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TUTELA, CURATELA E INTERDIÇÃO

1- Introdução

⇒ São institutos protetivos.


⇒ São institutos atrelados à incapacidade, mas com finalidades distintas:
• Tutela – visa à proteção de menor de 18 anos.
• Curatela – proteção de maior de 18 anos incapaz.

- O fundamento de ambos os institutos é a incapacidade e a proteção integral do


incapaz.

2- Curatela

2.1- Teoria da Incapacidade Jurídica:

⇒ Personalidade Jurídica: é titularizar relações existenciais (direitos da


personalidade). Ter personalidade jurídica é mais do que ser sujeito de direito.
⇒ Legitimação: requisito específico para a prática de atos específicos. Ex.:
outorga do cônjuge para alienar bens imóveis. Ex.: autorização do juiz ao tutor
para venda de bens do tutelado.
⇒ Capacidade Jurídica: é titularizar relações patrimoniais pessoalmente.
- A capacidade jurídica pode não ser plena.
- Existem pessoas que possuem personalidade, mas não possuem capacidade.
- Só há incapacidade nos casos previstos em lei, visto que a capacidade é a
regra.

- O art. 3º - traz o rol dos absolutamente incapazes:


• Menores de 16 anos – critério etário/objetivo.
• Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento – critério subjetivo.
• Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir a sua vontade –
critério subjetivo.
- O art. 4º traz o rol dos relativamente incapazes:
• Maiores de 16 e menores de 18 anos – critério etário/objetivo
• Ébrios habituais, viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental,
tenham discernimento reduzido – critério subjetivo
• Excepcionais sem desenvolvimento mental completo – critério subjetivo

Somente os citados acima são os incapazes. Então, o analfabeto, presos, falidos e


pessoas com deficiência física (salvo se o sentido que lhe falte afete a sua
compreensão) NÃO são incapazes!
Ex.: surdo-mudo – por si só não gera incapacidade.
- A senilidade, por si só, não gera incapacidade. A Lei 10741/01 estabelece
proteção integral para pessoa idosa, ou seja, aquela com mais de 60 anos. Porém,
encontramos limitações impostas em razão da idade, essas limitações são
compatíveis com a proteção integral da pessoa idosa? A doutrina entende que
deve-se utilizar o critério do “discrímen” – será utilizado para verificar a
necessidade ou não de tratamento desigual. Assim, toda vez que norma jurídica
estabelecer tratamento diferenciado para pessoa idosa, temos que utilizar o
critério do “discrímen”.
Ex.: art. 1641, II, CC – não poderá escolher o regime de bens a pessoa maior de
60 anos. Isso é compatível com a CF? Para a doutrina (Maria Berenice Dias e
Paulo Lobo) e a jurisprudência, é incompatível com a CF, porque limita o
exercício de direitos sem razoabilidade.
Ex.: art. 7º, XXX, CF – limita a idade para concurso. É razoável estabelecer
limite de idade para concurso público? A Súm. 683/STF – o limite de idade só se
legitima quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser
preenchido.

- O ausente também NÃO é incapaz.

- Os silvícolas são incapazes?


Art. 4º, pu, ver a Lei 6001/73. Essa lei afirma que o índio aculturado (aquele que
vive na selva) é absolutamente incapaz e submete-se a um regime tutelar e esse
regime tutelar compete à FUNAI. A FUNAI cuida dos interesses indígenas
individualmente considerados. Os interesses indígenas coletivamente
considerados são tutelados pelo MPF.
Art. 8º, Lei 6001/73 – atos praticados pelos índios são nulos. Exceção: art. 8º, pu
– quando o índio revele consciência e conhecimento do ator praticado, p. ex., no
caso de contrato de trabalho quando o índio tinha consciência desse ato, nesse
caso, não haverá nulidade.
Art. 9º, Lei 6001/73 – o índio pode requerer ao juiz compete sua liberação do
regime tutelar e adquirir a plena capacidade. Requisitos:
o Idade mínima de 21 anos – com o CC/02, passa a ser de 18 anos.
o Conhecimento da língua portuguesa
o Habilitação para o exercício de atividade útil
o Razoável conhecimento dos usos e costumes

- Art. 1780, CC - Hipótese de curatela sem incapacidade:


A requerimento do enfermo ou portador de deficiência física, dar-se-lhe-á
curador para cuidar de todos ou alguns dos seus negócios ou bens.
No entanto, para o professor, não se trata tecnicamente de curatela. Trata-se de
um mandato para gestão de negócios.

