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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DE FONTES DE


RUÍDO EM UM REFRIGERADOR

Thesis · October 2008


DOI: 10.13140/RG.2.2.24911.28324

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Renato S Thiago de Carvalho


Federal University of Santa Catarina
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA

MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DE FONTES


DE RUÍDO EM UM REFRIGERADOR

Dissertação submetida à

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

para a obtenção do grau de

MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA

RENATO S. THIAGO DE CARVALHO

Florianópolis, outubro de 2008.


ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA

Métodos de Identificação de Fontes


de Ruído em um Refrigerador

RENATO S. THIAGO DE CARVALHO

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de


MESTRE EM ENGENHARIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO VIBRAÇÕES E ACÚSTICA


sendo aprovada em sua forma final.

_________________________________
Prof. Arcanjo Lenzi, Ph.D. - Orientador

_______________________________________
Prof. Eduardo Alberto Fancello, D. Sc. - Coordenador

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Roberto Jordan, Dr. Eng. - Presidente

______________________________________
Prof. Fábio Fiates, Dr. Eng. - UNISUL

______________________________________
Jorge Cláudio da Silva Pinto, Dr. Eng. - INMETRO
iii

Aos meus pais,


Sônia Maria S. Thiago de Carvalho (em memória) e
Carlos Tavares de Carvalho.

À minha esposa,
Luci.

Aos meus irmãos,


Carlos, Jacqueline, Marcos e Ivan.

dedico este trabalho, pois, sem os valiosos ensinamentos, suporte educacional, moral e forte
amor, carinho e amizade por eles dedicados a mim, o caminho percorrido até hoje teria sido
muito mais difícil.

“Não espere por uma crise para descobrir


o que é importante em sua vida.” (Platão)
iv

AGRADECIMENTOS

Aos colegas do LVA - Laboratório de Vibrações e Acústica que muito


contribuíram para a realização deste trabalho (Eric, Marcelo, Érico, Mikio, Joseval,
Mauricy e outros).

Ao bolsistas de iniciação científica Cristiano e Bruno pela grande ajuda nos


experimentos iniciais.

Ao colega laboratorista Parú pelas suas boas idéias, excelente humor e ajuda
na construção dos protótipos.

Ao professor Arcanjo Lenzi pela orientação para esta dissertação e aos


demais professores do Laboratório de Vibrações e Acústica que de alguma forma
contribuíram com este trabalho.

À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior - CAPES e


também a empresa Embraco, que forneceram a infra-estrutura necessária para a
realização deste trabalho.
v

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .........................................................................................................1

1.1 Contexto Mundial ........................................................................................................................1


1.2 Hipóteses Preliminares da Pesquisa .............................................................................................2
1.3 Objetivo Geral .............................................................................................................................2
1.4 Principais Limitações da Pesquisa ...............................................................................................3

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................4

2.1 Funcionamento de um Refrigerador.............................................................................................4


2.2 Fontes de Ruído ...........................................................................................................................6
2.3 Espectro Típico de Ruído.............................................................................................................7
2.4 Funcionamento de um Compressor..............................................................................................9
2.5 Fontes Internas de Ruído............................................................................................................10
2.6 Espectro Típico de Ruído...........................................................................................................11
2.7 Conceitos Fundamentais ............................................................................................................13
2.7.1 Equação da Onda ................................................................................................................13
2.7.2 Intensidade Sonora..............................................................................................................14
2.7.3 Potência Sonora ..................................................................................................................15
2.8 Métodos de Medição de Potência Sonora ..................................................................................15
2.9 Câmaras Reverberantes..............................................................................................................16
2.9.1 Determinação da Potência Sonora ......................................................................................18
2.9.2 Método Direto ....................................................................................................................18
2.9.3 Método da Comparação ......................................................................................................22
2.10 Câmaras Anecóica e Semi-Anecóica .......................................................................................22
2.11 Campo Acústico no Housing ...................................................................................................24
2.11.1 Método Numérico de Elementos de Contorno ..................................................................27
2.12 Isolamento Vibracional ............................................................................................................28
2.12.1 Isoladores tipo Mola e de Borracha ..................................................................................28
2.12.2 Isolamento de Corpo Rígido .............................................................................................29
2.13 Impedância da Base e Compressor...........................................................................................30
2.14 Fluxo de Energia entre componentes .......................................................................................32
2.15 Modelo de Ondas de Flexão e Longitudinais em Elementos tipo Tubo-Vigas .........................32

CAPÍTULO 3 - PREPARAÇÃO DA CÂMARA REVERBERANTE PARA MEDIÇÃO DE


POTÊNCIA SONORA.......................................................................................................................35
vi

3.1 Etapas Gerais .............................................................................................................................35


3.2 Conceitos sobre Painéis de Absorção.........................................................................................36
3.3 Painéis Utilizados ......................................................................................................................39

CAPÍTULO 4 - PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DAS PRINCIPAIS


FONTES DE RUÍDO .........................................................................................................................42

4.1 Atenuação ou isolamento dos caminhos de transmissão ............................................................42


4.2 Atenuação da radiação direta do compressor .............................................................................43
4.2.1 Isolamento das vibrações do compressor transmitidas através da placa-base .....................45
4.2.2 Atenuação do ruído radiado pelo Gabinete .........................................................................47
4.2.3 Atenuação da radiação do Gabinete e vibração da Placa-base ............................................49
4.3 Radiação sonora do Refrigerador utilizando Intensimetria Acústica..........................................52

CAPÍTULO 5 - ANÁLISE NUMÉRICA DA RADIAÇÃO SONORA...........................................58

5.1 Análise Modal Estrutural: Malha da Carcaça do Compressor ....................................................58


5.2 Medições de Aceleração em Pontos da Carcaça do Compressor................................................59
5.3 Análise em Elementos de Contorno: Malha do Conjunto Compressor e Gabinete.....................61

CAPÍTULO 6 - IDENTIFICAÇÃO DAS FONTES PELO MÉTODO TPA.................................67

6.1 Conceitos fundamentais .............................................................................................................67


6.2 Quantificação da Energia Vibro-Acústica através do TPA.........................................................76
6.2.1 Experimento de validação do método .................................................................................76
6.2.2 Resultados ..........................................................................................................................78

CAPÍTULO 7 - APLICAÇÃO DO MÉTODO TPA OPERACIONAL AO REFRIGERADOR E


ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................................................85

CAPÍTULO 8 - CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ......................................................92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................95

APÊNDICE A - TRECHO PRINCIPAL DO ALGORITMO TPA-SVD.......................................98


vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Refrigerador típico (Fonte: Embraco S/A)..........................................................................5

Figura 2.2 - Espectro de ruído de um refrigerador típico, avaliado em bandas de terço de oitava
(Cortesia: Multibrás). .............................................................................................................................7

Figura 2.3 - Caminhos de transmissão vibro-acústica entre Compressor e Refrigerador........................8

Figura 2.4 - Corte transversal de um compressor alternativo (Fonte: Embraco).....................................9

Figura 2.5 - Espectro de Potência Sonora típico de um compressor e um refrigerador, avaliado em


bandas de terço de oitava (Fontes: Embraco S/A e Multibrás). ............................................................11

Figura 2.6 - Isolamento experimental dos caminhos no compressor (LENZI [5])................................12

Figura 2.7 - Ilustração das paredes de uma câmara reverberante..........................................................17

Figura 2.8 - Desenho esquemático do refrigerador em aplicação. ........................................................25

Figura 2.9 - Esquema do compressor com seis graus de liberdade.......................................................29

Figura 2.10 - Representação esquemática das impedâncias num compressor.......................................30

Figura 2.11 - Carcaça, placa-base e isoladores de um compressor. ......................................................31

Figura 2.12 - Representação de uma viga curva (LENZI [5]). .............................................................33

Figura 2.13 - Representação esquemática dos esforços atuantes no tubo. ............................................34

Figura 3.1 - Painel de Membrana. ........................................................................................................36

Figura 3.2 - Painéis de absorção sonora fixados nas paredes da câmara reverberante do Laboratório de
Vibrações e Acústica............................................................................................................................40

Figura 3.3 - Tempos de Reverberação..................................................................................................41

Figura 4.1 - Montagem para atenuação da radiação direta do compressor. ..........................................43

Figura 4.2 - Nível de Potência Sonora antes e após atenuação da radiação do compressor utilizando a
placa metálica.......................................................................................................................................44

Figura 4.3 - Placa-base desconectada do gabinete................................................................................45

Figura 4.4 - Nível de Potência Sonora antes e após o experimento com a placa-base desconectada do
gabinete................................................................................................................................................46

Figura 4.5 - Montagem utilizando caixa de madeira no entorno do gabinete para atenuação de sua
radiação................................................................................................................................................47

Figura 4.6 - Região Traseira da Caixa e Refrigerador. .........................................................................48


viii

Figura 4.7 - Nível de Potência Sonora antes e após a atenuação da radiação do gabinete. ...................48

Figura 4.8 - Nível de Potência Sonora antes e após o isolamento do gabinete e placa-base
simultaneamente...................................................................................................................................50

Figura 4.9 - Comparação entre as diferentes montagens. .....................................................................51

Figura 4.10 - Grade construída com tubos metálicos e nylon necessários na definição dos pontos de
medição discreta de intensidade sonora................................................................................................52

Figura 4.11 - Vista superior da Sonda de Intensidade e seus acessórios...............................................53

Figura 4.12 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 160 Hz
(Fonte: LMS Pimento®). .....................................................................................................................54

Figura 4.13 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 200 Hz
(Fonte: LMS Pimento®). .....................................................................................................................54

Figura 4.14 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 400 Hz
(Fonte: LMS Pimento®). .....................................................................................................................55

Figura 4.15 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 630 Hz
(Fonte: LMS Pimento®). .....................................................................................................................55

Figura 4.16 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 1250 Hz
(Fonte: LMS Pimento®). .....................................................................................................................56

Figura 4.17 - Vibração da chapa traseira. .............................................................................................56

Figura 4.18 - Mapa de intensidade sonora na região traseira inferior do refrigerador - 500 Hz (Fonte:
LMS Pimento®)...................................................................................................................................57

Figura 5.1 - Malha estrutural tipo Shell do compressor gerada para obtenção de seus modos estruturais
de vibração. ..........................................................................................................................................58

Figura 5.2 - Vetores normais representando o local e direção aos quais foram realizadas as leituras
pelos transdutores de aceleração. .........................................................................................................60

Figura 5.3 - Modelo com freqüência máxima de 1600 Hz. ..................................................................62

Figura 5.4 - Resultado Numérico vs. Experimental: Modelo fmáx = 1600 Hz. .....................................63

Figura 5.5 - Modelo com freqüência máxima de 2500 Hz. ..................................................................64

Figura 5.6 - Resultado Numérico vs. Experimental: Modelo fmáx = 2500 Hz. .....................................65

Figura 5.7 - Comparação entre as malhas "A" e "B". ...........................................................................66

Figura 6.1 - Método alternativo para o TPA.........................................................................................71

Figura 6.2 - Experimento para validação do TPA utilizando a câmara semi-anecóica do LVA. ..........77

Figura 6.3 - Detalhe do posicionamento do acelerômetro para a configuração (B). .............................78


ix

Figura 6.4 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado direito. ........................................79

Figura 6.5 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado esquerdo. ....................................80

Figura 6.6 - Valor total com os dois excitadores eletrodinâmicos. .......................................................81

Figura 6.7 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado direito. ........................................82

Figura 6.8 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado esquerdo. ....................................83

Figura 6.9 - Resultado total com os dois excitadores eletrodinâmicos. ................................................84

Figura 7.1 - Set up do refrigerador para aplicação do TPA...................................................................85

Figura 7.2 - Acelerômetros do Base; Tubos e Carcaça.........................................................................86

Figura 7.3 - Contribuição da radiação do Compressor. ........................................................................87

Figura 7.4 - Contribuição da Placa-Base. .............................................................................................88

Figura 7.5 - Contribuição do Tubo de Sucção. .....................................................................................89

Figura 7.6 - Contribuição do Tubo de Descarga...................................................................................89

Figura 7.7 - Contribuição da Chapa Traseira........................................................................................90


x

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Valores percentuais de pressão sonora. ............................................................................14

Tabela 2.2 - Volume mínimo recomendado pela norma ISO 3741.......................................................17

Tabela 2.3 - Freqüência vs. Distância da fonte.....................................................................................23

Tabela 2.4 - Forças resultantes para barras curvas (LENZI [5]). ..........................................................33

Tabela 7.1 - Resumo dos resultados obtidos pelos diferentes métodos. ...............................................91
xi

SIMBOLOGIA

BEM Boundary Element Method


c0 Velocidade do som no ar [m/s]
CAD Computer Aided Design
CSM Complex Stiffness Method
dparede Distância dos microfones em relação a parede [m]
f Freqüência [Hz]
FEM Finite Element Method
fmax Freqüência máxima da análise em questão [Hz]
fmin Freqüência mínima da análise em questão [Hz]
FRF Função de Resposta em Freqüência
fw Freqüência de Waterhouse [Hz]
I Intensidade sonora [W/m²]
i Unidade complexa
In Intensidade sonora na direção normal à superfície [W/m²]
k0 Número de onda acústica
L Comprimento [m]
LVA Laboratório de Vibrações e Acústica
m Massa [kg]
m“ Densidade superficial da membrana do absorvedor [kg/m2]
MEC Método de Elementos de Contorno
MIM Matrix Inversion Method
N/A Não Aplicável
NPS Nível de pressão sonora [dB]
NWS Nível de potência sonora [dB]

NWSref Nível de potência sonora da fonte sonora de referência [dB]

P Pressão sonora [Pa]


p' Variação temporal da pressão [Pa]
patm Pressão atmosférica [Pa]
PCRA Principal Component Regression Analysis
xii

po Pressão de equilíbrio estática [Pa]


prms Pressão quadrática média [Pa]
r Distância do centro da fonte de ruído até o ponto de medição
R Razão de reflexão
S Superfície [m²]
SMV Sistema Mecânico Vibratório
SVD Singular Value Decomposition
t Tempo [s]
T Período de integração para o cálculo da intensidade sonora [s]
th Espessura da membrana [m]
TPA Transfer Path Analysis
TR Tempo de reverberação [s]
u Velocidade de partícula [m/s]
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
V Volume [m³]
W Potência sonora [W]
Ws Potência sonora média da fonte dentro da superfície S [W]
z Impedância acústica do meio [Rayl]
α Coeficiente de absorção
∆l Comprimento de um elemento em uma malha [m]
θ Ângulo de incidência da onda sonora
λ Comprimento de onda [m]
λmax Comprimento de onda máximo da análise em questão [m]
ρ0 Densidade volumétrica do ar [kg/m³]
ω Freqüência angular [rad/s]
xiii

RESUMO

O presente trabalho buscou quantificar experimentalmente a contribuição


dada ao ruído do refrigerador, em três caminhos de transmissão de energia vibro-
acústica existentes entre o compressor e o gabinete de um refrigerador doméstico
de pequeno porte, através do método da medição de potência sonora em câmara
reverberante (ISO 3741). Diferentes montagens foram elaboradas com o objetivo de
separar as diversas conexões mecânicas existentes entre compressor e gabinete do
refrigerador, avaliando desta forma, a capacidade que estes caminhos estruturais
possuem de transmitir ao ponto onde está localizado o receptor, o sinal vibro-
acústico gerado pelo compressor em regime permanente. Posteriormente, elaborou-
se um modelo numérico vibro-acústico para o conjunto compressor-gabinete,
fazendo uso do Método de Elementos de Contorno (MEC), com o intuito de
quantificar computacionalmente a radiação sonora direta emitida pelo compressor,
considerando sua condição de operação. Numa terceira etapa do trabalho, um
estudo de intensimetria acústica no entorno do refrigerador foi executado, de
maneira que se pudesse calcular a potência sonora emitida pelo refrigerador através
de um segundo método e principalmente, fosse possível gerar um mapa de ruído em
cores que trouxesse informações qualitativas a respeito da localização e intensidade
relativa das diferentes fontes radiadoras do refrigerador. E finalmente, como última
etapa, foi aplicada uma nova metodologia para quantificação de caminhos conhecida
como Transfer Path Analysis (TPA) Operacional, que faz uso da ferramenta
matemática Principal Component Regression Analysis (PCRA), obtendo os valores
singulares de uma matriz com posterior redução de dados e finalmente obtenção das
contribuições parciais dos caminhos de transmissão analisados. Apesar das grandes
dificuldades enfrentadas na realização dos experimentos e simulações
desenvolvidas neste trabalho, conclui-se que a interação vibro-acústica existente
entre o compressor e o gabinete do refrigerador exerce grande influência no ruído
global de um sistema de refrigeração doméstico, principalmente nas bandas de
freqüência entre 100 Hz e 500 Hz.

Palavras-chave: Caminhos de Transmissão; Método de Elementos de Contorno (MEC);


Intensimetria Acústica; Transfer Path Analysis (TPA)
xiv

ABSTRACT

The present work was searching for, in a first step, to quantify experimentally
how important is the contribution given to the total noise of a domestic refrigerator
system, by three system vibroacoustic transmission paths, using the reverberant
chamber method to obtain the sound power response. Different setups were
considered in order to separate the mechanical connections between the compressor
and the refrigerator cabinet, what made possible to evaluate the potential of each
path to transfer the vibroacoustic signal from the source to the receiver in a steady
state. After that, a vibroacoustic numerical model was developed considering the
compressor and the cabinet surfaces meshes, the floor and the wall behind the
refrigerator, using the Boundary Elements Method (BEM), with the intention to
numerically quantify the direct sound power emitted by the compressor, taking into
account the acoustic interaction with the floor, the wall and the cabinet surfaces. In a
third step, an acoustic intensity mapping was performed around the refrigerator,
using an anechoic chamber and a sound intensity probe, in order to determine the
sound power emitted by the refrigerator using a second method. This method was
also extremely useful to provide a qualitative sound intensity colormap, which gave a
good idea about the source location and the relative sound intensity among the
different sources present in a domestic refrigerator. As a final step, a new
methodology for path quantification was applied in the refrigerator, known as
operational Transfer Path Analysis (TPA), which uses a mathematical tool called
Principal Component Regression Analysis (PCRA) to obtain and sort in a descending
way the singular values of a signal input matrix. This matrix decomposition was used
to form the transfer function matrix necessary to obtain the pressures related to each
transfer path. Despite the difficulties and uncertainties in the measurements and
simulations, it is possible to conclude that a vibroacoustic interaction between the
compressor and the refrigerator cabinet imposes a great influence in the global noise
of domestic refrigerator system, especially in the low frequency bands between 100
Hz and 500 Hz.

