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"Um corpo vivo e um corpo morto contém o mesmo número de partículas.

Estruturalmente não há diferença discernível. Vida e morte são abstrações não


quantificáveis, por que deveria me importar?"

- Dr. Manhatan, Watchmen

Basta olharmos para um corpo "morto" e percebemos de cara duas coisas: ele é
exatamente igual a um corpo vivo, não há uma diferença entre alguém que acabou de
falecer e alguém vivo; ao mesmo tempo ele é completamente diferente de um corpo
vivo, algo estava lá, agora não está mais.

Essa diferença é percebida inclusive por animais, quem já conviveu com bichos sabe
como eles lidam com a morte, podem não fazer funerais, ou passar a vida em preces
ou homenageando o "colega que se foi", mas eles sabem dizer quando o companheiro
não está mais lá.

Esse tipo de metáforas, inclusive, é curioso. "Não está mais lá", "Foi desta para
uma melhor", etc. O que não está mais? Obviamente um corpo morto não está realmente
morto, cabelos e unhas crescem. Ele pode ter convulsões, arrotar, peidar. Você pode
massageá-lo e fazer com que ele se mova sozinho, assuma novas posições. Dê tempo e
nova vida brota dele, vermes, fungos, etc. O corpo morto não é como uma fotografia
do corpo vivo, ele é dinâmico, continua mudando. Talvez isso tenha sido o que
primeiro fez com que as pessoas, muito tempo atrás, pensassem em algo que havia
abandonado aquele corpo. Nada tão complexo quanto uma personalidade, ou um conjunto
de conhecimento, mas a vida que habitava aquele invólucro de carne e o fazia se
mover.

Esse algo foi chamado então de "nephesh", que pode ser traduzido aproximadamente
como sopro de vida. Quando perdemos esse sopro, nos tornamos apenas adubo. Esse
termo, apesar do que possa parecer, não chegava a ser religioso, já que haviam
outras palavras para espírito, como por exemplo "ruah". Nephesh era algo muito mais
etéreo, mais sutil, muito mais fundamental. Os gregos usavam a palavra "psyche",
derivada do verbo soprar, para nomear este princípio que animava os humanos e
outros animais. A versão latina da palavra era "anima". Nos povos de língua barbara
a palavra usada era "sáwol", derivada do gótico "saiwala", do alemão antigo
"sêula", do antigo saxão "sêola"; os nórdicos diziam "sála" enquanto os lituanos a
chamavam "siela", dando origem ao "soul" moderno em inglês. Os gregos antigos
usavam a mesma palavra para indicar algo vivo e algo que possuia uma "alma", isso
já nos mostra que a origem da vida estava ligada de forma inseparável a este
"sopro".

Com a evolução do pensamento a alma não era apenas mais a origem da vida, mas um
princípio maior que nos ligava a um mundo do qual estávamos conscientemente
separados. O antigo poeta grego Pindarus (522-443 a.C.), afirmou que a alma não
tem vida alguma enquanto nossos membros estão ativos, mas quando dormimos, e a alma
desperta, nos revela em sonhos, "uma recompensa de alegrias ou tristezas que se
aproximam". Logo que a alma se tornou uma constante na filosofia muitos acreditavam
que ela não possuia vida por si própria, era apenas um princípio, assim que
abandonava o corpo ia para o sub-mundo, o Hades, onde ficava presa sem chance de
retornar ao corpo. Com Sácrates e Platão, ou o que Platão nos diz que Sócrates
dizia, a alma se tornou a essência da pessoa, sendo a responsável pela maneira como
a a pessoa se comportava, ela era considerada incorpórea e eterna, ocupando nosso
ser, quando um corpo morria a alma pulava para outro.

Ainda na Grécia antiga a alma passou a ser, de acordo com Aristóteles, a primeira
atualidade de um corpo organizado, o primeiro momento da formação de um corpo e não
acreditava que ela tivesse uma existência independente do corpo.
Então a alma fugiu do controle. Passando por mulçumanos, cristãos, filósofos
iluministas e psicólogos a alma foi se metamorfoseando, passando de algo real para
um mero conceito. Mas será que essa metamorfose tem fundamento?

