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POUCO A SER COMEMORADO NOS 5 ANOS APÓS O LANÇAMENTO DOS

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Monica Exelrud Villarindo*

No aniversário de 5 (cinco) anos do lançamento dos Objetivos de


Desenvolvimento Sustentável (ODS) não há muito a ser comemorado. De acordo
com o index anual de medição dos ODS publicado pela Rede de Soluções de
Desenvolvimento Sustentável, houve alguns avanços pelo mundo para se atingirem
os ODS em vários países, mas também houve retrocessos em muitos outros onde
isso não era esperado1.
O Brasil está entre os países que avançou menos do que esperado e está
fora da rota para poder atingir os ODS até o ano de 2030. O Brasil até o ano de 2019
estava em 7º (sétimo) lugar entre os países da América Latina2. Com a Pandemia
do Covid 19, o ano de 2020 vem sendo um grande desafio para todos os países do
mundo.
Infelizmente este ano trouxe ainda mais retrocessos inesperados na área
de saúde, educação, desigualdades, pobreza etc. De acordo com o Economista
Michael Green, que analisa o progresso dos ODS, se o mundo continuar no ritmo
atual no planejamento e implementação da Agenda 2030, nós só atingiremos os
ODS no ano de 2082, que já será um tanto tarde para o planeta3.
De acordo com o IV Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030 de
Desenvolvimento Sustentável no Brasil, publicado em 31 de julho de 20204, o Brasil
só avançou em 4 (quatro) das 169 (cento e sessenta e nove) metas estabelecidas
para a Agenda 2030.

1 Disponível em http://sdg.iisd.org/news/sdg-index-measures-all-countries-progress-since-2015/ .
Acesso em 08/11/2020.
2 Índice ODS 2019 para América Latina y el Caribe- Disponível em https://sdsna.github.io/2019LACI
ndex/2019LACIndexRankings.pdf . Acesso em 08/11/2020.
3 Disponível em UN’s sustainable development goals ‘way off track’ after 5 years-
https://youtu.be/RG3be0_yRf0
4 Disponível em https://gtagenda2030.org.br/relatorio-luz/relatorio-luz-2020/ . Acesso em
08/11/2020.

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As metas nas quais o Brasil avançou foram: Metas 3.2 - Reduzir mortalidade
neonatal e de crianças abaixo de 5 (cinco) anos; Meta 3.3- Redução de casos
de malária; 3.a- Redução do número de fumantes acima de 18 (dezoito) anos;
e a meta 14C- Iniciativas de conservação e uso sustentável dos Oceanos.
As demais metas se encontram em estágios de retrocesso,
ameaçadas, estagnadas, ou com progresso insuficiente. Por exemplo,
a pobreza no Brasil também aumentou em 7 (sete) milhões em 2020 -
23% (vinte e três por cento) da População 48.8 milhões de Brasileiros.
Além de todas as dificuldades a atual pandemia do Covid 19 trouxe um
aumento no consumo de plástico que não pode ser reciclado como luvas, máscaras
e outros materiais de segurança. O preço do petróleo também caiu e se tornou
mais barato produzir novo plástico do que usar plástico reciclado na indústria.1
Outro grande retrocesso foi na educação, onde 90% (noventa por cento) dos
jovens em todo mundo ficaram fora das escolas, e apesar da tentativa de ser fazer as aulas
de forma digital, a desigualdade ao acesso a estas fontes de estudo se mostrou gritante.
O acesso à saúde também teve uma piora significativa por conta
da pandemia, pois outras doenças deixaram de ser tratadas. Mas
durante o período da pandemia houve alguns avanços em outras áreas.
Com o fechamento da economia na maioria dos países houve uma grande
redução na emissão de dióxido de carbono, e muitas cidades que viviam com altos
níveis de poluição puderam ver a cor do céu. A natureza teve espaço para se reproduzir
nos oceanos e florestas. Houve um avanço fenomenal na área da tecnologia pela
necessidade de continuar trabalhando e estudando. Mas nós só vamos ter um balaço
completo dos ganhos e perdas deste período de pandemia nos próximos anos.

O voluntariado continua sendo instrumental para tentarmos melhorar a


implementação dos ODS em todo o mundo. Apesar da falta de estruturação do
voluntariado na maioria dos países, incluindo o Brasil, o voluntariado é a ferramenta

1 ESPECIAL-Pandemia do plástico: Covid-19 joga no lixo sonho da reciclagem- Disponível em https://


br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN26Q2Z5-OBRBS . Acesso em 08/11/2020.

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que pode nos ajudar a tentar reverter o retrocesso nos ODS, principalmente nos
que se referem à Educação, Vida na água, Desigualdades, Erradicação da Pobreza,
participação em políticas públicas.
O voluntariado vai muito além da ajuda assistencialista que estamos acostumados
a ver e associar ao voluntariado. A movimentação voluntária da sociedade é essencial
para pressionar os governantes a seguirem o compromisso assumido pelos países,
estados e municipalidades para atingirem os ODS.
Há muitas soluções que já existem e que poderiam ser completamente atingidas
como água e saneamento. É necessário vontade política, políticas públicas e pressão da
sociedade civil para que estes objetivos sejam alcançados.
Mas não podemos tentar resolver somente os objetivos mais fáceis de serem
atingidos, temos que continuar tendo uma visão que os ODS são conectados uns aos
outros e que é necessário se trabalhar o social, ambiental e econômico.
O que vem causando um grande retrocesso nos ODS é a desculpa que o crescimento
econômico é mais importante que tudo e com isso governantes vão atropelando acordos
e planos de sustentabilidade. Se não encarrarmos o que está acontecendo em nosso
planeta de forma decisiva o nosso futuro imediato será o de responder a calamidades, o
que já vem ocorrendo de forma mais e mais frequente.
Cada ano que passa é o ano mais quente da história, temos mais desastres
naturais, temos mais estiagens e com as secas, não adianta ter áreas enormes
desmatadas dedicadas a plantação, pois não haverá água suficiente para dar conta da
demanda. É necessário agir.
Em julho de 2020, as grandes organizações globais envolvidas com voluntariado
organizaram um encontro para impulsionar o voluntariado da próxima década, a “Década
da Ação para se Atingir os ODS” 1. Neste encontro uma visão global foi declarada com
várias sugestões de como atingir este objetivo e encontrar um novo caminho a ser seguido
através do voluntariado para se atingir os ODS até 2030. Alguns dos compromissos
listados no encontro foram:
• Ampliar o acesso a oportunidades de voluntariado e ao voluntariado entre os ODSs;

1 Disponível em https://unitednationsvolunteers.swoogo.com/gtm2020/calltoaction . Acesso em


08/11/2020.

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• Criar novos modelos de ação voluntária para turbinar ideias e soluções;
• Medir o impacto sobre o bem-estar dos voluntários e a Agenda 2030;
• Fortalecer o alinhamento das ações voluntárias com as lacunas e desafios dos
ODS.
Mas para atingirmos estes compromissos é necessária ação dos governos e
comunidades locais. Então apesar de todos os contratempos dos últimos 5 (cinco) anos
e o atual problema da pandemia do Covid 19, nós não podemos perder as esperanças.
Se todos realmente se empenharem e abraçarem as idéias dos ODS, ainda
poderemos reverter o dano causado pelo retrocesso dos últimos anos e colocar o
mundo de volta no caminho necessário para se garantir um futuro sustentável para as
próximas gerações.
Mas é necessário o empenho de todos, a colaboração de todos os níveis da
sociedade, uma vontade de pensar um pouco no futuro dos mais jovens, e não somente
no hoje e no agora. É necessário compartilhar um entendimento profundo que nossos
recursos são limitados, escassos e precisam ser preservados. Esta pode ser a nossa
última chance.
Então aqui vai um convite para que todos levem a sério os riscos que enfrentamos,
arregaçem as mangas e sejam voluntários em alguma atividade que possa auxiliar
neste processo de preservação do nosso planeta.
Para ajudar neste contexto, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento
Social (IDIS), lançou em colaboração com vários parceiros um teste online para motivar
o voluntariado em várias áreas. Através deste teste a pessoa descobre em qual área
ela poderá se engajar voluntariamente e a quais ODS este tipo de voluntariado pode
ajudar: https://descubrasuacausa.net.br/home

Este já será um bom caminho para começarmos.

*Monica Exelrud Villarindo - Especialista internacional em voluntariado e


sustentabilidade. Monica tem mais de 15 anos de experiência trabalhando
junto à organizações internacionais das Nações Unidas e Cruz Vermelha em
gestão de projetos, recursos humanos, administrativa e captação de recursos.

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O COMPROMISSO DO MUNICÍPIO DE CONTAGEM COM OS OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – PLANO ESTRATÉGICO CONTAGEM 2030 E
PROGRAMA MUNICIPAL DE VOLUNTARIADO TRANSFORMAR CONTAGEM

Luciana de Freitas*

Gisela Camargos *

RESUMO

A execução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das


Nações Unidas embora de natureza global e universalmente aplicáveis, dialogam com as políticas e
ações nos âmbitos regional e local, devendo contar com o concurso dos Governos e da Sociedade
Civil para sua realização. O presente trabalho apresenta as ações adotadas pela Prefeitura de
Contagem para implementar os ODS no Município, com especial enfoque para o Programa Municipal
de Voluntariado “Transformar Contagem”.

Palavras-chave: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; Políticas Públicas; Planejamento; Serviço


Voluntário; Voluntariado Transformador.

1 INTRODUÇÃO

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), declarados pela Organização das


Nações Unidas (ONU), consistem em um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade,
contemplando uma série de Objetivos e metas universais e transformadoras, abrangentes, e de longo
alcance.

Os ODS foram estabelecidos na declaração da ONU chamada “Transformando Nosso Mundo:


a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”1, e correspondem a 17 (dezessete) Objetivos,
compostos de 169 (cento e sessenta e nove) metas a serem alcançadas por todos, até o ano de 2030.

O desenvolvimento sustentável objetivado pela Agenda 2030 pode ser traduzida em cinco
“P’s”, sendo eles os eixos de Pessoas (Erradicar a pobreza e a fome de todas as maneiras
e garantir a dignidade e a igualdade); Prosperidade (Garantir vidas prósperas e plenas, em
harmonia com a natureza); Paz (Promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas); Parcerias

1 Disponível em https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-Agenda2030-completo-pt-
br-2016.pdf. Acesso em 29/01/2020.

9
(Implementar a agenda por meio de uma parceria global sólida); e Planeta (Proteger os recursos
naturais e o clima do nosso planeta para as gerações futuras)1.

Ciente de sua responsabilidade para contribuir na persecução dos Objetivos, o município


de Contagem elaborou um planejamento estratégico com a localização dos ODS em seu território,
a partir de ampla consulta popular divulgada em fevereiro de 2018.

