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neira geral, melhoras significativas foram alcançadas com o avanço da eletrônica e dos sis-
temas de aquisição de dados. A grande evolução dos instrumentos nos últimos anos se deu
associada ao desenvolvimento de aferidores dielétricos, os quais permitem inferir não apenas
o teor volumétrico, mas também a concentração de eletrólitos em solução (Raats, 2001).
Os equipamentos de tensiometria passaram de medidores de vácuo e tubos em U preen-
chidos com água ou mercúrio a transdutores elétricos, permitindo, assim, o desenvolvimento
de microtensiômetros de resposta rápida. A partir do aumento de precisão dos transdutores
de pressão e dos dataloggers, a sensibilidade das aferições em relação a perturbações pode
agora ser avaliada (Raats, 2001).
Com o intuito de contribuir para a avaliação numérico-analítica das equações de infil-
tração, o presente capítulo tem o objetivo de analisar a dedução e avaliação de alguns dos mais
utilizados modelos, quais sejam: Green-Ampt e Talsma-Parlange. Além disso, a equação de
infiltração de três parâmetros proposta por Parlange et al. (1982) também será estudada em
detalhes. De maneira simplificada, o último modelo é uma interpolação entre os modelos de
Green e Ampt (1911) e de Talsma e Parlange (1972).
2 EQUAÇÃO DE RICHARDS
Derivada por Richards (1931), a equação que governa o movimento de água em solos
não saturados pode, em princípio, ser escrita como função do teor de umidade volumétrico
do solo ou de seu potencial matricial. Ou seja, pode-se, de maneira simples, manipular a
equação para que a variável dependente se torne um dos dois parâmetros citados. Em termos
do potencial matricial, a equação unidimensional de Richards toma a seguinte forma (Bar-
ry et al., 1993):
(1)
3 FUNÇÃO W DE LAMBERT
O princípio de Pareto estabelece que, para fenômenos das mais diversas naturezas, cerca
de oitenta por cento das consequências é resultado de apenas vinte por cento das causas. De
fato, sob o prisma das ciências exatas, a lógica descrita é facilmente aplicada. Exemplificando,
observa-se de maneira geral que do tempo empregado na elaboração de um artigo ou teoria
Modelos teóricos de infiltração em meios porosos: equação de Richards e suas aplicações 3
grande parte é consumida ao se pensar nos pilares da nova ideia e em sua descrição, enquanto
relativamente pouco é necessário para descrever textual ou matematicamente o que se tem em
mente.
De maneira mais específica, reaplicando o princípio à descrição matemática necessária
ao desenvolvimento da referida ideia, pode-se esperar que metodologias mais simples tendam
a ser responsáveis por grande parte do processo de solução. Novamente, isso se verifica em
qualquer trabalho científico.
Em especial, considere-se a seguinte equação:
(2)
É intuitivo que funções simples tenham equações funcionais também simples. Por
exemplo, a função de potência pode ser facilmente representada como solução da equação
funcional f (a) f (b) = f (a + b). Ao avaliar a Equação , naturalmente se imagina que, caso exista
uma função w que a satisfaça, tal função deve ser simples como o é a equação.
Segundo os esforços de Euler e Lambert, há de fato uma função W (x) que satisfaz a
Equação (2) e cuja denominação, em homenagem ao último, é função W de Lambert. De ma-
neira formal, pode-se definir a função W de Lambert para uma variável real x como (Cor-
less et al., 1996):
(3)
Nota-se que para x ϵ [–1/e, 0] há dois valores reais possíveis para W(x), quais sejam:
W0(x) denota o ramo em que W(x)≥ –1 enquanto W-1(x) denota o ramo em que W(x)<–1.
Por simplicidade de notação, a função W de Lambert será referida como função W. A Figura
1 mostra o comportamento da função assim como seus ramos representados por linha cheia
(W0(x)) e linha tracejada (W-1(x)).
A proposição de descrição matemática feita por Green e Ampt (1911) figura como um
dos mais explorados modelos de infiltração. Em resumo, foi deduzida a partir da Equação
de Darcy e de outras hipóteses, como a existência de uma carga hidráulica constante na su-
perfície do solo durante todo o processo de infiltração. O teor volumétrico de água da zona
de transição (θt) atinge o valor saturado (θs); logo, a condutividade hidráulica na referida
zona (Kt) é equivalente ao valor saturado (Ks) e há a formação de uma frente de molhagem
horizontal bem definida, caracterizando o movimento da água como um pistão (Zonta et
al., 2010).
