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Fátima José Bande

A Educação no século XX (Escola Nova)


Licenciatura em ensino Básico 3º ano

Universidade Licungo
CEAD-Mocuba
2021
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Fátima José Bande

A Educação no século XX (Escola Nova)


Licenciatura em ensino Básico 3º ano

Trabalho de carácter avaliativo a ser


entregue na cadeira Educação
Comparada leccionado pelo;

Docente: Dr. Paulo Mussolo Calima

Universidade Licungo
CEAD-Mocuba
2021
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Índice
Introdução ................................................................................................................................... 3

Entre o pensamento educacional e o cotidiano educativo .......................................................... 4

Uma didáctica relação entre as propostas da Escola Nova e seus condicionantes


socioeconómicos ......................................................................................................................... 5

A crítica escolanovista ................................................................................................................ 6

Conclusão ................................................................................................................................... 8

Referencias Bibliográficas .......................................................................................................... 9


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Introdução
Toda empreitada de escrita é pretensiosa e modesta ao mesmo tempo, uma vez que define
certos problemas e pontos de vista, excluindo outros. Aproveitamos esta sua reflexão para
justificar da mesma maneira o presente trabalho, no qual objectiva-se levantar algumas
discussões sobre o debate acerca do movimento escolanovista.
O movimento escolanovista, aqui analisado, não faz menção a um único modelo de escola.
Refere-se a uma proposta que envolve um conjunto de ideias que se contrapõem ao ensino
tradicional vigente no final no século XIX e início do século XX. As primeiras escolas novas
surgiram em instituições privadas da Inglaterra, França, Suíça, Polônia, Hungria, entre outros
países, depois de 1880. A escola nova propõe um foco no ensino democrático, que, por sua
vez, contempla a ideia de uma "pedagogia contemporânea". Destarte, a valorização dos
impulsos naturais da criança passa a ser enfatizada. Um movimento que se fez presente em
inúmeros países, como Inglaterra, Alemanha, Áustria, França, Suíça, Espanha, Estados
Unidos da América e no Brasil, dentre outros, que tomou diversas faces e formas de ação
permeou culturas muito distintas, torna-se a prioridade de um movimento complexo, na
medida em que envolveu inúmeros intelectuais e inúmeros agentes da prática.
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Entre o pensamento educacional e o cotidiano educativo


Franco Cambi é professor de Pedagogia Geral na Universidade de Florença, Itália. Sua obra
“História da Pedagogia” é considerada por António Nóvoa, que faz a sua apresentação, como
uma renovação na tradição dos manuais de história da pedagogia, pois adopta uma estrutura
que perpassa o “mundo antigo” até a “época contemporânea”. O caminho histórico adoptado
pelo autor vai ao encontro de seu objectivo de auxiliar o desenvolvimento de uma consciência
histórica, ou seja:
O volume se qualifica como um instrumento destinado a produzir, ao mesmo tempo,
competência disciplinar e competência formativa, voltado também a delinear uma
figura de pedagogo e/ou educador que no âmbito da própria profissionalização não
abafe consciência histórica, empobrecendo assim os instrumentos que usa e os
contextos em que os usa. (CAMBI, 1999, p.19).

Após percorrer um longo caminho na história da pedagogia, e aépoca contemporânea na


