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O CULTO E O JOVEM

NA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

Talvez a desculpa mais comum apresentada pelos jovens na Igreja Adventista do Sétimo Dia
hoje é a de que o culto é “maçante”. Essa desculpa parece mantê-los distantes do culto sabáti-
co ou torná-los em adoradores totalmente pacíficos. O que não está claro é a conotação do
“maçante”. Para a grande maioria dos jovens esse fenômeno “maçante” simplesmente descreve
sua percepção de que o culto, como praticado na igreja adventista contemporânea, é irrelevante
para eles.

A questão com a qual todos os que somos líderes na igreja nos confrontamos é: Algo pode ser
feito para mudar essa percepção? Uma avaliação honesta de nosso conceito, estilo e formato
do culto é essencial se desejamos enfrentar devidamente a situação. Esta monografia busca
sugerir um caminho que podemos desejar trilhar como um remédio prático para a questão de
como a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode tornar sua fé tradicional relevante para nossos
jovens.

UM PARADIGMA BÍBLICO

Toda tentativa de avaliar questões na Igreja de Deus deve começar com Sua Palavra. Nenhu-
ma questão exige isso mais do que a que está aqui sendo considerada.

Ao estudarmos o motivo bíblico, somo levados a reconhecer DOIS elementos essenciais que
abarcam o que podemos definir como “culto bíblico”.1

1. No paradigma bíblico há uma atividade envolvida no culto. Essa atividade é expressa em


termos de movimento. Em primeiro lugar há um movimento de cima para baixo, ou movi-
mento de Deus até o homem. Isso pode assumir a forma de mandamentos, ordenanças,
bênçãos, ordenanças do culto, proclamação ou capacitação. Em cada exemplo do culto es-
tá envolvida a revelação divina. A pessoa deve sentir no culto esse movimento de Deus em
direção a ela.

Em segundo lugar, há um movimento de baixo para cima ou movimento do homem em di-


reção a Deus. Esse movimento é expresso em atividades como assembléias, oferta de sa-
crifício, tomada de votos, confissões, oração e louvor. No culto a pessoa oferece a si mes-
ma como também seus bens a Deus. Quanto mais o adorador se envolve no culto, nesse
movimento em direção a Deus, mais satisfatório o culto se torna para ele.

De forma geral, o culto na Igreja Adventista do Sétimo Dia é muito forte no movimento de
cima para baixo. Talvez a debilidade do nosso culto resida na inadequação do movimento
de baixo para cima. Com esse movimento minimizado, há um efeito limitador no envolvi-
mento do adorador. Parcialmente não seria este o motivo porque o jovem, que por natureza
é ativo e envolvido, julgue o culto adventista como “maçante”?
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Para os fins desta monografia, foram consideradas as seguintes narrativas bíblicas: A forma de culto de
Noé (Gênesis 8 e 9); O sonho e culto de Jacó (Gênesis 28); Israel e o santuário (Êxodo 25 e 40; Levíti-
cos); a dedicação do templo feita por Salomão (II Crônicas 5-7); a visão de Isaías (Isaías 6); e o Dia de
Pentecostes e a Igreja primitiva (Atos 2). Apocalipse 4; 5 e 19 provêem uma perspectiva escatológica à
discussão.

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2. Uma conseqüência do conceito da atividade é a noção da comunicação. No culto, Deus e o
adorador não apenas se voltam um para o outro; também se comunicam um com o outro.

Em primeiro lugar, observamos que ocorre a comunicação verbal/transmissão. Algumas


vezes Deus fala diretamente com Seu povo e algumas vezes por meio dos sacerdotes e
profetas. Ele lhes diz sobre os pensamentos que tem a respeito deles, ou o que deseja que
façam ou como devem viver. Grande parte da auto-revelação de Deus no culto é verbal.
No entanto, Deus não é o único que fala. O adorador também se comunica verbalmente. O
povo de Deus promete obediência, expressa arrependimento ou louvor a Seu nome.

Em segundo lugar, encontramos no paradigma bíblico outra forma de comunicação. Em


cada exemplo de culto vemos a ocorrência da comunicação simbólica/cultural. Vemos um
arco-íris, uma escada, um trono com serafins ao seu redor, fumaça, nuvem e fogo. Ouvi-
mos sons e vozes. Somos confrontados com demonstrações sonoras e visuais. São cons-
truídos altares; pedras são dedicadas a Deus; são oferecidos sacrifícios; e os adoradores
se prostram.

