = 16,8 × 6 × (90 − 40) = h L(Ts − T∞ ) = 16,8 × 6 × (90 − 40)
Lp Lp
⇒ ⇒
W W
= 5040 = 5040
m m
Transferência de Calor e Massa 107

AULA 15 – ANALOGIA DE TRANSFERÊNCIA DE


CALOR E DE ATRITO – REYNOLDS-COLBURN E
CAMADA LIMITE TURBULENTA E TRANSFERÊNCIA
DE CALOR EM ESCOAMENTO EXTERNO

2.5 – Analogia de Reynolds – Colburn

Como visto nas aulas anteriores, a transferência de calor e de quantidade de movimento


(atrito superficial) são regidas por equações diferenciais análogas. Na verdade, esta
analogia entre os dois fenômenos é muito útil e será explorada nesta aula. Essa é a
chamada analogia de Reynolds-Colburn que, portanto, relaciona o atrito superficial com
a transferência de calor. Qual a sua utilidade? Bem, em geral dados de medição
laboratorial de atrito superficial podem ser empregados para estimativas do coeficiente
de transferência de calor. Isto é uma grande vantagem, pois, pelo menos no passado, os
dados de atrito eram bem mais abundantes que os de transferência de calor.
Por definição, o coeficiente de atrito é dado por:

τp
Cf =
ρu ∞ 2
2

Mas, por outro lado, para um fluido newtoniano (todos os que vamos lidar neste curso),
a tensão de cisalhamento na parede é:

∂u
τp = µ
∂y y =0

3
u 3 y 1 y
Usando o perfil de velocidades desenvolvido na aula 14, ou seja: = −   ,
u∞ 2 δ 2  δ 
temos que a derivada junto à parede resulta em:
∂u 3 u∞
=
∂y y =0 2 δ

Por outro lado, usando o resultado da solução integral ou aproximada da espessura da


δ 4,64
camada limite, isto é, = que, mediante substituição na definição da tensão de
x Re x
cisalhamento na parede, resulta em:
Transferência de Calor e Massa 108

3 u∞ µu Re x
τp =µ = 0,323 ∞
2 δ x

Substituindo este resultado na equação da definição do coeficiente de atrito, vem:

C fx µu ∞ Re x 0,323
= 0,323 =
2 ρu ∞ x 2
Re x

Por outro lado, da aula anterior, chegou-se à seguinte expressão para o número de
Nusselt, Nu x = 0,332 Pr1/ 3 Re x
1/ 2
que, mediante algum rearranjo pode ser escrito como:

Nu x −1 / 2 hx
= 0,332 Pr −2 / 3 Re x , onde Stx = é o número de Stanton. Então,
Re x Pr ρc p u ∞
12 3
St x

reescrevendo de forma compacta:

0,332
St x Pr 2 / 3 =
Re x

Comparando as duas equações anteriores em destaque, notamos que eles são iguais a
menos de uma diferença de cerca de 3% no valor da constante, então, esquecendo desta
pequena diferença podemos igualar as duas expressões para obter:

c fx
St x Pr 2 / 3 =
2

Esta é a chamada analogia de Reynolds-Colburn. Ela relaciona o coeficiente de atrito


com a transferência de calor em escoamento laminar sobre uma placa plana. Dessa
forma, a transferência de calor pode ser determinada a partir das medidas da força de
arrasto sobre a placa. Ela também pode ser aplicada para regime turbulento (que será
visto adiante) sobre uma placa plana e modificada para escoamento turbulento no
interior de tubos. Ela é válida tanto para valores locais, como para valores médios.
______________________________________________________________________
Exemplo resolvido – continuação do anterior

Calcule a força de arrasto sobre a placa do exemplo anterior (aula 14).

Cf
Sabe-se que = S t Pr 2 / 3
2
Transferência de Calor e Massa 109

hL 16,8
Por outro lado, S t = = = 9,70 × 10 −5
ρc p u ∞ 9,57 × 10 × 3016 × 0,06
2

Assim da analogia, podemos obter C f = 2 × 9,7 × 10 −5 × 8812 / 3 = 1,78 × 10 −2 , de forma

que a tensão de cisalhamento na superfície é:

ρu ∞ 2 1,78 × 10 −2 × 957 × (0,06) 2 N


τ p = Cf = = 3,07 × 10 − 2 2
2 2 m

Finalmente, a força de atrito por unidade de comprimento é:

F N
= τ p × L = 3,07 × 10 − 2 × 6 = 0,184
Lp m
______________________________________________________________________

Camada Limite Turbulenta


A transferência de calor convectiva na camada limite turbulenta é fenomenologicamente
diferente da que ocorre na camada limite laminar. Para entender o mecanismo da
transferência de calor na camada limite turbulenta, considere que a mesma possui três
subcamadas, como ilustrado no esquema abaixo:

A CLT é subdividida em:


- Subcamada laminar – semelhante ao escoamento laminar – ação molecular
- Camada amortecedora – efeitos moleculares ainda são sentidas
- Turbulento – misturas macroscópicas de fluido

Para entender os mecanismos turbulentos, considere o exercício de observar o


comportamento da velocidade local, o que é ilustrado no gráfico temporal abaixo.

u
Transferência de Calor e Massa 110

Do gráfico ilustrado, depreende -se que a velocidade instantânea, u, flutua


consideravelmente em torno de um valor médio, u . Este fato de flutuação da
velocidade local em conjunção com a flutuação de outras grandezas, embora possa
parecer irrelevante, é o que introduz as maiores dificuldades do perfeito
equacionamento do problema turbulento. Para analisar o problema, costuma-se dividir a
velocidade instantânea em dois componentes: um valor médio e outro de flutuação,
como indicado:
velocidade na direção paralela: u = u + u '

velocidade na direção transversal: v = v + v'

pressão: P
{ = {
P + P
{'
valor medio fluctuacào
ins tan táneo

Em todos os casos, uma barra sobre a grandeza indica um valor médio e uma apóstrofe,
valor de flutuação. Os termos de flutuação são responsáveis pelo surgimento de forças
aparentes que são chamadas de tensões aparentes de Reynolds, as quais devem ser
consideradas na análise.
Para se ter uma visão fenomenológica das tensões aparentes, considere a ilustração da
camada limite turbulenta abaixo. Diferentemente do caso laminar em que o fluido se
“desliza” sobre a superfície, no caso turbulento há misturas macroscópicas de “porções”
de fluido. No exemplo ilustrado, uma “porção” de fluido (1) está se movimentando para
cima levando consigo sua velocidade (quantidade de movimento) e energia interna
(transferência de calor). Evidentemente, uma “porção” correspondente (2) desce para
ocupar o lugar da outra. Isso é o que dá origem às flutuações. Do ponto de vista de
modelagem matemática, essas “simples” movimentações do fluido dentro da camada
limite dão origem às maiores dificuldades de modelagem.
Transferência de Calor e Massa 111

Uma análise mais detalhada do problema da transferência de calor turbulenta foge do


escopo deste curso. Assim, referira-se a uma literatura mais específica para uma análise
mais profunda. No entanto, abaixo se mostra os passos principais da modelagem.
O primeiro passo é escrever as equações de conservação (massa e quantidade de
movimento) – aula 13. Em seguida, substituem-se os valores instantâneos pelos termos
correspondentes de média e flutuação, isto é, u = u + u ' , v = v + v ' e P = P + P ' . Em
seguida, realiza-se uma integral sobre um período de tempo longo o suficiente, isto é,
realiza-se uma média temporal. Ao final, vai se obter a seguinte equação diferencial:

∂u ∂u 1 ∂P ∂  ∂ u 
u +v =− + υ − v' u ' 
∂x ∂y ρ ∂x ∂y  ∂y 
No processo de obtenção desta equação, admitiu-se que a média temporal das flutuações
e suas derivadas são nulas. Com isso surgiram termos que envolvem a média temporal
do produto das flutuações (últimos dois termos à direita). Aqui reside grande parte do
problema da turbulência que é justamente se estabelecer modelos para estimar estes
valores não desprezíveis. Estes termos dão origem às chamadas tensões aparentes de
Reynolds que têm um tratamento à parte e não vamos nos preocupar aqui.

O importante é saber que existem dois regimes de transferência de calor: laminar e


turbulento. Também existe uma região de transição entre os dois regimes. Expressões
apropriadas para cada regime em separado e em combinação estão indicadas na tabela
7.9 do Incropera e Witt.

Local : Nu x = 0,0296 Re 0x,8 Pr 1 3 Re x ≤ 10 8 0,6 ≤ Pr ≤ 60

Médio : Nu L = (0,037 Re 0L,8 − 871)Pr 1 3 Re L ≤ 10 8


δ
= 0,37 Re −x 0, 2 Re L ≤ 10 8
x
Nota: outras expressões ver livro-texto – ou tabela ao final desta aula.

As propriedades de transporte são avaliadas à temperatura de mistura (média


entre superfície e ao longe). Reynolds crítico = 5 ×105
Transferência de Calor e Massa 112

______________________________________________________________________
Exemplo resolvido (Holman 5-7)
Ar a 20oC e 1 atm escoa sobre uma placa plana a 35 m/s. A placa tem 75 cm de
comprimento e é mantida a 60ºC. Calcule o fluxo de calor transferido da placa.
20 + 60
Propriedades avaliadas à T = = 40°C
2
kJ kg W
c p = 1,007 ρ = 1,128 3 Pr = 0,7 k = 0,02723
kg °C m m°C
kg
µ = 2,007 x10 −5
ms
ρVL
Re L = = 1,475 x10 6
µ
hL
Nu L = = Pr 1 / 3 (0,037 Re L − 871) = 2055
0 ,8

k
k
h= Nu L = 74,6W / m 2 °C
L
q = h A(Ts − T∞ ) = 74,6.0,75.1.(60 − 20) = 2238 W
______________________________________________________________________

Escoamento Cruzado sobre Cilindros e Tubos


No caso do escoamento externo cruzado sobre cilindros e tubos, análise se torna mais
complexa. O número de Nusselt local, dado em função do ângulo de incidência θ, isto é,
Nu(θ), é fortemente influenciado pelo efeito do descolamento da camada limite.
A figura ao lado indica o que acontece com o
número local de Nusselt. Para ReD ≤ 105, o
número de Nusselt decresce como conseqüência
do crescimento da camada limite laminar (CLL)
até cerca de 80o. Após este ponto, o escoamento
se descola da superfície destruindo a CLL e
gerando um sistema de vórtices e mistura que
melhora a transferência de calor (aumento de
Nu(θ). Para ReD > 105, ocorre a transição e
formação da camada limite turbulenta (CLT). Na
fase de transição (80o a 100o) ocorre a melhora
da transferência de calor. Uma vez iniciada a
CLT, novamente se verifica a diminuição do
coeficiente local de transferência de calor devido
ao crescimento da CLT para, em torno de 140o,
descolar o escoamento da superfície que destrói
a CLT para, então, gerar o sistema de vórtices e
mistura que volta a melhorar a transferência de
calor. No caso turbulento há, portanto, dois
mínimos.
Transferência de Calor e Massa 113

Embora do ponto de vista de melhoria da transferência de calor possa ser importante


analisar os efeitos locais do número de Nusselt, do ponto de vista do engenheiro e de
outros usuários é mais proveitoso que se tenha uma expressão para a transferência de
calor média. Assim, uma expressão bastante antiga tem ainda sido usada, trata-se da
correlação empírica de Hilpert, dada por:

1
hD
Nu D = = C Re mD Pr 3
k
onde, D é o diâmetro do tubo. As constantes C e m são dadas na tabela abaixo como
função do número de Reynolds.

ReD C m
0,4 – 4 0,989 0,330
4 – 40 0,911 0,385
40 – 4.000 0,683 0,466
4.000 – 40000 0,193 0,618
40.000 – 400.000 0,027 0,805

No caso de escoamento cruzado de um gás sobre outras seções transversais, a mesma


expresssão de Hipert pode ser usada, tendo outras constantes C e m como indicado na
próxima tabela (Jakob, 1949).
Transferência de Calor e Massa 114

Para o escoamento cruzado de outros fluidos sobre cilindros circulares, uma expressão
mais atual bastante usada é devida a Zhukauskas, dada por

1/ 4
 Pr  0,7 < Pr < 500
Nu D = C Re Pr 
m
D
n
 válida para  6 
,
 Prs  1 < Re D < 10 

onde as constantes C e m são obtidas da tabela abaixo. Todas às propriedades são


avaliadas à T∞, exceto Prs que é avaliado na temperatura de superfície (parede). Se
Pr ≤ 10, use n = 0,37 e, se Pr > 10, use n = 0,36.

ReD C m
1 – 40 0,75 0,4
40 – 1.000 0,51 0,5
1.000 – 2×105 0,26 0,6
2×105 – 106 0,076 0,7

____________________________________________________________

Escoamento sobre Banco de Tubos

Escoamento cruzado sobre um banco de tubos é muito comum em trocadores de calor.


Um dos fluidos escoa perpendicularmente aos tubos, enquanto que o outro circula
internamente. No arranjo abaixo, apresentam-se dois arranjos típicos. O primeiro é
chamado de arranjo em linha e o outro de arranjo desalinhado ou em quicôncio.
Arranjos em linha ou quicôncio
Transferência de Calor e Massa 115

Existem várias expressões práticas para a transferência de calor sobre banco de tubos.
Para o ar, pode se usar a expressão de Grimison, que também pode ser modificada para
outros fluidos, como discutido em Incropera (Seção 7.6). Mais recentemente,
Zhukauskas apresentou a seguinte expressão:
1/ 4
 Pr 
Nu D = C Re m
D , max Pr 0 , 36
 
 Prs 

 N L ≥ 20 
 
válida para 0,7 < Pr < 500 
1000 < Re 6
 D , max < 2.10 

onde, NL é o número de fileiras de tubos e todas as propriedades, exceto Prs (que é


avaliada à temperatura da superfície dos tubos) são avaliadas à temperatura média entre
a entrada e a saída do fluido e as constantes C e m estão listadas na tabela abaixo.
Configuração ReD,max C m
Alinhada 10-102 0,80 0,40
2
Em quicôncio 10-10 0,90 0,40
Alinhada 102-103 Aproximado como um único
2 3
Em quicôncio 10 -10 cilíndro (isolado)
Alinhada
103-2×105 0,27 0,63
(ST/SL>0,7)a
Em quicôncio
103-2×105 0,35(ST/SL)1/5 0,60
(ST/SL<2)
Em quicôncio
103-2×105 0,40 0,60
(ST/SL>2)
Alinhada 2x105-2×106 0,021 0,84
Em quicôncio 2x105-2×106 0,022 0,84
a
Para ST/SL>0,7 a transferência de calor é ineficiente, e tubos alinhados não deveriam ser utilizados.

Se o número de fileiras de tubos for inferior a 20, isto é, NL < 20, então deve-se corrigir
a expressão acima, multiplicando o resultado obtido por uma constante C2, conforme
expressão abaixo e valores dados na segunda tabela abaixo.

