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Doutor em educação pela UFSCar. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
Segundo a narrativa coletada na aldeia Limão Verde (Mbo’ehara Delfino), Amambai,
MS, e aldeia Jaguapiru (Yvyra’ija Marciel), Dourados, MS, o pai de Jakaira, Xiru
Jakaira, protetor das sementes, estava apaixonado pela filha de Nhanderu Guasu,
mas era muito velho, desarrumado e sua aparência desagradava a moça. Tinha
bichos de pé, piolhos, feridas pelo corpo e cheirava muito mal. Após algum tempo
frequentando a casa de Nhanderu Guasu, percebeu que a moça nunca se casaria com
ele.
Um dia foi ao rio onde a moça costumava tomar banho com as amigas, mas quando
chegaram o expulsaram da água, pois não se banhariam no mesmo lugar em que
aquele homem tão feio e sujo estivesse. Ao sair, retirou um pedaço de seu cinto, o
ku’akuaha, e deixou no meio das roupas deixadas por ela na margem do rio. Após
um tempo, engravidou e deu à luz um menino sem saber quem era o pai.
Nhanderu organizou uma grande reunião para a qual convidou todos os homens-
divinos da aldeia e descobrir quem era o pai de seu neto. Apenas o Anhãy não foi
convidado, pois era um demônio malvado. Cada um deles deveria fazer e enfeitar
um pequeno arco de brinquedo, guyrapa’i, e oferecer ao garoto, que reconheceria o
pai aceitando o presente.
Quando chegou o dia da reunião o menino recebia os participantes que passavam
diante da porta da grande casa, a ongusu. Depois que todos os homens passaram
diante do menino, mas nenhum deles foi reconhecido como pai, restava apenas
Jakairá, que passou a tardezinha depois das três da tarde, cujo arco foi aceito
alegremente pelo menino. Ao aceitar o seu arco disse para a mãe: - Hu’i, pai.
Contando que passaria no dia seguinte pela manhã. Naquele dia seu pai plantou a
primeira roça com as sementes que brotavam de seu corpo, ficando magicamente
rejuvenescido, livre do peso de todas aquelas sementes.
Quando chegou à casa de Nhanderu, foi muito bem recebido, convidado para entrar
e sentar-se na rede e colocar os pés sobre um banco. Nhanderu e Nhandesy, os avós
do menino vieram conversar com ele e as irmãs tiveram ciúme uma da outra. A mãe
perguntou a Jakairá se podia ir à sua roça. Este disse que ela podia ir com o Mynaku,
cesto, buscar o milho, mas ela perguntou como podia estar maduro se havia plantado
no dia anterior.
Com este arco, Jakairá entoou o canto de Xiru Pa’i Kuara e a história dos gêmeos:
Pa’i Kuará e Jasy. Este canto, guahu, é reproduzido até hoje ao final do ritual do
Jerosy. Jakairá teve seu corpo purificado pela reza de Xiru Marangatu, sendo aceito
posteriormente pela filha de Nhanderu Guasu.
REFERÊNCIAS E FONTES:
CLASTRES, P. A Fala Sagrada. Campinas: Papirus, 1990.
ELIADE, M. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
JOÃO. I. Jakairá Reko Nheypyrũ Marangatu Mborahéi. Dourados: UFGD, 2011.
IMAGENS:
EMI PA’I CHIQUITO PEDRO, Professores e Estudantes. Calendário Tradicional.
Dourados, 2018.
BENITES, Josemar. Temitỹ Jára. Aldeia Te’ýikue, 2019.