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Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3

Cadernos PDE

I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

STREET DANCE:
UM NOVO RITMO CONTAGIANDO O ESPAÇO ESCOLAR

CERRO AZUL
2015
FABIANE DE CASSIA ROSA BICHELS

STREET DANCE:
UM NOVO RITMO CONTAGIANDO O ESPAÇO ESCOLAR

Artigo apresentado ao Programa de


Desenvolvimento Educacional (PDE)
da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná (SEED-PR) e
Superintendência da Educação do
Paraná (SUED) sob a orientação do
Professor MS. Carlos Eduardo da
Costa Schneider como requisito
parcial para a obtenção de titulação.

CERRO AZUL
2015
IDENTIFICAÇÃO

.Disciplina PDE: Educação Física.

.Professora PDE: Fabiane de Cassia Rosa Bichels.

.Professor Orientador IES: Carlos Eduardo da Costa Schneider.

.IES Vinculada: UTFPR.

.Colégio de Implementação: Colégio Estadual Princesa Isabel – Ensino


Fundamental e Médio.

.Município: Cerro Azul.

.NRE: Área Metropolitana Norte.

.Público objeto da intervenção: Alunos do 7º ano do ensino fundamental.

.Linha de Estudo: Cultura corporal: pontes de análise.

.TÍTULO: STREET DANCE: um novo ritmo contagiando o espaço escolar.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................5
2. PROBLEMATIZAÇÃO...........................................................................................6

3. OBJETIVOS...........................................................................................................7

4. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................7
4.1 A EXPERIÊNCIA CORPORAL E SUAS MANIFESTAÇÕES............................7
4.2 A DANÇA E SEU CONTEXTO EDUCACIONAL...............................................9
4.3 A DANÇA E AS DIRETIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARANÁ:
SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O ALUNO....................................................................12
4.4 DANÇA DE RUA: ASPECTOS HISTÓRICOS.................................................13
4.5 O MOVIMENTO HIP HOP: FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS...................15
4.6 O SURGIMENTO DO HIP HOP NO BRASIL..................................................16
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................17
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA..............................................................17
5.2 INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS...........................................................17
5.3 UNIVERSO DA PESQUISA.............................................................................18
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES...........................................................................19
TABELA 1 - PERGUNTA Nº 01.............................................................................19
TABELA 2 - PERGUNTA Nº 02.............................................................................20
TABELA 3 - PERGUNTA Nº 03.............................................................................21
TABELA 4 - PERGUNTA Nº 04.............................................................................21
TABELA 5 - PERGUNTA Nº 05.............................................................................22
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................23
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................25
5

STREET DANCE:
UM NOVO RITMO CONTAGIANDO O ESPAÇO ESCOLAR

Fabiane de Cassia Rosa Bichels1


Carlos Eduardo da Costa Schneider2

1 INTRODUÇÃO:
O ensino da educação física é a construção de ações em que se tornam
possíveis experiências especificas para a superação de situações de vida presentes
e futuras e nele deve ser inserido, além de outros conteúdos, o ensino da dança.
A dança é uma manifestação que reflete a cultura, a religião, os costumes, os
desejos, os ideais e formas de expressão das mais diversas sociedades. Nasceu
com a própria humanidade e tem estado presente no decorrer de seu
desenvolvimento, apresentando-se como produto e fator da cultura humana,
transmitindo valores e crenças de geração a geração (VARGAS, 2003).
A dança de rua é configurada como uma manifestação contemporânea de
cultura que surgiu por meio dos jovens da periferia, que foram para as ruas
manifestar seus desejos, sentimentos e ideias através do corpo e da dança.
Após vários anos e influências de outros ritmos, a dança de rua foi ganhando
espaço, construindo sua historia, sendo evidenciada em diversos lugares, por varias
pessoas de diferentes etnias.
Essa grande manifestação artística e de ampla riqueza cultural, inspirou o
desenvolvimento desse estudo, cuja proposta foi desenvolver um trabalho
motivacional levando a dança de rua para dentro do espaço escolar, efetivando a
inclusão do conteúdo dança nas aulas de educação física.

1
Professora PDE com lotação no Colégio Estadual Princesa Isabel - Ensino Fundamental e Médio do
município de Cerro Azul – PARANÁ. Licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de
Ponta Grossa – UEPG, 1999. Com Especialização em Ciência do Movimento Humano –
FACULDADES INTEGRADAS “ESPÍRITA” – CURITIBA, 2000.
2
Mestre em Recreação e Lazer pela Universidade do Porto - Portugal. Especialista em Magistério
Superior pela Universidade Tuiuti do Paraná. Licenciatura Plena em Educação Física pela
Universidade Católica do Paraná - PUCPR. Professor de Educação Física e Orientador da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
6

Além do trabalho motivacional, a proposta buscou incentivar os jovens à


prática de atividades físicas e motoras, estimulando ideias, oportunizando a eles a
busca de si para o encontro com o outro, além da aquisição da consciência corporal.
Teve ainda o intuito de proporcionar aos mesmos a vivência e a valorização de
atividades culturais, objetivando a condução de seu próprio caminhar enquanto
pessoas críticas, sensíveis, criativas, transformadoras e autônomas.
O estudo foi desenvolvido para conclusão do curso PDE3. Tem caráter
qualitativo/descritivo e como instrumentos de coleta de informações foram utilizados
questionários e entrevistas com os alunos do 7º ano do ensino fundamental do
Colégio Estadual Princesa Isabel – Ensino Fundamental e Médio, localizado no
município de Cerro Azul, região metropolitana de Curitiba – Paraná.