Keywords: Transmission Paths; Boundary Elements Method (BEM); Sound Intensity;


Transfer Path Analysis (TPA)
CAPÍTULO 1
1- INTRODUÇÃO

1.1 Contexto Mundial

A preocupação em reduzir o ruído gerado por aparelhos de uso doméstico


transformou-se nas últimas duas décadas em prioridade às atividades de
desenvolvimento das empresas fabricantes destes produtos.
Naturalmente este interesse está diretamente relacionado ao surgimento de
políticas ambientais e de saúde mais rígidas que aquelas existentes no passado,
uma vez que a questão do ruído está sendo vista como um dos principais aspectos a
serem avaliados para o bem estar do ser humano, sendo considerada a terceira
maior fonte de poluição, atrás apenas da poluição da água e atmosférica.
Em países que possuem cidades com alta densidade populacional, tais como
China, Índia, Japão, ou mesmo o Brasil, constata-se um número elevado de pessoas
vivendo em espaços habitacionais bastante pequenos, exarcebando o conhecido
fato que a maioria das fontes de ruído, apresenta potência sonora capaz de interferir
significativamente no campo sonoro medido dentro dos lares e até em grandes áreas
abertas de ambientes públicos.
Ao longo das últimas décadas, o acesso ao consumo de bens duráveis que, na
maioria dos casos, produzem algum tipo de vibração e/ou ruído, aumentou de forma
bastante significativa, sendo o refrigerador doméstico um exemplo representativo.
No caso da China, país atualmente com cerca de um bilhão e trezentos
milhões de habitantes, pesquisas mostram que o consumo de refrigeradores para
cada 100 residências urbanas passou de 42,3 aparelhos em 1990 para 87,4 em
2002 (BNDES [1]).
Sob o ponto de vista do conforto e saúde humana, os números acima descritos
podem ser considerados bastante significativos, uma vez que a potência sonora de
um refrigerador de médio porte encontra-se na faixa entre 35 dB (A) e 45 dB (A),
medido em aplicações domésticas (JEON [2], TAKUSHIMA [3]).
Em função do cenário apresentado acima, tem-se um claro indicativo que a
pesquisa descrita neste texto vem ganhando destacada importância ao longo das
últimas décadas, e por isso contribuirá à indústria na adequada caracterização das
Capítulo 1 – Introdução 2

fontes existentes e no processo de atenuação do ruído doméstico, buscando desta


forma, melhorias na qualidade de vida das pessoas em seus lares e demais espaços
de convivência.

1.2 Hipóteses Preliminares da Pesquisa

As principais hipóteses consideradas no desenvolvimento deste trabalho


podem ser resumidas através dos seguintes itens:

• Uma parcela significativa do ruído de um refrigerador está associada à


radiação sonora direta do compressor, assim como das superfícies vibrantes
radiadoras, resultantes da interação do compressor com o gabinete do
refrigerador;
• Simplificações adotadas para a geometria do compressor e gabinete do
refrigerador na confecção da malha numérica acústica, não implicariam em
diferenças significativas nos resultados numéricos obtidos para a parcela de
contribuição da radiação direta do compressor em aplicação;
• As superfícies do gabinete do refrigerador foram arbitradas rígidas para o
modelo numérico e para os nós da malha vibro-acústica da carcaça do
compressor foram prescritas velocidades obtidas a partir de medições
realizadas em 30 pontos distintos com o sistema de refrigeração em regime
permanente.

1.3 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo realizar uma avaliação do potencial de


métodos numérico-experimentais para avaliação das fontes de ruído e caminhos de
transmissão vibracional existentes entre o compressor e um refrigerador doméstico
de pequeno porte, buscando, desta forma, melhor caracterizá-las em relação ao
ruído total do sistema, operando em regime permanente.
Capítulo 1 – Introdução 3

1.4 Principais Limitações da Pesquisa

• Bibliografia escassa relacionada ao assunto específico do ruído de


refrigeradores gerado pela sua interação com o compressor instalado;
• Tempo de ciclo do refrigerador em regime permanente muito pequeno (cerca
de 3 minutos), dificultando a aplicação de alguns métodos disponíveis;
• Capacidade computacional no processamento de modelos numéricos que
atendam aos requisitos de discretização de malhas numéricas para as
freqüências altas do espectro de interesse e que reproduzam com fidelidade a
geometria do produto físico real;
• O estudo de determinadas fontes e caminhos de transmissão da energia
vibratória foi considerado inviável neste trabalho em função de limitações
impostas pela forma construtiva do refrigerador;
• Não foram possíveis avaliações estatísticas dos resultados, levando em conta
múltiplos exemplares do mesmo modelo de refrigerador, uma vez que
somente um exemplar do equipamento foi disponibilizado para análise.
CAPÍTULO 2
2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo aborda os conceitos e definições fundamentais à compreensão


dos resultados obtidos neste trabalho, incluindo os princípios básicos de
funcionamento de compressores e refrigeradores domésticos e suas fontes de ruído;
e também o modelo físico utilizado na propagação sonora em fluidos, que combina a
lei de conservação da massa com a lei dos gases ideais e segunda lei de Newton
para a obtenção da equação da onda.
São expostos também os conceitos e as equações utilizadas no projeto de
painéis de absorção inseridos na câmara reverberante do Laboratório de Vibrações
e Acústica (LVA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tais como:
impedância acústica, fator de reflexão e coeficiente de absorção, e também os
conceitos de Intensidade e Potência Sonora; os possíveis métodos experimentais
para a medição em laboratório e posterior cálculo das grandezas citadas
anteriormente.

2.1 Funcionamento de um Refrigerador

Um refrigerador doméstico é um equipamento cujo princípio de funcionamento


é caracterizado pela presença de um fluido refrigerante forçado a percorrer um
circuito fechado em tubos metálicos que contém, em regiões distintas, os seguintes
elementos básicos: compressor; condensador; tubo capilar e um evaporador.
O fluido refrigerante deve possuir algumas características específicas, tais
como: baixa temperatura de condensação com um valor elevado para o calor latente
correspondente e, também, de pressões relativamente baixas para passar do estado
gasoso ao estado líquido, mesmo que esteja na temperatura ambiente
(VENTURINI&PIRANI [4]). A Figura 2.1 ilustra as partes acima descritas.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 5

Condensador
Evaporador

Tubo
Capilar
Linha de
Sucção

Linha de
Descarga

Compressor

Placa-base do
Compressor

Figura 2.1 - Refrigerador típico (Fonte: Embraco S/A).

O compressor é uma bomba acionada mecanicamente por um motor elétrico,


que retira fluido refrigerante do ramo da tubulação que o antecede (Linha de
Sucção) através da redução de sua pressão, e posteriormente injeta este fluido no
ramo da tubulação que o sucede (Linha de Descarga), aumentando sua pressão
através de um sistema do tipo cilindro, pistão e biela. É desta forma que o
compressor impulsiona e promove a circulação do fluido refrigerante através do
circuito de refrigeração.
O condensador é constituído por um longo tubo colocado em forma de
serpentina, formando uma grade radiadora de calor que está posicionada na região
traseira do refrigerador. Ao entrar e sair do compressor, o fluido refrigerante se
apresenta no estado gasoso, e no condensador, tanto pelo efeito do aumento de
pressão causado pelo compressor quanto pelo efeito da perda de energia na forma
de calor para o meio ambiente, o fluido refrigerante passa ao estado líquido.
O tubo capilar é um tubo metálico com um diâmetro interno de
aproximadamente 0,5 mm. O fluido refrigerante entra neste tubo no estado líquido,
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 6

expande-se rapidamente ao percorrer o caminho no sentido do evaporador,


transformando-se rapidamente numa mistura de líquido e gás.
O evaporador é a continuação do circuito de refrigeração, também em forma de
serpentina e acoplado ao congelador do refrigerador. Para passar ao estado gasoso,
o fluido refrigerante com pressão baixa absorve energia na forma de calor do
ambiente interno ao congelador e se transforma completamente em gás. Ao
abandonar o evaporador, o fluido refrigerante segue ao compressor e o ciclo
recomeça.
O congelador é colocado na parte superior do refrigerador para que se formem
correntes de convecção, possibilitando a mistura do ar a baixa temperatura do
congelador e de sua vizinhança com o ar proveniente das partes mais baixas do
gabinete, que apresenta temperatura mais alta.

2.2 Fontes de Ruído

Os ruídos considerados próprios ao funcionamento de um refrigerador típico


foram identificados em diversas referências [2 a 8], apresentadas a seguir:

• Carcaça do compressor: Radiação direta responsável por uma parcela


expressiva do ruído global do refrigerador em funcionamento, tendo como
característica fundamental o fato de possuir a maior parte de sua energia
acústica distribuída nas freqüências médias e altas do espectro;
• Sistema de ventilação: Ruído indireto de vibrações transmitidas pelos pontos
de fixação deste sistema (quando existente) ao gabinete e também pela
turbulência gerada no escoamento de ar dentro do refrigerador;
• Expansão de gás: Radiação direta e indireta característica da vibração do
gabinete promovida pela expansão do gás no circuito de refrigeração;
• Tubos vibrantes: Radiação direta e indireta de vibrações transmitidas ao
gabinete do refrigerador através dos tubos de sucção e descarga;
• Base vibrante: Ruído indireto de vibrações transmitidas ao gabinete do
refrigerador através da placa-base do compressor;
• Escoamento bifásico no evaporador: Radiação direta e indireta gerada pela
vibração do escoamento turbulento presente na região do evaporador.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 7

Para fins de separação dos fenômenos envolvidos e melhor compreensão das


atividades experimentais desenvolvidas neste trabalho, estabeleceu-se a seguinte
divisão dos tipos de fontes de ruído em:

- Diretas: Inclui os ruídos que atingem o ambiente externo de maneira direta,


ou seja, sem a presença de elementos estruturais intermediários, sendo a fonte
radiadora o próprio elemento vibrante;
- Indiretas: Engloba os ruídos gerados posteriormente à transmissão de
vibrações através de elementos estruturais intermediários para outros pontos da
estrutura que possuam superfícies com boa eficiência de radiação.

2.3 Espectro Típico de Ruído

O Nível de Potência Sonora, avaliado em bandas de terço de oitava, referente


a um refrigerador típico, pode ser visualizado através da Figura 2.2. É possível
identificar alguns picos, associados a diferentes fontes sonoras existentes no
refrigerador, bem como as respostas de alguns de seus componentes.

Figura 2.2 - Espectro de ruído de um refrigerador típico, avaliado em bandas de terço de


oitava (Cortesia: Multibrás).
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 8

Apesar deste espectro ser o resultado da superposição de algumas fontes


vibro-acústicas presentes em um refrigerador doméstico, conforme citado
anteriormente, o objeto de estudo desta dissertação está concentrado na energia
acústica direta gerada pelo compressor, assim como na transmissão de sua vibração
para as superfícies do refrigerador.
A transmissão de vibração e ruído da carcaça para outras partes do
refrigerador e meio externo ocorre basicamente através dos seguintes caminhos
(VORLÄNDER [7]), ilustrados pela Figura 2.3:

1. Câmara ressonante ou Housing - Acústico;


2. Tubos de sucção e descarga - Estrutural;
3. Placa-base do compressor - Estrutural

Figura 2.3 - Caminhos de transmissão vibro-acústica entre Compressor e Refrigerador.

Resumidamente, os experimentos realizados neste trabalho consistiram em


atenuar ou mesmo isolar cada caminho de transmissão, assim como realizar
algumas combinações que incluíam mais de um caminho de transmissão
simultaneamente, com o objetivo de obter o Nível de Potência Sonora para cada
uma destas configurações.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 9

2.4 Funcionamento de um Compressor

O compressor pode ser considerado o principal componente de um sistema de


refrigeração. Sua função é promover a circulação do fluido ao longo do sistema,
sendo capaz de aumentar a pressão do gás de refrigeração necessário ao processo
termodinâmico (VENTURINI&PIRANI [4]).
Basicamente, para um compressor volumétrico alternativo, o gás é admitido
numa câmara ou cilindro, cujo volume sofre uma redução em função da ação de
compressão realizada pelo pistão. Uma vez que é atingida a pressão de saída, a
válvula de descarga se abre e o gás é induzido, por diferença de pressão, a
continuar circulando pelo circuito de refrigeração.
A Figura 2.4 representa a estrutura dentro de um compressor volumétrico
alternativo, semelhante àquele utilizado pelo sistema de refrigeração avaliado ao
longo deste trabalho, ou seja, compressor hermético com um pistão e de simples
efeito, no qual sofre compressão somente numa das faces do cilindro.
Pistão Biela

Eixo

Motor
Elétrico
Óleo
Lubrificante

Figura 2.4 - Corte transversal de um compressor alternativo (Fonte: Embraco).

Com relação à concepção de construção, os compressores podem ser


classificados como: herméticos, semi-herméticos e abertos. No compressor
hermético, tanto o compressor em si, quanto o seu motor de acionamento estão
alojados no interior de uma carcaça, apresentando como acesso de entrada e saída
apenas as conexões elétricas do motor e o tubo auxiliar para prover a carga de gás
no sistema (LENZI [5]).
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 10

Os compressores semi-herméticos são semelhantes aos herméticos, porém


permitem a remoção do cabeçote, tornando possível o acesso às válvulas e ao
pistão dentro da câmara de compressão.
Nos compressores do tipo aberto o eixo de acionamento do compressor
atravessa a carcaça, permitindo o acionamento por um motor externo. Este tipo de
compressor é adequado para operar gases como a amônia, podendo também utilizar
refrigerantes halogenados.

2.5 Fontes Internas de Ruído

A energia vibratória é gerada no conjunto moto-compressor devido


principalmente às variações bruscas de pressão no interior do cilindro durante o ciclo
de compressão do gás e também em função do impacto causado pelo mecanismo
alternativo pistão-biela-manivela (LENZI [5]).
As forças dinâmicas, devidas ao fluxo da massa de gás e óleo e de origem
eletromagnética, também contribuem para o ruído, mostrando assim que as fontes
de vibração estão ligadas aos diversos fenômenos mecânicos e eletromagnéticos
inerentes ao funcionamento de um compressor.
Esta energia vibratória do conjunto moto-compressor é, por conseqüência,
transmitida até a carcaça através de diversos caminhos, excitando-a, e fazendo com
que parte dela se transforme em energia sonora e outra parte seja transmitida para
diferentes regiões do refrigerador. Mecanismos do tipo pistão-biela-manivela
apresentam forças de inércia inerentes ao sistema com amplitudes importantes
quando os mesmos se encontram em operação (NUNES [8]).
Quando este sistema rotativo está desbalanceado, forças de inércia
indesejáveis surgem e os movimentos laterais aparecem com maior intensidade e,
por conseqüência, esforços e vibrações nos componentes mecânicos ainda maiores
que aqueles normalmente encontrados são inevitáveis.
No caso do compressor hermético de um pistão, o denominado mecanismo
recíproco é aquele responsável pelas forças de desbalanceamento geradas dentro
do conjunto moto-compressor e devem ser parcialmente controladas utilizando as
técnicas de balanceamento disponíveis.
No entanto, será considerado em nossas avaliações experimentais que o
mecanismo recíproco do conjunto moto-compressor esteja adequadamente
balanceado e as vibrações oriundas desta fonte sejam essencialmente aquelas
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 11

geradas pelo desbalanceamento remanescente, inerente ao mecanismo do tipo


pistão/biela/excêntrico.

2.6 Espectro Típico de Ruído

Como as molas internas utilizadas para apoiar o conjunto moto-compressor


reduzem a transmissibilidade das vibrações em baixas freqüências, mas são
ineficazes nas médias e altas freqüências, pode-se perceber através da Figura 2.5
que a energia vibro-acústica de um compressor está distribuída principalmente entre
as médias e altas freqüências do espectro de potência sonora analisado.
É possível observar a partir da banda de 3,15 kHz que o Nível de Potência
Sonora do compressor supera o Nível de Potência Sonora do refrigerador uma vez
que as componentes de freqüências altas, que estão principalmente relacionadas
com o compressor, sofrem atenuação quando o compressor se encontra instalado
no refrigerador.

Figura 2.5 - Espectro de Potência Sonora típico de um compressor e um refrigerador, avaliado


em bandas de terço de oitava (Fontes: Embraco S/A e Multibrás).

A curva de Potência Sonora referente ao compressor mostrada pela Figura 2.5


foi obtida em medições realizadas nos laboratórios da empresa Embraco, utilizando
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 12

a norma ISO 3741 como guia para os procedimentos de medição. A curva de


Potência Sonora relativa ao refrigerador mostrada pela mesma figura, diz respeito ao
sistema de refrigeração analisado por este trabalho que possui instalado o mesmo
modelo de compressor descrito anteriormente. Este resultado foi obtido em
medições realizadas em câmara semi-anecóica pertencente à empresa Multibrás.
Na Figura 2.5, diferenças significativas entre as curvas de Potência Sonora do
refrigerador e do compressor são observadas, principalmente para as bandas de
freqüências baixas. Estas diferenças serão apresentadas nos capítulos relacionados
aos dados experimentais e numéricos, com o intuito de compreender quais são os
fenômenos físicos responsáveis por esta diferença.

Figura 2.6 - Isolamento experimental dos caminhos no compressor (LENZI [5]).

A Figura 2.6 ilustra resultados obtidos em um trabalho desenvolvido por LENZI


[5] para um modelo de compressor Embraco típico, indicando os valores de Nível de
Potência Sonora desmembrados de maneira a associar algumas faixas de
freqüência às diferentes fontes e caminhos de transmissão existentes entre o
conjunto moto-compressor e a carcaça, conforme descrito nos itens a seguir:
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 13

• 315 Hz a 500 Hz: Há influência do filtro acústico de sucção (muffler) e das molas
de suspensão com contribuições aproximadamente iguais. Pequena contribuição
do tubo de descarga (bundy);
• 630 Hz a 1 kHz: Influência maior das molas em relação ao filtro acústico de
sucção (muffler) e efeito das primeiras ressonâncias acústicas da cavidade;
• 1,25 kHz a 2 kHz: Predomina a contribuição do muffler. Em menor importância a
contribuição do fluxo de energia para a carcaça através das molas de suspensão;
• 2,5 kHz a 4 kHz: Também predomina a contribuição do muffler, com queda da
influência das molas de suspensão a partir de 3,15 kHz. Faixa das freqüências de
ressonâncias da carcaça;
• 5 kHz a 10 kHz: Nesta faixa a importância do muffler aumenta, com o decréscimo
dos demais caminhos.

2.7 Conceitos Fundamentais

2.7.1 Equação da Onda

O som é qualquer perturbação que se propaga através da compressão e


descompressão em torno de um estado de equilíbrio de um meio elástico, que pode
ser um gás, um líquido ou mesmo um sólido (BERANEK&VÉR [19]).
A onda sonora pode ser modelada segundo algumas leis e equações da física
tais como: segunda lei de Newton, lei dos gases ideais e lei da conservação da
massa. Quando estas equações são combinadas algebricamente entre si, resultam
na equação da onda em coordenadas retangulares, como descrito pela equação 2.1:

1 ∂2 p '
∇ 2 p '− =0, (2.1)
c0 ∂t 2

sendo a variável p’, a pressão sonora num determinado ponto e a constante c0, a
velocidade do som no meio, que no caso do ar é de aproximadamente 343 m/s para
20 °C de temperatura e 10 5 Pa de pressão atmosférica.
A unidade de pressão no sistema S.I. - Sistema Internacional é o Pascal, no
entanto, a pressão sonora pode também ser expressa em decibel (dB):
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 14

 p' 
NPS = 20 x log  −6 
. (2.2)
 20 x10 

Vale lembrar que a pressão sonora p’ deve ser vista apenas como uma
parcela da pressão absoluta p, sendo esta última definida como a soma da pressão
atmosférica p0 e variação de pressão causada pelo campo sonoro:

p = p0 + p ' , (2.3)

ou seja, a pressão sonora deve ser entendida como a variação de pressão p’ em


torno de um valor médio de referência da pressão atmosférica. A tabela abaixo,
clássica na área de acústica, mostra uma análise da ordem de grandeza de p’, em
relação à pressão atmosférica p0, para alguns valores de Nível de Pressão Sonora.

Tabela 2.1 - Valores percentuais de pressão sonora.

NPS p’ Percentual
120 dB 20 Pa 0,02 %
90 dB 0,63 Pa 0,00063 %
60 dB 0,02 Pa 0,00002 %
30 dB 0,00063 Pa 0,00000063 %
Valor de referência p0 = 1 atm = 105 Pa

Analisando esta tabela, pode-se verificar que variações de pressão causadas


pelo distúrbio acústico são normalmente desprezíveis em relação ao valor de
referência da pressão atmosférica, no entanto, ainda assim, até o presente
momento, a medição da pressão sonora é amplamente considerada por aqueles que
trabalham na área, a forma mais fácil e precisa para se descrever o campo acústico.