O documento, denominado “Plano Estratégico Contagem 2030. Uma Cidade Inovadora,


Sustentável e Segura”2 estabeleceu um planejamento de longo prazo, estabelecendo 8 (oito) eixos
de desenvolvimento, 59 (cinquenta e nove) metas e 128 (cento e vinte oito) diretrizes a serem
perseguidas tanto pela Administração Municipal, quanto pela sociedade Contagense.

O presente trabalho se propõe a apresentar, de forma objetiva e resumida, os eixos do Plano


Estratégico Contagem 2030”, bem como informações de ações implementadas para a realização
dos ODS.

1 PANORAMA GERAL DO MUNICÍPIO DE CONTAGEM

Contagem é um Município do Estado de Minas Gerais, integrante da Região Metropolitana


de Belo Horizonte e limítrofe com a Capital, com população estimada em aproximadamente
663.855 (seiscentas e sessenta e três mil, oitocentos e cinquenta e cinco) pessoas, conforme
dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 20193.

É o terceiro Município do Estado de Minas Gerais em número de Habitantes, ficando atrás


da capital Belo Horizonte e de Uberlândia, conforme censo realizado no ano de 2010 pelo IBGE.

A área territorial do Município corresponde a aproximadamente de 195 km² (cento e noventa


e cinco quilômetros quadrados), divididos em 08 (oito) Regionais Administrativas (Eldorado,
Industrial, Nacional, Petrolândia, Ressaca, Riacho, Sede Vargem das Flores), que por sua vez são
integradas por 264 (duzentos e sessenta e quatro) bairros.

1 Eixos divulgados pela ONU, disponível em https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/post-2015.html.


Acesso em 29/01/2020.
2 Disponível em http://www.contagem.mg.gov.br/novoportal/wp-content/uploads/2018/08/
PlanoEstrategicoWebESP_210818.pdf . Acesso em 29/01/2020.
3 Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/contagem/panorama. Acesso em 29/01/2020.

10
A economia de Contagem é a terceira maior do Estado de Minas Gerais, considerado pelo
Produto Interno Bruto (PIB) corrente, enquanto o PIB por habitante está na 46ª (quadragésima
sexta) posição do território mineiro1.

O Município de Contagem possui a avaliação de 0,756 (zero virgula setecentos e cinquenta


e seis) no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) divulgados para o ano de 2010,
que o situa na faixa de Municípios com alto desenvolvimento humano, ficando acima mesmo dos
índices estabelecidos para o Estado de Minas Gerais (0,731) e do Brasil (0,727).

Contagem, conforme demonstrado no “Plano Estratégico Contagem 2030”, figura em posição


intermediária de maneira geral, considerados os índices divulgados para o grupo de municípios
com população estimada entre 500.000 (quinhentos mil) e 1.000.000,00 (um milhão) de habitantes.

Diversos são os esforços empreendidos pela Administração Municipal para aumentar os


valores dos indicadores, com o objetivo de fazer com que Contagem pleiteie e mereça o título de
“Capital da Solidariedade”, figurando entre os principais municípios do Brasil, tanto em índices
econômicos quanto em índices sociais e de desenvolvimento.

1 PLANO ESTRATÉGICO CONTAGEM 2030

A Administração Municipal de Contagem, com o objetivo de perseguir a melhora da qualidade


de vida para toda a população Contagense, elaborou o “Plano Estratégico Contagem 2030”, que
consiste em um planejamento de longo prazo que perpassa todas as áreas da gestão municipal,
estabelecidos em 8 (oito) eixos de desenvolvimento, 59 (cinquenta e nove) metas e 128 (cento e
vinte oito) diretrizes.

Os eixos de desenvolvimento foram separados em grupos temáticos, com as respectivas


metas e diretrizes, conforme ficará demonstrado abaixo.

O primeiro eixo de desenvolvimento é denominado “Vida Saudável” e suas metas contemplam


os ODS identificados pelos de número 3 – Saúde e bem estar; 4 – Educação de qualidade; 10
– Redução das desigualdades; 11 – Cidades e comunidades sustentáveis; e 17 – Parcerias
e meios de implementação. São previstas 23 (vinte e três) diretrizes 05 (cinco) metas a

1 Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/contagem/pesquisa/38/47001?tipo=ranking&indicad
or=47001. Acesso em 29/01/2020.

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serem perseguidas até o ano de 2030, contemplando a redução de mortalidade e a cobertura
dos sistemas de saúde no território municipal.

O segundo eixo é denominado “Vida Segura” e contemplam os ODS de número 3


– Saúde e bem estar; 11 – Cidades e comunidades sustentáveis; e 16 – Paz, Justiça e
instituições eficazes. São previstas 08 (oito) diretrizes e 03 (três) metas contemplando a
redução de criminalidade no Município de Contagem.

O terceiro eixo é identificado pelo nominativo “Nova Educação”, e abrange os ODS de


número 1 – Erradicação da Pobreza; 4 – Educação de qualidade; 5 – Igualdade de gênero; 9 –
Indústria, inovação e infraestrutura; 10 – Redução das desigualdades; e 17 Parcerias e meios
de implementação, traduzidos em 14 (quatorze) diretrizes 12 (doze) metas, voltados para a
ampliação do acesso à educação e aumento dos índices de qualidade correspondentes.

O quarto eixo é chamado “Proteção Social” e é o que abrange o maior número ODS,
sendo 12 (doze) no total correspondentes aos objetivos 1 – Erradicação da Pobreza; 2 –
Fome zero e agricultura sustentável; 3 – Saúde e bem estar; 4 – Educação de qualidade; 5 –
Igualdade de gênero; 8 – Trabalho decente e crescimento econômico; 9 – Indústria, inovação
e infraestrutura; 10 – Redução das desigualdades; 11 – Cidades e comunidades sustentáveis;
12 – Consumo e produção responsáveis; 16 – Paz, justiça e instituições eficazes; e 17 –
Parcerias e meios de implementação. São previstas 19 (dezenove) diretrizes substanciadas
em 07 (sete) metas, com a finalidade de reduzir os índices de pobreza, o trabalho infantil, e
de desigualdade social.

Já o quinto eixo é denominado “Desenvolvim ento Sustentável e Urbanização” e


contempla os ODS de número 3 – Saúde e bem estar; 4 – Educação de qualidade; 6 – Água
potável e saneamento; 7 – Energia acessível e limpa; 9 – Indústria, inovação e infraestrutura;
10 – Redução das desigualdades; 11 – Cidades e comunidades sustentáveis; 12 – Consumo
e produção responsáveis; 13 – Ação contra a mudança global do clima; e 15 – Vida terrestre.
Este eixo apresenta 18 (dezoito) diretrizes e 10 (dez) metas, voltadas para universalização do
acesso à agua, esgoto tratado, coleta de resíduos e para tornar Contagem mais arborizada,
acessível e urbanizada.

Por sua vez, o sexto eixo é identificado como “Mobilidade Sustentável”, e contempla os
ODS 3 – Saúde e bem estar; 7 – Energia acessível e limpa; 11 – Cidades e comunidades
sustentáveis; e 13 – Ação contra a mudança global do clima, traduzido em 17 (dezessete)

12
diretrizes e 06 (seis) metas, visando a segurança e qualidade do trânsito, e a adoção de transportes
que utilizam fontes de energia não poluentes.

O eixo “Inovação e Competitividade” é o sétimo previsto no planejamento, e abrange os


ODS de número 5 – Igualdade de gênero; 8 – Trabalho decente e crescimento econômico; 9 –
Indústria, inovação e infraestrutura; e 17 – Parcerias e meios de implementação, prevendo 12
(doze) diretrizes e 07 (sete) metas voltadas para a modernização da economia de Contagem e o
incentivo ao empreendedorismo.

O oitavo e último eixo previsto no “Planejamento Estratégico Contagem 2030” é identificado


sob a denominação “Governança Integrada” e contempla os ODS número 9 – Indústria, inovação e
infraestrutura; 16 – Paz, justiça e instituições eficazes; e 17 – Parcerias e meios de implementação.
Foram estabelecidas 16 (dezesseis) diretrizes e 08 (oito) metas com a finalidade de modernizar a
gestão municipal, o acesso à informação e transparência, e a responsabilidade fiscal de Contagem.

Como se pode verificar, todos os eixos de desenvolvimento são interdisciplinares,


contemplando vários dos ODS estabelecidos pela ONU, correspondendo às ações necessárias
para elevar o Município de Contagem à 10ª (décima) posição no ranking do IDHM entre as cidades
com população estimada entre 500.000 (quinhentos mil) e 1.000.000,00 (um milhão) de habitantes.

1 O PROGRAMA MUNICIPAL TRANSFORMAR CONTAGEM

A ONU reconhece expressamente que para alcançar as medidas ousadas e transformadoras


propostas pela Agenda 2030, é indispensável o estabelecimento de uma parceria global revitalizada
e ampliada, que deverá facilitar o engajamento global maciço em apoio à implementação de todos
os ODS, reunindo governos, sociedade civil, setor privado, o Sistema das Nações Unidas e outros
atores e mobilizando todos os recursos disponíveis1.

No mesmo sentido, a ONU reconhece que o voluntariado é força motriz indispensável para a
consecução dos ODS, ajudando a expandir e mobilizar grupos constituintes e a envolver as
pessoas no planejamento e implementação nacionais para os objetivos de desenvolvimento
sustentável2. Tanto assim que fez adotar a Resolução 70/129, por decisão de sua Assembleia
Geral realizada em 17 de dezembro de 2015, a qual integra expressamente o voluntariado nos

1 Item 60 do documento “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o


Desenvolvimento Sustentável”. Op. Cit.
2 Texto original disponível em: https://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/69/700&Lang=E.
Acesso em 30/01/2020.

13
planos de ação da ONU para a próxima década, em integração para a execução da Agenda 2030.

Consciente da importância do “Plano Estratégico Contagem 2030” e certo de que sem a adesão
da população contagense o planejamento não será efetivo, e não traduzirá uma realidade em que o
plano sai do papel, o Município de Contagem criou uma política própria de fomento ao voluntariado
transformador, através da promulgação da Lei Municipal número 5.080, de 06 de maio de 2020 que
“Institui, no âmbito do Município de Contagem, a Política Municipal do Voluntariado Transformador e
exercício de cidadania”.

A lei acima mencionada foi regulamentada pelo Decreto Municipal número 1.646, de 29 de maio
de 2020, que instituiu o Programa Municipal de Voluntariado “Transformar Contagem”, consolidando e
oficializando importante ação que já vinha sendo desenvolvida no munícipio desde o ano de 2018, e
que passou a status de programa estruturado, que conta com a participação da sociedade civil para o
seu desenvolvimento e execução.

