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INTRODUGAO AO ESTUDO DO_DIREIT NACAPA: Cartdo de LINO ANTONIO para o painel cerdmico da parede de fundo dos Passos Perdidos. Representa a fundago da Univer- sidade de Lisboa em 1290 pelo Rei D. Dinis © uma aula de Direito da mesma époce | JOAO DE CASTRO MENDESt (Professor da Faculdade de Direito de Lisboa da Universidade Catdlica Portuguesa) INTRODUCAO AO ESTUDO DO DIREITO Edigio revista pelo Prof. Miguel Teixeira de Sousa (Professor da Faculdade de Direito de Lisboa) PE LISBOA. 1994 Avtor: Soto Costra Mendes Reservados todos os dieitos desta edigio para Pedro Feneira - Artes Grifices— losé Francisco da Costa Composici0, Montagem e Impressto: Pedro Fenreirs, Ares Gr Ras Jorge Casilho, 14 Tel, 916 1708 Rio de Mowro— 2735 Cacémn Eeigto: Pedito Ferreira Rua Jorge Castilho, 14 Tel. 9161708 Rio de Mouro—2735 Cacém Depésito Legal: 81893794 ‘Tiagem: 5 000 exemplares Lisboa, 1997 UTP RRND REET ERE TERRIER: | NOTA SOBRE A PRESENTE EDICAO Nesta nova edigéo da Introdugao ao Estudo do Direito do Prof. Jodo de Castro Mendes foram introduzidas apenas algu- ‘mas pequenas alteracdes, quase todas impostas pela necessd- ria actualizagdo. Que ela possa ajudar a perpetuar a meméria do Prof. Jodo de Castro Mendes, é 0 desejo de quem dela gosto- Samente se encarregou. Lisboa, Setembro de 1994 Miguel Teixeira de Sousa NOTA SOBRE A ANTERIOR EDICAO Era intencdo do Prof. Doutor Jodo de Castro Mendes publicar uma nova edi¢do das suas ligées universitérias, parti- cularmente as de Introdugio ao Estudo do Direito, de Teoria Geral do Direito Civil, de Direito Processual Civil e de Direito Comparado. Nao tho consentiu, porém, a doenca que 0 arrancou ao convivio dos seus colegas, colaboradores e discipulos, em Marco de 1983. Pela urgéncia de publicacto das ligées de Introdugao 20 Estudo do Direito — praticamente esgotadas na sua anterior verso poli- copiada — tomou o signatirio sobre si, para que ndo perdesse actualidade, levar a cabo a nova publicagao delas, mesmo antes da edigito definitiva das Lighes Universitérias do Saudoso Mestre, projectada no ambito da Faculdade de Direito de Lisboa. Foi preocupacao respeitar fielmente o texto escrito pelo Prof. Castro Mendes, introduzindo nele apenas as actualizagdes de ordem legislativa e bibliogréfica que o proprio Mestre ia permanentemente sugerindo a quem com ele colaborava no ensino da matéria. E apenas no desejo de manter vivo 0 pensamento do Prof. Doutor Joao de Castro Mendes que, em termos de urgéncia, se publica a presente edigdo. ‘Victor Manuel Pereira de Castro CAPITULO I CONCEITO DE DIREITO 1. NOCAO CENTRAL DE DIREITO 1. Podemos definir direito, no sentido central desta palavra, como o sistema de normas de conduta social, assistido de proteceao coactiva. IL A existéncia do direito decorre de duas ordens de factos, que podemos exprimir pelas frases scguiutes, A) O Homem 6 um animal social; B) Ubi societas, ibi jus. A) O Homem é um animal social: ¢ de sua natureza viv n&o isolado, mas em convivéncia dentro de Um grupo orgai zado: em sociedade. es Em todos os pontos da nossa exposicao abstrairemos de problemas que se levantam e que teria interesse discutir e anali- sar. Assim, neste momento, era importante estudar as seguintes questdes: a) Sea sociabilidade do Homem é uma tendéncia natural e originéria ou uma tendéncia implantada pela sua evolugiio. INTRODUGAO AO ESTUDO DO DIREITO Comummente, entende-se que € uma tendéncia natural ¢ originaria. Mas alguns autores ¢ pensadores de destaque sustentaram que se nao trata de uma tendéncia natural: o estado de natureza do Homem € 0 de isolado, e o estado social apre- senta-se como distorgdo da natureza do Homem. Entre esses pensadores destacam-se ROUSSEAU? ¢ HOBBES?. Concordando em que o estado de natureza do Homem ¢ 0 de n&o integragdo em sociedade, divergem em seguida nas consideragGes ulteriores. Para ROUSSEAU, no seu estado de natureza 0 homem € bom (mito do bom selva- gem), a sociedade € que o corrompe. Para HOBBES, em estado de natureza o Homem € mau (homo homini lupus, bellum omnium contra omnes) ¢ € a sociedade que remedeia esta maldade natural. A ideia de um estédio associal do Homem é apenas uma premissa l6gica: pretende-se dar & sociedade uma base conven- clonal (contrato social) ¢ no natural. Factica e historicamente no tem qualquer apoio. b) Qual o primeiro tipo. de sociedade historicamente aparecido: Se a familia, fundada naturalmente na comuni- cagio dos sexos ¢ na necessidade de criagao de filhos, resultando as sociedades maiores (horda, tribo, estado) da con- juncdo de familias; se a horda, vivendo em promiscuidade e onde a divisdo em familias seria j4 um estédio posterior de 1, Jean-Jacques Rousseau, nascido em Genebra (1712-1778), autor do «Dis- ‘curso sobre @ origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1753) e de «© Contrato Social» (1762). «Foi ele quem deu clara e racional forma a quanto confusamente se agitava na consciéncia politica do século» (Giorgio del Vecchio,

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