2.7.2 Intensidade Sonora

A intensidade sonora I n é definida como sendo o fluxo contínuo de energia


por unidade de tempo carreado por uma onda sonora através de uma área
incremental associada a um ponto no espaço (BERANEK&VÉR [19]). Este conceito
pode ser colocado matematicamente sob a forma da Equação 2.4:
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 15

 1 
T
I n = lim ∫ I ( t ) .dt . (2.4)
T →∞ T
0

2.7.3 Potência Sonora

O processo de obtenção da potência sonora de uma fonte baseia-se na



integração da intensidade sonora I n mencionada no Item 2.7.2 em um domínio
definido pela superfície S que envolve a fonte, conforme descrito pela Equação 2.5:


Ws = ∫ I n .dS . (2.5)
s

A equação acima fornece a potência sonora radiada, no sentido de dentro


para fora de uma superfície fechada, por todas as fontes sonoras que estão
posicionadas dentro desta superfície. Esta grandeza pode ser representada na
forma de Nível de Potência Sonora (NWS), conforme definido pela Equação 2.6:

Ws
NWS = 10 ⋅ log , (2.6)
Wref

sendo Ws a Potência Sonora da fonte, em Watt, e Wref = 10-12 Watt, a Potência


Sonora de referência.

2.8 Métodos de Medição de Potência Sonora

Uma das principais características de qualquer fonte é a potência sonora W


ou energia acústica total emitida por unidade de tempo. A potência sonora só
depende das características de projeto e montagem da própria fonte de ruído e pode
ser considerada independente do ambiente onde a mesma se encontra (GERGES
[18]).
Uma forma de ilustrar este fato é através da obtenção do Nível de Pressão
Sonora (NPS) de uma máquina, em dois ambientes distintos. A pressão sonora
medida nestes dois casos será diferente em função dos elementos de absorção e
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 16

reflexão existentes nos diferentes recintos, porém, a potência sonora mantém-se


constante.
Existem diversas formas de obter a potência sonora de uma fonte de ruído,
dentre as quais pode-se citar as que utilizam as câmaras semi-anecóica e
reverberante com microfones ou utilizando sondas que medem intensidade sonora.
A potência sonora também pode ser determinada em campo pelo método da
comparação, utilizando uma fonte de referência e microfones, ou posicionando uma
sonda de intensidade sonora em pontos discretos ou mesmo através de varredura
em torno da fonte sonora. Para este trabalho, o Nível de Potência Sonora (NWS) de
um refrigerador de pequeno porte foi obtido, utilizando as câmaras reverberante e
semi-anecóica existentes no Laboratório de Vibrações e Acústica (LVA), em
medições direcionadas pelas normas:

• ISO 3741: Determination of sound power levels of noise sources using sound
pressure - Precision methods for reverberation rooms [9];
• NBR 13910-1: Diretrizes de ensaios para a determinação de ruído acústico de
aparelhos eletrodomésticos e similares - Parte 1: Requisitos gerais [10];
• NBR 13910-2-1: Diretrizes de ensaios para a determinação de ruído acústico
de aparelhos eletrodomésticos e similares - Parte 2: Requisitos particulares
para refrigeradores, congeladores, combinados e similares [11].

2.9 Câmaras Reverberantes

As câmaras reverberantes são projetadas para se obter a condição mais


próxima possível de um campo difuso, na qual a energia média por unidade de
volume em qualquer região da câmara é aproximadamente constante
(BERANEK&VÉR [20]).
Para tal, as superfícies devem ser rígidas e refletoras tanto quanto possíveis,
com coeficiente de absorção médio das paredes de no máximo 0,06, exceto para
valores abaixo da chamada freqüência de Waterhouse (GERGES [18]):

2000
fw = [ Hz ] . (2.7)
V 1/ 3
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 17

Para o caso da câmara reverberante do LVA, cujo volume V é igual a 200 m3,
o valor desta freqüência é 342 Hz. Para aumentar a densidade modal e
conseqüentemente reduzir a incerteza das medições, é recomendável um
coeficiente de absorção de até 0,16 nas freqüências abaixo da freqüência de
Waterhouse.
O paralelismo entre as paredes da câmara deve ser evitado, também com o
intuito de atingir as condições adequadas para criação do campo difuso, no qual a
energia sonora encontra-se uniformemente distribuída ao longo do volume da
câmara. Uma representação esquemática pode ser vista na Figura 2.7.

Figura 2.7 - Ilustração das paredes de uma câmara reverberante.

Para câmaras com formato de um paralelepípedo e com um volume na ordem


de 200 m3, recomenda-se usar relações entre largura e comprimento (Ly/Lz), assim
como altura e comprimento (Lz/Lx), ou mesmo uma relação entre as dimensões Lx;
Ly; Lz equivalente a 1:21/3:41/3 para evitar concentração de ressonâncias em bandas
estreitas de freqüência (GERGES [18]).

Tabela 2.2 - Volume mínimo recomendado pela norma ISO 3741.

Freqüência Mínima Volume Mínimo (m3)


125 Hz banda de 1/1 oitava 200
100 Hz banda de 1/3 de oitava 200
125 Hz banda de 1/3 de oitava 150
160 Hz banda de 1/3 de oitava 100
250 Hz banda de 1/1 oitava 70
200 Hz banda de 1/3 de oitava 70
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 18

Para câmaras de uso geral, recomenda-se um volume mínimo de 200 m3,


associado à freqüência de corte mostrada pela Tabela 2.2, para reduzir o efeito de
alta absorção sonora no ar que se manifesta com maior intensidade para as
freqüências mais altas do espectro, assim como para aumentar a densidade modal
necessária para as medições das freqüências baixas.

2.9.1 Determinação da Potência Sonora

Conforme mencionado anteriormente, alguns métodos estão disponíveis para o


cálculo da potência sonora de uma fonte de ruído. A escolha adequada dependerá
de diversos fatores, tais como: características do campo sonoro radiado pela fonte,
precisão da medição, tamanho da fonte de ruído e necessidade de reproduzir as
condições de operação.
A norma ISO 3741 recomenda métodos de precisão para a determinação da
potência sonora de uma determinada fonte utilizando uma câmara reverberante
como ambiente de medição. No transcorrer de seu texto, os métodos conhecidos
pelas denominações direto e comparação, especificam os requisitos da câmara de
teste, localização da fonte e condições operacionais, instrumentação e técnicas para
obter uma estimativa do valor da pressão média quadrática, que por sua vez será
utilizada no cálculo do Nível de Potência Sonora da fonte em bandas de oitava ou
um terço de oitava.
Foram realizadas medições preliminares utilizando as metodologias descritas
no texto da norma para medições de pressão sonora ao longo da câmara. Após a
análise dos resultados obtidos, optou-se pelo método da comparação em função de
apresentar menor variação entre diferentes medições.
Os resultados de pressão sonora acima mencionados possibilitaram o cálculo
da potência sonora associada ao refrigerador em diferentes experimentos. Estes
resultados foram comparados entre si e evidenciaram as primeiras relações entre a
fonte existente no refrigerador e a sua faixa de freqüência ao qual esta fonte exerce
maior influência.

2.9.2 Método Direto

Segundo a norma ISO 3741, a intensidade sonora total num determinado ponto
dentro da câmara reverberante, levando em consideração que as condições
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 19

colocadas pelo item 2.9.1 foram atendidas, é a soma da intensidade sonora do


campo direto com o campo reverberante, resultando na Equação 2.8:

< P2 >  Q 4
=W θ2 + . (2.8)
ρc  4πr A

Expressando a Equação 2.8 em decibéis, tem-se:

 Q 4
NPS = NWS + 10 ⋅ log θ 2 +  , (2.9)
 4πr A

na qual:
• r: distância da fonte até o ponto de observação;
• Qθ : fator de direcionalidade;

• A: constante da sala Sα /(1 − α ) ;


• S: área total da superfície da câmara (m2);
• α : coeficiente de absorção médio da câmara.

Para as superfícies altamente refletoras da câmara reverberante, a magnitude


do coeficiente de absorção é considerado desprezível e A pode ser escrito como
S α . Considera-se também que no método de determinação de potência sonora em
câmara reverberante são tomadas precauções para garantir que os microfones
sejam posicionados nos limites do campo reverberante, tal que:

Qθ 4
<< . (2.10)
4πr 2
A

Desta forma, a equação para o Nível de Pressão Sonora em sua forma


simplificada pode ser escrita:

4
NPS = NWS + 10 ⋅ log . (2.11)
A
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 20

A constante da câmara A ≅ Sα é obtida indiretamente através da medição do


tempo de reverberação TR, com posterior aplicação da fórmula de Sabine, dada por:

0,161V
TR = . (2.12)
A

na qual V é o volume da câmara. Substituindo a Equação 2.12 na Equação 2.11


para o Nível de Pressão Sonora definida, obtém-se:

NWS ≅ NPS + 10 ⋅ log V − 10 ⋅ log TR − 14 . (2.13)

A norma ISO 3741 recomenda que os microfones sejam posicionados a uma


distância maior que meio comprimento de onda das paredes da câmara, para a
menor freqüência a ser analisada:

λmax c
d parede > = . (2.14)
2 2 f min

Para compensar a energia não considerada, incluiu-se um fator de correção


devido ao campo existente próximo às paredes da câmara:

 S .(331, 4 + 0, 6.t )   S .λ 
1 +  = 1 + . (2.15)
 8.V . f   8.V 

Após a inclusão deste termo de correção, obtém-se:

 Sλ 
NWS = NPS − 10 ⋅ log TR + 10 ⋅ log V + 10 ⋅ log  1 +  − 14 . (2.16)
 8V 

Uma expressão muito semelhante à Equação 2.16 é utilizada pela norma ISO
3741, Subseção 8.2.2, acrescida de um termo de correção relacionado à pressão
barométrica [Pa], conforme descrito abaixo:
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 21

 Sλ   B 
NWS = NPS − 10 ⋅ log TR + 10 ⋅ log V + 10 ⋅ log  1 +  − 10 ⋅ log   − 14 . (2.17)
 8V   1000 

O Nível de Potência Sonora pode ser corrigido também, considerando a


absorção sonora do ar. A norma ISO 3741 de 1999 difere da fórmula da norma de
1988 devido à adição do termo 4, 34 × A / S relacionado à absorção sonora do ar e
também por correções de temperatura e pressão atmosférica.
Desta forma, para se chegar na equação utilizada pela norma ISO 3741,
acrescentam-se os termos mencionados, além de realizar algumas mudanças
algébricas considerando a fórmula de Sabine para o tempo de reverberação,
obtendo-se:

 A A  Sλ   427 273 B  
NWS = NPS + 10 ⋅ log + 4,34 ⋅ log + 10 ⋅ log 1 +  − 25 ⋅ log  400 273 + θ . B  − 6  . (2.18)

 A0 S  8V   0  

O nível médio de pressão sonora NPS dos sinais dos microfones para cada
banda de freqüência, utilizado no cálculo da potência sonora, é expresso através da
Equação 2.19:

1 M

NPS = 10 ⋅ log 
M
∑10
i =1
NPSi / 10
.

(2.19)

A principal fonte de incerteza de medição reside na não uniformidade do campo


reverberante e, por esta razão, utilizam-se doze combinações de posição da fonte
sonora e dos microfones, atenuando o efeito da formação de uma configuração de
ondas estacionárias na qual ocorre grande variação entre pressões máxima e
mínima.
A colocação de superfícies refletoras do tipo difusor, próximo do centro da
câmara, diminui os efeitos das ondas estacionárias. Quando estes difusores são
inseridos na câmara, obtém-se um efeito semelhante ao de medir a pressão em um
grande número de pontos, uma vez que a variação no espaço do campo sonoro é
reduzida (GERGES [18]).
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 22

2.9.3 Método da Comparação

A potência sonora de uma fonte qualquer pode ser obtida pela comparação de
seu Nível de Pressão Sonora medido numa câmara reverberante com o Nível de
Pressão Sonora de uma fonte de referência calibrada (Brüel & Kjaer [13]), medida no
mesmo local.
A fonte de referência foi originalmente projetada por um comitê da ASHRAE –
American Society of Heating, Refrigeration and Air Conditioning Engineers na
década de 1960 (BARRON [14]), sendo que atualmente há fontes de diferentes
fabricantes disponíveis no mercado.
Para se obter o Nível de Potência Sonora de uma fonte deve-se primeiramente
realizar uma média quadrática do Nível de Pressão Sonora, medido em cada banda
de freqüência da fonte em operação.
Posteriormente, a fonte em teste é removida e a fonte de referência é colocada
em seu lugar e novamente uma média energética do Nível de Pressão Sonora
medido em cada banda de freqüência é realizada.
Desta forma, com os dados obtidos pela execução dos passos anteriores, o
Nível de Potência Sonora de uma fonte qualquer pode ser calculado de maneira
indireta, através da Equação 2.20:

NWS fonte = NPS fonte + ( NWS ref − NPS ref ) . (2.20)

2.10 Câmaras Anecóica e Semi-Anecóica

As câmaras anecóica e semi-anecóica têm o objetivo de criar um ambiente ao


qual o ruído emitido pela fonte em análise seja medido com as reflexões reduzidas
ao mínimo. Na câmara semi-anecóica, todas as paredes e o teto estão revestidos
com um material cujo índice de absorção é elevado, de maneira que as reflexões
geradas por estas superfícies sejam praticamente eliminadas.
Geralmente, a câmara tem a forma de um paralelepípedo e com sua menor
dimensão maior que duas vezes o comprimento de onda da freqüência mais baixa.
O número de pontos de medição necessários para permitir a avaliação precisa
dependerá bastante da direcionalidade do ruído radiado pela fonte.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 23

Considerando uma superfície de medição, que contenha a fonte, dividida em


N áreas Si (i = 1, 2, 3, ..., N), teremos que a soma das potências que passam através
de cada área constitui a potência sonora total emitida, tal como descrito pela
Equação 2.21:

N
Pi 2 .Si
W =∑ , (2.21)
i =1 ρ .c

sendo Pi e Si as pressões acústicas e as áreas dos elementos respectivamente e N


é o número de pontos de medição ao redor da fonte, tomados no centro de cada
elemento de área.
A câmara semi-anecóica é utilizada quando a fonte possui fortes componentes
de freqüências discretas; para medição de absorção de materiais; excitação de
estruturas em campo livre, calibração de microfones e curvas de resposta em
freqüência de caixas acústicas; quando há necessidade de obter a informação de
fase da onda; quando é necessário determinar a direcionalidade da fonte ou mesmo
para obter uma componente do vetor de intensidade.
Os dados são filtrados normalmente em bandas de oitava ou 1/3 de oitava e
existem alguns tipos de erros associados à medição (GERGES [18]) são:

a) Erro de medição em campo próximo, quando a pressão sonora e a


velocidade de partícula podem não estar em fase, não estabelecendo desta forma a
relação simples entre a energia acústica e a pressão sonora medida. A Tabela 2.3
mostra os valores mínimos de rf, na qual r é a distância desde o centro da fonte até
o ponto de medição e f é a freqüência;

Tabela 2.3 - Freqüência vs. Distância da fonte


Tipo de Fonte rf (m/s) Erro (dB)
Dipolo >50 ≤3
Dipolo >100 ≤1
Quadripólo >120 ≤3
Quadripólo >250 ≤1

b) Erro de áreas que compõem a superfície de medição para o cálculo da


média quadrática da pressão, no qual uma série de pontos discretos são utilizados,
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 24

medidos no centro de cada área da superfície, em vez de integração contínua. Este


erro é menor do que 1 dB para fonte dipolo ou quadrupolo, mas pode chegar até 2
dB para outros tipos de fontes complexas;
Medições para avaliação da potência sonora da fonte podem ser realizadas de
acordo com a norma ISO 9614-1 [12], sendo calculado através da divisão da
superfície de medição em N áreas iguais. No centro de cada área é obtida a
Intensidade Sonora e conseqüentemente a potência sonora total é calculada
conforme descrito:

W =∫ I ⋅ dA = ∫ I ⋅ dA1 + ∫ I 2 ⋅ dA2 + ... + ∫ I N ⋅ dAN . (2.22)


Área Área1 1 Área2 ÁreaN

Supondo que para cada área a intensidade sonora seja constante, tem-se:

W = I1 ⋅ ∫ dA1 + I2 ⋅ ∫ dA2 + ... + IN ⋅ ∫ dAN , (2.23)


Área1 Área2 ÁreaN

ou

W = I1 ⋅ A1 + I 2 ⋅ A2 + ... + I N ⋅ AN , (2.24)

ou ainda na forma compacta:

N
W = ∑ I i ⋅ Ai . (2.25)
i =1

A hipótese de que a intensidade sonora sobre uma área permanece constante


ao longo de toda a área implica em erros, portanto, a transformação da integral em
somatório é uma simplificação que fornecerá um resultado tão melhor quanto maior
for a discretização adotada.

2.11 Campo Acústico no Housing

A radiação sonora proveniente da carcaça do compressor excita modos


acústicos do Housing, cavidade onde o mesmo é normalmente montado, gerando
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 25

ondas sonoras em faixas de freqüências que podem se destacar em relação ao


ruído global do refrigerador.
A modificação do afastamento do refrigerador em relação à parede poderá
alterar estas freqüências, uma vez que o tamanho da cavidade formada pela parede
e o Housing determina as ressonâncias acústicas, além de aumentar ou diminuir a
impedância acústica nas regiões de estreitamento das distâncias entre superfícies
do piso-parede e refrigerador. A Figura 2.8 mostra um desenho esquemático da
cavidade onde é posicionado o compressor.

Housing

Figura 2.8 - Desenho esquemático do refrigerador em aplicação.

Tomando como pressuposto as considerações colocadas acima, a cavidade


pode ser aproximada por um prisma de base retangular com dimensões a; b; c.
Assim, para freqüências nas quais o comprimento de onda é pequeno em relação às
dimensões da cavidade, tem-se que a equação da onda tridimensional em
coordenadas retangulares pode ser escrita na forma:

∂ 2 p ( x, y , z , t )
c0 ∇ p ( x, y, z , t ) −
2 2
=0. (2.26)
∂t 2
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 26

A partir de um sinal harmônico, a pressão sonora pode ser descrita pela


Equação 2.27:

p ( x, y, z , t ) = P ( x, y, z ) e jωt . (2.27)

Substituindo a Equação 2.27 na Equação 2.26 e considerando que k = ω/c0


obtém-se a equação de Helmholtz tridimensional para coordenadas retangulares:

∇ 2 P ( x, y , z ) + k 2 P ( x, y , z ) = 0 , (2.28)

com k 2 = kx2 + k y 2 + kz 2 , (2.29)

e desta forma tem-se:

P ( x, y, z ) = Almn cos(k x ( l ) x) cos(k y ( m ) y ) cos(k z ( n ) z ) . (2.30)

Conseqüentemente, obtém-se:

 lπ   mπ   nπ  ,
2 2 2

ωlmn = c0π   +   +  (2.31)


 a   b   c 

sendo l; m; n os fatores que representam os modos acústicos nas direções x; y; z


respectivamente.
Finalmente, a solução completa para o padrão de pressão sonora que ocorre
dentro de uma cavidade com forma de paralelepípedo pode ser expressa pela
Equação 2.31:

∞ ∞ ∞
p ( x, y, z , t ) = ∑∑∑ Almn cos(k x ( l ) x) cos(k y ( m ) y ) cos(k z ( n ) z )e jωlmnt . (2.32)
l =1 m =1 n =1
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 27

2.11.1 Método Numérico de Elementos de Contorno

O objetivo da simulação numérica é discretizar um domínio em elementos


suficientemente pequenos e calcular as respostas do sistema vibro-acústico na
forma de deslocamento, velocidade, força ou mesmo pressões e intensidade
sonoras em todos os nós da geometria.
O Método de Elementos de Contorno (MEC), também conhecido pelo seu
nome em inglês, Boundary Element Method (BEM), é uma técnica numérica para
resolver equações integrais de contorno que descrevem matematicamente as leis
físicas relacionadas aos fenômenos existentes em um determinado problema de
engenharia (PESSOLANI [15]).
O Método de Elementos de Contorno (MEC) é uma boa ferramenta para
solução de determinados problemas acústicos em campo aberto, em relação aos
métodos diferenciais, uma vez que permite a redução da dimensão do problema, já
que a solução é obtida apenas no contorno, sem a necessidade de se analisar todo
o seu domínio, reduzindo o número de elementos e conseqüentemente de variáveis
e equações utilizadas.
A técnica consiste basicamente na divisão do contorno do domínio em
segmentos, chamados de elementos do contorno. É nesses elementos que as
integrais de contorno serão resolvidas. Isso é feito pela aproximação das funções
integrais por funções interpoladoras definidas em função de pontos escolhidos em
cada elemento, sendo estes pontos chamados de pontos nodais ou nós.
Essa aproximação discreta dá origem a um sistema de equações a ser
resolvido para obter a solução final do problema. Neste trabalho foi utilizado um
desmembramento do método, denominado de BEM Indirect, utilizado pelo software
comercial Sysnoise. Neste método o seguinte sistema de equações é criado e
resolvido para cada freqüência em análise (LMS SYSNOISE DOCUMENTATION
[17]):

 B C t  σ   f 
  .  =   , (2.33)
C D   µ   g 

Na qual as variáveis ou potenciais são conhecidas como:


• σ é o vetor single layer potentials (jump of velocity);
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 28

• µ é o vetor double layer potentials (jump of pressure);


• f e g são os vetores de excitação.

