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sumário

Legislação comentada ____________________________________ 02

Doutrina _____________________________________________ 07
Entrevista _____________________________________________ 10
Caso concreto __________________________________________ 15
Manchete _____________________________________________ 17
Palavra cruzada _________________________________________ 18
Charge _______________________________________________ 19
Dicas de leitura _________________________________________ 20
Legisla-
ção
comen-
tada
A Lei 13.709, mais conhecida também
como Lei Geral de Proteção a Dados
Pessoais, tem como enfoque regular o
tratamento de dados pessoais, inclusive
nos meios digitais, seja no que tange
à pessoa natural ou jurídica de direito
público ou privado, levando em conta,
mormente, a proteção de direitos fun-
damentais de liberdade e privacidade,
além do livre desenvolvimento da per-
sonalidade da pessoa natural.
Ao analisar a redação desse artigo, im-
portante frisar que estamos diante de
expressa previsão constitucional, ao
mencionar direitos fundamentais de
liberdade, privacidade, como também
a liberdade do indivíduo, abordada no
aspecto genérico, quando se trata do
desenvolvimento da pessoa natural.
Nesse diapasão, essa liberdade se reve-
la pelo direito que o indivíduo tem de
informar, de exteriorizar sua opinião,
além de, também, sob sua égide de
abarcar o direito coletivo, estendendo-
-se, assim, a disseminação da informa-
ção à população. No que se refere ao
direito à privacidade, esse abarca um
contexto geral, destrinchando-se em
direito à intimidade e à privacidade.
Por fim, o direito ao pleno desenvolvi-
Essa liberdade também se estende à manifestação do pensamento, a criação,
mento da personalidade, consagra-se
a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não
como liberdade individual em relação
sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”, bem
à constituição da personalidade, garan-
como no seu §1º, que determina que “nenhuma lei conterá dispositivo que
tindo-se a autonomia de constituir uma
possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em
personalidade livre, sem qualquer im-
qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV,
posição de terceiros, emanando tanto
V, X, XIII e XIV”, e, também, no §2º do mesmo artigo que preceitua ser ve-
um conteúdo positivo, calcado na liber-
dada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. É a
dade de agir, quanto negativo, ou seja,
liberdade de informação jornalística, ou liberdade de imprensa, tão cara aos
a não interferência ou impedimento de
sistemas democráticos e, por tal razão, objeto de explícita referência no texto
outrem.
constitucional.
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 Analisando esse diploma legal, na sua íntegra, observam-se diversos fundamentos,
tais como o respeito à privacidade, inviolabilidade da intimidade, da honra e da
imagem, desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cida-
dania pelas pessoas naturais, além de, sobretudo, os direitos humanos – direitos
esses primordiais para a sobrevivência digna da pessoa.

A Lei geral de proteção de dados em seu art. 2° inciso I e I0V vem tratando
a respeito da privacidade, da inviolabilidade da intimidade, da honra e da
imagem como fundamentos. Porém tais questões não são questões exclusivas
da Lei 13.709/2018, o direito à privacidade, à inviolabilidade da intimidade,
da honra e da imagem também é tratado na nossa Constituição Federal em
seu art. 5° inciso X, no nosso Código Civil em seu art. 21°, além do Marco
Civil da Internet que vem em seu art. 3° inciso II e III tratando com relação à
privacidade e a proteção dos dados dos usuários. Mediante o exposto pode-
mos observar que a privacidade e a inviolabilidade da intimidade, da honra
e da imagem não é algo recente em nosso meio jurídico, uma vez que não é
somente a LGPD que vem abordando essa questão

Importante frisar, como parte de um dos interesses fundamentais da LGPD, as

divisões do artigo 5º sobre a diferença entre os tipos de dados. Por ser delicado
o tema, destaca-se a preocupação em sensibilizar dados referentes a questões ra-
ciais, étnicas e culturais, como se vê abaixo:

“Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se:

II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convic-
ção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter
religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado
genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;”

Por se tratar de questões que ao longo da história foi construindo um caminho

rumo à conquista de direitos e garantias fundamentais, e principalmente por fazer
parte da evolução do pensamento sociocultural do país, nota-se a necessidade de
colocar em evidência o respeito à dignidade da pessoa humana, como fundamen-
to superior do direito subjetivo e efetivação do que discorre a constituição, ao
elevar a narrativa individual que compõe a base estrutural do ser humano como
fonte primária de proteção contra vazamentos e exposições que violem a privaci-
dade e sigilo pessoal.

Ao se deparar o âmbito de aplicação desse diploma, o legislador, no ato da ela-

boração, frisou no texto legal o alcance de aplicação daquele, entendendo que se
aplicam os seus efeitos à quaisquer operação de tratamento realizada por pessoa
natural ou jurídica ( sendo essa pública ou privada), independentemente do meio
(digital, físico/presencial) do país de sua sede ou do país no qual estejam localiza-
dos os dados, contanto que observados que a operação seja realizada no território
nacional; a atividade de tratamento tenha por objetivo a oferta ou fornecimento
de bens ou serviços ou o tratamento de dados de indivíduos localizados no terri-
tório nacional; os dados pessoais objeto do tratamento tenham sido coletados no
território nacional.

Em contrapartida, a lei não se aplica ao tratamento de dados pessoais realiza-

dos, ainda que por pessoas naturais, para fins exclusivamente particulares e não
econômicos, exclusivamente para fins jornalísticos, artísticos, segurança pública,
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defesa nacional, segurança do Estado, atividades de investigação e repressão de
infrações penais, dentre outras hipóteses. Relevante observar que se considera
por dado pessoal aquela informação relacionada à pessoa natural identificada ou
identificável.

Importante observar, para esta lei produzir seus devidos efeitos, a boa-fé e os
seguintes princípios, sendo aqui um rol meramente exemplificativo ( numerus
abertus), ou seja, há mais hipóteses previstas, no próprio código, pelo legislador:

- Finalidade: O tratamento deve ter propósitos ou fins legítimos, específicos,

explícitos e informados ao titular – sem possibilidade de tratamento posterior
de forma incompatível com essas finalidades.

- Adequação: Compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas

ao titular, consoante ao contexto do tratamento.