Nu D = C 2 Nu D
N L < 20 N L ≥ 20

Tabela com o fator de correção C2 para NL<20 (ReD>103)


NL 1 2 3 4 5 7 10 13 16
Alinhada 0,70 0,80 0,86 0,90 0,92 0,95 0,97 0,98 0,99
Em quicôncio 0,64 0,76 0,84 0,89 0,92 0,95 0,97 0,98 0,99
Transferência de Calor e Massa 116

O número de Reynolds ReD,max é calculado para a velocidade máxima do fluido que


percorre o banco de tubos. No arranjo em linha, a velocidade máxima ocorre em
ST
Vmax = V , onde as grandezas podem ser vistas na figura anterior. No arranjo em
ST − D
quicôncio ou desalinhado, a velocidade máxima pode ocorrer em duas regiões,
conforme ilustrado na figura anterior. Vmax ocorrerá na seção A2 se a seguinte condição
for satisfeita 2( S D − D) < ( S T − D) que, após uma análise trigonométrica simples, se
12
 2  ST  2  ST + D
obtém a seguinte condição equivalente S D =  S L +    <
  2   2

ST
acontecer, então: Vmax = V . Caso essa condição não seja satisfeita, então, a
2( S D − D)

ST
velocidade máxima ocorre em A1 e, portanto, usa-se novamente Vmax = V.
ST − D

Tabelas- resumo com as equações (Incropera & Witt)


Transferência de Calor e Massa 117

______________________________________________________________________
Exercício de Aplicação
Verifica-se um escoamento de ar a uma velocidade de 4 m/s e temperatura de 30°C.
Neste escoamento de ar é colocada uma fina placa plana, paralelamente ao mesmo, de
25 cm de comprimento e 1 m de largura. A temperatura da placa é de 60°C.
Posteriormente, a placa é enrolada (no sentido do comprimento) formando um cilindro
sobre o qual o escoamento de ar vai se dar de forma cruzada. Todas as demais
condições são mantidas. Pede-se:
(a) Em qual caso a troca de calor é maior.
(b) Qual o fluxo de calor trocado em ambos os casos.
(c) Analisar se sempre há maior troca de calor numa dada configuração do que na
outra, independentemente do comprimento e velocidade do ar. Justifique sua
resposta através de um memorial de cálculo.
Transferência de Calor e Massa 118

Solução
T∞ + T p
Propriedades do ar à T = = 45°C
2
ν = 1,68 x 10-5 m2/s
k = 2,69 x 10-2 W/mK
Pr = 0,706

Placa
u∞ = 4m / s

T p = 60°C

T∞ = 30°C

u∞ L 4 × 0,25
Re L = = ≅ 5,95 x10 4 < Re crit = 5 × 10 5
ν 1,68 × 10 −5

Nu L = 0,664 Re L
1/ 2
Pr 1 / 3 = 0,664 × (5,95 x10 4 )1 / 2 × (0,706)1 / 3 = 144,2
Nu k 144,2 × 0,02697
Assim h L = = = 15,56W / m 2 °C
L 0,25

Cilindro
u∞ , T∞
Ts = 60°C

πD = L  D = 0,25/π = 0,0796 m

4 × 0,0796
Assim, Re D = −5
= 1,895 × 10 4
1,68 × 10

Usando a expressão de Hilpert (a mais simples) (Eq. 7.55b)

Nu D = C Re mD Pr 1 / 3 p/ReD=1,895×104C = 0,193
m = 0,618
Assim, Nu D = 0,193 × (1,895 × 10 )
4 0 , 618
× (0,706) = 75,63
1/ 3

Nu D k 75,63 × 0,02697
de forma que: h D = = = 25,63W / m 2 K
D 0,0796
a) A transferência de calor é maior no caso do cilindro pois h D > h L e a área de troca de
calor é a mesma.
Transferência de Calor e Massa 119

b)
Placa Cilindro

Q placa = hA p (T p − T∞ ) Qcil = h Ac (T p − T∞ )
15,56 × 0,25 × 30 25,63 × 0,25 × 30
Q placa = 116,7W Qcil = 192,2W

c) Porção laminar Re crit , L = 5 × 10 5


Note que Re D = Re L / π ⇒Re D = 1,59 × 10 5 sendo equivalente ao crítico.

0,664 × k
hL =
1/ 2
Re L Pr 1 / 3 (A)
L

k 1/ 3 k Pr 1 / 3
hD = Pr C Re D = π
m
C Re mD (B)
D L
k Pr 1 / 3 hL
Portanto de (A), = , que, pode ser subst. em (B), para obter
L 0,664 Re1L/ 2
πC Re mD h L
hD = = 2,669C Re mD−0,5 h L
0,664π Re D
1/ 2

hD
Ou = 2,669C Re mD−0,5 para o caso laminar na placa
hL

Porção laminar-turbulenta ReL> Recrit =5×105

Nu L = (0,037 × Re 0L,8 − 871) Pr 1 / 3 (Eq. 7.41 p/camada limite mista)

hLL k Pr 1 / 3 hL
De donde = (0,037 × Re 0L,8 − 871) Pr 1 / 3 e = (C)
k L 0,037 Re 0L,8 − 871

πC Re mD h L
sub. em (B), vem h D =
0,037 Re 0L,8 − 871

hD πC Re mD
Subs. ReL = πReD, vem: =
h L 0,037 Re L − 871
0 ,8

Finalmente para o caso laminar e turbulento na placa

hD πC Re mD
=
h L 0,037 Re L − 871
0 ,8
Transferência de Calor e Massa 120

Os diversos valores de C e m da expressão de Hilpert foram substituídos nas expressões


das razões entre os coeficientes de transferência de calor e aparecem na tabela abaixo e,
em forma gráfica. Evidentemente, a transferência de calor será sempre maior no caso do
cilindro (na faixa de validade das expressões)

ReD C m hD/hL regime


4 0,898 0,33 2,09 laminar
40 0,911 0,385 1,59 “
4000 0,683 0,466 1,38 “
40000 0,193 0,618 1,8 “
159000 0,027 0,805 2,78 “
200000 0,027 0,805 2,15 lam-turb
400000 0,027 0,805 1,43 “

3,00

2,50
hD
hL 2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
1 10 100 1000 10000 100000 1000000

ReD
Transferência de Calor e Massa 121

AULA 16 – TRANSFERÊNCIA DE CALOR NO INTERIOR


DE TUBOS E DUTOS - LAMINAR

Considerações hidrodinâmicas do Escoamento

Desenvolvimento da camada limite laminar

xe – comprimento de entrada

x > xe – escoamento plenamente desenvolvido

O número de Reynolds agora deve ser baseado no diâmetro do tubo (ou duto), isto é:
ρu D
Re D =
µ
Onde, u – velocidade média

O caso laminar vai ocorrer para Re D < 2300 e, nesse caso, o comprimento de entrada
x
se estende até e ≈ 0,05 Re D
D

No caso turbulento, dá-se início ao desenvolvimento da camada limite laminar, porém,


essa camada limite sofre uma transição para camada limite turbulenta, como indicado na
figura abaixo.

Nesse caso, xe ≈ 10 D . O número de Reynolds vai indicar se o escoamento é turbulento.

Isto vai ocorrer para Re D > 4000 . Entre 2300 e 4000 ocorre transição laminar-
Transferência de Calor e Massa 122

turbulento. Para efeitos práticos, porém, pode-se assumir escoamento turbulento a partir
de 2300.
TEMPERATURA MEDIA DE MISTURA

No caso do escoamento interno, existe um problema de referenciar a transferência de


calor. Para exemplificar essa dificuldade, considere os escoamentos externos e internos
ilustrados abaixo. No primeiro caso, o cálculo da transferência de calor se dá levando
em consideração a temperatura da superfície, Ts, de do fluido ao longe, T∞, a qual é
constante. Isso já não ocorre no caso do escoamento no interior. Não existe uma
temperatura ao longe, T∞, para efetuar o cálculo da troca térmica. O que se usa é uma
temperatura média Tm. Só que não pode ser uma temperatura média aritmética simples,
pelos motivos expostos abaixo. Há de ser uma temperatura efetiva que represente a
temperatura do fluido na seção. Esta é a chamada temperatura média de mistura ou de
copo.

T∞

q = hA(Ts − T{∞ )
cte q = hA(Ts − Tm )

Ts Ts

Para entender como se obter a temperatura média de mistura, considere os seguintes


perfis de temperatura e velocidade em um fluido sendo aquecido:

Ts

Tc

Note que as maiores temperaturas ocorrem junto à parede porém, nessa região é onde
1
A∫
ocorrem as menores velocidades. Assim, a média aritmética simples Tm = TdA não

representa a temperatura efetiva da seção. Para obter a temperatura efetiva da seção,


considere um exercício mental em que uma porção do fluido é colocado dentro de um
copo. Há de se concordar que a temperatura efetiva é a temperatura de equilíbrio
Transferência de Calor e Massa 123

daquela porção de fluido. Certo? Sim, isto está correto e daí o nome alternativo de
temperatura de copo “cup” que significa literalmente “caneca” no vernáculo original).

Tequilibrio = Tm

Para determinar essa temperatura, considere o fluxo entálpico, E& h , na seção transversal
A
dado por: E& h = ∫ hdm& = ∫ ρuhdA .
0
Assim, pode-se definir a entalpia média, hm, na seção transversal por:
A
1
hm = ∫ ρuhdA ⇒ E& h = m& hm
m& 0

A
1
C P m& ∫0
Mas, sabendo que hm = c p Tm , então: Tm = ρuC P TdA
A
1
m& ∫0
Se CP= cte., vem que Tm = ρuTdA
A
Mas, por definição a vazão mássica na seção transversal é dada por m& = ∫ ρudA
0

Assim, chega-se na expressão da definição da temperatura média de mistura ou


temperatura de copo, qual seja:
A

∫ ρuTdA
Tm = 0
A

∫ ρudA
0

Para o caso do duto circular a área da seção transversal é dada por


A = πr 2 ⇒ dA = 2πrdr que, substituindo na expressão acima, resulta em:
r

∫ ρuTrdr
Tm = 0
r
(Válida para tubo circular)
∫ ρurdr
0
Transferência de Calor e Massa 124

∫ uTrdr
Além do mais, se ρ= cte, vem Tm = 0
R
(válida para tubo circular)
∫ urdr
0

Transferência de Calor no Escoamento Laminar no Interior de Duto

Conhecida a expressão para o cálculo da temperatura média de mistura, pode-se


determinar a transferência de calor, caso sejam conhecidas as distribuições de
velocidade e temperatura na seção transversal, isto é, u(r) e T(r). O caso laminar fornece
tais expressões, como veremos a seguir. Considere o perfil laminar de velocidades
ilustrado abaixo. No diagrama à direita, tem-se um balanço de forças para o elemento de
fluido.

τ (2πrdx)

p (πr 2 ) ( p + dp)πr 2
r0

du
Um balanço de força, resulta em: πr 2 dp = −τ (2πrdx) , ou rdp = −2 µ dx ou ainda:
dr
r dp
du = − dr
2µ dx
Integrando na direção radial. Note que a pressão estática é a mesma na seção
r 2 dp
transversal, isto é, p≠ p(r), vem que u = − +C
4µ dx
A constante C é determinada da condição de parede, isto é,

u=0 .r dp
2

r = r0 C= 0
4µ dx

1 dp 2
Assim, u (r ) = (r0 − r 2 )
4µ dx

2
r dp
Velocidade no centro do tubo, u0: u 0 = − 0
4µ dx
Finalmente, dividindo uma expressão pela outra, tem-se:
u (r ) r2
= 1 − 2 O perfil de velocidade é parabólico (2º grau)!!
u0 r0
Transferência de Calor e Massa 125

dq p
Admitindo-se fluxo de calor constante na parede do tubo: =0
dx

Um balanço de energia para o elemento de fluido anterior resulta em:

1 ∂  ∂T  1 ∂T
r =
µr ∂r  ∂r  α ∂x

∂T
Como o fluxo de calor e constante ao longo do tubo, então: = cte
∂x

∂T
Por outro lado, por simetria no centro do tubo, sabe-se que = 0 e, na parede do
∂r r =0

∂T
tubo k = q p = cte
∂r r = r0

Entrando com estas c.c na equação acima e integrando, resulta no seguinte perfil
laminar de temperaturas:

1 ∂T u 0 r0  r  1 r  
2 2 4

T (r ) = T0 +   −   
α ∂x 4  r0  4  r0  
 

Finalmente, pode-se agora introduzir os perfis de velocidade, u(r) e temperatura, T(r),


r0 r0

na equação da definição da temperatura média de mistura Tm = ∫ uTrdr ∫ urdr


0 0

2
7 u 0 r0 ∂T
Após algum esforço, se obtém Tm = T0 + (para fluxo de calor constante na
96 α ∂x
parede).
Para se poder calcular a transferência de calor, ainda é preciso obter a temperatura de
parede (r = r0). Isto é prontamente obtido da expressão de T(r), que resulta em:
1 3 2 ∂T
T p = T0 + u 0 r0 (fluxo de calor constante)
α 16 ∂x

Agora, finalmente, o coeficiente de transferência de calor laminar em tubo circular com


propriedades constantes e escoamento plenamente desenvolvido pode ser calculado, a
partir da sua própria definição:
Transferência de Calor e Massa 126

∂T
k
∂T ∂r r = r0
q = hA(T p − Tm ) = kA , ou h =
∂r r = r0 (T p − Tm )

Substituindo as expressões, vem:


∂  1 ∂T u 0 r0  r  1  r   
2 2 4

k T0 +   −   
∂r  α ∂x 4  r0  4  r0   
    r =r0
h=
 
 1 3 ∂T 7 u r
2
∂ T 
 T0 + u 0 r0
2
− T0 − 0 0

 14α 16
442444 ∂
3 1442443 
x 96 α ∂ x
 TP Tm 

k
Após se efetuar os cálculos, vai-se chegar a h = 4,364 ou, Nu D = 4,364 . Este é um
D
resultado notável, pois o número de Nusselt para escoamento laminar plenamente
desenvolvido, propriedades constantes, submetido a um fluxo de calor constante não
depende do número de Reynolds ou de qualquer outro parâmetro! Se os cálculos forem
efetuados para temperatura de parede constante, vai-se obter Nu D = 3,66 .
Trabalhos teóricos também foram realizados para outras geometrias e seus valores são
apresentados na tabela abaixo. O fator de atrito também é apresentado.

Nos problemas práticos, as propriedades devem ser calculadas à média entre as


T − Tms
temperaturas médias de saída e entrada, isto é: Tm = me quando as diferenças de
2
Transferência de Calor e Massa 127

temperatura não são significativas. Em caso diferenças significativas, deve-se empregar


o conceito de diferença média logarítmica de temperatura, DMLT, visto adiante.

Quando os tubos são curtos, deve-se considerar que o escoamento ainda não está
plenamente desenvolvido e deve-se usar a expressão corrigida. O gráfico abaixo ilustra
como o número de Nusselt varia, começando da entrada, até que o escoamento se torne
plenamente desenvolvido.
Relação para tubo curto:
0,0668( D / L) Re D Pr
Nu D = 3,66 +
1 + 0,04[( D / L) Re D Pr ]
2/3

Veja livro para correlações que consideram o comprimento de entrada.

