Você está na página 1de 9

USO DA TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA PARA MONITORAMENTO

TÉRMICO EM BLOCO DE CONCRETO DE ALVENARIA ESTRUTURAL,


COM ALMA DE POLIESTIRENO EXPANDIDO (EPS)

INFRARED THERMOGRPHY APPLIED TO THERMAL ANALYSIS OF MASONRY IN


CONCRETE BLOCK CONTAINING EXPANDED POLYSTYENE (EPS)

(1) Professora Doutora Rosemary Bom Conselho Sales, Universidade do Estado de Minas
Gerais, Departamento de Planejamento e Configuração.
(2) Arquiteta Cristiane Bom Conselho Sales Alvarenga, ECM Projetos Industriais,
Departamento de Engenharia Mecânica.
(3) Professor Mestre Fernando Augusto Sales, Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais, Departamento de Engenharia Mecânica.
(4) Professor Doutor Roberto Márcio de Andrade, Universidade Federal de Minas Gerais,
Departamento de Engenharia Mecânica.
(5) Professora Doutora Maria Teresa Paulino Aguilar, Universidade Federal de Minas Gerais,
Departamento de Engenharia Mecânica.

(1) Av. Antônio Carlos, 7545 – Bairro São Luiz, Cep: 31270-010, Telefone (31) 3427-4616 Fax: (31)
3441 2732, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
rosebcs@gmail.com

Resumo
Uma das funções das edificações é oferecer condições térmicas compatíveis ao conforto ambiental a quem
a utiliza. A alvenaria estrutural em blocos de concretos é um sistema construtivo bastante utilizado no Brasil.
No entanto, ele não proporciona condições ideais de conforto térmico dentro dos ambientes construídos, o
que faz com que o usuário, muitas vezes, utilize refrigeração artificial, uma vez que a arquitetura
bioclimática não é uma prática corrente no país. Ao mesmo tempo, existe uma crescente preocupação, do
ponto de vista ambiental, com o destino de embalagens fabricadas com poliestireno expandido (EPS), as
quais são descartadas após o uso no meio-ambiente. O presente trabalho analisa o desempenho térmico de
um modelo de alvenaria estrutural que utiliza EPS através da termografia infravermelha.

Palavras-Chave: Alvenaria estrutural, bloco de concreto estrutural, poliestireno expandido, termografia


infravermelha

Abstract
One of the functions of buildings is to provide, to those who use it, thermal conditions consistent with their
environmental comfort. The masonry in concrete block is a building system widely used in Brazil. However, it
does not provide ideal conditions for thermal comfort. This often makes it necessary to use artificial
refrigeration systems, since the bioclimatic architecture is not a common practice in this country. In parallel,
there is a great concern, from the environmental scope, with the destination of packages that is make with
expanded polystyrene (EPS), which are discarded after using. This paper analyses the thermal performance
of a model of masonry in concrete block containing expanded polystyrene (EPS) using infrared
thermography.

Keywords: masonry, structural concrete block, expanded polystyrene, infrared thermography

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 1


1 Introdução

A população tem se tornado cada vez mais urbana. As cidades estão crescendo,
expandindo suas fronteiras e, consequentemente, as edificações se multiplicam na
mesma proporção, provocando degradações e impactos ambientais. Em meio a estes
impactos destaca-se o fato de que as edificações são responsáveis por 42% do consumo
de energia elétrica do país (LAMBERTS et al. 1997; BALTAR, 2005), sendo que grande
parte desse consumo ocorre nos sistemas de climatização.

A relação da edificação com o clima se dá em duas frentes. De um lado, a edificação


deve oferecer ao homem abrigo para as condições adversas a que está exposto, e o
conforto térmico no seu interior deve ser independente das condições climáticas externas.
Por outro lado, a edificação é uma intervenção no meio ambiente natural, podendo alterar
as condições climáticas no seu entorno, as quais, por sua vez, interferirão na resposta
térmica no interior das construções vizinhas. Nesse sentido, o conforto térmico tem
merecido, nas últimas décadas, atenção especial de muitos estudiosos (ARAUJO, 2001;
LAMBERTS et al., 1997; FROTA, 2005). Uma das estratégias para se ter uma economia
de energia associada ao conforto térmico é a arquitetura bioclimática. No entanto, esse
tipo de arquitetura muitas vezes apresenta limitações que podem ser total ou parcialmente
superadas na medida em que ocorra associação com outros recursos tecnológicos. De
acordo com KRUGER (1999), a avaliação do desempenho térmico de uma edificação
consiste basicamente na verificação das diversas soluções arquitetônicas possíveis e dos
materiais a serem usados quando se desejam construções cujos ambientes sejam
termicamente confortáveis.