- Necessidade: Limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realiza-

ção de suas finalidades, com abrangência dos dados pertinentes, proporcio-
nais e não excessivos em relação às finalidades do tratamento de dados.

- Não Discriminação: Impossibilidade de realização do tratamento para fins

discriminatórios ilícitos ou abusivos.

- Transparência: Garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e fa-

cilmente acessíveis sobre a realização do tratamento e os respectivos agentes
de tratamento, observados os segredos comercial e industrial.

Referente ao tratamento de dados pessoais, o parlamento foi sucinto ao observar

que poderá ser realizado aquele mediante o consentimento do titular, ou para fins
de obrigação legal ou regulatória pelo controlador, pela administração pública no
que se refere ao tratamento e uso compartilhado de dados necessários à execução
de políticas públicas previstas em leis; além de outras hipóteses previstas pelo
legislador.

“Por fazer parte da

evolução do pensamento
sociocultural do país,
nota-se a necessidade de
colocar em evidência o
respeito à dignidade da
pessoa humana.”
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 Em se tratando de sanções, os agentes
de tratamento de dados ficam sujeitos
às sanções administrativas aplicáveis
pela autoridade nacional, podendo
ir desde uma advertência, permean-
do multas, bloqueios de dados, ou
eliminação, até suspensão parcial do
funcionamento do banco de dados,
suspensão definitiva da atividade de
tratamento dos dados pessoais ou
proibição parcial ou total do exercício
de atividades relacionadas a tratamen-
to de dados – devendo ser observada
a ampla defesa. Ressaltando aqui que
essas sanções não são excludentes das
sanções civis, penais, e em legislação
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específica.
Sendo assim, A Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais, junto como o
Marco Civil na Internet, caracteriza
um grande avanço para o tratamento
de dados, tendo em vista que aplica-se
também ao mundo digital, esse além
de propiciar benefícios, também,
implica riscos desse cenário de hiper-
conectividade, objetos inteligentes
( sensores), big data e inteligência
computacional, devendo, por conse-
guinte, ter uma legislação que trate
com mais rigor tal objeto. O direito à
proteção de dados pessoais caracteri-
za por ser revestido de fundamentos
constitucionais, assegurando a garantia
que os dados coletados sejam apenas
para os fins propostos e previamente
informados ao seu titular, asseguran-
do-lhe o controle das informações que
lhe dizem respeito e lhe fornecendo
a liberdade de escolher em quais
situações permitirá o fornecimento de
seus dados, por conseguinte, garantin-
do o seu direito à privacidade. Assim,
o diploma legal possui, dentre seus
principais objetivos, a concretização
dos direitos fundamentais, mormente
o da privacidade, liberdade e inviolabi-
lidade da intimidade.
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 Doutri-
na
Perspectiva doutrinária
A LGDP brasileira teve como paradigma
o “ Regulamento Geral De Proteção De
Dados Pessoais Europeia”, cujos valores
fundamentais são a proteção e garantia
dos direitos humanos e a privacidade,
já afirmados na Declaração Universal de
Direitos Humanos.
Na perspectiva de Patrícia Peck Pinhei-
ro, o enfoque da Lei Geral de Proteção
de Dados pessoais está na proteção dos
direitos fundamentais de liberdade e de
privacidade e o livre desenvolvimento
da personalidade da pessoa natural, tra-
zendo a premissa da boa-fé para todo o
tipo de tratamento de dados pessoais,
que passa a ter que cumprir uma série
de princípios, de um lado, e de itens
de controles técnicos para governança
da segurança das informações, de ou-
tro lado, dentro do ciclo de vida do uso
da informação que identifique ou possa
identificar uma pessoa e esteja relacio-
nada a ela, incluindo a categoria de da-
dos sensíveis.

A regulamentação de dados pessoais,

para “Peck”, constitui uma legislação
principiológica. Na LGDPD, as ativida-
des de tratamento legítimo, específico
e explícito de dados pessoais informa-
do previamente ao titular devem estar
orientadas pelos seguintes princípios:
da finalidade, adequação, necessidade,
livre acesso, transparência, segurança,
responsabilização e prestação de con-
tas, além de, sobretudo, a boa-fé. Outro
ponto fundamental, a ser observado
no trato de dados pessoais, consiste no
consentimento pelo titular, que deve
ser aplicado aos tratamentos de da-
dos informados e estar vinculado às
finalidades apresentadas. Todavia pode
haver situações de exceção em que o
tratamento de dados pessoais ocorra
sem necessidade de consentimento ex-
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presso, como no caso de cumprimento dida em que se aplica também aos da-
de obrigação legal ou regulatória pelo dos que sejam tratados fora do Brasil,
controlador, para o exercício regular de contanto que a coleta tenha ocorrido
direitos em processo judicial, adminis- em território nacional, ou por oferta de
trativo ou arbitral, além de outras hipó- produto ou serviço para indivíduos no
teses previstas na legislação. território nacional ou que estivessem
no Brasil. Dessa foram uma empresa
Ainda na concepção de “ Peck”, Quando de serviço de “ Cloud Computing” que
o assunto é a aplicação material e terri- armazene o dado fora do país terá que
torial, o diploma legal se aplica tanto à cumprir as exigências da LGPD.
pessoa física, jurídica, sendo essa pú-
blica ou privada, que realiza tratamen- Ao analisar sob à acepção de direitos
to de dados pessoais. Sendo assim, a humanos, a lei prevê, como já supra-
LGPD não está relacionada à cidadania citado, o direito à liberdade e à priva-
ou à nacionalidade dos dados pessoais, cidade, esses constando como rol de
tampouco à residência do indivíduo ti- direitos fundamentais da carta magna
tular, pois tem alcance extraterritorial, nacional.
ou seja, efeitos internacionais, na me-
Nesse diapasão, Para Liliana Minardi
Paesani, o direito à privacidade caracte-
riza um direito de primeira dimensão,
porquanto ele se apresenta, antes de
tudo, como uma projeção dos princí-
pios da liberdade e da dignidade huma-
na. Assim o direito à privacidade é asse-
gurado expressamente na carta maior,
sendo uma garantia da dignidade da
pessoa humana.
Nesse sentido, o artigo 5º, X da
CF/88 “ são invioláveis a intimidade,
a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação”
Para Bioni, Bruno, O direito à proteção
dos dados pessoais deve ser alocado
como uma nova espécie do rol aberto
dos direitos da personalidade, dando
elasticidade à cláusula geral da tutela
da pessoa humana. Caso contrário, cor-
re-se o risco de ele não se desprender
das amarras conceituais e da dinâmica
do direito à privacidade e, em última
análise, inviabilizar uma normatização
própria para regular o fluxo informa- Provisória 954/2018, que obrigava as
cional como fator promocional da pes- operadoras de telefonia a repassarem
soa humana. ao IBGE dados identificados de seus
consumidores de telefonia móvel, celu-
Consoante Doneda, Danilo, O reconhe- lar e endereço.
cimento da proteção de dados como
um direito autônomo e fundamental, O julgamento é um marco, pois tornou
portanto, não deriva de uma dicção expressa a tutela dos dados pessoais
explícita e literal, infere-se da conside- como direito fundamental. Fazendo re-
ração dos riscos que o tratamento auto- ferência julgamento da Corte Constitu-
matizado traz à proteção da personali- cional alemã, e a Carta de Direitos Fun-
dade à luz das garantias constitucionais damentais da União Europeia (art. 8o),
de igualdade substancial, liberdade e os Min. Rosa Weber, Gilmar Mendes e
dignidade pessoal humana, juntamente Luiz Fux trataram de um direito funda-
com a proteção da intimidade e da vida mental à proteção de dados pessoais
privada. garantido pela Constituição Federal.
Nos votos, a proteção de dados é tra-
A partir deste entendimento, o STF tada como um direito autônomo, que
reconheceu a existência, no ordena- se diferencia da proteção à intimidade e
mento jurídico brasileiro de um direi- privacidade, vez que o objeto protegido
to autônomo a proteção de dados. O é distinto. Com a ascensão de métodos
entendimento foi proferido em maio sofisticados de processamento e trata-
de 2020, no julgamento do plenário mento de dados pessoais, carregando
que referendou a Medida Cautelar nas consigo riscos maiores para a persona-
Ações Diretas de Inconstitucionalida- lidade do cidadão, esse direito ganha
de n. 6387, 6388, 6389, 6393, 6390, contornos próprios, nos termos do
suspendendo a aplicação da Medida voto do Min. Gilmar Mendes:

“ A autonomia do direito fundamental em jogo na presente ADI exorbita, em essência, de sua mera equiparação
com o conteúdo normativo da cláusula de proteção ao sigilo. A afirmação de um direito fundamental à privacida-
de e à proteção de dados pessoais deriva, ao contrário, de uma compreensão integrada do texto constitucional
lastreada (i) no direito fundamental à dignidade da pessoa humana, (ii) na concretização do compromisso per-
manente de renovação da força normativa da proteção constitucional à intimidade (art. 5º, inciso X, da CF/88)
diante do espraiamento de novos riscos derivados do avanço tecnológico e ainda (iii) no reconhecimento da
centralidade do Habeas Data enquanto instrumento de tutela material do direito à autodeterminação informa-
tiva.”

Para o autor Walter Longo em sua obra “O fim da Idade média e o início da Idade mídia” conta que a Idade média não acabou
no século XV pelo contrário, ela está chegando ao seu fim somente agora, em nossa geração. Consequentemente, por conta
da Revolução Digital, estamos dando entrada na chamada “Idade Mídia”.
Os direitos humanos são indivisíveis e inalienáveis, logo, podemos entender que segundo a obra de Walter Longo essa nova
Era mídia pode ser muito perigosa e pode afetar diretamente os direitos humanos de toda a população. Assim, da mesma
forma que Walter cita que vivemos na Era mídia, nossos dados são cada vez mais fáceis de serem acessados afetando DIRE-
TAMENTE os nossos direitos

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 A relação entre a natureza da LGPD e suas aplicações.
Ao analisar a relatividade proporciona-
da pela LGPD em comparação aos direi-
tos, algo interessante a se observar é sua
estruturação como lei e não como re-
gulamento, como apresenta-se a GDPR
(General Data Protecional Regulation)
que executa a proteção de dados euro-
peia. Fernando Marinho, no capítulo
12 de seu livro “Os 10 mandamentos
da LGPD – um curso para aprender a
implementar na prática a LGPD em 14
passos” discorre sobre essa temática,
ao reforçar que a aceitação da proteção
geral de dados como lei sugeriu maior
eficácia no país já que levou à inclusão
pelos advogados por ser seu objeto de
trabalho.
Todavia, o mecanismo gerado por trás
no processamento, coleta e utilização
de dados é o que coloca em prática,
que efetiva a descrição da lei. Por mais
que se impõe coercitividade, de nada
adianta se paralelamente não forem de-
senvolvidos mecanismos práticos que
permitam a execução, que externalize a
necessidade de proteger os dados, para
que não se torne cismático, trivial. É in-
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dispensável a técnica, para que se pre-
serve os benefícios e direitos colocados
à mercê da população. Assim enfatiza
Marinho, ao retratar que “não adianta
possuir os melhores dispositivos de se-
gurança do mundo, se os procedimen-
tos forem praticados de forma indevi-
da. Da mesma forma que os melhores
contratos “vão por água abaixo”, se os
processos não forem compatíveis com
o que os documentos descrevem”.
Os direitos humanos consagram-se a
nível internacional, ao tratar de regalias
que possuem proteção universalmente.
A privacidade sem dúvidas é um direito
destaque para todo ser humano, que
enseja por essa questão desde o limiar
de sua vida, ao prezar por sua intimi-
dade pessoal, pela esfera privada, seja
em seus momentos individuais como
nos coletivos, o que se excetua quan-
do é escolhido ceder temporariamente,
como vemos em reality show por exem-
plo. Ademais, no mundo atual, enrique-
cido das diversas disponibilidades que
traz a internet, projetam-se as situações
que são vivenciadas no dia a dia, virtu-
almente. Hoje, em que compras, tran-
sações, conversas, reuniões e outros
múltiplos quesitos são possíveis de se-
rem executadas na modalidade online,
também se transfere a importância de
regular a nível digital o cuidado que
se é tomado em relação à privacidade,
intimidade e sigilo em âmbito real, sen-
do perceptível a ligação primordial da
LGPD com a evolução histórico, social
e cultural da sociedade e da inserção de
direitos e deveres sobre ela.
Destarte, destaca-se congruentemente
o aumento de confiança entre o titular e
o coletador de dados, em que ao ser de-
monstrado uma preocupação mundial
de proteção de informações pessoais, e
ao observar aquilo sendo concretizado
na práxis, gera uma melhoria nas diver-
sas negociações realizadas diariamente
e promove melhor circulação de bens e
riquezas, além de valores éticos que se
atentem à função social, boa-fé e cele-
ridade do processo. Assim, embeleza o
disposto no artigo 5º, X da CF e promo-
ve abertura para novas colocações
ntrevista