DETERMINAÇÃO DE Tm AO LONGO DO COMPRIMENTO DO TUBO

Em muitas situações, estamos mais interessados em determinar como a temperatura


média de mistura varia não na seção transversal, mas sim ao longo do tubo. Isto é
obtido, mediante um balanço de energia, conforme ilustrado na figura abaixo. É válida
para qualquer regime de escoamento, pois decorre de uma análise da Primeira Lei da
Termodinâmica. Note que, nesta seção, h refere-se à entalpia específica e não ao
coeficiente convectivo de calor.

q" dAp

m& hx
m& hx + dx

dx

dhx
Expansão em serie de Taylor da entalpia, vem h x + dx = hx + dx + ...
dx
Transferência de Calor e Massa 128

Mas, pela 1ª lei, temos: m& hx + dx = m& hx + q" dA p , que substituindo a expansão, já
desprezando os termos de ordem superior, tem-se
 dh 
m&  hx + dx + x dx  = m& hx + q" dA p
 dx 
dh x
ou, simplesmente m& = q" dA p : Ap = área em contato com o fluido.
dx
Mas, por outro lado dA = Pdx ;onde P é o chamado perímetro molhado.

dh x
De forma que m& dx = q" Pdx
dx
dh x
Ou, ainda, m& = q" P . Assumindo h = c pTm , ou dh = C P dT p / C P = cte , tem-se
dx
dTm dT
q" P = ρC P u A = m& C P m
dx dx

Dois casos podem ser analisados para ser determinar Tm que dependem da condição de
contorno na parede.

(I) Fluxo de calor constante na parede. q" = cte


q" P
Integrando a equação, vem Tm ( x) = x + cte
ρC P u A
q" P
Para x = 0, Tm = Te, de forma que Tm ( x) = x + Te
ρC P u A

(II) Temperatura de parede constante Tp = cte

Nesse caso, q" x = hx (T p − Tm ) que, substituindo na expressão Tm, vem


dTm
hx P (T p − Tm ) = m& C P
dx
dTm h P hc P
Ou, = x dx , cuja integração resulta em ln(T p − Tm ) = x + cte
T p − Tm m& c p m& C P

T p − Tm ( x)  h Px 
Para x = 0, Tm = Te, de forma que = exp − c 
T p − Te  m& C P 

T Tp h T
Tm Tp

Te Te
h

x
Fluxo de calor constante na superfície Temperatura de parede constante
Transferência de Calor e Massa 129

AULA 17 – TRANSFERÊNCIA DE CALOR NO INTERIOR


DE DUTOS - TURBULENTO

Transferência de Calor no Escoamento Turbulento em Dutos – Analogia de


Reynolds-Colburn

q dT q dT
No caso laminar, a condução de calor é dada por = −k , ou = −α
A dr Aρc p dr

No caso de escoamento turbulento, define-se uma expressão semelhante do tipo

q dT
= −(α + ε H )
Aρc p dr

εH - é a chamada difusividade térmica turbilhonar

Analogamente à tensão de cisalhamento, pode-se escrever

du τ du
τ =µ ⇒ = (ν + ε m )
dr ρ dr
onde, εm - viscosidade turbilhonar

Hipótese: Admitindo que o calor e quantidade de movimento sejam transportado numa


mesma taxa, ou εH = εm e ν = α, o que significa que Pr = 1. Então, dividindo as
equações anteriores, vem:

q dT q
=− ou du = − dT
Ac pτ du Ac pτ

Outra hipótese a ser adotada é que a razão entre o fluxo de calor por unidade de área e o
cisalhamento seja constante na seção transversal, o que permite escrever que o que
ocorre na parede, também ocorre dentro do escoamento, isto é:
Transferência de Calor e Massa 130

q qp qp
= ou du = − dT
C P Aτ C P Apτ p CP Apτ p

As condições de contorno do problema são:


u=0 , T = Tp
u = um , T = Tm

um Tm
qp
De forma, que é possível integrar a equação:
ApCPτ p ∫ du = − ∫ dT
0 Tp

qp
que resulta em u m = T p − Tm
A p C Pτ p
mas, por outro lado, o fluxo de calor convectivo é dado por q p = hAp (T p − Tm ) . Agora

igualando as duas expressões, tem-se:


hA p (T p − Tm ) hu m
u m = T p − Tm que resulta em =τ p (A)
A pτ p c p cp

Por outro lado, o equilíbrio de forças no elemento de fluido, resulta em:


r
∆Pπr0 = τ p 2πr L , ou τ p = 0 ∆P
2

2L

τ p 2πr0 L

Pπr0
2
( P + ∆P)πr0
2

τp

2
L um
Mas da mecânica dos fluidos, ρ∆P = f , onde f = fator de atrito (sai do
d0 2
diagrama de Moody ou expressão de ajuste – Colebrook, Churchil, entre outras)
f
Assim, comparando as duas expressões, vem τ p = ρu m
2
(B)
8

Finalmente, pode-se concluir a analogia igualando as equações (A) e (B). Assim:

hu m f
= ρu m
2

Cp 8
Transferência de Calor e Massa 131

Agora é de interesse que se façam aparecer os adimensionais que controlam o


fenômeno. Para isso, algumas manipulações serão necessárias, começando por
rearranjar a equação acima, para obter:
h f
= ρ
ρC p u m 8
Agora, conveniente, esta expressão é multiplicada e dividida por algumas grandezas,
conforme indicado abaixo:

 hd 0  k 1  ν  f
    =
 k  ρC p ν  d 0 u m  8

 hd  1  1  f
que, pode ainda ser manipulada para obter:  0    =
 k  ν / α  d 0 u m /ν  8
Finalmente, os grupos adimensionais são substituídos:
Nu D f f
= , ou St =
Pr Re D 8 8

Esta é a analogia de Reynolds para escoamento turbulento em tubos. Ela está de acordo
com dados experimentais para gases ( Pr ~ 1). Com base em dados experimentais
Colburn recomenda que a relação acima seja multiplicada por Pr2/3 para Pr > 0,5 (até
100)
Nu D f f
13
= , ou St Pr 2 3 =
Pr Re D 8 8

Na faixa de Reynolds entre 2 ×104, para tubos lisos, f pode ser relacionado da seguinte
−0 , 2
forma f = 0,184 Re D .
Então, obtém-se a famosa expressão de Dittus-Bolter (ligeiramente modificada)

Nu D = 0,023 Re D
0 ,8
Pr 1 / 3

Na prática, sugere-se que o expoente do número de Prandtl seja do tipo

Nu D = 0,023 Re D
0 ,8
Pr n
onde,
n = 0,3 se o fluido estiver sendo resfriado
n = 0,4 se o fluido estiver sendo aquecido
Transferência de Calor e Massa 132

Para tubos rugosos, usar o diagrama de Moody, como mostrado abaixo, para obter f.

Ou uma expressão de correlação, como por exemplo a expressão de Churchill ou


Colebrook:
1 12
 8 
12
1 
Expressão de Churchill: f = 8  + 
 Re D  ( A + B )1,5 
onde
16
  1  
A = 2,457 ln  
 (7 Re D ) + (0,27ε D )  
0, 9

e
16
 37.530 
B =  
 Re D 
Esta expressão tem a vantagem de ajustar de forma suave a transição laminar-turbulento

1 ε / D 2,51 
Expressão de Colebrook: 1/ 2
= −2,0 log + 
1/ 2 
f  3,7 Re D f 

Ver tabela de correlações para outras


configurações
Transferência de Calor e Massa 133

Outras correlações (tubo liso),válidas para a região de entrada

0,5 < Pr < 1,5


  D 2 / 3 
Nu D = 0,0214(Re D
4/5
− 100) Pr 2/5
1 +   
  L  
0,5 < Pr < 1,5
  D 2 / 3 
Nu D = 0,012(Re D
0 ,87
− 280) Pr 2/5
1 +   
  L  

CORREÇÃO DEVIDO A PROPRIEDADES VARIAVEIS

(A) Laminar

As propriedades são calculadas a temperatura de mistura. Acontece que algumas


propriedades dependem fortemente da temperatura como, por exemplo, a viscosidade da
água:

µ (T = 25°C) ~ 8,90 x 10-4 kg/ms


µ (T = 30°C) ~ 7,98 x 10-4 kg/ms

Em 5ºC ocorre uma variação em torno de 10%.

Assim, segue-se que a seguinte expressão seja utilizada para levar este efeito em
consideração.

n
µ 
Nu cor = Nu  m  µm = viscosidade à temperatura da mistura.
µ 
 p µp = viscosidade à temperatura da parede
Se o fluido for em gás n = 0 (sem correções) Para 0,5 < Tm / Tp < 2,0

(B) Turbulento

n
T 
Nu cor = Nu  m 
T 
 p

T – temperatura absoluta
n = 0 (resfriamento de gases)
n = 0,45 para fases sendo aquecidos (n = 0,15 p/ Co2)

se 0,5 < Tm / Tp < 2,0

0 ,11
 Pr 
Líquidos Nu cor = Nu  m 
 Pr 
 p
Transferência de Calor e Massa 134

Exemplos resolvidos

(1) Ar escoa pelo interior de um duto de 5cm de diâmetro. A velocidade do ar é 30m/s e


sua temperatura é 15ºC. O comprimento aquecido do tubo é 0,6m com temperatura de
parede, Tp = 38ºC. Suponha que o escoamento seja plenamente desenvolvido. Obtenha a
transferência de calor e a temperatura de saída do ar.

T p = 38°C

Te + Ts
Calcule as propriedades à temperatura média Tm =
2

Nu D = 0,023 Re D
0 ,8
Dittus Boelter: Pr 0, 4 (1)

Balanço de energia: hA(T p − Tm ) = m& C p (Ts − Te ) (2)

Note que há duas equações e duas incógnitas (Ts e h)

Esses tipos de problema devem normalmente serem resolvidos de forma iterativa,


conforme esquema abaixo. Primeiro admite-se uma temperatura de saída, calculam-se
todas as grandezas envolvidas e depois faz-se a verificação se corresponde ao resultado
da segunda equação. Caso contrário, admite-se uma nova temp. de saída.

Ts = 21ºC ⇒ Tm = 18ºC

Tabela A.5 (Holman) A.4 (Incropera) – Interpolação

ρ = 1,2191 kg/m3 γ = 14,58 x 10-6 m2/s Pr = 0,72


cp = 1,0056 kJ/kg°C k = 0,02554 W/m°C

VD 30 x0,05
Re D = = −6
= 1,029 x105 turbulento !!!!
ν 14,58 x10

Nu D = 0,023 Re D
0,8
Pr 0,4 = 0,023(1,029x10^5) 0,8 (0,72) 0,4 = 206,34
Nu D k 206,34 * 0,02554 W
h= = = 105,4 2
D 0,05 m °C
Transferência de Calor e Massa 135

De (2)

Ts = Te +
hA
(Tp − Tm ) = 15 + 105,4 × π × 0,05 × 03,6 (38 − 18) = 17,7°C
mc p 0,072 × 1,0056 x10
Não confere!! Portanto, nova iteração é necessária
Assumindo agora Ts = 18ºC

Logo, Tm = 16,5ºC, assim:


ρ = 1,2262 kg/m3 µ = 14,40 x 10-6 m2/s Pr = 0,711
cp = 1,0056 kJ/kg°C k = 0,02542 W/m°C
Re D = 1,04 x105 m& = 0,072kg / s h = 105,27W / m 2 °C
Ts ≅ 17,95°C OK! Agora, confere
Realizando os cálculos pedidos. Pela lei de resfriamento

q = h As (Tp − Tm ) = 105,27 × π × 0,05 × 0,6 × (38 − 16,5) = 213,3W


Pela 1ª. Lei
q = m& c p (Ts − Te ) = 0,072 × 1005,6 × (18 − 15) = 217,2 W
As diferenças se justificam em função das aproximações usadas e no cálculo das propriedades.
(2) Água passa em tubo de 2cm de diâmetro dotado de uma velocidade média de 1 m/s.
A água entra no tubo a 20ºC e o deixa a 60ºC. A superfície interna do tubo é mantida a
90ºC. Determine o coeficiente médio de convecção de calor, sabendo que o tubo é
longo. Calcule, também, o fluxo de calor transferido por unidade de área de tubo.

Solução
As propriedades termofísicas da água serão calculadas à média das temperaturas de
misturas da entrada e saída, isto é, a 40ºC.
ρ = 992,3 kg/m3 k = 0,6286 W/m°C cp = 4,174 kJ/kg°C
µ = 6,531 x 10-4 kg/ms Pr = 4,34
O número de Reynolds do escoamento é

VDρ 1 × 0,02 × 992,3


Re D = = −4
= 3,039 × 10 4
µ 6,531 × 10

O escoamento é turbulento e o número médio de Nusselt é obtido usando a equação de


Dittus-Bolter, vem.
Nu D = 0,023Re 0,8
D
Pr 0,4

(
Assim, Nu D = 0,023 3,039 ×10 4 )0,8
4,340,4 = 159,5

As propriedades termofísicas da água são dependentes da temperatura, e uma correção


deveria ser realizada para o número de Nusselt obtido com a hipótese de propriedades
constantes. O número de Prandtl da água a 90oC vale 1,97.

0,11 0,11
 Pr   4,34 
Nu cor = Nu  m  = 159,5  = 174,0
 PrP   1,97 
Transferência de Calor e Massa 136

O coeficiente médio de transferência de calor é

Nu cor k 174,0 × 0,6286 W


h= = = 5468,1 2
D 0,02 m °C

q"= h(T p − T ) = 5468,1(90 − 40) = 273,4kW / m 2

DIFERENÇA MÉDIA LOGARÍTMICA DE TEMPERATURA – DMLT

No exemplo anterior de parede de tubo constante, a temperatura de mistura do fluido


varia de forma exponencial entre a entrada e saída. Assim, os cálculos realizados acima
foram aproximados apenas, pois usamos uma temperatura média representativa do
fluido que foi simplesmente a média aritmética entre a temp. de mistura de entrada e
saída. No entanto, prova-se (veja Incropera 8.3.3) que nestes casos deve-se usar a
diferença média logarítmica de temperatura, DMLT, definida por:
T
Tp
∆Ts − ∆Te
DMLT =
ln (∆Ts ∆Te )
Te

onde, ∆Ts = T p − Ts e ∆Te = T p − Te


x

Assim, a lei de resfriamento de Newton adequadamente aplicada é q = h × A × DMLT

30 − 70
Refazendo o exercício, vem: DMLT = = 47,2 o C - compare com T = 50o C
ln (30 70 )

Assim, q" = h( DMLT ) = 5468,1 × 47,2 = 258,1kW / m 2

Como última informação, perceba que se as diferenças de temperatura entre a entrada e


saída não forem muito grandes, a DMLT vai tender a diferença entre a temperatura de
parede e a média entre as temperaturas de mistura de entrada e saída. A DMTL será
estudada detalhadamente na próxima aula.
Transferência de Calor e Massa 137

Outro exemplo de Aplicação

Um tubo de um aquecedor solar é exposto a uma radiação térmica uniforme e constante


de 1000 W/m por meio de um concentrador. O diâmetro do tubo é de 60mm.

1) se a água entra no tubo a m & = 0,01kg / s e Tm,1 = 20°C. Qual o


comprimento do tubo necessário para a temperatura de saída alcançar Tm,2
= 80°C?
2) Qual a temperatura superficial do tubo na saída?