2 PROBLEMATIZAÇÃO
Existe um abismo entre o que é aprendido pelos alunos na escola e o sentido
desses saberes nas suas vidas.
Entender os jovens tem se tornado um grande desafio. O mundo adulto tem
expressado hoje seu descontentamento com atitudes “inadequadas” dos mesmos:
jovens portanto “preguiçosos”, sem “aptidão”, sem “bagagem”, “desinteressados”,
“apáticos”, “agressivos” (etc.!) Marques (2005, p. 122).
Pierre Babin e Marie-Fance Kowloumdjian (1989)4, citados por Marques
(2005, p. 123), referem-se aos jovens como “...uma geração que pertence a outra
cultura. Esses jovens não são do contra, eles simplesmente “estão em outra”,
vivendo sua realidade que faz parte de uma nova sociedade emergente”.
Percebe-se que a escola tem se tornado apenas uma obrigação, pois as
informações passadas pelos professores podem ser facilmente encontradas, e de
formas mais divertidas na TV, na internet, nos vídeos e até mesmo nas ruas, que
para muitos, tem sido uma opção mais atrativa.
[...] se o objetivo da escola é a construção e a socialização dos
conhecimentos, então é preciso ter consciência que educadores e
educandos possuem sim conhecimentos, porém tem sempre algo mais a
conhecer (BARRETO, 2008 p. 36).

3
Programa de Desenvolvimento Educacional. Formação Continuada para o Professor da Rede
Pública de Ensino do Estado do Paraná (regulamentado pela Lei 130 de 14 de julho de 2010).
Secretaria de Estado da Educação do Paraná.
4
BABIN, P. & KOWLOUMDJIAN, M.F. Os novos modos de compreender. São Paulo, Paulinas, 1989.
7

Percebendo a falta de interesse dos nossos alunos, como atraí-los para a


escola de uma forma menos impositiva / obrigatória?
Que trabalho motivacional poderia ser desenvolvido dentro do espaço escolar
de forma a alcançar os principais objetivos da escola, estimulando ideias e
transformando a prática pedagógica em ações críticas, criativas e transformadoras?

3 OBJETIVOS
2.1Geral
Buscar a motivação dos alunos do Colégio Estadual Princesa Isabel de Cerro
Azul, através da oportunidade do contato com a arte da dança de rua,
oportunizando-os a busca de si para o encontro com o outro, através de uma
interpretação pessoal, que os conduza ao seu próprio caminhar, enquanto pessoas
críticas, sensíveis, criativas, transformadoras e autônomas.

2.2 Específicos
 Estimular aos alunos/as a vivencia da corporeidade, incentivando-os à expressão
dos sentimentos;
 Proporcionar o autoconhecimento e a comunicação;
 Desenvolver questões éticas, estéticas e morais na aplicação do ensino da dança;
 Socializar os jovens dentro e fora dos espaços escolares;
 Trabalhar em favor de todos os sujeitos, de forma a não permitir exclusões por
preconceitos de qualquer natureza;
 Valorizar as experiências e a criatividade dos alunos;
 Ampliar e aperfeiçoar o projeto festival de danças existente no colégio.

4 REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 A experiência corporal e suas manifestações
O Homem, em um contexto histórico, tem várias formas de se comportar
corporalmente, pois existem relações do corpo com o contexto social. “Cada corpo
expressa a história acumulada de uma sociedade que nele marca seus valores,
suas, leis, suas crenças, e seus sentimentos, que estão na base da vida social”
(GONÇALVES, 2012 p. 14).
8

A escola é um espaço onde se pode lutar pelas transformações sociais, e o


professor é o mediador desse processo.
Nos séculos XVIII e XIX, a aprendizagem de conteúdos e os métodos de
ensino tinham características que colocavam os alunos/as em um mundo diferente
daquele em que viviam e pensavam com seus corpos, uma vez que priorizava
apenas operações cognitivas e abstratas.
A educação física ao longo da história representou diferentes papéis, adquiriu
diferentes significados e assumiu funções com tendências militaristas e higienistas.
O objetivo principal era somente o de disciplinar o corpo, com movimentos
mecânicos, repetitivos e isolados, totalmente sem sentido para o aluno, pois não
permitia aos mesmos a formação dos próprios significados de movimentos,
desencorajando-os à criatividade.
Gonçalves (2012 p. 37), afirma que:
A busca do desenvolvimento de capacidades físicas e habilidades motoras
de forma unilateral, utilizando unicamente critérios de desempenho e
produtividade, ignorando a globalidade do homem gera uma educação física
alienada, que ajuda a acentuar a visão dicotômica de corpo e espírito do
homem contemporâneo.

Hoje, a educação física é vista como um ato educativo e uma prática


transformadora que deve incentivar no aluno o desenvolvimento da criatividade, pois
se compromete com a educação em geral e com a sociedade, ou seja, está voltada
para a formação do homem em sua dimensão pessoal e social.
Gonçalves (2012) reflete ainda quanto à educação e à educação física numa
visão transformadora, orientadas por valores de liberdade, verdade e justiça e por
uma visão de corporalidade e movimento, em um conceito de homem como unidade
e como um ser no mundo.
Sua prática educativa deve compreender algumas questões específicas como
a experiência corporal e o movimento, ou seja, a experiência da nossa corporalidade
e do nosso ser motriz, que inclui a forma de perceber a si próprio e aos objetos.
Nessa visão, entra o papel do professor de educação física com a função de
orientação e acompanhamento do movimento seja qual for o tipo de movimento a
ser aprendido, e esses nas aulas devem ter sentido para os alunos/as, pois eles
necessitam de aprendizagem e experiências para lidar de forma adequada com a
sua corporalidade e com seus movimentos.
9

