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Abril/2020
1 Introdução
A competição SAE Brasil Aerodesign propõe aos
seus participantes a projetarem aeronaves rádio contro-
ladas de alta performance, confiável, leve e que carre-
gue a maior carga. Sendo assim, aeronaves das mais di-
versas configurações vem sendo exploradas pelas equi- Fonte: próprio autor
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O movimento de uma aeronave pode ser represen- Vale ressaltar que se β = 0, o eixo de vento e de
tado com o auxílio de alguns eixos coordenados. estabilidade são coincidentes.
Para o projeto de uma aeronave é importante consi-
1. Eixo da Terra: A partir de um ponto na super- derar o diagrama Vn, que é um representativo de com-
fície da terra é traçado o eixo X na direção norte binações de velocidades e fatores de carga para o qual
geográfica, o Y na direção leste e o Z para baixo a aeronave deve ser resistente [3].
em direção ao centro da terra. [1]. A Segunda Lei de Newton diz que se o sistema de
2. Eixo de Trajetória: É aquele que descreve o eixo de corpo sofrer uma força externa, ele é acelerado.
movimento em relação ao eixo da terra com eixos Essa aceleração medida em um sistema inercial é apre-
rotacionados pelos ângulos de Euler Θ, Ψ e Φ, cor- sentado como [3]:
respondentes aos eixos X, Y e Z respectivamente. P
Fnz
az = (1)
3. Eixo de corpo: É um eixo fixo ao CG da aero- m
nave e que se move com ela. Pode possuir posici- Assim, o fator de carga (n) é a relação entre essa
onamento arbitrário, mas é comumente colocado aceleração e a força da gravidade.
com seu eixo X alinhado com a linha de referên- P
cia da fuselagem e o eixo Z é direcionado vertical- az Fnz
n= = (2)
mente para baixo e perpendicular ao eixo X defi- g W
nido. [2] Todavia, algumas simplificações podem ser aplicadas
a Equação 2, como N = L [3] para baixos ângulos de
4. Eixo de vento: Definido também a partir do CG
ataque e além disso é considerado que o eixo de corpo e
da aeronave, mas tem o seu eixo X na direção da
o eixo da terra possuem seus eixos Z alinhados. Assim
velocidade total e seu eixo Z também para baixo
obtém-se a Equação 3.
e perpendicular ao X. [2]
L
5. Eixo de estabilidade: O eixo de estabilidade n= (3)
tem sua origem no CG, o seu eixo X tem dire- W
ção alinhada com a projeção do vetor velocidade Durante a confecção do diagrama Vn devem ser con-
no plano X-Z do eixo de corpo e tem seu eixo Z siderados fatores de carga devido à manobras e raja-
direcionado verticalmente para baixo. [2] das [3]. Um exemplo de diagrama Vn completo com
situações de manobra e rajada é apresentado na Fi-
A partir do eixo de vento é necessário apenas dois gura 4.
ângulos de orientação para definir as forças e momentos
aerodinâmicos, sendo eles o ângulo de ataque (α) e o
ângulo de derrapagem (β), mostrados na Figura 3. [2].
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f (x0 + h) − f (x0 )
Figura 5: Curvas características de CmCG f 0 (x0 ) = lim (4)
h→0 h
Que se considerado valores de h bem pequenos pode-
mos obter esse valor de derivada, utilizando dois pon-
tos, a partir do esquema apresentado na Figura 6.
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Etapa 1 Etapa 3
De início é importante definir um envelope de voo Essa etapa foca no equacionamento de todas as for-
completo e detalhado que deve conter os seus pontos ças e momentos aplicadas à aeronave em torno do seu
a serem analisados. No projeto em questão temos a CG, utilizando um diagrama de corpo livre apresen-
Figura 7 que representa o diagrama Vn da aeronave tado na Figura 3.
com seus valores principais e extremos em destaque.
Figura 8: Diagrama de corpo livre de uma asa voadora
Figura 7: Diagrama Vn
Em que:
• T é a tração
Fonte: próprio autor
• L é a sustentação
• D é o arrasto
• W é o peso
Etapa 2 • V é a velocidade relativa
• α é o angulo de ataque
Após a definição do envelope de voo é necessário es-
tabelecer os critérios de projeto a serem cumpridos. • zt é a distância da linha de ação de T com o CG
Estes podem ser delimitados a partir de experiência
prévia, ensaio cego em que inicia-se com uma margem • CA é o centro aerodinâmico
estática alta e vai reduzindo até um mínimo aceitável • MCA é o momento em relação ao CA
pelo piloto, bibliografias que podem sugerir valores e
pela missão de voo proposta por desempenho. A Ta- • XCA é a posição do CA
bela 1 apresenta os principais critérios da estabilidade
• XCG é a posição horizontal do CG
e controle longitudinal estático aplicados no projeto.