Os vetores jump of velocity e jump of pressure na superfície BEM são também


chamados de resultados de superfície primária. É a partir destes resultados que a
pressão sonora, velocidade e, conseqüentemente, a intensidade sonora podem ser
calculadas através de um pós-processamento nos pontos desejados do campo
acústico, denominados Field Points. A pressão num field point arbitrário p é obtida a
partir destes valores potenciais, utilizando a seguinte Equação:

Pp = {a} { p} + { p} {vn } .
t t
(2.34)

Se os Field Points são definidos na superfície do elemento de fronteira, será


necessário especificar em qual lado da superfície eles estão (positivo e negativo com
relação ao eixo normal ao elemento de área).
O cálculo dos resultados das superfícies primárias é a etapa que mais
consome tempo de CPU, uma vez que envolve a inversão de matrizes complexas e
densas. O pós-processamento dos Field Points dos resultados da superfície primária
é relativamente rápido, uma vez que envolve somente uma integração numérica, a
menos que haja uma grande quantidade de Field Points (LMS SYSNOISE
DOCUMENTATION [17]).

2.12 Isolamento Vibracional

Isolamento de vibração significa a redução da transmissão de vibração ou força


de uma estrutura para outra. Para executar esta tarefa são utilizados isoladores que
são elementos flexíveis, com uma dada rigidez e capacidade de amortecimento,
interpostos entre estas duas estruturas e que podem ser encontrados
comercialmente em diferentes tamanhos e capacidades (BERANEK&VÉR [19]).

2.12.1 Isoladores tipo Mola e de Borracha

A maioria dos isoladores comerciais incorpora elementos resilientes


elastoméricos ou metálicos. Os metálicos são encontrados principalmente na forma
de molas helicoidais, mas também na forma de molas de lâmina ou cônicas. Já os
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 29

elastoméricos são encontrados na forma de gaxetas, ilhós, luvas e arruelas, entre


outros formatos, adequados a diversas aplicações.
No caso de um compressor, a função das molas internas de suspensão é de
suportar o conjunto moto-compressor, ligando-o estruturalmente à carcaça e fazendo
com que a transmissibilidade das forças dinâmicas entre o conjunto e carcaça seja
reduzida a um valor bastante inferior àquele observado caso as mesmas não
estivessem presentes.
As molas internas podem ser posicionadas na região inferior da carcaça, como
no caso do compressor Embraco mostrado na Figura 2.4. Como se trata de uma
conexão estrutural entre o conjunto moto-compressor e a carcaça, as molas são um
importante caminho de transmissão de vibração e devem ser escolhidas e
posicionadas adequadamente a fim de minimizar a excitação do ponto de contato.

2.12.2 Isolamento de Corpo Rígido

O corpo de um compressor utilizado em aplicações domésticas, montado


numa placa-base posicionada sobre um conjunto de isoladores, se comporta como
se fosse um corpo rígido com movimentos de translação em três direções ortogonais
principais (x; y; z) e movimentos de rotação em três planos ortogonais principais
( φx ; φ y ; φz ), até a freqüência de aproximadamente 1000 Hz (LENZI [5]).

Desta forma, para obter resultados satisfatórios, a vibração de seu corpo, deve
ser descrita através de um modelo com seis graus de liberdade, tal qual ilustrado na
Figura 2.9, na qual se observa a representação esquemática de um compressor, sua
placa-base e seus isoladores.

Fz

Fy

Fx

Figura 2.9 - Esquema do compressor com seis graus de liberdade.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 30

No entanto, para freqüências acima de 1000 Hz, a análise deve ser feita na
forma de impedâncias dos elementos que compõem o sistema separadamente, uma
vez que a partir desta freqüência os modos de corpo flexível começam a se
manifestar. As impedâncias do compressor, placa-base e tubos podem ser obtidos
experimentalmente utilizando martelos; shakers e acelerômetros ou mesmo através
de modelos numéricos.

2.13 Impedância da Base e Compressor

Os suportes externos sustentam todo o conjunto moto-compressor e carcaça.


Estes devem ser escolhidos principalmente em função do modelo de gabinete a
serem fixados; grau de isolamento requerido; peso do compressor e custo.
Uma parte da vibração da carcaça será transmitida através do suporte ao
gabinete do refrigerador, sendo esta contribuição maior ou menor, dependendo da
impedância mecânica associada a estes suportes e ao compressor.
A impedância mecânica é definida como sendo a razão entre a força aplicada e
velocidade resultante em um determinado ponto da estrutura em análise, sendo
representada pela expressão (BERANEK&VÉR [19]):

Força  N .s 
zɶmec = . (2.35)
Velocidade  m 

A impedância pontual é assim denominada quando a força e a velocidade são


medidas no ponto de excitação da estrutura. No entanto, pode-se aplicar a força
num ponto e medir a velocidade em outro, sendo denominada como impedância de
transferência. A Figura 2.10 mostra um esquema simplificado das impedâncias
existentes nos pontos de ligação base-compressor.

Figura 2.10 - Representação esquemática das impedâncias num compressor.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 31

A situação acima pode ser analisada sob o ponto de vista do inverso da


impedância, denominada mobilidade M, dos elementos que compõem o sistema:
compressor (Mcomp), isolador (Misol) e base (Mbase). A equação para o cálculo da
transmissibilidade em termos de mobilidade é derivada da equação mostrada por
BERANEK [20]:

Fe M comp + M base
H Fe − Fs = Tr = = . (2.36)
Fs M isol + M comp + M base

Conforme mencionado anteriormente, as molas helicoidais utilizadas para


apoiar o conjunto moto-compressor são capazes de reduzir a transmissibilidade das
vibrações em baixas freqüências, mas são pouco eficazes nas freqüências mais
elevadas. Em função disso, utilizam-se também amortecedores sintéticos externos
fixados à placa-base, responsáveis por conectar a carcaça do compressor à base do
gabinete do refrigerador.

Carcaça

Isoladores
Placa-base

Figura 2.11 - Carcaça, placa-base e isoladores de um compressor.

Como a placa-base é a principal conexão da estrutura do compressor ao


refrigerador, esta detém um papel importante no isolamento das vibrações. Seus
elementos devem ser analisados criteriosamente com o objetivo de isolar as faixas
de freqüências não abrangidas pelas molas helicoidais montadas dentro da carcaça
do compressor. A Figura 2.11 mostra o conjunto carcaça, base e isolador externo.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 32

2.14 Fluxo de Energia entre componentes

O fluxo de energia vibratória do compressor para o refrigerador pode ser


calculado para cada tipo de esforço através das seguintes expressões (BAARS [22]):

Re { F .u *} ,
1
Wtrans _ base = (2.37)
2

ou

1 2
Wtrans _ base = u .Re { zɶbase } , (2.38)
2

sendo u a velocidade da base no ponto de apoio dos isoladores do compressor e F


o respectivo esforço aplicado no mesmo ponto.
Variações significativas que ocorrem no fluxo de energia vibratória deverão
ocorrer em função das variações nas impedâncias dos componentes acoplados, no
caso do compressor, a base e principalmente a impedância do elemento elástico ou
isolador.

2.15 Modelo de Ondas de Flexão e Longitudinais em Elementos tipo Tubo-Vigas

A teoria fundamental em vibrações estruturais mostra que é possível prever a


transmissão de potência vibratória em vigas e placas. No entanto, na prática, as
estruturas responsáveis pela transmissão de energia vibratória assumem formas
mais complexas, tais como as vigas curvas existentes nos tubos de sucção e
descarga do compressor de um refrigerador LENZI [5].
Na tentativa de resolver este problema, Walsh&White mencionado em LENZI
[5], desenvolveram expressões analíticas que descrevem a transmissão de potência
vibratória devido à propagação de ondas de flexão, longitudinais e de cisalhamento
em vigas com raio de curvatura constante. Assumindo o movimento de onda
senoidal, foram obtidas expressões que relacionam a transmissão de potência média
no tempo com a amplitude das ondas em propagação.
Considerando uma parte da viga curva na Figura 2.12, a coordenada
circunferencial medida em torno da linha central é s, a coordenada normal à linha
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 33

central é z e a coordenada radial geral é r. Os deslocamentos tangenciais e radiais


são respectivamente U(r,s,t) e W(r,s,t).

Figura 2.12 - Representação de uma viga curva (LENZI [5]).

Assumindo o material como sendo isotrópico e homogêneo, o módulo de


Young E, o módulo de cisalhamento G e o coeficiente de Poisson ν podem ser
tratados como constantes. Portanto, segundo LENZI [5], resultados derivados da
Teoria de Cascas Finas de Flügge e de Love podem ser visualizadas na Tabela 2.4.
Estes resultados são obtidos a partir da integração das tensões ao longo de
espessura da viga, obtendo as resultantes da força e do momento, considerando o
alongamento da linha de centro durante o movimento de flexão.

Tabela 2.4 - Forças resultantes para barras curvas (LENZI [5]).


Equações de Incluindo inércia Incluindo deformações de
Componente Equações de Flüge
Love rotativa cisalhamento
w ∂u w ∂u w ∂u
Força N = SE ( + ) N = SE ( + ) N = SE ( + )
w ∂u R ∂s R ∂s R ∂s
N = SE ( + )
Circunferencial R ∂s EI w ∂ 2 w EI w ∂ 2 w EI w 1 ∂u ∂φ
+ ( + ) + ( + ) + ( + − )
R R 2 ∂s 2 R R 2 ∂s 2 R R 2 R ∂s ∂s
∂ u ∂w w ∂2w w ∂2w w 1 ∂u ∂φ
Momento Fletor M = EI ( − ) M = − EI ( − ) M = − EI ( − ) M = − EI ( 2 + − )
∂s R ∂s R 2 ∂s 2 R 2 ∂s 2 R R ∂s ∂s
∂ w ∂2w 1
Força de Q = − EI ( − ) Q = κG ( S + )
∂ u ∂w
2
∂ w ∂ w 2
∂s R 2 ∂s 2 R2
Q = EI ( − ) Q = − EI ( − )
Cisalhamento ∂s 2 R ∂s ∂s R 2 ∂s 2 ∂ 2 2u ∂w  u ∂w 
− ρI 2 ( − ) x φ − ( − )
∂t R ∂s  R ∂s 
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 34

A potência vibratória é transmitida em meios contínuos através dos esforços


internos e dissipada ao longo do componente sob a forma de calor e ruído. Meios
contínuos, tais como os tubos de sucção e descarga do compressor, são capazes de
transmitir energia vibratória para o refrigerador.
As expressões para a transmissão de potência em vigas curvas podem ser
obtidas a partir das equações de deslocamento e de forças resultantes mostradas
pela Tabela 2.4, relativas às ondas de flexão e longitudinais.

Figura 2.13 - Representação esquemática dos esforços atuantes no tubo.

Considerando os esforços Fx ; Fy ; Fz ; M x ; M y ; M z e as respectivas velocidades

axiais u x ; u y ; u z e angulares θɺx ;θɺy ;θɺz , representados pela Figura 2.13 e baseados em

(BAARS [22]), tem-se a energia total transmitida pelos tubos pode ser colocada da

seguinte forma:

1
2  { x x } { } {i i x x } { i i  }
Wtrans _ tubo = ⋅  Re F .u * + ... + Re F .u * + Re M .θɺ * + ... + Re M .θɺ *  . (2.39)

Os conceitos apresentados neste capítulo têm o objetivo de auxiliar no


entendimento dos mecanismos de geração, transmissão e radiação do ruído por
componentes que formam um refrigerador, fornecendo os subsídios básicos para
que os demais capítulos possam ser melhor compreendidos e desenvolvidos.
CAPÍTULO 3
3- PREPARAÇÃO DA CÂMARA REVERBERANTE PARA MEDIÇÃO DE
POTÊNCIA SONORA

Este capítulo tem o objetivo de descrever os passos executados para


adequação parcial à norma, dos tempos de reverberação da câmara reverberante,
cujo volume é de 200 m3, pertencente ao Laboratório de Vibrações e Acústica (LVA)
da UFSC.

3.1 Etapas Gerais

Conforme já mencionado no Capítulo 2, as câmaras reverberantes são


projetadas para se obter a condição mais próxima possível de um campo difuso, na
qual a energia média por unidade de volume em qualquer região da câmara é
aproximadamente constante (BERANEK&VÉR [19]).
Normalmente as superfícies da câmara devem ser rígidas e refletoras tanto
quanto possíveis, com coeficiente de absorção médio das paredes de no máximo
0,06. No entanto, para freqüências abaixo da freqüência de Waterhouse, neste caso
de 342 Hz aproximadamente, a norma ISO 3741 recomenda um coeficiente de até
0,16.
Foi diante destas exigências da norma que se percebeu a necessidade do
projeto, fabricação e inserção de painéis de absorção sonora tipo membrana, para
controle do tempo de reverberação da câmara reverberante.
Primeiramente, se estabeleceu uma linha base de referência no projeto, ou
seja, se buscou conhecer a situação do tempo de reverberação TR antes que
qualquer objeto fosse inserido dentro da câmara reverberante.
Após a medição do tempo de reverberação com a câmara vazia, foram
constatados valores muito acima daqueles exigidos pela norma de potência sonora,
em especial para as bandas de freqüências mais baixas em torno de 100 Hz, na
qual os valores alcançavam aproximadamente 17 segundos.
Baseando-se na curva do tempo de reverberação e nos limites máximo e
mínimo para o coeficiente de absorção, foi utilizado um programa escrito em
linguagem computacional do software comercial Matlab 7.0®, baseado num modelo
analítico descrito por COX&D’ANTONIO [21] e reproduzido no Item 3.2 para projeto
Capítulo 3 - Preparação da Câmara Reverberante para medição de Potência Sonora 36

de painéis de membrana capazes de reduzir os tempos de reverberação que


desviassem exageradamente da norma.

3.2 Conceitos sobre Painéis de Absorção

Resumidamente, os principais parâmetros para o projeto destes painéis são:


profundidade do painel e material acústico utilizado, responsáveis respectivamente
por estabelecer a rigidez e amortecimento equivalente do modelo utilizado; área total
da membrana; densidade e sua espessura, que definem a massa do modelo de um
grau de liberdade e também são responsáveis pelo nível de atenuação alcançado
pelo painel numa determinada banda de freqüência de sintonia.
O absorvedor de membrana é considerado um absorvedor tipo ressonante e,
em função disso, seu mecanismo de absorção é caracterizado e modelado
analiticamente por um sistema de um grau de liberdade, no qual há uma massa
vibrando sobre uma mola e um amortecedor equivalente.

Figura 3.1 - Painel de Membrana.

Este absorvedor de membrana, conforme ilustrado pela Figura 3.1, consiste


numa cavidade fechada lacrada por uma membrana flexível que é forçada a vibrar
sobre um colchão de ar e material poroso fixado nas paredes internas da cavidade,
sob a ação de uma onda sonora incidente em sua superfície externa, que está em
contato com o campo acústico.
A massa do absorvedor de membrana pode ser expressa na forma de sua
densidade superficial m”, em kg/m², e a mola do sistema pode ser representada pela
compressibilidade do volume de ar que fica enclausurado dentro desta cavidade.
Capítulo 3 - Preparação da Câmara Reverberante para medição de Potência Sonora 37

A pressão sonora que incide na membrana é capaz de movê-la, resultando na


compressão e rarefação do ar que deve estar enclausurado na cavidade. É
exatamente o movimento do ar que atravessa o interior do material poroso que
resulta em absorção sonora.
Problemas podem ocorrer se a membrana utilizada no painel for muito
pequena, pois a vibração desta não poderá ser considerada como a de um pistão
rígido, uma vez que a massa nas regiões de fronteira não se moverá livremente em
função da rigidez na fixação (COX&D’ANTONIO [21]).
Entretanto, é possível constatar que em muitas situações essa condição é
razoavelmente atendida para o caso na qual a membrana é suficientemente grande
e a rigidez das fronteiras pouco interfere no movimento da massa da membrana, que
tem sua densidade superficial calculada por:

m′′ = ρ m th , (3.1)

sendo ρm a densidade volumétrica do material da membrana e th sua espessura. A


rigidez kmola do volume de ar na cavidade é obtida da derivação da equação dos
gases p.νφ = cte em relação a ν:

ρ0 c0 2
kmola = , (3.2)
dp

na qual dp é a profundidade da cavidade. Tendo a fórmula para a rigidez é possível


calcular a freqüência de ressonância através da Equação:

1 ρ0 c0 2
f = . (3.3)
2π d p ρ m th

A Equação 3.3 pode ser reescrita na forma da Equação 3.4 para cavidades que
possuem em seu interior somente ar como preenchimento:
Capítulo 3 - Preparação da Câmara Reverberante para medição de Potência Sonora 38

60
f 60 = . (3.4)
m′′d p

Para cavidades que estão preenchidas não somente com ar, mas também com
material poroso, a Equação 3.5 é a mais indicada para o cálculo da freqüência de
ressonância, pois as condições do processo se alteram de adiabáticas para
isotérmicas:

50
f50 = . (3.5)
m′′d p

A Equação 3.5 foi utilizada para o cálculo das freqüências de ressonância dos
painéis de membrana projetados e inseridos na câmara reverberante do LVA no
início das atividades experimentais para o equilíbrio dos tempos de reverberação.
A obtenção do coeficiente de absorção no topo da superfície dos painéis foi
realizada utilizando um modelo para cálculo da impedância normal à superfície que é
o resultado da soma das impedâncias da membrana, camada de ar, camada de
material poroso, da forma como mostrada por COX&D’ANTONIO [21], reproduzida
neste texto pela Equação 3.6:

−izɶ por ρ 0 c0 cot(kd ar ) + ( ρ0 c0 ) 2


zɶabs = iω m′′ + ,
(3.6)
zɶ por − i ρ0 c0 cot(kd ar )

na qual zɶabs é a impedância acústica total na superfície do painel e zɶ por é a

impedância acústica na superfície do material poroso.