Basicamente a crença de cada geração é julgar que a geração passada pecava em sua
inocência, ignorância e crença. Em qualquer momento presente a regra é acreditar
que por sermos mais evoluidos, tecnologicamente ou socialmente, aquilo que sabemos
no momento está muito mais próximo dos fatos, da verdadeira Verdade, do que as
superstições que nossos antepassados criavam para explicar o que desconheciam. Esse
é um comportamente até certo ponto sadio, o próprio Freud afirmava que o
assassinato do pai fazia parte do desenvolvimento do filho, algo claramente, ou nem
tão claramente assim, mostrado no mito de Édipo. Mas esse "assassinato" é uma fase,
não um fim em si mesmo. Devemos avoluir, não enterrar qualquer coisa que não tenha
sido defendida em nossa época, temos que ter em mente que seres humanos adora re-
inventar a roda.

Com a atual moda de ateismo/agnosticismo/ceticismo mesmo as pessoas de mente mais


aberta costuma ficar reticentes quando o assunto passa para o etéreo. Dificilmente
alguém colocaria o próprio nome na reta ao se defender algo que não pode ser
engarrafado ou não tem nem cheiro. Um peido é o resultado da formação de gases que
sai pelo único caminho que tem acesso. E uma alma? De onde vem, onde fica? Para
onde vai?

Na era do animismo a alma era parte real e fundamental do mundo, um ingrediente que
permeava não apenas seres vivos, mas tudo o que era real, quando foi substituído
pela religião a alma passou a ser um elo com a força criadora do universo, o sopro
da vida que nos distinguia de pedras e dos elementos. Quando surgiu a psicologia, a
alma passou a ser parte de nossa mente, um aspecto do cérebro. No mundo moderno
científico a alma assumiu o posto de mera superstição, mas podemos dizer que isso
acontece simplesmente porque, em tese, ela não pode ser detectada. Isso mostra,
talvez, mais a incapacidade de nossa tecnologia do que a comprovação da existência
ou inexistência de algo, afinal ondas de rádio sempre existiram, mas nós só pudemos
comprová-las quando inventamos aparelhos que as captassem e as traduzissem para uma
"linguagem" que pudéssemos compreender, quando passamos a vê-las e ouvi-las. Assim
talvez o que precisemos para comprovar a existência da alma são engenhocas que a
percebam e a mostrem para nós de uma forma que possamos vê-la e ouví-la.

Diga "X"

Hipólito Baraduc, o médico francês do século XIX, afirmava que os campos magnéticos
do corpo humano poderiam ser impressos em uma placa fotográfica sem a ajuda de uma
câmera. Influenciado pelo Barão Dr. Karl Ludwig von Reichnbach, o típico gênio de
época - era químico, geólogo, metalúrgico, naturalista, industrial e filósofo,
membro conhecido da Academia Prussiana de Ciências - Baraduc acreditava ter
descoberto evidências de uma força vital misteriosa dentro do corpo humano que ele
descreveu como um tipo de névoa fluida. Reichnbach, nos seus últimos anos de vida,
estava pesquisando um campo de energia que combinava eletricidade, magnetismo e
calor, que emanava de todos os seres vivos que ele batizou de força Ódica.
Inspirado pelo trabalho de Reichnbach e pelo próprio, Baraduc afirmou ser capaz de
detectar cientificamente essa "força sutil" que ele afirmou emanar da alma humana.

Baraduc então criou um biômetro, um aparelho que poderia medir essa radiação
causada pela alma. Seu aparelho foi confeccionado de materiais não magnéticos
isotérmicos e isolantes, para descartar qualquer influência magnética, elétrica e
térmica. Uma linha, dentro de um containar isolado, era ligada a uma agulha, feita
de material que não seria afetoda por essas forças, e colocadas sobre uma tábua com
graduações. Quando determinada pessoa colocava a mão sobre o container a agulha se
movia e ele podia medir a intensidade do campo da alma da pessoa. Mas apenas medir
a radiação e vibrações da alma não era o suficiente, por isso ele foi além. Em 1907
sua esposa, Nadine, adoeceu. Ele então passou a colocar chapas fotográficas e
câmeras junto ao leito de sua esposa e a registrar o que quer que houvesse para ser
registrado. Logo após a morte da esposa ele tirou fotos e conseguiu registrar três
aglomerados nevoentos flutuando acima de Nadine. Quinze minutos após, Baraduc tirou
outra foto e viu que as três formas de névoa haviam se aglomerado em uma grande
bola branca luminosa - que não era visível aos nossos olhos. Logo em seguida a bola
não estava mais presente.