Considera-se, no presente estudo, em vez da taxa de infiltração, a lâmina de infiltração
acumulada. Dessa maneira, a integração da equação da taxa de infiltração de Green-Ampt foi
dada por Mein e Farrel (1974) como:
(4)
A Equação (4) tem variáveis adimensionais dadas por t*, que é o tempo adimensional,
e I* ≥, representando a lâmina acumulada adimensional. Vale notar que a dimensionalização
das variáveis de interesse será discutida em momento fortuito.
Note-se que, após uma breve manipulação algébrica, a Equação (4) pode ser reescrita
como:
(5)
A partir da comparação entre as Equações (3) e (5), pode-se dizer que:
(6)
Note-se que o único ramo de W que se adapta à Equação (5) é o ramo -1, haja vista que,
como I* ≥ 0, o lado direito da Equação (6) é sempre menor que -1. Dessa maneira:
(7)
Em acordo com a solução apresentada por Parlange et al. (2002), a Equação (7) repre-
senta de maneira exata a solução da equação adimensional de Green-Ampt por meio da
função W.
Estudos experimentais levam a crer que as situações de campo estão limitadas por dois
comportamentos limites (Parlange et al., 2002). O primeiro é observado quando o solo
segue uma lei de infiltração matematicamente descrita pela Equação (4) de Green-Ampt, dis-
cutida anteriormente. O outro limite é dado quando o solo se comporta segundo a formula-
ção proposta por Talsma e Parlange (1972). As hipóteses dedutivas de ambos os modelos de
Green-Ampt e Talsma-Parlange são semelhantes, sendo a maior diferença o fato de o último
considerar que há uma relação de proporcionalidade entre a difusividade do solo (D) e I* ≥
Id=t* , enquanto o primeiro assume uma difusividade de rápida variação e uma condutividade
Modelos teóricos de infiltração em meios porosos: equação de Richards e suas aplicações 5
hidráulica quase constante (Parlange et al., 2002). A equação que relaciona a lâmina in-
filtrada adimensional com o tempo adimensional, para o caso de Talsma-Parlange, é expressa
por (Talsma e Parange, 1972):
t* = I* + exp (–I*) –1 (8)
Da mesma maneira que se procedeu com a Equação (4), após manipulações algébricas,
a Equação (8) pode ser reescrita como:
(I* – t* – 1) exp (I* – t* – 1) + exp (–t* – 1) = 0 (9)
A comparação entre as Equações (3) e (9) fornece:
W (–exp (–t* –1) = (I* –t* –1) (10)
Por inspeção da Equação (10), é visível que dois casos de solução são possíveis, quais
sejam: quando I* > t* , o ramo correspondente é o ramo 0; por outro lado, quando I* < t* , a
solução se encontra no ramo -1. Há que se avaliar o comportamento das funções I*, dada
pela Equação (8), e da função identidade Id = t*. Considere-se, assim, a derivada implícita da
Equação (8) em relação a t* :
(11)
Note-se que a derivada na Equação (11) é sempre maior do que um. A função expressa
implicitamente na Equação (11) tem seu crescimento sempre mais rápido que a função iden-
tidade; assim, caso haja um ponto de igualdade entre as duas funções, a partir deste a função
dada na Equação (11) será sempre maior que a identidade. Sabe-se, no entanto, que o único
ponto de igualdade no intervalo I* ≥ 0 é seu limite inferior, ou seja, quando I* = 0. Dessa forma,
pode-se dizer que I* ≥ Id=t* , e o único ramo possível é o ramo 0. Finalmente, o resultado, que
está em consonância com aquele obtido por Parlange et al. (2002), é:
(12)
(13)
Sabe-se que uma das maneiras mais corriqueiras de se solucionar a equação de Richards
é por meio da transformada de Boltzmann. Neste capítulo, utilizar-se-á a transformada de
Boltzmann generalizada, definida por:
(14)
A partir da definição da transformada dada pela Equação (14) e do fato de que Ψ é fun-
ção de z e de t, podem-se obter as seguintes relações:
(15)
(16)
Ao se considerar por hipótese que a Equação (16) é simétrica, pode-se inferir a seguinte
suposição com intuito de simplificar os cálculos:
(17)
(18)
(19)
A Equação (19), uma vez solucionada, possibilita, a partir da equação de Richards trans-
formada, Equação (16), descrever todas as variáveis de interesse no problema de infiltração.
Como a equação diferencial, Equação (19), é ordinária e separável, duas situações são possíveis.