quarta parte da sua obra, sendo o capítulo 3 destinado ao âmbito do século XX até os anos de
50. É durante esse período histórico, segundo o autor, que a prática educativa volta-se para
um novo sujeito, impondo novos protagonistas, a mulher, a criança e o deficiente passam a
fazer parte do processo de socialização educativa. A escola, ao se abrir para as massas, passa a
se impor como instituição chave da sociedade democrática e se nutre de um forte ideal
libertário. É nesse momento que o activismo realiza uma reviravolta radical na educação
escolar, colocando no centro a criança e suas necessidades, rompendo com o passado, com
uma instituição escolar formalista, disciplinar e verbalista.
Sobre o movimento do activismo Cambi (1999, p. 514) afirma que: Entre o último decénio do
século XX e o terceiro decénio do novo século, afirmam-se na pedagogia mundial algumas
experiências de vanguarda, inspiradas em princípios formativos bastantes diferentes daqueles
em vigor na escola tradicional. A característica comum e dominante dessas escolas novas, que
tiveram difusão predominantemente na Europa ocidental e nos Estados Unidos, deve ser
identificada no recurso à actividade da criança. A criança é espontaneamente ativa e necessita,
portanto, ser libertada dos vínculos da educação familiar e escolar; permitindo-lhe uma livre
manifestação de suas inclinações primárias.
Sobre as bases científicas do movimento, Cambi (1999) destaca a Psicologia –
principalmente a psicologia infantil - e a Sociologia – no que diz respeito ao
movimento de emancipação das massas. As escolhas científicas tiveram implicações
políticas caracterizadas pela orientação democrática, destinada a formar um homem
mais livre e mais feliz, mais inteligente e mais criativo.
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São elencados pelo historiador cinco “mestres teóricos” do activismo: John Dewey –
considerado o mais ilustre, Ovide Decroly, colocar os nomes completos Claparède, Ferrière e
Maria Montessori. a preocupação de Decroly (1871-1932) era em conhecer melhor a criança,
para realizar um processo de individualização capaz de respeitar as épocas de seu
amadurecimento. Para ele, todo processo de aprendizagem-ensino devia ser organizado
segundo “centros de interesse” da criança, os quais seriam ligados às suas necessidades
fundamentais.

Uma didáctica relação entre as propostas da Escola Nova e seus condicionantes


socioeconómicos
Cristiano Amaral Garboggini di Giorgi é professor na Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho e atua principalmente nas questões de política educacional, história da
educação, reformas educacionais, formação de professores e educação de adultos. Ao
introduzir sua obra, Di Giorgi (1992) afirma que com ela procura dar um passo no sentido de
conhecer criticamente o que existe em relação a “Escola Nova”, por considerar ser esta
condição indispensável para superá-la. Segundo suas próprias palavras:

Para superar a pedagogia de compromissos vagos, sem princípios consistentes, a


reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a prática educacional
apresenta é fundamental. Em suma, há uma necessidade de teoria, coisa que em
pedagogia costumamos desdenhar. (DI GIORGI, 1992, p. 7).

O movimento da Escola Nova no debate pedagógico como um todo, classificando, dentro das
concepções fundamentais da filosofia, o movimento como tendo uma concepção humanista
moderna da educação, na qual há uma visão de homem centrada na existência, na vida, na
actividade, a educação passa a centrar-se na criança, na vida, na actividade. No que se refere
às práticas pedagógicas o autor localiza o movimento na tendência progressista a qual sustenta
que a finalidade da escola é adequar as necessidades individuais ao meio social. O importante
não é que o aluno domine determinados conteúdos, mas que aprenda a aprender.

Sobre os princípios da Escola Nova, Di Giorgi (1992) afirma que sua proposta
nuclear era descentrar o ensino da figura do professor para centrá-lo na do aluno, a
curiosidade e a sensibilidade infantis eram estimuladas, uma vez que para a criança
o desejo era de conhecer a realidade de forma global. O autor afirma que é no que se
refere às diferenças individuais que todos os defensores da Escola Nova convergem,
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uma vez que a pedagogia da Escola Nova ressalta ao extremo as diferenças


individuais. Se na pedagogia tradicional entendia-se que todos os homens eram
essencialmente semelhantes, esta é uma pedagogia que descobre e defende as
diferenças.

A crítica escolanovista
Inés Dussel é professora de ensino e currículo na Universidade de Madison, Wisconsin, sendo
seus campos de actuação a história da educação, currículo e multiculturalismo e a pedagogia.
Marcelo Caruso é professor do departamento de educação comparada da Universidade de
Humboldt em Berlim, Alemanha. Os pesquisadores, de origem argentina, escrevem juntos a
obra “A invenção da sala de aula – uma genealogia das formas de ensinar”, tendo como
objectivo focalizar:

Um exemplo de como o conhecimento pedagógico – essa ciência, essa arte –


desempenhou um papel importante no momento de armar e dar um contorno a um
de nossos mais antigos conhecidos: a sala de aula da escola elementar. [...] Talvez
isso nos ajude a lidar com nossos temores e a nos apropriarmos com decisão desse
espaço de acção.” (DUSSEL e CARUSO, 2003, p. 24).

