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BACHARELADO EM DIREITO
NOME DO ALUNO
TÍTULO DO TRABALHO
TERESINA-PI
ANO
2
NOME DO ALUNO
TÍTULO DO TRABALHO
TERESINA-PI
ANO
1
RESUMO
Este artigo trabalha o fenômeno do ativismo judicial a partir de vertentes antagônicas, a fim de
demonstrar as implicações da atuação intervencionista do Poder Judiciário em face do sistema
democrático. Nesse sentido, o objetivo geral buscou analisar as implicações da nova forma de
atuação do Poder Judiciário, denominado de ativismo judicial, em face da democracia
representativa, a partir dos principais pontos de tensão e críticas surgidas em seu embate. E
como objetivos específicos: investigar na doutrina as causas determinantes da mudança de perfil
do Poder Judiciário nos moldes concebidos atualmente; analisar se a atuação do Poder
Judiciário, especificamente do STF, no molde mais interferente, denominado de ativismo
judicial, traria conflitos ao sistema democrático ou corresponderia a uma nova forma de se
conceber a atuação do Estado; identificar, na jurisprudência do STF, a ocorrência do fenômeno
e suas repercussões para o sistema representativo democrático. Trata-se de uma pesquisa
exploratória e de campo, com base nas contribuições de Ramos (2015), Barroso (2012),
Teixeira (2012) e Streck (2015). Os dados foram coletados por meio de questionário com
perguntas abertas, a partir do método dialético e da abordagem qualitativa, realizado com três
juristas. Ficou constatado, como resultados, que o ativismo judicial traz tensão ao sistema
democrático, sobretudo em seu viés representativo, pois quando há a interferência descabida
em questões afetas a outros organismos de poder, ao se estabelecer como legislador positivo,
estaria atuando em desacordo com a própria Constituição e, portanto, contra o Direito.
ABSTRACT
This article deals with judicial activism phenomenon as from the opposite sides, in order to
demonstrate, according to this approach, the implications of the of the Judiciary’s
1
Graduanda em Direito pela Faculdade Maurício de Nassau, Teresina -PI. E-mail:
estefaniapatricia1211@gmail.com
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Doutorando em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Mestre em Direito pela
Universidade Católica de Brasília – UCB. Especialista em Direito Constitucional UFPI. Bacharel em Direito
pela Universidade Federal do Piauí- UFPI. Professor pesquisador e Coordenador do Núcleo de Estudo e
Pesquisa em Política, Estado e Direito Constitucional – NEPEEDIC. E-mail: marcelolpl1@hotmail.com
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interventionism in the face of the democratic system. The general objective that guided the
central issue of this study was to analyze the implications of the new way of acting of the
Judiciary, called judicial activism, in the face of representative democracy, based on the main
points of tension and criticism that emerged in its conflict. Therefore, the specific objectives
are: to identify, through the doctrinal study, the determinant causes of the change of profile of
the Judiciary Power in the molds currently conceived; to analyze whether the performance of
the Judiciary, specifically the Supreme Court, in the most interfering mold, called judicial
activism, would bring conflicts to the democratic system or correspond to a new way of
conceiving the State's performance; to identify in the jurisprudence of brazilian Federal
Supreme Court (STF) the occurrence of the phenomenon and its repercussions for the
representative democratic system. This is an exploratory research, which also uses the technical
bibliographical procedure, based mainly on the theoretical contributions of Ramos (2015),
Barroso (2012), Teixeira (2012) and Streck (2015), in addition, it was adopted a research using
the questionnaire with open questions, using the dialectical method and the qualitative approach
carried out with three jurists, being a magistrate and two teachers, all militants in Teresina, PI,
Brazil. As results it was observed that judicial activism is a phenomenon that brings tension to
the democratic system, especially in its representative bias, because when there is unreasonable
interference in issues affecting other bodies of power, starting to establish itself as a positive
legislator or even invalidating legifi- cant work without subordination to clear parameters of
performance, the Judiciary would be acting in disagreement with the Constitution itself and,
therefore, against the Law itself.
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem por objeto o tema Ativismo Judicial: uma (des)construção
teórica à problemática posta entre posições antagônicas, em que foram considerados, para fins
de desenvolvimento do estudo, o fenômeno do ativismo judicial como instrumento de
intervenção do Poder Judiciário, em especial, pelo STF, no desempenho do papel de
conformação do Estado Democrático, bem como sua relação e limites estabelecidos pelo
sistema representativo regulamentado pela Constituição Federal de 1988.