O paradigma bíblico indica-nos não apenas a necessidade de atividade no culto, mas tam-
bém a necessidade de envolvimento da pessoa como um todo (ex.: os lados esquerdo e di-
reito do cérebro2). O culto adventista contemporâneo é excessivamente focalizado na co-
municação verbal enquanto que a comunicação simbólica está quase totalmente ausente.
Seria este outro motivo porque nossos jovens tenham um tal sentimento sobre o culto?

TRANSFORMANDO A AUDIÊNCIA EM CONGREGAÇÃO

Ao preparar nosso povo para a volta de Jesus, devemos ter a coragem exigida da liderança
para conduzi-lo à contínua renovação do culto. Se desejamos conservar nossos jovens e apre-
sentá-los ao Senhor na Sua vinda, devemos captar a visão e pô-la em prática. Devemos tratar a
questão de que o culto é visto pelo jovens como algo “maçante”. As sugestões que faço a se-
guir baseiam-se em tentativas objetivas com vistas a encorajar exatamente esse tipo de reno-
vação do culto.

1. Torne o culto criativo

Prestar culto é uma arte e, como arte, deve ser vivo e dinâmico. Faz-se necessário o em-
prego da variedade, inovação e experimentação; do contrário, nosso culto será estagnado,
irrelevante e “maçante”. Devemos buscar apresentar nosso culto de tal forma que seja ape-
lativo aos jovens. Devemos ajudá-los a reconhecer que o culto é para eles tanto quanto o é
para os membros mais velhos.

O conceito de uma Igreja de Deus (um culto para as crianças e apresentado pelas crian-
ças) é uma cura de longo prazo para o dilema que se nos apresenta hoje. Se pudermos le-
var nossos jovens a pensarem no “culto”, podemos deter a tendência atual.

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Sabemos hoje que os dois lados do cérebro funcionam de forma diferente. Para a maioria das pessoas
o lado esquerdo se especializa nas habilidades verbais como a leitura, escrita e fala. O lado direito, no
entanto, se especializa nas habilidades simbólicas como as capacidades criativas e artísticas, a imagina-
ção e a fantasia.

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Outra sugestão que pode ser utilizada é o culto jovem. Com isso não quero dizer um culto
para os jovens, mas um culto planejado e realizado por eles. O ser capaz de planejar e de
conduzir o culto imbui nossos jovens do senso de participação. O culto torna-se deles e não
meramente uma preocupação congregacional.

Vale também a pena explorar o conceito da Igreja Aberta. Nesse culto, o formato é mantido
aberto. A idéia é devolver o culto aos adoradores. Mediante um planejamento cuidadoso, a
Igreja Aberta pode tornar-se uma experiência poderosa de culto. Ao não limitar o culto a um
determinado formato e ao cuidadosamente tornar a congregação o mais eficaz e funcional
possível, a Igreja Aberta é um bônus verdadeiro para o culto da igreja de Deus. Um dos as-
pectos mais observáveis da Igreja Aberta é a ausência de passividade na congregação.

O devido uso do boletim da igreja é também um meio útil para o culto criativo. A Igreja Ad-
ventista do Sétimo Dia não é uma igreja litúrgica e nós precisamos fingir que somos. O bo-
letim precisa ser novamente escrito e organizado periodicamente. Pode-se alcançar dois
benefícios com isso: (a) podemos focalizar nosso culto em um determinado tema/conceito
ou em uma experiência especial de culto (ex.: enfocar o sábado todo como uma oração; (b)
a congregação é compelida a repensar em seu culto toda vez que um novo formato é intro-
duzido.

2. Torne o culto participativo

Se seguirmos de perto o paradigma bíblico, devemos reconhecer a necessidade de tornar


cada membro da congregação em um participante. A Igreja Aberta permite-nos fazer isso.
Com esse formato aberto de culto, cada membro pode tornar-se um verdadeiro participan-
te. Podemos convocar um grande número dos membros para tomar parte no culto. Esses
membros, ao participarem, encontram um motivo interno e muito pessoal para o culto.

Envolver os membros da igreja no púlpito é outra forma eficaz de encorajar a participação


no culto. Não há necessidade de restringir os deveres do púlpito apenas aos anciãos da
igreja. Os membros mais jovens, em especial, parecem responder aos deveres do púlpito
com um maior senso de antecipação. Quando chamados a atuar durante o culto, esses
membros mais jovens desenvolvem um senso de pertencer. O culto torna-se algo que fa-
zem em vez de algo a que assistem.

