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Zeca Boaventura Nhachungue

Engenharia Mecânica 4° Ano

Transferência de Calor e Massa

Resumo 1
Uma definição simples, mas geral, fornece uma resposta satisfatória para a pergunta: O que é
transferência de calor? Transferência de calor é energia térmica em trânsito devido a uma
diferença de temperaturas no espaço.

Sempre que existir uma diferença de temperaturas em um meio ou entre meios haverá,
necessariamente, transferência de calor.

Como mostrado na Figura 1.1, referimo-nos aos diferentes tipos de processos de transferência
de calor por modos. Quando existe um gradiente de temperatura em um meio estacionário, que
pode ser um sólido ou um fluido, usamos o termo condução para nos referirmos à transferência
de calor que ocorrerá através do meio. Em contraste, o termo convecção se refere à transferência
de calor que ocorrerá entre uma superfície e um fluido em movimento quando eles estiverem a
diferentes temperaturas. O terceiro modo de transferência de calor é chamado de radiação
térmica. Todas as superfícies com temperatura não nula emitem energia na forma de ondas
eletromagnéticas. Desta forma, na ausência de um meio interposto participante, há transferência
de calor líquida, por radiação, entre duas superfícies a diferentes temperaturas.

Convecção de uma Troca líquida de calor por


Condução através de um
superfície para um radiação entre duas
sólido ou fluido
fluido em superfícies
estacionário
movimento

T1 > T
T1>T Superficie,7
Fluido em
movimento, Tπ Superficie,T2

Figura 1: Morlos de transferência de calor:condução,conveeção e radiação.

Origens Físicas e Equações de Taxa

Como engenheiros, é importante que entendamos os mecanismos físicos que fundamentam os


modos de transferência de calor e que sejamos capazes de usar as equações das taxas que
determinam a quantidade de energia sendo transferida por unidade de tempo.

1.2.1 Condução
Com a menção da palavra condução, devemos imediatamente visualizar conceitos das
atividades atômicas e moleculares, pois são processos nesses níveis que mantêm este modo de
transferência de calor. A condução pode ser vista como a transferência de energia das partículas
mais energéticas para as menos energéticas de uma substância devido às interações entre
partículas.

O mecanismo físico da condução é mais facilmente explicado através da consideração de um


gás e do uso de ideias familiares vindas de seu conhecimento da termodinâmica. Considere um
gás no qual exista um gradiente de temperatura e admita que não haja movimento global, ou
macroscópico. O gás pode ocupar o espaço entre duas superfícies que são mantidas a diferentes
temperaturas, como mostrado na Figuram 2. Associamos a temperatura em qualquer ponto à
energia das moléculas do gás na proximidade do ponto. Essa energia está relacionada ao
movimento de translação aleatório, assim como aos movimentos internos de rotação e de
vibração das moléculas. Temperaturas mais altas, estão associadas às energias moleculares mais
altas e quando moléculas vizinhas se chocam, como o fazem constantemente, uma transferência
de energia das moléculas mais energéticas para as menos energéticas deve ocorrer. Na presença
de um gradiente de temperatura, transferência de energia por condução deve, então, ocorrer na
direção da diminuição da temperatura. Isso continuaria sendo verdade na ausência de colisões,
como está evidente na Figura 1.2. O plano hipotético em x, está sendo constantemente
atravessado por moléculas vindas de cima ou de baixo, devido ao movimento aleatório destas
moléculas. Contudo, moléculas vindas de cima estão associadas a temperaturas superiores
àquelas das moléculas vindas de baixo, neste caso, deve existir uma transferência líquida de
energia na direção positiva de x. Colisões entre moléculas melhoram essa transferência de
energia. Podemos falar da transferência líquida de energia pelo movimento molecular aleatório
como uma difusão de energia.

Figura 2:Assuciação da transferencia de ca-lor por condução à difusão de energia devido à atividade molecular.

Segundo definição do cientista francês J.B.J. Fourier, em 1882, a quantidade de calor


transmitida por condução segue a seguinte lei:
Na formulação acima, k representa a condutividade térmica do material, A representa a área da
seção através da qual o calor flui por condução (medida perpendicularmente à direção do fluxo),
e dT/dx representa o gradiente de temperatura na seção. Nesta formulação, toma-se como
convenção a direção de aumento na coordenada x como fluxo positivo de calor. Sabendo-se
que, pela segunda lei da termodinâmica, o calor flui da região de maior temperatura para a
região de menor temperatura, deve-se adotar o sinal negativo para o produto acima, conforme
mostra a equação C.b.1.
Como se pode observar pelo balanço de unidades da fórmula acima, qk é medido em quantidade
de calor por unidade de tempo. Usualmente, esta grandeza é expressa em kilocalorias por hora,
ou kcal/h.
O valor da condutividade térmica varia de aproximadamente 6×10-3kcal/hmo C, para os gases,

até para o cobre. Os materiais que têm alta condutibilidade térmica são chamados
condutores, enquanto os de baixa condutibilidade são chamados isolantes.
Aplicando a fórmula acima a uma parede plana, em regime permanente, pode-se facilmente
chegar ao seguinte resultado:

Onde L é a espessura da perda

Dividindo os dois termos pelo fator A⋅ k , teremos que a quantidade de calor transmitida por
unidade de tempo será igual à diferença de temperatura entre os dois lados da parede, sobre o

fator A este último fator, dá-se o nome de Resistência Térmica à Condução. Portanto,
defini-se Resistência Térmica à Condução como segue:

Portanto, a quantidade de calor por unidade de tempo transmitida em regime permanente por
uma parede plana pode ser escrita simplesmente como:

Esta equação é bastante usada para simplificar problemas de Transmissão de Calor.


Calor

Segundo definição do dicionário Aurélio, calor é “... a forma de energia que se transfere de um
sistema para o outro em virtude duma diferença de temperatura existente entre os dois, e que se
distingue das outras formas de energia porque, como o trabalho, só se manifesta num processo
de transformação”.
Desta definição de calor pode-se observar que o calor nada mais é do que uma forma de energia.
A maneira com que esta energia altera as propriedades (dependentes ou independentes) de um
sistema no estado de equilíbrio é escopo do estudo da Termodinâmica Clássica. Já os efeitos
que ocorrem durante o processo da transmissão da energia em forma de calor é escopo da
Transferência de Calor. Dentre estes efeitos, exalta-se a variação da taxa temporal de
transmissão de calor (variável não considerada na termodinâmica). Os principais princípios da
Termodinâmica devem estar bem assimilados a fim de se absorver o conteúdo deste trabalho
da forma mais efetiva.

Além disso, a definição supra citada sugere a Primeira Lei da Termodinâmica, que,
simplificadamente, diz que a energia (na forma de calor ou trabalho) não é criada, e sim,
transformada. Matematicamente, considerando um sistema fechado (i.e. m’=0), pode-se
escrever este princípio pela equação que segue (aplicada a um volume de controle):

Na equação acima, W simboliza Energia na forma de Trabalho, Q simboliza a energia na forma


de calor e ∆E simboliza a variação de energia de um sistema. Como se pode notar, as duas
grandezas estão aplicadas à razão d/dt. Porém, esta formulação deve ser aplicada ao estado de
equilíbrio do sistema termodinâmico. Seus resultados indicam somente que a somatória das
taxas de variação de calor e de trabalho, dentro de um volume de controle em um sistema
fechado, são constantes, e podem ser transformadas de uma forma para a outra. Os valores da
variação temporal destas taxas, assim como sua dependência do tipo de meio e da superfície de
absorção/emissão de calor, não são aqui consideradas. Como citado anteriormente, estes são
aspectos abordados pela Transferência de Calor.

Radiação;

“A radiação é um processo pelo qual o calor é transmitido de um corpo a alta temperatura para
um de mais baixa quando tais corpos estão separados no espaço, ainda que exista vácuo entre
eles”. Por esta definição, vê-se que não há necessidade de um contato físico entre os corpos
para que a energia (na forma de calor) seja transmitida entre eles. Ao calor transmitido desta
forma dá-se o nome de calor radiante. Esta forma de energia se assemelha
fenomenologicamente à radiação da luz, diferindo-se apenas nos comprimentos de onda. A
transmissão do calor radiante ocorre na forma de quanta (porções discretamente definidas) de
energia. Para ilustrar este fenômeno, tenta-se imaginar como a energia solar é transmitida para
os demais astros (a Terra, por exemplo), sendo que há praticamente vácuo entre eles. Nas nossas
aplicações práticas, o calor radiante tem vital importância no projeto de, por exemplo, uma
caldeira. Além da energia que é transmitida do combustível queimado para as paredes da
caldeira, existe também uma parcela de calor radiante que é transmitido para seus demais
componentes. Portanto, existem peças que devem ser adicionadas à caldeira de forma a
proteger, por exemplo, os superheaters deste calor radiante excessivo. Todos os corpos que
possuem temperatura absoluta diferente de zero emitem calor radiante, porém, dependendo da
composição do corpo e de outros requisitos, esta quantidade pode ser maior ou menor. Para os
corpos chamados irradiadores perfeitos, ou corpos negros, esta quantidade de calor emitida por
irradiação por unidade de tempo pode ser escrita como segue:

Na equação acima, σ é chamada de constante de Stefan-Boltzmann, tendo o valor experimental

de . A é a área total da superfície em metros quadrados, e T é a temperatura


absoluta do corpo (na área), medida em Kelvin.
Por esta formulação, nota-se que a quantidade de calor emitida por um corpo negro independe
das condições dos arredores do corpo. Porém, para nossos casos práticos, é interessante
conhecer a troca de calor entre dois corpos. Portanto, a energia que um corpo negro emite para
um outro corpo negro que o envolve completamente pode ser dada pela formulação abaixo.

