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Isabelle Karla de Almeida Reis


José Jaelson Elias da Silva Filho

A LEGITIMIDADE DO PRONUNCIAMENTO JUDICIAL E A PRESENÇA DO


AMICUS CURIAE NO IRDR.

A expansão do exercício a tutela jurisdicional levou ao crescimento de


conflitos em massa, identificados pelo grande número de pretensões individuais,
com questões de direito idênticas, considerados como direitos homogêneos no qual
sua defesa pode ser realizada de forma individual ou coletiva. 1
Ocorre que o nosso ordenamento não estava adequado para solucionar estes
conflitos. O CPC/73 foi escrito visando litígios individuais e ao longo da sua vigência
ocorreram mudanças pontuais no processo civil é caso da influência da EC nº45, o
incidente de uniformização da jurisprudência, o mandado de segurança coletivo (art
20 e 21 da lei 12016/09) , o Código de Defesa do Consumidor que permitiu a
utilização da Ação Civil Pública nos casos de efetiva repetição de processos com
mesma questão de direito em matéria consumerista, etc. Mesmo assim o
ordenamento não estava pronto para solucionar esses casos repetitivos, era
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necessário um regime apropriado para estas situações.
Diante de toda essa problemática e ainda diante dos litígios em massa julgados
de forma incoerente entre si, colocando em tese a isonomia e a segurança jurídica
no processo, na jurisprudência uniformizada, bem como colocando em tese a
celeridade do trâmite, o legislador da lei 13.105/15 criou um sistema de precedentes
e neste instituiu o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) com o
objetivo de atribuir as garantias constitucionais do processo supracitadas.
Como entendido por muitos, o Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas (IRDR), tem por objetivo de fixar uma tese jurídica e uniformizar a
jurisprudência garantindo isonomia e segurança jurídica. Após o seu juízo de
admissibilidade presente nos artigos 976, incisos I e II e 978, parágrafo único do

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PIMENTEL, Alexandre; DE AMORIM, Bruna Liana Andrade. Demandas de massa e o problema da
admissibilidade do IRDR no CPC-2015. Revista do CEJ – TJPE , Centro de Estudo Judiciário do TJPE, ISSN
1883-8662,vol 05 , série 01, P.49.
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CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo. As causas Repetitivas e um Regime que lhes seja Próprio. P.236.
Disponível em: http://www.fdsm.edu.br/adm/artigos/6ea85962ff34254460414154a9541524.pdf. Acesso em 04
junho de 2020.
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código de processo civil (CPC), serão suspensos todos os processos com mesma
questão de direito que estejam à jurisdição do tribunal que admitiu o incidente.
O IRDR nada mais é uma que uma tentativa do legislador em resolver o
despreparo do judiciário ao sanar conflitos em massa; é um regime voltado para as
causas repetitivas e por mais criticado que seja, o IRDR tem uma função plausível e
muito interessante na teoria.
Pois bem. Um dos requisitos para admitir o IRDR é a causa pendente no
tribunal presente no art 978, parágrafo único do CPC, afinal, o IRDR é um incidente
processual é necessário à existência de um processo base para sua instauração.
Ocorre que tal requisito não foi observado pelo Des. Francisco Roberto Machado do
Tribunal Regional Federal da 5º Região, admitiu um incidente nº 0804575-
80.2016.4.05.0000 sem a causa pendente e em seu voto fundamentou apenas com
posições doutrinárias contrárias ao artigo citado.
Ocorre que a doutrina não pode se sobrepor ao legislador e não há um
entendimento superior afirmando que o IRDR possa ser cabível sem causa
pendente no tribunal; por mais que tenhamos a influência do musterverfaren no
incidente, nós utilizamos a causa piloto e não o procedimento-modelo. Portanto, a
atitude do magistrado colocou em tese a legitimidade do feito.
Ora, um procedimento legítimo é aquele pautado pela isonomia presente na
aplicação do contraditório; nada obstante, a legitimidade de um procedimento está
no pronunciamento judicial fundamentado com base no art. 489,CPC, afinal, é na
fundamentação onde há a análise de todo o processo, por este motivo a sentença é
também fonte de legitimidade e segurança jurídica e ainda: um procedimento
legítimo é aquele onde há uma aplicação coerente da norma. No caso do IRDR
acreditamos que a sua legitimidade tem por fundamento também um juízo de
admissibilidade devidamente analisado.
Há quem defenda que o a intervenção do amicus curiae irá legitimar o
procedimento do IRDR, é o caso dos professores Marcos Cavalcanti de Araújo e
Sofia Temer, por exemplo. Porém, acreditamos que o amigo da corte não irá sanar a
falta no juízo de admissibilidade, ele é um especialista sobre a matéria do incidente
e sua intervenção não tem o poder de resolver um problema que colocou em tese a
legitimidade do procedimento. Acreditamos a legitimidade do procedimento é um
conjunto de aspectos onde a falta de um coloca em tese todo o processo.
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Entendemos ainda que não existe processo mais legítimo que o outro; ou a
legitimidade existe ou ela simplesmente não está presente, não há um meio termo.
A atitude do Des. Francisco Roberto Machado nos colocou diante de um
caso de usurpação a uma regra de competência; foi atribuída ao incidente uma
natureza de ação autônoma e o IRDR é um incidente processual ele necessita de
um processo base para ser instaurado.
Portanto o IRDR nº 0804575-80.2016.4.05.0000, o primeiro incidente em
direito securitário, não poderia ser admitido. Isto colocou em tese toda a legitimidade
do procedimento. Tal caso deixou claro que não estamos maduros para trabalhar
com o sistema de precedentes afinal, fica evidente que os precedentes judiciais não
garantem uma atuação legítima do juiz; nada impede que a posição do magistrado
seja arbitrária e ainda que o precedente não tenha um procedimento legítimo o que
coloca em tese toda a segurança jurídica, afinal esta garantia constitucional está
presente não apenas na uniformização da jurisprudência, mas também no trâmite
dos processos e em seus pronunciamentos.

Referências Bibliográficas:

CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo. As causas Repetitivas e um Regime que lhes seja


Próprio.P.235-268. Disponível em:
http://www.fdsm.edu.br/adm/artigos/6ea85962ff34254460414154a9541524.pdf .
Acesso em 18abr. 2017.
CAVALCANTI , Marcos de Araújo. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.
(IRDR). Coleção Liebman, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
DIDER JR, Fredie ; PEIXOTO, Ravi .Novo Código de processo civil : comparativo com o
código de 1973. Vol II,2ª edição, Salvador: Editora JusPodivm,2016.
DIDIER JR.Fredie; CARNEIRO DA CUNHA , Leonardo. Curso de Direito Processual
Civil, Vol 3, 13º edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2016.
MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro; TEMER, Sofia. O Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas no Novo Código de Processo Civil. Revista de Processo. Vol
243/2015, p. 283-331, Maio/2015, ISSN:0100-1981.
PIMENTEL, Alexandre; DE AMORIM, Bruna Liana Andrade. Demandas de massa e o
problema da admissibilidade do IRDR no CPC-2015.
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TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Editora


JusPodivm, 2016
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Vol III, São Paulo:
Editora Forense, 2016.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR, Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS,
Bruno. Breves comentários ao código de processo civil. Editora: Revista dos
Tribunais,2015, p. 2125.

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