- A aquisição de capacidade pela maioridade, por si só, não afeta o direito à


pensão alimentícia. Súm. 358/STJ – o cancelamento da pensão alimentício do
filho que atingiu a maioridade está sujeito á decisão judicial, mediante
contraditório.
Então, o direito estabelece a teoria das incapacidades baseadas em 2 motivos:
causa etária e causa psicológica.

⇒ Curatela dos Interdito:


- A quem incumbe reconhecer a incapacidade por causa psicológica? Ao juiz,
com perícia médica obrigatória. – Aqui, surge a Curatela dos Interditos.
- É o instituto através do qual se confere a alguém o encargo de administrar a
pessoa e o patrimônio.
- O incapaz por causa psicológica estará submetido a uma curatela.

⇒ Curatela Prorrogada ou Extensiva


- A curatela protege o incapaz, o seu patrimônio e, até mesmo, os seus filhos
nascidos ou nascituros.
- Mas a curatela não substitui o poder familiar.
- Se a incapacidade admite diferentes graus, a curatela também varia de graus.

⇒ Único caso em que a curatela dirige-se a um menor de 18 anos: quando ele


tiver entre 16 e 18 e sofrer alguma causa psicológica de capacidade absoluta. Ele
terá, portanto, um representante, e não um assistente.

⇒ Ação de Interdição:
- É o meio pelo qual a curatela se materializa.
- É procedimento de jurisdição voluntária.

⇒ Curatela X Curadoria
- Curatela: é encargo imposto a uma pessoa de gerir o patrimônio e a pessoa de
um incapaz psicologicamente. É instituto protetivo.
- Curadoria: nomeação de uma pessoa para gerir os interesses de outra dentro de
uma determinada situação específica. Ex.: art. 9º, CPC – o juiz dará curadoria
especial: ao incapaz se este não tiver representante legal; ao réu preso, revel ou
citado por edital ou hora certa. Essa curadoria especial não é mais exercida pelo
MP, e sim pela DP (art. 4º, LC 80/94).

2.2 – Curadorias Especiais


⇒ O CC diz que são Curatelas Especiais, mas está errado. São 2 hipóteses:
• Art. 1779 : Curador Especial do nascituro
- O procedimento está previsto no art. 878 do CPC
• Art. 1780: Curatela Especial do enfermo ou pessoa com deficiência

2.3 – Obrigatoriedade da prestação de contas


O curador está obrigado à prestação de contas, exceto se for cônjuge do incapaz
casado no regime de comunhão universal.
Essa ação de prestação de contas tramitará na vara de família.

2.4 – Aspectos processuais da Curatela


⇒ Cabimento da Ação de Interdição:
- A interdição é um instituto de proteção do próprio incapaz. Ou seja meros
indícios não são suficientes.
- A extensão da interdição é meramente patrimonial. Os direitos e garantias
fundamentais e sociais do interditado são preservados.
o “Direito de ser diferente” – com base no princípio da igualdade,
construiu-se o direito de ser diferente, ou seja, a pessoa não será
interditada somente pelo fato de ser diferente. É uma compreensão da
interdição à luz da dignidade da pessoa humana.
Lei 10216/01

⇒ Legitimidade:
- O rol dos legitimados está no art. 1768:
• Pais
• Tutores – entre 16 e 18 anos quando sofre transtorno psicológico.
• Cônjuge
• Qualquer parente
• Ministério Público – hipóteses em que requer a interdição – art. 1769:
o Doença grave
o Se não existir ou não promover a interdição as pessoas
designadas anteriormente
o Se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas
anteriormente.

Prevalece que o MP pode promover, até mesmo, interdição por


prodigalidade, para garantir o patrimônio mínimo.

- O legitimado que requereu a interdição não necessariamente será o curador.


⇒ Competência:
- Não há réu.
- A ação de interdição deve ser promovida no domicílio do interditando – regra
de competência relativa. Súm. 33/STJ – juiz não pode declarar de oficio a
competência relativa.