Para ondas planas incidindo sobre a superfície em questão, o coeficiente de
absorção para cada ponto de um absorvedor pode ser expresso segundo o fator de
reflexão R(θ), através da Equação 3.7 (BERANEK&VÉR [19]):

energia absorvida
α (θ ) = = 1 − R (θ ) .
2
(3.7)
energia incidente
Capítulo 3 - Preparação da Câmara Reverberante para medição de Potência Sonora 39

Enquanto a impedância da superfície expressa a razão entre pressão e


velocidade da partícula, o fator de reflexão expressa uma razão entre duas pressões
e após realizar algumas manipulações algébricas e aplicações de condições de
continuidade de pressão, obtém-se:

zɶabs
cos (θ ) − 1
ρ 0 c0
R (θ ) = . (3.8)
zɶabs
cos (θ ) + 1
ρ 0 c0

Desta forma, pode-se obter o coeficiente de absorção para um determinado


ângulo de incidência θ, conforme descrito pela Equação 3.9:

2
zɶabs
cos (θ ) − 1
ρ 0 c0
α (θ ) = 1 − . (3.9)
zɶabs
cos (θ ) + 1
ρ 0 c0

Ao se integrar este coeficiente ao longo de toda a faixa de incidência possível,


como o encontrado em campos difusos, obtém-se o coeficiente de absorção total da
superfície para um campo difuso incidente:

π /2

α = 2 ∫ α (θ ) sen (θ ) cos (θ ) . (3.10)


0

3.3 Painéis Utilizados

Os painéis, conforme já mencionado, são do tipo membrana, com lã de rocha


como material de absorção inserido dentro de sua cavidade, e foram fabricados pela
empresa Embraco S/A.
Capítulo 3 - Preparação da Câmara Reverberante para medição de Potência Sonora 40

Foram utilizados ao todo 18 painéis para redução do tempo de reverberação da


câmara. A Figura 3.2 ilustra apenas 8 destes painéis já instalados nas paredes da
câmara reverberante. A lista completa de painéis utilizados está descrita abaixo:

• 6 painéis de 125 Hz; 4 painéis de 160 Hz; 2 painéis de 200 Hz;


• 2 painéis de 250 Hz; 2 painéis de 315 Hz; 2 painéis de 400 Hz.

Figura 3.2 - Painéis de absorção sonora fixados nas paredes da câmara reverberante do
Laboratório de Vibrações e Acústica.

Os valores obtidos para os tempos de reverberação TR podem ser visualizados


na Figura 3.3, os quais são evidenciados:

• os limites inferior (0,96 s) e superior (2,55 s) definidos pela norma de potência


sonora para as bandas de terço de oitava no intervalo de 100 Hz até 5000 Hz;
• os valores do tempo de reverberação da câmara sem painéis de absorção;
• os valores estimados pelo modelo analítico descrito por COX&D’ANTONIO
[21];
• os valores obtidos experimentalmente após a inserção dos painéis de
absorção.
Capítulo 3 - Preparação da Câmara Reverberante para medição de Potência Sonora 41

Figura 3.3 - Tempos de Reverberação.

Os resultados obtidos foram considerados bastante satisfatórios, uma vez que


os tempos de reverberação nas baixas freqüências, região de maior incerteza na
medição de potência sonora, em função da densidade de modos acústicos ser
pequena, foram reduzidos consideravelmente e nivelados dentro da faixa
recomendada pela norma ISO 3741.
Nas médias e altas freqüências os tempos de reverberação ultrapassam
ligeiramente os valores recomendados pela norma, porém, este fato não deve ser
considerado um problema em virtude das seguintes razões:

• A faixa de maior interesse da análise está nas freqüências baixas, em virtude


da característica do espectro de ruído do refrigerador;
• A densidade modal segue uma tendência de crescimento à medida que a
freqüência aumenta, o que é positivo na redução da incerteza de medição.
CAPÍTULO 4
4- PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DAS
PRINCIPAIS FONTES DE RUÍDO

Este capítulo tem o objetivo de descrever os passos executados ao longo deste


trabalho, no que tange a procedimentos experimentais, para obtenção da resposta
global do sistema e também das componentes associadas aos caminhos de
transmissão de vibração entre o compressor e gabinete do refrigerador.

4.1 Atenuação ou isolamento dos caminhos de transmissão

Estes experimentos compreenderam uma série de diferentes montagens entre


o compressor e o gabinete do refrigerador, utilizando a câmara reverberante como
ambiente de medição, concebidas com o objetivo de segregar um determinado
caminho de transmissão, para que este contribuísse com menor intensidade ou
mesmo não mais contribuísse para o ruído global do sistema.
Resumidamente, o procedimento consistiu em medir a pressão sonora na
câmara reverberante, para posteriormente calcular o Nível de Potência Sonora
utilizando o método da comparação descrito na norma ISO 3741, em cada uma das
configurações desenvolvidas, obtendo experimentalmente o grau de influência de
cada um dos caminhos em relação à resposta global do sistema.
Em princípio, caso fosse possível isolar ou separar de maneira absoluta cada
um dos caminhos de transmissão existentes entre o compressor e o sistema
avaliado, assim como manter as impedâncias originais das conexões, poderia ser
obtida a contribuição de cada um destes caminhos implementando as montagens
simultaneamente da seguinte forma:

• Contribuição da base: Isolando a vibração do tubo de descarga + vibração


do tubo de sucção + radiação direta do compressor;
• Contribuição do tubo de descarga: Isolando a vibração da base + vibração
do tudo de sucção + radiação do compressor;
• Contribuição do tubo de sucção: Isolando a vibração da base + vibração do
tudo de descarga + radiação do compressor;
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 43

• Contribuição da radiação da carcaça do compressor: Isolando a vibração


da base + vibração do tubo de sucção + vibração do tubo de descarga.

É importante lembrar que para esta análise foram negligenciadas as fontes de


ruído do refrigerador não relacionadas com a radiação direta e transmissão de
vibração pela base e tubos: Partindo deste pressuposto, os itens apresentados na
seqüência do texto foram desenvolvidos experimentalmente, tendo os diversos
resultados obtidos apresentados na forma de gráficos de Níveis de Potência Sonora
do sistema de refrigeração em questão.

4.2 Atenuação da radiação direta do compressor

A primeira montagem realizada consistiu no posicionamento de uma placa de


aço com 25 mm de espessura capaz de tampar a cavidade traseira do Housing,
juntamente com uma massa utilizada em isolamento térmico, com o objetivo de
preencher os orifícios remanescentes no entorno da região inferior do gabinete.
Esta montagem, ilustrada pela Figura 4.1, mostra a vista lateral do refrigerador,
assim como a placa de aço utilizada em conjunto com a massa isolante em seu
contorno. O objetivo é atenuar a passagem de radiação direta do compressor para o
ambiente e desta forma quantificar preliminarmente o grau de contribuição do
compressor para o ruído global do refrigerador.

Vista lateral do Refrigerador


Massa Isolante

Porta do
Placa de aço
Refrigerador

Bancada de apoio

Figura 4.1 - Montagem para atenuação da radiação direta do compressor.

Uma vez finalizada a montagem dos equipamentos de medição e


posicionamento do refrigerador e microfones dentro da câmara reverberante, as
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 44

medições de pressão sonora foram realizadas, com posterior cálculo do Nível de


Potência Sonora mostrado pelo gráfico da Figura 4.2.

Figura 4.2 - Nível de Potência Sonora antes e após atenuação da radiação do compressor
utilizando a placa metálica.

Observa-se através da curva em verde que, ao se isolar a radiação do


compressor, obtém-se valores de atenuação mais expressivos para as freqüências
altas do espectro (iguais ou superiores a 1000 Hz) do que aqueles percebidos nas
freqüências baixas, em especial quando se observa o pico na banda de 200 Hz que
se mantém praticamente inalterado antes e após a colocação da placa de aço,
responsável por atenuar a radiação direta do compressor.
As atenuações mais significativas são observadas na freqüência de 160 Hz e
250 Hz, mas principalmente, em todas as bandas acima de 1000 Hz, e em função
desta característica, intervenções sobre a mesma são capazes de causar reduções
importantes no espectro de ruído do sistema de refrigeração.
Entretanto, especificamente com relação as freqüências de 160 Hz, 250 Hz e
1000 Hz, acredita-se não somente estar relacionada com a radiação do compressor,
mas também com a radiação gerada pela placa-base ou outra fonte que seja esteja
localizada dentro do Housing. As investigações desenvolvidas nos próximos itens,
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 45

utilizando outras metodologias, trarão maiores informações à respeito desta


hipótese.

4.2.1 Isolamento das vibrações do compressor transmitidas através da placa-base

Uma nova montagem foi elaborada, desta vez com o objetivo de atuar no
caminho de transmissão das vibrações que são transmitidas entre o compressor e o
gabinete do refrigerador, através do caminho estrutural formado pela conexão da
placa-base ao refrigerador.
A Figura 4.3 ilustra a montagem em questão que consistiu na elaboração de
uma base auxiliar utilizando tiras de material visco-elástico sobrepostas umas às
outras, de maneira que se pudesse apoiar o gabinete do refrigerador diretamente no
chão, e não mais na placa-base de alumínio que suporta o compressor e que serve
de conexão mecânica entre o compressor e o refrigerador.

Espaçamento
Tiras Viscoelásticas

Traseira do
Refrigerador

Vista Ampliada
da Lateral

Lateral

Piso
Figura 4.3 - Placa-base desconectada do gabinete.

As tiras visco-elásticas foram cortadas e coladas entre si em uma quantidade


suficiente para que as dimensões do conjunto fosse capaz de separar
mecanicamente a base do compressor do gabinete, assim como se adequar ao
espaço existente na região inferior da periferia do refrigerador.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 46

Uma vez finalizada esta montagem, esperava-se que o ruído medido pelos
microfones não mais apresentasse a parcela de contribuição associada à energia
vibratória gerada pelo compressor e que se propaga para o refrigerador através da
placa-base.
O resultado em termos de nível de potência sonora pode ser visualizado
através da Figura 4.4. Neste caso, observou-se alterações pouco significativas no
espectro em relação às diferenças percebidas na montagem feita para isolar a
radiação direta do compressor na maior parte das bandas analisadas, em especial
na região das bandas acima de 1000 Hz.

Figura 4.4 - Nível de Potência Sonora antes e após o experimento com a placa-base
desconectada do gabinete.

Algumas diferenças mais significativas são observadas em relação ao espectro


original do refrigerador nas bandas de 160 Hz, 250 Hz e 1000 Hz, no entanto, estas
diferenças podem ser atribuídas à alteração da mobilidade da placa-base imposta
pela sua montagem não parafusada no gabinete do refrigerador, assim como o
amortecimento imposto pelas tiras viscoelásticas nesta montagem utilizadas para
dar suporte a placa-base ao encostar no chão.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 47

Desta forma, observa-se que este tipo de montagem não reproduz de maneira
suficiente a impedância acústica encontrada pelo compressor em seu apoio original
e em função disso percebe-se que os resultados apresentados não apontam
tendências claras de atenuação em determinada faixa de freqüência.

4.2.2 Atenuação do ruído radiado pelo Gabinete

Uma terceira montagem teve o objetivo de atenuar o ruído radiado diretamente


pelo gabinete do refrigerador, associado à vibração proveniente do compressor e
também da pulsação e fluxo do gás que circula pelo circuito de refrigeração, porém
interferindo o mínimo possível na radiação direta do compressor.
Para esta montagem foi construída uma caixa de madeira, fazendo uso de
placas de 25 mm de espessura com revestimento interno em material poroso de
absorção sonora, para ser colocada em volta do refrigerador, deixando aberta
somente a região onde fica o compressor, cavidade inferior traseira do gabinete.
A Figura 4.5 mostra a caixa de madeira mencionada, envolvendo o
refrigerador, já posicionado próximo à superfície da câmara, de forma semelhante ao
posicionamento adotado em aplicação, na qual o mesmo é posicionado junto à
parede do ambiente residencial.

Parede

Região Traseira
Região Frontal
da Caixa
da Caixa

Região do
Compressor Refrigerador
Piso da Câmara
Figura 4.5 - Montagem utilizando caixa de madeira no entorno do gabinete para atenuação de
sua radiação.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 48

Região Traseira
da Caixa

Material
Compressor Poroso
Refrigerador

Figura 4.6 - Região Traseira da Caixa e Refrigerador.

A Figura 4.6 mostra com maior clareza o posicionamento do refrigerador dentro


da caixa de madeira. É importante salientar que o refrigerador não entra em contato
físico com a caixa de madeira em ponto algum, para não ocorrer interferência
mecânica nesta montagem, uma vez que o objetivo é atenuar o ruído do refrigerador
por imposição de barreira acústica.

Figura 4.7 - Nível de Potência Sonora antes e após a atenuação da radiação do gabinete.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 49

O resultado obtido para este experimento pode ser visualizado através da


Figura 4.7. Neste caso é possível observar atenuações bastante expressivas nas
bandas de baixas freqüências, chegando a valores de cerca de 15 dB para a banda
de 200 Hz.
Nas freqüências acima de 1000 Hz foram obtidas atenuações de no máximo 3
dB, consideradas menos expressivas. É importante observar que mais uma vez a
freqüência de 1000 Hz não apresentou atenuação e a freqüência de 500 Hz
apresentou uma atenuação de aproximadamente 3 dB
O conteúdo energético do espectro do refrigerador nas bandas de baixa
freqüência se mostra de grande importância. Sabe-se de antemão que o ruído nesta
faixa não deve estar associado à radiação direta do compressor, e desta forma, as
primeiras evidências da existência de outras fontes de ruído começam a surgir.
Neste ponto, é importante lembrar que o ruído do refrigerador apresenta
influência, não somente da interação vibro-acústica entre compressor e gabinete,
mas também do escoamento bifásico do evaporador e condensador, assim como da
pulsação de gás ao entrar e sair do compressor.

4.2.3 Atenuação da radiação do Gabinete e vibração da Placa-base

Neste experimento, duas das formas de atenuação aplicadas anteriormente


foram utilizadas agora simultaneamente, ou seja, tanto a radiação do gabinete,
assim como o isolamento da vibração do compressor que atinge o refrigerador
através da placa-base.
Observa-se na Figura 4.8 que as características de atenuação das duas
montagens com a caixa de madeira e com o apoio em tiras de material visco-
elástico, quando realizadas simultaneamente, acabam por se sobrepor e formar um
terceiro espectro, no qual a atenuação é relativamente equilibrada ao longo das
bandas de freqüência acima de 1000 Hz.
Atenuações no Nível de Potência Sonora de até 10 dB são observadas nas
bandas entre 100 Hz e 800 Hz, com destaque para as bandas de 160 Hz, 200 Hz,
400 Hz e 800 Hz.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 50

Figura 4.8 - Nível de Potência Sonora antes e após o isolamento do gabinete e placa-base
simultaneamente.

Em resumo, a seqüência de medições tratada por este capítulo evidencia a


presença de fontes de ruído no refrigerador não associadas à radiação direta do
compressor.
A Figura 4.9 mostra uma síntese das montagens realizadas, e nela é possível
observar que a parcela mais significativa de atenuação sonora obtida ao utilizar a
placa de aço está especialmente distribuída nas freqüências acima de 1000 Hz,
região na qual é conhecido que o compressor apresenta a maior parcela de sua
energia acústica.
Para o caso do isolamento da base, observa-se algumas diferenças mais
significativas em relação ao espectro original do refrigerador nas bandas de 160 Hz,
250 Hz e 1000 Hz, no entanto, estas diferenças podem ser atribuídas a alteração da
mobilidade da placa-base imposta pela sua montagem não parafusada no gabinete
do refrigerador, assim como o amortecimento imposto pelas tiras.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 51

Figura 4.9 - Comparação entre as diferentes montagens.

Quando se utilizou a caixa de madeira, a interferência se deu em especial na


faixa de 125 Hz até 400 Hz e também na freqüência de 800 Hz, com influência bem
menos significativa nas freqüências acima de 1000 Hz.
Ao se realizar o isolamento da placa-base e gabinete simultaneamente,
percebeu-se uma redução maior do ruído global em relação aos demais
experimentos realizados. A redução na banda de 160 Hz permaneceu, relacionado
com o isolamento da placa-base, assim como significativas atenuações foram
obtidas nas bandas de 200 Hz, 400 Hz e 800 Hz.
É importante notar que para todos os tipos de montagem realizadas, com
exceção à primeira, o pico na banda de 1000 Hz permaneceu aproximadamente sem
alteração, fornecendo indicativos de que esta freqüência está eminentemente
associada com alguma fonte proveniente do Housing, não necessariamente o
compressor. Imagina-se que a placa-base do refrigerador possa exercer alguma
influência no ruído percebido para esta banda.
Não foi possível desenvolver o isolamento da vibração que se propaga para o
refrigerador através dos tubos em função de restrições de ordem experimental, no
entanto, estima-se que a interferência deste caminho seja bastante pequena, em
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 52

função da grande impedância que o sistema (gabinete) exerce sobre os tubos. Em


função disso, esta componente foi negligenciada nesta fase do trabalho, deixando
para análises futuras o levantamento de dados mais concretos a respeito deste
caminho.

4.3 Radiação sonora do Refrigerador utilizando Intensimetria Acústica

Esta etapa tem o objetivo de levantar maiores informações sobre a localização


das fontes, fazendo uso da técnica de intensimetria acústica, utilizando dados de
intensidade sonora que foram obtidos por via experimental no entorno do
refrigerador, utilizando a câmara semi-anecóica, em pontos pré-definidos por uma
grade de medição.
A Figura 4.10 ilustra esta grade de medição, composta por uma estrutura
metálica de alumínio e fios de nylon entrelaçados, formando uma rede quadriculada
de 592 pontos no centro de cada área formada pelo cruzamento entre os fios de
nylon.
Ao longo das medições a sonda de intensidade sonora foi posicionada
perpendicularmente a cada um destes pontos com o objetivo de medir a pressão
sonora nos dois microfones da sonda e posteriormente calcular o valor em módulo
da intensidade sonora, mapeando o campo acústico na direção normal à superfície
de medição.

Estrutura
Metálica

Figura 4.10 - Grade construída com tubos metálicos e nylon necessários na definição dos
pontos de medição discreta de intensidade sonora.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 53

O equipamento utilizado, ilustrado pela Figura 4.11, foi uma sonda de


intensidade sonora de tipo p-p (dois microfones medem a diferença de pressão
sonora em dois pontos separados por uma distância finita), da empresa BSWA-
TECH, sendo escolhido o espaçador de 12 mm, que abrange a faixa de freqüência
entre 160 Hz e 5000 Hz, conforme descrito pela especificação técnica da sonda de
intensidade.

ESPAÇADORES

MIC 01 MIC 02

Figura 4.11 - Vista superior da Sonda de Intensidade e seus acessórios.

O pós-processamento destes dados resultou em um mapa de cores do ruído


radiado no entorno do refrigerador, para as bandas de freqüência, capaz de fornecer
informações a localização das fontes de ruído do refrigerador em estudo, assim
como fornecer informações sobre a contribuição relativa destas fontes.
A região do refrigerador analisada foi o painel traseiro, uma vez que é
considerada aquela que mais contribui para o ruído do sistema. Nesta região, além
de suportar o compressor pela sua placa-base, estão posicionados os tubos de
sucção, descarga, assim como o condensador imediatamente atrás da chapa de
revestimento.
Sabe-se que estas estruturas do sistema são consideradas fontes de vibração
capazes de excitar a chapa externa do gabinete, superfície capaz de transferir com
grande eficiência, a energia vibro-acústica para o meio em sua volta.
Para ilustrar este fenômeno, pode-se visualizar entre as Figura 4.12 e 4.16,
uma representação esquemática da região traseira do refrigerador compreendendo
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 54

120 pontos de medição, sendo projetado o seu mapa de cores para as bandas de
160 Hz, 200 Hz, 400 Hz, 630 Hz e 1250 Hz respectivamente.
As figuras a seguir mostram com clareza a radiação das chapas do
refrigerador, sendo que as cores mais próximas do vermelho representam as regiões
na qual o nível de intensidade sonora é mais elevado e as cores tendendo a azul
são as regiões de nível menos elevado.