Com enfoque no ativismo judicial e na democracia, o trabalho se desenvolveu por
meio de um estudo a diferentes concepções acerca do objeto em análise, com o fim de identificar
se a atuação do STF em seu viés mais intervencionista, para fins do estudo, denominado de
ativista, traria conflitos à democracia ou apenas corresponderia a uma nova maneira de conceber
o sistema democrático. Para tanto, partiu-se do seguinte problema: a nova configuração do
Poder Judiciário, sobretudo sob o enfoque do STF, encarada em seu viés mais intervencionista,
denominado de ativismo judicial, traria tensão aos postulados democráticos sob o qual se erigiu
a democracia representativa, ou corresponderia a uma nova tônica estruturante do Estado,
necessária à efetivação dos preceitos constitucionais?
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mera crítica, fomentando o debate ao que parece ser uma nova forma de se compreender a
configuração do jogo democrático.
Quanto aos aspectos metodológicos, o método utilizado na pesquisa foi o dialético
e a abordagem qualitativa, cujo objeto de natureza exploratória permitiu à pesquisadora um
contato mais próximo com o objeto do estudo. Para o desenvolvimento do conteúdo, foi
utilizada, como procedimento técnico, a pesquisa bibliográfica e de campo, esta última
realizada com três juristas.
Como fundamentação teórica, dialogamos com os seguintes autores: Ramos (2015),
ao abordar sobre o desrespeito aos limites normativos substanciais da função jurisdicional;
Barroso (2012), ao ressaltar acerca da expansão da jurisdição constitucional, do
desenvolvimento da nova dogmática da interpretação constitucional e da superação do espaço
que antes dividiam o direito da moral; Teixeira (2012), ao alertar sobre o ativismo judicial no
que se refere aos resultados nocivos que este pode causar à democracia; e Streck (2015), ao
destacar que o regramento do tema pelo STF vai de encontro aos limites democráticos e,
portanto, contra a própria Constituição; além de contar com vasta análise a artigos e periódicos
relacionados ao tema.
Esta pesquisa desenvolveu nas seções seguintes, em primeiro momento, a análise
do processo de desenvolvimento do Poder Judiciário, essencial para a compreensão do contexto
em que se inseriu o ativismo judicial, em que foram abordados os aspectos básicos que
envolvem o tema, identificando sua origem histórica e estabelecendo seu conceito e
características. Na sequência, foram apresentadas as mais variadas formas de compreensão do
fenômeno, com a finalidade de atribuir, ao debate, arrimo teórico e, ao final, discorreu sobre
seus principais desdobramentos, dentre os quais se destaca a confrontação do ativismo judicial
em relação ao sistema democrático.
Mas foi com o historiador Arthur Schlesinger Jr., em uma matéria da revista Fortune
intitulada The Supreme Court: 1947, que o termo judicial actvism entrou no léxico
não apenas jurídico, mas sobretudo político e popular. [...] Um aspecto fundamental
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De acordo com Koerner (2013), o fenômeno do ativismo judicial pode ser explicado
a partir de processos globais, aos quais teriam contribuído para alteração da própria estrutura
social do Estado. Dentre os fenômenos apontados pelo autor, destacam-se: as transformações
na sociedade industrial, a crise do Estado de direito liberal com uma Constituição garantista e
a passagem, pós-Segunda Guerra Mundial, ao Estado Democrático de Direito, intervencionista
e com uma Constituição dirigente, além de contar com processos mais recentes tais como a
globalização e o neoliberalismo (KOERNER, 2013, p. 71).
No Brasil, o fenômeno se destaca após a Constituição Federal de 1988, nesse
sentido destaca Rocha e Barbosa:
positivo, bem como limites subjacentes à própria natureza da função judicial, os quais o
ativismo acaba por fazer eclodir” (FERREIRA, 2014, p. 69).
Dentro de um quadro que aponta inexoravelmente a constatação da atividade
ativista desempenhada pelo Poder Judiciário, há que se destacar que o tema não é pacífico no
cenário brasileiro, ao revés da imprecisão quanto à carga valorativa conferida a expressão,
ensejando, no seio do debate jurídico, polos distintos de opiniões, entre aqueles que advogam
ser o ativismo judicial um fenômeno deletério à democracia, subitamente por afrontar o
princípio da separação dos poderes e adentrar na seara latente aos organismos políticos, e
aqueles que enxergam, na atitude afirmativa do Judiciário, resposta à inércia legislativa e ao
uso excessivo do poder entre as outras instâncias de atuação de Governo.
