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AVALIAÇÃO 3 - ENSAIO REFLEXIVO

LISTA 1 - PESTES E PANDEMIAS

"A PESTE, DE ALBERT CAMUS"


Lançada em 1947, A Peste, de Albert Camus, focaliza a mudança que
perpassa a vida dos concidadãos de Oran. O aspecto banal da cidade é comutado
de maneira abrupta com o surgimento da peste que, transmitida por uma infinidade
de ratos, vai aniquilando a população. Para além da representação da epidemia. A a
narrativa é uma alegoria da morte em massa ocasionada pela Segunda Guerra
Mundial. O romance dá vasão ao trauma dos europeus que, postos em “quarentena”
pela ocupação alemã, lutavam contra o genocídio empreendido pela opressão
nazista. A Peste (1947) nos é apresentada pelo médico Bernard Rieux. Este, ao
reunir uma série de depoimentos, age como um historiador. Amador, a bem da
verdade, mas munido de documentos vários e disposto a reconstituir a história do
flagelo que vivenciara. Assim, a exposição do narrador, que é pluriangular, permite
uma outra compreensão da dimensão histórica que circunda a catástrofe
supracitada. Dito isso, o objetivo deste trabalho é o de evidenciar que a narrativa
pode ser lida sob o viés da metaficção historiográfica, porque dispões de artifícios
explicativos sobre a sua construção e retrata um momento histórico. (FELMAN,
2000)

1 INTRODUÇÃO

O presente ensaio fez-me analisar o tema do acontecimento e suas relações


com a linguagem, onde demonstra-se bem claramente a concepção de resistência
no romance: "A Peste, de Albert Camus", na qual envolve questões relativas ao
exame da condição humana e diante da verdade dos acontecimentos históricos que
são, de modo alegórico, evocados no livro sob a imagem da epidemia.
Tudo teve início quando, milhares de ratazanas começam a fugir dos esgotos
e a invadir as ruas. Assim os habitantes começam a cair doentes e, dali a poucos
dias, a morrer.
No referido romance a população reage com ações que os expõe a risco para
enfrentar a disseminação da peste, pois na verdade eles não sabem claramente como as
coisas são de fato.
Em A Peste, por sua vez, o Dr. Bernard Rieux, desde o primeiro momento
da narrativa, sente a necessidade de uma participação incondicional, ou
seja, de um ajuste ou luta solidária perante as ameaças de tudo aquilo que
é externo à natureza humana, razão pela qual, efetivamente, Camus expõe
o médiconarrador como protótipo de Prometeu, um modelo de resistência e
de revolta diante dos acontecimentos, ou, “aquele que diz não a tudo que
força os seus limites, a tudo que o violenta e o priva de exercer livremente
os seus direitos e que sabe também que sua revolta deve respeitar alguns
limites” (QUADROS, 1979, p. 14).

Embora pertença ao segundo ciclo, A Peste figura como um livro de transição.


Para Camus: "Se há evolução do Estrangeiro para A Peste, ela se faz no sentido da
solidariedade e da participação. A novidade consiste nisto: o homem absurdo não é
mais um solitário, mas se torna solidário dos outros, combatendo a absurdidade com
os meios mais comuns" (CAMUS, 2014, p. 112).
Nessa perspectiva, “a ênfase no humano" é equilibrada pela consciência de
suas limitações. Diante do quadro em que estamos vivenciando hoje, as doenças
infecciosas aparecem como um dos grandes temores da humanidade, as
pandemias, como por exemplo, a do novo coronavírus noticiados pela mídia, com
suas transformações e mutações.
Um ano após a publicação de A Peste, em 1948, Camus se referiu ao seu
livro do seguinte modo:

Pode-se ler A peste de três maneiras diferentes. Ela é ao mesmo tempo a


narrativa de uma epidemia, o símbolo da ocupação nazista (e, aliás, a
prefiguração de todo regime totalitário, seja ele qual for) e em terceiro lugar
a ilustração concreta de um problema metafísico, o do mal. Tendo a mais o
gênio, foi o que Melville tentou fazer com Moby Dick (TODD, 1998, p. 346).

Aqui não se confunde, a realidade e a ficção, pois há uma figuração precisa


da natureza humana, cheia de acontecimentos, onde é possível ilustrar através da
leitura do enredo, a conjugação entre a vida e a arte narrativa na composição de
uma simbologia da doença e da luta no exílio.