Na fórmula acima, o termo T2 representa a temperatura do corpo que está posicionado


externamente, ou seja, que envolve, enquanto o termo T1 representa a temperatura do corpo
que está posicionado internamente, ou seja, que é envolvido.

Obviamente, em casos práticos, não se utilizam muitos corpos com características de corpos
negros. Portanto, para estes casos, adiciona-se um termo multiplicador que modifica a equação
acima. Este termo leva em conta as emissividades (frações de emissão de irradiação do corpo
em relação aos corpos negros) e as geometrias dos corpos reais, sendo usualmente representado
pelo símbolo F 1-2. Portanto, para casos reais, a Equação C.7 é escrita como segue:
Na maior parte das aplicações práticas, o calor transmitido por irradiação está em conjunto com
outras formas de transmissão de calor. Portanto, usa-se a definição de Condutância e
Resistência térmica para irradiação, Kr e Rr, respectivamente.

As unidades comuns de condutância térmica são . A resistência térmica é simplesmente o

inverso da condutância, . Portanto, a equação C.8 pode ser reescrita, como usada na maior
parte dos casos práticos, como segue:

Onde T2 é qualquer temperatura de referência.

Uma outra definição importante na irradiação é o coeficiente médio de transmissão de calor,


dado por:

As unidades do coeficiente médio de transmissão de calor mais comuns são

Relação com a Termodinâmica

Neste ponto é apropriado observar as diferenças fundamentais entre a transferência de calor e


a termodinâmica. Embora a termodinâmica esteja voltada para as interações envolvendo calor
e para o importante papel que elas desempenham na primeira e segunda leis ela não considera
nem os mecanismos que viabilizam a transferência de calor nem os métodos que existem para
calcular a taxa de troca de calor. A termodinâmica está interessada nos estados de equilíbrio da
matéria e um estado de equilíbrio elimina necessariamente a existência de um gradiente de
temperatura. Embora a termodinâmica possa ser usada para determinar a quantidade de energia
necessária, na forma de calor, para que um sistema passe de um estado de equilíbrio para outro,
ela não leva em consideração que a transferência de calor é por essência um processo de não
equilíbrio. Para que a transferência de calor ocorra, deve existir um gradiente de temperatura,
logo. Um não-equilíbrio termodinâmico. Por essa razão, a disciplina transferência de calor
procura fazer o que a termodinâmica é increntemente incapaz, ou seja, quantificar a taxa de
transferência de calor que ocorre em termos do grau de não-equilíbrio térmico. Isso é feito
através das equações das taxas de transferência de calor para os três modos de transferência,
representadas.

Exercício

A parede de um forno industrial é construída em tijolo refratário com 0.15 m de espessura, cuja
condutividade térmica é de 1,7 W/(m.K).Medidas efetuadas ao longo da operação em regime
estacionário revelam temperaturas de 1400 c 1150 K nas paredes interna e externa,
respetivamente. Qual é a taxa de calor perdida através de uma parede que mede 0,5 m por 1.2m?

Resolução

Dados: Condições de regime estacionário com espessura, área, condutividade térmica e


temperaturas das superfícies da parede especificadas. Achar: Perda de calor pela parede.

Considerações:

1.Condições de regime estacionário.

2. Condução unidimensional através da parede.

3. Condutividade térmica constante.

Análise: Como a transferência de calo através da parede é por condução o fluxo térmico pode ser
determinado com a lei de Fourier. Usando a Equação 1, temos
∆𝑇 250𝑘
𝑞𝑥" = 𝑘 = 1,7𝑊/(𝑚. 𝑘) × = 2833𝑊/𝑚2
𝐿 0,15𝑚
O fluxo térmico representa a taxa de transferência de calor atra-vés de uma seção de área unitária e
é uniforme (invariante) ao longo da superfície da parede. A perda de calor através da pare-de de área
A= H x W é, então,

𝑞𝑥 = (𝐻𝑊)𝑞𝑥" = (0,5𝑚 × 1,2𝑚) 2833𝑊/𝑚2 = 1700𝑊

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