• ZCG é a posição vertical do CG
Tabela 1: Critérios de projeto É importante que aqui sejam representadas todas
Critério Descrição as forças mesmo sendo valores independentes do CL .
1 − dCm CG
dCL > 0.03 Além disso, é importante representar corretamente
Trimar longitudinalmente onde as forças são aplicadas. Tem-se a sustentação
2
em todos os fatores de carga e o arrasto aplicados no centro de aerodinâmico, mo-
Deflexão menor que tor em seu ponto de fixação e a força peso no centro
3
limites aerodinâmicos gravitacional.
Ressalta-se que essas força produzem momentos
Vale ressaltar que esses critérios não são fixos e po- também em relação a altura do CG. Assim temos a
dem variar de acordo com refinamento de cálculos e seguinte equação:
ensaios em voo ao longo do projeto.
MCG = (XCG − XCA )(L cos α + D sen α)
+ (ZCG )(L sen α − D cos α + T ) + MCA + Mq q (5)
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0.042
método confiável de CFD e validado em ensaios expe-
rimentais são inputs necessários para garantir os efeitos
do regime pré-estol presentes em aeronaves de alta sus- 0.040
tentação.
Além disso, a localização precisa do CA é imprescin-
dível para garantir a validade do modelo. Como com- 0.038
provação sugere-se o método proposto em Nelson [4]
de ensaio em voo para obtenção do real valor desse 0.036
parâmetro. Bibliografia
Metodologia própria
Etapa 4 0.034
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0.01
0.045
Margem estática longitudinal
0.00
12 14 16 18 20 22 24 26
0.040
-0.01
Velocidade [m/s]
Fonte: próprio autor
0.035
n=1
nmáx Pode-se perceber que a aeronave se torna instável
0.030 n antes de d = 0, que é a situação limite esperada pelas
mín
bibliografias [5]. Já o modelo completo antecipa essa
instabilidade para um valor perto de d = 0.01.
0.025 A Figura 12 apresenta a variação do ZCG para n=1
10 15 20 25 30 no modelo desenvolvido
Velocidade [m/s]
Fonte: próprio autor Figura 12: Variação da margem estática com a altura
do CG
Na Figura 11 há o resultado da análise da variação da 0.0550
distância (d) entre o XCG e o XCA , admensionalizados
em relação a c, e n = 1. 0.0525
Margem estática longitudinal
0.0500
0.0475
0.0450
0.0425
0.0400 ZCG= -0.02
ZCG= -0.01
0.0375
ZCG= 0
0.0350
ZCG= 0.01
0.0325 ZCG= 0.02
0.0300
10 15 20 25 30
Velocidade [m/s]
Fonte: próprio autor
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-2
Figura 13: Variação da deflexão para trimagem com a
velocidade para diversas distância d
(°)
-2.5
e
0 ZCG=-0.02 * c
-3 ZCG=-0.01 * c
-1 -3.5 ZCG=-0.02 * c
ZCG=0.01 * c
-2 -4
ZCG=0.02 * c
-4.5
e (°)
-3 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
Velocidade[m/s]
-4
d=0.06 Fonte: próprio autor
d=0.05
d=0.04
A deflexão necessária para trimagem em casos de
-5 d=0.03
manobras encontra-se na Figura 15.
d=0.02
-6
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 Figura 15: Variação da deflexão para manobra com a
Velocidade [m/s] velocidade
Fonte: próprio autor 34
nmáx
28
A distância d = 0.01 não foi utilizada, pois essa já nmín
se encontra em regime de instabilidade e portanto não 22
Limite Inferior de e
trimável. Observa-se que a maior diferença entre as 16 Limite Superior de e
deflexões ocorre a baixas velocidades, que é próxima a
região de estol. 10
A variação da posição vertical no CG não alterou
e [°]
4
muito os valores de deflexão necessário para o modelo
-2
desenvolvido, assim como mostra na Figura 14.
-8
-14
-20
-26
-32
14 16 18 20 22 24 26
Velocidade [m/s]
Fonte: próprio autor
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Referências
[1] Michael V Cook. Flight dynamics principles: a li-
near systems approach to aircraft stability and con-
trol. Butterworth-Heinemann, 2012.
[2] B.L. Stevens and F.L. Lewis. Aircraft Control and
Simulation: Dynamics, Controls Design, and Au-
tonomous Systems. Wiley, 1992.
[3] Paulo Iscold. Introdução às Cargas nas Aeronaves.
CEA, 1 edition, 2002.
[4] Robert Nelson. Flight stability and automatic con-
trol. McGraw-Hill, Inc, 1989.
[5] Bernard Etkin and LD Reid. Dynamics of flight:
stability and control. 1996.
[6] Richard L. Burden and J. Douglas Faires. Numeri-
cal analysis. PWS-Kent Publishing Company, 1989.
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