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Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM

Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas – ICTE


Fenômenos de Transportes II - Engenharia de Produção
Profa. Dra. Ana Cristina de Souza

DETERMINAÇÃO DA VARIAÇÃO DE TEMPERATURA AO LONGO DE


EIXO CILÍNDRICO

1. INTRODUÇÃO
Para o projeto e a operação dos equipamentos, é fundamental que o engenheiro
compreenda os fenômenos envolvidos no transporte de energia térmica e saiba como
determinar a sua taxa de transferência.
Existem três formas básicas de transferência de energia térmica: condução,
convecção e radiação. É importante ter-se em mente a confluência dos diversos
modos de transmissão de calor, porque, na prática, quando um dos mecanismos
domina quantitativamente, soluções aproximadas são obtidas considerando apenas o
mecanismo dominante.
A temperatura de um material, seja ele um sólido, um líquido ou um gás, está
diretamente ligada à energia térmica armazenada no movimento aleatório de suas
moléculas, átomos e elétrons. Quanto maior for a agitação destas partículas, mais alta
será a temperatura do material. Em qualquer material, a interação entre partículas
vizinhas provoca a dispersão da energia térmica, de forma que a energia
espontaneamente difunde da região de maior temperatura para a de menor
temperatura.
O transporte de energia térmica através da interação entre partículas vizinhas é
chamado de CONDUÇÃO. Em materiais sólidos, esta é a forma predominante de
transferência. Em termos gerais, pode-se definir condução como um processo pelo
qual o calor flui de uma região de temperatura mais alta para outra de temperatura
mais baixa dentro de um meio (sólido, líquido ou gasoso) ou entre meios diferentes
em contato físico direto. Por exemplo, se a extremidade de uma barra sólida for
aquecida, os átomos nesta extremidade vibram com maior energia do que os da
extremidade fria. A interação desses átomos mais energéticos com os seus vizinhos
provoca o deslocamento da energia ao longo da barra, até que o equilíbrio térmico
seja atingido.
Em materiais sólidos, a condução é a forma predominante de transferência de
calor. Se o material for um líquido ou um gás, o movimento de escoamento do fluido
também contribui para a dispersão da energia, pois promove a mistura. O transporte
de energia ocorrido pela combinação entre condução e escoamento (advecção) é
conhecido como CONVECÇÃO. A convecção pode ser forçada quando o
escoamento é provocado por um elemento externo (ventilador, bomba, vento) ou pode
ser natural quando ocorre exclusivamente devido a forças de empuxo originada por
variações de densidade dentro do material.
O terceiro tipo de transferência de calor é a RADIAÇÃO: os corpos em
temperaturas superiores ao zero absoluto emitem ondas eletromagnéticas cuja
intensidade depende da temperatura, quanto mais alta a temperatura, maior é a
quantidade de energia emitida. A luz visível é uma forma de radiação eletromagnética
como também o são o infravermelho, as ondas de radio, as micro-ondas, e os raios x.
Todas essas formas de radiação transferem energia de uma região para outra, sem a
necessidade de um meio físico para propagá-la.
A Figura 1 apresenta um esquema com as taxas de transferência de calor por
condução e por convecção (considerando-se a troca térmica por radiação desprezível)
em um sistema no qual um eixo cilíndrico de diâmetro D, comprimento L e
condutividade térmica k está em contato com um fluido adjacente a temperatura T∞;
sendo h o coeficiente de transferência de calor por convecção.

Figura 1 – Esquema de transferência de calor por condução e por convecção em eixo


cilíndrico de seção circular.
Considerando-se o sistema apresentado na Figura 1 e para análise simplificada
do fenômeno de transferência de calor, adota-se as seguintes hipóteses:

I) a difusão de calor nas direções “y” e “z” é muito rápida (material com
condutividade térmica razoável). Portanto, T = T(x);
II) o coeficiente de transferência de calor por convecção (h) e a condutividade
térmica (k) do material são constantes ao longo de todo eixo;
III) o fenômeno ocorre em estado estacionário.