⇒ Procedimento Especial da Ação de Interdição


a) Petição Inicial
- art. 1768, CC

b) Interrogatório Obrigatório
- Contato físico do juiz com o interditando.
- Não podendo o interditando comparecer pessoalmente, o juiz comparecerá
aonde ele estiver.

c) Prazo para impugnação


- Prazo de 05 dias
- O próprio interditando pode impugnar
- Tem a mesma natureza de uma contestação

d) Nomeação de curador especial


- Transcorrido o prazo de impugnação sem manifestação do interditando, o juiz
nomeará curador especial para a defesa do interditando.
- Art. 1182, CPC
- Art. 1770, CC – nos casos em que a interdição for promovida pelo MP, o juiz
nomeará defensor ao interditando; nos demais casos, o MP será o defensor. (para
provas objetivas).
No entanto, o art. 4º, LC 80/94, diz que a função de curador é exercida pela
defensoria pública. Então, aqui temos um conflito de normas, no qual a LC
80/94 deverá prevalecer em respeito ao P. da Especialidade.

e) Perícia Médica obrigatória


- Art. 1771, CC

f) Prova Oral
- Se for necessário.
- O STJ entende que a colheita de prova oral só será necessária se a prova
pericial não for conclusiva.

g) Intervenção do MP
- O MP intervém como fiscal da lei. Assim, é parte autônoma no processo,
podendo se manifestar livremente. Pode recorrer mesmo que as partes
interessadas não recorram – Súm. 99/STJ.

h) Sentença
- Natureza Jurídica: A.CONT
1ª C) Caio Mário, Carlos Roberto Gonçalves (civilistas) – afirmam que a
sentença de interdição é meramente declaratória, pois não é a sentença que
constitui a incapacidade.
2ª C) Barbosa Moreira, Fredie Didier (processualistas) – a natureza é
constitutiva, visto que somente pode existir sentença declaratória para declarar
situações jurídicas já existentes.
- Seja constitutiva ou declaratória a sentença possui efeitos retroativos.
- O juiz, na sentença, não está adstrito ao grau de interdição requerido na petição
inicial. O juiz vai livremente graduar a incapacidade.
- Se a sentença declarou a interdição, o eventual recurso será interposto
meramente no efeito devolutivo.
- Prazo prescricional contrário ao incapaz:
Resp. 652837/RJ – afasta-se a prescrição porque os efeitos da interdição são
retroativos.
- Validade dos atos praticados pelo interditado: os atos praticados pelo
interditado são nulos ou anuláveis a depender do grau de interdição. Porém, o
STJ entendeu que os atos praticados pelo interditado antes da sentença de
interdição com 3º de boa-fé e sem provocar prejuízos a si mesmo são válidos –
P. do Aproveitamento do Negócio Jurídico. Ex.: compra e venda com preço
justo.

⇒ Remoção ou Dispensa do Curador:


- Art. 1194, CPC
- Quando o curador se impossibilita para o múnus.
⇒ Levantamento da Interdição:
- Art. 1186, CPC
- Será possível sempre que, através de perícia médica obrigatória, comprovar-se
que o interditado recuperou a plena capacidade.

3- Tutela
⇒ É a colocação de um menor órfão em família substituto.
⇒ É um substitutivo do poder familiar. É somente para o menor órfão de pai e
mãe.
- Se apenas um dos pais é morto, o outro assume na integralidade.
- Separação, Divórcio e Dissolução de União Estável não afetam o exercício do
poder familiar.
⇒ Família Substituta X Família Natural
- Lei 12010/09 (Lei Nacional de Adoção) estabelece 3 tipos de família:
o Família Natural – aquela em que já está inserida a criança ou adolescente
o Família Ampliada ou Estendida – inclui, até mesmo, os parentes por
afinidade
o Família Substituta – obtida através de: guarda, tutela ou adoção.

3.1 – Espécies de Tutela

a) Documental
- Art. 1729
- Quando pai e mãe, através de ato inter vivos, nomeiam um tutor.
- Se pai ou mãe não estavam no exercício do poder familiar, não será válida.

b) Testamentária
- Art. 1729
- Quando pai e mãe, através de qualquer modalidade de testamento, nomeiam
um tutor.
- Se pai ou mãe não estavam no exercício do poder familiar, não será válida.

c) Legítima
- Se não há indicação nem em documento nem em testamento.
- Art. 1731 – a tutela incumbe:
o Aos parentes consangüíneos nesta ordem:
i. Ascendentes
ii. Colaterais até o 3º grau (tio, sobrinho), preferindo os mais
próximos aos mais remotos e, no mesmo grau, os mais velhos aos
mais moços.
Em qualquer dos casos, o juiz escolherá o mais apto a exercer a
tutela – Doutrina da Proteção Integral. Então, o juiz pode, por
decisão fundamentada, inverter o rol.