A alvenaria estrutural utilizando blocos de concreto é um sistema construtivo muito


empregado no Brasil, para construção de pequenas e médias edificações. No entanto,
considerando apenas o sistema construtivo, ela não oferece conforto do ponto de vista
térmico, levando o usuário, muitas vezes, ao uso excessivo de sistemas artificiais de
refrigeração e, consequentemente, a um consumo maior de energia elétrica (FROTA,
2005). O uso do bloco de concreto associado a um material isolante, como o poliestireno
expandido, poderia ser uma opção para tornar o sistema construtivo em alvenaria
estrutural mais sustentável.

Um problema enfrentado hoje no mundo refere-se à destinação final dos resíduos. O


poliestireno expandido vem sendo utilizado cada vez mais como material de embalagens
para eletrodomésticos, máquinas, equipamentos etc. Esse material tem como sigla
internacional EPS (Expanded Polystyrene), sendo mais conhecido no Brasil como
“Isopor®”, marca registrada da Knauf Isopor Ltda. De acordo com a norma DIN ISO
1043/78, esse material é identificado como celular rígido, resultante da polimerização do
estireno (um derivado do petróleo) em água. O material é constituído por 98% de ar e 2%
de matéria sólida na forma de poliestireno, que lhe garantem suas peculiares

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 2


propriedades físicas – de extrema leveza e de excelente isolamento termo-acústico
(TESSARI, 2006).

O volume de resíduo proveniente da utilização do EPS e sua destinação têm preocupado


tanto o poder público quanto a sociedade, que buscam soluções para minimizar os
reflexos negativos de sua destinação inadequada (RIBAS, 2007). Por essa razão,
materiais alternativos, desenvolvidos a partir desses resíduos, são considerados produtos
de menor impacto ambiental. Dessa forma, associar o resíduo de EPS aos blocos de
concreto seria uma solução interessante com vistas a uma construção sustentável.

A termografia infravermelha é considerada uma técnica de inspeção não destrutiva e não


invasiva do campo de temperatura de uma superfície, através da imagem gerada pela
radiação térmica no infravermelho, emitida pela superfície de todos os tipos de materiais
(CASTANEDO, 2005; MALDAGUE, 2001, TAVARES; 2006). A adoção dessa técnica
como suporte na construção civil permite não apenas monitorar o comportamento térmico
das edificações, mas identificar e avaliar problemas construtivos considerados
inacessíveis por outros métodos. Seu uso e processamento de imagens é relativamente
simples, rápido e com geração de relatórios bastante claros. Contudo, uma tomada de
decisão coerente com classificação do problema e as intervenções para reparos em
tempo hábil requerem conhecimentos específicos e experiência por parte do avaliador. De
modo geral, na construção civil, as aplicações da termografia têm sido utilizadas
basicamente em manutenção preditiva e preventivas e em situações que envolvam a
passagem de corrente elétrica ou desgaste mecânico que, em geral, geram calor
(MEOLA; CARLOMAGNO, 2004; MEOLA et al., 2005; PELIZZARI, 2006; SALES, 2008).
Com os avanços dessa tecnologia, novos detectores de imagem visual integrada e
softwares estão sendo desenvolvidos. Esses avanços vêm proporcionando ganhos
significativos na utilização da termografia na construção civil, pois ela permite novas
soluções para diagnóstico, com maior produtividade e segurança.

De forma a contribuir para o aproveitamento dos resíduos de poliestireno expandido e


para o estabelecimento de uma construção mais sustentável, neste trabalho estuda-se o
desempenho térmico de um modelo de alvenaria estrutural, com alma de EPS, utilizando
termografia infravermelha.

2. Materiais e Métodos

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram utlilizados o EPS, blocos de concreto de


alvenaria estrutural e uma termocâmera Thermovision 570 (Agema) Flir Systems. O
procedimento experimental foi realizado no laboratório do departamento de Engenharia
Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais e consistiu na montagem e análise de
um modelo de alvenaria estrutural constituído por quatro blocos de concreto. Dois desses
blocos tiveram a cavidade interna preenchida com EPS em pérolas de aproximadamente
0,4 mm de diâmetro e, nos demais, a cavidade interna ficou vazia (Figura 1).

