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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP

CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA CEAD

Administração Pública

A CIÊNCIA, O CONHECIMENTO E O MÉTODO

CIÊNCIA

Etimologicamente, ciência significa conhecimento. Porém, muitos tipos de conhecimentos não


pertencem à ciência, como o conhecimento vulgar e outros. Uma definição de forma clara e aceita por
todos sobre o que realmente é ciência, está longe de ser conseguida, é uma questão bastante
controvertida. Vários autores chegam a considerar este fato, sem solução definitiva. Mas, é possível,
mediante reflexão, determinar-se com razoável grau de precisão as diferenças entre conhecimento
científico e outras formas de conhecimento.
Pode-se considerar a ciência como uma forma de conhecimento que tem por objetivo formular,
mediante linguagem rigorosa e apropriada - se possível, com auxílio da linguagem matemática -, leis
que regem os fenômenos. Embora sendo as mais variadas, essas leis apresentam vários pontos em
comum: são capazes de descrever séries de fenômenos; são comprováveis por meio da observação e da
experimentação; são capazes de prever - pelo menos de forma probabilística – acontecimentos futuros.
A ciência pode ser caracterizada como uma forma de conhecimento objetivo, racional, sistemático,
geral, verificável e falível. O conhecimento científico é objetivo porque descreve a realidade
independentemente dos caprichos do pesquisador. É racional porque se vale, sobretudo da razão, e não
de sensação ou impressões, para chegar a seus resultados. É sistemático porque se preocupa em
construir sistemas de ideias organizadas racionalmente e em incluir os conhecimentos parciais em
totalidades cada vez mais amplas. É geral porque seu interesse se dirige fundamentalmente à elaboração
de leis ou normas gerais, que explicam todos os fenômenos de certo tipo. É verificável porque
possibilita demonstrar a veracidade das informações. É falível porque ao contrário de outras formas de
conhecimentos elaborados pelo homem, reconhece a sua própria capacidade de errar.

CONHECIMENTO

A – A natureza do conhecimento:
O ser humano toma conhecimento do mundo de diversas maneiras, através dos órgãos dos
sentidos que transmitem ao cérebro a existência dos objetos. A percepção de um objeto ocorre a partir
das sensações causadas pelas qualidades dos objetos. É o experimentar, o sentir, que caracteriza a
sensação e a difere de outros fenômenos materiais, sendo imediata e exclusivamente um fato de
consciência.
O homem possui a capacidade de pensar, identificar e reconhecer. Para sua sobrevivência o
homem necessita conhecer e pensar. O conhecimento é necessário para o desenvolvimento. Através do
conhecimento o homem domina a natureza. Sabemos que existimos porque pensamos. Saberá o
universo que ele existe? Nós sabemos que ele existe e podemos estudá-lo. Se nada soubéssemos a
respeito do universo, seria o mesmo que ele não existisse.
Conhecer e pensar, colocam o universo ao nosso alcance e lhe dão o sentido, finalidade e razão
de ser. O homem vê e conhece, conhece o que vê e pensa no que viu e no que não viu, conhece e pensa,
pensa e interpreta. Os outros animais só conhecem as coisas por via sensorial; o homem, além disso,
investiga-lhes as causas, elaboram o material de seus conhecimentos.
A história humana é a história das lutas pelo conhecimento da natureza, para dominá-la, para
interpretá-la; e cada geração foi recebendo um mundo interpretado pelas gerações passadas. As gerações
dos místicos intentaram a interpretação mística do universo a partir de intuições, de iluminações
proféticas. As gerações dos filósofos procuraram ultrapassar a experiência vulgar. Finalmente, as
gerações dos cientistas desdobraram o universo em milhares de segmentos, não para dizer como é o
“ser”, mas para saber “como” cada coisa é.
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A atual geração encontra, pois diante de seus olhos, um mundo já pensado, já interpretado,
pronto para o consumo: história interpretada, sociedade organizada, normas estabelecidas de moral, leis
de direito codificadas, religiões estruturadas, classificação e virtudes dos alimentos especificadas para
cada idade, regulamentos para dirigir carro, programas escolares, tudo pronto. Mas a geração de hoje
não pode resignar-se a um conhecer o mundo de segunda mão; não pode julgar-se dispensada de pensar
naquilo que já pensaram por ela e definiram sem consultá-la. Se as gerações que nos precederam
tivessem pensado assim, estaríamos hoje sob o manto da barbárie ou atados a grilhões medievais.
Conhece verdadeiramente quem atinge as razões, as causas das coisas e não as coisas
simplesmente. Conhece sem pensar, a modo das crianças, dos débeis e dos irracionais, quem se
contenta em ver e aceitar tudo sem questionar, sem refletir, sem alcançar os fundamentos, sem buscar
razões, sem justificar sua posição. Aqueles para os quais os pais fossem em casa o critério de verdade e
motivo de certeza; na escola, os professores; nos templos, seus ministros; nos jornais, as letras. Com
certeza, conheceriam muitas coisas; entretanto, não pensariam. O homem precisa pensar. É direito e
obrigação sua. No momento em que o homem procura ultrapassar o simples conhecer pelo empenho em
pensar, não nasce a ciência, é verdade; mas já vai despontando o elemento básico da atitude científica
que é, antes de mais nada, crítica e objetiva.
No processo de busca do conhecimento, encontram-se frente a frente o sujeito (a consciência
que busca o conhecimento) e o objeto (elemento da busca do conhecimento). O conhecimento
apresenta-se como o resultado da relação entre dois elementos (sujeito e objeto). A função do sujeito
consiste em aprender o objeto, a do objeto em ser aprendido pelo sujeito.
A partir do sujeito, esta apreensão apresenta-se como uma saída do sujeito para fora de sua
própria esfera, uma invasão da esfera do objeto e uma leitura ou reconhecimento das propriedades deste.
O objeto permanece, sem ser modificado. Mas, no sujeito alguma coisa se altera, como resultado do
conhecimento do sujeito sobre o objeto. No sujeito, surge algo novo, que contém as propriedades do
objeto, surge uma “imagem” do objeto.
A partir do objeto, o conhecimento apresenta-se como uma transferência das propriedades do
objeto para o sujeito. As propriedades do objeto não são transferidas ao sujeito. Ocorre sim, a
transferência da imagem do objeto para o sujeito. Esta imagem torna-se objetiva, na medida que leva em
si os traços do objeto. É distinta do objeto, encontra-se de certo modo entre o sujeito e o objeto.
Constitui o instrumento pelo qual a consciência do sujeito aprende seu objeto.