Com efeito, o desenvolvimento e implantação de uma política de Voluntariado Transformador


no Município de Contagem consistia em uma das diretrizes constantes do eixo “Proteção Social”, sem
a qual dificilmente as metas serão cumpridas. E neste ponto particular podemos nos orgulhar de ter
criado um programa altamente inovador e verdadeiro instrumento de participação da sociedade civil e
de transformação social.

Para o alcance dos objetivos estabelecidos no Programa “Transformar Contagem”, são


previstas capacitações tanto de organizações quanto de voluntários e lideranças comunitárias, para a
realização de projetos de efetiva transformação social, além de outras ações devidamente planejadas
com o concurso da sociedade.

Neste ponto, é importante destacar que para a consecução dos objetivos do “Transformar
Contagem” faz-se indispensável a prática do Voluntariado Transformador, assim entendido como
aquele que transita do campo individual para o coletivo, dos grupos isolados para as redes, da critica
negativa para a cooperação e do assistencialismo para o desenvolvimento sustentável1.

Como prova da importância do estabelecimento de uma política própria de voluntariado


transformador, é de se destacar que no atípico ano de 2020, em que o mundo foi assolado pela
pandemia do Coronavírus (COVID-19), o Programa Transformar Contagem contabilizou mais de

1 Definição de Voluntariado Transformador disponível em https://minasvoluntarios.org/voluntarios/. Acesso em


30/01/2020.

14
39.200 (trinta e nove mil e duzentas) horas de ações voluntárias devidamente certificadas,
além de promover a capacitação de mais de 120 (cento e vinte) organizações e mais de 600
(seiscentos) voluntários!

No mesmo sentido, foi firmada uma inédita parceria com o Banco de Alimentos do
Munícipio, com o objetivo de concentrar a logística de distribuição das doações recebidas
nas ações realizadas pelo “Transformar Contagem”, o que permitiu a potencialização dos
resultados tanto de arrecadação como de distribuição.

Outrossim, no curso da pandemia do COVID-19, foram realizadas ações como o Varal


Solidário de Lanches, que consistiu em ação realizada nas Unidades de Pronto Atendimento
(UPA’s) de Contagem/MG, destinada a usuários e colaboradores da rede pública de
saúde, com a distribuição de lanches doados por parceiros e separados por voluntários,
acompanhados de mensagens de apoio, agradecimento e orientações acerca da prevenção
de contágio do coronavírus; bem como a ação do Projeto Acolhei, realizada em conjunto com
a Superintendência de Idosos de Contagem, que selecionou e treinou voluntários na área de
psicologia, para a realização de ações de suporte e apoio junto aos idosos da municipalidade.

Com o mesmo destaque das ações anteriores, foi realizada parceria com a Fundação
de Ensino de Contagem – FUNEC, para a capacitação e conscientização de alunos da
rede pública de ensino, acerca da importância da prática do voluntariado transformador
alinhado com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Nesta ação, foram capacitados
450 (quatrocentos e cinquenta) estudantes, divididos em 03 (três) turnos de treinamento
de 01 (uma) hora cada, com a emissão dos competentes certificados de capacitação e a
contabilização de horas de atividades extracurriculares.

Além dos números acima indicados, merecem destaque também ações como o “Impacto
Social”, “Conexão Transformar” e “Ação Transformar”, bem como o fato de que o município vem
firmando parcerias e alianças estratégicas para o desenvolvimento do Programa Municipal de
Voluntariado Transformar Contagem, como é o caso das organizações E-missão e do Centro
Mineiro de Voluntariado Transformador - Minas Voluntários, parceiros na construção de um
programa estruturante e sustentável para a prática do Voluntariado Transformador no município,
incluindo um curso acadêmico sobre Voluntariado Transformador/ODS, a modernização da
legislação municipal, o desenvolvimento de treinamentos e cursos (organizações e pessoas) e
a realização do VII Fórum Internacional do Voluntariado Transformador - incluindo presenças
e chancelas internacionais - com o objetivo de fomentar e discutir a prática do voluntariado em

15
Contagem e no país, ligada à execução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e as metas do “Plano Estratégico Contagem 2030”.

1 CONCLUSÃO

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, embora de natureza global e


universalmente aplicáveis, dialogam com as políticas e ações nos âmbitos regional e local
como preceituado pela própria ONU.

Em Contagem a conscientização e mobilização em torno dos ODS foi traduzido no


“Plano Estratégico Contagem 2030”, que estabelece uma série de diretrizes e metas que
abrangem toda a Administração Municipal, para a realização dos ODS dentro da realidade
local.

Importante destacar que, apesar do documento ser baseado nos Objetivos de


Desenvolvimento previstos na “Agenda 2030” da ONU, o planejamento foi construído e
dimensionado a partir da resposta da população Contagense à consulta pública “Participa
Contagem”, realizada entre 1º de novembro de 2017 e 08 de dezembro de 2017, que contou
com a participação de 1.846 (um mil, oitocentos e quarenta e seis) munícipes.

Com efeito, as ações e metas previstas no “Plano Estratégico Contagem 2030” somente
poderão ser executadas se contarem com a participação de todos os agentes atuantes do
Município, como o poder público, as empresas, as organizações da sociedade civil e, em
especial, do cidadão Contagense através da prática do Voluntariado Transformador.

Como forma de organizar, orientar e incentivar a adesão da sociedade civil na


consecução dos objetivos propostos no “Plano Estratégico Contagem 2030”, a Administração
Municipal implementou a Política Municipal de Voluntariado Transformador e criou o Programa
de Voluntariado Transformador “Transformar Contagem”, que já soma números expressivos,
como as mais de mais de 39.200 (trinta e nove mil e duzentas) horas de ações voluntárias
transformador devidamente certificadas, além de promover a capacitação de mais de 120
(cento e vinte) organizações e mais de 600 (seiscentos) voluntários até o presente momento,
em que pese as dificuldades impostas à execução do programa, decorrentes dos impactos
da pandemia mundial do Coronavirus (COVID-19).

16
Estamos certas de que este planejamento ampliado, junto ao espírito de solidariedade
da sociedade contagense, serão as forças motrizes, elevando o município a “case” de sucesso
nacional, como cidade solidária, inovadora, sustentável e segura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Perfil do Município de Contagem. Disponível em http://


atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/contagem_mg. Acesso em 30/01/2020.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. CONHEÇA CIDADES E ESTADOS DO BRASIL. Indicador
para o Município de Contagem. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/contagem/panorama.
Acesso em 29/01/2020.
Minas Voluntários. Definição de Voluntariado Transformador disponível em https://minasvoluntarios.org/
voluntarios/. Acesso em 30/01/2020.
Organização das Nações Unidas. Assembléia Geral. Relatório da Sexagésima Nona Sessão.
04/12/2019: The road to dignity by 2030: ending poverty, transforming all lives and protecting the planet.
Synthesis report of the Secretary-General on the post-2015 sustainable development agenda. Disponível
em https://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/69/700&Lang=E. Acesso em 28/10/2019.
Organização das Nações Unidas. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável. Disponível em https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-
Agenda2030-completo-pt-br-2016.pdf. Acesso em 29/01/2020.
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Disponível em https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/post-2015.html. Acesso em 29/01/2020.
Prefeitura de Contagem. Plano Estratégico Contagem 2030. Uma cidade Inovadora Sustentável
e Segura. Maio/2018. Disponível em http://www.contagem.mg.gov.br/novoportal/wp-content/
uploads/2018/08/PlanoEstrategicoWebESP_210818.pdf. Acesso em 29/01/2020.

*Gisela Camargos - Psicóloga. Dez anos de experiência em cargos


administrativos e de Recursos Humanos. Articuladora e Empreendedora
Social , Gestora do Programa Municipal de Voluntariado em Contagem
(Transformar Contagem)

*Luciana Freitas - Bióloga; Idealizadora e Coordenadora Voluntária Geral


do Programa Municipal de Voluntariado em Contagem (Transformar
Contagem)

17
VOLUNTARIADO DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 -

ANÁLISE SOBRE AS OSCS, VAGAS E INSCRIÇÕES VOLUNTÁRIAS

(O CASE ATADOS)

Marina Frota*

O Atados existe desde 2012. Nós mobilizamos pessoas para causas sociais por meio
da plataforma www.atados.com.br que hoje conta com mais de 2500 organizações
sociais e mais de 152 mil pessoas cadastradas no site. A partir de oportunidade claras
de engajamento social, todos os dias pessoas acessam nosso site para se inscrevem em
vagas de voluntariado criadas pelas diferentes organizações sociais.

Em constante contato com nossa rede de organizações e visualizando as mudanças de


comportamento na nossa plataforma, realizamos uma análise dos nossos dados para
entender como o engajamento dos voluntários mudou durante o período de 16 de março a
30 de junho de 2020 e como as oportunidades de apoio às ONGs também se modificaram.

METODOLOGIA:

Observamos o período de 16/03 a 30/06 de 2019 e de 2020 para realizar as análises


do site. Os dados analisados foram retirados da painel Analytics do Google e do nosso
sistema administrativo do site (API). Para identificar quais foram as mudanças no perfil de
vagas criadas em 2020 (pandemia) com 2019 e como o trabalho voluntário se transformou
criamos categorias e subcategorias de forma manual.

18
COMO FICARAM NOSSAS VAGAS?

Prezando pela saúde e cuidado como todos da nossa rede (voluntárias e voluntários, funcionários
de organizações e beneficiados) Encerramos as vagas de voluntariado presenciais, mantendo
abertas somente as ações emergenciais ou à distância.

Apesar de todos os desafios, ainda assim tivemos mais de 500 VAGAS ABERTAS NO
NOSSO SITE.
19
Em 2019: Foram criadas 732 vagas novas.

A maior quantidade de vagas de 2019 era referente à comunicação e eventos*, totalizando


mais da metade das vagas (50,82%)!

*Vagas como designer, fotógrafos e videoMakers, tradutores e web designers, além de


oficinas e mutirões. 

As vagas de 2020:  Foram criadas 523 novas vagas

20
Foram criadas 505 vagas à distância*** - um aumento de 271,3% se comparado
ao período de 2019 quando tivemos 136 nessa categoria! As organizações criaram
mais vagas de Captação de recursos, Programação* e Comunicação**. 

*Como vagas de programadores (desenvolvedores e T.I) 

**Voluntários para mídias sociais e web designers.

***Como as ações presenciais se encerraram em 2020, não tivemos mais vagas


categorizadas como arte e esporte.

COMO FICARAM NOSSAS INSCRIÇÕES DE VOLUNTÁRIOS? 

Nosso site teve um grande aumento de inscrições!  43% a mais do que em  2019.
Acreditamos que isso se deu por diversos fatores.