Entrevista com Henrique Avelino Lana A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)
passou a valer em agosto de 2020, regulamentando a coleta e o tratamento de da-
dos pessoais no Brasil. A lei traz inúmeras modificações no processo de pequenas
e grandes empresas. Para tratar desse assunto e sanar algumas dúvidas, conver-
samos com o Pós Doutor, Doutor, Mestre e Especialista em Direito Empresarial.
Sócio do Escritório MP&AL Advogados.
Confira a entrevista.
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 1 - Em sua opinião, quais os re-se a documentação do controlador tar dados pessoais do cidadão. A ANDP
maiores desafios e os princi- que contém a descrição dos processos servirá para orientar preventivamente,
pais avanços da LGPD em rela- de tratamento de dados pessoais (Ciclo fiscalizar, advertir e penalizar. Poderão
ção a legislação anterior?
“Inicialmente, muito obrigado pelo
convite, saliento que fico muito feliz e
honrado em poder contribuir. Sempre
estarei a disposição. Em agosto de 2018,
o Brasil aprovou a lei n. 13.709/2018, a
Lei Geral de Proteção de Dados, basea-
da no Regulamento Geral de Proteção
de Dados da União Europeu (GDR). A
LGPD entrou em vigor em agosto de
2020. A Lei 13.709/2018 possui como
objetivo regulamentar o tratamento de
dados pessoais pelas empresas, pois
os dados pessoais ganharam grande
importância na economia moderna,
por permitirem fazer predições, anali-
sar perfis de consumo, opinião, entre
outras atividades. Estima-se que, atual-
mente, cerca de 130 países no mundo
possuem leis para a proteção de dados
pessoais, objetivando à regulamenta-
ção do tratamento de dados das empre-
sas, evitando-se o mau uso destes, bem
como a responsabilização das empresas
por isso, bem como por incidentes e
acidentes com dados pessoais. Creio
que os maiores desafios para a nova
legislação sejam: revisão e implanta-
ção da documentação para plataformas
online; atuar de modo harmônico com
os departamentos de TI e Marketing,
orientando-os a eventualmente rever
os termos de uso da política de privaci-
dade; analisar quais são as hipóteses de
tratamento que o legitima a tê-los; ado-
tar mecanismo lícito de modo a deixar
claro para o titular se haverá o compar-
tilhamento de seus dados e para quais
empresas estes serão enviados; redação
do relatório de impacto à proteção de
dados, conforme orientação da ANPD;
identificar ao certo critérios objetivos
para saber quem são os agentes de tra-
tamento (controlador e o operador).
Outro desafio se também se destaca:
Elaborar o relatório de impacto à pro-
teção de dados pessoais, o qual refe-
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dos Dados) que podem gerar riscos
(Risk Assessment) às liberdades civis e
aos direitos fundamentais, bem como
medidas, salvaguardas e mecanismos
de mitigação de risco, tais como ma-
peamentos, treinamentos, auditorias,
alterações de contrato e criação de po-
líticas de proteção de dados. Por fim, a
meu ver, um desafio maior ainda surge:
lidar com as milhares de ações judiciais
que provavelmente surgirão, objetivan-
do reparação moral e material em razão
de suposto vazamento de dados pesso-
ais.”
“Os dados pessoais
ganharam grande
importância na
economia moderna,
por permitirem fazer
predições, analisar
perfis de consumo,
opinião, entre outras
atividades.”
2- Sabemos que a ANPD é a
instituição responsável por
fiscalizar e penalizar o des-
cumprimento da LGPD. Como
acontece essa fiscalização?
“Há a previsão de que a fiscalização e
a regulação da LGPD ficarão a cargo
da Autoridade Nacional de Proteção
de Dados Pessoais (ANPD). São tarefas
essenciais para que a autoridade nacio-
nal atue como um órgão a serviço do
cidadão. Será ainda um elo entre so-
ciedade e governo, permitindo que as
pessoas enviem dúvidas, sugestões, de-
núncias ligadas à LGPD para apuração.
Terá também um importante papel de
orientadora e de apoiadora dos órgãos
de governo e empresas em relação às si-
tuações em que elas podem ou não tra-
ser aplicadas pela ANPD as seguintes
sanções sobre incidentes de dados: ad-
vertência, com indicação de prazo para
adoção de medidas corretivas; multa
simples, de até 2% (dois por cento) do
faturamento da pessoa jurídica de di-
reito privado, grupo ou conglomerado
no Brasil no seu último exercício, ex-
cluídos os tributos, limitada, no total,
a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões
de reais) por infração; multa diária, ob-
servado o limite total a que se refere o
inciso II; publicização da infração após
devidamente apurada e confirmada a
sua ocorrência; bloqueio dos dados
pessoais a que se refere a infração até
a sua regularização; eliminação dos da-
dos pessoais a que se refere a infração;
suspensão parcial do funcionamento
do banco de dados a que se refere a in-
fração pelo período máximo de 6 (seis)
meses, prorrogável por igual período,
até a regularização da atividade de tra-
tamento pelo controlador; suspensão
do exercício da atividade de tratamento
dos dados pessoais a que se refere a in-
fração pelo período máximo de 6 (seis)
meses, prorrogável por igual período;
e proibição parcial ou total do exercí-
cio de atividades relacionadas a trata-
mento de dados. A missão institucional
da ANPD é assegurar a mais ampla e
correta observância da LGPD no Bra-
sil e, nessa medida, garantir a devida
proteção aos direitos fundamentais de
liberdade, privacidade e livre desenvol-
vimento da personalidade dos indivídu-
os. Realmente, a LGPD determina que
