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INTRODUÇÃO

(MURRAY, 2017)

Bordetella são cocobacilos gram-negativos aeróbios estritos, é adquirido por meio de


gotículas infecciosas. O nome Bordetella é em homenagem a, que descobriu o cocobacilo;
(foto do cabra)

Atualmente, são reconhecidas oito espécies, sendo quatro responsáveis por doenças
humanas: B. pertussis, B. parapertussis, B. bronchiseptica e B. holmesii;

Bordetella pertussis é o agente responsável pela coqueluche e iremos focar nessa espécie
pois embora a incidência da coqueluche, morbidade e mortalidade associadas tenham sido
reduzidas consideravelmente após a introdução de vacinas em 1949, a doença ainda é
mundialmente endêmica, sendo estimados 20 a 40 milhões de infecções e 200.000 a
400.000 mortes por ano, principalmente em crianças não vacinadas;
Quanto a sua fisiologia, B. pertussis necessita de meios de cultura suplementados com
carvão, amido, sangue ou albumina para seu crescimento e absorção de substâncias
tóxicas que podem vir a estar presentes no meio;
São organismos são imóveis e oxidam aminoácidos, mas não fermentam carboidratos;

INFECÇÃO E FATORES DE VIRULÊNCIA

A infecção por B. pertussis e o desenvolvimento da coqueluche requerem alguns processos:


- Exposição ao microrganismo;
- Adesão bacteriana às células epiteliais ciliadas do trato respiratório;
- Proliferação bacteriana;
- Produção de dano tecidual localizado; toxicidade sistêmica;

A adesão dos organismos às células epiteliais ciliadas é mediada por proteínas de adesão.
A pertactina e a hemaglutinina filamentosa contêm uma sequência RGD que promove
ligação a integrinas glicoproteicas sulfatadas na membrana das células
respiratórias ciliadas. Estas adesinas também se ligam ao CR3, um receptor glicoproteico
da superfície de macrófagos. Essa interação inicia a fagocitose da bactéria sem iniciar o
metabolismo oxidativo, o que é importante para a sobrevivência intracelular e a replicação
da bactéria; (KOOGAN, 2018)

Adenilatociclase-hemolisina, B.pertussis produz uma adenilatociclase-hemolisina (AC-


H),uma proteína que é secretada no meio e que possui atividade tanto de adenilatociclase
quanto hemolítica. A proteína tem a capacidade de ligar-se a células suscetíveis, sendo
translocada para dentro da célula em sua forma intacta. No interiorda célula-alvo,a molécula
sofre clivagem proteolítica. A ativação da atividade da adenilatociclase pela proteína
eucariota calmodulina resulta em acúmulo intracelular de AMPcíclico. Esse acúmulo pode
suprimir a expressão da resposta imunológica local ao inibir a quimiotaxia e a fagocitose
dos neutrófilos. (MURRAY, 2017)

Possui a toxina pertussis (PT), que fica na membrana do Borfelleta ajudando na sua fixação
por meio das subunidades S2 e S3. Sua subunidade S1 ajuda a evitar a fagocitose e a
impedir a migração de monócitos.
Nos camundongos, os efeitos biológicos da PT consistem em sensibilização de
camundongos à histamina, produção de linfocitose, ativação das células das ilhotas
pancreáticas e estimulação de respostas imunológicas. O anticorpo dirigido contra a PT é
protetor para camundongos expostos por inoculação intracerebral ou do trato respiratório;
(MURRAY, 2017)

Outra adesina é a fímbria, que ajuda na ligação celular, mas ainda possui seu papel na
coqueluche desconhecido;

Toxina dermonecrótica, causa lesões cutâneas e as demais funções ainda são


desconhecidas;

Citotoxina traqueal, é um fragmento de peptideoglicano que estimula a lise de célula


respiratórias ciliadas e estimula a liberação de Interleucina-1 (IL-1 que causa febre) e em
baixas concentrações, causa cilioestase (inibição do movimento ciliar) e em concentrações
maiores, produzidas tardiamente na infecção, provoca extrusão em células ciliadas. A
citotoxina traqueal interfere com a síntese do ácido desoxirribonucleico (DNA), impedindo a
regeneração das células danificadas; (MURRAY, 2017)

B. pertussis produz dois lipopolissacarídeos distintos, um com lipídio A e o outro com lipídio
X. Ambos podem ativar a via alternativa do sistema complemento e estimular a liberação de
citocinas. Suas funções no processo da doença são desconhecidas. (MURRAY, 2017)

DOENÇA
(KOOGAN, 2018)

Coqueluche clínica em crianças não vacinadas pode ser dividida em três estágios:

(1) Prodrômico ou catarral começa e caracteriza-se por sintomas inespecíficos de


“resfriado” ou “gripe”, como rinorreia, congestão conjuntival, febre baixa e mal-estar;
Nesse estágio, a doença é altamente contagiosa, devido à presença de grandes
números de microrganismos nas vias respiratórias superiores.
Uma tosse seca e improdutiva aparece em uma fase tardia desse estágio e torna-se
persistente.