• SOLIDARIEDADE: Diante de uma grande crise sendo evidenciada, como é o


caso da pandemia de Covid-19, as pessoas sentem um chamado maior para
contribuírem de alguma forma. 

• DESLOCAMENTO: poder realizar as atividades de casa facilita a possibilidade


de engajamento, além de permitir com que pessoas de diferentes regiões se
conectem com as ONGs. 

• TEMPO: Sem precisar se deslocar e sem poder sair de casa, as pessoas


tiveram mais tempo para se dedicar à um trabalho voluntário. 

• LAZER: Muitas pessoas não realizam trabalho voluntário por terem outras
prioridades, como ir ao cinema, sair com amigos, com família, etc. Sem essas
possibilidades, a chance de apoiar um trabalho voluntário torna-se mais
atrativa. 

• CONEXÕES: O trabalho voluntário proporciona empatia e conexão com outras


pessoas, o que foi uma grande demanda do público em um momento de
isolamento social para sentir-se conectado com a sociedade. 

21
Comparativo de Inscrições | Visão Geral 

Os inscritos de 2019, por categorias 

Durante o período analisado em 2019, nós tivemos 11.867 inscrições em vagas de


voluntariado. 

22
Os inscritos de 2020

Durante o período da pandemia de 2020, nós tivemos 17.050 inscrições em vagas


de voluntariado. 

*Tivemos mais inscritos cadastrados em vagas de comunicação, acolhimento, cartas


e administração. 

VAGAS DE PROGRAMAÇÃO

O número de inscritos foi aproximadamente 5X maior do que em 2019.  1052


inscritos em 2020 | 192 inscritos em 2019

O número de vagas foi 3,9x maior.

23
Comparativo de inscrições nas vagas

As inscrições cresceram para as vagas de Acolhimento, Administração, Captação de recursos,


Comunicação e Programação.

Além disso, criamos uma “nova” categoria: Cartas! 

Uma forma de acolher e mobilizar as pessoas de forma remota. 

E muita gente se mobilizou! Com apenas 5 vagas tivemos 2.225 inscrições.

VAGAS COMUNICAÇÃO

Vagas publicadas

24
Número de inscritos

As inscrições quase triplicaram!  5775 inscrições em 2020 e 2122 em 2019, mas a


quantidade de vagas foi bem parecida, 234 vagas em 2020 comparado com 241 vagas
em 2019

ACOLHIMENTO

As inscrições de Acolhimento mais que triplicaram de 2019 (1064) para 2020 (3783)!

Além disso, as principais subcategorias em 2019 foram psicólogo (10),


recreação (8) e outras vagas (18) (atividades lúdicas, cuidador de animais, lar

25
temporário, entre outras). Já em 2020, além de psicólogo (16), as vagas mais criadas
foram de assistente social (8) e companhia digital (10). 

O total de vagas de acolhimento em 2019 foi de 36 e, em 2020, passou para 39. 

COMO FICARAM NOSSOS USUÁRIOS E ACESSOS AO SITE?

Tivemos um crescimento significativo no número de acessos e inscrições no período da


pandemia em comparação com o mesmo período em 2019. Além disso, a quantidade de
usuários na faixa etária de 18 a 24 anos cresceu bastante, o que pode ser explicado
pela paralisação das aulas nas escolas e faculdades a partir de março de 2020.

Panorama 2019 

Panorama 2020 

26
COMO FICARAM NOSSAS ONGS? 

Iniciamos esse ano nosso processo de expansão nacional focando no Paraná e Bahia
inicialmente. Podemos ver que são os estados com mais cadastro de ONGs em 2020, após
São Paulo (atuamos desde 2012) e Rio de Janeiro (desde 2015).

Comparativo ONGs Publicadas

233* ONGs se cadastraram neste período, 49,3% a mais do que no mesmo período de
2019, que tivemos156 ONGs novas cadastradas na plataforma Atados. 

27
*As ONGs precisaram se adaptar ao momento e, de certa forma, foram obrigadas a utilizar
mais ferramentas online. Além disso, tivemos a expansão do Atados como um incentivo
para o cadastro de novas ONGs 

Causas mais acessadas 

Em 2019, as causa mais acessadas foram: Crianças e Jovens (7.178); Combate à pobreza
(4.949); Direitos Humanos (4.776); Cultura, Esportes e Arte (3.208) e Participação Cidadã
(2.956).

Já em 2020 foram: Treinamento Profissional (4.297); Combate à pobreza (2.669); Educação


(2.462); Mulheres (2.373) e Direitos Humanos (2.214).*

Nota Final:

A partir do voluntariado vemos como as pessoas também se transformam e conhecem


mais sobre uma causa, aumentando seu engajamento e colaborando com a luta de
diversas formas! 

Compartilhando saberes, mudando pequenas atitudes, no ativismo, cobrando e


pressionando o estado, entre tantas outras formas que podemos e devemos atuar como
agente transformador e cidadãos responsáveis socialmente.

Agradecemos a todos(as) voluntários(as) comprometidos com as OSCs e


que trabalharam com comprometimento e seriedade durante a pandemia!

*Marina Frota, 31 anos, formada em Arquitetura e Urbanismo, é diretora na


ONG Atados onde trabalha desde 2013. Atua com gestão e mobilização de
voluntários desde 2010, primeiro como voluntária coordenadora na ONG
TETO, onde atuou por dois anos e depois em diversos projetos na ONG
Atados, coordenando voluntários de projetos, desenvolvendo metodologias e
capacitando organizações sociais parceiras.

28
A CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA E DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO
HUMANISTA DAS NOVAS GERAÇÕES

Antonio Carlos Cabral Aguiar*

Entre as diversas espécies que povoam a Terra, nenhuma possui características tão
especiais quanto a espécie humana. No mundo animal, movidos unicamente pelo instinto,
os filhotes, há pouco de nascer, se movem e se responsabilizam pelo próprio sustento.
Também não vão muito além disso, se limitando ao cumprimento da Lei de Conservação
da Espécie. Por outro lado, são múltiplos os campos de desenvolvimento que se abrem
para o “ filhote humano”. É voz corrente que não se nasce sabendo; é preciso que se lhe
ensine; os processos de aprendizagem que envolvem o ser humano são longos e lentos.

A vida humana sempre foi um transitar entre a ignorância e o saber. Esse é o grande trajeto
que através dos tempos vem sendo cumprido no processo de evolução da humanidade.
E que se reproduz em cada indivíduo da espécie no trecho compreendido entre a vida
e a morte. A ignorância, como ausência de conhecimentos, é o não ser, é o nada. Por
outro lado, ser significa saber; quanto mais se sabe, mais se é. O homem desprovido de
conhecimentos é como um recipiente vazio, um frasco sem essência. O conhecimento
amplia a vida. Não há nada mais poderoso que o conhecimento. O espírito humano é ávido
de saber. O saber deve ser a razão primordial da existência humana; a primeira e a última
missão do homem na Terra, ou seja, estamos aqui para aprender!

Para cumprir esse processo rumo ao conhecimento, nós, os humanos, necessitamos


de preceptores, de guias, de docentes, de professores, de pessoas experientes que nos
ensinem, que nos motivem a aprender, que nos estimulem com sua sabedoria e seus bons
exemplos, a sermos úteis, a fazer o bem, a nos aperfeiçoarmos.

29
São imensas as possibilidades humanas. Somos dotados de um maravilhoso
mecanismo psicológico, formado pela inteligência e pela sensibilidade, com o
qual se podem realizar prodígios, além de uma consciência onde se registram os
conhecimentos, os grandes sentimentos, os fatos e os feitos relevantes de nossa
vida ao longo de sua trajetória.

Uma prova inconteste do quanto pode a inteligência humana é o estágio de progresso


tecnológico e científico que presenciamos e do qual nos beneficiamos em forma de
conforto e prolongamento da vida. Os meios modernos de comunicação e transporte
encurtaram as distâncias entre lugares e pessoas situadas nos mais diversos rincões
do planeta. Por outro lado a convivência entre os humanos e entre esses e a natureza,
nem de longe acompanhou os avanços das realizações materiais. Fato é que
imperam o egoísmo, a indiferença, o separatismo, o desentendimento, e sobretudo
a violência, como sinais de que a evolução espiritual retrocedeu, ou na melhor das
hipóteses está estancada. A que mais se teme hoje, senão ao próprio ser humano?
Que pensamentos, que intenções, estão encastelados em cada mente, tal que o ente
humano se constitui em fator de risco para si mesmo e para os demais? Vivemos
períodos de grande inquietação e incerteza quanto ao futuro de nossa espécie.
Imperam o desrespeito e a desconfiança. É voz corrente que vivemos uma crise
moral, pela ausência de valores humanos fundamentais para a vida em sociedade.

As novas gerações sempre foram vistas como esperança e possibilidade do surgimento


de uma nova humanidade, mais racional, mais sensível, mais consciente dos deveres
para consigo mesmo e para com a sociedade onde vive, e conseqüentemente mais
ética, mais fraterna, mais colaboradora, mais pacífica.

Porém, isso não se alcança por geração espontânea; é matéria de


aprendizagem; precisa ser ensinado. A juventude requer ser orientada
amplamente; e a base, os fundamentos da vida, se estabelecem na primeira
infância; e aí tem papel preponderante a família como meio primordial para
a formação de valores humanos, como o gosto pela vida, o cuidado consigo

30
mesmo, o respeito a si mesmo e aos demais, o estímulo ao saber, o estímulo
à prática do bem, a responsabilidade, a solidariedade, a amizade, a gratidão, a
obediência às normas de conduta social, etc.

Torna-se imenso o déficit na formação humana quando falta a família como berço
de valores, déficit esse que pode se dar pela ausência do progenitor (a) , por
inconsciência quanto ao seu papel de educador (a) , ou por indiferença dos pais
ou tutores em relação aos menores. Que futuro se pode esperar de uma criança
desprovida de proteção, de ensinamentos e de afeto? Disso se conclui que há
que se ter um cuidado especial com as crianças. Em um país de tantas demandas
sociais como o nosso, haverá prioridade maior que o atendimento à infância? Aos
brasileirinhos que estão chegando para a vida?

Assim como os grandes edifícios são construídos sobre forte alicerces, os alicerces
da vida adulta se formam na infância. Os grandes rios surgem dos “ olhos d’ água”,
das nascentes, e a partir daí, durante seu curso vão recebendo afluentes e
aumentando seu caudal. Assim como devemos proteger as nascentes dos rios e
preservá-las de contaminações, por analogia, deve-se cuidar não só da saúde física
das crianças., como também de sua saúde psicológica, protegendo seus férteis
campos mentais de influências perniciosas, para que se tornem adultos, como se
diz hoje, do bem.

