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Linhas orientadoras de resposta - AF5

- Semiótica, Dinâmica e Linguística –


Será a Justiça o princípio e o fim do Direito?

1. Símbolos do Direito (Semiótica)


O símbolo mais saliente e reconhecido do Direito é a figura da deusa romana Iustitia, que
personifica o conceito de Justiça. Embora as suas representações tenham, frequentemente,
vários elementos (como a venda ou a espada), o mais saliente é a balança – representação
do equilíbrio buscado pelo Direito entre “o bem e o mal jurídicos (…) infração e pena,
lesão e indemnização” (p.165).

2. Palavras do Direito (Linguística)


O campo semântico do Direito, em língua portuguesa, centra-se em torno de duas
palavras: o próprio “Direito”, e “Jurídico”, cada uma com a sua história própria:
a) DIREITO: provém do latim “rectum”, que denotava o equilíbrio dos pratos da
balança, quando esta tinha um fiel – representação do pretor. Este significado
equivale ao grego ísos (igual).
b) JURÍDICO: provém do latim “ius”. Paulo Ferreira da Cunha considera que a origem
etimológica mais provável da expressão será “iovis iubet” – o que Júpiter (o “deus
pai” do panteão romano) ordena.

3. Dinâmica do Direito
3.1. A dupla tridimensionalidade do Direito
Apesar de o universo jurídico conter alguns elementos de ficção (exemplificados pelo
facto de os ovos, a lã ou os juros serem, juridicamente, tratados como frutos – p. 171), ele
é, sobretudo, concreto, um facto social com o qual os cidadãos lidam diariamente, mesmo
não sendo especialistas.
Assim, o Direito pode ser encarado como um fenómeno tridimensional: é,
simultaneamente, facto, valor e norma. Para além disso, o Direito é também
tridimensional no que diz respeito às suas funções, pelo que podemos falar de uma dupla
tridimensionalidade, conforme a teorização do jurista conservador brasileiro, Miguel
Reale.
a) Tridimensionalidade fenoménica:
i. Direito como facto: O Direito é uma criação humana; porém, como diz respeito a factos
reais (naturais ou humanos) e cria factos, é, ele próprio, um facto. Com Kelsen (apud p.
174), pode-se dizer que o Direito transforma tudo o que toca em matéria jurídica;
ii. Direito como valor: ao lidar com factos, o Direito confere-lhes sentido ao analisá-los,
medi-los, sob o prisma de valores como a liberdade, igualdade, paz, segurança, etc.,
subordinados ao valor-fim da justiça. Assim, os valores mencionados funcionam como
“filtros” do Direito que, por seu turno, os impõe sobre a sociedade;
iii. Direito como norma: este é o aspeto mais facilmente reconhecível do Direito. Após
analisar os factos e os valorar, o Direito produz normas, regra geral escritas.
b) Tridimensionalidade funcional:
i. Avaliar: ao relacionar os factos que são postos à sua análise, “o Direito frequentemente
mede. E medir é uma forma de conhecer e avaliar” (p.175);
ii. Dirigir: a partir da avaliação dos factos, o Direito frequentemente emite recomendações
ou imposições (permissão, proibição, etc.). Quando o faz, exerce a sua função diretiva;
iii. Decidir: o Direito decide tanto quando um juiz dá razão a uma das partes em
determinado caso, como quando um funcionário pratica um ato administrativo (que
implica sempre uma decisão sobre o modo mais adequado de agir).

3.2. Justiça como princípio e fim do Direito


“A Justiça é, pois, o alfa e o ómega do Direito: o seu pressuposto e a sua razão de ser.”
(p. 177).
Não apenas o Direito é criado como forma de atingir a Justiça pela imposição de normas
de conduta nas relações interpessoais que se desenvolvem numa sociedade, como aquela
é também o seu fim, atingido através das finalidades parciais ou instrumentais da Justiça,
a segurança, o equilíbrio (isonomia), a paz social, a ordem, etc. No mundo jurídico
coexistem diferentes tipos de princípios:
a) Princípios doutrinais: são construções dogmáticas (e, por conseguinte, intelectualmente
produzidas) derivadas de generalizações feitas a partir da análise das normas. O seu
interesse é sobretudo metodológico, sistemático e didático;
b) Princípios fundamentais: os juristas positivistas tendem a considerar que os princípios
fundamentais do Direito podem ser retirados do próprio texto normativo de um país,
generalizando-o (lógico-construtivistas), ou, em alternativa, generalizados a partir da
comparação do direito positivo de ordens jurídicas distintas (lógico-comparatistas). Do
ponto de vista jusnaturalista, os princípios fundamentais são os do próprio Direito
Natural.

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