A experiência corporal se manifesta com o resultado dos seguintes aspectos:


consciência corporal, experiência com o próprio corpo, como o corpo e os
movimentos são percebidos pelos outros, e ainda, da interpretação da linguagem
corporal dos outros.
A educação física trabalha com o homem em sua totalidade, através da
corporalidade e movimento, identificando que o corpo não é simplesmente biológico,
ou seja, resgata o sentido do sensível e do corpóreo na vida humana, um ser que
possui necessidades materiais e espirituais.
O homem forma a sua personalidade através da atividade física, tornando-o
capaz de enriquecer e organizar sua vida pessoal, e o professor de educação física
deve permitir que o aluno forme seus próprios significados de movimento por meio
de experiências em que possa vivenciar diretamente o sentido de suas ações
motoras.
Assim, o aluno perceberá um corpo que sente, se expressa, se comunica, cria
e significa, ou seja, perceberá que a sua relação com o mundo é a de um ser que
tem emoções, que ama, que odeia, que tem fome, que tem dor, que vive a solidão, a
amizade, o desprezo enfim, de um ser que sente e que participa da construção de
seu mundo.

4.2 A dança e seu contexto educacional


Ao assistirmos um espetáculo de dança em grandes festivais, somos
contagiados pelas sensações e significados que aquelas formas de expressão
artística procuram nos transmitir.
Quando o aluno está envolvido com a dança, a ele é permitida uma ampla
relação com o mundo, com o outro e consigo mesmo, trabalhando a imaginação e
desenvolvendo a criatividade.
Diante disso, será que o ensino da dança na escola teria algum significado na
formação dos jovens? Que sentido o ensino da dança na escola teria no processo
educacional?
Devemos lançar um olhar mais crítico sobre a dança na escola, que durante
muitos séculos, negligenciou o corpo, a arte e, portanto, a dança. A escola é um
lugar privilegiado para que o ensino da dança aconteça e enquanto ela existir, a
dança não poderá mais ser sinônimo de “festinhas de fim de ano”. (...) “a dança é
10

forma de conhecimento, elemento essencial para a educação do ser social”


(MARQUES, 2005 p.24).
A dança não está somente interligada com o afetivo quando libera emoções,
mas também com o cognitivo, pois quando estamos dançando os sentimentos
cognitivos se integram aos processos mentais e então podemos compreender o
mundo de uma forma diferenciada, ou seja, artística e estética.
Isso é o que diferencia a dança na escola com a dança de um baile de
carnaval, pois entende-se que “...o corpo que dança e o corpo na dança tornam-se
fonte de conhecimento sistematizado e transformador” (MARQUES, 2005 p. 25).
Barreto (2008), com base nas suas próprias experiências e estudos,
compreende que a dança é um fenômeno que envolve a corporeidade e a expressão
humana. É também uma possibilidade de expressão de sentimentos que deve ser
ensinada na escola como um conhecimento corporal a ser experimentado pelos
alunos. “Quando se dança, o tempo-espaço experienciado não é o cronológico, mas
sim o do coração, o dos sentidos e o da expressividade” (BARRETO, 2008 p.26).
Para Ferreira (2009), a dança é arte e movimento, uma expressão
representativa de vários aspectos da vida do homem, e na escola deve valorizar as
possibilidades expressivas e espontâneas de cada aluno/a.
O corpo e movimento são fatores primordiais da vida do ser humano, pois
atendem aos mais variados fins que vão desde as formas primárias de
expressão, às lúdicas, às competitivas, à laboral, até a simples necessidade
de movimentar-se (FERREIRA, 2009 p.19).

O trabalho da dança na escola, em um contexto educacional, abre um grande


leque de discussões e contextualizações que são de grande importância para os
jovens, pois ainda vivemos em uma sociedade cheia de preconceitos e tabus que
devem ser amplamente discutidos.
A dança num contexto educacional dentro do espaço escolar pode ser
relacionada da seguinte forma:
A dança e a pluralidade cultural: corpo e dança, relações de gênero, etnia,
idade, classe social e deficiência física.
Dançar, compreender, apreciar e contextualizar danças deve ser uma forma
de discutir preconceitos. Seu trabalho na escola deve incentivar os alunos a criarem
danças que não ignorem ou reforcem negativamente as diferenças, que fazem parte
do nosso dia a dia.
11

A dança e a ética: repertório, improvisação, composição coreográfica e


apreciação.
Existe uma vasta variedade do processo criativo em dança que possibilita ao
aluno experimentar, conhecer e escolher maneiras de relacionar-se eticamente com
as pessoas com quem vive em sociedade.
Dança e orientação sexual: nesse processo, poderão ser incluídas
discussões, problematizações e questionamentos sobre corpo, dança e convívio
social, transformações corporais na adolescência, relações de gênero, padrões de
beleza e a mídia.
Dança e educação para a saúde: as aulas de dança podem associar-se a vida
saudável, uma vez que promovem oportunidades para que os alunos/as identifiquem
problemas do dia a dia e ainda, centrada no corpo, pode traçar relações diretas com
situações de dor e prazer, alimentação e uso de drogas. Pode também trabalhar
ocorrências de lesões ou problemas de saúde mais comuns durante aulas de dança
e como tratá-las antes de encaminhamento médico (se necessário), sem se afastar
dos conteúdos específicos.
Em sua atuação docente, o professor que trabalha a dança deve entender as
fases neurofisiológicas e psicossociais dos alunos a fim de direcionar uma ação
pedagógica configurada pela dança (MARQUES, 2005).
Nanny (2008, p 57 a 60), elaborou uma divisão de fases cronológicas do
educando e procurou manter correlações com seu comportamento motor e graus de
desenvolvimento e execução das atividades.
A proposta dessa pesquisa é trabalhar a dança com alunos de 6º e 7º anos do
ensino fundamental, que na elaboração de divisão de fases de Nanny (2008),
compreendem ao final da terceira fase (educandos de 08 a 10 anos) e início da
quarta fase (educandos de 11 a 14 anos).
Essas fases caracterizam que o educando já tem a capacidade de
combinação, já existe a conscientização da execução de movimentos fundamentais
que podem ser vinculadas à técnica permitindo maior precisão, rapidez, perfeição e
dinâmica na assimilação e reação nos padrões motores. Já existe então a
possibilidade de combinações coreográficas de duração longa nas associações dos
movimentos.
12