As crianças estão indo cada vez mais cedo para a escola, e no caso das creches, a
partir dos 3 meses de vida. É um acontecimento positivo. E lá permanecem sob os
cuidados de terceiros para que as mães possam realizar seus trabalhos fora do lar.
Quanta responsabilidade a cargo da escola, frente ao trabalho a ser realizado no
trato com uma matéria prima tão delicada e tão nobre! Fazer as vezes dos pais, da
família... Cuidar e educar: essa é a missão! Uma tarefa de grande relevância, de grande
complexidade, transcendente. Não se está frente somente a um ser físico, biológico,
mas sobretudo frente a um ser espiritual, que vem a esse mundo para cumprir seu
processo evolutivo. Exercer essa missão na sua amplitude, não é tarefa para qualquer
um: é fundamental a posse de conhecimentos referentes à essência humana.

31
Necessita-se de educador formado em “pedagogia da essência”. Há um corpo
a ser desenvolvido para crescer com saúde e uma alma a ser formada com
elementos que lhe confiram saúde psicológica, pureza e nobreza. Do exposto
surge a compreensão que o professor dos primeiros anos deve passar por uma
capacitação especial; e a esse professor deve ser dada grande importância
e valorização. É uma mudança de paradigma, pois ainda se sub-valoriza esse
educador. É nessa fase da vida que se forma o ser humano, o ser integral.

Carlos Bernardo Gonzàlez Pecotche, criador da Logosofia e da Pedagogia


aplicada nos Colégios Logosóficos, hierarquiza esses Professores / Educadores
referindo-se a eles da seguinte forma: “A criança é argila modelável onde uma mão
amorosa, firme e segura pode ir “desenhando” perfis formosos, polindo arestas
formadas em sua breve vida, ou corrigindo falhas de uma psicologia anterior.
Depois do aperfeiçoamento individual, a formação do caráter de uma criança é o
trabalho de maior transcendência e responsabilidade que um ser pode assumir”.
“O relacionamento entre professor e aluno não deve morrer ao terminar a aula.
O aluno precisa experimentar, a todo momento, a influência fecunda do ensino
que recebe, tornando-se o professor, dessa forma, o seu melhor amigo e um
permanente conselheiro.”

É fundamental o conhecimento do maravilhoso mecanismo psicológico do qual


é dotado o ser humano, para que se possam atingir as realizações máximas
conferidas à espécie: mecanismo esse, constituído da inteligência com suas
funções, da sensibilidade com suas funções, e o instinto, que atende à Lei de
Conservação. O docente desenvolve essa capacitação à medida que penetra
no seu mundo interno para conhecer-se a si mesmo e assim habilitar-se para
conhecer as realidades internas dos demais.

Segundo Paulo Volker, Bacharel em Filosofia, em seu artigo publicado na


Revista BIS - SINEP/MG - Nov e Dez/ 2014, “ quanto mais os educadores e
alunos estiverem sensíveis, atentos, suscetíveis e inseridos no processo de
autoconhecimento, mais a escola será competente no que diz respeito aos
processo de hetero - conhecimento. ( conhecimento do outro). E acrescenta:

32
“Educação é, sem dúvida, conhecer o mundo externo, e também o mundo de si
mesmo, o mundo interno.”
“ É necessário uma matéria, um conteúdo, uma disciplina chamada mundo
interior nos currículos escolares”

“ Razão e sensibilidade são parte e expressão da pessoa”.

A educação da mente e da sensibilidade são inerentes à formação humana.


É a sensibilidade que nos permite apreciar o belo que existe na Natureza e as
qualidades da alma humana, muitas vezes chamadas de beleza interior. É na
sensibilidade onde se geram os sentimentos sãos, puros, nobres, dentre eles a
amizade e gratidão. É também o centro promotor do afeto, princípio fixador das
relações humanas, afeto esse que predispõe à paciência. e à tolerância. Daí se
originam a generosidade, o desprendimento e os estímulos à cooperação.

A mente sem a expressão do sentir, é instável, é vulnerável, levando a conduta


a oscilar entre a zona do bem e a zona do mal. Há que educar a mente e a
sensibilidade, para estabelecer-se o equilíbrio psicológico. Cresce o número de
pensadores, filósofos e educadores que atestam a existência de um mundo
interno individual do ser humano, e a necessidade de sua formação integral.
Daniel Goleman, estudioso do tema e autor de livros, afirma que “ o lugar dos
sentimentos na vida mental tem ficado, surpreendentemente, descuidado pela
investigação ao longo dos anos. Um elevado quociente intelectual não é suficiente
para triunfar na vida; daí a importância de desenvolver a inteligência emocional
em idades precoces, para esperar uma cidadania apta para a convivência e o
progresso, no médio e no longo prazo”.

Em artigo publicado no Jornal La Prensa, do Panamá, em 8 de setembro de


2012, Eduardo Espino López, realça a importância da educação na formação
de melhores cidadãos e a necessidade de se iniciar esse processo na primeira
infância. “ A educação é o conjunto de ações encaminhadas para a preparação
de todo ser humano em sua vida futura, através da aquisição de habilidades
e capacidades intelectuais, emocionais e morais, com o fim de manter a
convivência social e as expressões culturais, assim como inovar e modificar o

33
entorno para a sobrevivência do indivíduo e da espécie. É um processo contínuo
de aprendizagem de costumes e conhecimentos, de adaptações modificadoras
do ambiente sociocultural e cujo resultado é a harmonia social.
A etapa da primeira infância é o momento crítico em que o estímulo e a ativação
das qualidades neuro-cognitivas fundamentais preparam a esse futuro adulto
para uma vida produtiva e proveitosa para si mesmo e para a sociedade em
geral. Hoje em dia se dá ênfase na educação da criança pré-escolar, de 1 a 5
anos, como instrumento fundamental para uma sociedade de bem estar que
dever começar com o desenvolvimento pleno e harmonioso das capacidades
individuais nos primeiros anos de vida. Não há nem haverá sociedade de bem
estar que possa substituir o desgastado estado de bem estar vigente se não se
cultiva moral, emocional e intelectualmente a criança”
E segue em outro trecho:

“A alfabetização emocional é um recurso fundamental para o pleno


desenvolvimento do potencial da criança e como prevenção primária contra as
desordens de personalidade e os transtornos de conduta graves...
...O infante no período pré-escolar deve aprender não só a alfabetização
acadêmica em áreas como linguagem e aritmética, senão a socializar
corretamente de maneira que, desde cedo, tenha um repertório de condutas,
atitudes e reações afetivas voltadas para o bom uso de suas habilidades para
benefício do âmbito comunitário no qual se desenvolve . Formar uma fila,
esperar sua vez para falar, estar a tom com a limpeza de sua área de trabalho,
tolerar a expressão de seus semelhantes e resolver conflitos, com uma
atitude conciliadora e assertiva, constituem habilidades emocionais e sociais
compreendidas na chamada “ alfabetização emocional” e a “ inteligência
emocional”. Elas permitem que um indivíduo incida positivamente no seu meio,
expressando adequadamente suas necessidades e desacordos; é a base de
uma cidadania com competências para desenvolver a vida em democracia
e promover iniciativas inovadoras para a mudança mediante uma liderança
positiva”.

Há um clamor geral na sociedade brasileira sinalizando que a educação deve


ser a prioridade 1 entre as políticas públicas. A saúde e a segurança pública

34
se beneficiam enormemente com a melhoria do desempenho da educação.
Urge a necessidade de mobilização da sociedade brasileira em torno do tema,
produzindo uma grande aliança nacional pela educação.
Em Minas Gerais, em 2006, teve seu início a Conspiração Mineira pela Educação,
como aliança inter -setorial, aproximando o meio empresarial ( 2º setor da
economia), o meio fundacional ( 3º setor) e o setor público ( 1º setor), visando
contribuir para a melhoria da qualidade da escola pública fundamental no
referido Estado. É um Movimento convocatório das diversas lideranças sociais
e dos indivíduos conscientes para transcenderem, do plano dos diagnósticos
para os planos dos melhoramentos, em regime de intensa cooperação.

Há que se resgatar o conceito elevado de outrora, tanto da escola pública,


quanto o do professor. Não se pode deixar de salientar a importância do
professor nos processos de aprendizagem, quer na formação humanista, quer
na formação profissional das novas gerações. É fundamental que esse ator se
considere como tal e também que a sociedade o reconheça, dando-lhe seu
justo valor.

O professor que ensina e educa, atende, não só a necessidade de seu


provimento financeiro, e tanto ou mais que isso, a um chamado interno,
motivado por vocação, por um ideal, por uma aptidão natural. É esse professor
que faz a diferença.

Se fôssemos elaborar o arquétipo desse professor que se imortaliza na vida


de seu ex-aluno, sua modelagem seria revestida de traços proeminentes,
tais como: a alegria, o entusiasmo, o gosto pelo que faz, o conhecimento e
domínio do assunto que ensina, a criatividade no preparo da aula, o poder de
motivação, a pontualidade, a assiduidade, a voz firme e serena, impregnada
de afeto denotando controle total em relação ao ambiente da sala, dirigindo-se
aos alunos com respeito e paciência. Podem-se acrescentar a esses traços
alguns outros de grande efeito na vida dos alunos, como a elegância simples e
sóbria de sua vestimenta, o vocabulário rico, a clareza na expressão do que diz
e a capacidade de corrigir as condutas dos alunos com firmeza e tato, de modo

35
a não constranger, a não menosprezar; enfim para que recebam esses
reparos como uma porção de bem para suas vidas. Não se trata de imaginar
um super- homem ou uma super-mulher concebidos como uma imagem de
ficção: é possível caminhar rumo ao arquétipo quando o educador se dispõe a
aperfeiçoar-se a si mesmo. Temos recordações de professores que nos deram
exemplos edificantes como os citados, cujos valores adotamos para as nossas
vidas.

Mirando a escola como espaço de ensino e aprendizagem, ela assume papel


cada vez mais importante para a formação humanista, para a formação cidadã
e para o desenvolvimento de habilidades manuais e intelectuais fundamentais
para a instrução profissional que receberá adiante em sua trajetória escolar. A
escola é também um local de proteção física e de proteção da mente, pois se
sabe fartamente os riscos que corre uma mente ociosa, suscetível a influências
indesejáveis. Há uma tendência em nosso País de se estender o tempo de
permanência das crianças, dos adolescentes e dos jovens, nos espaços da
escola. Há muito de positivo nisso! É uma pena, por um lado, por que reduz
o tempo de convivência entre os filhos e sua família. Por outro lado há que se
salientar que os pais, por sua vez, via de regra, estão fora de casa nos horários
do dia. Acaba sendo um alívio para as famílias ter os filhos na escola, do
que tê-los em casa, ou pior ainda, na rua, sem assessoramento. É desejável
que os alunos façam o dever de casa na própria escola, para não ocupar o
tempo da noite, que deve ser o momento reservado para o convívio da família
e para o descanso. Além do mais, é uma realidade brasileira que a grande
maioria dos pais e responsáveis tem pouca escolaridade e assim sendo, não
tem conhecimento para auxiliar no “para-casa”.

