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4 [Marisa Decat de Moura LEMLER, D. homme estil rentable? In: Clinique dela déshumanisation, Paris: PINTO, M Resende contac: detain frag do anlit, tei rt DEMOURI NL CARVALHO, SB (orp), Pa O (sem)lugar do sujeito dante da citia médica Rio de nas praticas em sade EVISTA BPISTEMO-SOMATICA, Belo Horizont: Hoop 2 ag de. 207 REVISTA EPISTEMO-SOMATICA. Belo Horizonte: Hostal Mater Del. 207 -A EPISTEMO-SOMATICA. Belo Horizonte: Hostal Mater De SEC Sa etapa tea Heloisa Helena Marcon st Del. v IV, proposto em 2001" a opera infoque biopsicossocial mediante @ adogio de um modelo multidimensional de funcionalidade e inca~ pacidade e de estudos apontarem a necessidade da reintegracio da Simensio psicossocial ao ensino e as praticas em satide (De Marco, 2006; Koifman, 2001), 0 modelo biomédico segue sendo 0 modelo hegeménico da medicina na atualidade. ‘Sendo assim, este artigo busca refletir sobre os efeitos do modelo biomédico nas priticas clinicas em sate, a partir dos recortes clinicos apresentados. Para tanto, retoma a historia das concepsbes de satide € doenga, visando apresentar as diferencas entre modo de operar da psicanilise e os demais modo: to, para assim pensar @ importincia da escuta psicanalitica no hospital e nas instituigbes de said. ‘Como psicanalista num hospital de trauma, recebo pedido de consultoria de um médico da Cirurgia Plistica para avaliar e acom- panhar uma paciente vitima de atropelamento que estava sendo a lavagens e enxertos nas suas duas pernas. me conta fe que se mostra aberta a falar sob: Depois de algumas semanas de atendimentos quase didrios, encontro essa ppaciente muito mal. Além de nao conseguir falar nem fixar 0 olhar, Apesar di i 1. A teadugao parao Brasil ol realizada somente em 2003, ll 26 ois Helena Marcon arrancava pedagos dos enxertos de suas pernas. Apds esse encontro, fui conversar com a enfermeira e alerté-la da situagio critica e da condigio €m contato com 0 médico que @ acompanhava ‘me falou que havia conversado com a ue 0s enxertos estavam “pegando” e que, em poucos dias, ela teria alta. Dessa forma, aavaliagao do médico sendo depois transferida para outro Nesse contexto coloca-se a pergu médico da Cirurgia Plistica nao pudesse estado vegetativo. © que fez com que 0 iXergar o que se passava ‘Numa outra consultor! vitima de acidente de carro, iar uma paciente, do 0 tratamentor lade de sua condigao clinica, Bla mente, dizendo que iria embora e nao queria conversar, Mesmo assim, acabou falando do acidente em que estavam, ela, seu marido e suas duas filhas recé ocasido em que comegou a chorar. Contou-me que se ia e precisava i em outro hospital, e porque ndo do seu marido. Assim, a paciente conseguiu, pouco a pouco, se acalmar; foi quando Ihe assegurei de seu dit desde que assi Perguntei-lhe, cla sabia a respeito do estado de suas filhas ¢ se havia algum familiar ‘ocupando-se delas, 20 que ela respondeu que sua mae as estava acom- a enfermagem que, mais tarde, providenciou 0 encon Essa situagdo levanta a pergunta: 0 que se passava entre a ciente, os médicos, @ enfermagem ¢ a assist na ver, que todos a tomavam como alguém que ndo queria melhorar, que s6 atrapalhava a condugio do tratamento? ‘Também sob pedido de consultoria, fui atender, na UTI, um paciente, vitima de acidente de moto, com lest medular indicativa 0 (cem)lugar do sucto nas préticas em sade 2 de paraplegia. Ble estava acompanhado de sua esposa que, animada a.cle, Apés escuté te um tempo, novamente volte perguntas para o paciente, ocasido em que ele contou do de como estava, quando, entio, referiu ndo sentir as pernas. Nesse ‘momento a esposa, fora do campo de visio dele, comegou a acenar e a fazer sinais para que eu nao falasse sobre esse assunto com ele dizendo, ie depois no se confirmam, que ela conhecia pessoas indar, apesar das sentencas médicas, tao ela comegou a ‘hos amamos muito”; “estamos juntos hé muitos anos somos muito felizes”, Algumas semanas depois, a esposa me procurou et queixas sobre 0 pessoal da dda enfermagem, Dessa ver, me contou que “no acide seu casamento "es “tudo vai ficar bem’, seri possivel a equipe, o familiar e o paciente irem na mesma directo no tratamento? Como pensar que um familiar possa ficar satisfeito com a paraplegia do paciente? A hipétese aqui sustentada & que o modelo biomédico, que a.0 saber eo fazer da medicina, para se constituir como um saber ecientifico sobre o corpo, exclu o que & da ordem do sujeito . Mas 0 que é excluido acaba retornando ¢,sem luger, torna-se um empecilho para a intervencao médica. Para discutir as questées que aqui propomos, apresentaremos um breve histérico das concepgdes de satide e doenca, determinantes para 0 modo de operar da medicina na atualidade. Historia das concepgdes de satide e doenga Como qualquer histéria, também a histéria dos paradigmas da medicina pode ser contada de diversos modos, dependendo, 28 Heloisa Helena Marcon concep¢des do processo satide-doenca em quatro paradigmas, sendo © modelo biomédico o tiltimo deles, mas trarel outras referéncias que taro o aprofundamento de alguns temas de interesse para o presente trabalho. © primeiro paradigma, de acordo com Bai ficar em duas distintas abordag de medicina magico-1 adoecer era resultado de alguma transgressio — individual ou coletiva ~ aos deuses; ea cura feita por feticeiros ou xamis, que visava resta- belecer o lago com a divindade “ofendida’, Uma outra abordags chamada de medi -o-racional aparece nos papiros doenga como um fenémeno natu de acordo com Queiror (1986), correspon mitos de Hygeia (deusa da saiide) e Ascl Hipdcrates, considerado o pai da medicina (de um de seus ramento Médico), com base nas teorias filo de sua época, propde a teoria dos humores que associa os quatro elementos da natureza ~ Agua, terra, fogo e ar ~ a quatro el corpo — bile amarela io pensados, respectivamente, como equilibrio ¢ desequilibrio desses elementos. Segundo Queiroz, (1986), « medicina hipocratica sinte- tizou as duas correntes anteriormente separadas, uma vez que ela se preocupa tanto com a doenga individual como com a manutencao a satide na relagio dos homens com um sistema ecolégico. A teoria lembra Barros 10 capricho dos iosa), nem como eases (como se pensava na medicina magico ar 4 préticasem sade 29 efeito do puro mecanismo \édico, como veremos a dos mesmo: inclufa a relagio do doen sonhos ¢ até com sua di corpo (como no mecanicista modelo hipocratica era global e diferencial. Nenhum sintoma isolado é ivoco, Para tornar-se 10 ele deve ser referenciado, de forma sincrOnica, ao aspecto geral do paciente e ao conjunto de outros

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