a ANPD deverá editar regulamento pró-
prio sobre sanções administrativas, que
deverá ser objeto de consulta pública,
contendo as metodologias que orienta-
rão o cálculo do valor-base das sanções
de multa. A princípio, tais metodolo-
gias devem ser previamente publicadas
e devem apresentar objetivamente as
formas e dosimetrias para o cálculo do
valor-base das sanções de multa, que
deverão conter fundamentação deta-
lhada de todos os seus elementos, de-
monstrando a observância dos critérios
previstos na LGPD. Pela LGPD, a aplica-
ção de sanções requer, ainda, criteriosa
apreciação e ponderação de inúmeras
circunstâncias, dentre as quais a gravi-
dade e a natureza das infrações e dos
direitos pessoais afetados, a condição
econômica do infrator, o grau do dano,
a cooperação do infrator, a adoção de
política de boas práticas e governança e
a pronta adoção de medidas corretivas.
A meu ver, a regulamentação quanto
a atuação da ANPD, na prática, ainda
é obscura. Não se sabe ainda, quais
sanções, valores e/ou intensidades de
sanções serão imputadas a cada tipo de
ofensa específica.”
“A missão
institucional da ANPD
é assegurar a mais
ampla e correta
observância da LGPD
no Brasil e, nessa
medida, garantir a
devida proteção aos
direitos
fundamentais.”
3- Quais são as medidas prá-
ticas que as empresas que fi-
zeram o tratamento de dados
pessoais e firmaram contratos,
antes da vigência da lei, devem
tomar para se adequar às novas
regras?
“A meu ver são, em síntese: saber se os
direitos dos titulares de dados pesso-
as estão assegurados. Identificar se o
tratamento de dados pessoais respeita
os princípios expostos nos incisos do
art. 6º da LGPD e está respaldado por
uma ou mais hipóteses de tratamento
(art. 7º). Compreender se o agente de
tratamento, na situação concreta, está
ciente de seu papel e adimplente com
suas obrigações e responsabilidades.
Verificar se existe um encarregado de
dados indicado para tratar as solicita-
ções dos titulares de dados pessoais.
Adotar medidas de segurança e boas
práticas foram adotadas e são constan-
temente revisadas. Assegurar que os
dados pessoais que compõe o seu CRM
- Customer Relationship Management
(Gerenciamento de Relacionamento
com Cliente sejam autorizados e pro-
cessados mediante hipótese de trata-
mento legítima. Encriptar seu banco de
dados e toda e qualquer transferência
de dados pessoais. Realizar avaliação
de finalidade e necessidade da coleta
de dados, eliminando o que não estiver
de acordo com esses princípios. Limitar
e controlar o acesso ao banco de dados
cujos dados pessoais encontrarem-se
arquivados. Adotar uma rotina de eli-
minação de dados e renovação de Con-
sentimento. Estipular rotina de audito-
ria e monitoramento de boas práticas
em Proteção de Dados. Disponibilizar e
destacar, de forma clara, os termos da
Política de Privacidade. Adotar mecanis-
mos que tornem simples a eliminação
de dados pessoais e revogação do con-
sentimento. Solicitar e registrar o Con-
sentimento do candidato e informá-lo
de maneira clara que seus dados pesso-
ais serão utilizados para recrutamento,
avaliação e seleção. Dar ciência ao em-
pregado do uso dos seus dados pesso-
ais, autorizando-o para a realização de
todas as ações relacionadas ao seu con-
trato de trabalho. Promover auditoria
completa do sistema de segurança utili-
zado. Mapear processos e responsáveis
por cada atividade relacionada ao trata-
mento de dados. Possuir um Plano de
Contingência prevendo ações a serem
tomadas quando houver um incidente
de segurança.”
“Saber se os direiros
titulares de dados
pessoais estão
assegurados.”
4- Quais os principais impactos
que a LGPD trás para os direi-
tos dos consumidores? É neces-
sário que o consumidor con-
sinta com a obtenção de seus
dados pessoais?
“O consentimento é caracterizado pela
manifestação livre, informada e inequí-
voca pela qual o titular concorda com o
tratamento de seus dados pessoais para
uma finalidade determinada. A prin-
cípio, a LGPD está contida dentro do
Sistema Nacional de Defesa do Consu-
midor (art. 45). Os direitos dos titulares
dos dados, tratados como consumido-
res by standard, lhes são garantidos tais
como: a presunção de hipossuficiência;
a inversão do ônus da prova; o direito
à informação e explicação entre outros.
A princípio, a LGPD está contida dentro
do Sistema Nacional de Defesa do Con-
sumidor (art. 45). Há sim necessidade
de que haja o consentimento do titular,
que corresponde à forma em que o titu-
lar de dados pessoais irá determinar o
nível de proteção e garantir a extensão
do fluxo dos seus dados, dando a sua
anuência expressa (art. 8º) para as fi-
nalidades descritas nos termos de con-
sentimento. São direitos básicos dos
titulares: confirmar existência de trata-
mento de seus dados pessoais; acessar
seus dados pessoais; corrigir os dados
pessoais; anonimizar, bloquear ou eli-
minar dados pessoais; portabilidade de
dados pessoais; obter informações so-
bre o compartilhamento de dados pes-
soais; revogar o consentimento dado;
informação sobre a possibilidade de
não fornecer consentimento e sobre as
consequências da negativa. Os direitos
previstos na LGDP deverão ser exerci-
dos mediante requerimento expresso
do titular, ou de seu representante le-
galmente constituído, sem custos, ao
agente de tratamento de dados. Vale
mencionar por fim que o agente de tra-
tamento deve adotar mecanismos que
tornem simples a eliminação de dados
pessoais e revogação do consentimen-
to.”
00