O segundo turno na escola também se configura em um campo de


oportunidades para o exercício e desenvolvimento de aptidões esportivas,
culturais, musicais e artísticas. E também para a prática do que se pode
chamar de ciências do cotidiano, como gastronomia, jardinagem, horta,
instalações elétricas e hidráulicas, manutenção predial, etc.; além de outros
complementos como a educação nutricional, educação para o trânsito,
primeiros socorros, educacional ambiental, educação financeira, educação para

36
Assim é que, para ser considerado juridicamente como serviço voluntário, nos
o empreendedorismo, educação para o exercício da cidadania com base nos direitos
termos da Lei Federal número 9.608/1998, a atividade deve ser precedida da
e deveres, etc.
formalização do termo de adesão, e deve contar com outros requisitos, a seguir
explicitados.
Uma escola com tantas funções e contribuições para a instrução, educação e ampla
O primeirodas
formação ponto é que
novas a atividade
gerações voluntária,
é digna para os fins
de um destaque da lei, no
especial somente
cenáriopode ser e
urbano
prestada por pessoa
no meio social. Devefísica, não respeitada
ser vista, se admitindo para o conceito
e querida, de serviço
como quase voluntário à
um monumento
as atividades
cultura, prestadas
um verdadeiro por uma da
patrimônio organização,
humanidade. privada ou pública,
No aspecto físico hácom
queou sem
associar
funcionalidade,
fins conforto,
lucrativos, dotada simplicidade
ou não e beleza,
de personalidade aspectos
jurídica que em resumo
(“Organização A”), a podem
outra
caracterizar uma
organização “ Escola Bela”.
(“Organização B”).Uma
Neste escola bonita,olimpa,
exemplo, ajardinada,
vínculo florida,
jurídico será denota
firmado
o cuidado
entre e apreço
a pessoa física que se tem por ela,
e a “Organização não sópodendo
A”, jamais dos usuários imediatos, serviço
ser considerado como da
comunidade onde ela está inserida. A estética impressiona a sensibilidade que é a
voluntário prestado para a “Organização B”.
que permite apreciar o belo. Há que trazer a natureza para o espaço da escola. A
Já o Decreto Federal, ao regulamentar o texto da Lei Federal, estabelece
consciência ambiental se exerce na sua amplitude quando se aliam a compreensão
expressamente que a atividade voluntária (denominação diversa da Lei Federal)
de que a natureza é a base da vida e o amor que se tem por ela. Quem cuida, ama,
pode
e quem serama,
prestada
cuida.porApessoas
impressãofísicas, isolada
positiva queoucausa
conjuntamente,
esse conjunto indodealém da
fatores,
determinação da lei. de bem estar, que estimula aos usufrutuários diretos e indiretos
promove um estado
O
da segundo ponto de
escola a admirar destaque esse
e reproduzir é quepadrãoos beneficiários
nos espaçosdo ondeserviço
vivem,voluntário
trabalham
e transitam.
somente A escola
podem deve serpúblicas
ser entidades considerada como
(escolas extensão
públicas da própria
e hospitais casa,por
públicos, pois
nela se vive
exemplo) ou grande parteprivadas
instituições do tempo; sem háfins
quelucrativos
cuidar, sentir-se parte dela.
(associações Por outro
e fundações,
lado,exemplo).
por a casa, o lar, é o primeiro ambiente onde se pode reproduzir tudo de bom
que se aprende na escola. Esta é uma grande questão social a ser abordada e
Ainda em relação às instituições privadas sem fins lucrativos, a legislação
aperfeiçoada na escola: a responsabilidade de cada um em relação ao bem público,
estabelece que somente aquelas que tenham objetivos cívicos, culturais,
construindo a consciência de pertencimento. Cada um usa, desfruta, contempla
educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa podem receber
os espaços comuns, de uso geral. A quase totalidade da população brasileira vive
pessoas prestadoras
nas cidades. de serviçoasvoluntário.
Como transformar cidades emDessa locaisforma, entidades
agradáveis para se que não A
viver?
possuam
imagem da quaisquer dospode
escola bela objetivos listadosà dentre
se estender suasà calçada
casa bela, atribuições,
bela,não podem,
à rua bela, à
legalmente,
praça bela, aoserparque
beneficiárias de serviço
belo, enfim à cidade voluntário.
bela. E isso tudo pode e deve ser matéria
de ensinamento
Novamente em erelação
estímulo aoà destinatário
partir da escola. Há que cuidar
do serviço do bem
voluntário (ou comum,
atividadedo
bem público.
voluntária) o Decreto Federal cria nova figura jurídica, de forma diversa da Lei
Federal, na medida em que estabelece ainda na conceituação da “atividade
Falou-se do ambiente físico, mas há outro tipo de ambiente que é o ambiente
voluntária”, que a atividade pode ser prestada também para pessoa física como
mental e psicológico da escola e isso se refere às pessoas que nela estão.
beneficiária, alternativa esta que, conforme visto não é admitida pelo texto da Lei
Tudo deve respirar e refletir educação na mais completa harmonia, sob a
Federal número 9.608/1998.

37
regência do Diretor, em perfeita sintonia com seus colaboradores diretos,
funcionários e professores, tal que todos estejam imbuídos do papel de
educadores. Desde o portão de entrada até a sala de aula, passando pela cantina,
pelos corredores, pelos banheiros, pelos pátios, pela biblioteca, tudo e todos que
ali trabalham são objetos de observação e referência no processo educativo. Há
que se criar um clima, um ambiente mental e psicológico propicio ao ensino e à
aprendizagem. A escola deve ser um lugar agradável para a estada de todos.
Ordem, disciplina, organização, confiança e acima de tudo o respeito, são os
componentes fundamentais para a formação do ambiente. A alegria, o entusiasmo
e a boa vontade geram o espírito de colaboração, envolvendo docentes e discentes
em um trabalho profícuo e construtivo.

Essa escola idealizada buscará incessantemente aproximar-se das famílias dos


alunos, criando oportunidades de trazê-los para o ambiente escolar, compartilhando
projetos e suas culminâncias. É fundamental, como já dissemos, a participação
da família como protagonista na educação de seu filhos. Contudo, há que se levar
em conta a enorme carência de conhecimentos, de elementos, de conceitos,
para que esses pais eduquem bem a seus filhos. A escola se torna também
o espaço de aprendizagem para os pais, ao se configurar como uma escola-
integrada. Abre-se um campo extraordinário para parcerias com organizações
voluntárias, integrantes do 3ª setor, em horários adequados, para capacitarem os
pais, em diversas disciplinas. Aí, teremos o melhor dos mundos, escola, família
e sociedade, trabalhando em parceria, em conjunto, para a formação de uma
humanidade melhor.

Culminando, essa escola ideal deve, sobretudo, ensinar o educando a pensar,


a desenvolver o pensamento crítico, que leve a conta a realidade individual de
cada um, sem perder de vista a harmonização com o todo, com a coletividade.
Há que se formar consciências. As gerações do presente e do futuro requerem
uma ampla preparação para a vida, para enfrentarem com inteligência e
precisão, os problemas cada vez mais complexos que se apresentam à
humanidade. Não podemos mais esperar de uns poucos que pensem em

38
benefício dos demais. Há que aumentar sempre o contingente de seres
pensantes, responsáveis, conscientes, altruístas.
Termino este texto recordando González Pecotche: “Hoje, mais que nunca, a
humanidade necessita de seres conscientes, que pensem, que pensem bem,
para que possam ensinar também a outros a pensar; só assim a humanidade
reencontrará a paz e a felicidade que perdeu”.

*Antônio Cabral Aguiar - Engenheiro Civil e Sanitarista. Diretor


Financeiro da Federação Mineira de Fundações e Associações
de Direito Privado - FUNDAMIG. Membro da Conspiração Mineira
pela Educação. Membro do Conselho Empresarial da Educação
da Associação Comercial de Minas. Conselheiro da Fundação
Pitágoras, da Fundação Logosófica, da EDUCORE e representante
da FUNDAMIG no Fórum Estadual Permanente de Educação de
Minas Gerais – FEPE-MG.

39
O VOLUNTARIADO TRANSFORMADOR NAS PEQUENAS E MICRO EMPRESAS:
UMA NOVA ÓTICA NO MUNDO EM PANDEMIA

*Por Danusa Coutinho e Bruno Morais

O cenário do ano de 2020 foi marcante para todo o mundo no enfrentamento


da pandemia do COVID-19. Todos foram fortemente impactados e a humanidade
passou a ter que lidar com o medo, o distanciamento social e a crise no setor
da saúde. A economia também sofreu duras consequências, forçando diversas
empresas a reestruturarem a sua forma de desenvolver suas relações comerciais.

Conforme António Guterres, secretário-geral das Nações Unida, “a pandemia virou


ao avesso o mundo do trabalho. Todos os trabalhadores, todos os negócios e todos
os cantos do mundo foram afetados1”. E é nesse campo repleto de demandas
diversas, que a solidariedade e o voluntariado se tornaram peças fundamentais
para alcançar quem necessita de assistência imediata, ou dar espaço para aqueles
que se sentiram impulsionados a doar o seu tempo, trabalho e talento às causas
sociais emergentes.

Porém, como realizar o voluntariado num ambiente envolvido pelo medo da


proximidade entre as pessoas, diferentemente dos conhecidos moldes até
então, tradicionais? Como exercer o voluntariado transformador sem cair no
assistencialismo, aprendendo uma maneira de prestar um apoio que seja
emancipatório, ainda que junto da caridade necessária e legítima em tempos de
tantas perdas? E de que forma o voluntariado transformador pode ter espaço
perante o distanciamento físico entre as pessoas?

Espera-se que as grandes e médias empresas tenham mais bagagem para


suportar esse momento, e que consigam manter suas atividades no campo social
com os seus empregados e instituições parceiras. Porém, como será que as micro
e pequenas empresas, conseguirão se encaixar nesse contexto?

1 Em 19 de junho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, publicou um documento político chamado "A Covid-19
e o Mundo do Trabalho". Por meio de uma mensagem de vídeo sobre, o chefe da ONU afirma que "todos os trabalhadores, todos os
negócios e todos os cantos do mundo foram afetados." Fonte https://news.un.org/pt/story/2020/06/1717472 . Acesso em 26/10/20

40
O objetivo desse artigo é fazer um recorte sobre a nova ótica do exercício do
voluntariado transformador e o papel das micro e pequenas empresas no cenário
de pandemia, sugerindo formas de atuação para se fortalecerem por meio de
parcerias solidárias com outras empresas e comunidade local.