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 3


X Y X Y

Aquecedor
Aquecedor

(A) (B) (C)


Figura 1 – (A) Vista superior (B) Vista posterior (C) Vista frontal.

As amostras de concreto foram montadas e preparadas na parte externa do laboratório,


onde permaneceram por 24 horas sujeitas às interferências climáticas do local. As
medições termográficas foram tomadas no período da manhã. Para conseguir imagens
mais reveladoras, optou-se por excitar artificialmente os blocos, utilizando um aquecedor
de ambientes doméstico, até que as amostras atingissem a temperatura ideal de coleta de
dados (o que se deu em aproximadamente uma hora).

As medições foram tomadas de forma qualitativa a uma distância de 0,50 cm entre o


equipamento de medição e os blocos de concreto de alvenaria estrutural. A temperatura
ambiente no momento da medição era de 30ºC, e a emissividade do sistema foi de 0,75.

3. Resultados e Discussão

Nas Figuras 2 e 3, são apresentadas as imagens reais dos blocos com (Y) e sem (X)
preenchimento de isopor e suas respectivas imagens térmicas obtidas por termografia
infravermelha. Na Figura 2, o termograma se refere às superfícies diretamente expostas
ao aquecimento; e, na Figura 3, às superfícies aquecidas por condução. A análise da
imagem termográfica da Figura 2 mostra que existe uma diferença na transmissão de
calor nas quatro amostras observadas.

A escala de cores do termograma permite que se estime a diferença de temperatura entre


as amostras analisadas. Observa-se que, após serem submetidas ao mesmo tipo de
aquecimento, as temperaturas na superfície dos blocos com alma de isopor são mais
elevadas que as das amostras sem poliestireno.

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 4


180,6°C
AR01
AR02

X Y 150

LI-01
100

50

31,7°C

Figura 2 – Blocos de concreto com e sem enchimento de resíduo de EPS e respectivos termogramas das
superfícies diretamente expostas ao aquecimento.

AR03 44,5°C
AR04

Y X 40

35
AR02 AR01
30
LI-02

25

23,3°C

Figura 3 – Blocos de concreto com e sem enchimento de resíduo de EPS e respectivos termogramas das
superfícies aquecidas por condução.

O mapa de temperaturas da Figura 3 reforça esses resultados: a superfície não exposta


ao aquecimento do bloco com preenchimento apresenta uma temperatura visivelmente
inferior à do bloco sem EPS. O que significa que o resíduo de poliestireno expandido
bloqueou com maior eficiência a passagem de calor através do bloco.

Além dos termogramas apresentados, o ensaio utilizando a Thermovision 570 permite a


geração de gráficos para análise da distribuição dos valores superficiais de temperatura
na imagem termográfica ao longo de uma seção transversal da montagem em uma linha
de perfil – Line Profile (LI-01 e LI-02). Tais dados são apresentados em forma de gráfico
nas Figuras 5 e 6. Deve ser considerado, na análise, o fato de que, apesar da
temperatura ambiente ser de 30ºC, a temperatura inicial dos blocos era em torno de 25ºC
(Figura 4).

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 5


30

28

26

24
Min: 24,7°C Max: 26,7°C

Figure 4 – Distribuição dos valores superficiais de temperatura ao longo da Line Profile- antes do
aquecimento.

Observa-se que, nos blocos tipo (X), as temperaturas das superfícies aquecidas
diretamente atingiram o máximo de 150ºC, enquanto a superfície oposta atingiu, no
Maximo, 31ºC. Isso significa que o sistema promoveu, por condução de calor, um
aquecimento em torno de 5ºC na superfície oposta. O bloco com EPS, quando
diretamente aquecido, atingiu uma temperatura superficial máxima de 177,1ºC – 18%
maior que a do bloco sem material isolante. Por outro lado, esse aquecimento
praticamente não contribuiu para elevação da temperatura na face oposta, que manteve
sua temperatura na faixa de 26ºC. Na interface dos blocos ocorre variação brusca em
decorrência do espaço existente entre as amostras.

150

100
Bloco X Bloco Y

50

Min: 83,2°C Max: 177,1°C

Sentido da linha

Figure 5 – Distribuição dos valores superficiais de temperatura ao longo da Line Profile-L02 das superfícies
diretamente expostas ao aquecimento.