Figura 4.12 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 160
Hz (Fonte: LMS Pimento®).

Figura 4.13 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 200
Hz (Fonte: LMS Pimento®).
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 55

Figura 4.14 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 400
Hz (Fonte: LMS Pimento®).

Figura 4.15 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 630
Hz (Fonte: LMS Pimento®).

É importante lembrar que, em função do refrigerador não ter sua região traseira
posicionada em frente a uma parede, o ruído obtido apresenta diferenças em
relação ao ruído medido em câmara reverberante. No entanto, ainda assim, os
dados obtidos podem servir como parâmetro para localização das fontes.
Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 56

Figura 4.16 - Mapa de intensidade sonora da região traseira do refrigerador na banda de 1250
Hz (Fonte: LMS Pimento®).

As distribuições de intensidade sonora geradas por este procedimento de


medição podem ser associadas aos níveis de vibração da chapa traseira do
gabinete do refrigerador medidos no ponto central da placa, mostrados na Figura
4.17 pelo seu espectro de aceleração.

Figura 4.17 - Vibração da chapa traseira.


Capítulo 4 - Procedimentos de avaliação experimental das principais fontes de ruído 57

Apesar de ter sido tomado somente um ponto de medição de aceleração, na


Figura 4.17 é possível observar picos nas freqüências em torno de 160 Hz, 630 Hz e
1250 Hz e estes podem ser interpretados como evidências de que a energia nestas
freqüências possui importância para o ruído emitido pela placa traseira e,
conseqüentemente, para o Nível de Potência Sonora do sistema de refrigeração.
Já na Figura 4.18 é possível observar que a cor mais avermelhada está
bastante concentrada na região traseira inferior do gabinete até a terceira linha da
grade de medição, possivelmente associada ao pico de potência sonora encontrado
no espectro do compressor obtido pela fabricante Embraco, na banda de freqüência
de 500 Hz, e também visualizado nos gráficos obtidos por simulação numérica para
a radiação do compressor dentro do Housing.

Figura 4.18 - Mapa de intensidade sonora na região traseira inferior do refrigerador - 500 Hz
(Fonte: LMS Pimento®).

Os resultados experimentais apresentados anteriormente reforçam as


conclusões anteriores de que a energia acústica radiada por um refrigerador nas
baixas freqüências está preferencialmente associada às fontes que partem do
gabinete do refrigerador, seja pela vibração gerada pela pulsação do gás dentro do
circuito de refrigeração, seja pela própria vibração advinda do compressor
interagindo com a estrutura do sistema.
CAPÍTULO 5
5- ANÁLISE NUMÉRICA DA RADIAÇÃO SONORA

Este capítulo tem o objetivo de desenvolver um modelo numérico vibro-acústico


para o conjunto carcaça-gabinete em Elementos de Contorno, utilizando dados
provenientes de uma análise modal numérica, em conjunto com dados
experimentais, com o intuito de quantificar computacionalmente a radiação sonora
direta emitida pelo compressor em aplicação e regime permanente.

5.1 Análise Modal Estrutural: Malha da Carcaça do Compressor

O modelo vibro-acústico do refrigerador foi dividido em três partes principais, a


citar:
1. A malha que representa a carcaça do compressor;
2. A malha que representa as superfícies do gabinete do refrigerador;
3. A malha que representa a superfície do chão ou piso.

A primeira etapa realizada na análise numérica do conjunto compreendido pela


carcaça do compressor e superfície do gabinete foi gerar, a partir da geometria da
carcaça, sua malha estrutural em elementos finitos, com o intuito de obter suas
formas modais estruturais, necessárias à caracterização da vibração do modelo
completo do refrigerador na região compreendida pela carcaça do compressor.

Figura 5.1 - Malha estrutural tipo Shell do compressor gerada para obtenção de seus modos
estruturais de vibração.
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 59

A malha do tipo Shell da carcaça do compressor, mostrada na Figura 5.1, foi


elaborada com elementos triangulares de 10 mm e espessura de 3 mm, resultando
num modelo de 3145 elementos utilizado como fonte de dados para a interpolação
com os dados de aceleração experimentais, obtidos numa próxima etapa.
A discretização utilizada no modelo para análise modal estrutural é suficiente
para abranger o espectro até a banda de 6,3 kHz, utilizando a recomendação de
pelo menos 6 elementos por comprimento de onda (MARBURG, Steffen. et al. [16]),
e é superior àquela utilizada para o modelo completo do sistema, que inclui a
carcaça do compressor e as superfícies principais do gabinete do refrigerador.
Em função desta primeira etapa de simulação dos modos estruturais do
compressor exigir um tempo inferior a um minuto para ser finalizada, considera-se
não haver comprometimento dos recursos computacionais disponíveis para esta
simulação, uma vez que este tempo é muito inferior aos vários dias necessários para
a simulação do modelo completo do refrigerador.
Resultados obtidos de uma análise modal estrutural numérica em elementos
finitos servirão como uma fonte confiável de dados, uma vez que estes provêem as
formas de vibração da estrutura, ou seja, os modos de vibração e suas freqüências,
contribuindo na formação das condições de contorno de velocidade, quando estes
são combinados com os dados de aceleração obtidos experimentalmente e
convertidos para velocidade posteriormente.

5.2 Medições de Aceleração em Pontos da Carcaça do Compressor

Como segunda etapa, foram realizadas medições de aceleração na carcaça do


compressor em aplicação, utilizando o analisador de sinais Scadas da empresa
LMS, com o software Test.Lab®, em 30 pontos com o objetivo de levantar os dados
necessários à caracterização do comportamento dinâmico do compressor.
Os pontos foram escolhidos levando em consideração as regiões onde os
modos de vibração, obtidos da análise modal, se mostraram com maiores
amplitudes e também levando em conta o posicionamento fisicamente viável do
transdutor na superfície da carcaça do compressor instalado no refrigerador em
análise. A Figura 5.2 ilustra alguns exemplos dos pontos de medição utilizados no
modelo numérico.
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 60

Figura 5.2 - Vetores normais representando o local e direção aos quais foram realizadas as
leituras pelos transdutores de aceleração.

A definição das condições de contorno de velocidade é considerada uma das


principais dificuldades na simulação de campos acústicos gerados por vibrações
estruturais. Valores totalmente experimentais são mais realísticos na definição das
condições de contorno, no entanto, dificilmente estão disponíveis para o conjunto
completo de nós da malha numérica em questão (LMS SYSNOISE DOCUMENTATION
[15]).
É por esta razão que o método conhecido como Expansão Modal, encontrado
ao se utilizar a ferramenta Expand do software de simulação vibro-acústica
Sysnoise®, mostra-se uma alternativa interessante para o objetivo em questão, uma
vez que combina o melhor das duas fontes de informação colocadas nos itens
anteriores, ou seja:

1. utiliza os modos de vibração estruturais em elementos finitos, obtidos na


primeira etapa deste procedimento numérico;
2. extrapola os 30 pontos de aceleração da malha experimental para os
demais nós da malha numérica.

Desta forma, a junção dos modos estruturais numéricos da malha da carcaça


com os dados experimentais de aceleração obtidos em 30 pontos da carcaça do
compressor em aplicação, geraram o comportamento dinâmico utilizado como dado
de entrada do modelo vibro-acústico do sistema carcaça-gabinete. Ou seja, os
dados de saída desta etapa de expansão modal foram utilizados como condição de
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 61

contorno (entrada) de velocidade, da região da malha que representa a carcaça do


compressor.

5.3 Análise em Elementos de Contorno: Malha do Conjunto Compressor e Gabinete

A geometria da carcaça do compressor em formato CAD foi obtida através de


solicitação ao fabricante do produto em análise. Para o gabinete do refrigerador
elaborou-se uma geometria simplificada, mas que tivesse as condições suficientes
para se obter uma malha numérica do sistema completo, localizado num ambiente
simulado parcialmente anecóico, na qual as superfícies do chão e parede traseira
também se fazem representadas.
As geometrias do compressor e do refrigerador foram unidas de maneira que
se pudesse obter uma malha acústica do conjunto a ser utilizada num modelo
numérico de elementos de contorno reconhecido pelo software de simulação.
O cálculo da freqüência mais elevada capaz de ser avaliada pelo modelo, fez
uso da recomendação de utilizar pelo menos seis elementos para cada comprimento
de onda (MARBURG, Steffen. et al. [16]). Desta forma, combinações com dois graus
de refinamento da malha e três diferentes espaçamentos em relação à parede ou
Baffle, foram avaliadas no presente trabalho e terão seus resultados apresentados.

• Malha A com distâncias da parede de 10, 20 e 30 mm: 2032 elementos com ∆l


= 0,040 m são utilizados no gabinete e 3145 elementos com ∆l = 0,010 m para a
carcaça do compressor, sendo possível obter resultados até a banda de
freqüência de 1,6 kHz em função da discretização do gabinete.

Observa-se na Figura 5.3 o modelo em questão, que faz uso do Baffle,


recurso do software concebido com o objetivo de representar uma superfície com
dimensões infinitas, e que contribui no sentido de reduzir o número de elementos
necessários para formar a malha vibro-acústica.
Como em teoria o Baffle possui dimensões infinitas, não há interferência
deste último no ruído radiado. Com relação ao piso, foram feitos testes com
dimensões de malha diferentes e não se constataram diferenças perceptíveis a partir
da dimensão utilizada, cerca de 50 cm em cada lado do refrigerador, e por isso,
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 62

optou-se por adotar o menor tamanho possível para reduzir o tamanho da malha
utilizada.

Malha do Gabinete

Field Points

Baffle

Malha do Malha do
Compressor Piso

Figura 5.3 - Modelo com freqüência máxima de 1600 Hz.

Também pode ser observado na Figura 5.3 as superfícies que representam o


piso do ambiente onde o refrigerador está localizado, a cavidade onde é apoiado o
compressor e outros detalhes da malha do gabinete, como a separação deste último
em relação à malha do piso e também os cantos laterais ou superfícies que ajudam
a compor as formas e dimensões do Housing.
Como o método utilizado foi o BEM Indireto, o cálculo do campo acústico se
dá num ponto ou região definida pelo usuário após o processamento das variáveis
ou potenciais do sistema de equações descrito pelo Item 2.11.1. Nestes pontos ou
regiões, conhecidos como Field Points, que a intensidade, e conseqüentemente a
potência sonora, podem ser obtidos a partir de suas coordenadas.
Como pode ser observado nas Figura 5.3 e 5.5, os denominados Field Points
foram posicionados no entorno do refrigerador, na única região pela qual o ruído do
compressor pode se propagar por via direta, possibilitando desta forma o cálculo da
potência sonora total radiada pelo compressor em aplicação.
Uma comparação entre o resultado encontrado através deste modelo com as
três configurações de distância da malha do gabinete em relação ao Baffle e os
dados experimentais do compressor medido em câmara semi-anecóica, pode ser
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 63

visualizada na Figura 5.4. Vale lembrar que a curva para o compressor diz respeito a
medições de sua radiação sonora quando não instalado no sistema de refrigeração
e foi considerado na figura para comparar seus padrões de radiação sonora com os
dados simulados.

Figura 5.4 - Resultado Numérico vs. Experimental: Modelo fmáx = 1600 Hz.

Este modelo permitiu simular os efeitos da distância modelo do refrigerador


ao Baffle que representa a parede do ambiente. É possível perceber, através deste
resultado, que as diferenças maiores entre as simulações de diferentes distâncias da
parede chegaram a valores de até 8 dB e estas são mais significativas na região das
freqüências mais altas do espectro analisado.
Uma possível explicação para este fato está relacionado com a maior
dificuldade que ondas sonoras encontram para ultrapassar restrições com
dimensões da mesma ordem de grandeza do seu comprimento de onda. Neste caso,
quanto menor for a distância da parede, maior será a impedância acústica imposta
pelo meio, e menor será o ruído radiado.
A tendência observada no espectro experimental do ruído do compressor,
segundo a qual as bandas de freqüência baixa são menos importantes, enquanto
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 64

que as freqüências médias e altas representam a maior parte do ruído, também foi
observada pela simulação, exceto pela constatação de que alguns picos e vales
podem ser ressaltados, inclusive pelo fato de que a absorção das paredes do
Housing não foi modelada.

• Malha B com distâncias da parede de 10, 20 e 30 mm: 8104 elementos com ∆l


= 0,020 m são utilizados no gabinete e 3145 elementos com ∆l = 0,010 m para a
carcaça do compressor, sendo possível obter resultados no máximo até a banda
de freqüência de 2,5 kHz.

Malha do
Gabinete

Field Points

Baffle

Malha do
Piso
Malha do
Compressor

Figura 5.5 - Modelo com freqüência máxima de 2500 Hz.

Este modelo, com uma discretização mais elevada, foi elaborado com o
objetivo de analisar bandas de freqüências mais altas do espectro e também para
avaliar a influência do tamanho do elemento no Nível de Potência Sonora obtido,
uma vez que possíveis alterações causadas pelas regiões de interface, com
dimensões bastante pequenas, poderiam alterar o resultado em função da má
discretização.
Da mesma maneira que na malha A, observa-se na Figura 5.6, referente à
malha B, que a maior diferença alcançou cerca de 7,5 dB entre as curvas nas
freqüências a partir de 800 Hz. Para as freqüências mais baixas as diferenças entre
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 65

as curvas é pequena, não ultrapassando os 3 dB e são muito semelhantes para os


dois tipos de malha.

Figura 5.6 - Resultado Numérico vs. Experimental: Modelo fmáx = 2500 Hz.

É observado também na malha B a mesma tendência de aumento do Nível de


Potência Sonora à medida que a distância da parede é aumentada, justificada pela
redução da impedância acústica que exerce grande influência principalmente nas
freqüências mais elevadas.
Por último, a Figura 5.7 ilustra as diferenças entre a curva do Nível de
Potência Sonora experimental do compressor não conectado ao sistema, juntamente
com as curvas obtidas numericamente para as malhas A e B para a distância da
parede de 10 mm. As diferenças máximas encontradas são de 5 dB para a banda de
800 Hz e 4 dB para a banda de 1600 Hz. As demais bandas apresentam diferenças
em torno de 2 dB ou menores.
Capítulo 5 – Análise Numérica da Radiação Sonora 66

Figura 5.7 - Comparação entre as malhas "A" e "B".

Em função disso, considera-se que o grande aumento do tempo de simulação


de cerca de 12 horas para 144 horas, utilizando um computador pessoal com
processador Pentium de 3,04 GHz, ao se utilizar uma malha com discretização mais
refinada, não é justificado pela pequena diferença obtida nos resultados de Nível de
Potência Sonora encontrados entre os dois tipos de discretização.
Como o objetivo deste modelo foi verificar a influência da radiação da carcaça
do compressor nas freqüências baixas, quando este está instalado no refrigerador,
tem-se um argumento adicional para considerar os resultados encontrados pela
malha A adequados para representar o Nível de Potência Sonora radiado pelo
compressor em aplicação até a banda de freqüência de 1600 Hz.
CAPÍTULO 6
6- IDENTIFICAÇÃO DAS FONTES PELO MÉTODO TPA

6.1 Conceitos fundamentais

Este item aborda a técnica largamente utilizada na indústria automobilística


denominada Transfer Path Analysis (TPA), também denominada Source Path
Contribution (SPC). É uma ferramenta utilizada para a avaliação da contribuição dos
diferentes caminhos de propagação de energia vibro-acústica existentes entre uma
ou mais fontes e um ou mais receptores, ligados entre si por um número n de
conexões mecânicas.
O TPA tradicional já foi utilizado em trabalhos de identificação dos caminhos
de transmissão de energia vibro-acústica em problemas da indústria automobilística
e aeronáutica com o objetivo de obter um maior conforto vibro-acústico em veículos
de transporte, tais como automóveis e aviões.
A metodologia tradicional, descrita pelas referências [23 a 27] consiste em três
etapas, a citar:

1. Determinar funções de transferência associadas aos caminhos de


transmissão j sob condições experimentais, sendo a fonte normalmente
desconectada do sistema, entre o ponto de entrada da energia vibratória e
o ponto onde é medida a resposta (acústica ou vibracional) àquela
determinada excitação;
2. Medir, ou obter indiretamente, através de métodos matemáticos de
inversão de matrizes, os denominados esforços operacionais,
representados por forças nos pontos de entrada da energia, obtidos com o
sistema em análise na condição de funcionamento normal;
3. Multiplicar a função de transferência descrita pelo item (1) pelos esforços
operacionais descritos no item (2).

É desta forma que a resposta em termos de pressão sonora ou mesmo


aceleração no ponto receptor durante as condições operacionais é obtida pela
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 68

superposição dos resultados parciais que descrevem a contribuição dos caminhos


de transferência individuais.
É importante observar que as contribuições vibro-acústicas de cada caminho
são grandezas complexas, ou seja, possuem magnitude e fase, e para se obter o
nível de resposta total do sistema, suas magnitudes não devem ser simplesmente
somadas entre si, uma vez que podem ocorrer interferências destrutivas em certas
freqüências. A formulação matemática pode ser representada conforme a Equação
6.1 descrita abaixo:

ca min hos
R (ω )
r (ω ) = ∑j =1 S j (ω )
⋅S j (ω ) , (6.1)

sendo:
r (ω ) - Espectro de Fourier da resposta global no ponto receptor;
R (ω )
- Função de Resposta em Freqüência (FRF) entre a saída (receptor) e
S j (ω )

a entrada (força ou velocidade de volume) aplicada ao caminho de transferência j;


S j (ω ) - Força ou velocidade de volume operacional no caminho de

transferência j.
Porém, em virtude da grande dificuldade encontrada na medição direta dos
esforços operacionais S j (ω ) , adotam-se formas indiretas e estimadas de obtenção

destes esforços, tais como:

a) Aplicando o denominado Complex Stiffness Method (CSM), quando a fonte


estiver fixa à estrutura via conexões que possuem sua rigidez complexa conhecida e
os movimentos relativos entre o lado da fonte e do receptor bem definidos. Desta
forma a força pode ser calculada através da Equação 6.2:

f j (ω ) = K (ω ). ( xs (ω ) − xr (ω ) ) , (6.2)
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 69

sendo:
f j (ω ) - Força operacional no caminho j;

K (ω ) - Rigidez complexa como função da freqüência;


xr (ω ) - Deslocamento operacional no ponto de conexão do lado do receptor;

xs (ω ) - Deslocamento operacional no ponto de conexão do lado da fonte;

b) Quando a rigidez da montagem é grande em relação à impedância do corpo


do lado do receptor, pode-se utilizar o método denominado Matrix Inversion Method
(MIM), descrito pelo sistema de equações 6.3:

−1
 Xɺɺ11 Xɺɺ12 Xɺɺ1n 
 ... 
 f1   F1 F2 Fn   ɺɺ x1 
     ...  ,

 ...  = ... (6.3)
 f   Xɺɺ 
Xɺɺmn   ɺɺ xm 
 m   m1
 F ...
 1 Fn 

sendo:

 ɺɺ
x1 
 
 ...  - Vetor de acelerações operacionais no lado do receptor;
 ɺɺ 
 xm 

Xɺɺij
- Função de resposta em freqüência medida entre a aceleração no ponto
Fj
de entrada i e a força aplicada no caminho de transferência j.