4.3 A dança e as diretrizes curriculares da educação básica: sua contribuição


para o aluno
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica da disciplina de educação
física (DCEs, 2008), após varias abordagens que sustentaram as teorizações em
educação escolar no Brasil nos mostra que o objeto de estudo e ensino da educação
física é a cultura corporal e pretende garantir ao aluno o acesso ao conhecimento e
à reflexão crítica das inúmeras manifestações ou praticas corporais na busca da
contribuição a um ideal mais amplo de formação de um ser humano critico e
reflexivo, reconhecendo-se não só como sujeito, mas também como agente
histórico, político, social e cultural.
Sua proposta também é a de romper com a maneira tradicional de como os
conteúdos da educação física tem sido tratados, integrando e interligando as
praticas corporais de forma mais reflexiva e contextualizada.
A cultura corporal e o corpo são propostos como elementos articuladores das
DCEs, que podem transformar o ensino d educação física na escola.
Esses elementos articuladores têm como pressupostos a reflexão crítica
sobre as diferentes visões em relação ao corpo nas praticas corporais.
As preocupações com o corpo e com os significados que estes assumem na
sociedade constituem aspectos que precisam ser tratados no interior das aulas de
educação física para que sejam desmistificadas algumas perspectivas ingênuas no
trato com essa questão.
Ainda nas organizações das DCEs, a dança é contemplada como conteúdo
estruturante, este definido como conhecimento de grande amplitude, conceitos ou
praticas considerados fundamentais para compreender seu objeto de estudo, e as
discussões que envolvem o corpo devem estar atreladas a todas as manifestações e
práticas corporais que dele emerge.
A dança no espaço escolar deve ser trabalhada de maneira especial, pois é
considerada como o conteúdo responsável por apresentar as possibilidades de
superação de limites e das diferenças corporais.
Os conteúdos estruturantes estão articulados aos conteúdos básicos que são
o ponto de partida para a organização da proposta pedagógica da escola, uma vez
que tem abordagens diversas a depender dos fundamentos que recebem de cada
conteúdo estruturante.
13

Por fim, entendendo esse contexto, essa pesquisa contemplará a dança de


rua na escola, que é um conteúdo básico da disciplina de educação física, a ser
trabalhado no ensino fundamental e está diretamente articulada ao conteúdo
estruturante dança. As abordagens teórico-metodológicas sofrerão variáveis de
acordo com o contexto escolar, além da série/ano em que os trabalhos forem
desenvolvidos.

4.4 Dança de rua: aspectos históricos


A dança de rua (ou street dance) é um conjunto de estilos de danças
populares, que possuem movimentos detalhados, acompanhados de expressões
faciais e suas músicas tem as batidas fortes como principal característica.
É uma expressão de dança bastante recente em relação às demais e que
vem conquistando cada vez mais seu espaço (PACIEVITCH, 2014).
Esse estilo pode ser caracterizado como: um trabalho de coordenação motora
com ritmo, musicalidade e luta; um ritmo onde se dá mais atenção aos movimentos
fortes e enérgicos executados pelos braços, pernas, movimentos acrobáticos
coreografados, saltos e saltos mortais; uma dança com raiz afro; uma dança que
utiliza de músicas com batidas fortes e marcantes (DANCE, 2014).
As primeiras manifestações surgiram nos Estados Unidos da América, em
1929, na época da grande crise econômica, quando os músicos e dançarinos que
trabalhavam nos cabarés ficaram desempregados e foram para as ruas fazer seus
shows (PUPPO, 2014).
Nas décadas seguintes, de 30 e 40, outros ritmos de origem afro-americana,
como o Blues e o Rhytm and Blues influenciaram a dança de rua.
No fim dos anos 60, mais precisamente em 1967, o cantor americano James
Brown criou um novo ritmo que influenciou muito a dança de rua: o soul (ritmo de
origem afro-americana). Mais tarde, o funk (também de James Brown), a música
disco e o rap também à influenciaram.
O breaking surgiu em 1981 como uma vertente da dança de rua, e foi
disseminado pelo mundo rapidamente, tendo como principal precursor o cantor
americano Michael Jackson.
14

Existem dois tipos de dança de rua: a vinculada à cultura hip hop, grupos ou
crews e a vinculada às academias e estúdios de dança. Ela é formada por vários
estilos e todos eles, influenciados pela dança funk.
Street apesar de significar rua, não quer dizer que todos os estilos surgiram
exatamente nas ruas. Quer dizer apenas que veio do povo da cidade, que não é
acadêmico (clássico), portanto é street.
Mais do que um estilo de dança influenciado por vários ritmos, a dança de rua
sempre foi associada à cultura e a identidade negra, sobretudo a partir da década de
70. Nesse período, o movimento que teve início com a dança se estendeu para
outras manifestações culturais e artísticas, como a pintura, a poesia, o grafite e o
visual (PACIEVITCH, 2014).
A esse novo estilo nascido nos guetos nova-iorquinos (Bronx, Broolkin e
Harlem) deu-se o nome de Hip – Hop que é composto por quatro elementos, sendo:
o rap (ritmo e poesia), o grafite (assinaturas), os dj’s e os mc’s, e a Street Dance.
Alguns autores dividem a dança de rua em dois tipos: o Hip – Hop
(movimento cultural, de rua) e a Street Dance (dança oriunda de academias e
escolas de dança).
Dance (2014), acredita que dos estilos de dança urbana, apenas o B.Boying
foi criado exatamente nas ruas, durante as Block Partys (festas de rua), que deram
origem à Cultura Hip Hop. Os demais estilos de dança tiveram diferentes ambientes
para sua criação como clubs (danceterias), programas de TV, entre outros.
Nos dias de hoje quando se diz Street Dance ou Dança Urbana Americana
você entende por: Locking, Up Rocking, Popping, Boogalooing, B.Boying, Freestyle
Hip Hop e House Dance.
A dança de rua vinculada ao movimento hip hop (do inglês hip: quadril, hop:
pulo, ou seja, saltar movimentando os quadris), toma outro sentido na história em
sua formação, uma vez que é um estilo de dança mais dinâmico, já que veio de
outras danças sociais e suas características principais são a improvisação e a
mistura de linguagens como a encenação teatral.
No Brasil, as primeiras manifestações da dança de rua aconteceram em
meados de 1982 com dançarinos amadores. Para Puppo (2014), somente em
janeiro de 1991, a dança de rua foi efetivada no país com o primeiro grupo
profissional sul americano do gênero, através do coreógrafo e bailarino Marcelo
15