Assim como em Cambi (1999) a Escola Nova também não é o foco da obra de Dussel e
Caruso (2003), em “A invenção da sala de aula” os autores fazem uma genealogia4 das
formas de ensinar, tendo como foco o olhar sobre a sala de aula, sendo ela o núcleo, o
elemento insubstituível da escola. Optam por um movimento histórico que vai desde o final
da Idade Média até meados do século XX. É no capítulo quatro da obra que abordam a tática
escolar no século XX, criticando a Escola Nova, ao que nos deteremos nesse momento.

Dussel e Caruso (2003) afirmam que as primeiras escolas novas, começaram a


funcionar nos últimos anos do século 19, sendo que sua influência como movimento
pedagógico fez-se sentir com intensidade até a 2ª Guerra Mundial (1939-1945),
tendo seu auge aproximadamente entre 1900 e 1945.

Os autores elencam algumas situações históricas que permearam o auge do movimento


escolanovista: a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que abre possibilidades para que
grupos que desejavam mudanças radicais encontrassem, de repente, maior repercussão; as
críticas dos socialistas e comunistas ao crescimento descontrolado dos mercados, afirmando
que criavam grandes problemas de exploração; o crescimento das sociedades e das
economias, pois um crescimento descontrolado levava a crises que se repetiam em nível
mundial; o progressivísmo, o qual trouxe a ideia de corporações sendo geridas pela ciência e
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pelo conhecimento especializado, sendo que nessa concepção o professor deixa de ser um
representante de Deus ou do Estado para ser um gerente da aprendizagem dos seus alunos.

Após lançarem um olhar histórico para a origem do escolanovismo, dos seus


teóricos, chegam às criticas à escolanova, as quais são embasadas na compreensão
teórica foucaultiana do termo bio-poder. Biopoder, ou governamentalidade, é
conceituada por Foucault como sendo um conjunto constituído pelas instituições,
procedimentos, análises e reflexões, os cálculos e as táticas, que permitem exercer
essa forma bem especifica, embora muito complexa de poder, que tem por alvo
principal a população, por principal forma de saber a economia política e por
instrumento técnico essencial os dispositivos de segurança. (FOUCAULT, 2008).

Segundo os autores em questão: A sala de aula reformista foi a sala de aula do biopoder, desse
poder que procurava administrar o crescimento, para que não se desviasse. Após o anúncio da
liberação das crianças das amarras da antiga pedagogia, inventaram-se novos
constrangimentos, mais sofisticados, mais modernizados, que não deixavam de ser regulações
e actos de poder.
É a bandeira de liberdade da criança acenada pela Escola Nova que é questionada por Dussel
e Caruso (2003), uma vez que acreditam que o que resultou foram novas formas de governar a
criança, novos meios de avaliá-las, sendo afirmado por eles que se por libertação da criança
entende-se que não seja governada de nenhuma forma, pode-se afirmar que o escolanovismo
estava enganado.
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Conclusão
Paulo Freire (2001) diz que estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exacta do
objecto, é perceber suas relações com outros objectos. Podemos concluir que ao se estudar a
Escola Nova exige esse “desocultar” ao qual Freire se refere. Um movimento pulverizado, no
sentido de ter-se constituído por muitos teóricos e não conter apenas um método de ensino,
necessita um olhar que relacione os múltiplos objectos que constituíram esse movimento.
Pensa-se que analisar obras que discutem e analisam historicamente o movimento da Escola
Nova, perceber suas semelhanças e diferenças discursivas permitem avançar num
entendimento mais crítico e menos ingénuo acerca da mesma.
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Referencias Bibliográficas
CAMBI, Franco. História da Educação. São Paulo: Ed. da UNESP, 1999.
CORAZZA, Sandra Mara. História da infância sem fim. Ijuí: Ed. Unijuí, 2000.
DI GIORGI, Cristiano. Escola nova. 3.ed. São Paulo: Ática, 1992.
DUSSEL, I.; CARUSSO, M. A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de
ensinar. São Paulo: Moderna, 2003.
FOUCAULT, M. Aula de 1 de Fevereiro de 1978. In: Segurança, Território, População.
São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores. Estud. av., São Paulo, v. 15, n. 42,
Aug. 2001.
LOURENÇO FILHO, Manuel B. Introdução ao estudo da escola nova: bases, sistemas e
directrizes da Pedagogia contemporânea. - 12ª Ed. - São Paulo: Melhoramentos, 1978.
MICHAELIS, Dicionário prático língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos,
2010.

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