A reflexão desse artigo está aberta. Não se pretende apontar receitas, muito
menos entregar modelos, talvez porque ainda seja cedo para propô-los. Sugere-
se, entretanto, alguns apontamentos, pois o que queremos é levar o leitor a
pensar alternativas viáveis de fortalecimento do voluntariado transformador no
apoio aos pequenos negócios locais, visto sua enorme importância no país.

Conceito do voluntariado transformador

Desde o final da década de 90 o movimento de voluntariado corporativo se


fortalece, adapta e aprimora. O tempo mostrou que o Voluntariado Corporativo
consiste em uma forma das pessoas jurídicas exercerem uma “cidadania
estrutural”, ou seja: todos os recursos, laços, pessoas e processos de uma
empresa (ou instituição) podem estar envolvidos numa relação de cooperação
de uma forma bastante orgânica (ou assim deveria ser) com a comunidade.

Recentemente passamos a adotar um conceito de voluntariado que ampliou sua


versão para o modelo “transformador”, e a utilização dessa terminologia consiste
em promover um voluntariado que transita do campo individual para o coletivo,
dos grupos isolados para as redes, da crítica negativa para a cooperação e do
assistencialismo para o desenvolvimento sustentável.

Perseguir essa terminologia se faz importante para propor um voluntariado que


vá para além de uma experiência social, ou socializante pontual, que seja uma
experiência eficiente de mudança de patamares, ainda que modestos, em cada
iniciativa proposta. E nesse sentido devem estar claros quais os patamares,
ou resultados, que se quer atingir para os proponentes, intervenientes e para
a comunidade ou instituição social que deixam de ser “recebedores”, “público
alvo”, ou beneficiários, para serem participantes, parceiros e cooperadores.
Ou seja, no voluntariado transformador se propõe dar um salto de atitude e
gestão que por vezes vai significar um repensar do modelo de “grandes ações

41
sociais” e eventos, normalmente voltados para causar uma boa imagem sem
necessariamente propor ações alinhadas à real demanda local, organizadas,
estratégicas ou focadas em alguma transformação permanente.

Parece simples mais não é: uma das problemáticas do voluntariado transformador


implica em deixar de capturar a intervenção social, ou até mesmo as pessoas
mais vulneráveis, para então colocar a gestão social no centro, e o negócio da
empresa e seus participantes a serviço do social. Num voluntariado transformador
quem está no centro não é o CEO da empresa, ainda que a ação seja proposta por
ele, mas a comunidade e demais parceiros envolvidos. Todos os representantes
sentam-se na “mesa” em mesmo grau de voz e importância que o CEO, ou que o
seu representante corporativo, para traçarem planos que se complementam aos
objetivos comuns.

Nesse sentido, o nosso contexto atual pede adaptação imediata. Grande parte
das intervenções sociais precisam se propor transformadoras, e toda interação no
nível dos negócios precisam ser solidárias e colaborativas.

É fato que o vírus já nos transformou. Precisamos dar conta disso e participar
desse momento de acordo com o “convite” que a Terra está nos fazendo. E a
história que vamos construir precisa ativamente do voluntariado transformador.

Potencial das pequenas e micro empresas em tempo de pandemia

As Micro, pequenas e médias empresas são essenciais para a economia. De


acordo com os dados1 fornecidos pelo Conselho Internacional para Pequenas
Empresas (ICSB), as micro, pequenas e médias empresas (MPME) formais e
informais representam mais de 90% do total de empresas no Brasil e contribuem,
em média, em até 70% do total de empregos e 50% do PIB.

Considerando o contexto Brasileiro, de acordo com o SEBRAE , as micro e


pequenas empresas geram 27% do PIB do país. Em dez anos, os valores da
produção gerada pelos pequenos negócios saltaram de R$ 144 bilhões para R$
599 bilhões. É um crescimento muito significativo e que representa um grande
salto de produtividade em um país em desenvolvimento.

1 Organização das Nações Unidas: https://news.un.org/pt/story/2019/06/1678101. Acesso em 20/06/2020.

42
Alguns números 1 comprovam a influência econômica dos pequenos negócios na
economia brasileira pré-pandemia:

• 27% do PIB;

• 52% dos empregos com carteira assinada;

• 40% dos salários pagos;

• 8,9 milhões de micro e pequenas empresas.

Da mesma forma que essas estatísticas mostram a relevância da grande fatia


que representam na economia de mercado, sabemos que as micro e pequenas
empresas, apresentam significativa fragilidade diante das crises econômicas.
Essa fragilidade pode ser comprovada pelos estudos do censo demográfico
das empresas no Brasil2. Conforme último relatório de 2015, um terço das micro
empresas permaneceram no mercado e mais de cinquenta por cento das pequenas
fecharam as portas no primeiro ano de abertura.

A pandemia desvendou essa vulnerabilidade causando efeitos catastróficos


principalmente na saúde econômica das micro e pequenas empresas brasileiras.
“Muitos negócios tiveram suas operações encerradas temporariamente,
enquanto outros encerraram por definitivo, gerando assim demissões e queda
brusca no faturamento” (Oliveira, 2020)3. A falta de uma direção ainda deixou
os empreendedores e os colaboradores inseguros em seus postos de trabalho,
gerando uma profunda crise de confiança no mercado.
Porém, nem tudo é desastroso e novas frentes de ação podem e devem ser
vislumbradas. Conforme afirmou Justin Trudeau4, primeiro-ministro do Canadá,

1 Sebrae: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/mt/noticias/micro-e-pequenas-
empresas-geram-27-do-pib-do-brasil,ad0fc70646467410VgnVCM2000003c74010aRCRD. Acesso em
30/06/2020.

2 O estudo “Demografia das Empresas” do IBGE fornece os valores e as taxas de entrada, saída e


sobrevivência das empresas no mercado, segundo o porte e a atividade econômica das empresas, assim como o sexo
e o nível de escolaridade do pessoal ocupado assalariado nessas empresas, por evento demográfico. Demografia das
Empresas - https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/comercio/9068-demografia-das-empresas.html?=&t=o-
que-e . Acesso em 06/11/20.

3 OLIVEIRA, Caroline Silva de. A COVID-19 e o impacto econômico nas micro e pequenas empresas.
Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 10, pp. 39-56. Junho de 2020.ISSN:
2448-0959, Link: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/impacto-economico . Acesso em 26/10/20

4 Fonte: https://brasiliainfoco.com/covid-19-e-necessario-agir-agora-ou-arriscar-devastacao-inimaginavel-diz-
chefe-da-onu/ . Acesso em 15/10/2020

43
a COVID-19, além de um desafio sem precedentes para o mundo moderno, é
também uma oportunidade única para construir um futuro melhor, criar um mundo
seguro e próspero”.

Repensar a retomada dos negócios das pequenas e micro empresas envolverá


então, pactos territoriais coletivos que tenham na sua origem principalmente
atitudes de boa vontade das pessoas e a participação inovadora das partes
interessadas.

“Ao refletir sobre soluções centradas nas pessoas, seja para enfrentar
os impactos cumulativos da pandemia ou sua indispensabilidade
no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
ONU (ODS), percebemos o quão difícil é, mas fundamental. Como
estabelecer mecanismos duradouros para estimular e consolidar o
engajamento cívico?” 1

As oportunidades de prosperar aumentam quando os laços e vínculos com a


comunidade local, com as redes de parceiros, com entidades sociais, e com o
poder público se estreitam. Tudo isso tende a ser muito positivo, especialmente
no momento atual em que a solidariedade e a cooperação estão no coração da
subsistência dos negócios. A esses laços podemos dar o nome de pacto territorial
entre as partes interessadas.

Pactos territoriais e a Agenda 2030 nas micro e pequenas empresas

Realizar ações de Responsabilidade Social, ou de Investimento Social Privado


(ISP) não é uma oportunidade apenas para as grandes empresas. As menores
também podem fazer isso atuando no contexto local em que existem, inclusive se
desenvolvendo como um negócio social.
“Ao trabalhar pela melhoria da comunidade em que está inserido, o empresário
pode, indiretamente, criar um clima bom para os negócios, diminuir alguns

1 PAPARONI, Lita. O que realmente significa "avançar para soluções mais centradas nas pessoas" - Uma
reflexão sobre como o voluntariado aborda os desafios do desenvolvimento sustentável durante o COVID-19. UN
Volunteers, 24 de outubro de 2020, link de acesso:
https://www.unv.org/Success-stories/What-does-it-actually-mean-%E2%80%9Cmove-towards-more-people-centered-
solutions%E2%80%9D. Acesso em 04/11/20

44
riscos e estimular o orgulho de seus funcionários, levando, até mesmo, a uma
mídia espontânea” como resultado desse engajamento, diz Heiko Hosomi Spitzeck,
coordenador e professor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral.
E continua dizendo que “envolver os funcionários em atividades voluntárias é um
bom começo, pois ajuda a capacitá-los, ao mesmo tempo em que lhes dá um outro
olhar sobre a comunidade” acrescenta Spitzeck1.

Então, o que essas empresas podem fazer em termos de voluntariado? Ou como


esse ecossistema pode se relacionar com o voluntariado?

Uma empresa que possui um programa de voluntariado seja grande, média, pequena
ou micro pode fortalecer as suas iniciativas a partir da Agenda 2030 da ONU, a fim
de gerar soluções para todos os setores da sociedade.

Diante da grande importância para o desenvolvimento sustentável, as ações


de estímulo de envolvimento das micro e pequenas empresas na Agenda 2030
compõe esforços para atuar nos ODS´s, dentre eles o ODS 8 que tem como diretriz
“promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego
pleno e produtivo e trabalho decente para todos”.

Esse objetivo em especial, vem sofrendo um impacto negativo para o avanço dos
seus indicadores por causa da crise atual, demandando assim uma repactuação
e uma revisão dos planos estratégicos e táticos para que sejam minimamente
alcançados.

Para esses pequenos negócios a pirâmide de necessidades desceu muito ao


nível básico, e o desafio agora é garantir a sobrevivência do maior número de
atividades. O ponto de partida será estimular a definição de novos propósitos para a
empresa. Esta, além de ter que batalhar pela sua sobrevivência, precisará analisar
indicadores de vulnerabilidades presentes em sua volta e que impactam no seu
negócio, adequar as relações trabalhistas da sua empresa, em alguns casos, rever
seu modelo de negócio e pensar ações conjuntas com sua cadeia produtiva, de
fornecedores e parceiros estratégicos. Podem ainda obter apoios governamentais e
de outros órgãos, mas será bom pensar neles como um impulso extra.