Cirino. Ele idealizou e introduziu, na cidade de Santos - SP, o primeiro curso de


“Dança de Rua” no Brasil, baseado em um trabalho prático e de pesquisa, que
iniciou em 1982. Incorporou elementos da cultura brasileira, criando a dança de rua
brasileira, cuja finalidade era elevar e divulgar a dança de rua no país tornando-a um
estilo de dança digno e respeitado.
O curso virou projeto e para alguns, “religião”, sempre com o apoio da
Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Santos e hoje, sua repercussão
mundial retrata o reconhecimento do trabalho e não um simples modismo.
A dança de rua em seu contexto histórico, muitas vezes esteve relacionada à
violência, além de ser considerada uma expressão de dança marginalizada.
Pensando em mudar essa concepção, profissionais buscaram encontrar formas de
fazer com que as pessoas valorizassem e reconhecessem essa expressão artística
e as encontraram através de festivais de dança.
A partir disso, a dança de rua que tem a liberdade de movimentos, liberdade
de expressão e comunicação como características marcantes, foi aos poucos
conquistando mais espaços, sendo vista também como instrumento valioso na
formação de crianças, jovens e adolescentes, devido à utilização de músicas com
batidas fortes e contagiantes que entregam-se de corpo e alma à dança,
expressando seus sentimentos, desejos e anseios através dos movimentos do seu
corpo.

4.5 O movimento hip hop: fundamentos e significados


De acordo com Dance (2014), o movimento hip hop é um conjunto de quatro
formas artísticas distintas chamadas de elementos (dj, mc, grafite, dança). Daí a sua
complexidade, uma cultura híbrida, sempre em movimento e em constante evolução.
Estas formas artísticas foram surgindo no ambiente urbano de Nova York,
cidade dos Estados Unidos, na passagem dos anos 60 para os anos 70. O termo foi
criado em meados de 1968 pelo então DJ Afrika Bambaataa, fundador da
organização Zulu Nation. Ele teria se inspirado em dois movimentos cíclicos, ou
seja, um deles estava na forma pela qual se transmitia a cultura dos guetos
americanos, a outra estava justamente na forma de dançar popular na época, que
era saltar (hop) movimentando os quadris (hip).
16

Muitos dizem que o hip hop seria a única forma da periferia e dos guetos
expressarem suas dificuldades e as necessidades de todas classes excluídas...
Existem vários estilos de dança dentro do Hip Hop, entre eles temos: o Breaking,
executados pelos B.Boys ou B.Girls; o Locking, executados por lockers; o Popping,
executado por poppers; o Hip Hop Dance (New School Hip Hop Dance), executado
pelos hip hoppers; as Social Dances (passinhos de dança de danceterias).

4.6 O surgimento do hip hop no Brasil


Para puppo (2014), o nome hip hop surgiu no Brasil na década de 80. Ainda
não existiam movimentos que retratavam exatamente o fundamento, o significado na
íntegra desta cultura, porque a grande maioria desconhecia este nome. O que na
época foi propagado e muito na mídia, era a febre chamada “break dance”.
Break era a dança do momento na época, que jamais deixou de ser um
elemento importantíssimo e imprescindível para o crescimento do movimento no
Brasil.
Dizem que existiram pessoas isoladas que já começaram a dançar hip hop
em meados de 1983, mas foi mesmo em 1984 que a mídia, através dos jornais,
documentários, revistas, comerciais de TV e filmes que propagou em massa a
chegada da nova dança.
Em todos os lugares viam-se pessoas com roupas coloridas, óculos escuros,
tênis de botinha, luvas, bonés e um enorme rádio gravador mostrando os primeiros
passos, do que se tornaria mais tarde uma cultura bem mais complexa.
Todos aqueles que tinham certa afinidade pela dança foram influenciados
pelas cenas do filme Flash Dance, os vídeos clips de Lionel Ritchie, Malcom
McLarem e outros. Não se pode deixar de mencionar em hipótese alguma que o Rei
do Pop Michael Jackson, lançou para o mundo o famoso Back-slide, inventado pelo
Grupo Electric Boogaloo, que muitos Poppers viram e utilizaram muito no Brasil.
Muitos grupos de dançarinos encontravam-se na Rua 24 de maio, em São
Paulo, para mostrarem suas novas habilidades, porém, começaram as implicações
dos lojistas e com isso tiveram que mudar de localidade, indo para a Estação São
Bento do metrô. Com uma divisão ocorrendo neste período da São Bento, outro
grupo foi para a Praça Roosevelt e então surgiu o "Sindicato Negro".
17

Em agosto de 1989, Milton Salles criou a MH2O "Movimento Hip Hop


Organizado", e foi muito importante, pois criava várias oficinas nas periferias, shows
gratuitos nos guetos e divulgou muito o rap para o grande público.
Hoje em dia, Milton Sales é responsável pela Companhia Paulista de Hip Hop,
que continua tendo o mesmo intuito: divulgar a cultura do hip hop que se organiza
em quatro elementos, ou seja: O BREAK que representa o corpo através da dança;-
O MC que representa a consciência, o cérebro; O DJ que representa a alma,
essência e raiz; O GRAFFITI que representa a expressão da arte, o meio de
comunicação.