Para Rocha e Barbosa (2015), existem três posições no Brasil sobre o ativismo
judicial. Conforme a primeira vertente, cuja linha de defesa é encampada no Brasil, entre outros,
por doutrinadores na lavra de Ramos (2015) e Streck (2014), o ativismo judicial vulnera o
regime democrático por múltiplos fatores. Todavia adverte o primeiro autor:
Para essa linha de doutrinadores, consoante o molde delineado por Ramos (2015),
as críticas ao ativismo judicial não se justificam na necessidade de um apego dogmático à
formulação da separação dos poderes tal como concebida pela doutrina setencista, ou mesmo
na negação de qualquer forma criativa a ser utilizada pelo intérprete no processo de
amadurecimento das normas constitucionais, mas, sim, ao manejo desmedido e desempregado
de parâmetros claros, da matéria-prima posta à sua disposição, constituindo em desvio de
competência e extravasamento dos parâmetros constitucionalmente definidos a atividade
jurisdicional.
O ativismo na concepção defendida por esta gama de estudiosos encontra-se
claramente exemplificado no julgamento da fidelidade partidária. Por nove votos a dois, o STF
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se pronunciou declarando que a vaga no Congresso Nacional pertence ao Partido Político. Essa
decisão inaugurou uma nova hipótese de perda de mandato parlamentar, não obstante as já
traçadas expressamente na Constituição Federal, que já regulamentava de forma objetiva a
matéria.
As críticas subjacentes ao enfrentamento deste tema, como também de tantos outros
levados à apreciação do STF, sustentam que a Suprema Corte, ao inaugurar uma proibição não
contemplada na lei, ou em qualquer instrumento normativo, estaria ultrapassando os limites de
sua atuação, passando, assim, a se efetivar como verdadeiro legislador positivo, ou até mesmo
como constituinte concorrente.
A visão encampada pelos autores já mencionados encontra seu contraponto
naqueles que propugnam pela superação do paradigma do Direito Constitucional moderno pelo
qual terminou por culminar em uma mudança na própria base do Direito Constitucional, tanto
sob o aspecto da hermenêutica jurídica como também do próprio sistema institucional, o que
justificaria as posturas daqueles que a crítica denomina de ativistas judiciais.
De certa maneira, essa linha de pensamento encontra guarida nas teorias
neoconstitucionais, mesmo que para muitos de seus defensores a expressão não seja utilizada
como argumento a sua tese; assim, “[...] o reconhecimento de força normativa à Constituição;
a expansão da jurisdição constitucional; o desenvolvimento de uma nova dogmática da
interpretação constitucional” e a superação do espaço que antes dividiam o direito da moral,
contribuíram para a mudança da estrutura do próprio Direito Constitucional (BARROSO, 2007,
p. 134).
Com essa mudança de perspectiva, foi delegado ao Poder Judiciário papel efetivo
na promoção dos direitos herdados de uma geração de direitos fundamentais, o qual, na
conjuntura de valorização dos princípios como normas jurídicas, assumiu papel de principal
tradutor de seus axiomas. Dessa forma:
Segundo a terceira vertente, que invoca a necessidade do ativismo judicial para fins
de efetivação de direitos fundamentais, a atividade proativa do Poder Judiciário estaria
justificada nos desdobramentos do poder-dever dos juízes de não só interpretarem a
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Constituição como também de torná-la efetiva. Essa atuação mais ativa passa a ser exigida em
maior relevo diante da inércia dos outros dois poderes, sobretudo da omissão na apreciação de
determinadas matérias pelo Poder Legislativo.
A apontada fuga do Poder Legiferante na deliberação de questões que lhe cabem
pelo recorte constitucional, seja em decorrência de sua inércia e muitas vezes falta de vontade
política, terminou por culminar no alavancamento do Poder Judiciário a ponto de destaque na
balança dos poderes. É nesse aspecto que se observa, portanto, o principal fator de
desencadeamento do ativismo judicial.