No entanto, esta metodologia apresenta alguns inconvenientes no que tange às


fontes de erro e também à grande quantidade de Funções de Resposta em
Freqüência - FRF’s que precisam ser obtidas experimentalmente, tanto para os
caminhos de transferência em análise, assim como para o processo indireto de
obtenção dos esforços operacionais.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 70

Neste último, uma segunda matriz de funções de transferência de acelerâncias


deve ser obtida e multiplicada pelos dados de aceleração operacional para, então,
se calcular as forças operacionais.
Desta forma, pode-se afirmar que os principais inconvenientes da metodologia
tradicional de TPA estão associados aos seguintes itens:

1. A adequada definição das posições e direções de excitação na obtenção


das funções de transferência;
2. Modificação da impedância real do sistema quando os transdutores de
força são utilizados na medição direta das forças;
3. Diferenças entre as condições experimentais e operacionais;
4. Mudança do acoplamento do sistema ao desconectá-lo da fonte de
vibração;
5. Mau condicionamento matricial no processo indireto de obtenção das
forças.

Recentemente, uma nova metodologia foi proposta e vem sendo aplicada na


indústria, sendo neste trabalho denominada TPA operacional. Tal como descrito por
KOUSUKE&JUNJI [28] e LOHRMANN [29], é uma metodologia que possui a grande
vantagem de não exigir a obtenção de funções de transferências no sentido estrito
do conceito, assim como as forças operacionais.
Utilizando o método convencional é necessário excitar com uma força
conhecida os denominados pontos de entrada, ou pontos de conexão da fonte, ao
elemento radiador, medir a respectiva resposta acústica ou vibracional no ponto de
interesse e, desta forma, calcular as funções de transferência. Normalmente, não há
espaço físico disponível para que se possa submeter estes pontos à excitação.
Portanto, estas etapas necessárias aos métodos tradicionais são normalmente
árduas e podem induzir erros ainda maiores nas respostas obtidas para cada
caminho de transmissão. Adicionalmente, mesmo para os casos em que há espaço
em condições laboratoriais, possibilitando a obtenção dos valores de força injetados
na estrutura numa dada direção, ao se colocar o mesmo sistema em condições de
operação, dificilmente seria possível medir as forças operacionais presentes em
cada um dos caminhos pois não haveria como fixar os transdutores na estrutura
adequadamente.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 71

A nova metodologia do TPA operacional busca a praticidade e robustez ao


processar os dados e, conseqüentemente, faz uso de transdutores de aceleração
para medir os sinais vibro-acústicos nos pontos de entrada, uma vez que estes
transdutores requerem menos espaço para medição e podem ser facilmente fixados
nos pontos requeridos, enquanto o sistema está em sua condição normal de
funcionamento.

Figura 6.1 - Método alternativo para o TPA.

Desta forma, o TPA operacional, ilustrado pela Figura 6.1, consiste


resumidamente em duas etapas:

1. Medir m valores de entrada (aceleração) e saída (aceleração ou pressão)


em pontos adequadamente escolhidos, associados ao caminho de
transmissão j sob condições experimentais, e sem a necessidade de
desconectar a fonte da estrutura.
Obs: É recomendável que m seja o maior possível, porém, utiliza-se normalmente o
critério para o qual m ≥ três vezes o número de caminhos de transmissão j (LMS
INTERNATIONAL [23]);

2. Medir as chamadas respostas operacionais, representadas por


acelerações nos pontos j de entrada da energia, obtidos com o sistema
em análise na condição de funcionamento normal.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 72

Esta seqüência de medições permite formar m equações lineares, gerando


matrizes contendo informações de aceleração potencialmente associados aos
caminhos de transmissão e pressão sonora total medida num determinado ponto, tal
como descrito pelo sistema de equações 6.4:

 p1   ɺɺ
x11 ɺɺ
x12 x1n   h1 
... ɺɺ
    
{P} =  X  {H } ou  ⋮  =  ⋮
ɺɺ ⋱ ⋮   ⋮  . (6.4)
 p   ɺɺ xmn  hn 
ɺɺ
 m   xm1 ...

Se o número m de pontos de medição for igual ao número n de caminhos de


transmissão, a matriz de acelerações  Xɺɺ  se torna quadrada e inversível,

possibilitando a obtenção do denominado vetor de transferência de maneira direta,


tal como representado pela Equação 6.5:

−1 −1
 Xɺɺ  {P} =  Xɺɺ   Xɺɺ  { H }
−1
. (6.5)
{H } =  Xɺɺ  {P}

No entanto, a precisão deste sistema de equações pode se tornar bastante


prejudicada quando há ruído contido nos sinais de aceleração e pressão, assim
como quando há alta correlação entre os sinais de entrada (aceleração). Para
minimizar este problema, aplica-se um método estatístico de redução de dados
conhecido como Principal Component Regression Analysis (PCRA).
Este método consiste primeiramente em aplicar um procedimento de
decomposição de matrizes, denominado Singular Value Decomposition (SVD), na
matriz de acelerações obtida através das m medições realizadas em condição
operacional do sistema em análise.
O procedimento para o SVD, principal etapa da redução de dados aplicada
pela metodologia, pode ser visto sob alguns pontos de vista, a citar:

• Método para transformar variáveis correlacionadas em um conjunto de dados


não correlacionados e que melhor exponham os dados originais;
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 73

• Método para identificação e ordenamento dos dados que exibem a maior


variação entre si, ou seja, independência entre os dados;
• Método capaz de identificar a melhor aproximação com os dados originais
utilizando as menores dimensões, ou seja, um método para a redução dos
dados.

O SVD se baseia em um teorema da álgebra linear que estabelece que uma


matriz retangular pode ser desmembrada no produto de outras três matrizes, tal
como descrito pela Equação 6.6:

Amxn = U mm S mnVnnT , (6.6)

na qual U T U = I e V T V = I ; as colunas de U são autovetores ortonormais de AAT ; as


colunas de V são autovetores ortonormais de AT A e S é a matriz diagonal contendo
as raízes quadradas dos autovalores de U e V em ordem decrescente.
Desta forma, a chamada matriz de componentes principais [T ] é obtida a partir
de uma matriz de dados de entrada [ Xɺɺ ] , tal como descrito pela seguinte dedução:

 Xɺɺ  = [U ][ S ][V ]
−1

 Xɺɺ  [V ] = [U ][ S ][V ] [V ] .
−1
(6.7)

[T ] =  Xɺɺ  [V ] = [U ][ S ]

Os componentes principais, que são menores em relação aos demais


componentes, são considerados como ruído e por isso são descartados. A matriz de
valores singulares reduzida [ Sr ] obtida ao se descartar esses valores e as matrizes
unitárias [U r ] e [Vr ] , também reduzidas, são utilizadas para reformular a matriz
original e desta forma obter a denominada matriz de componentes principais
reduzida, conforme descrito pela Equação 6.8:

[Tr ] =  Xɺɺ  [Vr ] = [U r ][ Sr ] . (6.8)


Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 74

A matriz dos coeficientes [C ] de [Tr ] para a matriz do sinal de pressão é


determinada utilizando:

[ P ] = [Tr ][C ]
[Tr ] [ P ] = [Tr ] [Tr ][C ] .
T T
(6.9)

[C ] = ([Tr ] [Tr ] ) [Tr ] [ P ]


T −1 T

As relações do Item 6.9 permitem a formulação da matriz de coeficientes [Vr ] ,


que transforma a matriz do sinal de aceleração dos pontos de referência na matriz
de componentes principais [Tr ] na qual as componentes menos significativas foram
removidas, e a matriz de coeficientes [C ] que transforma [Tr ] na matriz de respostas
[ Pr ] .

As matrizes reduzidas obtidas a partir do procedimento de decomposição


podem ser utilizadas para obter a função de transferência entre aceleração medida
no ponto de entrada do caminho j e a resposta em termos de pressão sonora,
conforme descrito pelas deduções a seguir:

−1
Se [ H ] =  Xɺɺ  [ P ] e [ P ] = [Tr ][C ] ,

−1
então [ H ] =  Xɺɺ  [Tr ][C ] . (6.10)

−1
Se [Tr ] =  Xɺɺ  [Vr ] e [Vr ] =  Xɺɺ  [Tr ] ,

então [ H ] = [Vr ][C ] . (6.11)

[C ] = ([Tr ] [Tr ] ) [Tr ] [ P ] ,


T −1 T
Se

[ H ] = [Vr ] ([Tr ] [Tr ] ) [Tr ] [ P ] .


T −1 T
então (6.12)
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 75

Se [Tr ] = [U r ][ Sr ] ,

[Tr ]
T
pré-multiplica-se por ,

[Tr ] [Tr ] = [Tr ] [U r ][ Sr ] .


T T
obtém-se:

([T ] [T ]) T −1
Também pré-multiplicando por r r
,

([T ] [T ]) [Tr ] [Tr ] = ([Tr ] [Tr ]) [Tr ] [U r ][ Sr ]


T −1 T T −1 T
r r
obtém-se: ,
( )
−1
[ Sr ] [U r ] = [Tr ] [Tr ] [Tr ]
−1 T T T

[ H ] = [Vr ][ Sr ] [U r ] [ P ] .
−1 T
resultando (6.13)

As principais contribuições observadas ao utilizar esta nova metodologia do


TPA podem ser resumidas através dos seguintes itens:

• Reduz-se o número de funções de transferência a serem obtidas e,


conseqüentemente, as prováveis fontes de erro;
• As funções de transferência podem ser medidas em condições operacionais,
contribuindo na obtenção das características reais de vibração;
• Adaptabilidade, uma vez que a técnica pode ser aplicada utilizando somente
transdutores para os sinais de entrada e saída e em função deste fato é
possível mais facilmente aplicá-los levando em conta as características do
equipamento a ser estudado, sem a necessidade de muito espaço.

Esta técnica pode ser inserida nas primeiras etapas de lançamento dos novos
produtos nas empresas, assim como ao se repensar processos de montagem de
diferentes tipos de estruturas; máquinas e equipamentos que já foram lançadas no
mercado e que ainda apresentam problemas associados ao ruído e vibrações.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 76

Outra aplicação está na comprovação das principais fontes de uma máquina no


local onde a mesma está montada e operando, sendo que todas as aplicações
podem assumir um enfoque experimental, computacional ou mesmo os dois
simultaneamente, através de métodos híbridos.

6.2 Quantificação da Energia Vibro-Acústica através do TPA

A metodologia do TPA operacional exige a execução dos seguintes passos


mínimos a serem executados para a medição e cálculo da resposta:

• Definir os pontos de excitação (entrada) e de medição da resposta (saída) no


sistema em análise;
• Realizar o set up dos equipamentos e transdutores a serem utilizados;
• Medir as acelerações associadas ao caminho de transferência j considerado,
assim como as pressões globais gerados pelo sistema em condições
experimental-operacionais;
• Caso haja necessidade, medir os valores das acelerações no ponto de
entrada de energia no caminho de transferência j considerado em condições
operacionais;
• Aplicar o método do TPA/PCRA e, assim obter, as respostas parciais
associadas a cada um dos caminhos de transferência.

6.2.1 Experimento de validação do método

A idéia básica deste experimento consistiu em reproduzir um sistema que


tivesse os caminhos de transferência vibratória entre fonte e superfície radiadora
bem caracterizados e, desta forma, gerar curvas de referência que pudessem ser
comparadas com os resultados obtidos pela aplicação do método TPA operacional.
Conforme mostrado pela Figura 6.2, utilizou-se uma placa de alumínio
pendurada num cavalete e dois excitadores eletrodinâmicos conectados a esta placa
em pontos distintos. O microfone foi fixado no pedestal em uma distância de um
metro em relação ao plano da placa de alumínio, e altura de 0,7 m, dentro da
câmara semi-anecóica do Laboratório de Vibrações e Acústica.
Desta forma, a energia vibratória pôde ser injetada na estrutura, simulando os
pontos de entrada de vibração de um sistema real, entretanto, com a possibilidade
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 77

de medir separadamente o ruído provocado pelos excitadores conectados e


interagindo com a placa de alumínio.
Duas configurações foram concebidas, a citar:

Configuração (A): Acelerômetros fixados na chapa, no lado oposto ao lado da


excitação, porém na mesma região dos pontos onde foram fixadas as ponteiras dos
excitadores eletrodinâmicos. Esta distribuição é visualizada integralmente na Figura
6.2;

Placa de alumínio

Microfone

Acelerômetros

Esquerdo
Direito

Esquerdo

Direito

Acelerômetros Excitadores Eletrodinâmicos


Figura 6.2 - Experimento para validação do TPA utilizando a câmara semi-anecóica do LVA.

Configuração (B): Mostrada de forma geral pela Figura 6.2, e em detalhe pela
Figura 6.3, é bastante semelhante à configuração (A) e difere somente pelo fato de
que os acelerômetros foram fixados na região periférica da superfície frontal das
respectivas carcaças dos excitadores eletrodinâmicos.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 78

Acelerômetro

Figura 6.3 - Detalhe do posicionamento do acelerômetro para a configuração (B).

Foi utilizado ruído branco como sinal de entrada no intervalo de 1,56 Hz até
12,8 kHz para os dois excitadores de maneira independente, ou seja, os canais de
saída e os ganhos eram diferentes entre si.
Para captar os sinais de respostas foram utilizados dois acelerômetros e um
microfone, sendo estes dados utilizados como entrada no algoritmo TPA operacional
implementado em um programa comercial para cálculos matemáticos denominado
Matlab 7.0®.
Neste algoritmo, os acelerômetros são os transdutores responsáveis por
caracterizar o sinal operacional associado àquele determinado caminho de
transmissão e também ajudam na obtenção da função de transferência.
O microfone é responsável por captar o sinal global do ruído do refrigerador,
tanto para condições operacionais como para condições experimentais e desta
forma também é utilizado na composição da matriz de função de transferência.

6.2.2 Resultados

Como este experimento foi idealizado com o intuito de atingir condições


experimentais parcialmente controladas, especialmente quando comparados com o
sistema real de um refrigerador, foi possível estabelecer um parâmetro de
comparação entre os resultados obtidos através do algoritmo do TPA operacional,
com os valores obtidos pela medição direta da pressão sonora gerada pela atuação
independente dos excitadores eletrodinâmicos.
Os resultados em termos de Nível de Pressão Sonora da primeira configuração
estão representados pelas Figura 6.4 a 6.6. É possível observar as curvas
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 79

associadas à energia vibro-acústica calculada pelo algoritmo, denominada Curva via


TPA, assim como pela medição direta da pressão sonora resultante do
funcionamento individual dos excitadores eletrodinâmicos conectados a placa,
gerando a Curva de Referência.

Figura 6.4 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado direito.

É importante considerar que as curvas de referência indicadas nas figuras 6.4 e


6.5 são capazes de fornecer maiores informações sobre o ruído produzido pelos
caminhos analisados, entretanto, não devem ser vistas como curvas absolutas, uma
vez que foram obtidas por medição direta da pressão sonora de maneira
independente e, conseqüentemente, não levaram em conta as interferências
construtivas e destrutivas entre as duas fontes de energia (dois excitadores) que
alcançam a superfície radiadora da placa.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 80

Figura 6.5 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado esquerdo.

Em função disso, a diferença apresentada na Figura 6.5 de 7 dB para a banda


de 200 Hz, entre o ruído obtido via TPA e aquele que foi efetivamente medido
quando apenas um excitador estava em funcionamento, não é necessariamente um
erro da metodologia, pois é possível que apenas tenha ocorrido uma interferência
destrutiva naquela faixa, quando os dois excitadores operaram simultaneamente,
fazendo com que a resposta obtida pelo algoritmo fosse menor que nos dados
obtidos pela medição direta.
A Figura 6.6 mostra resultados globais, ou seja, a curva destacada como Total
- TPA foi obtida através da soma das pressões sonoras complexas, calculadas pelo
algoritmo do TPA, para cada um dos excitadores eletrodinâmicos. Já a curva
destacada como Total – Referência, diz respeito ao Nível de Pressão Sonora medido
diretamente com os dois excitadores eletrodinâmicos em funcionamento.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 81

Figura 6.6 - Valor total com os dois excitadores eletrodinâmicos.

A Figura 6.6 mostra melhor concordância àqueles apresentados nas figuras 6.4
e 6.5, com diferenças de no máximo 6 dB, que ocorre na banda de 100 Hz. Nas
demais bandas as diferenças encontradas giram em torno de 3 dB, com destaque
para as bandas acima de 1250 Hz, nas quais os valores obtidos por medição direta
e via algoritmo do TPA são praticamente idênticos, com diferenças entre as curvas
tendendo a zero.
Os resultados em termos de Nível de Pressão Sonora da configuração (B)
estão representados pelas Figura 6.7 a 6.9. Todos os resultados obtidos aplicando o
algoritmo do TPA são comparados com valores de referência obtidos através de
medições diretas.
Os resultados apresentados na Figura 6.7 para o excitador posicionado no lado
direito, mostram discrepâncias aparentemente grandes entre as curvas obtidas via
TPA e por medição direta.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 82

Figura 6.7 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado direito.

No entanto, estas diferenças podem ser justificadas não somente pelo fato já
descrito para a configuração (A), na qual a medição direta não demonstra as
possíveis interferências entre as vibrações dos diferentes caminhos, mas também
pelo fato que o ganho utilizado para o excitador do lado direito foi cerca de duas
vezes menor daquele utilizado para o excitador do lado esquerdo.
Como o acelerômetro foi posicionado na carcaça do excitador eletrodinâmico,
uma hipótese é que a leitura menos intensa do sinal daquele caminho, resultou em
diferenças de até 15 dB para a banda de 800 Hz.
Novamente, é importante lembrar que a curva denominada de Referência,
serve como um parâmetro, mas não necessariamente representa em definitivo a
contribuição vibro-acústica do caminho em questão.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 83

Figura 6.8 - Resultado parcial do excitador eletrodinâmico do lado esquerdo.

No caso do espectro para o excitador do lado esquerdo, ilustrado pela Figura


6.8, percebe-se um bom grau de concordância com a curva de referência, com
diferença máxima de 3 dB na banda de 160 Hz.
Como o ruído associado ao excitador esquerdo é bem mais elevado que
aquele produzido pelo excitador direito, a curva com os valores totais apresenta um
espectro semelhante ao resultado parcial para o excitador esquerdo.
As curvas mostradas pela Figura 6.9 ilustram resultados interessantes, uma
vez que estas apresentam grau de concordância bastante elevado, sendo a
diferença máxima detectada de 1 dB, apenas nas bandas de 100 Hz e 160 Hz. As
demais bandas de freqüência mostram diferenças praticamente imperceptíveis.
Capítulo 6 – Identificação das fontes pelo método TPA 84

Figura 6.9 - Resultado total com os dois excitadores eletrodinâmicos.

A qualidade deste resultado pode ser justificada pela soma dos resultados
parciais levando em conta a fase da resposta de pressão sonora obtida para cada
um dos caminhos, ou seja, somam-se os vetores de pressão sonora associados a
cada uma das freqüências analisadas.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é o fato de que o ganho
imposto ao excitador eletrodinâmico do lado direito foi muito inferior ao ganho do
excitador do lado esquerdo, fazendo com que a curva deste último prevalecesse em
relação ao primeiro.
CAPÍTULO 7
7- APLICAÇÃO DO MÉTODO TPA OPERACIONAL AO
REFRIGERADOR E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo tem o objetivo de ilustrar os resultados da aplicação da


metodologia do TPA operacional no sistema de refrigeração utilizado neste trabalho.
Para tal, o sistema foi posicionado na câmara semi-anecóica do LVA, e com sua
região traseira distante cerca de 10 cm de uma superfície de madeira posicionada
próximo às cunhas de um dos lados da câmara, com a função equivalente a uma
parede quando o refrigerador se encontra em aplicação.
A montagem dos transdutores realizada para este experimento, ilustrada na
Figura 7.1, consistiu no posicionamento de acelerômetros, tipo uniaxiais da empresa
Brüel&Kjaer, no centro das superfícies do gabinete do refrigerador, denominadas de
superfície traseira; lateral esquerda; lateral direita; superior e dianteira, assim como
pontos da superfícies externas da carcaça do compressor, placa-base e tubos de
sucção e descarga.