d) Dativa
- Art. 1732
- Se não existir parente consangüíneo ou nenhum dele for idôneo, o juiz nomeará
3º de sua confiança.
⇒ Em se tratando de irmãos, deverá o juiz dar um só tutor para ambos, em
nome da preservação da família natural.
⇒ A Lei 12010/09 REVOGOU a Tutela Funcional.
- O art. 1734 previa que os representantes dos abrigos seriam tutores funcionais.
⇒ Tese da Tutela Compartilhada:
- O CC não prevê, mas doutrina e jurisprudência defendem essa idéia, apesar da
insinuação contrária do §1º do art. 1733.
- Maria Berenice Dias e o TJ/RJ defendem essa idéia. Seria um exercício
simultâneo da tutela por duas ou mais pessoas.
⇒ Art. 1742 : Nomeação de Protutor
- O juiz de ofício ou a requerimento pode nomear, além do tutor, um protutor.
- O protutor é um auxiliar do juiz na fiscalização do tutor.
- O protutor responde solidariamente com o tutor por eventuais danos causados
ao pupilo.
- Eventualmente, o juiz pode fixar remuneração em favor do protutor.

3.2 - Consentimento do Tutelado


⇒ Art. 28, §1º, ECA – estabelece que colocação de menor em família
substituta depende de seu consentimento quando ele tiver mais de 12 anos de
idade.
⇒ Tendo menos de 12 anos, não exige seu consentimento, mas deve ser
ouvido sempre que possível.

3.3 – Dispensa de especialização de hipoteca legal


⇒ A tutela confere a administração da pessoa e do patrimônio do tutelado.
⇒ Desde o CC de 1916, exige-se, para a tutela, a especialização de hipoteca
legal, ou seja, uma garantia imobiliária. Essa garantia asseguraria o patrimônio
do tutelado.
⇒ A nova redação do art. 37, ECA diz que: o tutor deverá no prazo de 30 dias
ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, não exigindo mais a
hipoteca legal.
- O Art. 1745, pu, CC – passa a trazer como regra geral a não-exigência da
hipoteca legal.
- A hipoteca legal só será exigida se o patrimônio do menor for de valor
considerável.

3.4 – Responsabilidade do Juiz


⇒ Art. 1744, CC : Responsabilidade do Juiz
o o juiz responde direta e pessoalmente quando não tiver nomeado tutor ou
não o houver feito oportunamente
o o juiz responde subsidiariamente quando não tiver exigido garantia legal
do tutor, nem o removido quando se tornou suspeito

3.5 – Remuneração do Tutor

⇒ Art. 1752: remuneração proporcional ao valor dos bens administrados


- Então, se o patrimônio é ínfimo ou não há patrimônio, não haverá remuneração
para o tutor.
3.6 – Responsabilização do Tutor
⇒ O tutor responde civilmente pelos danos causados à pessoa ou ao
patrimônio do tutelado – Responsabilidade Subjetiva
⇒ O tutor tem a obrigatoriedade de Prestação de Contas:
- O tutor tem obrigação de prestar contas a cada 2 anos ou quando deixar o
múnus e, a qualquer tempo, quando o juiz exigir.
- A cada ano, ele deve apresentar um balanço contábil (diferente de prestação de
contas).
- A Ação de Prestação de Contas pode ser promovida a qualquer tempo pelo MP
ou pelo interessado. A competência é do mesmo juízo que deferiu a tutela regra:
vara de família).
* Maria Berenice Dias – diz que a competência é do juízo da infância e
juventude.
* O STJ decidiu que a competência será do juiz da infância e juventude somente
quando a criança estiver em situação de risco – art. 98, ECA. Ex.: tutela
requerida por um 3º que não é da família – situação de risco da criança.

Esse entendimento não se aplica à ação de adoção. Esta é sempre na vara de


infância juventude quando se tratar de menor de 18 anos.

Súm. 383/STJ – a competência para processar e julgar ações conexas de


interesse de menor é, em princípio, do foro do detentor de sua guarda de fato.
Ex.: menor a ser tutelado está com a avó – foro do domicílio da avó.
No entanto, essa regra pode ser afastada em nome do melhor interesse da
criança.

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