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(20)
(21)
(22)
(23)
em que Ξ é uma constante arbitrária. Nesse caso, as soluções são dadas por:
(24)
Para a Equação (24), a determinação de qual ramo da função W é consistente, haja vista
o grande número de constantes de integração, é sobremaneira complexa. Essa etapa é deixada
para o momento em que se atribui significado físico aos parâmetros. Cabe ressaltar, por outro
lado, que qualquer ramo da função W satisfaz a equação.
8 Tópicos sobre Infiltração: Teoria e Prática Aplicadas a Solos Tropicais
(25)
A solução para o conjunto de equações da Equação (25) pode ser dada ao adotar –Ξ no lugar de Ξ na
Equação (24). Da mesma forma observada para a Equação (24), a determinação de qual ramo da função
W é coerente é de grande complexidade.
(26)
Da mesma forma que se procedeu para as Equações (23) e (25), por meio da aplicação de técnicas de
resolução de EDOs, as soluções das equações na Equação (26) podem ser dadas por:
(27)
Ao utilizar a Equação (27) em conjunto com a equação de Richards transformada Equação (16),
pode-se obter:
(28)
(29)
(30)
É ainda válida a consideração feita anteriormente em relação à obtenção dos ramos de interesse.
Modelos teóricos de infiltração em meios porosos: equação de Richards e suas aplicações 9
(31)
Para a obtenção das soluções da Equação (31), basta trocar Γ na Equação (30) por –Γ.
Para todos os casos de interesse, a Tabela 1 congrega os resultados. Os índices subscritos
utilizados, por questão de organização, seguem a ordenação natural advinda do processo de
solução aqui aplicado.
Nota-se que, até o presente momento, a solução apresentada acima está desprovida de
sentido físico. Essa conotação de aplicação a casos reais pode ser dada ao avaliar as constantes
de integração obtidas acima.
Quando se considera o fenômeno de infiltração, para que se possa obter a lâmina infil-
trada, deve-se obter o fluxo de água, q (z, t), passante no meio poroso. Dessa forma, a Lei de
Darcy estabelece que, para a carga total H, dada por:
H = Ψ + z, (32)
a equação que fornece o fluxo é descrita como:
(33)
O fluxo para todas as possíveis constantes de integração pode ser obtido ao se avaliar a
Equação (33) com as variáveis apresentadas na Tabela 1. No entanto, para que não se estenda
em demasia, o presente esforço considera apenas um caso cujo sentido físico é evidente. Para
tanto, ao rearranjar a expressão do potencial matricial, Ψ, com base nas Equações (14), (21) e
(24), para o caso (i) a, tem-se:
(34)
Nota-se claramente uma ligação entre a Equação (34) e a Equação (3) reescrita da se-
guinte maneira:
W (x) = xe–W(x) (35)
Isso implica, em última instância, na seguinte forma para o potencial matricial (Equação
(34)):
(36)
10 Tópicos sobre Infiltração: Teoria e Prática Aplicadas a Solos Tropicais
A partir das Equações (33) e (36), o gradiente hidráulico pode ser dado por:
(37)
Sabe-se, por outro lado, que o fluxo e a lâmina infiltrada acumulada podem são descritos
pela seguinte relação (Barry et al., 1993):
(38)
(39)
(40)
Por meio de técnicas de integração, a lâmina infiltrada acumulada, Equação (40), pode
ser reduzida a
(41)
(42)
Modelos teóricos de infiltração em meios porosos: equação de Richards e suas aplicações 11
(43)
(44)
(45)
Para que se possam comparar os resultados obtidos por meio da solução da equação de
Richards com os resultados de Green-Ampt, considere-se a seguinte relação que fornece as
variáveis dimensionais de tempo e lâmina acumulada (Parlange et al., 2002):
(46)
12
Variáveis Casos de Interesse
Caso (i) Caso (ii)
Subcaso a Subcaso b Subcaso a Subcaso b
Ξ Ξ –Ξ – –
Γ – – Γ –Γ
g(t)
Tabela 1. Resultados para os Casos de Interesse.
θ –ΓK + c13
Tópicos sobre Infiltração: Teoria e Prática Aplicadas a Solos Tropicais
Modelos teóricos de infiltração em meios porosos: equação de Richards e suas aplicações 13
em que Ψw é o potencial matricial da frente de umedecimento; ps é a carga de pressão média
na superfície, e θ0 é o teor volumétrico inicial do solo.
É notável a semelhança entre a forma dimensional das Equações (7) e Equação (44).
Pode-se afirmar que, para uma escolha correta de parâmetros, o modelo de Green-Ampt pode
ser deduzido a partir da equação de Richards. De fato, Barry et al. (1993) mostraram uma
escolha de parâmetros específica a partir da qual o modelo de Green-Ampt foi deduzido.