1 Fonte: https://www.terra.com.br/economia/vida-de-empresario/microempresa-tambem-ganha-ao-investir-em-
acoes-sociais,146d7710934c7410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html . Acesso em 30/06/2020.

45
Há uma oportunidade na retomada dessas micro e pequenas empresas que é
estimular que os negócios retornem à prosperidade buscando atuar num modelo
de consciência mais sustentável, social, integrada com as necessidades do planeta
e das comunidades locais.

Nessa “retomada”, alinhar-se com a agenda das mudanças climáticas e com a


agenda da redução das desigualdades sociais será fundamental. Entretanto,
há que enfrentar desafios como as divergências e a falta de transparência das
informações oficiais sobre a pandemia, além de desconhecimento sobre o que fazer
na prática: como por exemplo, retomada do comércio local versus fechamento do
comércio local; aumento do índice de contaminação versus diminuição dos índices
da COVID-19, e melhores práticas nesse sentido como um todo.

Por isso então reforçamos a necessidade de pensar uma agenda integrada para
frear a crise de confiança que se instaurou na nossa sociedade estabelecendo
pactos coletivos dentro dos limites de cada território, para a criação de soluções
alternativas que envolvam os setores públicos, privados e a sociedade civil
organizada (e não organizada, ainda).

Literalmente, o fortalecimento das pequenas e micro empresas precisará seguir


uma desafiadora fórmula matemática de acordo com o Assessor sênior do PNUD,
Haroldo Machado Filho1 que disse ser preciso diminuir o ódio e a desinformação,
para somar forças, dividir responsabilidades e multiplicar esforços que tenham
como meta o enfrentamento do vírus do ódio nos vários contextos, o fortalecimento
da resiliência e o estímulo de capital humano na sociedade.

Voluntariado para pequenas e micro empresas: pílulas de ações possíveis

Para uma micro e pequena empresa, diante da correria do dia a dia, o voluntariado
é possível. Como então empreender essas iniciativas? O que poderia ser realizado
em um período de distanciamento social sem perder a forma e o foco de atuação?

1 Debate da Pandemia, ODS e impactos para o setor empresarial – Rede brasil do Pacto Global no YouTube
pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=nbkqVoL6P94&feature=youtu.be . Acesso em 27/05/20

46
Aqui vão algumas dicas considerando o momento que atravessamos1.

1) Os voluntários podem potencializar a comunicação entre as pessoas da


comunidade local

Em observância das necessidades de sua vizinhança, ou daquilo que é


disponibilizado em sua rede virtual, empregados de uma micro e pequena
empresa podem:

• Criar uma rede de comunicação virtual entre as pessoas da comunidade


locais e outras empresas e comércios no território em que a empresa está
instalada.

• provocar uma campanha de doação convocando parceiros para colaborar.

• fortalecer uma campanha já existente ampliando a informação nas redes


sociais.

• Engajar-se em movimentos sociais promovidos por instituições sociais


locais, divulgando as demandas para um maior número de pessoas.

• Promover orientações virtuais para a comunidade local, conforme


especialidades técnicas dos voluntários. Muitas atividades de manutenção
e gestão no lar poderão ser realizadas com orientação virtual de um
técnico especialista.

• Fortalecer o conhecimento técnico para uso eficiente das redes sociais


principalmente entre os idosos que necessitarão de ampliar suas formas
de comunicação em períodos de distanciamento social.

• Auxiliar os comércios locais a inovar as formas de comunicação de


oferta e demandas entre vizinhos para manter suas atividades ativas e
sustentáveis.

• Ofertar conhecimentos gerais que possam auxiliar a geração de renda de


jovens e adultos que possam ter perdido seus empregos.
Aconselha-se tentar manter-se no seu círculo territorial, ou em temáticas que se
identifique com o seu negócio. Ali os voluntários das empresas poderão

1 Essas dicas também foram disponibilizadas pelos autores em: https://voluntariadoempresarial.com.br/o-


voluntariado-para-micro-pequenas-e-medias-empresas/ Acesso em 25/10/20

47
conhecer muita gente interessante para também ajudar com as dificuldades no
seu ambiente.

Doar dinheiro, doar equipamentos e produtos tende a ser uma associação tão
automática com o voluntariado que pode ser a primeira coisa que o pequeno
empreendedor poderá pensar. É importante compreender que não é só isso,
e que o pequeno empresário não precisa parar sua rotina para começar uma
campanha de doação. Porém, caso identifique uma emergência imediatamente
ligada ao seu negócio ou na comunidade em que está inserido será importante
dar uma pausa maior para organizar uma mobilização coletiva para apagar
possíveis “incêndios”

2) As empresas podem disponibilizar tempo mensal de seus empregados


para trabalho individual em instituições locais

Às vezes, os colaboradores só precisam de uma mãozinha para realizarem o


voluntariado que gostam ou que se identificam. E esse empurrãozinho pode vir
da sua empresa. Avalie em que medida 1 ou 2 horinhas por mês não podem
impactar de forma positiva no ambiente tanto interno da empresa e como
externamente na comunidade

Uma tolerância que considere o trânsito de ir e vir até uma entidade parceira,
uma cessão de tempo que dê uma folga psicológica ao colaborador para que
ele de forma pontual, mas qualificada, preste um apoio sistemático a alguma
causa importante para ele pode, muitas vezes, retornar em mais engajamento
e produtividade em seu trabalho diário.

Se os colaboradores entram em lay off 1devido ao momento de crise, o


trabalho voluntário pode ser incentivado pelas empresas, como alternativa para
que permaneçam ativos durante esse período, sem cair num desânimo até
compreensível.

3) Os voluntários podem disponibilizar apoio psicológico à comunidade


local
Existem trabalhos voluntários de apoio psicológico disponível para quem
necessitar nesse momento. Isso tem sido feito de maneira online, mas o

1 Lay Off é uma expressão em inglês que significa demissão do trabalho

48
voluntariado dessa empresa pode aproximar esse serviço daquelas pessoas
que tem dificuldade em estarem conectados. Seja pela falta de internet, de
equipamentos, ou afinidade com a tecnologia.

4) A empresa pode promover grupos de voluntariado locais junto a outras


empresas do território

Um pensar coletivo de voluntariado transformador entre várias empresas é um


caminho estratégico. É possível convidar as empresas vizinhas do seu negócio
para que possam unir forças que favoreçam a diversidade e potencialize a
solução em diferentes frentes. Montem um comitê com várias empresas, de
forma que os colaboradores de cada uma possam encontrar soluções, criar
alternativas em comum e unirem-se para resolverem um problema local.

As vezes uma empresa tem mais recursos, outras tem mais pessoas disponíveis,
em outras, há mais contatos com diferentes parceiros e juntos podem se
ajudar, se completam e não deixam de atuar. É possível, se necessário,
utilizar parcerias com o terceiro setor, instituições especializadas que poderão
para facilitar o processo e ajudar a divulgar o projeto junto as comunidades
beneficiadas.

Considerações finais

É fato que as consequências desse contexto irão, por algum tempo, continuar
afetando a vida de todos os cidadãos, empresas e governos, justificando a
urgência em repensar as formas de relacionamento entre todos, e construir
novas estratégias que possam mitigar os impactos e devolver um mínimo de
bem estar, num ambiente mais seguro e controlado, principalmente para os
mais vulneráveis. A união dos setores deverá prever um conceito de qualidade
de vida e persegui-lo, numa nova realidade, diferente, mas que não seja
chamada de novo normal.
Vale ressaltar que as iniciativas de voluntariado realizadas por pequenas
e micro empresas não precisam, ou não podem, ser muito formais. Não
necessitam de estruturas complexas e que demandam tempo de planejamento
e execução. O momento pede urgência na iniciativa voluntária e o que é
fundamental no momento, é não se ater a processos e outras formalizações

49
que engessem ou dificultem o início dos trabalhos voluntários. O mínimo
será garantido pela nossa legislação do voluntariado. No mais, em que puder
facilitar, será bem-vindo.

A dica é: comece! Faça alguma coisa, e então perceba como as relações se


movimentam a favor da prosperidade do seu negócio e do seu contexto e aos
poucos ajuste os desvios com respaldo das expectativas levantadas. Uma
vez em campo as soluções aparecem. Diálogo aberto, atitude e resiliência
serão fundamentais nesse processo.

Referências bibliográficas

• OLIVEIRA, Caroline Silva de. A COVID-19 e o impacto econômico


nas micro e pequenas empresas. Revista Científica Multidisciplinar
Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 10, pp. 39-56.
Junho de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.
nucleodoconhecimento.com.br/administracao/impacto-economico,
DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/administracao/impacto-
economico.

• PAPARONI, Lita. O que realmente significa “avançar para soluções


mais centradas nas pessoas” - Uma reflexão sobre como o voluntariado
aborda os desafios do desenvolvimento sustentável durante o COVID-19.
UN Volunteers. Acesso em 24 de outubro de 2020,.https://www.unv.
org/Success-stories/What-does-it-actually-mean-%E2%80%9Cmove-
towards-more-people-centered-solutions%E2%80%9D.:

Debate da Pandemia, ODS e impactos para o setor empresarial – Rede brasil do Pacto
Global no YouTube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=nbkqVoL6P94&feature=y
outu.be . Acesso em 27/05/20

50
• Demografia das Empresas - https://www.ibge.gov.br/estatisticas/
economicas/comercio/9068-demografia-das-empresas.html?=&t=o-
que-e . Acesso em 06/11/20

Microempresa também ganha em investir em ações sociais. https://www.terra.com.br/


economia/vida-de-empresario/microempresa-tambem-ganha-ao-investir-em-acoes-sociais,1
46d7710934c7410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html . Acesso em 30/06/2020.

“Covid-19:é necessário agir agora ou arriscar”. Fonte: https://brasiliainfoco.com/covid-19-


e-necessario-agir-agora-ou-arriscar-devastacao-inimaginavel-diz-chefe-da-onu/ . Acesso
em 15/10/2020

“A Covid-19 e o Mundo do Trabalho”. Fonte https://news.un.org/pt/story/2020/06/1717472 .


Acesso em 26/10/20

Bruno Barcelos Morais - Quatorze anos de experiência em gestão de


projetos nas áreas de Sustentabilidade, Investimento Social Privado, e
Voluntariado, empreendidos por iniciativas privadas e públicas. Além de
experiência no desenvolvimento de assessorias, capacitações e palestras
nos temas acima citados para empresas de grande, pequeno e médio porte.

Danusa Reis Coutinho - Mentora em gestão de voluntariado


empresarial com 17 anos de experiência no setor privado,
no terceiro setor e na academia como professora de pós
graduação. Mestre em administração pela PUC/MG, e
empreendedora do mkt de rede.

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