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MARIANISMO

Sem saber, seguiu os passos Dela.


Resumo por
Yano, L. Patrícia (2021)

Durante um seminário no mestrado, ano de


2006, num corredor da Nagoya City
University um colega japonês se aproxima e
pergunta sobre minha nacionalidade. Ao
responder que sou do Brasil ele fala: Ah, o
Brasil é um país marianista, certo? Não
soube responder. E iniciei pesquisas sobre
o assunto.

O que é marianismo?
Fenômeno do Novo Mundo com raízes no Velho Mundo (Stevens, 1973).
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• Arquétipo do feminino na América-latina, tão difundido como o
machismo, mas que está implícito na cultura (Stevens, 1973).
• Um padrão sexual latino-americano, assim como o machismo
(Fernandez, 2009), que atua diretamente nos papéis sociais em
dicotomia, feminino e masculino, e introjetado como algo “natural”.
Antinomia do homem sexuado e da mulher assexuada, implícitos e
condicionadores do comportamento.
• Vinda da cultura cristã, impacta nos comportamentos das mulheres
nessas culturas.
• Enquanto a prática religiosa focada na veneração à Maria chama—se
Mariologia (Fernandez, 2009), o marianismo é uma edificação secular
de crenças e práticas que se referem a posição da mulher na sociedade
e, infelizmente, muito pouco estudado, ainda que interfira
significativamente na cognição e emoção de pessoas que vivenciam
nesses mundos culturais (Nunez et. al., 2016).
• Valor atribuído às mulheres latinas, tendo o modelo de Maria como o
ideal feminino. As mulheres são encorajadas a aceitação do caráter
subalterno, moralmente superior e, a serem cuidadoras e
autosacrificadoras.
• Essas práticas reforçam o estereótipo da mulher ideal baseado em
qualidades de integridade moral (ser virgem, pura, bem falada, de boa
família, “boa para casar”). Estes estereótipos implicam em escolhas
profissionais das mulheres também. As áreas ligadas ao cuidado são
vistas como áreas femininas.

Como é o marianismo?
Às mulheres, o sagrado. Aos homens, o profano (Arango et al., 1995).
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• O papel sexual feminino atua como excessivamente tolerante com os
“pecadores”, já que a santa mulher possui atitudes com tendências a
serem idolatradas em seu sistema familiar. A mulher/mãe marianista, de
certa forma, opera milagres, resolvendo os problemas em seu sistema
familiar e sendo, altamente tolerante, especialmente, em relação aos
homens. Ela é cuidadora, a base da família e superprotetora.
• As crenças se tornam atitudes de vida que impactam num senso de
conformação com o seu papel mariano:

A mulher deve sempre cuidar do esposo e dos filhos com bondade,


humildade e sacrifício
(Yano & Mendes, 2018, p. 94 In Frazão & Fukumitsu, 2018).

• A mulher torna-se a fortaleza da casa, pois é vista como naturalmente


superior ao homem: a mulher é batalhadora e guerreira! Esses
estereótipos fortalecem a relação da experiência familiar com a
configuração “mãe presente e pai ausente”.

Dois padrões sexuais básicos: a polaridade marianismo e machismo


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• Na América Latina o homem é estereotipado como com uma libido
intensa, viril, agressivo, arrogante, forte e assim, macho.
• O machismo é uma adaptação do patriarcado, sendo um padrão
expressivo deste, em oposição paralela ao marianismo (Fernandez,
2009).
• Considerando a Criação, o homem (criação original de Deus) precisava
de um ajudante: a mulher: Neste sentido, a crença de que “por trás de
um grande homem...”
• Machistas e marianistas são polaridades que tendem a se equilibrar
patologicamente.
• Ao atribuir um caráter de superioridade feminina sagrada e tolerante, o
marianismo atua como forma de lidar com o machismo e à aceitação
das “falhas” dos homens.
Exemplos atitudinais de comportamentos marianistas:
É uma cruz que eu devo carregar...
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• Tendência a supervalorizar e superproteger o filho homem e, a ensinar


a (s) filha (s) mulher (es) os mesmos valores de submissão marianistas.
• Em seu sistema familiar, o reforço da abnegação, altruísmo e auto
sacrifício em prol de sua família. Com infinita paciência, lida com os
maus hábitos de seu marido e, muitas vezes, do/s filho/s, tratando-os
como vulneráveis ou infantis e suportando seus comportamentos aos
quais considera como “naturais”.
• Relacionado à imagem da mãe como alguém pura, santificada, o filho
(ou filha), assume o lugar do pai no sistema familiar, sendo contrário
que a mãe namore ou case novamente, diante da separação ou morte
do patriarca.
• Tendência em considerar normal a violência doméstica vinda do
marido e filho/a (s).
• Tendência em considerar a maternidade como algo fundamental.
• O padrão relacional com o marido e com o/a filho/a tem características
abusivas: ela tudo suporta. Emocionalmente, ela adoece. E não
entende pelo quê adoece já que ´”tem tudo”.
• Responsabiliza-se integralmente, pelas demandas do sistema
familiar.
• São sempre requeridas a serem “boas mulheres”. Quando não
são demandadas, buscam por demandas, pois estão habituadas
e, de certa forma, dependentes desse papel: o de precisar resolver o
problema de todo mundo.
• Gangorra adaptativa dos/as filhos/as de marianistas: sente-se
sufocado/a ou acomodado/a quanto aos cuidados excessivos. Os que
se sentem sufocados, querem sair de casa; os que se acomodam,
jamais sairão de casa.

E que,
Mais que uma postura da mulher o marianismo é uma atitude feminina latina
e cristã e que,

sem se dar conta disso, muitas seguem, por toda a sua vida,
os mesmos passos da Santa Mãe.
Referências:
Arango, L. G., M., Léon, & Viveiros, M. (Org.) (1995): Género e identidad:
Ensayos sobre lo feminino y lo masculino. Faculdad de ciências humanas.
Ediciones Uniandes. Colombia: TM editora.

Fernandez, J. (2009): Introduction aux gender studies:


The role of Machismo and Marianismo in the construction of sexes in Latin
America. Disponível em []

Frazão, L. Fukumitsu, K. O. (2019): Situações clínicas em Gestalt-terapia.


Coleção Gestalt-terapia fundamentos e práticas. SP: Summus.

Lopez-Baez, S. (1999). Marianismo. In J. S. Mio, J.E. Trimble, P. Arredondo, H.


E. Cheatham, & D. Sue (Eds.), Key words in multicultural interventions: A
dictionary (p. 183). Westport, CT: Greenwood.

Nuñez, A., González, P., Talavera, G. A., Sanchez-Johnsen, L., Roesch, S. C.,
Davis, S. M., Gallo, L. C. (2016). Machismo, marianismo, and negative
cognitive-emotional factors: Findings from the Hispanic Community Health
Study/Study of Latinos Sociocultural Ancillary Study. Journal of Latina/o
Psychology, 4(4), 202–217. doi:10.1037/lat0000050

Stevens, E. (1973): Marianismo: The Other Side of Machismo in Latin America.


Female & Male in Latin America: Essays. University of Pittsburgh Press:
Pittsburgh.

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