Arcoverde

SOBEM AS ENCOSTAS DO VERDE VALE

DE MARROM DESENFEITADAS

NOVAS CASAS; AVOLUMAM-SE

ENTRE SI AMONTOADAS.

ARCOVERDE, SE RESTASSE

DE TI ALGO VELHO E BOM

AO MENOS ME ALEGRARIA

SABENDO DE CADA CASINHA

UMA HISTÓRIA TUA TERIA

TÃO VELHAS E VIVAS FOSSEM

JUNTO COM A IGREJA MATRIZ

QUE HOJE REPOUSA ANTIGA

HERDEIRA DE OUTROS TEMPOS

MATRIARCA DA SOLEDADE

COMO TAMBÉM FOI MINHA AVÓ BAHIA

CUJA CASA FOI DEMOLIDA

E ONDE SE CONSTUIU UMA LOJA,

GRANDE, ANÔNIMA, ESTÉRIL E SEM HISTÓRIA.

MAS É PENA, AO QUE PARECE

TUDO ISSO ACONTECE

NÃO SÓ NAS TUAS CALÇADAS, NOS TEUS

TERRAÇOS, TUAS VARANDAS

MAS NO MUNDO INTEIRO

O PROGRESSO VOA LIGEIRO, INDESFAZÍVEL,

INEVITÁVEL.

E SOBEM-SE OS MUROS, E PASSAM OS CARROS, E

TOLHE-SE A VIDA.
 Arcoverde

JÁ NÃO MAIS SE VÊEM CRIANÇAS CORRENDO

NAS RUAS.

JÁ NÃO MAIS SE VÊEM CRIANÇAS.

NEM BICICLETAS, RISOS, CHISTES, RIMAS,

BRINCADEIRAS.

SÓ O BARULHO ALTO DAS CORNETAS DOS

PAREDÕES,

A TRISTE EMBRIAGUEZ DAS PUTAS E DOS

CORNOS,

QUE SE RIEM NUM RISO FEIO, TORTO, SEM VIDA.

TODO O DEMAIS É FERIDA.

SE TODOS O ESPÍRITO TE ESQUECEM, EU NÃO

TE ESQUECI.

NESTAS LINHAS TE FIZ LEMBRAR.

A TI, AMOR QUE JÁ PERDI.

CADUCIFÓLIAS, BRISA, CÉU, LUAR.

MINHA TERRA, MEU DESCANSO, MEU LAR.