Baraduc afirmou então que "não existe razão, a priori, para a alma não ser um corpo
que ocupa um lugar no espaço, a não ser na tradição teológica. Até onde sabemos, a
alma pode ser um ponto de força, que existe dentro e anima algum tipo de corpo
etéreo, que corresponde, em tamanho e forma, a nosso corpo material".

Se Baraduc estivesse certo, ao ocupar um corpo etéreo nossa alma teria ao menos uma
certa massa, algo que pudesse ser medida e quantificada, ela poderia, livre do
corpo, não ter exatamente nossa forma, seria como um gás que assume o tamanho e a
forma do container que o contêm, mas teria um peso.

Eu Fico Gorda Neste Corpo?

Em 1901 o Dr. Duncan "Om" MacDougall, médico na cidade de Haverhill, Massachusetts


EUA, fez uma experiência interessante. Ele pegou uma balança industrial capaz de
pesar até os gramas de objetos e sobre ela colocou uma cama. Nesta cama ele colocou
pacientes que estavam no estágio final de tuberculose e esperou. Assim que o
paciente morreu, a balança registrou uma perda no peso, muito pequena, mas
perceptível. MacDougall repetiu o experimento com outro paciente, e novamente, no
momento da morte, uma perda ocorreu. Ele repetiu a experiência mais quatro vezes e
em todas elas a balança acusava a perda de peso.

O doutor então anotou os resultados, a variação de peso nos seis casos, e


desenvolveu a hipótese de que a alma humana de fato tinha uma massa, e essa massa
tinha um peso médio de 21 gramas. Ele partiu então para experimentos com animais,
ratos e ovelhas, todos mostrando essa perda após a morte. Curiosamente quando
repetiu a experiência com cães a perda não surgiu o que o levou a conjecturar que
cachorros não tem almas, mesmo assim publicou o resultado de seus experimentos no
Jornal da Sociedade Americana de Pesquisas Médicas em 1907, seguido por uma
publicação no jornal Medicina Americana; não demorou muito até que ele se tornasse
notícia no New York Times.

Agora, se de fato a alma é um corpo com certa massa e ela "deixa" nosso corpo
quando morremos, onde exatamente ela está localizada? Durante eras essa pergunta
permaneceu sem resposta. Acreditava-se que a alma ocupava todo o espaço do corpo,
ou que existia no coração. Mas com o tempo começaram a se questionar. Se uma pessoa
perde um braço, ela perde parte da alma? O coração deixou de ser o receptáculo dos
sentimentos e foi rebaixado a mero músculo que bombeia o sangue. E a mente ganhou
um súbito destaque dentro do corpo. Logo o cérebro se tornou o lar de tudo o que
nos torna únicos, nossa identidade, nossa personalidade, nosso conhecimento...
nossa psiquê. Assim como o umbigo é o que nos liga a nossas mães através do cordão
umbilical, nossa alma se tornou o umbilical que nos liga, através do cérebro, à
vida.
É um Pássaro? Um Avião? Não! É o Último Filho de...

Cripton, ou criptônio é um dos elementos químicos presentes em nossa tabela


periódica desde 1898, quando foi descoberto por William Ramsay e Morris Travers em
resíduos da evaporação do ar líquido. Seu símbolo químico é Kr, possui 36 prótons,
36 elétrons e tem massa atômica igual a 83,8u. Como todo gás nobre ele possui uma
baixa reatividade e não combinam com outros elementos. Também é usado
principalmente na fabricação de lâmpadas incandescentes e fluorescentes. Outra
característica do criptônio é que foi encontrado dentro do cérebro humano.