Um ponto sobremaneira interessante de todo o processo acima descrito é que a hipótese
de que há uma frente de molhagem bem definida na forma de pistão, utilizada nas deduções
de Green-Ampt e Talsma-Parlange, não precisou, em nenhum momento, ser levada em con-
sideração na solução.
(47)
(48)
Ou seja, o limite inferior é dado pela equação de Green-Ampt. Por outro lado, quando α
tende a um, a partir da aplicação das técnicas de limite chega-se a:
(49)
14 Tópicos sobre Infiltração: Teoria e Prática Aplicadas a Solos Tropicais
Disso se pode dizer que o limite superior é dado pelo caso de Talsma-Parlange.
Não se pode resolver de maneira exata e analítica a Equação (47) em termos da função
W de Lambert, o que torna necessária a busca por outra metodologia de solução. O método
da inversão de Lagrange tem sido utilizado pelos autores no mais diversos campos da En-
genharia Civil, como pode ser visto em Swamee et al. (2011a) e (2011b). A seguir, algumas
definições básicas e a descrição do teorema são mostradas.
(51)
É evidente que as condições de convergência da série na Equação (51) devem ser aten-
didas para que a solução proposta seja coerente. Nota-se, ainda, que na Equação (51) a série
não depende de y. Assim, caso se considere ζ (y) = y, a função antes descrita implicitamente
na Equação (50) pode ser facilmente explicitada.
No processo de solução da Equação (47), utiliza-se outra função especial que prova-
velmente seja familiar ao leitor: a função Gama de Euler, também conhecida como função
fatorial generalizada. Pode-se definir a função gama por meio da seguinte integral imprópria
(Artin, 1964):
(52)
A integral acima é valida para qualquer argumento z complexo, exceto quando z = –t,
t ϵ ☐. Nesse último caso, a função gama é indefinida. Por meio da utilização de técnicas de
integração por partes, a partir da Equação (52), a seguinte importante propriedade pode ser
demonstrada:
Γ (z + 1) = z Γ (z) (53)
Quando z é um número natural, a Equação (53) pode ser reduzida a Γ (z+1) = z!, jus-
tificando-se, assim, a denominação de função fatorial generalizada. De posse das definições
necessárias, procede-se para a obtenção da solução da Equação (47).
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(55)
(56)
(57)
(58)
(59)
(60)
16 Tópicos sobre Infiltração: Teoria e Prática Aplicadas a Solos Tropicais
Note-se que, de acordo com as singularidades da função Gama, a fórmula acima tem
sentido apenas para os dois primeiros termos do somatório, haja vista que, para valores de n
maiores, números inteiros negativos aparecem como argumentos. Esse tipo de consideração
deve ser feito quando se pretende permutar entre o fatorial clássico e o fatorial generalizado,
pois algumas das relações concernentes ao primeiro não são válidas para o segundo. Objetiva-
-se, então, aplicar alguma formulação que permita sair do domínio inteiro negativo e entrar
no domínio dos positivos. Sabe-se, por outro lado, que o quociente de funções gamas na
Equação (60) pode ser reescrito como:
(61)
Para a Equação (61), é possível notar que sua validade é verificada quando n é maior ou
igual a dois. Dessa maneira, a Equação (60) pode ser reescrita como:
(62)
Por outro lado, pela fórmula de duplicação da função gama, sabe-se que:
(63)
(64)
(65)
(66)
Finalmente, a partir da soma e subtração dos dois primeiros termos da série, a expressão
dentro do logaritmo no lado esquerdo da Equação (66) torna-se:
(67)
Modelos teóricos de infiltração em meios porosos: equação de Richards e suas aplicações 17
É conhecida a seguinte relação para a expansão em série de Taylor para a função raiz
quadrada:
(68)
(69)
Em princípio as Equações (59) e (69) aparentam ser distintas; no entanto, note-se que:
(70)
Por inspeção das Equações (59), (69) e (70), pode-se dizer que de fato a solução em for-
ma de série infinita é correta, haja vista que se reduz a um caso de solução conhecida.
Cabe ressaltar também que, caso haja preferência por uma abordagem numérica, Oze-
lim et al. (2011) apresentaram a solução da Equação (47) por meio dos métodos de Househol-
der, que se caracterizam por fornecer relações iterativas cuja convergência pode ser tomada
tão rápida quanto se queira para uma única iteração.
Figura 2. Abordagem Paramétrica da Solução Geral da Equação dos Três Parâmetros para Diferentes
Valores de α.
11 CONCLUSÃO
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