Solução

Tm1 = 20°C

m = 0,01kg / s Tm 2 = 80°C

1) 1º Lei Q& = m& C p ∆T , com Q& = q&"πDL e, portanto, q&" πDL = m& C p ∆T
m& C p ∆T 0,01x 4181x60
De forma que: L = , ou L = = 13,31m
q&"πD 100πx0,06
q& "
2) q& s " = h (T p , 2 − Tm, 2 ) ou T p , 2 = s + Tm, 2
h

Precisamos, agora, fazer uma estimativa de h

Regime de escoamento – cálculo do número de Reynolds:


u D 4m& D 4m&
Re D = m = =
ν πD ρν πDµ
2

−6
da tabela µ80°C = 352 × 10 Ns / m , então
2

4 × 0,01
Re D = = 603 < 2300 - Laminar !!
π × 0,06 × 352 × 10 −6

hD
Como se trata de fluxo de calor constante na parede, tem-se Nu D = = 4,364
k
4,364k
Assim, h = mas k80°C = 0,670W / m°C
D
4,364 x0,67
Logo, h = = 48,73W / m 2 °C
0,06

1000
Finalmente, Tp , 2 = + 80 = 100,5°C
Transferência de Calor e Massa 138

AULA 18 – TROCADORES DE CALOR – MÉTODO DA


DIFERENÇA MÉDIA LOGARÍTMICA DE
TEMPERATURA – DMLT

O principal objetivo no projeto térmico de trocadores de calor é a determinação da área


superficial necessária para transferir o calor numa determinada razão, conhecidas as
vazões e as temperaturas dos fluidos. Este trabalho é facilitado pelo uso do coeficiente
global de transmissão de calor, U.

q = U ⋅ A ⋅ ∆T

Onde ∆T é uma diferença média efetiva da temperatura para todo o trocador de calor
que será discutida adiante. Onde U pode ser definido em função da soma das
resistências térmicas. Para as configurações usuais mais encontradas, temos:

Paredes plana:
1
U=
1 / qi + L / k + 1 / qo
Parede cilíndrica:
1
Uo = , ( q = U o ⋅ Ao ⋅ ∆T )
ro / ri qi + [ro ln(ro / ri ) / k ] + 1 / qo

1
Ui = , q = U i ⋅ Ai ⋅ ∆T
1 / qi + [ri ln(ri / ro ) / k ] + ri / ro / qo

Onde os índices i e o representam as superfícies interna e externa, respectivamente.


A tabela a seguir fornece valores aproximados de U para alguns fluidos utilizados em
trocadores de calor. As faixas relativamente largas de U resultam da diversidade dos
materiais empregados e das condições do escoamento, bem como da configuração
geométrica.
Transferência de Calor e Massa 139

Fluido (U – W/m²K)
Óleo para óleo 170-312
Orgânico para orgânico 57-340
Vapor para
Soluções aquosas 567-3400
Óleo combustível, pesado 57-170
Óleo combustível, leve 170-340
Gases 28-284
Água 993-3.400
Água para
Álcool 284-850
Salmoura 567-1.135
Ar comprimido 57-170
Álcool condensado 255-680
Amônia condensado 850-1.420
Freon 12 condensado 454-850
Óleo condensado 227-567
Gasolina 340-510
Óleo lubrificante 113-340

As figuras abaixo mostram alguns tipos de trocadores de calor.

Corrente paralela Contra-corrente

Corrente cruzada Corrente cruzada

Casco e tubo
Transferência de Calor e Massa 140

Trocador de placas

O TROCADOR DE CALOR DE CORRENTES PARALELAS


Antes de serem efetuados os cálculos da transferência de calor, é necessário definir o
termo ∆T . Seja, por exemplo, um trocador de calor de correntes paralelas, cujos perfis
de temperatura estão mostrados na seguinte figura.

Para a figura acima considerar que:


1. U é constante ao longo de todo o trocador.
2. O sistema é adiabático; ocorre troca de calor somente entre os dois fluidos.
Transferência de Calor e Massa 141

3. As temperaturas de ambos os fluidos são constantes numa dada seção transversal e


podem ser representadas pela temperatura de mistura.
4. Os calores específicos dos fluidos são constantes.
Com base nestas hipóteses, a troca de calor entre os fluidos quente (q) e frio (f) para
uma espessura infinitesimal dx é:
dq = U (Tq − T f )dA

onde dA é a área elementar de troca de calor. O fluxo de energia recebida pelo fluido
frio é igual à fornecida pelo fluido quente, isto é,

dq = m& f c f dT f = − m& q cq dT

onde m& é o fluxo mássico e c é o calor específico. Da equação anterior resulta:

 1 1 
d (Tq − T f ) = −  +  dq
 m& q cq m& f c f
 

Substituindo dq da equação de conservação, resulta:

d (Tq − T f )  1 1 
= −U  +  dA
(Tq − T f ) 
 m& q cq m& f c f 

Cuja integração é igual a

∆T2  1 1 
ln = −UA  + 
∆T1 
 m& q cq m& f c f 

onde, ∆T1 = Tqe − T fe e ∆T2 = Tqs − T fs , como indicado no gráfico de distribuição de

temperaturas anterior. Por meio de um balanço de energia em cada fluido,

q q
m& q cq = m& f c f =
(Tqe − Tqs ) (T fs − T fe )
Transferência de Calor e Massa 142

Substituindo-se estas expressões na equação anterior:

∆T2 (T − T ) + (T fs − T fe )
ln = −UA qe qs
∆T1 q
Ou:
∆T2 − ∆T1
q = UA
ln (∆T2 ∆T1 )

Comparando-se este resultado com a primeira equação, nota-se que

∆T2 − ∆T1
∆T = ≡ DMLT
ln (∆T2 ∆T1 )

Esta diferença média efetiva de temperatura é chamada de diferença média logarítmica


de temperatura (DMLT).

O TROCADOR DE CALOR EM CONTRA-CORRENTE

As distribuições de temperaturas nos fluidos quente e frio associadas a um trocador de


calor com escoamento em contracorrente estão mostradas na figura acima.
Transferência de Calor e Massa 143

Note que a temperatura de saída de fluido frio (Tfs) pode ser maior que a temperatura de
saída de fluido quente (Tqs).
De forma similar que para o caso de correntes paralelas pode-se demonstrar o DMLT
para o caso contra-corrente a taxa de transferência por conservação de energia
infinitesimal e convectivo são respectivamente:

dq = − m& q cq dTq = − m& f c f dT f e dq = U (Tq − T f )dA

Subtraindo o segundo e terceiro termos da equação de conservação infinitesimal e


substituindo a segunda equação juntamente com a equação de conservação, tem-se

 1 1   Tq1 − Tq 2 T f 1 − T f 2 
d (Tq − T f ) = −  −  dq = −U (Tq − T f )dA  − 
 m& q cq m& f c f  q q 
 
ou
d (Tq − T f ) U
=− (Tq1 − T f 1 ) − (Tq 2 − T f 2 )  dA
(Tq − T f ) q

Substituindo a equação anterior em termos das seções 1 e 2 do gráfico acima:

d ∆T( q − f ) U
=− (∆T1 − ∆T2 )dA
∆T( q − f ) q

Integrando a equação acima, obtém-se:


 ∆T  U
ln 2  = − (∆T1 − ∆T2 ) A
 ∆T1  q

ou
∆T2 − ∆T1
q = U ⋅ A ⋅ DMLT onde DMLT =
ln (∆T2 ∆T1 )

Onde ∆T1 = Tqe − T fs e ∆T2 = Tqs − T fe

Para as mesmas temperaturas de entrada e saída, a DMLT em contra-corrente é maior


que para corrente paralela, dessa forma, admitindo o mesmo U, a área necessária para
uma determinada taxa de transferência de calor é menor para um trocador em
contracorrente.
Transferência de Calor e Massa 144

Exemplo resolvido (do Incropera):

Um trocador de calor bitubular (tubos concêntricos) com configuração em


contracorrente é utilizado para resfriar o óleo lubrificante do motor de uma grande
turbina a gás industrial. A vazão da água de resfriamento do tubo interno (Di = 25 mm) é
de 0,2 kg/s, enquanto a vazão do óleo através da região anular (De = 45 mm) é de
0,1 kg/s. O óleo e a água entram a temperaturas de 100 °C e 30 °C, respectivamente. O
coeficiente de transferência de calor por convecção na região anular (do óleo) é de
38,4 W/m²K. Qual deve ser o comprimento do trocador se a temperatura de saída do
óleo deve ser de 60°C?

Solução
Considerações:
• Perda de calor para a vizinhança desprezível.
• Mudanças nas energias cinética e potencial desprezíveis.
• Propriedades constantes.
• Resistência térmica na parede do tubo e efeitos da deposição desprezíveis.
• Condições de escoamento completamente desenvolvidas na água e no óleo (U
independente de x).

Propriedades do óleo de motor novo ( T = 80 °C)


Transferência de Calor e Massa 145

cp = 2.131 J/kg-K; µ = 0,0325 N.s/m²; k = 0,138 W/m K.


Propriedades da água ( Tc ≈ 35 °C) , primeira aproximação!
cp = 4.178 J/kg K; µ = 0,000725 N.s/m²; k = 0,625 W/m K; Pr = 4,85.

q = m& q c p , q (Tqe − Tqs )

q = 0,1× 2131× (100 − 60) = 8.524 W

A temperatura de saída da água é:


q
T fs = + T fe
m& f c p , f

8524
T fs = + 30 = 40, 2 °C
0, 2 × 4178

Por tanto a primeira aproximação de T f = 35 °C foi uma boa escolha.

A DMLT é igual a:
(Tqe − T fs ) − (Tqs − T fe ) 59,8 − 30
DMLT = = = 43,2°C
 (Tqe − T fs )  5,98 
ln   ln 
 (Tqs − T fe )  30 

O coeficiente de transferência global é dado por:

1/U= 1/hi + 1/he

Para o escoamento da água através do tubo,


4m& c 4 × 0, 2
Re D = = = 14.050 (Turbulento)
π De µ π × 0, 025 × 0, 000725

Nu D = 0,023 Re 4D/ 5 Pr 0, 4 = 0,023 ⋅14050 4 / 5 ⋅ 4,850, 4 = 90

Assim:
k 0,625
hi = Nu D = 90 = 2.250 W / m² K
Di 0,025
Transferência de Calor e Massa 146

Por tanto o coeficiente global de transferência de calor é:


1
U= = 37,8W / m² K
1/ 2.250 + 1 / 38,4

A área necessária para a troca de calor é de:


q
A=
U ⋅ DMLT
E o comprimento será de:

q 8.524
L= = = 66,5 m
π ⋅ Di ⋅ U ⋅ DMLT π ⋅ 0,025 ⋅ 37,8 ⋅ 43,2

O MÉTODO F

Para trocadores de calor mais complexos, como os multitubulares, diversos passes na


carcaça ou correntes cruzadas, a determinação da diferença média efetiva de
temperatura é tão difícil que o procedimento usual é modificar a equação acima através
de um fator de correção F, resultando em:

q = U ⋅ A ⋅ F ⋅ DMLT

Onde DMLT é aquela para um trocador de calor de tubo duplo em contracorrente com
as mesmas temperaturas de entrada e saída da configuração mais complicada. As figuras
a seguir fornecem os fatores de correção para diversas configurações. Nestas figuras, a
notação (T, t) representa as temperaturas das duas correntes de fluido, pois não importa
se o fluido quente escoa nos tubos ou na carcaça.
Transferência de Calor e Massa 147
Transferência de Calor e Massa 148
Transferência de Calor e Massa 149

AULA 19 – TROCADORES DE CALOR – MÉTODO DA


EFETIVIDADE - NUT
Se mais de uma das temperaturas de entrada ou saída do trocador de calor for
desconhecida, o método DMLT é muito trabalhoso, necessitando de um método
iterativo de tentativa e erro. Um outro método introduz uma definição da efetividade de
um trocador de calor:
troca de calor real q
ε≡ = real
máxima troca de calor possível q máx
Onde a máxima troca de calor possível é aquela que resultaria se um dos fluidos
sofresse uma variação de temperatura igual à máxima diferença de temperatura possível
(a temperatura de entrada do fluido quente menos a temperatura de entrada do fluido
frio). Este método emprega a efetividade ε para eliminar a temperatura de descarga
desconhecida e fornece a solução para a efetividade em termos de outros parâmetros
conhecidos ( m& , c, A e U).
Fazendo C = m& c ,
qreal = Cq (Tqe − Tqs ) = C f (T fs − T fe )
Que indica que a energia térmica perdida pelo fluido quente é a energia térmica recebida
pelo fluido frio. A máxima troca de calor ocorre quando o fluido de menor C sofre a
maior variação de temperatura possível, isto é,
qmáx = Cmin (Tqe − T fe )
Esta troca de calor seria conseguida num trocador de calor de contracorrente de área
infinita, Combinando as equações acima obtém-se:
qreal = ε Cmin (Tqe − T fe )

Trocador de Calor de Correntes Paralelas


Considerar o trocador de calor simples de correntes paralelas como a figura abaixo com
as seguintes hipóteses:
Transferência de Calor e Massa 150

1. U é constante ao longo de todo o trocador.


2. O sistema é adiabático; ocorre troca de calor somente entre os dois fluidos.
3. As temperaturas de ambos os fluidos são constantes numa dada seção transversal e
podem ser representadas pela temperatura de mistura.
4. Os calores específicos dos fluidos são constantes.
Notar que são as mesmas hipóteses adoptadas para o cálculo de DMLT.
Combinando as equações acima, são obtidas duas expressões para a efetividade:
C (T − T ) C (T − T )
ε = q qe qs = f fs fe
Cmin (Tqe − T fe ) Cmin (Tqe − T fe )
Como o valor mínimo de C pode ocorrer tanto para o fluido quente quanto para o fluido
frio, existem dois valores possíveis para a efetividade:
T −T
Cq < C f : ε q = qe qs
Tqe − T fe
T fs − T fe
Cq > C f : εf =
Tqe − T fe
Onde os índices em ε indicam o fluido que tem o valor mínimo de C. Para um TC
muito grande ( A → ∞ )

Retomando a equação da DMLT, esta pode ser escrita em função de C da seguinte


maneira:
∆T  1 1 
ln 2 = −UA  +  , (eq. da DMLT)
∆T1 
 m& q cq m& f c f 
Tqs − T fs  1 1 
= −UA  +
 Cq C f 
ln
Tqe − T fe  
Ou
UA  Cq 
Tqs − T fs − 1+
Cq  C f


=e 
Tqe − T fe
Se considerado que o fluido quente tem o valor mínimo de C, a partir da equação da
efetividade:
T −T T − T + T fe + T fs − T fs − Tqs Tqe − T fe Tqs − T fs T fs − T fe
ε q = qe qs = qe fe = − −
Tqe − Tes Tqe − T fe Tqe − T fe Tqe − T fe Tqe − T fe
qreal
Tqs − T fs T fs − T fe Tqs − T fs Cf
ε q = 1− − = 1− −
Tqe − T fe Tqe − T fe Tqe − T fe qreal
ε q Cq
Transferência de Calor e Massa 151

UA  Cq 
 Cq  T − T fs − 1+
Cq  C f


Rearranjando: ε q 1 +  = 1 − qs

ou:
εq =
1− e 

 Cf  Tqe − T fe
1 + Cq / C f
Se o fluido frio tem o valor mínimo de C:
UA  C f 

− 1+
C f  C q 

1− e
εc =
1 + C f / Cq
Ou generalizando:
UA  Cmin 
−  1+ 
Cmin  Cmáx 
1− e
ε=
1 + C min / C máx
Denomina-se Número de Unidades de Transferência (NUT), ao agrupamento:
U⋅A
NUT =
Cmin
Então temos para um T.C de corrente paralela:
 C 
− NUT  1+ min 
1− e  C máx 
ε=
1 + C min / C máx
Notar que, para um evaporador ou condensador, C = Cmin/Cmáx=0, porque um dos fluidos
permanece numa temperatura constante, tornando seu calor específico efetivo infinito.