A condutividade térmica do material do eixo tem um efeito significativo sobre a


distribuição de temperatura ao longo da mesma. O material do eixo deve ter uma
condutividade térmica alta, a fim de facilitar o fluxo de calor no sólido.
A Figura 2 apresenta um esquema com a taxa condutiva de transferência de
.

calor ( q x ) em uma barra metálica isolada termicamente. A taxa de transferência


ocorre na direção da extremidade aquecida (T2) para a extremidade que está com
menor temperatura (T1).

Figura 2 – Esquema representando o transporte condutivo unidirecional de calor.

O fenômeno de transporte condutivo, que ocorre de acordo com a Figura 2,


pode ser descrito pela Lei de Fourier (Equação 1), que pode ser aplicada para cálculo
da taxa de transferência de calor por condução em gases, líquidos ou sólidos.

.
q = −kA∇T (1)
.

sendo q a taxa de calor condutivo, k a condutividade térmica do material, A a área da


seção normal ao fluxo de calor e T temperatura. A Equação 2 mostra a taxa de
transferência condutiva unidirecional em x:

. dT − kA
q x = −kA = ( T1 − T2 ) (2)
dx L

Para se calcular a variação de temperatura T(x), devido à transferência de calor


por condução, em função da posição na aleta (x), integra-se a Equação 2 e chega-se à
Equação 5.
.
q x dx = −kAdT (3)

. x T(x )
q x ∫ dx = −kA ∫ dT (4)
0 T2

.
q
T ( x ) = T2 − x x (5)
kA

A Equação 5 representa a variação da temperatura ao longo do eixo, em função


da posição x, devido à transferência condutiva de calor.

2. OBJETIVO
Analisar a variação da temperatura em função da posição, em eixo de seção
circular de diferentes diâmetros e materiais.

3. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
• equipamento didático “Determinação experimental da variação de

temperatura ao longo de eixos cilíndricos”.


1. Descrição do Equipamento
O equipamento encontra-se esquematizado na Figura 3. A unidade experimental
consiste basicamente de uma caldeira, conjunto de eixos de seção circular, circuito de
controle de temperatura, circuito de medida de temperatura e base de sustentação.
A caldeira (1) foi construída com chapas de aço, de aproximadamente 4 mm de
espessura, e possui capacidade para abastecimento de água de aproximadamente 8
litros. O abastecimento da água no interior da caldeira é realizado através de uma
tampa circular de vedação (14), instalada na sua parte superior. O reservatório é
revestido com isolante térmico (5) e protegido contra impactos mecânicos por chapas
de aço. O aquecimento da água é realizado pela resistência elétrica (3) posicionada no
interior do reservatório (4) e conectada ao circuito de controle de temperatura (10). O
espelho da face superior da caldeira atua como suporte para a resistência elétrica, que
é fixada pelas duas extremidades.

Figura 3 – Esquema do equipamento didático “Determinação experimental da


variação de temperatura ao longo de eixos cilíndricos”.

Legenda da Figura 3:
1 – Caldeira;
2 – Eixos de seção circular uniforme;
3 – Resistência elétrica;
4 – Reservatório de água da caldeira;
5 – Isolamento térmico e proteção mecânica;
6 – Sistema de fixação dos eixos;
7 – Suportes de apoio das extremidades dos eixos;
8 – Estrutura para o suporte do equipamento;
9 – Pés de suporte da unidade, com altura regulável;
10 – Controlador e medidor de temperatura;
11 – Termosensor para medidas de temperatura ao longo dos eixos;
12 – Orifícios para encaixe de termopares;
13 – Termosensor para controle da temperatura na caldeira;
14 – Tampa de vedação e acesso da caldeira.
O conjunto de eixos (2) é constituído por três barras de seções circulares
uniformes; uma de alumínio, de diâmetro 9,5 mm; e duas de aço inoxidável, de
diâmetros 9,5 mm e 16 mm. Os três eixos possuem comprimento total de
aproximadamente 60 cm cada, sendo que uma de suas extremidades encontra-se em
contato com a parte interna da caldeira.
O circuito de controle da temperatura no interior da caldeira é composto pela
resistência elétrica (3), termopar (13) e o controlador de temperatura (10), o qual
mostra no primeiro display a indicação da temperatura da caldeira. O circuito de
medidas de temperatura possui medidor de temperatura selecionável no próprio
controlador, com referência à temperatura ambiente. No segundo display do
controlador é indicada a temperatura de cada posição no eixo. O termosensor (11), a
ser utilizado nos eixos, permite um registro de variações rápidas de temperatura e o
manuseio do termosensor possibilita medidas independentes de temperatura em cada
orifício de cada um dos eixos.