“Consentimento é
caracterizado pela
manifestação livre,
informada e
inequívoca pela qual
o titular concorda
com o tratamento de
seus dados pessoais
para uma finalidade
determinada.”
5 - O que legitima a finalidade
do uso dos dados que são co-
letados pelas empresas? E que
segurança isso trás ao consu-
midor?
“Como vimos, há necessidade de que
haja o consentimento do titular, que
corresponde à forma em que o titular
de dados pessoais irá determinar o ní-
vel de proteção e garantir a extensão
do fluxo dos seus dados, dando a sua
anuência expressa (art. 8º) para as fi-
nalidades descritas nos termos de con-
sentimento. Há algumas exigências que
a nova lei trouxe às empresas. Dentre
elas, está o dever de atendimento de
todos os titulares de dados, que mui-
tas das vezes, serão consumidores, nos
termos do artigo 2º do Código de De-
fesa do Consumidor. A meu ver, há re-
levante aumento da segurança jurídica
ao consumidor, em suas relações jurídi-
cas regradas pelo Código de Defesa do
Consumidor. Afinal, é necessário que o
agente de tratamento identifique se o
tratamento de dados pessoais respeita
os princípios expostos nos incisos do
00
art. 6º da LGPD e está respaldado por
uma ou mais hipóteses de tratamento
(art. 7º). Em várias hipóteses de trata-
mento de dados, pode-se estar diante
de relação consumerista. Isso pois o
tratamento de dados pode ser reali-
zado nas seguintes hipóteses: a) Con-
sentimento pelo titular: é a forma em
que o titular de dados pessoais irá de-
terminar o nível de proteção e garantir
a extensão do fluxo dos seus dados,
dando a sua anuência expressa (art. 8º)
para as finalidades descritas nos termos
de consentimento. b) Cumprimento
de obrigação legal ou regulatória pelo
controlador: necessário para atender
o interesse público, justificado pela
obrigação legal ou regulatória. Não de-
pende de consentimento do titular. Tais
como: tratamento de dados pessoais do
empregado para à Caixa Econômica Fe-
deral em razão da obrigação do FGTS;
coleta de dados para emitir uma nota
fiscal. c) Execução de políticas públicas:
previsto para Execução de políticas pú-
blicas. Exemplos: vacinação, Epidemia,
verificação de qualidade de ensino. d)
Estudos por órgão de pesquisa: para
fins de pesquisa, sendo que, sempre que
possível, se deve proceder com a anoni-
mização dos dados pessoais. Exemplo:
censo. e) Execução de contrato: o trata-
mento de dados é lícito Quando neces-
sário para a execução de um contrato
no qual o titular dos dados é parte ou
para procedimentos preliminares a sua
formação. f ) Exercício regular de di-
reitos em processo judicial, arbitral ou
administrativo: o tratamento de dados
no curso do processo é base legal para
a produção de provas e uso para o devi-
do processo legal. g) Para a proteção da
vida ou da integridade física: os dados
podem ser tratados para a proteção da
vida ou Integridade física pelos agen-
tes de saúde (médicos, Enfermeiros,
agentes sanitários). h) Para a tutela da
saúde: os dados tratados em âmbito da
Saúde devem servir para garantir a qua-
lidade de vida da sociedade e a redução
de riscos ao adoecimento. i) Legítimo
interesse: configurado nas situações
em que se Tem uma relação relevante
e apropriada entre o titular dos dados e
o responsável pelo tratamento, na qual
a finalidade Do tratamento é tida como
razoavelmente esperada pelo Titular do
tratamento, sem que lhe cause prejuí-
zos, devendo, sempre, ser avaliada no
caso concreto por meio de um teste de
legítimo interesse. j) Para a proteção
do crédito: os dados pessoais podem
ser tratados para proteção ao crédito
de forma a tornar a economia do país
mais segura e conceder mais benefícios
a quem cumpre com suas obrigações.
Conforme se nota logo no artigo 1º da
LGPD, “esta Lei dispõe sobre o trata-
mento de dados pessoais, inclusive nos
meios digitais, por pessoa natural ou
por pessoa jurídica de direito público
ou privado, com o objetivo de proteger
os direitos fundamentais de liberdade e
de privacidade e o livre desenvolvimen-
to da personalidade da pessoa natural”.
Trata-se de verdadeira concretização,
no plano infraconstitucional, da tutela
da inviolável intimidade, vida privada,
honra e imagem dos cidadãos, cujo as-
sento primeiro advém da Constituição
Federal (CF, artigo 5º, X). Os titulares
de dados poderão solicitar às empre-
sas, através de simples requerimento,
que forneçam, no prazo de 15 dias,
informações relativas aos seus dados,
devendo constar a indicação da origem
dos dados, da finalidade do tratamento,
dos critérios utilizados para coleta e tra-
tamento, ou declaração de inexistência
de dados, com fundamento nos artigos
9º, 18 e 19 da LGPD. Aliás, o próprio
Código de Defesa do Consumidor (Lei
nº 8.078/90) determina que o consu-
midor terá acesso as suas informações
existentes em cadastros, fichas, regis-
tros e dados pessoais e de consumos
arquivados sobre ele, bem como as
suas respectivas fontes, nos termos do
artigo 43 do CDC. Um detalhe merece
ser frisado, diferentemente das sanções
previstas na LGPD (art. 52 da Lei nº
13.709/2018), a violação dos direitos
dos consumidores (Lei nº 8.078/90)
constitui infração penal, tendo em vista
que impedir ou dificultar o acesso do
consumidor, bem como, deixar de cor-
rigir ou lhe entregar informações a seu
respeito, configura crime com pena de “Trata-se de
detenção ou multa, nos termos do ar-
tigo 72 e 73 do CDC. Ressalta-se que a verdadeira concreti-
LGPD prevê mecanismos protetivos si- zação, no plano
milares aos previstos no CDC, como é o infraconstitucional,
caso da inversão do ônus da prova, re-
alçando a comunicação das fontes entre da tutela da inviolável
os dois sistemas de proteção de dados intimidade, vida
e proteção do consumidor. Portanto, a privada, honra e
meu sentir, há relevante aumento da
segurança jurídica ao consumidor, em imagem dos cida-
suas relações jurídicas regradas pelo dãos, cujo assento
Código de Defesa do Consumidor.” primeiro advém da
Constituição Federal.”
00
 ça, por violação de lei de privacidade no entendimento da CNIL. O GDPR