No córtex do terceiro ventrículo de nosso cérebro, na região exatamente sob nosso


tálamo, forma detectados praticamente por acaso, átomos de criptônio, ao todo foram
mapeados 86 conjuntos biatômicos - cada um formado por dois átomos - que giravam em
órbitas comuns. Seus planos orbitais dispunham de um eixo comum que descrevia um
movimento vibratório harmônico. Em uma temperatura ambiente de 35C graus
centígrados, apresentava uma frequência e amplitude de 0,2 megaciclos. Encontrar
tal gás no cérebro não é algo absurdo, já que desde que começaram a realizar
experimentos de fecundação in vitro, muitos laboratórios encontraram o gás no
interior de óvulos, na desoxirribose, nos extremos da cadeia helicoidal do ácido
desoxirribonucleico. Assim a presença do gás não foi exatamente surpreendente, mas
quando decidiram analisar a distribuição dos elétrons nos átomos as surpresas
surgiram.

Para prosseguir vamos a uma brevíssima aula para relembrarmos como átomos
funcionam. Elétrons são pequenas partículas atômicas que orbitam ao redor do núcleo
do átomo, eles tem massa extremamente menores do que a dos prótons e tem carga
elétrica negativa. Não é possível se saber onde os elétrons se encontram com
precisão, eles ocupam posições instantâneas cuja função probabilística se rege pelo
acaso. Esse é o princípio da incerteza da física quântica, o indeterminismo.

Agora, os átomos de criptônio apresentaram um sincronismo desconcertante.

Até então, tais séries ordenadas de átomos só tinham sido detectadas nas células
germinais de homens e animais pluricelulares, embora, com o passar do tempo, a
descoberta se alargasse ao resto das células. Os átomos homólogos nas cadeias do
criptônio dos vários espermatozóides investigados apresentavam uma distribuição
semelhante e sincrônica, como se fossem relógios que funcionassem sincronizados,
ligados, aparentemente, por algum tipo de emissão até então não detectadas que
estimulassem esse comportamento. Era como se um misterioso fenômeno de ressonância
obrigasse todos os elétrons a regerem-se seguindo o mesmo padrão. A princípio
pensaram-se que era a proximidade das células em estudo que estavam provocando tal
efeito de ressonância. Mas então descobriram, com idêntica surpresa, que todos os
seres vivos se comportavam nas suas cadeias de átomos de criptônio de maneira
idêntica.

Chega a parecer que este fenômeno é universal e que o código genético encerrado no
DNA não é mais que um dos elos dessa cadeia de fatores que explicam o comportamento
da matéria animada pela vida. Em um experimento buscando observar possíveis
alterações quânticas por prováveis transferências energéticas outra descoberta foi
feita. Um dos voluntários estudados jazia numa câmara especialmente preparada da
qual tinham sido eliminados todos os resíduos do gás nobre.

Ele tinha uma série de sondas fixadas na zona parietal direita de seu crânio e
embora tivesse sido submetido a anestesia local, os seus mecanismos reflexos e
conscientes não se encontravam inibidos. Em um computador colunas com cifras e
parâmetros com as leituras era mostrada em um monitor. Cada um desses dígitos
refletia a situação probabilística de cada elétron. Quando uma cifra saltava de uma
coluna para outra registrava-se um salto quântico para outro nível energético. De
repente notaram que os dígitos mantinham uma relação sequencial, ou seja,
apresentavam-se distribuídos harmonicamente, segundo uma função periódica. Os
elétrons que deveriam se localizar nos seus níveis energéticos de um modo anárquico
pareciam ultrapassar o teórico e obrigatório caos, regulando a sua função
probabilística e rompendo assim com a

suposta lei imutável do referido indeterminismo quântico. Repetiram a experiência


em inúmeros outros voluntários, o resultado foi sempre o mesmo: os movimentos
harmônicos dos elétrons corticais coincidiam com os impulsos nervosos emitidos pelo
córtex cerebral dos voluntários, ou seja com os movimentos conscientes dos seus
braços, pés, mãos, fala, etc. Por outro lado, o mesmo não acontecia com os
movimentos chamados reflexivos ou com os impulsos emitidos pelo sistema
neurovegetativo. Um ano mais tarde verificaram uma nova descoberta: aqueles
movimentos harmônicos PRECEDIAM a conduta voluntária dos homens e mulheres sujeitos
à experiência, o avanço, em questão oscilava à volta de um milionésimo de segundo
sobre as reações neurofisiológicas do organismo.

Era como se aqueles elétrons ditassem as ordens e nosso corpo as obedeciam.