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5.1 Caracterização da pesquisa
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa de caráter
qualitativo/descritiva, uma vez que busca entender uma realidade que não deve ser
quantificada, trabalhando com um universo de significados, no campo da
compreensão de valores e atitudes, além das motivações e sentimentos, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações (MINAYO, 1994). E ainda,
[...] a metodologia qualitativa, possibilita que se compreenda a forma de vida
das pessoas, não sendo apenas um inventário sobre a vida de um grupo.
As técnicas utilizadas permitem, entre outras coisas, o registro do
comportamento não verbal e o recebimento de informações não esperadas,
porque não seguem necessariamente um roteiro fechado, percebendo como
bem-vindos os dados novos, não previstos anteriormente (VICTORA, 2000).

Essa abordagem também pode ser complementada através da citação de


Cauduro (2004, p.20) onde afirma que:
[...] na pesquisa qualitativa, são explorados “a fundo conceitos, atitudes,
comportamentos, opiniões e atributos do universo pesquisado, avaliando
aspectos emocionais e intencionais, implícitos nas opiniões dos sujeitos da
pesquisa”, possibilitando, assim, analisar todas as questões que envolvem a
participação da família e escola no projeto social esportivo.

De acordo com o caráter dessa pesquisa, houve a possibilidade de produzir


nesse estudo, dados relacionados à observação de comportamentos e atitudes dos
alunos/as, além das suas opiniões em relação ao trabalho proposto.

5.2 Instrumentos metodológicos


Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas além de questionários com
perguntas abertas para que os alunos pudessem descrever suas sensações e
18

sentimentos em relação às atividades vivenciadas. Estas foram transcritas e os


questionários arquivados para a confirmação das informações.
A entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto sobre o qual
confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por
outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista
(MANZINI, 1990/1991 p. 154).

Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma
mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de
alternativas.

5.3 Universo da pesquisa


Participaram do estudo 22 alunos do 7º ano do ensino fundamental do colégio
Estadual Princesa Isabel – Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de
Cerro Azul, região metropolitana de Curitiba, sendo 13 alunos do sexo masculino e
09 alunos do sexo feminino, na faixa etária entre 11 e 14 anos.
As informações foram coletadas em um período de aproximadamente três
meses, nas aulas de educação física, durante a implementação da produção
didático-pedagógica desenvolvida pela autora. Esta foi trabalhada em 04 ações
sendo:
Ação 01: A descoberta do próprio corpo e as possibilidades de movimento:
foram conceituadas e realizadas atividades relacionadas ao ritmo, orientação
espacial, lateralidade, equilíbrio e coordenação motora, com o objetivo de verificar
as experiências motoras dos alunos/as.
Ação 02: Dança de Rua (ou street dance): a dança de rua foi conceituada na
sua teoria, desde seu surgimento, sua evolução e os dias atuais, além das suas
contribuições para os alunos/as dentro do contexto educacional. Suas práticas foram
experimentadas e vivenciadas com os alunos/as a cada aula.
Ação 03: Composição Coreográfica e Expressividade: foram trabalhadas a
estética das coreografias, bem como as expressões, a escolha dos movimentos, as
músicas, o sincronismo, ou seja, a melhor organização possível adotada para
emocionar e impressionar àqueles que os assistem.
Ação 04: Escola: Um ambiente motivacional / Festival de Dança: os alunos/as
foram provocados a encontrar possibilidades de fazer da escola um ambiente
motivacional. E isto se concretizou através da participação dos mesmos no festival
de danças organizado bienalmente pelo colégio. Entenderam todo o processo de
19

organização e ainda motivaram outros alunos do colégio a montarem grupos e


criarem suas próprias coreografias.

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante o período de desenvolvimento das atividades, ocorreu a coleta de
dados das entrevistas semi-estruturadas e das observações realizadas. As
respostas foram digitalizadas e analisadas.
Optou-se então por trabalhar com uma análise de conteúdo, onde houve a
categorização do retorno da coleta de dados para melhor compreensão do
pesquisador (BARDIN, 2002).
As perguntas e respostas dos alunos/as foram organizadas através de tabelas
com número de respostas (N) e porcentagens (%) para cada questionamento
separando as discussões dos resultados por cada questão analisada.
TABELA 1 – PERGUNTA Nº 01

Você já havia participado de aulas de dança em algum momento N %


da sua vida?
SIM / ALGUMAS VEZES 07 31,8%
NÃO / NUNCA 15 68,2%
Fonte: dados coletados das entrevistas realizadas com os alunos/as durante a
implementação da produção didático-pedagógica nas aulas de educação física no período
de março a julho de 2015.

Houve a constatação de que apesar do conteúdo dança estar contemplado


nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e também como um dos conteúdos
estruturantes das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE’s), é pouco
explorado pelos professores de educação física dentro dos espaços escolares, uma
vez que os alunos que vivenciaram essas práticas cursavam o 7º ano do ensino
fundamental com faixa etária era de em média 13 anos de idade.
Os PCN’s (2000), na sua elaboração, buscaram construir referências
nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras.
[...] os conteúdos da educação física devem abranger uma enorme gama de
conhecimentos produzidos pela cultura corporal e também conteúdos que
contemplem áreas diversificadas a fim de permitir aos educandos
compreender o corpo integrado, sem fragmentá-lo em físico e cognitivo
(FERREIRA, 2009 p. 11).