Caso na UE.
Após diversas investigações, a CNIL (
Agência francesa de proteção de dados
exige uso de linguagem clara, concisa e
transparente para que qualquer pessoa
possa compreender como seus dados

concre- responsável pela punição) concluiu

que a Google não cumpriu com o prin-
são tratados.

to
cípio da transparência do GDPR – Re- Outro ponto a se observar, foi no que
gulamento geral sobre proteção de da- tange à violação acerca do consenti-
dos. Os detalhes como propósito para mento. Essa diluição das informações,
Com o advento na prática da Lei de a coleta de dados e período de arma- sobre tratamentos de dados, acaba fa-
privacidade, em âmbito internacional, zenamento de informações até existem, zendo o usuário concordar com aspec-
recentemente, proveio um caso en- mas estão distribuídos em muitos docu- tos pouco claros quando, na verdade,
volvendo uma empresa renomada no mentos, obrigando o usuário a acessar O GDPR exige que o serviço faça soli-
mundo tecnológico virtual, a “Google”. vários links para encontra-los. citações específicas e inequívocas de
Essa foi obrigada a pagar multa de 50 consentimento.
milhões de euros, aplicados pela Fran- Ademais, esses detalhes foram proposi-
talmente redigidos de modo obscuro, Levando em conta o caso acima expos-
15
to, considera-se importante frisar as
principais obrigações do GDPR, quais
seja: O serviço deverá permitir que o
usuário escolha como seus dados serão
tratados e autorize ou não o seu uso;
O usuário possui direito de saber quais
dados estão sendo coletados e para
quais finalidades; Deve haver meios
para que o usuário solicite a exclusão
de informações pessoais ou interrompa
a coleta de dados; Uso de linguagem
clara, concisa e transparente para qual-
quer pessoa possa compreender comu-
nicações sobre seus dados, sobretudo
termos de privacidade; dentre outras.
Ao analisar pela óptica pertinente aos
Direitos humanos – nesta revolução di-
gital -, nas américas, relevante observar
dois aspectos: a liberdade de expressão
no sistema interamericano na era da
virtualização da comunicação e a co-
missão interamericana frente à regula- o papel da CIDH no cenário internacio-
mentação das fake News. nal, visto a contradição com seu princi-
pal arcabouço legal.
A Convenção Americana de Direitos
Humanos ( Convenção ou CADH) de- Sendo assim, muito embora se tratar de
monstra em seu art. 13 as garantias e uma situação nova em todo o mundo
restrições relativas à liberdade de ex- e o Brasil já ter iniciado engatinhar em
pressão. O texto legal assegura garante relação à legislação no mundo digital,
a proteção simultânea das duas dimen- como a Lei de proteção de dados pes-
sões presentes na liberdade de expres- soais, Lei Carolina Dieckmann e a pri-
são e se caracteriza por determinar que vacidade já ser tutelada na esfera do
nenhuma forma de censura prévia é Direito Civil e Direito Penal, ressalta-se
passível sem ser estabelecido em lei. a importância da implementação de po-
Contudo, os Estados, com intuito de líticas que acompanhem as mudanças
resolver problemas relativos à comuni- que estão ocorrendo no mundo da co-
cação em massa, vêm limitando indevi- municação virtual a qual não faça que
damente a liberdade de expressão. Nes- a Convenção Americana de Direitos
se prisma, a CIDH condena restrições Humanos perca sua finalidade e que o
à capacidade do público de acessar a conteúdo de seu texto seja desabona-
internet. do.
Nesse diapasão, caracteriza de suma
importância ressaltar que o descum-
primento dos preceitos tipificados pela
Comissão é ato danoso à justiça inter-
nacional. Trindade, ao dissertar sobre
a eficácia das opiniões consultivas das
CIDH, explicita eu os Órgãos ou Esta-
dos que realizaram a consulta não po-
dem se desviar da interpretação fixada,
sob pena de posteriormente na apli-
cação de uma lei violadora da CADH
incidirem em responsabilidade interna-
cional.
Conquanto a Corte não tenha prece-
dentes de julgamentos aos quais abor-
dam de forma atual os problemas en-
frentados com o aumento do fluxo de
informações, o sistema interamericano
vem evoluindo gradativamente seu en-
tendimento quanto às garantias da li-
berdade de expressão.
Por outro lado, ao se tratar das “fake
News”, torna-se claro que mesmo com
uma mudança de paradigma ao qual a
Comissão venha estabelecer, ou aceitar
por parte de seus Estados membros
uma prévia censura, ou uma limitação
na liberdade de expressão quando se
trata de notícias falsas, isso se tornaria
ilegal e enfraqueceria a credibilidade e
16
Justiça condena Serasa por
divulgar telefone de devedor
sem autorização prévia

A 7º Vara Cível da Comarca de São José
do Rio Preto condenou a Serasa Expe-
rian a uma indenização por danos mo-
rais de R$ 4 mil reais a um cidadão que
teve seus dados telefônicos divulgados
em cadastro de devedores sem seu con-
sentimento prévio. O juiz Luiz Fernan-
do Cardoso Dal Poz fundamentou sua
decisão na Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD) e no Código de Defesa
do Consumidor (CDC). A Serasa ainda
pode recorrer da decisão. Segundo o
magistrado, apesar da LGPD permitir o
tratamento de dados pessoais para pro-
teção de crédito, de forma involuntária,
sem consentimento do interessado,
isso não se aplica para a divulgação de
dados telefônicos.
Violação de direitos
Na ação, o autor diz que “a abertura
do cadastro contendo divulgação de
dados pessoais do consumidor, especi-
ficamente no que concerne a tornar pú-
blico, a quem se interessar, sem prévio
conhecimento do cadastrado, o acesso
a informações contendo informações
como o código de acesso de seus ter-
minais telefônicos, endereço, consultas
anteriores etc. implica em ato ilícito
passível de indenização decorrentes da
violação ao direito da privacidade e in-
timidade”.
Dal Poz citou que é papel da Serasa
realizar o tratamento de dados con-
forme previsto na LGPD, respeitando
os aspectos de finalidade e contexto,
previsto no art. 6º, inc. II, da LGPD.
“A divulgação de números de telefone
pessoais do consumidor não se mostra
adequada, nem necessária, para pro-
teção ou análise de crédito quando o
dado não é voluntariamente disponibi-
lizado”, afirmou o magistrado. “Portan-
to, tal divulgação vulnerou sim direitos
personalíssimos do autor, promovendo
acesso indiscriminado, por meio de nú-
meros de telefones, que sabidamente, é
fonte de aborrecimentos e abusos nas
relações entre credores e devedores,
como meio de cobrança”, apontou o
magistrado.