Outras Configurações
Expressões para a efetividade de outras configurações estão na seguinte tabela, onde C =
Cmin/Cmáx.
Transferência de Calor e Massa 152

Exemplo
Uma fluxo de água de 0,75 kg/s entra num TC de tubo duplo, em contra-corrente, numa
temperatura de 38 °C. A água é aquecida por um fluxo de óleo de 1,51 kg/s (cp=1,88
kJ/kgK) que entra no TC a 116 °C. Para uma área de 13 m² e U=340 W/m²K determinar
o calor total transferido.
Transferência de Calor e Massa 153

Solução:
Cágua = 0,75 . 4184 = 3138 J/sK
Cóleo = 1,51 . 1880 = 2838,8 J/sK
Cmin = Cóleo
logo,
NUT = UA/Cmin = 340 (13)/2838,8 = 1,56
C = Cmin/Cmax = 2838,8/3138 = 0,905
Da expressão ou do gráfico do TC em tubo duplo, em contra-corrente:
1 − e − NUT (1−C ) 1 − e1,56(0,89−1)
ε= = = 0, 63
1 − C × e − NUT (1−C ) 1 − 0,89 × e1,56(0,89−1)
q real = εq max = 0,63 ⋅ 2838,8(116 − 38) = 139,5 kW
As temperaturas de saída das correntes quente e fria são obtidas da equação de
conservação de energia:
qreal 139500
Tqs = Tqe − óleo = 116 − = 66,8 °C
C 2838,8
qreal 139500
T fs = T fe + = 38 + = 82,4 °C
Cágua 3138

Correntes paralelas

Considere o mesmo TC mas as correntes são paralelas.


− NUT (1+ C / C f )
1− e q

εq =
(
1 + Cq / C f ) =0,50

qreal = 110,3 kW
qreal
Tqs = Tqe − = 77,1°C
Cóleo

T fs = 73,3°C
Transferência de Calor e Massa 154

AULA 20 – CONVECÇÃO NATURAL OU LIVRE


Nos dois casos anteriormente estudados, convecção interna e externa, havia o
movimento forçado do fluido em relação à superfície de troca de calor. Esse movimento
forçado poderia ser causado por um agente externo como uma bomba, um ventilador, ou
outra máquina de fluxo. A gravidade desempenhava pouco ou nenhum efeito sobre a
transferência de calor nesses casos. No entanto, quando o fluido se encontra em repouso
e em contato com uma superfície aquecida é fato conhecido que haverá transferência de
calor da superfície para o fluido. O raciocínio recíproco também é verdadeiro no
resfriamento da superfície. Nesse caso o número de Reynolds é nulo e a maioria das
correlações desenvolvidas não se aplicariam. Assim, o movimento do fluido vai ocorrer
como resultado de outro fenômeno, originário da diferença de densidade resultante de
gradientes de temperatura. Para se entender melhor esse aspecto, considere uma
superfície vertical em contato com um fluido em repouso. As camadas em contato com
a superfície aquecida também vão se aquecer e, como conseqüência, haverá uma
diferença de empuxo gravitacional entre as porções aquecidas e as adjacentes menos
aquecidas. Assim, as porções aquecidas sobem, enquanto que as menos aquecidas
tomam seu lugar dando origem às correntes de convecção. Camadas limites térmicas e
hidrodinâmicas também são estabelecidas, como ilustrado abaixo. No caso da C L H, as
condições de contorno do problema exigem que a velocidade seja nula junto à superfície
e na camada limite, como ilustrado.

Equações diferenciais

Quantidade de movimento
 ∂u ∂u  ∂p ∂ 2u
ρ  u + v  = − − ρg + µ 2
 ∂x ∂y  ∂x ∂y

∂p
Mas, = − ρ ∞ g , de forma que substituindo na equação da QM, vem
∂x

 ∂u ∂u  ∂ 2u
ρ  u + v  = g ( ρ ∞ − ρ ) + µ 2
 ∂x ∂y  ∂y
Transferência de Calor e Massa 155

Mas o coeficiente de expansão voluntária, β , pode ser escrito como:

1  ∂ρ  1ρ −ρ
β =−   ≅  ∞  , ou ρ∞ − ρ ≅ βρ (T − T∞ ) (aproximação de
ρ  ∂T  p ρ  T − T∞ 
Boussinesq), logo,
∂u ∂u ∂ 2u
u +v = gβ (T − T∞ ) + υ 2
∂x ∂y ∂y

1  ∂ρ  RT ∂  P  1
Note que para gás perfeito, β GP = −   =−   = [K ]
-1

ρ  ∂T  p P ∂T  RT  p T

 ∂T ∂T  ∂ 2T

A equação da Energia:  u +v  =α 2
 ∂x ∂y  ∂y

Contrariamente à solução das camadas limites hidrodinâmicas e térmicas laminares da


convecção forçada, as equações da conservação da quantidade de movimento e da
energia não podem ser resolvidas separadamente, pois o termo de empuxo
gβ (T − T∞ ) acopla estas duas equações. Não se pretende avançar na discussão da
solução dessas camadas limites e sugere-se a leitura da Seção 9,4 do livro do Incropera,
como ponto de partida para aquele aluno mais interessado. A partir desse ponto, lança-
se mão de correlações empíricas, obtidas em experimentos de laboratório.

O primeiro passo para a análise empírica é a definição de um novo grupo adimensional


chamado número de Grashof, Gr, por
(T s−T∞ )x 3
Grx = gβ
ν2
Este adimensional representa a relação entre as forças de empuxo e as forças viscosas na
convecção natural. Ele desempenha papel semelhante ao do número de Reynolds na
convecção forçada. Assim, a solução das equações da quantidade de movimento e
energia podem ser escritas da forma
Nu = f (Gr, Pr)
A solução aproximada para a placa vertical isotérmica em convecção natural laminar,
resulta em:

Nu x = 0,508 Pr 1/ 2 (0,952 + Pr) −1/ 4 Grx


1/ 4

e o valor médio de Nusselt


L
1 4
∫ Nu x dx = 0,677 Pr1/ 2 (0,952 + Pr) −1/ 4 Grx = Nu x=L
1/ 4
Nu L =
L0 3
Transferência de Calor e Massa 156

Assim, como ocorre com a convecção forçada, também existe a transição de camadas
limites de laminar para turbulenta na placa vertical, o valor normalmente aceito é
Grcrit Pr ≅ 109

Relações Empíricas

Diversas condições de transferência de calor por convecção natural podem ser


relacionada da seguinte forma.

Nu = C(Gr × Pr) m = CRa m ,

sendo as propriedades calculadas a temperatura de película, Tf, que é a média entre a


temperatura da superfície e do fluido. O produto Gr.Pr é chamada de número de

gβ (Ts − T∞ )L3
Rayleigh Ra = Gr. Pr =

a) Superfícies Isotérmicas - Convecção natural em cilindros e placas

Geometria Ra C m obs
4 9
D 35 Cilindros e placas verticais 10 – 10 0,59 ¼ Laminar
>
L GrL1 / 4 109 – 1013 0,10 1/3 Turbulento

Cilindros horizontais 104 – 109 0,53 ¼ Laminar


9 12
10 – 10 0,13 1/3 Turbulento

b) Fluxo de calor constante

gβ qB x 4
Grashof modificado: Gr* Gr * = Grx .Nu x =
kν 2

(
Laminar, placa vertical: Nu x = 0,60 Grx . Pr
*
)1/ 5
10 5 < Grx < 1011
*

(
Turbulento, placa vertical: Nu x = 0,17 Grx . Pr
*
) 1/ 4
2.1013 < Grx Pr < 1016
*
Transferência de Calor e Massa 157

Sumário de correlações (Incropera)


Transferência de Calor e Massa 158

Exemplo sugerido
Com base em muitos dados experimentais indicados no gráfico abaixo (extraído de
Kreith & Bohn), estabeleça sua própria correlação experimental de Nu D = f (Ra) para
cilindros horizontais.

Espaços Confinados

Um caso comum de convecção natural é o de duas paredes


verticais isotérmicas, conforme ilustrado ao lado, separadas
por uma distância δ. A figura seguinte mostra os perfis de T1 T2 L
velocidade e temperatura que podem ocorrer, de acordo com
MacGregor e Emery. Na figura, o número de Grashof é baseado
na distância δ entre as placas:
δ

(T1 − T2 )δ 3 T1 > T2
Grδ = gβ
ν2
Transferência de Calor e Massa 159

Os regimes de escoamento estão indicados no gráfico acima. As correntes de convecção


dimimuen com o número de Grashof e, para números de Grashof muito baixos, o calor é
transferido sobretudo por condução de calor. Outros regimes de convecção também
existem, dependendo do número de Grashof, como ilustrado. O número de Nusselt é

expresso em função da distância das placas, isto é: Nuδ = . Conforme indicado por
k
Kreith, algumas correlações empíricas podem ser empregadas:

Grδ - número de Grashof baseado na distância δ entre as placas.


Transferência de Calor e Massa 160

No caso de espaço confinado horizontal há duas situações a serem consideradas. Não


haverá convecção se a temperatura da placa superior for maior que a da placa inferior e
a transferência de calor se dará por condução. Já no caso recíproco, isto é, temperatura
da placa inferior maior que a da placa superior, haverá convecção. Para número de
Grashof baseado na distância δ entre as placas, Grδ, inferior a 1700 haverá a formação
de células hexagonais de convecção conhecidas como células de Bernard, como
ilustrado. O padrão das células é destruído pela turbulência para Grδ ∼ 50000.

Segundo Holman há uma certa discordância entre autores, mas a convecção em espaços
confinados podem ser expressas através de uma expressão geral do tipo:
m
hδ n L 
Nuδ = = C (Grδ Pr )  
k δ 
C, m e n são dadas na tabela a seguir. L é a dimensão característica da placa. Holman
adverte que deve-se usar essa expressão na ausência de uma expressão mais específica.
Transferência de Calor e Massa 161

CONVECÇÃO MISTA

Até o presente os casos de convecção natural e forçada foram tratados separadamente.


Claro que a natureza não está preocupada com nossas classificações. De forma que
existem determinadas situações em que os dois efeitos são significativos que é chamada
de convecção mista. Considera-se que a convecção mista ocorra quando GrL / Re 2L ≈ 1 .
As duas formas de convecção podem ser agrupadas em três categorias gerais: (a)
escoamento paralelo se dá quando os movimentos induzidos pelas duas formas de
convecção estão na mesma direção (exemplo de uma placa aquecida com movimento
forçado ascendente de ar); : (b) escoamento oposto se dá quando os movimentos
induzidos pelas duas formas de convecção estão em direções opostas (exemplo de uma
placa aquecida com movimento forçado descendente de ar); : (c) escoamento
transversal é exemplificado pelo movimento forçado cruzado sobre um cilindro
aquecido, por exemplo. É padrão considerar que o número de Nusselt misto seja
resultante da combinação dos números de Nusselt da convecção forçada, NuF, e natural,
NuN, segundo a seguinte expressão:

Nu n = Nu Fn ± Nu Nn

onde o expoente n é adotado como 3, embora 3,5 e 4 também sejam adotados para
escoamentos transversais sobre placas horizontais e cilindros (e esferas),
respectivamente. O sinal de (+) se aplica para escoamentos paralelos e transversais,
enquanto que o sinal de (-), para escoamentos opostos.
Transferência de Calor e Massa 162

Exemplo

Em um determinado experimento de laboratório, uma pequena esfera de cobre de 1 cm


de diâmetro é mantida aquecida atingindo uma temperatura de superfície constante de
TS = 69 oC e é circundada por água a T∞ = 25 oC. Determine o fluxo de calor total em
watts transferido da pequena esfera para a água sob duas situações:

(a) a água está em repouso;


(b) a água se movimenta com uma velocidade U∞ = 0,04 m/s;
(c) a partir de que velocidade da água a convecção natural poderia ser desprezada?

Obs.: para o item (b) considere a transferência de calor combinada de convecção natural (livre) e
forçada. Para isso, verifique se a condição em que os dois efeitos são significativos dado por GrD ≈ReD2 e
use a expressão Nu3 = NuF3 + NuN3, onde, NuN é o número de Nusselt calculado como se houvesse apenas
convecção natural e NuF se houvesse apenas convecção forçada. Todos os números de Nusselt são
baseados no diâmetro da esfera.

Solução
Ts + T∞ 69 + 25
(a) Propriedades da água a T f = = = 47 °C
2 2
β = 0,0004366 / K ν = 5,82 x 10 −7 m 2 / s k = 0,627 W / mK

c p = 4182 J / kg K Pr = 3,84 (> 0,7) α = 1,515 x 10 −7 m 2 / s

gβ (Ts − T∞ )D 3 9,81 ⋅ 0,0004366 ⋅ (69 − 25)0,013


Ra = = = 2,14 x106 < 1011
vα 5,82 x10 −7 ⋅ 1,51x10 −7

0,589 Ra1/ 4 0,589 ⋅ (2,14 x106 )1/ 4


Nu N = 2 + 4/9
=2+ 4/9
= 22
  0,469 9 /16    0,469  9 /16 
1 +    1 +   
  Pr     3,84  
k 0,627
hN = Nu N = 22 = 1379 W / m 2 K
D 0,01

πD 2 π ⋅ 0,012
As = = = 0,0000785 m 2
4 4
Transferência de Calor e Massa 163

qN = hN As (Ts − T∞ ) = 1379 ⋅ 0,0000785 ⋅ (69 − 25) = 4,76W

(b)
gβ (Ts − T∞ )D 3 9,81 ⋅ 0,0004366 ⋅ (69 − 25)0,013
GrD = = = 556398
v2 (5,82 x10 −7 ) 2

U ∞ D 0,04 ⋅ 0,01
Re D = = = 687
v 5,82 x10 −7

GrD 556398
= = 1,21 ≈ 1
Re 2D 687 2

µ = 557 x10 −6 kg / ms µ s = 400 x10 −6 kg / ms


0 , 25 0 , 25
µ 
(
Nu F = 2 + 0,4 Re + 0,06 Re 0, 5 2/3
) Pr 
0, 4
 ( )  557 
= 2 + 0,4 ⋅ 687 0,5 + 0,06 ⋅ 687 0,5 3,84 0, 4  
 µs
D D
  400 
Nu F = 30,28

3 3 3
Nu = Nu F + Nu N ⇒ Nu = 33,74

k 0,627
h = Nu = 33,74 = 2115W / m 2 K
D 0,01

q = hAs (Ts − T∞ ) = 2115 ⋅ 0,0000785 ⋅ (69 − 25) = 7,308W

(c)
GrD GrD
<< 1  = 0,001 (critério)
Re 2D Re 2D

U ∞1 D GrD
Re D = =
ν 0,001

ν GrD 5,82 x10 −7 556398


U ∞1 = = = 0,434 m / s (ou maior)
D 0,01 0,01 0,01
Transferência de Calor e Massa 164

AULA 21 – INTRODUÇÃO À RADIAÇÃO TÉRMICA


A radiação térmica é a terceira e última forma de transferência de calor existente. Das
três formas, é a mais interessante e intrigante, pois é por causa da radiação térmica que o
planeta Terra é aquecido pelo Sol e, como conseqüência, vida existe em nosso planeta.
Mais intrigante ainda, é que todos os corpos emitem radiação térmica, pois a ocorrência
da mesma depende tão somente da temperatura absoluta do corpo, mais precisamente de
sua temperatura absoluta elevada à quarta potência. Assim, tudo que está em volta de
nós nesse exato momento está emitindo radiação térmica. Finalmente, diferentemente
dos outros dois modos de transferência de calor, a radiação térmica não precisa de um
meio material para ocorrer. Assim, é como o calor chega do Sol ao planeta Terra
atravessando o vácuo.
Não se conhece completamente o mecanismo físico do transporte de energia pela
radiação térmica (e por radiação, de uma forma mais ampla). Em determinadas
experiências de laboratório, a energia radiante é considerada como transportada por
ondas eletromagnéticas e, em outros experimentos, como sendo transportada por fótons.
É a chamada dualidade onda-partícula. No entanto, sabe-se que ela viaja a velocidade
constante da luz independente do modelo físico considerado. A energia associada a cada
fóton é hν, onde h é a constante de Planck, que vale h = 6,625.10-34 Js. E a freqüência,
ν, está relacionado com o comprimento de onda, λ, por:
c = λ ν,
onde c é a velocidade da luz que vale c = 3×108 m/s. Uma unidade corrente do
o
comprimento de onda é o Angstron que vale 1 A = 10 −10 m . Um submúltiplo de λ é o
micrômetro, ou µm que vale 1 µm = 10-6 m.
Classificam-se os fenômenos de radiação pelo seu comprimento de onda (ou
freqüência). Claro que a radiação e seu comprimento de onda característico, ou
comprimentos de onda, dependem de como a radiação foi produzida. Como nos informa
Kreith, por exemplo, elétrons de alta freqüência quando bombardeiam uma superfície
metálica produzem raios X, enquanto que certos cristais podem ser excitados para
produzirem ondas de rádio em grandes comprimentos de onda. Entretanto, a radiação
térmica é aquela que é produzida por um corpo em virtude tão somente da sua
temperatura absoluta. O esquema a seguir ilustra os diversos tipos de radiação.
Transferência de Calor e Massa 165

(a) espectro de radiação eletromagnética e as diversas denominações de


acordo com sua faixa; (b) detalhe da radiação térmica na faixa de
comprimento de ondas mais relevante, com detalhe para a região visível.
(Kreith e Bohn, 2003).
Radiação gama – é uma forma de radiação de alta freqüência (baixos comprimentos
de onda) que é emitida por materiais radioativos e pelo Sol. Encontra aplicações na
medicina (tratamento de radioterapia) e na conservação de alimentos.