Pela primeira vez, a dança é contemplada em um documento nacional


(PCNs), como linguagem da arte, que permite a discussão e a problematização da
20

diversidade cultural em nossa sociedade, pois expressam e comunicam vivencias e


conceitos de várias épocas e espaços geográficos (MARQUES, 2005).
Nas organizações das DCE’s, a dança é tida como conteúdo estruturante,
este definido como conhecimento de grande amplitude. Conceitos ou praticas
considerados fundamentais para compreender seu objeto de estudo e as discussões
que envolvem o corpo devem estar atreladas a todas as manifestações e práticas
corporais que dele emergem.
Para Pereira et al (2001, p. 60 - 61),
(...) a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola. Com
ela, pode-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e/com os outros; a
explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem; a explorarem
novos sentidos, movimentos livres (...)

Verifica-se assim, as infinitas possibilidades de trabalho para o aluno com sua


corporeidade por meio dessas atividades.
TABELA 2 - PERGUNTA Nº 02

Você já conhecia o estilo dança de rua (ou street dance)? N %


SIM 06 27,3%
NÃO 16 72,7%
Fonte: dados coletados das entrevistas realizadas com os alunos/as durante a
implementação da produção didático-pedagógica nas aulas de educação física no período
de março a julho de 2015.

Apesar de ser um estilo de dança em expansão nos diversos espaços da


sociedade, percebeu-se que os alunos/as, mesmo já tendo observado essa
expressão de dança na mídia, não conseguiram identificá-lo pelo estilo dança de rua
(ou street dance), ou seja, não tinham conhecimentos específicos relacionados à
mesma, como a sua origem, evolução, significados e representações, além ainda do
papel educacional das suas práticas.
Isso talvez se justifique por haver uma divisão da dança de rua que a
caracteriza em vários estilos de acordo com a maneira que é dançada e expressada.
E ainda o fato de que esses alunos/as não tiveram a oportunidade de vivenciar a
dança no contexto escolar, o que consequentemente limitou o conhecimento deles
em relação a essa expressão artística.
Os conteúdos da educação física são as manifestações da linguagem ou
expressão corporal e devem contribuir no desenvolvimento da formação humana
(BREGOLATO, 2006).
TABELA 3 - PERGUNTA Nº 03
21

Após conhecer e vivenciar o estilo dança de rua (ou street dance), N %


como você descreveria essa expressão artística?
BOM / LEGAL/ DIVERTIDO / DIFERENTE / INTERESSANTE 20 90,9%
DIFÍCIL / NÃO CURTI 02 9,1%
Fonte: dados coletados das entrevistas realizadas com os alunos/as durante a
implementação da produção didático-pedagógica nas aulas de educação física no período
de março a julho de 2015.

A inserção das atividades relacionadas à dança de rua na escola foi um tanto


desafiadora, pois foram muitas as dificuldades em relação ao estímulo, à aceitação e
ao preconceito. Talvez por ser um estilo de dança que muitas vezes foi considerado
como uma expressão de dança marginalizada.
Porém após todo embasamento teórico e metodologias motivacionais, a visão
excludente foi deixada de lado.
O preconceito é oriundo das construções sociais do gênero, movido pelos
interesses ideológicos da elite do poder e está presente no âmbito escolar
(FABRIN et all, 2014 p. 07).

Apesar dos fatos acima citados, a vivência da dança de rua no espaço escolar
fez com que os alunos/as, além de apreciarem essa arte, tivessem uma mudança de
mentalidade em relação ao que a mesma representa.
A técnica da dança de rua tem características próprias, marcadas pela sua
história e contexto social em que surgiu. Permite que o corpo seja capaz de
transmitir a expressividade do que o espírito deseja dizer (GARAUDY, 1980).
Tal satisfação também se justifica por terem sido valorizadas as
possibilidades de cada aluno, permitindo a expressão espontânea, sem evidenciar a
técnica formal, dando um aspecto verdadeiramente educacional às práticas
oferecidas a eles.
TABELA 4 - PERGUNTA Nº 04

Você teve algum sentimento a superar? N %


MEDO 07 31,8%
TIMIDEZ / VERGONHA 13 59,1%
NENHUM 02 9,1%
Fonte: dados coletados das entrevistas realizadas com os alunos/as durante a
implementação da produção didático-pedagógica nas aulas de educação física no período
de março a julho de 2015.

O município de Cerro Azul localiza-se no interior do estado, onde os jovens


levam um estilo de vida “pacata” e, comparados aos jovens das grandes cidades,
22

são um tanto tímidos e ingênuos ou menos experientes. Sendo assim, é evidente a


timidez configurada no quadro acima, pois para eles toda essa experiência foi uma
grande novidade.
A timidez está acompanhada de emoções como o medo e o embaraço. É
considerada como uma espécie de vergonha com base em certas características do
comportamento.
O medo apresenta reações que são acompanhadas de modificações
fisiológicas claras. Por outro lado, o medo ativa a expressão motora das emoções
(AXIA, 2003).
Alguns relatos dos alunos/as:
“Minha sensação foi um pouco amedrontada, porque eu não sabia o que
viria depois”...
“Meu maior medo era errar na frente da sala inteira, ou da escola inteira e
passar muita vergonha na frente deles”...
“O maior de todos os meus medos era dançar”...
“Medo de fazer as aulas eu não tive porque as aulas foram incríveis, mais
tímido eu fiquei porque na maioria das vezes quase que o colégio todo
vinha nos ver dançar, aí a gente ficava tenso”....