(2) Paroxístico ou espasmódico, esse estágio caracteriza-se pela “tosse em staccato”


que provoca um som agudo parecido com “guincho” inspiratório prolongado ouvido
no final do paroxismo. Essa fase pode ter uma duração de 2 a 6 semanas. Nem
todas as crianças com coqueluche apresentam a tosse característica. Durante esse
estágio, não há febre nem outros sinais e sintomas sistêmicos. Os esforços
inspiratórios durante o paroxismo da tosse são infrutíferos, e o “guincho” é causado
pela inspiração do ar através da glote tumefeita e estreita. O acesso de tosse é
frequentemente seguido de cianose e vômitos. Esse estágio pode ser grave a ponto
de exigir uma assistência ventilatória intermitente.

As complicações que podem surgir durante a evolução da doença incluem pneumonia em


consequência de infecções bacterianas, otite média, sintomas do SNC (i. e., convulsões,
febre alta), encefalopatia, ataxia cerebelar, hérnia inguinal e prolapso retal associado à
tosse intensa.

(3) O estágio convalescente geralmente começa dentro de 4 semanas após o início da


doença, e, durante esse período, observa-se uma redução na frequência e na
intensidade dos acessos de tosse.

A apresentação clínica da coqueluche difere acentuadamente em lactentes, adolescentes e


adultos. A coqueluche em lactentes, por exemplo, pode ter uma apresentação grave, com
elevada taxa de mortalidade, exigindo diagnóstico e tratamento rápidos.
CULTURA E ISOLAMENTO DE BORDETELLA PERTUSSIS
(KOOGAN, 2018)

Como B. pertussis fixa-se preferencialmente ao epitélio ciliado das vias respiratórias


superiores, o aspirado de nasofaringe constitui a amostra de escolha.
Os aspirados nasofaríngeos são mais bem-obtidos com uma sonda de alimentação de
tamanho infantil, conectada a um coletor de muco. A extremidade da sonda de alimentação
é introduzida em uma das narinas, ao longo do assoalho da nasofaringe, até alcançar a
parte posterior da faringe. Quando a sonda estiver em posição, aplica-se uma aspiração
suave. Após a aspiração, injeta-se solução salina (1 mℓ ) através da sonda até o recipiente
de coleta.

Para as amostras obtidas com swabs, um swab nasofaríngeo de ponta pequena é


introduzido posteriormente através de cada narina até a ponta do swab alcançar a parte
posterior da nasofaringe. Cada swab deve permanecer no local por 30 segundos a um
minuto, de modo que possa ocorrer adsorção dos microrganismos pelo swab.

Além disso, os ensaios baseados na PCR para a detecção direta de B. pertussis podem ser
inibidos pelas fibras de alginato de cálcio e pelo alumínio; as amostras processadas para a
detecção de B. pertussis por PCR devem ser coletadas com swabs de dácron com hastes
de plástico.
Os swabs nasofaríngeos obtidos juntamente com um aspirado podem proporcionar maior
rendimento de culturas positivas.

São necessários meios especiais para o isolamento de B. pertussis. O meio clássico


utilizado para esse microrganismo é o ágar Bordet-Gengou (BG). Esse meio é preparado
com batatas para obter um elevado conteúdo de amido. O amido neutraliza os materiais
tóxicos que podem estar presentes no ágar ou na própria amostra. As peptonas devem ser
omitidas do meio, visto que essas proteínas também são inibitórias. O ágar BG também
contém glicerol como agente estabilizador. Embora a base de ágar BG “caseira” seja
superior, dispõe-se no comércio de um meio basal desidratado (Remel Laboratories; BD
Biosciences).

Se houver suspeita de coqueluche, o laboratório precisa ser notificado antes de receber a


amostra, visto que o meio final de cultura deve ser preparado no momento.

Para preparar o meio, a base de ágar batata/glicerol é fundida, e são adicionados 30 mℓ de


sangue de carneiro desfibrinado por 100 mℓ de meio de base ágar (aproximadamente 23%
de sangue P/V). Deve-se adicionar cefalexina (concentração final de 40 μg/mℓ) a parte do
meio para inibir os microrganismos gram-positivos contaminantes que podem estar
presentes na amostra. A cefalexina pode ser substituída por meticilina (2,5 μg/mℓ) ou por
oxacilina (0,625 μg/mℓ).

Tanto o meio não seletivo quanto o meio seletivo devem ser semeados, visto que algumas
cepas de B. pertussis podem ser ligeiramente inibidas pela cefalexina.