Os tipos de conhecimento
Como vimos anteriormente, existem duas espécies de conhecimento: conhecimento sensorial,
comum aos homens e aos outros animais, e o conhecimento intelectual que é característico dos seres
humanos. Para que possamos fazer a caracterização entre os dois, vamos dividi-los em conhecimento
vulgar (senso comum) e conhecimento científico.

Conhecimento vulgar ou senso comum:


O conhecimento vulgar, senso comum ou conhecimento empírico é o modo comum, espontâneo,
pré-crítico de conhecer. É o conhecimento da maioria da população, conhecimento que atinge os fatos
sem lhes inquirir as causas. Durante a existência, o ser humano vai acumulando conhecimentos de
coisas que viu pessoalmente, coisas que ouviu de terceiros, vai absorvendo (interiorizando) as tradições
da coletividade. São experiências causais, sem método, assistemáticas, fragmentárias e ingênuas, que
atingem o fato nas suas aparências gerais, sem análise, sem crítica e sem demonstração. Acolhem
informações e assimilam tradições sem análise e sem a busca dos fundamentos desses conhecimentos.
Todo ser humano comum bem informado é lógico nos seus arrazoados. Conhece muito sobre o
mundo em que vive. Como tal fornece aos outros “receitas infalíveis, conselhos e informações
preciosas”. As mulheres que já tiveram filhos dão consultas gratuitas para as principiantes que lutam
contra os problemas do primeiro filho. Quando alguém está com dor-de-cabeça, sempre aparece um
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“especialista” que conhece um comprimido eficaz, que alivia a dor rapidamente. Mas, ignora a
composição do medicamento, a natureza da dor e a forma de atuação do medicamento. Este tipo de
conhecimento, superficial, por informação ou experiência casual, recebe o nome de conhecimento
vulgar ou empírico.
O especialista em lógica conhece lógica cientificamente; o advogado conhece leis
cientificamente; o pedagogo conhece educação cientificamente. O homem comum pode conhecer tudo
isso de outro modo, não cientificamente, mas de maneira vulgar e empírica. É importante observar que,
para qualquer ser humano, a porção maior de seus conhecimentos pertence à classe do conhecimento
vulgar (senso comum).
Sobre o conhecimento vulgar podemos dizer ainda que é comum e possível a todo ser humano,
de qualquer nível cultural. Não questiona, não analisa, não exige demonstração, é ocasional e
assistemático. Vale dizer que o conhecimento vulgar atinge as coisas, enquanto o conhecimento
científico estuda sua constituição íntima e suas causas.