2 DESENVOLVIMENTO
A Peste foi basicamente o resultado de uma manifestação de resistência do
autor que em vida participou dos acontecimentos históricos mais prementes de sua
época. Escrever um romance sobre o tema do exílio e da separação, e o inerente
problema do mal foi, para Camus, uma maneira de combater a alienação e
expressar sua revolta através da arte narrativa.
O esgotamento humano na obra do escritor Camus, associa os sofrimentos
da humanidade, mas também retrata a solidariedade, compaixão, companheirismo
que se manifestam justamente em momentos extremos, onde a peste não escolhe
suas vítimas, mas é coabitada pela fraternidade e pela desigualdade.
“A peste, obra-prima de Albert Camus, é de 47, e pode ser lida como a
súmula de um prometeísmo estóico e ao mesmo tempo fraterno: no perigo coletivo
de uma epidemia o homem descobre que a sua solidão é a solidão de cada um, logo
de todos” (BOSI, 2002, p. 127).
As crises sempre vêm trazendo degradações de maneira econômica, déficit
na educação e saúde. A pandemia veio composta de transtornos graves para toda
humanidade, e ataca de maneira indiferente todas as classes sociais, todas as
profissões e gêneros.
A peste se mostra como uma ferramenta de estudo em conseqüência de
outras doenças ou epidemias, sendo assim, há produção de textos filosóficos e
literários por ela gerados.

A peste de Camus não é uma epidemia clássica, assim como constam nos
manuais de medicina. Talvez não haja mais epidemias clássicas, assim
como não há mais guerras clássicas, da declaração das hostilidades até o
tratado de paz. Mas salientando esse momento de imprevisibilidade e
inevitabilidade, Camus escreveu o livro clássico sobre a peste do nosso
tempo. Clássico também é o estilo da obra, 33 contrastando vivamente com
a atmosfera angustiosa na cidade assediada e isolada do mundo. As
discussões têm caráter de ensaios elaborados. Camus é, como Broch ou
Musil, romancista-ensaísta (CARPEAUX, 2014, p. 2816).

A obra de Camus, faz referência a esse universo, pois nessa literatura da


peste, há inúmeras possibilidades que se reencenam ao longo da História, contendo
a singularidade de cada acontecimento.
Ainda que não seja possível estipular todas as teorias e todos os
conhecimentos sobre o tema e destacar relevâncias na maioria das obras artísticas
sobre a peste, essa tal pandemia que também nos assola no dias de hoje, servem
para explorar diferentes tipos de crise. Com disso, destacam questões ligadas à
segurança, descobertas científicas e de motivações políticas, levando a população à
quarentena e ao confinamento, que estimula atos de rebeldia à favor da liberdade,
que por sua vez são contidos ainda com maior rigidez.
Para Camus a peste está ligada ao sentido de castigo dada por Deus, onde
há apelos humanos e não há piedade, nem misericórdia, onde o Cristianismo remete
uma doutrina injusta. A peste traz consigo uma ideia de purificação e punição divida,
onde os moradores eram castigados por comportamentos levianos e pouco cristãos.
A pandemia nos recorda que, como seres humanos, compartilhamos de uma
condição comum, quando o aporte financeiro já não basta, aumento do desemprego,
a miséria mostra-se mais forte que o medo.

3 CONCLUSÃO

A Peste (1947), se configurou com o medo instalado, a incerteza de um


futuro, a perda da esperança e a solidão ocasionados pelo flagelo, cumprindo um
papel social, ao assumir uma postura revisionista dos desígnios da história.
O romance traz um apelo para que esses males jamais sejam esquecidos,
para que não se repitam, e para que não sejam chamados de “acontecimentos
inesperados, imprevistos e imprevisíveis. As narrativas relacionadas como A Peste
(1947) são relevantes porque se ocupam de explicar a história dada como oficial sob
múltiplos vieses, possibilitando, assim, novas leituras, percepções e construções de
pensamentos críticos em relação ao que é imposto como verdadeiro.
Em seu romance, Camus retratou brilhantemente a peste nos anos quarenta.
Hoje estamos vivenciando a pandemia do Coronavírus, só que de maneira mais
grave do que retratado por Camus, ou seja, não temos um Rieux, médico que tomou
a frente dessa batalha, atentando-se para as questões sanitárias e humanas, que
amenizasse a dor de milhares de famílias. Temos sim uma saúde falha, governantes
despreparados e uma população que ainda não acredita que estamos lidando com
um mal jamais visto durante séculos, depois da Peste Negra, claro.
O governo não quer combater o mal em sim, mas controlar o pânico. A
população doente e em pânico por cauda da pandemia não consegue se organizar
para lutar e o medo faz com que voltam-se para si mesmos, sendo incapazes de
prestar ajuda aos companheiros.

4 REFERÊNCIAS

BOSI, A. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

CAMUS, A. O exílio e o reino. Lisboa: Edição Livros do Brasil Lisboa, 2014.


CARPEAUX, O. M. História da literatura ocidental. Volume 4. São Paulo: Texto
Editores, 2014.

FELMAN, Shoshana. Educação e crise, ou as vicissitudes do ensino. In: Catástrofe


e Representação: ensaios. NESTROVSKI, Arthur & SELIGMANN-SILVA, Márcio
(orgs.). São Paulo: Escuta, 2000.

QUADROS, A. Introdução. In: CAMUS, A. Estado de sítio. São Paulo: Abril Cultural,
1979.

TODD, O. Albert Camus: uma vida. Tradução de Monica Stahel. Rio de Janeiro:
Record, 1998.

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