Nas culturas, podem-se observar colônias de B. pertussis depois de 2 a 4 dias.


Os isolados clínicos recentes de B. pertussis em ágar BG aparecem como colônias lisas e
brilhantes, com perfil convexo alto. Classicamente, as colônias são descritas como
semelhantes a gotículas de mercúrio. As colônias em ágar BG podem ser ligeiramente
betahemolíticas, em particular nas áreas mais confluentes de crescimento ou após
incubação prolongada. Em meio de ágar RL, as colônias são pequenas, convexas e
brilhantes, com opalescência de madrepérola branca. As colônias de B. parapertussis
crescem mais rapidamente, produzem maior beta-hemólise em ágar BG e exibem uma
coloração cinza ou ligeiramente castanha.

Teste direto com AF


(KOOGAN, 2018)

Os testes diretos de AF (AFD; anticorpo fluorescente direto) têm sido utilizados para a
detecção direta de B. pertussis e B. parapertussis em esfregaços preparados a partir de
amostras nasofaríngeas.

Embora o teste do AFD forneça resultados rápidos, a cultura realizada em meios


apropriados é mais sensível e muito menos sensível do que os métodos moleculares (i. e.,
PCR). Dependendo da fase da evolução clínica em que as amostras são coletadas, o teste
do AFD pode não detectar microrganismos em pequeno número que podem ser
identificados por cultura ou por PCR.

TRATAMENTO DA COQUELUCHE
(Bartkus, 2003)

Nas crianças, a coqueluche é geralmente tratada com eritromicina (estolato de eritromicina,


40 a 50 mg/kg/dia) em quatro doses fracionadas durante 14 dias, a fim de evitar a
ocorrência de recidiva. Para adultos e adolescentes, são administrados 2 g/dia durante 14
dias. Os ciclos mais curtos (p. ex., 7 a 10 dias) podem não eliminar os microrganismos das
vias respiratórias superiores.

As cepas de B. pertussis resistentes a eritromicinam continua sendo relativamente


incomuns, porém não se pode subestimar a sua prevalência. Estudos indicam que a
resistência dessas cepas à eritromicina deve-se, aparentemente, a uma mutação que altera
o sítio de ligação da eritromicina no gene rRNA 23S. 92 Foram utilizados outros fármacos
em estudos não comparativos abertos, que eliminaram com sucesso o microrganismo do
trato respiratório. A azitromicina durante 3 a 5 dias ou a claritromicina durante 7 dias são
capazes de eliminar B. pertussis da nasofaringe e não apresentam os efeitos colaterais
gastrintestinais da eritromicina.

VACINAS PERTUSSIS
(KOOGAN, 2018)

A vacina pertussis original de células inteiras era administrada com toxoides diftérico e
tetânico e adjuvantes contendo alumínio (DTwP). Após aprovação, o uso disseminado da
vacina de células inteiras resultou em declínio da coqueluche nos países que tinham
imunização obrigatória, e acumularam-se evidências adicionais de sua eficácia em
consequência de uma redução dos programas de vacinação em alguns países.

A divulgação de relatos de encefalopatia e sequelas neurológicas permanentes


relacionadas com a administração da vacina DTwP acelerou os esforços para o
desenvolvimento de vacinas acelulares ou de “subunidades”. As vacinas pertussis
acelulares contêm PT e FHA, e algumas delas também contém pertactina (proteína de 69
kDa) ou fímbrias e pertactina.

Nos EUA, três vacinas DTaP são licenciadas:

- Infanrix ® (GlaxoSmithKline Pharmaceuticals): contém PT, FHA e pertactina;


- TriPedia® (Sanofi Pasteur, Inc.): contém PT e FHA;
- DAPTACEL ® (Sanofi Pasteur, Inc.): contém PT, FHA, pertactina e fímbrias tipos 2 e
3;
O esquema de imunização consiste em três doses de DTaP por injeção intramuscular, a
intervalos de 4 a 8 semanas, normalmente aos 2, 4 e 6 meses de idade, sendo a quarta
dose administrada com 15 a 18 meses de idade. Recomenda-se uma quinta dose aos 4 a 6
anos de idade.

REFERÊNCIAS

Bartkus JM, Juni BA, Ehresmann K, et al. Identification of a mutation associated with
erythromycin resistance in Bordetella pertussis: implications for surveillance of antimicrobial
resistance. J Clin Microbiol. Ed. 2, 1167–1172. 2003;

KONEMAN, E. W.; ALLEN, S. D.; JANDA, W. M.; SCHRECKENBERGER, D. C.; WINN JR.,
W. C. Diagnóstico microbiológico: texto e atlas colorido. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.

MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.; PFALLER, Michael A. Microbiologia médica. 7.
ed. Rio de Janeiro (RJ): ELSEVIER, 2017.

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