Acelerômetros

Superior Microfone

LD
Frontal LE

Figura 7.1 - Set up do refrigerador para aplicação do TPA.

Um microfone, tipo free field da empresa Brüel&kjaer, responsável por captar o


sinal de resposta da pressão sonora, foi posicionado em frente ao refrigerador a uma
distância de 1 m da porta, em uma altura de 85 cm, nivelada com a superfície
superior do gabinete. Os acelerômetros da região do compressor, base e tubos
estão indicados na Figura 7.2.
Capítulo 7 – Aplicação do método TPA Operacional ao Refrigerador e Análise dos Resultados 86

A utilização de um grande número de canais do analisador de sinais Scadas da


empresa LMS, necessários à leitura dos sinais dos acelerômetros associados a cada
caminho de transmissão, fez com que não houvesse canais suficientes para os
microfones utilizados em medições para obtenção do Nível de Potência Sonora em
câmara semi-anecóica (ISO 3745). Em função disso, optou-se por utilizar apenas um
microfone tipo Free Field em um ponto considerado inicialmente representativo para
o ruído global gerado pelo refrigerador.

TUBOS

BASE

CARCAÇA
Figura 7.2 - Acelerômetros do Base; Tubos e Carcaça.

Nas Figuras 7.3 a 7.7, as curvas do ruído total associado ao refrigerador obtido
por medição direta do refrigerador em funcionamento, assim como a curva do ruído
total obtido via algoritmo do TPA operacional, serão mostradas juntamente com os
resultados para as contribuições parciais dos caminhos em análise, também obtidos
via TPA operacional.
Na Figura 7.3 tem-se o resultado da contribuição parcial da radiação do
compressor obtido via TPA. Contribuições importantes são observadas nas faixas de
160 Hz, 500 Hz e região de 1000 Hz e 1250 Hz. Nas altas freqüências ficou
Capítulo 7 – Aplicação do método TPA Operacional ao Refrigerador e Análise dos Resultados 87

evidenciada a contribuição em 4 kHz, provavelmente associada à região das


primeiras ressonâncias estruturais da carcaça.
No entanto, pode ser observado também que na região de altas freqüências,
em especial a partir de 1,6 kHz, a contribuição da radiação do compressor é menor
que a esperada, quando se leva em consideração os resultados de nível de potência
sonora obtidos através de outras metodologias.

Figura 7.3 - Contribuição da radiação do Compressor.

Esta aparente distorção dos resultados pode ser justificada pelas condições de
medição, na qual o refrigerador é posicionado com sua região traseira perto de um
anteparo de madeira (Baffle), e com um único ponto de medição da pressão sonora
no lado oposto onde está localizado o compressor. Esta condição de medição
possivelmente impôs significativa atenuação para as ondas com freqüências mais
elevadas.
Esta tendência de redução do NPS nas altas freqüências também é observada
nos resultados globais de ruído captado pela medição direta do ruído do sistema de
refrigeração, uma vez que uma das principais fontes de ruído na região de altas
freqüências, ou seja, a radiação da carcaça do compressor, tem sua contribuição
atenuada pelo motivo relatado acima.
Capítulo 7 – Aplicação do método TPA Operacional ao Refrigerador e Análise dos Resultados 88

Outro aspecto que pode ter alterado os resultados obtidos está relacionado
com o número de transdutores utilizados, uma vez que determinados caminhos ou
mesmo determinadas componentes de ruído destes caminhos, ao não serem
considerados nos cálculos pelo algoritmo do TPA operacional, acabam por modificar
para mais ou menos os resultados de nível de pressão sonora.
A Figura 7.4 mostra a contribuição das vibrações da Placa-Base, na qual se
observa a forte influência na região de 1 kHz, bem como nas bandas de 160 Hz, 250
Hz e 500 Hz. Neste caso, conforme esperado, evidencia-se uma contribuição mais
destacada na região de baixas até as médias freqüências.

Figura 7.4 - Contribuição da Placa-Base.

As Figura 7.5 e 7.6 mostram as contribuições parciais das vibrações obtidas


nos tubos de sucção e descarga. É interessante observar que apesar da pulsação
do gás no interior destes tubos possivelmente contribuir para a vibração dos tubos,
as vibrações captadas nas paredes destes tubos, que são elementos transmissores
para o gabinete, não apresentam respostas parciais que denotem uma contribuição
significativa para o ruído global do refrigerador.
Capítulo 7 – Aplicação do método TPA Operacional ao Refrigerador e Análise dos Resultados 89

Figura 7.5 - Contribuição do Tubo de Sucção.

Figura 7.6 - Contribuição do Tubo de Descarga.


Capítulo 7 – Aplicação do método TPA Operacional ao Refrigerador e Análise dos Resultados 90

Abaixo na Figura 7.7, segue o resultado da contribuição da superfície traseira


do refrigerador para o ruído do sistema. Apesar da contribuição desta parte do
gabinete ser representada pelo sinal de apenas um acelerômetro uniaxial
posicionado no centro da superfície, os resultados indicam contribuições
relativamente significativas nas bandas de 160 Hz, 200 Hz, 500 Hz e 800 Hz, assim
como em determinadas faixas acima de 1,6 kHz.
É importante lembrar que o escoamento bifásico nos trocadores de calor e no
tubo capilar do refrigerador, em contato direto com as chapas do gabinete, podem
resultar em uma significativa radiação sonora para o meio externo.

Figura 7.7 - Contribuição da Chapa Traseira.

A comparação direta dos resultados obtidos via TPA operacional com aqueles
obtidos pelos demais métodos utilizados neste trabalho não é possível, visto que os
dados obtidos pelo TPA dizem respeito ao Nível de Pressão Sonora e não ao Nível
de Potência Sonora.
Outro aspecto que impossibilita a exposição de todos os resultados em um
único gráfico, é o fato de se ter coletado informações qualitativas como no caso dos
mapas de intensidade sonora, assim como para os resultados experimentais de
atenuação obtidos por imposição de barreiras físicas e/ou separação das partes.
Capítulo 7 – Aplicação do método TPA Operacional ao Refrigerador e Análise dos Resultados 91

Ainda assim, pode-se destacar o resultado obtido para determinados picos em


algumas faixas de freqüência, e desta forma estabelecer as primeiras evidências da
relação entre os resultados encontrados com as fontes ou caminhos existentes no
refrigerador analisado, tal qual é feito pela Tabela 7.1.

Tabela 7.1 - Resumo dos resultados obtidos pelos diferentes métodos.


Faixa de Atenuação Simulação
Fonte ou Intensimetria
Freqüência Experimental Numérica TPA (NPS)
Caminho Acústica
(Hz) (NWS) (NWS)
160 Placa-Base 8 dB (Housing) N/A N/A 18 dB (A)

Radiação do
200 Gabinete
14 dB N/A Alta (Traseira) 12,5 dB (A)

Radiação do
400 Gabinete
6 dB N/A Média (Traseira) 12,5 dB (A)

500 Radiação do 2 dB (Housing) 26 dB (A) Alta (Housing) 27 dB (A)


Compressor

Radiação do
4 dB (Housing) 10 dB (A) Média (Housing) 13 dB (A)
Compressor
630
Radiação do
Gabinete 3 dB N/A Alta (Traseira) 13 dB (A)

Radiação do
800 Gabinete
6 dB N/A Alta (Traseira) 17,5 dB (A)

Radiação do
1000 Compressor e 7 dB (Housing) 23 dB (A) Alta (Housing) 26 dB (A)
Placa-Base

Radiação do
Compressor 7 dB (Housing) 21 dB (A) Média (Housing) 26 dB (A)
1250
Radiação do
7 dB N/A Média (Traseira) 17,5 dB (A)
Gabinete

Radiação do
4000 Compressor
7 dB (Housing) N/A N/A 16 dB (A)

As demais superfícies do refrigerador não foram consideradas nas análises


mostradas pelos gráficos e tabela anteriores em função de não haver dados
suficientes para serem comparados em todos os métodos apresentados.
8- CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Na quantificação experimental da contribuição dada ao ruído do refrigerador


pelos caminhos de transmissão de energia vibro-acústica existentes entre o
compressor e o gabinete de um refrigerador doméstico, possibilitou-se um primeiro
contato com o espectro de ruído do refrigerador, sendo que as medições realizadas
utilizando diferentes montagens mostraram que há uma grande contribuição para o
ruído do refrigerador por várias fontes, além da radiação direta do compressor.
Percebeu-se também que as baixas freqüências exercem grande influência no
espectro de Potência Sonora de um refrigerador, e desta forma, as primeiras
evidências são levantadas sobre quais as bandas de freqüência estão relacionadas
com cada um dos caminhos de transmissão identificados. Neste ponto, foi possível
verificar que o isolamento ou atenuação de um determinado caminho de transmissão
interfere nos demais por estarem todos acoplados, e desta forma, os resultados
obtidos não devem ser considerados respostas absolutas sobre o grau de
interferência no sistema.
Neste mesmo capítulo foi realizado um estudo de intensimetria acústica na
região traseira do refrigerador. Este gerou um mapa de ruído em cores com
informações qualitativas a respeito da localização e intensidade relativa das fontes
radiadoras do refrigerador.
Os picos de intensidade sonora foram identificados através das cores tendendo
ao vermelho e puderam ser comparados com os resultados obtidos pelos demais
métodos aplicados. Neste ponto, é importante ressaltar a grande dificuldade
encontrada para se realizar as medições, uma vez que se contava com apenas uma
sonda de intensidade e um intervalo de tempo de cerca de três minutos para se
realizar as medições dentro de um mesmo ciclo do refrigerador em regime
permanente. Neste caso é muito recomendado a utilização da sonda de intensidade
acoplada ao braço de um robô, de maneira a minimizar os erros inerentes a
estratégia de medição adotada.
Posteriormente, elaborou-se um modelo numérico vibro-acústico para o
conjunto compressor-gabinete. Esta etapa possibilitou um grande aprendizado dos
procedimentos relacionados com a elaboração de malhas numéricas e simulação
vibro-acústica.
Capítulo 8 – Conclusões e Trabalhos Futuros 93

O modelo elaborado foi desenvolvido com o intuito de extrair informações a


respeito da interação da radiação direta do compressor com o Housing do
refrigerador, e desta forma, compreender se a cavidade traseira do refrigerador é
capaz de ressaltar a energia acústica do compressor em alguma faixa de freqüência.
Os dados simulados demonstram aquilo que se esperava, a radiação direta do
compressor em aplicação não contribui com significativa quantidade de energia em
baixa freqüência para o ruído do refrigerador. Para as altas freqüências, observa-se
um aumento do Nível de Potência Sonora, no entanto, há também uma tendência de
atenuação do ruído do compressor à medida que a traseira do refrigerador se
aproxima da parede.
Nos capítulos finais, a recente metodologia para quantificação de caminhos,
conhecida como Transfer Path Analysis Operacional, abriu uma nova perspectiva de
estudos na identificação e quantificação de caminhos. Pelo que se tem
conhecimento, até o presente momento esta técnica operacional foi aplicada pela
primeira vez no estudo de caminhos de transmissão em refrigeradores domésticos e,
em função disso, trabalhos adicionais ainda são requeridos para comprovar a
eficácia do método, e também para descobrir quais são os critérios necessários para
se obter a precisão desejada nas respostas parciais obtidas.
Partindo deste pressuposto, um experimento não diretamente relacionado com
o sistema de refrigeração foi concebido, em conjunto com um algoritmo matemático
desenvolvido na linguagem do software comercial Matlab® para o cálculo das
respostas parciais.
Este primeiro experimento apresentou resultados que foram considerados
bastante satisfatórios, principalmente levando-se em conta a natureza inovadora do
método, ainda não profundamente investigada e consolidada na literatura. Diante
dos resultados preliminares apresentados, concluiu-se que a metodologia tem
potencial e por esta razão poderia ser aplicada no refrigerador.
Finalmente, a nova metodologia foi aplicada no refrigerador e os resultados
obtidos para as contribuições parciais selecionadas, demonstrando que é possível
obter conclusões quantitativas e também qualitativas, ainda que preliminares, a
respeito da contribuição do caminho de transmissão considerado.
No entanto, ainda são necessários estudos mais aprofundados sobre a
natureza do fenômeno físico, assim como quantos e qual a localização dos pontos
para fixação dos transdutores deverá ser adotada para se conseguir representar a
Capítulo 8 – Conclusões e Trabalhos Futuros 94

fonte de ruído ou o caminho de transmissão em análise, assim como qual tipo de


transdutor é mais adequado para caracterizar o sinal vibro-acústico. É preciso
lembrar sobre a possível necessidade de utilização de um método para
normalização dos dados, para os casos aos quais os transdutores captam sinais de
natureza diferente.
Portanto, é importante pontuar que ao se realizar uma análise desta natureza,
todas as fontes de ruído, assim como os caminhos de transmissão de energia para
as superfícies radiadoras devem ser considerados na montagem do experimento,
uma vez que ao se negligenciar algum destes fatores, corre-se o risco de obter
resultados distorcidos ou mesmo incorretos.
Apesar das grandes dificuldades enfrentadas na realização dos experimentos e
simulações desenvolvidas neste trabalho, pode-se dizer que a interação vibro-
acústica existente entre o compressor e sistema de refrigeração exerce grande
influência no ruído global de um refrigerador doméstico. Os conhecimentos
adquiridos nesta pesquisa e seus resultados, formam um Baseline (Linha de
Referência) para futuros trabalhos em sistemas de refrigeração. Como sugestão
para trabalhos futuros, destacam-se:

• investigação de outras fontes de ruído num refrigerador, tais como: ruído


de pulsação do gás nos tubos de sucção e descarga, ruído de escoamento
bifásico do gás, ruído de sistemas de ventilação (quando possuir);
• utilização de uma quantidade maior de microfones e acelerômetros em
diversos pontos do sistema e no meio à sua volta, possibilitando o cálculo
do Nível de Potência Sonora;
• concepção de um experimento controlado com grande reprodutibilidade,
utilizando diversas metodologias, tanto experimentais, quanto analíticas e
numéricas. Sugere-se também o mesmo tipo de análise realizada para o
TPA no domínio do tempo;
• Aplicar as diferentes metodologias em vários refrigeradores e de diferentes
modelos, de maneira a possibilitar uma avaliação estatística dos
experimentos no sistema real.
9- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Sinopse Econômica, n. 134, abril de 2004. Disponível em:


<www.bndes.gov.br/conhecimento/sinopse/sinop134.pdf> Acesso em janeiro 2007.
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refrigerator noise in real living environments. Applied Acoustics, School of
Architectural Engineering, Hanyang University, Seoul, 2007. n. 68, p. 1118-1134.
[3] TAKUSHIMA, Akira. et al. Fan Noise Reduction of Household Refrigerator.
IEEE Transactions on industry applications, v. 28, n. 2, p. 287-292, Mar/Abr.
1992.
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Sistemas de Refrigeração Industrial e Comercial, Rio de Janeiro: Eletrobrás,
2005.
[5] LENZI, Arcanjo. Relatório Embraco: Identificação experimental de
caminhos de transmissão em compressores, Florianópolis: UFSC, 2003.
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<http://www.me.mtu.edu/courses/meem4704/project/spring03/refrigerator_report.pdf
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Simulation, Algorithms and Acoustic Virtual Reality. 1. ed. Germany: Springer-
Verlag, 2008. 335 p.
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Irradiado Por Um Compressor Hermético. 2005. 88 p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Mecânica), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
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sound power levels of noise sources using sound pressure - Precision methods for
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[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13910-1:
Diretrizes de ensaios para a determinação de ruído acústico de aparelhos
eletrodomésticos e similares - Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 1997.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13910-2-1:
Diretrizes de ensaios para a determinação de ruído acústico de aparelhos
Referências Bibliográficas 96

eletrodomésticos e similares – Parte 2: Requisitos particulares para refrigeradores,


congeladores, combinados e similares. Rio de Janeiro, 1997.
[12] INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION. ISO 9614-1: Acoustics -
Determination of sound power levels of noise sources using sound intensity - Part 1:
Measurement at discrete points. Switzerland, 1993.
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Switzerland: , 2003. 568 p.
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Notas de Aula, Departamento de Eng Mecânica – PGMEC. Universidade Federal
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Theory and design. New York. Spon Press, 2004. 405 p.
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Estruturais tipo Barras e Vigas. 1996. 157 p. Dissertação (Mestrado em
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Vehicle Refinement: The Role of Fast, Hybrid and Operational Path Analysis. SAE
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Investigations on Reciprocal Transfer Path Analysis in Vehicles, Using a Binaural
Sound Source. SAE Internacional, 2003.
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Engineering, JSAE Annual Congress, Yokohama. 2008.
[27] BRANDL, S., BRANDL. et al. Optimised TPA approach for improving interior
sound engineering, 5th International Styrian Noise, Vibration & Harshness
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[28] KOUSUKE, Noumura. et al. Method of transfer path analysis for vehicle
interior sound with no excitation experiment, FISITA, F2006D183, 2006.
[29] LOHRMANN, Martin. Operational Transfer Path Analysis: Comparison with
conventional methods, ICSV15, 2008.
10 - APÊNDICE A - TRECHO PRINCIPAL DO ALGORITMO TPA-SVD

for w = 1:N %Variação na frequência


clear Xexp;
clear Xexp1;
clear Pexp;
clear Pexp1;
clear Xop;
% Dados EXPERIMENTAIS em cada caminho identificado
for i = 1:nr_transd_ent %Intervalo para os transdutores de entrada
for j = 1:(nr_transd_ent*nr_med_exp) %Número de medições
Xexp(j,i) = eval(['complex(CANAL', int2str(i), '_EXP', int2str(j), '(w,', int2str(anl+1),'), CANAL',
int2str(i), '_EXP', int2str(j), '(w,', int2str(anl+2),'));']);
end
end
for i = nr_canal_sai %Intervalo para os transdutores de saída
for j = 1:(nr_transd_ent*nr_med_exp) %Número de medições
Pexp(j,1) = eval(['complex(CANAL', int2str(i), '_EXP', int2str(j), '(w,', int2str(anl+1),'),
CANAL', int2str(i), '_EXP', int2str(j), '(w,', int2str(anl+2),'));']);
end
end
% Dados OPERACIONAIS em cada caminho identificado
for i = 1:nr_transd_ent %Número de caminhos
Xop(i) = eval(['complex(CANAL', int2str(i), '_OPE1', '(w,', int2str(anl+1),'), CANAL', int2str(i),
'_OPE1', '(w,', int2str(anl+2),'));']);
end
Xop = diag([Xop]);
% Aplicação do SVD-PCRA
[U,S,V] = svd(Xexp); %Decomposição da Matriz de Acelerações via SVD
dim = rank(Xexp); %Rank da matriz de entrada
Ur = U(:,1:dim); %Matriz U reduzida
Sr = S(1:dim,1:dim);%Matriz S reduzida
Vr = V(:,1:dim); %Matriz V reduzida
H = Vr*inv(Sr)*Ur'*Pexp; %Obtenção da Função de Transferência
P_parcial(:,w) = (Xop)*H; %Pressão calculada para o caminho
End
Pressoes = [freq';P_parcial]; %Geração da Matriz de Pressões

Autor: Renato S. Thiago de Carvalho, LVA-UFSC (Brasil)


Baseado em algoritmo mostrado em: KOUSUKE&JUNJI [28]
E-mail: renato_thiago@hotmail.com
Versão 1.0 Última Modificação: 11.09.2008

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