Os experimentos foram repetidos então em outros seres orgânicos unicelulares e


pluricelulares, incluindo-se vírus e compostos orgânicos auto-reproduzíveis, mas os
resultados foram negativos. Detectaram-se átomos isolados de néon e xenonônio em
muitos seres vivos e milhões de átomos de gás hélio nos sinais dotados de
estruturas nervosas superiores. Mas as suas nuvens, de crípton moviam-se segundo a
função probabilística habitual no resto dos átomos na Natureza.

Quem Enxerga Aquilo que Seus Olhos Vêem?

Os experimentos de Baraduc e MacDougall - assim como toda a filosofia metafísica


sobre a alma - apontam para algo que apesar de estar, de certa forma, preso ao
corpo físico, também pode se desprender dele. Se a evidência coletada a partir da
observação dos átomos de criptônio do cérebro aponta para o seu cérebro "saber" que
você vai fazer algo mesmo antes que você faça não pode indicar que na verdade a
alma é apenas algum efeito colateral neurológico? Apenas uma ilusão causada graças
ao próprio comportamento do cérebro?

Bem, existem inúmeros relatos de indivíduos em determinadas situações que falam de


uma percepção de consciência existindo àparte do cérebro e do corpo físico.
Geralmente este tipo de relato está associado com duas experiências distintas as
Experiências de Quase-Morte (EQM) e Experiências Fora do Corpo (EFC). A ciência
moderna não tem como explicar este tipo de fenômeno e acaba o classificando como
delírios, alucinações ou simplesmente como mentiras, o problema é que a ciência
moderna também não sabe como explicar a consciência "normal" "dentro" do cérebro.
Hoje temos uma compreensão detalhada de como funcionam nossos neurônios e nossas
transmições sinápticas relativas a funções cognitivas não relacionadas à
conciência, mas nada que diga respeito a uma consciência de nossa consciência ou
livre arbítrio ou seja lá como você queira chamar. Não sabemos nada sobre a
neurologia das percepções experienciadas, como a vermelhidão, a textura e a
fragrância de uma rosa. E é essa incapacidade de encontrar o foco de nossa
consciência que faz com que a ciência moderna simplesmente ignore qualquer tipo de
experiência que não envolva o corpo, inclusive rejeitando a possibilidade de sua
realidade.

Mas a ciência possui algumas ferramentas para medir atividades de nosso cérebro que
se correlacionam com a consciência, um exemplo é a eletroencefalografia
sincronizada de alta frequência (EEG) do padrão gama (sincronia gama). Um uso desse
processo é garantir que um paciente anestesiado não esteja apenas paralisado mas
consciente da operação, ou seja, consciente do que estão fazendo com seu corpo. São
utilizados monitores "BIS" que registram e processam a eletroencefalografia (EEG)
frontal e produzem um "index bi-espectral", também chamado de número BIS, em uma
escala entre 0 e 100. Um BIS 0 significa silêncio no EEG e um BIS 100 é o valor
esperado de um adulto completamente alerta e consciente. Os valores recomendados
que indicam um bom nível de anestesia geral está entre 40 e 60. Como era de se
esperar, recentemente, esses monitores passaram a ser usados para outras coisas
além de auxiliar anestesistas. Começaram a ligá-los a pacientes que estavam para
morrer ou naqueles que já se encontravam em um processo irreversível de morte. Os
resultados foram surpreendentes, para dizer o mínimo.

Em um estudo publicado no Jornal de Medicina Paliativa foram descritos 5


experimentos onde 7 pacientes em estado crítico tiveram seus sistemas de
prolongamento artificial de vida desligados, permitindo que morressem em paz. Por
causa do protocolo todos eles foram monitorados com um monitor cerebral BIS. Antes
do suporte ser desligado os pacientes estavam neurologicamente intactos, mas sob
sedação pesada, seus números BIS próximos de 40. Assim que foram desconectados os
números BIS dos pacientes caiam, indo para menos de 20 e se mantinham nesse nível
por vários minutos, até o momento que a morte cardíaca ocorria - marcada pela
completa ausência de pressão sanguínea ou inexistência de batimentos cardíacos.
Então após a confirmação da morte cardíaca nos sete pacientes houve uma explosão de
atividade no cérebro, fazendo o número BIS pular para 60, 80 e em alguns casos
mais. Os períodos desta atividade duravam entre um e vinte minutos e então os
números caiam para quase 0.