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 6


40
Bloco Y Bloco X

30

Min: 23,4°C Max: 50,5°C

Sentido da linha

Figure 6 – Distribuição dos valores superficiais de temperatura ao longo da Line Profile-L01 das superfícies
aquecidas por condução.

Os resultados indicam a eficiência do conjunto bloco de concreto/resíduo de isopor como


estratégia para obtenção de materiais de construção isolantes. Observa-se um ganho de
19% na capacidade de retenção do calor.

4. Conclusões

Os resultados indicam que a termografia mostrou-se eficiente no monitoramento


qualitativo da temperatura superficial dos blocos de concreto com e sem EPS. Também
ficou evidenciado que o resíduo de EPS é um isolante térmico eficiente. Dessa forma, a
fabricação de blocos de concreto com alma de EPS, tanto do ponto de vista técnico como
ambiental (menor consumo de energia e redução de resíduos), seria uma alternativa para,
a melhoria do conforto dos ambientes construídos.

5. Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais


(FAPEMIG) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
pelo suporte financeiro a esta pesquisa.

6. Referências

ARAÚJO, M. D. Parâmetros de conforto térmico para usuários de edificações


escolares no litoral nordestino brasileiro. Natal: Edufrn, 2001.

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 7


BALTAR, M. G.; KAEHLER, J. W. M.; PEREIRA, L. A. Indústria da Construção Civil e
Eficiência Energética. In: Conferência Engenharia. v. II. Covilhã: Universidade da Beira
Interior, 2005. p. 339-344.

CASTANEDO, C. I. Quantitative subsurface defect valuation by pulsed phase


thermography: Depth retrieval with the phase. Thèse (obtention grade de Philosophiae
Doctor Ph.D.) Faculté des Sciences et de Génie Université Laval – Québec. Octobre
2005.

FROTA, A. B.; SCHIFFER, S. R. Manual de conforto térmico. Arquitetura, Urbanismo.


7. ed. São Paulo: Nobel, 2005.

KRÜGER, E. L. A importância do Conhecimento de Térmica em Edificações por


Engenheiros Civis. Revista Tecnologia e Humanismo, Curitiba, n. 19, 21/ago. 1999. p.
18.

LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na Arquitetura.


São Paulo: PW Editores, 1997. p. 192.

MALDAGUE, X. P. Theory and practice of infrared technology for nondestructive


testing, New York: Wiley & Sons, Inc, 2001.

MEOLA, C. et al. Application of infrared thermography and geophysical methods for defect
detection in architectural structures. Engineering Failure Analysis, v.12, Engineering
Failure Analysis Local: Editora, p.875–892, 2005.

MEOLA, C.; CARLOMAGNO, G. M. Recent advances in the use of infrared


Thermography. Institute of Physics Publishing Measurement Science and
Technology, v.15, Journal of Materials Processing Technology Local: Editora, p.R27–
R58, 2004.

PELIZZARI, E. Aplicações da Termografia como Ferramenta de Manutenção Preditiva em


Conectores Elétricos. 17º CBECIMat - Congresso brasileiro de engenharia e ciência
dos materiais. Foz do Iguaçu (PR), Brasil. 2006.

RIBAS, F. F. Reciclagem de lixo – Uma questão de sustentabilidade. Revista Científica.


ano I. vol. 01, n. 02, jan./jun./2007.

SALES, R. B. C. Estudo de compostos de cimento portland utilizando o ensaio de


freqüência ressonante forçada e termografia. Tese (doutorado) Escola de Engenharia.
Programa de Pós-Graduação: Engenharia Mecânica: Universidade Federal de Minas
Gerais. 2008.

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 8


TAVARES, S. G. Desenvolvimento de uma metodologia para aplicação de ensaios
não destrutivos na avaliação da integridade de obras de arte. Tese (doutorado)
Escola de Engenharia. Programa de Pós-Graduação: Engenharia Mecânica: Universidade
Federal de Minas Gerais. 2006.

TESSARI J. Utilização de poliestireno expandido e potencial de aproveitamento de


seus resíduos na construção civil. Dissertação (Mestrado) Escola de Engenharia.
Programa de Pós-Graduação: Engenharia Civil: Universidade Federal de Santa Catarina.
2006.

ANAIS DO 52º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2010 – 52CBC0011 9

Você também pode gostar