Raios X – sua origem se dá no movimento dos elétrons e seus arranjos eletrônicos.


Essa forma de radiação é empregada para obtenção de radiografia e análise de estrutura
cristalina dos materiais. Gases da alta atmosfera absorvem os raios produzidos pelo Sol.

Radiação ultravioleta – faixa de radiação compreendida entre 0,01 e 0,4 µm e que é


produzida pelas reações nucleares do sol. A camada de ozônio da atmosfera terrestre
absorve esse tipo de radiação nociva aos seres vivos (câncer de pele).

Radiação visível (luz): é a faixa da radiação que somos capazes de “enxergar” e está
compreendida entre os comprimentos de onda 0,4 e 0,70 µm.
Transferência de Calor e Massa 166

A luz “branca” do sol é a combinação de várias “cores” (ilustração do Wikipedia).


Radiação infravermelha - faixa de radiação compreendida entre 0,7 e 1000 µm.
Também pode ser chamada de radiação térmica. Entretanto, como será visto, a radiação
térmica é contínua para todos os comprimentos e de e não se situa em uma faixa
específica apenas.

Microondas – faixa de radiação de se estende para além dos 1000 µm.

Ondas de rádio – faixa de freqüência usada para radio e telecomunicações de


comprimento de onda superiores a 1 m.

Corpo Negro

Já foi informado que a radiação térmica é a radiação emitida por um corpo em virtude
tão somente da sua temperatura. A pergunta natural seguinte é: dois corpos à mesma
temperatura (digamos 300 K) emitem a mesma quantidade de radiação? A resposta é:
não! Então, a outra pergunta que deveria vir a seguir é: Existe, então, algum corpo que
naquela temperatura (suponhamos ainda os 300 K) emita a maior quantidade possível
de radiação térmica? A resposta é: sim! Esse corpo idealizado é chamado de corpo
negro. O adjetivo negro não tem nada a ver com a cor que percebemos do corpo (ou a
ausência de cor). O brilhante sol, por exemplo, é um corpo com características próximas
de um corpo negro. Assim, um corpo negro, ou irradiador ideal, é um corpo que emite e
também absorve, a uma dada temperatura, a máxima quantidade possível de radiação
térmica em qualquer comprimento de onda. Assim, o corpo negro se torna uma
idealização para efeito de cálculos, pois que, dada uma temperatura, sabe-se que ele vai
emitir (e também absorver) a maior quantidade de radiação térmica. De forma que os
corpos reais podem ser comparados com o corpo negro para saber o quanto eles emitem
(e absorvem) radiação térmica. Isso pelo fato de que é possível calcular a radiação
térmica emitida pelo corpo negro, como se verá a seguir.
É possível calcular o quanto um corpo negro emite de radiação térmica para uma dada
temperatura e comprimento de onda por unidade de área de superfície do corpo. Essa
quantidade é definida como poder emissivo espectral ou monocromático, Enλ, onde o
índice “n” se refere ao corpo negro e, “λ”, ao fato de ser espectral (para um comprimento
de onda do espectro). As unidades de Enλ são W/m2µm. Planck mostrou que o poder
emissivo espectral do corpo negro se distribui seguindo a seguinte expressão:
Transferência de Calor e Massa 167

C
E nλ = 1
C 2 / λT
,
λ (e
5
− 1)

onde: C1 = 3,7415×108 W(µm)4/m2 = 3,7415×10-16 W.m2


C2 = 1,4388×104 µm.K = 1,4388×10-2 m.K
A expressão da lei de Planck permite extrair algumas informações bastante relevantes
sobre a radiação térmica, destacando-se:
(1) – A radiação térmica de corpo negro (poder emissivo espectral, Enλ) é
contínua no comprimento de onda. Isto é, trata-se de uma grandeza que se
distribui desde λ = 0 até o maior comprimento de onda possível (∞);
(2) – A um dado comprimento de onda, λ, Enλ aumenta com a temperatura;
(3) – A região espectral na qual a radiação se concentra depende da
temperatura, sendo que comparativamente a radiação se concentra
em menores comprimentos de onda;
(4) – Uma fração significativa da radiação emitida pelo sol, do qual pode ser
aproximado por um corpo negro a 5800 K, se encontra na região visível
(0,35 a 0,75 µm).
As observações acima podem ser melhor compreendidas observando a expressão de
Planck no gráfico di-log a seguir que tem o poder emissivo espectral no eixo das
coordenadas e o comprimento de onda no eixo das abscissas. Os pontos de máximo
poder emissivo espectral estão unidos por uma linha pontilhada, chamada de lei de
deslocamento de Wien, dada por:

∂Enλ  ∂  C 
 =  5 C /1λT  =0⇒

∂λ T ∂λ  λ (e 2 − 1) 

λmaxT = 2,898×10 −3 m.K lei de deslocamento de Wien


poder emissivo espectral, Enλ W/m2µm
Transferência de Calor e Massa 168

Uma vez que se conhece a distribuição espectral da radiação de corpo negro (poder
emissivo espectral), é possível calcular o poder emissivo total de corpo negro, En, isto é,
a radiação térmica total emitida em todos os comprimentos de onda para uma dada
temperatura. Para isso, basta integrar o poder emissivo espectral. Assim:
∞ ∞
C
En = ∫ Enλ dλ = ∫ 1
C2 / λT
dλ ⇒
0 0 λ (e
5
− 1)
En = σT 4
Esta é a chamada lei de Stefan-Boltzmann da radiação e σ = 5,669×10-8 W/m2K4 é a
constante de Stefan-Boltzamann.
Supondo que o Sol seja um corpo negro a 5800 K, qual é o seu poder emissivo total? De
acordo com a lei de S-B, o seu poder emissivo é:
E sol = σ × 5800 4 = 5,669 × 10 −8 × 5800 4 = 6,4 ×10 7 W / m 2 = 64 MW / m 2 . Então, o Sol
lança no espaço a inimaginável quantia de 64 MW por metro quadrado da sua superfície!
Isto significa que em cerca de 15 m2 de superfície solar há uma emissão energética
equivalente a uma usina termelétrica de 1 GW. A pergunta seguinte é: quanto de
radiação térmica solar atinge o planeta Terra? Nesse caso, a emissão total do sol é
Qsol = Esol × Asol. Esta quantia é irradiada para todo o espaço e deverá atingir a superfície
que contém a órbita da Terra, Aterra. Nota: não se trata da área da superfície da Terra,
mas da superfície esférica (aproximada) que engloba a órbita do movimento da Terra.
Assim,
2
 R 
Qsol = const. = E sol × Asol qterra × Aterra ⇒ qterra = E sol ×  sol  , onde
 Rterra 
Rsol é o raio do sol (7×105 km); Rsol é o raio da esfera aproximada que contém a órbita
da Terra (150×106 km) e qterra é o fluxo de calor que chega por unidade de área na esfera
que contém a órbita da terra. Assim,
2 2
 R 
 = 64.000.000 × 
0,7 
qterra = E sol ×  sol  ≈ 1400 W / m .
2

 Rterra   150 
Então, chega-se cerca de 1400 W/m2 de fluxo de calor solar irradiante na região do
espaço onde se encontra a Terra. Claro que a parte que chega na superfície da Terra é
menor que essa quantia, pois depende da latitude da região e da época do ano, além
desse valor também ser atenuado devido às absorções de radiação da atmosfera.
A fração de radiação térmica emitida por um corpo negro no intervalo de comprimento
de onda [0-λ1], isto é,F[0-λ1], vale
λ
c
E0−λ1,n ∫ λ (e
5
1
C2 / λ T
− 1)
d (λ )
F[0−λ1 ] = = 0
En σ ⋅T 4
Transferência de Calor e Massa 169

Os valores de F[0-λ1], são mostrados na tabela seguinte. Se for preciso calcular a fração
de radiação emitida no intervalo λ1 - λ2, ou seja, dentro de uma janela espectral, então:
-
F[λ1-λ2] = F[0-λ2] - F[0-λ1]

µK ×10 3.
Transferência de Calor e Massa 170

Exemplo:

A radiação solar tem aproximadamente a mesma distribuição espectral que um corpo


negro irradiante ideal a uma temperatura de 5800 K. Determine a quantidade de
radiação solar que está na região visível (use 0,4 a 0,7 µm)
Usando a tabela acima, vem
0 ≤ λ ≤ 0,4 → λ1T = 0,4 × 5800 = 2320 ⇒ F[ 0−0, 4] = 0,1245
0 ≤ λ ≤ 0,7 → λ2T = 0,7 × 5800 = 4060 ⇒ F[ 0−0, 7 ] = 0,4919

A fração de radiação no faixa visível é F[0,4-0,7] = 0,4919 – 0,1245 = 0,3674

En = 0,3674×64,16×10-6 = 23,57×106 W/m2

36,74 % da radiação térmica solar é emitida na faixa do visível!

Outro exemplo (extraído de Kreith e Bohn, 2003):

Vidro de sílica transmite 92% da radiação solar incidente na faixa de comprimentos de


onda compreendida entre 0,35 e 2,7 µm (portanto, engloba todo o espectro visível) e é
opaco para comprimentos de onda fora dessa faixa. Calcule a porcentagem de radiação
solar que o vidro vai transmitir.

Pra a faixa de comprimentos de onda indicada, tem-se


(tabela )
0 ≤ λ ≤ 0,35 → λ1T = 0,35 × 5800 = 2320 µmK ⇒ F[ 0−0,35] = 0,067
(tabela )
0 ≤ λ ≤ 2,70 → λ2T = 2,7 × 5800 = 15660 µmK ⇒ F[ 0−2, 7 ] = 0,97

Assim, F[0,35-2,7] = 0,97 – 0,067 = 0,903. Isto significa que 90,3% da radiação solar
incidente atinge o vidro e 0,903×0,92=0,83, ou 83% dessa radiação incidente será
transmitida pelo vidro.
Transferência de Calor e Massa 171

AULA 22 – PROPRIEDADES DA RADIAÇÃO TÉRMICA


Propriedades da Radiação
Quando energia radiante incide a superfície de um material, parte da radiação térmica
vai ser refletida, parte absorvida e parte será transmitida, conforme diagrama ilustrativo
abaixo.

Sendo,
ρ – refletividade ou fração de energia radiante que é refletida da superfície;
α – absortividade ou fração de energia radiante que é absorvida pela superfície;
τ – transmissividade ou fração de energia radiante que é transmitida através da superfície;
De forma que: ρ+α+τ =1
Essas propriedades também podem ser espectrais, ou seja:
α λ + ρλ + τ λ = 1
Ex: na aula passada

Muitos corpos sólidos não transmitem radiação térmica, ou seja τ = 0. Para estes casos
de corpos opacos à radiação térmica, tem-se:
ρ+α =1
A radiação térmica emitida por uma superfície varia em função da natureza da
superfície e da direção. Entretanto, é uma boa hipótese assumir que a radiação térmica é
difusa, ou seja, a emissão da radiação se dá uniformemente em todas as direções.
Transferência de Calor e Massa 172

Irradiação
A taxa de radiação que atinge uma dada superfície, G. Ela pode ser monocromática Gλ,
ou total, G. De forma que:

G = ∫ Gλ dλ
0

Lei de Kirchoff – Relação entre Emissividade e Absortividade


Considere um grande recipiente isotérmico com temperatura superficial Tsup, que se
comporta como uma cavidade negra com poder emissivo En (que é funçã o da
temperatura Tsup). Agora, coloca-se um corpo no seu interior que está em equilíbrio
térmico com a cavidade. Esse corpo recebe uma irradiação G = En

No equilíbrio, tem-se que a radiação térmica total emitida pelo corpo, isto é, o produto
do seu poder emissivo total pela sua área, EA, deve ser igual à irradiação, G, absorvida
pelo corpo, isto é:
EA = αGA
ou
EA = αEnA
Agora dividindo uma expressão pela outra, obtém-se:
E/En = α
O que significa dizer que a relação entre o poder emissivo do corpo, E, e o poder de um
corpo negro idêntico, En, é igual à absortividade do corpo, α. Mas, por outro lado esta é
a própria definição da emissividade do corpo, ε:
ε = E/En
então α=ε
A igualdade acima é a chamada lei de Kirchoff.
As emissividades e absortividades são propriedades medidas dos materiais. Na
realidade, a emissividade de um corpo varia com a temperatura e o comprimento de
onda. Pode-se definir a emissividade monocromática como sendo a razão entre os
poderes emissivos monocromáticos do corpo e do corpo negro, à mesma temperatura.
ελ = Eλ/Enλ
De forma que pode-se definir a emissividade total, da seguinte forma:
∞ ∞

E ∫ ε λ .E λ dλ ∫ ε λ .E λ dλ
n n

ε= = 0

= 0

En σT 4
∫ Enλ dλ
0
Transferência de Calor e Massa 173

A emissividade é uma propriedade do material e do seu acabamento superficial, além da


temperatura. Como exemplo, veja a emissividade do alumínio. A emissividade de
superfícies de alumínio altamente polido varia de 0,04 a 300K a 0,06 a 600K. No
entanto, é mais sentida a variação da emissividade para o caso do acabamento
superficial. A título de exemplo, a 300K, a emissividade vale 0,03 para alumínio
altamente polido, vale 0,05 para folhas brilhantes e 0,84 para superfície anodizada.
Dados mais completos de emissividade encontram-se na seção de apêndices do livro-
texto. Na figura seguinte mostra-se a variação da emissividade em função da
temperatura.