É com arrimo nesses argumentos que questões como pesquisas de célula-tronco,
casamento homoafetivo, entre outros, são costumeiramente levados à apreciação do STF. Para
aqueles que propugnam por uma intervenção do Judiciário, justificam sob o argumento de
tratarem de direitos constitucionalmente garantidos, cuja emergencialidade de concretização
exige adoção de medidas emergenciais, mesmo que, para tanto, o órgão julgador tenha que se
afastar do que estabelece expressamente a própria Constituição, como no caso da união civil
homoafetiva, ou se fundar em justificativas desprovidas de qualquer previsão Constitucional ou
infraconstitucional, como no caso das pesquisas com células-tronco.
Rocha e Barbosa (2015) identificam um ponto comum nas três vertentes que se
invocam no debate do ativismo judicial, segundo os autores, para todas elas, a postura ativista
compromete o ideal de segurança jurídica a que deve se pautar todas as decisões judiciais.
É importante ressaltar, ainda, que mesmo para os defensores de uma visão do
fenômeno sob dois aspectos, positivo e negativo, o ativismo judicial pode representar uma
ameaça ao sistema jurídico. Para seus defensores, o ativismo judicial, mesmo assumindo por
vezes uma conotação positiva, deve ser utilizado não como regra, mas apenas como via de
exceção.
Desse modo, se esta divergência no debate se mostra presente no contexto das
relações judiciárias, cabe saber se este caminho que tem tomado o Poder Judiciário na tomada
de decisões, que muitas vezes ultrapassam seu campo de atuação, mostra-se deletério aos
cânones da democracia, pilar fundamental do Estado, e mesmo ao próprio desenvolvimento da
atividade jurisdicional.
todo o Poder, exerce-o diretamente ou por meio de seus representantes eleitos por meio do voto
popular.
Com vistas a garantir a plena participação da sociedade na consecução dos fins
maiores estabelecidos pela Constituição, a própria Lei Maior garante, por meio do processo
democrático, a observância de procedimentos que garantam a proteção à democracia
procedimentalista, de forma a facilitar as vias de acesso às discussões de cunho político a
participação popular.
Fundamento basilar do Estado Democrático de Direito, o princípio da separação
dos poderes estabelece o dever de harmonia entre as três funções de Estado. Nesse sentido, a
interferência de um órgão sobre outro somente é permitido para assegurar direitos
fundamentais, coibindo abusos e violações a própria Constituição. Quando há o extravasamento
dessas fronteiras demarcatórias de atuação do Poder exercido pelo Judiciário invadindo as
funções de outros organismos do Estado, observa-se caracterizado o ativismo judicial.
Desse modo, o ponto nevrálgico sob o qual se dividem os debates acerca da relação
entre ativismo e democracia identificam, em um possível extravasamento dos limites
subjacentes, a atuação do poder judiciário “[...] quando as Cortes Constitucionais assumem a
tarefa de interpretação e propriamente da construção do significado, do adensamento, dos
postulados de conteúdo aberto, nos quais repousam as questões fundamentais da sociedade.”
(FERREIRA, 2014, p. 117) e no afastamento da população a questões cujo conteúdo exige
participação popular por meio de processo político, o principal ponto de tensão existente entre
ativismo e democracia, vez que o elevado grau de abstratividade dos preceitos constitucionais
termina por deslocar ao espaço restrito do Poder Judiciário, em se comparando ao alcance do
sufrágio, a maturação de questões fundamentais de toda a sociedade.
Em que pese os argumentos que sustentam a legitimidade do Poder Judiciário, na
tratativa de questões das mais variadas conotações, seja pela amplitude de seus espaços, por
vias de acesso a canais de televisão, audiências públicas, amcus curie, ou mesmo pela
capacidade institucional da Corte em razão da racionalidade jurídica e do elevado grau de
dialética que deve acompanhar seu desempenho, o que se questiona é o campo de abrangência
no tocante ao alcance popular na abarricada por tomada de decisões, que, muitas vezes, são
justificadas através de uma norma com elevado grau de abstração, pautado em valores e
moralismos jurídicos cujo modo de enfrentamento, muitas vezes, não alcança os níveis de
entendimento popular. Dessa maneira:
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ensinamentos de Ramos (2015), para quem a expressão ativismo judicial possui carga
valorativa negativa por associar-se à ideia de uso desenfreado da competência que estabelece a
Constituição Federal ao exercício da Jurisdição Constitucional.