A escolha dos hinos congregacionais é especialmente crucial para os jovens. Devido à sua
idade, os jovens são mais inclinados a louvarem e a cantarem. Na maioria das vezes os
cultos adventistas têm apenas dois ou, no melhor, três hinos cantados com a congregação.
Talvez poderiam ser incluídos mais hinos em nossos cultos. A participação dos jovens tam-
bém será acentuada se não nos limitarmos ao hinário.

Grande cuidado deve ser tomado para tornar cada culto em uma mensagem, com hinos,
versos bíblicos e sermão talhados para um determinado tema. Deve-se também dar aten-
ção a levar a congregação a cantar de uma forma mais eficaz. Isso pode ser feito ao em-
pregar coristas treinados, ao variar a seleção dos hinos, ao fazer uso de instrumentos mu-
sicais e ao empregar a ajuda de retroprojetor e projetores.

Será necessário estabelecer uma comissão de culto para esse tipo de programa. Essa co-
missão pode auxiliar o pastor e dela deve fazer parte uma representação dos jovens. A
comissão de culto deve ser composta por vários membros leigos a fim de que possa ser

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criativa. Os jovens são um amplo recurso para tal criatividade e sua contribuição é inesti-
mável.

3. Dê muita atenção ao poder do simbolismo no culto

O culto adventista contemporâneo é demasiadamente intelectual em sua abordagem. Tal-


vez devamos lembrar a nós mesmo do adágio que diz que a “fé não é apenas ensinada, ela
deve também ser captada”. Falando em outras palavras, não apenas adoramos com a nos-
sa razão mas também com nosso coração. Embora as palavras possam tocar nossos pro-
cessos lógicos, os símbolos capturam nossa imaginação.

O simbolismo pode ser usado em nosso culto de várias formas. Um boletim abarrotado com
informações e cheio de erros transmite o sentimento de um culto congestionado. Um bole-
tim bem preparado acentua a estética do culto. Fazer com que os membros da congrega-
ção mudem de lugar de vez em quando pode ajudar a transmitir idéias como separação ou
proximidade uns dos outros.

As técnicas de afirmação, como cumprimentar-se uns aos outros durante uma parte do
culto ou o emprego da “cadeia do amor”, pode transmitir o símbolo da unidade e do amor
entre os membros da igreja. Criar tradições especiais de curto prazo onde cada membro se
engajará durante cada culto pode influenciar na união dos membros durante o culto. Mes-
mo o púlpito pode ser usado de uma forma tal como um retrato quer da proximidade ou
transcendência de Deus.

A coleta da oferta é também uma oportunidade valiosa para a sugestão simbólica no culto.
Para uma oferta especial para a educação, crianças com as mãos abertas podem ser em-
pregadas para receber as ofertas. Para enfatizar o ato de dar, a congregação pode ser
convidada a vir a frente para “entregar” suas dádivas ao Senhor.

Cada parte do culto contém elementos simbólicos que, quando empregados devidamente,
aumentarão o poder de nosso culto. Os jovens que naturalmente tendem a ser inclinados
aos gestos simbólicos na vida terão uma realização maior nesse tipo de culto. Podemos
nos permitir ignorar essa avenida?

Se buscarmos uma experiência de culto mais criativa, participativa e simbólica, e ao assim


fazermos gerarmos uma verdadeira renovação do culto, então, talvez, poderemos começar
a atender as necessidades de culto de nossos jovens. Podemos escolher seguir a síndro-
me do avestruz e fingirmos que tudo está bem. Podemos também escolher atirar pedras
nos jovens devido à sua falta de compromisso. Espero, no entanto, que pelo bem deles re-
unamos coragem para buscar uma renovação verdadeira e duradoura do culto.

Referências Selecionadas

Homes, C. Raymond. Sing A New Song, Berrien Springs: Andrews University Press, 1984.

Johansson, Calvin M. Music and Ministry: A Biblical Counterpoint. Peabody, MA: Hendrickson,
1984.

4
MacArthur, John. The Ultimate Priority on Worship. Chicago: Moody, 1983.

Rutz, James H. The Open Church. Auburn, MN: The SeedSower, 1992.

Webber, Robert E. Worship Old and New. Grand Rapids: Zondervan, 1982.

Wann M. Fanwar, M.A., Diretor dos Ministérios da Igreja, Missão de Cingapura

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