Corpo Cinzento
Um corpo cuja emissividade e absortividade da sua superfície são independentes do
comprimento de onda e direção é chamado de corpo cinzento. Na prática, os corpos
reais são aproximados por corpos cinzentos. Exceto em caso de estudos mais
detalhados. De forma que, para o corpo cinzento, é válida a seguinte relação:
ε = ελ = constante e α = αλ = constante
O gráfico abaixo ilustra os poderes emissivos de três corpos. Lembrando que a
emissividade é a razão entre o poder emissivo do corpo e a do corpo negro à mesma
temperatura, pode ver que o corpo real tem um espectro de emissividade
monocromática que depende de vários fatores como natureza da superfície, incluindo o
material e acabamento e tem um padrão geral como ilustrado (em azul). O corpo negro é
aquele que possui emissividade unitária (total e monocromática) e seu poder emissivo
espectral segue a lei de Stefan�Joltzmann. O corpo cinzento nada mais que é o corpo
que possui emissividade constante para todos os comprimentos de onda (ilustrado em
vermelho), sendo menor que a unidade.
Transferência de Calor e Massa 174

λ ( µm)
Mostra-se na figura seguinte a variação da absortância ou emissividade monocromática,
com o comprimento de onda para isolantes elétricos. A emissividade espectral pode ser
medida em laboratório.

Radiosidade – Quantidade de radiação que deixa um corpo

radiosidades
G
G
EεE
b
n
refletida

G G

A radiosidade consiste nas parcelas de reflexão da radiação ρG e da radiação própria


emitida εEn. Trata-se, portanto, do fluxo total de radiação que deixa a superfície de um
corpo, ou seja:
J = ε E n + ρG [W/m2]
Transferência de Calor e Massa 175

Exemplo 1
Uma rodovia asfaltada recebe 600 W/m2 de irradiação solar num certo dia de verão. A
temperatura efetiva do céu vale 270 K. Uma brisa leve do ar a 30ºC passa pela rodovia
com um coeficiente de transferência de calor h = 5 W/m2 ºC. Assuma que nenhum calor
seja transmitido para o solo. A absortividade do asfalto para a radiação solar vale 0,93,
enquanto que a emissividade média da superfície asfáltica vale 0,13. Determine a
temperatura de equilíbrio do asfalto.

Solução

q "conv εEn

q "solo
1º Lei:
taxa de energia = taxa de energia
que entra no V.C. que deixa o V.C

Gsol + Gceú = ρ sol Gsol + ρ céu Gcéu + q&"conv +q&"solo +ε a En

(1− ρ sol )Gsol + (1− ρ ceú )Gceú = q&"conv +q&"solo + ε a En


1424 3 1424 3 {
α sol α ceú nulo

α sol Gsol + α ceúσTcéu


4
− h(Ta − T∞ ) − ε aσTa4 = 0

0,93 × 600 + 0,13 × 5,67 × 10 −8 × 270 4 − 5(Ta − 303,15) − 0,13 × 5,67 × 10 −8 × Ta4 = 0
após solução dessa equação polinomial do quarto grau, obtém-se a temperatura do
asfalto igual a 389 K ou 115,8 oC.

Troca de Calor por Radiação Térmica entre duas Superfícies Paralelas Infinitas
T1 T2

J1 J2

Fluxo líquido de calor trocado entre as duas superfícies:


J1 − J 2
Q1− 2 = J 1 A1 − J 2 A2 = já que A1 = A2 = A
1/ A
Transferência de Calor e Massa 176

No caso de superfícies negras, tem-se que: ε1 = ε2 = 1 e α1 = α2 = 1 (corpo negro),


já que τ1 = ρ1 = 0. De forma que
Q1− 2
= σ (T14 − T24 )
A
Se o corpo for cinzento e opaco, G sendo a irradiação, pode-se obter a radiosidade J da
superfície de acordo com:
J = εEn + ρG = εEn + (1-ε)G
onde foi usado o fato de que ρ = 1-ε = 1- α
J − εE n
De forma que isolando a irradiação, a mesma pode ser escrita como G =
1− ε
Olhando somente para uma superfície, pode-se estabelecer que a taxa líquida de calor
transferido da superfície é dada pela diferença entre a radiosidade, J e a irradiação, G da
mesma, isto é:
  J − εEn  εA En − J
Q = A( J − G ) = A J −   = ( En − J ) = (a)
  1 − ε  1 − ε (1 − ε ) / εA
Mas, a taxa de calor cedida por uma superfície deve ser igual à recebida pela outra que,
no caso de placas paralelas e infinitas, é:
En1 − J 1 En2 − J 2
Q= =− (b)
(1 − ε 1 ) / ε 1 A (1 − ε 2 ) / ε 2 A
As equações (a) e (b) apresentam duas incógnitas, quais sejam J1 e J2, uma vez que as
temperaturas das superfícies e, portanto, seus poderes emissivos de corpo negro,
juntamente com as emissividades e área são dados conhecidos. As duas radiosidades
podem ser obtidas por meio das soluções simultâneas destas equações. Entretanto, antes
de prosseguir nessa linha, note a analogia elétrica:

1 − ε1 1 1 − ε2
ε1 A A ε2 A

De forma que o fluxo de calor total, Q, que “circula” pelo circuito é dado por:

Q=
En1 − En 2
=
σ T14 − T24 ( )
1 − ε 1 1 1 − ε 2 R1 + R1− 2 + R2
+ +
ε1 A A ε 2 A
Onde existem “resistências” entre os potenciais J e En. Têm-se as resistências
“superficiais”, ou seja, aquelas que contêm apenas propriedades das superfícies
(emissividade e área) que, no exemplo, são R1 e R2, dadas por:
1 − ε1 1− ε 2 1− εi
R1 = e R1 = ou de forma geral Ri =
ε1 A ε2A ε i Ai
Transferência de Calor e Massa 177

Note que essas resistências superficiais são localizadas entre o poder emissivo de corpo
negro, En, e a radiosidade da superfície de interesse, J. A outra resistência é a
resistência “espacial” que indica a posição relativa das superfícies. Mais será dito sobre
essa resistência quando for incluído o conceito de fator de forma a frente. Para esse
caso, trata-se apenas do inverso da área das superfícies. (Nota: claro que a área infinita é
só uma aproximação, caso contrário não há sentido.)

1
R1− 2 =
A
Exemplo 2
Determine as radiosidades e o fluxo de calor trocado entre duas superfícies cinzentas e
opacas mantidas a 400 K e 300 K, respectivamente. As emissividades valem 0,5 e há
vácuo entre elas.

Solução

1 − ε1 0,5
AR1 = = =1
ε1 0,5

AR2 = 1
1 1 1 3
RT = + + =
A A A A
En1 − En 2 σ (T14 − T24 )
1 Q2 = =
RT 3/ A

Q2 5,67 ⋅ 10−8 (4004 − 3004 )


1
=
A 3
Q2
1 2 q = 1
= 330,75 W / m 2
A
En1 − J1
1 q2 = ⇒ J 1 = En1 − A ⋅ R1 ⋅1 q2 = σ 400 2 − 330,75 ⇒ J 1 = 1120,77 W / m 2
AR1
J 2 = En 2 − A ⋅ R2 ⋅1 q2 = σ 300 2 + 330,75 ⇒ J 2 = 790,62 W / m 2
Transferência de Calor e Massa 178

AULA 23 – FATORES DE FORMA DE RADIAÇÃO TÉRMICA


Considere o caso de duas superfícies negras quaisquer que trocam calor por radiação térmica
entre si. Suponha que as mesmas possuam orientação espacial qualquer como indicado na
figura abaixo

F1,2 J1 A1

φ2

φ1

dA1 cos φ1

Primeiramente considere a troca térmica de calor por radiação entre os dois elementos
de área indicados, dA1 e dA2. Os elementos são unidos por um raio vetor r que formam
ângulos φ1 e φ2 com as respectivas normais.
Define-se a Intensidade de radiação do corpo negro, In, como sendo a energia de
radiação térmica emitida por unidade de área, na unidade de tempo, para um ângulo
sólido unitário numa dada direção especificada, como indicado na figura abaixo.

normal

dAn
φ1 Direção da intensidade
de radiação
dAn
dw =
r2 Energia que deixa dA1
na direção do ângulo
=IbdA1cos
1 1
projecção
dA1

Assim, a energia que deixa dA1 na direção φ1, é En dA1 = I n ⋅ dA1 ⋅ cos φ1 ⋅ dw que

representa a radiação térmica que chega em algum elemento de área dAn a uma distancia
dAn
r de A1. Mas, dw = , onde, dAn é o elemento de área projetada sobre o raio vetor.
r2
dAn
Então: E n dA1 = I n ⋅ dA1 ⋅ cos φ1 ⋅ dw = I n ⋅ dA1 ⋅ cosφ1 ⋅
r2
Transferência de Calor e Massa 179

rdφ
ψ dAn
rsenφ

φ1

dA1
Por outro lado, tendo a figura acima em mente pode se escrever a seguinte relação
trigonométrica: dAn = r ⋅ senφ ⋅dψ ⋅ rdφ . De forma que, substituindo-a na expressão
anterior, vem:
r 2 senφ
En dA1 = I n ⋅ dA1 ⋅ cos φ ⋅ dφdψ
r2
Integrando em todas as direções, vem
2π π / 2
En dA1 = I n ⋅ dA1 ⋅ ∫ ∫ cosφ ⋅ senφ dφdψ , ou E n = πI n
0 0

Voltando ao problema, projetando dA2 na direção radial, vem:


dAn = dA2 ⋅ cos φ2
Assim o fluxo de energia radiante que deixa A1, atinge A2 é dado por:
E n1 cos φ 2
∫ dQ 1− 2 =∫
A1 A 2
∫ π
cos φ1 ⋅
r2
dA2 ⋅ dA1

E o fluxo de energia radiante que deixa A2 e atinge A1, é:


En2 cos φ1
∫ dQ 2 −1 =∫ ∫
A 2 A1
π
⋅ cos φ 2 ⋅
r2
dA1 ⋅ dA2

e o fluxo liquido de energia radiante trocado entre as duas superfícies é:


cos φ1 ⋅ cos φ 2
Q1−2 (liq) = ( E n1 − E n 2 ) ∫ ∫ dA1 ⋅dA2
A 2 A1 π r 2
1 4444244443
A1 F12 = A2 F21

Note que a integral dupla se refere à tão somente um problema trigonométrico que
considera a posição relativa entre as duas superfícies, bem como as suas dimensões.
Trata-se, portanto, de um problema de “forma geométrica”. O cálculo dessas integrais
foi realizado para uma série de condições e são os chamados “fatores de forma de
radiação”. Os fatores de forma estão tabelados ou dispostos em forma gráfica para
diversas situações. O fator de forma Fij deve ser entendido como a fração de energia
radiante que deixa a superfície i e atinge a superfície j. Claro que o fator de forma é
sempre menor ou igual à unidade.
Também como a ordem de integração não importa, pode-se estabelecer a chamada “lei
da reciprocidade” entre os fatores de forma, ou seja:
A1 F12 = A2 F21
Transferência de Calor e Massa 180

A transferência liquida de calor por radiação entre as duas superfícies é

Q1−2 (liq) = A1 F12 (E n1 − E n2 ) = A2 F21 (E n1 − E n 2 )

A lei da reciprocidade, portanto, pode ser escrita para duas superfícies m e n quaisquer
como
Am Fmn = An Fnm

Fatores de Forma para alguma situações (outras situações – ver livro-texto)

Quando as superfícies formam um invólucro fechado, então:


N
Fi−i ≠ 0 ∑F
j =1
i− j =1

F1,1 + F1, 2 + F1,3 + ... + F1,n = 1

Essa é a chamada “Lei de Fechamento”. Se a superfície de interesse i for plana ou


convexa, então Fii =0.
Transferência de Calor e Massa 181
Transferência de Calor e Massa 182
Transferência de Calor e Massa 183
Transferência de Calor e Massa 184

EXEMPLO: Determine o Fator de forma F1,2 e F2,2 para a configuração mostrada na


figura abaixo de dois tubos concentricos.

Em particular, como toda radiação que deixa a superfície interna 1 atinge


necessariamente a superfície externa 2, temos que F1,2 =1. O mesmo não pode ser dito a
respeito da radiação que deixa a superfície 2. A partir da lei de fechamento temos:
F21 + F22 = 1 então:
F2, 2 = 1 − F21

Mas, pela lei da reciprocidade


A1 πD1 L D
A1 F1−2 = A2 F2−1 ⇒ F2−1 = F1− 2 = ∝1= 1
A2 πD2 L D2

D1
Assim, F2, 2 = 1 −
D2
Transferência de Calor e Massa 185

EXEMPLO: Determine o fator de forma F1,2 para a configuração mostrada na figura


abaixo.

Solução:
F1−2,3 = F1−2 + F1−3  F1−2 = F1−2,3 − F1−3
14243
gráfico

Z 1 Y 1
F1−2,3 : = =2 ; = =2 ⇒ F1−2,3 = 0,15
X 0,5 X 0,5

Z 0,5 Y 1
F1−2 : = =1 ; = =2 ⇒ F1−2 = 0,12
X 0,5 X 0,5

F1−3 = 0,15 − 0,12 = 0,03 (ou 3 %)

Isto significa que apenas 3% da radiação que deixa a superfície 1 atinge a


superfície 3.