Da mesma forma, para grande maioria dos estudiosos elencados no presente estudo,
com exceção de Lewandowski (2009), cujo periódico intitulado: O Protagonismo do Poder
Judiciário não trabalha a ideia de ativismo, pois não o reconhece no cenário brasileiro, há
constatado no sistema jurídico pátrio a presença do ativismo judicial como fenômeno existente
no processo de interferência do Poder Judiciário em campos correlatos à atuação de outros
poderes, mesmo que, para cada um deles, ele se manifeste ou se caracterize de forma particular.
Ressalta-se ainda a distinção conceitual a qual se propôs o Professor, sendo o único
dos entrevistados a caminhar por esse critério, definindo, em linha semelhante a Barroso (2012),
a distinção entre ativismo judicial e judicialização, conceituando a judicialização como instituto
normal ao ideário jurídico brasileiro e o ativismo judicial como um ato do Poder Judiciário que
escolhe interferir, e, conforme estabelece, interfere de maneira desmedida em campos cuja
participação foge ao que lhe cabe pelo processo democrático.
Verificados a existência do ativismo judicial, suas definições e as situações em que
se estabelece, buscou-se dos juristas respostas quanto à verificação de aspectos positivos e
negativos atribuíveis ao fenômeno. Confrontados acerca disso, os entrevistados responderam:
JUIZ: Vislumbro que o ativismo judicial vulnera o regime democrático quando atende
a demandas que compõem matéria de deliberação legislativa (como, “verbi gratia”, a
união civil homoafetiva equiparada ao casamento, sem edição de Emenda
Constitucional).
PROFESSOR: O ativismo judicial oferece riscos, todavia podem ser suplantados pela
própria atividade do legislador, quando edita emenda constitucional.
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Diante das respostas dos juristas, verifica-se que o Juiz e o Professor coadunam
com o mesmo entendimento, pois ambos enxergam no déficit do legislativo fator substancial
ao surgimento e desenvolvimento do ativismo judicial, conforme já trabalhado em outro
momento neste estudo. A Professora, por sua vez, entende estar compreendido, na perquirição
à justiça, fator determinante ao surgimento do fenômeno estudado.
A respeito dessa constatação, verifica-se, nos apontamentos de Barroso (2015),
linha de pensamento similar, já que o autor acredita que o processo de redemocratização,
verificado com a promulgação da Constituição de 1988, levou à sociedade vasto conhecimento
dos direitos que a tutelavam, culminando no aumento da procura ao Judiciário com demandas
objetivando a efetivação desses direitos.
O debate sobre o ativismo judicial, antes de qualquer coisa, deve partir
necessariamente do questionamento acerca do papel do Poder Judiciário na conformação do
Estado Democrático. Sob essa perspectiva, os juristas foram indagados, quanto ao seu critério,
qual seria o papel de uma Corte Constitucional na interpretação da Constituição e sua relação
com os demais poderes? E se obteve como respostas:
JUIZ: Sigo Pontes de Miranda. A Constituição deve ser interpretada e aplicada como
foi elaborada, e não como deveria ter sido elaborada. Cabe a uma Corte
Constitucional, como de resto a todo órgão Judiciário aplicar o direito “de lege lata”
e não “de lege ferenda”. O papel de uma Corte Constitucional na interpretação da
norma ápice deve adstringir-se a cotejar a legislação infraconstitucional com os
princípios e preceitos inseridos pelo legislador constituinte na ordem jurídica, sem
desbordar para substituir o parlamento nem a administração pública.
Destarte, ser este o ponto crucial sob o qual se considera o tema estudado, os três
juristas, quando confrontados acerca da temática, responderam de maneira similar, ressaltando-
se as particularidades, o que pode ser resumido em poucas palavras: deve o Poder Judiciário,
em sua representação maior, qual seja, o STF, agir em deferência à Constituição Federal,
assegurando sua Supremacia e os valores consagrados no corpo de seu texto.
Ademais, porque a Constituição, na esteia do que afirma Streck (2009), é um ato de
pré-compromisso firmado por toda a sociedade como garantia à limitação do poder e
observância dos direitos e garantias fundamentais. Nesse sentido, violar seus preceitos, mesmo
que sob a justificativa de uma alteração apenas formal de seu texto, sem, todavia, encontrar
sustentabilidade na Carta Maior, implicaria transgredir os próprios limites democráticos.