Conhecimento científico:
Diferentemente do conhecimento vulgar, o conhecimento científico não atinge simplesmente os
fenômenos na sua manifestação global, mas os atinge em suas causas, na sua constituição íntima,
caracterizando-se, desta forma, pela capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar, de
induzir ou aplicar leis, de predizer com segurança eventos futuros.
A ciência é fruto da tendência humana para procurar explicações válidas, para questionar e
exigir respostas e justificações convincentes. Este dinamismo questionador peculiar ao espírito humano
já se manifesta na primeira infância, quando criança multiplica suas indagações sobre as coisas,
chegando mesmo a embaraçar os adultos. Felizmente ou infelizmente, as crianças acabam aceitando
respostas incompletas e imperfeitas.
O Conhecimento Científico é expressão que lembra laboratório, instrumental de pesquisa,
trabalho programado, metódico, sistemático e não faz associações com inspiração mística ou artística,
religiosa ou poética. A expressão conhecimento científico evidencia o caráter de autoridade, de
respeitabilidade, que falta ao conhecimento vulgar. É privilégio de especialistas das diversas áreas das
ciências. É um processo sistemático, metódico, orgânico, crítico, rigoroso e objetivo. Nasce da dúvida e
se consolida na certeza das leis demonstradas, válidas para todos os casos de mesma espécie que
venham a ocorrer nas mesmas condições. É obtido a partir de um conjunto de processos determinados
pelo homem, como tal, é passível de interpretações incompletas ou não consistentes por muito tempo. A
única certeza é a de que todo conhecimento científico é precário e pode ser reformulado e reinterpretado
a qualquer tempo.

MÉTODO CIENTÍFICO

O método constitui característica tão importante do conhecimento científico que, muitas vezes,
identifica-se ciência com seu método. A palavra método é de origem grega e significa o conjunto de
etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na investigação.
Não foi somente com o método que o fenômeno de reflexão e sistematização ocorreu, o ser
humano primeiro viveu a vida e suas experiências, e só depois estudou a vida. Primeiro o ser humano
raciocinou com lógica espontânea, e só depois definiu as leis do raciocínio; assim, também, o homem
primeiro agiu metodicamente, e só depois estruturou os passos e exigências do método científico. Desta
forma, podemos dizer que primeiro o homem procurou agir cientificamente, e só depois surgiu o
método ou o traçado fundamental do caminho a percorrer na pesquisa científica.
O método científico confere segurança e é fator de economia na pesquisa, no estudo, na
aprendizagem. O método não pode ser ignorado em seus delineamentos gerais, sob pena de insucesso.
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Entretanto, sabemos que o método por si, não garante o sucesso de uma pesquisa, é um extraordinário
instrumento de trabalho que ajuda, mas não substitui o talento do pesquisador. Mas, sobre a importância
do método, costuma-se dizer que "um espírito medíocre, mas guiado por um bom método, faz, muitas
vezes mais progressos nas ciências que outro mais brilhante que caminha ao acaso”.
Método é um conjunto de normas determinadas, que devem ser satisfeitas, caso se deseje que a
pesquisa seja adequadamente conduzida e capaz de levar a conclusões merecedoras da adesão pela
comunidade científica.
Em sentido amplo, pode-se dizer que todas as atividades podem ser executadas de alguma
forma mais segura, mais econômica, mais perfeita. O roteiro desta ação mais perfeita é seu método
peculiar, ou melhor, sua técnica. Assim, existem métodos de piano, métodos para ler, para escrever, para
resumir, para estudar e aprender de fato, e assim por diante. A palavra método significa o traçado das
etapas fundamentais da pesquisa. Dentro do método, existem as técnicas que são os diversos
procedimentos ou os recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do
método. A técnica é a instrumentação específica da ação e varia muito e se altera e progride de acordo
com o progresso tecnológico e científico.

Bibliografia:
ASTI VERA, Armando. Metodologia da pesquisa científica. Porto Alegre: Globo, 1989.
ANDRADE, M. M. de. INTRODUÇÃO À METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO.
São
Paulo: Atlas, 1997.
ARANHA, M. L. de A . História da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.
CASTRO, Claudio de Moura. Estrutura e apresentação de publicações científicas. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1976.
CERVO, Amado Luiz & BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 4. Ed. São Paulo:
MAKRON BOOKS, 1996.
GILL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1994.
LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico:
procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos.
4.ed. São Paulo: Atlas, 1992.
RUIZ, J. A. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1985.

Fragmento do texto de: Prof. M.sc. Joel Irineu Lohn – disponível em: http://lohn.no.sapo.pt/texto02.htm
Acesso em: 23/08/2010

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