TABELA 5 - PERGUNTA Nº 05

Após a conclusão de nossas atividades, o que você diria dessa N %


nova experiência? Gostou dos resultados?
SIM / ADOREI 22 100%
NÃO GOSTEI 00 -
Fonte: dados coletados das entrevistas realizadas com os alunos/as durante a
implementação da produção didático-pedagógica nas aulas de educação física no período
de março a julho de 2015.

É maravilhoso sentir a emoção dos alunos na expectativa de uma


apresentação.
Dança de rua (ou street dance), é todo o tipo de dança que se expressa de
forma espontânea, sem regras acadêmicas e tampouco elitistas. Pode ser praticada
por qualquer tipo de pessoa, ou seja, é uma dança para todos, sem preconceitos
(DULUIS, 2000).
... a educação pode contribuir para a formação de pessoas autoconfiantes,
que acreditem em si mesmas. Que atuem no mundo de forma participativa,
ajudando a construir a sua realidade e a dos demais. Isso gera autonomia, o
que dá muito mais significado a vida (BREGOLATO, 2006 p.31).
23

As atividades relacionadas à dança de rua se destacaram pelas performances


e execuções de movimentos mais complexos e a motivação dos alunos/as a essa
expressão de dança foi evidente conforme alguns relatos dos mesmos:
“Eu senti que quando dançamos, realizamos um trabalho em equipe”...
“Eu gostei muito das danças da minha turma. Nunca vi uma turma tão
criativa”...
“Adorei esse estilo... Tem um ritmo bem animado”...
“Foi uma coisa muito diferente e eu gostei de ter participado dessa nova
experiência”...
“Foi muito legal, inacreditável, nem dava pra dizer que era a nossa turma,
pois no começo, todos tinham dificuldade e depois todos fizeram tudo
certinho”...
“Foi uma experiência nova e legal. Me senti a vontade ao lado dos meus
amigos”...
“Já dancei vários estilos de músicas, mais o que eu mais gostei foi esse”...
“Achei os resultados surpreendentes. Eu não imaginava que eu conseguiria
fazer isso por que não é muito fácil, mas não tive dificuldades em aprender
as coreografias”...
“Eu me senti muito bem, emagreci um pouco também, he he... Me senti livre
igual a um profissional”...
“Nossa, eu achei que a gente evoluiu bastante e ainda ficamos famosos no
Colégio todo”...

Dentre todas as dificuldades encontradas ficou evidente que a motivação se


faz necessária a todo instante, pois quando bem estimulados, os alunos/as são
capazes de ir além do que eles mesmos imaginam, percebendo seus potenciais
criativos de maneira satisfatória e prazerosa.
A motivação é um dos temas-chave para que possamos alcançar os
objetivos que nos propomos, isto é, que os alunos aprendam e
desenvolvam ao máximo suas capacidades em todos os âmbitos (TAPIA &
FITA, 2006 p. 66).

“A aprendizagem é o produto da motivação... Não se aprende sem estar


motivado”... (LIEURY & FENOUILLET, 2000 p. 23).
Por tudo isso, a dança de rua (ou street dance) deve ser encarada como uma
nova solução para que essa expressão artística alcance novos e maiores espaços
junto ao grande público.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa estudada, foi possível compreender que o ensino da
dança na escola tem papel fundamental na formação dos alunos, pois é um
fenômeno que envolve a corporeidade e a expressão humana, além de ser uma
possibilidade de expressão de sentimentos e a dança de rua (ou street dance) por
ser uma expressão de dança em ascensão nos diversos espaços da sociedade
24

chama a atenção dos alunos para as suas práticas. “Hoje a dança de rua está
difundida por todos os lugares” (SALERA JÚNIOR, 2008).
Quando os alunos/as optam pela dança de rua e formam grupos, iniciam um
processo de socialização e tomam consciência da sua realidade social.
Muitas são as dificuldades encontradas quando desenvolvemos propostas de
trabalho diferenciadas nos espaços escolares, uma vez que são ambientes de
conflitos diários e no decorrer dessa pesquisa, as dificuldades que se evidenciaram
foram o preconceito em relação à proposta de trabalho e a discriminação entre os
colegas, além da insegurança, da timidez, do medo e da vergonha que se acentuam
ainda mais pelo fato de que muitos dos alunos não tiveram a oportunidade de
vivenciar aulas de dança anteriormente.
Acreditar em uma proposta de trabalho e persistir na busca do alcance dos
objetivos propostos é fundamental e a motivação se faz necessária a todo instante,
pois quando bem estimulados, os alunos/as são capazes de ir além do que eles
mesmos imaginam, percebendo seus potenciais criativos de maneira satisfatória e
prazerosa.
O importante é persistir e vencer as barreiras do preconceito imposto pela
sociedade que muitas vezes entende a dança somente como exposição do corpo.
Foi notável a percepção de que a escola pode interferir na mudança de
comportamento dos alunos principalmente se usar a criatividade como processo
metodológico, desenvolvendo atividades que atinjam o alcance crítico dos mesmos a
fim de construir novos conceitos.
A dança de rua é um mecanismo de inserção social e está se tornando uma
cultura contemporânea jovem em todos os meios e pode ser uma possibilidade de
trabalhar com a capacidade de percepção de um corpo real, permitindo que os
jovens expressem seus movimentos espontâneos, suas emoções e sentimentos.
No decorrer do estudo, com base nos autores pesquisados e na experiência
vivida dentro do espaço escolar, foi possível descobrir que dança é, de forma muito
concreta, uma grande ferramenta para transformação social de adolescentes e
espero que esta possa cooperar com os profissionais da educação física escolar,
dando uma ideia dos resultados que os trabalhos relacionados à dança na escola
são capazes de fazer na sociedade.
25

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