Sob essa linha, a interpretação, para além do que a lei paradigma permite, resulta
na ruptura do sistema e não em mutação constitucional, e está aí o arrimo em que repousam
parcela dos estudiosos sobre ativismo para justificar a insustentabilidade de manutenção de
decisões sob este signo.
Nesse sentido, Nery Júnior (2009, p. 95), informa:
Diante das constatações dos juristas, observa-se que cada qual ao seu modo atribuiu,
a partir de aspectos distintos, mecanismos de restrição ao ativismo judicial. O Juiz se valeu da
imposição de limites de competência mais rigorosos ao Poder Judiciário, como forma de
combate ao fenômeno em estudo.
O Professor, por sua vez, identificou na própria atuação do Legislativo,
especificamente na edição de leis ou emendas constitucionais, o meio pelo qual se lançaria
freios a atuação exacerbada do Poder Judiciário, vez que, quando da edição normativa, o
Legislativo imporia sua própria solução à matéria antes regulamentada pelo Judiciário. Já a
Professora considera ser o próprio Poder Judiciário o responsável para combater a prática do
ativismo.
Ressalta-se que, a respeito dos mecanismos de combate ao ativismo judicial, a
doutrina especializada trabalha como primordial à reforma política. Conforme constatado no
presente trabalho e até mesmo com as respostas dos juristas, sobretudo com os argumentos
utilizados pelo Professor, há necessidade de se olhar para além do presente, pois o ativismo
judicial é um problema que se alimenta sobretudo da crise de representatividade que aflige o
País, somado a característica da Constituição Federal de 1988 que, por ter sido projetada com
largo alcance principiológico e imprecisão de seus preceitos, além de gozar de um sistema de
controle de constitucionalidade bastante instrumentalizado, permite ao STF interferir em quase
todas as relações deduzidas e dispostas a seu enfrentamento, o que, conforme se retira da
entrevista com o Professor, não está errado, quando se faz diante dos limites do texto
Constitucional, pois se estaria diante do fenômeno da Judicialização da Política, essencial à
democracia, pois é utilizado para concretizar ações ou suplantar omissões deixadas pelos outros
poderes.
Sendo o órgão de cúpula do Poder Judiciário, o STF, esse como intérprete final da
Constituição e guardião da Lei Maior, muitas vezes é instado a se manifestar em questões da
mais variada monta, o que demonstra quão vasto pode ser seu campo de interferência. A respeito
da constatação e atribuição ao Supremo de práticas ativistas, perguntou-se aos juristas: o
ativismo judicial, no atual contexto em que está inserido, pode ser considerado um instituto
jurídico ou um fenômeno passageiro?
JUIZ: Fenômeno passageiro, porquanto desatende à concepção republicana de
Montesquieu e ao regime democrático.
Há uma semelhança nas respostas dos entrevistados, pois todos concordam que o
ativismo judicial é apenas fenômeno e não instituto jurídico. Todavia, denota-se da comparação
entre as constatações dos juristas que há divergência quanto à durabilidade do fenômeno, pois
o Juiz e o Professor o identificam como fenômeno passageiro, ao passo que a Professora o
considera de durabilidade indeterminada.
Constata-se, portanto, do enfrentamento do tema que, embora haja juristas que
identifiquem o ativismo judicial conforme uma linha específica de raciocínio, seja para
classificá-lo como desdobramento positivo ou negativo da atividade julgadora. Há para outros,
como na esteia de Barroso (2015) e Teixeira (2012), a verificação do fenômeno a partir de uma
visão amplamente considerada, que pode representar tanto benefícios quanto malefícios, a
depender de como utilizado.
Ressalta-se, todavia, que, mesmo que para estes estudiosos o ativismo judicial possa
representar uma atitude benéfica, por vezes deve ser utilizado de forma comedida por não
constituir o caminho mais indicado para a solução de determinados assuntos, já que, em que
pese considerarem o fenômeno como Teixeira (2012) denomina de Patologia Constitucional
necessária, em razão de sua aparente necessidade, deve ser utilizado conforme adverte o autor
em vias de exceção.
E, conforme essa constatação denota-se o porquê do ativismo judicial não ser
considerado instituto jurídico, existindo, portanto, segundo se interpreta dos ensinamentos de
Barroso (2015) e Teixeira (2012), apenas enquanto houver espaços vazios pendentes de
regulamentação ou controle deixados pelos organismos políticos do Estado.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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