4. METODOLOGIA
Para a realização de medidas de temperatura ao longo dos diferentes eixos
cilíndricos deve-se:
1) Abastecer o reservatório da caldeira com água limpa.
2) Ligar o controlador de temperatura/resistência. A temperatura no interior da
caldeira será mantida no valor previamente programado no controlador de
temperatura, display 1. A temperatura deve ser programada em 80°C, após se
atingir essa temperatura deve-se aguardar cerca de 20 min para assegurar a
estabilidade térmica. Para os processos de aquecimento e estabilização,
necessita-se de cerca de 1 h e 30 min.
3) Medir as distâncias referentes a cada orifício nas aletas e registrar os dados
na Tabela 1.

Tabela 1 – Distâncias referentes aos orifícios nos eixos.


Orifício 1 2 3 4 5 6 7 8
Distância oríficio-caldeira
4) Após a estabilização da temperatura, efetuar as medidas das distribuições de
temperaturas (display 2) para os 3 eixos. Tais medidas são possíveis com o
deslocamento do termosensor nos orifícios dos eixos.
5) Anotar os valores da temperatura indicados no medidor, em função da
posição x nos eixos. Registrar os dados na Tabela 2.

Tabela 2 – Temperaturas medidas nas diferentes posições dos eixos.


Orifício 1 2 3 4 5 6 7 8
Eixo alumínio 9,5 mm
Eixo aço inox 9,5 mm
Eixo aço inox 16 mm

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
1) Apresente as Tabelas 1 e 2 com os dados obtidos experimentalmente.
Considerando os valores de condutividade térmica para o alumínio e o aço
inox 202 W/m°C e 52 W/m°C, respectivamente, calcule por meio da
Equação de Fourier para taxa unidirecional (Equação 2), a taxa de calor
condutivo em cada eixo. Sabe-se que o comprimento dos eixos é de 60 cm.
Considere também a temperatura medida no primeiro orifício (próximo à
caldeira) como a temperatura da extremidade aquecida do eixo e a
temperatura medida no último orifício (na extremidade da aleta oposta à
caldeira) como a temperatura da extremidade fria.

2) Com os valores de condutividade térmica, taxa de transferência de calor e


temperatura de extremidade aquecida (T2=temperatura medida no primeiro
orifício) para cada eixo, utilize a Equação 5 e calcule o valor teórico da
temperatura (Tx), decorrente da condução de calor, nas diferentes posições
(x) dos eixos. Registre os dados na Tabela 3.
Tabela 3 – Temperaturas medidas e calculadas para as diferentes posições nos eixos.
Aleta 1 (alumínio Aleta 2 (aço inox Aleta 3 (aço inox
9,5 mm) 9,5 mm) 16 mm)
Orifício
T medida T teórica (°C) T medida T teórica T medida T teórica
(°C) (°C) (°C) (°C) (°C)

1
2
3
4
5
6
7
8

3) Os valores de temperatura (medidos e calculados) ao longo do eixo de


alumínio são mais elevados que para os eixos de aço inox, considerando as
mesmas posições. Qual a razão para essas diferenças?

4) Na comparação entre os valores calculados e experimentais, espera-se que os


valores de temperatura calculados sejam mais altos. Apresente as
justificativas para tal fato.

5) Os valores teóricos e experimentais de temperatura para os dois eixos de aço


inox são distintos, apesar dos eixos serem constituídos do mesmo material.
Explique os motivos para essa variação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNETT, C. O.; MYERS, J. E. Fenômenos de transporte: quantidade de
movimento, calor e massa. São Paulo: McGraw-Hill, 1978. 812 p.

INCROPERA, F. P. et al. Fundamentos de transferência de calor e de massa. Rio


de Janeiro: LTC, 2011. 643 p.

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