Podemos notar através de tal reportagem que por mais que de acordo com a lei Nº 14.010, DE 10 DE JUNHO DE 2020
em seu art. 20 venha redigindo que os arts. 52,53 e 54 da lei 13.709/18 que tratam das sanções que serão aplicadas às
pessoas físicas e jurídicas que realizam o tratamento de dados e agem em desconformidade a tal lei, serão aplicadas
somente após o dia 1 de agosto de 2021, algumas sentenças já são aplicadas utilizando-se a LGPD como fundamenta-
ção. Mediante isso podemos perceber que a LGPD já vem tendo alguns efeitos no âmbito jurídico, e que com o passar
do tempo seus efeitos serão cada vez mais rígidos e concretos.

Reportagem: https://teletime.com.br/28/04/2021/justica-condena-serasa-por-divulgar-tel efone-de-devedor-sem-autorizacao-previa/

18
REVISTA SEJA - UNA CONTAGEM

PA LAV R A S
C R U ZA D A S L GP D
Lei Geral da Proteção de Dados
N°13.709/2018

1
4
DICAS
1- UM DOS PRINCÍPIOS DA LGPD, ONDE TODAS
AS INFORMAÇÕES PASSADAS PELA EMPRESA,
EM TODOS OS SEUS MEIOS DE COMUNICAÇÃO,

3 DEVEM SER CLARAS, PRECISAS E

VERDADEIRAS.

2- UM DOS PRINCÍPIOS DA LGPD, EM QUE É DE

RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS BUSCAR
5 PROCEDIMENTOS, MEIOS E TECNOLOGIAS QUE
GARANTAM A PROTEÇÃO DOS DADOS
PESSOAIS DE ACESSOS POR TERCEIROS

3- ELEMENTO CRUCIAL QUE É PROTEGIDO PELA

LGPD

6 4- MANIFESTAÇÃO LIVRE, INFORMADA E

INEQUÍVOCA PELA QUAL O TITULAR
2 CONCORDA COM O TRATAMENTO DE
SEUS DADOS PESSOAIS PARA UMA
FINALIDADE DETERMINADA.

5- NOME DADO PARA A PESSOA NATURAL A

QUEM SE REFEREM OS DADOS PESSOAIS QUE
SÃO OBJETO DE TRATAMENTO.

6- NOME DADO PARA A AÇÃO OU RESULTADO

DE MANTER OU CONSERVAR EM
REPOSITÓRIO UM DADO

8 7- NOME DADO PARA A MUDANÇA DE DADOS

DE UMA ÁREA DE ARMAZENAMENTO
PARA OUTRA, OU PARA TERCEIRO

8- NOME DADO A POSSIBILIDADE DE

COMUNICAR-SE COM UM DISPOSITIVO,
MEIO DE ARMAZENAMENTO, UNIDADE
DE REDE, MEMÓRIA, REGISTRO, ARQUIVO
ETC., VISANDO RECEBER, FORNECER, OU

7 ELIMINAR DADOS
1- TRANSPARÊNCIA, 2-SEGURANÇA, 3- DADOS, 4- CONSENTIMENTO, 5- TITULAR, 6-
ARMAZENAMENTO, 7- TRANSFERÊNCIA, 8- ACESSO

00
A LGPD vem com o intuito de
colocar nas mãos do titular das
informações e dados o controle
sobre eles. Ou seja: todo usuário
deve permitir, de forma explíci-
ta, consciente e espontânea, que
empresas utilizem os seus dados
pessoais para fins específicos, mas
isso ainda não impede alguns
riscos como o de clonagem do
whatsapp que por sua vez pode
desencadear uma série de prejuí-
zos a vítima. Portanto, cabe a to-
dos se inteirar dos perigos virtuais
existentes e se auto proteger dos
mesmos, enquanto a LGPD faz
seu papel como lei estabelecendo
regras para o uso, coleta, armaze-
namento e compartilhamento de
dados dos usuários por empresas
públicas e privadas.
O WhatsApp clonado é um tipo
de golpe em que o criminoso nor-
malmente se passa por uma em-
presa conhecida do usuário, como
sites de compra e venda, ou por
um organizador de eventos, ou no
caso da charge um por um aten-
dente de telemarketing que oferece
uma proposta atrativa para a víti-
ma. O golpista entra em contato
com o usuário por meio de ligação
ou por mensagem no WhatsApp,
afirmando sobre um suposto erro,
reclamação nas plataformas de
anúncios ou oferecendo produtos
e serviços gratuitos. Em seguida,
ele solicita que a vítima envie o
código de verificação do WhatsA-
pp, que é enviado por SMS para
validar as solicitações.
Tendo posse do código do mensa-
geiro, o criminoso consegue clo-
nar o WhatsApp da vítima, e passa
a ter acesso à sua lista de contatos
e grupos no app. Normalmente,
este tipo de golpe é utilizado pelo
criminoso com o intuito de pedir
dinheiro para amigos e familiares
da vítima.
Para não ter o WhatsApp clonado
é necessário ter atenção. O próprio
SMS enviado pelo mensageiro
afirma que o código de verificação
não deve ser compartilhado com
terceiros. Sendo assim, suspeite de
mensagens que forem enviadas no
nome de empresa e não informe
códigos do WhatsApp em troca de
nenhuma oferta tentadora.
2000
 Tratado de Prote-
ção de Dados
Teoria geral do
direito digital
leitura
Pessoais ( Wolfgang Hoffmann-Riem)
(Bruno Bioni, Danilo Doneda, Ingo
Este livro expõe, de forma geral acerca
Wolfgang Sarlet, Laura Schertel e Ota-
dos problemas causados pelas tecnolo-
vio Luiz Rodrigues Jr.)
gias digitais nos diversos sistemas jurí-
O livro Tratado de Proteção de Dados dicos.
Pessoais aborda em sua narrativa, o
equilíbrio entre questões teóricas e
aplicações práticas, por meio de uma
análise completa da matéria, funda-
mentada em artigos de juristas altamen-
te qualificados.
00 21