Taxa liquida de calor trocada entre duas superfícies negras:

Q1−2 (liq ) = F1,2 E n1 A1 − F2,1 En 2 A2

Estudar exercícios 9.6 e 9.7

Troca de Calor Entre duas Superfícies Cinzentas

F1,2 J1 A1
J1 A1

J 2 A2
F2,1 J 2 A2

Q1−2 (liq ) = F1,2 A1 J 1 − F2,1 A2 J 2


Transferência de Calor e Massa 186

Pela lei de reciprocidade A1 F1, 2 = A2 F2,1

J1 − J 2 J − J2
Q1− 2 (liq ) = = 1
1 / A1 F1−2 1 / A2 F2−1

O termo 1 / Ai Fi , j forma uma resistência espacial entre as superfícies. Mas, tem-se

também que

E n1 − J 1
Q1 = é a taxa líquida de transferência de calor que deixa a sup. 1.
1 − ε1
ε 1 A1
1 − ε1
R1 = é a resistência da superfície 1.
ε 1 A1

En2 − J 2
Q2 = é a taxa líquida de transferência de calor que deixa a sup. 2.
1− ε 2
ε 2 A2
1− ε 2
R2 = é a resistência da superfície 2.
ε 2 A2
De forma que:

En1 − E n 2 σ (T14 − T24 )


Q1− 2 (liq) = =
∑ R 1 − ε1 + 1 + 1 − ε 2
ε 1 A1 A1 F1−2 ε 2 A2

σ T14 σ T24
1 − ε1 11 1− ε
ε1 A A1 F
A12 ε2 A

EXEMPLO
Uma pequena lata é formada por dois discos paralelos que são conectados por uma
superfície cilíndrica como mostra na figura abaixo. Determine a fração de energia
radiante que deixa a superfície cilíndrica e atinge a sua própria.
Transferência de Calor e Massa 187

Solução:
Áreas
D2 0,12
A1 = A2 = π =π = 7.854 ⋅10 −3 m 2
4 4

A3 = πDL = π ⋅ 0,1 ⋅ 0,05 = 15,71 ⋅10 −3 m 2

F3,1 + F3, 2 + F3,3 = 1 ⇒ F3,3 = 1 − F3,1 − F3, 2

Vamos avaliar F3,1 e F3, 2

F3,1:
A3 F3,1 = A1 F1,3 , também F1,3 + F1, 2 = 1
L 5 r2
mas da figura = =1 e =1  F1, 2 ≅ 0,38
r1 5 L

A1 7,85 ⋅10 −3
logo F1,3 = 1 − 0,38 = 0,62  F3,1 = F1,3 = 0,62 = 0,31
A3 15,71 ⋅10 −3
F3,2:

F2,3 + F2,1 = 1 e F1, 2 = F2,1

logo F2,3 = 1 − F2,1 = 1 − F1, 2 = 1 − 0,38 = 0,62

A2 7,85 ⋅10 −3
F3, 2 = F2,3 = 0,62 = 0,31
A 15,71 ⋅10 −3

F3,3 = 1 − 0,31 − 0,31 ⇒ F3,3 = 0,38

Transferência de calor por radiação térmica entre três superfícies que formam um
involucro fechado
Transferência de Calor e Massa 188

Analise elétrica:

1 − ε1 1− ε 2 1− ε3
R1 = ; R2 = ; R3 =
ε 1 A1 ε 2 A2 ε 3 A3
1 1 1
R1− 2 = ; R2−3 = ; R1−3 =
A1 F1− 2 A2 F2−3 A1 F1−3

Nó 1: Q1−2 = Q1 + Q1−3
Nó 2: Q2 + Q1− 2 + Q2−3 = 0

Nó 3: Q3 = Q1−3 + Q2−3

mas,
J 1 − En1 J 2 − En2 J 3 − En3
Q1 = , Q2 = , Q3 =
R1 R2 R3
e
J1 − J 3 J2 − J3 J 2 − J1
Q1−3 = , Q2−3 = , Q1− 2 =
R1−3 R2 −3 R1−2

O sistema acima tem 9 equações e 9 incógnitas.

Comentário:

Define-se uma superfície não-condutora reirradiante como uma superfície adiabática, ou


seja, não transporta calor com o meio. Por exemplo no esquema anterior se a superfície
2 é não condutora reirradiante, então Q2 = 0  J2 = En2.
Transferência de Calor e Massa 189

EXEMPLO
A tampa do invólucro descrito no exemplo anterior é mantida a uma temperatura
uniforme de 250°C (523,2 K), enquanto que a superfície inferior é mantida a uma
temperatura de 60°C (332,2 K). A superfície que junta os dois discos é não condutora –
reirradiante. A emissividade das três superfícies vale 0,6. Determine a taxa de calor
transferido por radiação entre a tampa e o fundo e estime a temperatura da superfície
não condutora – reirradiante.

Solução.
O circuito de radiação para a determinação do calor transferido por radiação entre as
superfícies do invólucro esta mostrado na Fig. E9-9a. Os valores dos fatores de forma
podem ser obtidos do cálculo já realizado acima. Os valores da resistência para o
circuito são

1 − ε1 1 − 0,6
= −3
= 84,88 1 / m 2
ε 1 A1 0,6(7,854 ⋅10 )

1− ε 2 1 − 0,6
= −3
= 84,88 1 / m 2
ε 2 A2 0,6(7,854 ⋅10 )
1 1 1
= = −3
= 205,4 1/ m 2
A1 F1,3 A2 F2,3 (7,854 ⋅10 )(0,62)

En 2 = σT24
σ (333,2)4 σ (333,2)4

1− ε2 84 ,88 84 ,88
ε 2 A2
1
J2 J2 J2
A2 ⋅ F2−3 205,4
1
A1 ⋅ F1−2
335,1 184 ,6
1 205,4
J1 A1 ⋅ F1−3 J1 J1

1− ε1
ε1 A1 84,88 84,88

En1 = σT14 σ (523,2) 4 σ (523,2) 4

Os valores das resistências estão mostrados na figura E9-9b. o circuito obtido usando
uma resistência equivalente para as resistências conectadas em paralelo esta mostrado
na Fig. E9-9c. A resistência equivalente é
410,8(335,1)
Re = = 184,6 1/ m 2
410,8 + 335,1
Transferência de Calor e Massa 190

A taxa de calor transferido entre as superfícies da tampa e o fundo é determinado


usando
E n1 − E n 2
Q1− 2 (liq ) =
∑R
A soma das resistências entre as duas superfícies é

∑ R = 84,88 + 184,6 + 84,88 = 354,4 1/ m 2

A taxa de calor transferido é

Q1− 2 (liq ) =
[
5,67 ⋅10 −8 523,2 4 − 333,2 4 ]
= 10,02W
354,4
As radiosidades, J1 e J2, podem ser determinadas por

E n1 − J 1
Q1− 2 (liq ) =
[(1 − ε 1 ) / ε 1 A1 ]
ou
5,67 ⋅10 −8 (523,2) 4 − J 1
10,2 =
84,88
J 1 = 3.398W / m 2 K 4
e
J 2 − En2
Q1− 2 (liq ) =
[(1 − ε 2 ) / ε 2 A2 ]
O que dá J2 = 1.549 W/m2K4. O valor de J3, que é igual a σT34 , é obtido usando

J 3 − J 2 J1 − J 3 J 1 R2−3 + J 2 R1−3
= ⇒ J3 = = 2473,5 W / m 2 K 4
R2 −3 R1−3 R2−3 + R1−3

J 3 = σT34  T3 = 457,0 K (183,8°C)

Comentário
Uma parte da taxa total de calor transferido entre a tampa e o fundo acontece
diretamente entre as duas superfícies, enquanto que o restante do calor é trocado com a
superfície não condutora – reirradiante antes de alcançar a tampa ou o fundo.
A taxa de transferência direta é
J1 − J 2 3398 − 1459
QD = = = 5,5 W
(1/ A1 F1,2 ) 335,1
E a indireta é

J1 − J 2 3398 − 1549
QID = = = 4,5 W
(1/ A1 F1,3 ) + (1/ A2 F2,3 ) 205,4 + 205,4
Transferência de Calor e Massa 191

EXEMPLO
Determine a taxa de transferência de calor de uma esfera pequena aquecida instalada em
um cilindro fechado em vácuo, como indicado na figura abaixo. A esfera tem 10cm de
diâmetro com uma emissividade de 0,8 e é mantida a uma temperatura uniforme de
300°C (572,2 K). A superfície interna do cilindro, cuja área é de 0,5m2, tem uma
emissividade de 0,2 e é mantida a uma temperatura uniforme de 20°C (293,2 K).

A1 = 0,031 m 2 ε 1 = 0,8
A2 = 0,5 m 2 ε 2 = 0,2
2
1
E n1 J1 J2
E n2

1− ε1 1 1− ε2
ε1 A1 A1 ⋅ F1−2 ε 2 A2

Esfera inserida em uma cavidade cilíndrica fechada.


Solução
O circuito de radiação equivalente está mostrada na figura anterior. A área da esfera
pode ser rapidamente calculada e vale 0,031m2. O fator de forma de radiação é F1,2 = 1,
já que toda a radiação emitida pela esfera vai atingir a superfície interna do cilindro.
A taxa de transferência de calor é obtida através de
En1 − E n 2 σ (T14 − T24 )
Q1−2 (liq ) = =
∑ R (1 − ε 1 ) / ε 1 A1 + 1/ A1 F12 + (1 − ε 2 ) / ε 2 A2

=
[
5,67 ⋅10 −8 573,2 4 − 293,2 4 ]
(1 − 0,8) / 0,8(0,031) + 1 / 0,031(1) + (1 − 0,2) / 0,2(0,5)

=
[
5,67 ⋅ 10 −8 573,2 4 − 293,2 4 ]
= 118,0W
48,32

COEFICIENTE COMBINADO DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR


Na maioria dos problemas de engenharia e da natureza, os fenômenos de transferência
de calor por radiação e convecção ocorrem simultaneamente, razão pela qual torna-se
interessante determinar um coeficiente de transferência de calor por radiação baseado na
condutância térmica, ou seja no coeficiente global de transferência de calor por radiação
ζ. Assim definindo-se uma equação equivalente à transferência de calor por convecção,
tem-se:
qr = hr ⋅ A ⋅ ∆T
onde
ζ ( En1 − En 2 ) ζσ (T14 − T24 )
hr = = (25)
∆T ∆T
Transferência de Calor e Massa 192

qr = hr ⋅ A ⋅ ∆T
En1 − En 2 σ (T14 − T24 )
qr = = = hr ⋅ A ⋅ ∆T
Rtotal Rtotal
σ (T14 − T24 )
hr =
A ⋅ Rtotal
fluxos de calor total q combinado que radiação qr e convecção qc
q = qr + qc = (hr + hc ) A ⋅ ∆T
ou
q = h ⋅ A⋅ ∆T
onde h = hr + hc é o coeficiente combinado de transferência de calor.

Blindagem de radiação
Uma maneira de reduzir a transferência de calor por radiação entre duas superfícies é
meio do emprego de materiais altamente refletivos, isto é de baixa emissividade ε. Um
método alternativo é a utilização de blindagens de radiação entre as superfícies de
transferência de calor. Estas blindagens não fornecem ou removem calor do sistema,
mas apenas introduzem uma resistência no circuito térmico.
Considere dois planos paralelos e infinitos para ε1= ε2= ε, temos:
q σ (T14 − T24 ) Plano de
=
A (1 − ε ) blindagem
2 +1
ε

q/ A q/ A

Radiação entre planos paralelos infinitos com e sem blindagem de radiação


Agora, considere a introdução de um terceiro plano 3entre os planos originais. Assim o
calor transferido neste caso será calculado a considerando a entrada dessas
nova resistências.
E n1 J1 J3 En3 J3' En2
J 2

1 − ε1 1 1− ε3 1− ε3 1 1− ε2
ε1 F1− 3 ε3 ε3 F2 − 3 ε2

Circuito elétrico analógico da radiação para dois planos paralelos separados por
uma blindagem de radiação formada por um terceiro plano 3
Como a blindagem não fornece ou retira calor do sistema. O calor transferido entre
a placa 1, a blindagem e a placa 2 será:
Transferência de Calor e Massa 193

q q q
= =
A 1−3 A 3−2 A

q σ (T14 − T34 ) σ (T34 − T24 )


= =
A (1 − ε ) (1 − ε )
2 +1 2 +1
ε ε
Obtendo-se

T34 = (T14 + T24 ) / 2

(
q 1 / 2 σ (T14 − T34 )
=
)
A (1 − ε )
2 +1
ε
Portanto, tem-se que a blindagem reduz à metade o fluxo de calor inicial (desde que
todas as superfícies tenham a mesma emissividade ε).

q 1q
=
A c / blindagem 2 A s / blindagem

No caso da introdução do n planos de blindagem entre as duas superfícies ou sinais 1 e


2, tem-se que a redução do fluxo de calor será:

q 1 q
=
A c / blindaen "n" 1 + n A s / blindagn"n"

Efeito da radiação na medida da temperatura

Quando um termômetro é colocado em uma corrente do gás para medir a


temperatura do escoamento, a temperatura indicada pelo sensor é determinada pelo
balanço global de energia neste elemento.
Considere o sensor mostrado na figura abaixo. A temperatura do gás é T∞, a temperatura
de radiação da superfície envolvente é Ts e a temperatura indicada pelo termômetro é Tt.

Ts
h,T∞ TATt

Elemento sensor da temperatura de um escoamento

Admitindo que Tt seja maior que Ts, então a energia será transferida por convecção para
o termômetro e então dissipada por radiação para a superfície envolvente. Portanto, o
balanço de energia pode ser escrito como:

hA(T∞ − Tt ) = εAσ (Tt 4 − Ts4 )


Transferência de Calor e Massa 194

onde A é a área superficial do sensor e ε a sua emissividade. A equação anterior foi


obtida considerando-se que a superfície envolvente seja muito grande.
Supondo que a parede esteja a 200 °C e a temperatura indicada pelo elemento sensor
é de 450 °C. sendo o coeficiente de transmissão de calor por convecção entre o gás e
o termopar igual a 150 W/m2 °C, calcular a temperatura real do gás.

q = hc ⋅ AT ⋅ (T∞ − TT ) = AT ⋅ ε ⋅ σ (TT4 − T par


4
)

ε ⋅σ
T∞ = TT + (TT4 − T par
4
)
hc

0,8 ⋅ 5,67 ⋅ 10 −8
T∞ = 723 + (7234 − 4734 )
150

T∞ = 790,5 K ou 517,3 °C

EXEMPLO

Um tubo de diâmetro D1 = 20 cm transporta um líquido criogênico que está a 77 K. Para


evitar perdas de calor, este tubo está inserido dentro de um tubo maior com D2 = 50 cm e
T2 = 300 K, o espaço entre eles está evacuado. Pede-se o ganho de calor pelo tubo
criogênico. Dados ε1 = 0,02 e ε2 = 0,02.
Após a aula de transf. de calor, um aluno sugeriu inserir um terceiro tubo com D3 = 35
cm entre os dois anteriores afirmando que haveria uma diminuição do ganho de calor.
Sendo ε3 = 0,03. Verifique se isto é verdade e, em caso positivo, qual seria a diminuição.

Solução:
a) circuito analógico com os dois tubos ou alguns.

E n1 J1 J2
En2

1− ε1 1 1− ε2
ε1 A1 A1 ⋅ F1−2 ε 2 A2
F1−2 = 1

En1 − En 2
q=
Req
Transferência de Calor e Massa 195

1 − ε1 1 1− ε2
Req = + +
ε1 A1 A1F1−2 ε 2 A2
1 1 − ε 1 1 1 − ε 2 D1 
= + +
A1  ε 1 1 ε 2 D2 

1 1 − ε 1 1 − ε 2 D1 
=  +1+
π ⋅ D1 ⋅ L  ε1 ε 2 D2 

1 1 − 0,02 1 − 0,04 20 
=  +1+
π ⋅ 0,02 ⋅ L  0,02 0,04 50 

948,6
=
L

[
q 5,67 ⋅10 −8 300 4 − 77 4
=
]
= 0,482 W / m
L 1.536,7

b) circuito analógico com a introdução do terceiro tubo de blindagem.

E E J3' EEn 2
Eb1 n1 J1 J3 E b n3 3 J2 b2

1 − ε1 1 1− ε3 1− ε3 1 1− ε2
ε 1 A1 A1 F1− 3 A3ε 3 A3ε 3 A3 F2 − 3 A2 ε 2
F1−3 = 1

F3−2 = 1

En1 − En 2
q=
Req
1 1 − ε 1 1 (1 − ε 3 ) D1 D 1 − ε 2 D1 
Req =  + +2 +1 1 +
A1  ε 1 1 ε 3 D3 D3 ε 2 D2 
1 1 − ε 1 (1 − ε 3 ) D1 1 − ε 2 D1 
=  +1+ 2 +
π ⋅ D1 ⋅ L  ε1 ε 3 D3 ε 2 D2 
1 1 − 0,02 (1− 0,03) 20 1 − 0,04 20 
=  +2 +
π ⋅ 0,02 ⋅ L  0,02 0,03 35 0,04 50 
1.536,7
=
L

[
q 5,67 ⋅10 −8 300 4 − 77 4
=
]
= 0,298 W / m
L 1.536,7
0,482 − 0,298
o ganho diminui em torno de
0,482
38,3 %

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