Em um dos pacientes a análise dos dados coletados revelou que a explosão de


atividade cerebral pós morte cardíaca, apresentava sincronia gama, o que indica o
surgimento de uma consciência. Isso fez com que os médicos levantassem a
possibilidade de que a atividade mental pós morte cardíaca possam se relacionar com
as experiências de EQM e EFC. Infelizmente como os pacientes morreram não há como
confirmar se eles tiveram consciencia de algo.

Outro estudo, publicado no Jornal de Anestesia e Analgesia, descreve três pacientes


que sofreram lesão cerebral que também tiveram o apoio médico removido e suportes
artificiais de vida desligados, suas famílias autorizaram a doação de seus órgãos e
nesses casos o suporte é removido para que os pacientes morram de morte natural e
então tenham os órgãos removidos. Seus cérebros estavam irremediavelmente
danificados, mas não estavam mortos. Antes de desligarem os aparelhos, os números
BIS dos pacientes estavam abaixo dos 40, um deles próximo de 0. Após a retirada dos
equipamentos, quando estavam próximos do momento da morte cardíaca o número BIS
disparou para aproximadamente 80, nos três casos, e permaneceram lá por um tempo
que variou de 30 a 90 segundos e então abruptamente retornaram para quase 0, quando
foram levados para a remoção dos órgãos.

Que conclusões podemos tirar dessas experiências? Não há como afirmar que esse pico
de consciência dentro do cérebro tem algo a ver com as EQM e EFC, nem que isso
indique que a alma deixou o corpo. Nem mesmo podemos afirmar com que frequência
isso ocorre, apesar de ter ocorrido em dez dos dez casos estudados. Mas podemos
tentar entender o que dispara essa atividade no cérebro. Como essa atividade de
fim-de-vida pode ocorrer em um tecido cerebral que está metabolicamente morto, um
tecido que já não recebe mais sangue ou oxigênio. Os números BIS, que indicam o
nível de consciência estão próximod do 0 e então uma explosão de atividade bi-
frontal cerebral coerente e sincronizada acontece, aparentemente com sincronia gama
- um indicador de auto-consciência (perceber conscientemente algo, não apenas estar
"desperto"). Os números chegam próximos do 80 ou mais e então, abruptamente, caem
para quase 0.
Foi proposto que a atividade de fim da vida cerebral é não funcional, generalizada
e despolarizada. O primeiro estudo sugere que o excesso de potássio extra-celular
causam o último pico de espasmos dos neurônios através do cérebro. Mas isso não
explica a coerência global, a sincronia e a organização. Também foi sugerido que a
indução com cálcio de morte dos neurônios poderia causar a disrupção dos micro-
túbulos cistoesqueletais dentro dos neurônios e isso seria um dos fatores que
causariam o fenômeno. Mas novamente, como explicar a coerência da sincronia
bifrontal?

Talvez essa atividade de morte cerebral tenha relação com as EQM e EFC conscientes,
uma consciência que habita o nosso corpo mas não está presa a ele, mas nos casos
documentados a parte "quase", de quase morte, foi removida, os pacientes não foram
ressuscitados. Assim as descrições de flutuar para longe do corpo, de observar tudo
ao redor, túneis de luz, paz interior, presença de entes queridos mortos seriam
experiências reais da consciência, que neste caso não puderam ser recontadas.
Existem os céticos - sempre existirão - que sugeram que essas experiências são
alucinações ou ilusões, manifestação de um cérebro sofrendo isquemia ou hipoxia, o
problema é que pacientes isquêmicos ou hipóxicos, se conscientes, se encontram em
um estado de confusão, de agito e não conseguem criar memórias.

Algo que deve ser considerado é porque esse tipo de atividade ocorre quando o corpo
está morto e o cérebro pára de funcionar. Uma possibilidade é que a consciência
humana seja um processo de baixa energia quântica e neste caso uma dinâmica
molecular muito baixa pode limitar uma descoerência térmica criando assim uma
janela para um aumento de estados quânticos coerentes e uma explosão de consciência
aprimorada. E uma base quântica para a nossa consciência cria a possibilidade
científica de um pós vida, de uma alma real abandonando o corpo e persistindo como
emaranhados de flutuações na geometria do espaço-tempo quântico.

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