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Diversidade Étnico Racial Conceitos e Reflexões Na Escola
Diversidade Étnico Racial Conceitos e Reflexões Na Escola
Introdução
1
Professor de História da SEDF, com especialização em Educação de Jovens e Adultos, formador do Curso Construindo Práticas
Educativas na Modalidade EJA: Concepções Teórico-Metodológicas, promovido pela EAPE.
2
Professora de História da SEDF, com especialização em Administração Escolar, mestrado na área de Políticas Públicas e Gestão da
Educação e formador do Curso Construindo Práticas Educativas na Modalidade EJA: Concepções Teórico-Metodológicas,
promovido pela EAPE.
vazia, passando a ser um desejo dos indivíduos poderem controlar suas auto-realizações.
Essa evolução leva os grupos de excluídos a formarem movimentos sociais (de
mulheres, negros, índios, homossexuais), que visam a sua melhor qualidade de vida de
inserção na sociedade e de aquisição de direitos e acesso aos bens e serviços.
Diante dessa realidade, conhecer e reconhecer os grupos socialmente
excluídos torna-se necessário. Além disso, existe a necessidade de identificar os fatores
geradores de tais exclusões, pois as estratégias de conhecimento geram o entendimento
e a possibilidade de se pensar ações concretas que impeçam a reprodução da exclusão.
O termo raça tem sua origem datada do século XVII (MARTINS, 1985, p.182).
Com o passar do tempo, mais especificamente a partir do século XIX, passou a ser
utilizado no sentido de justificar as diferenças fenotípicas entre seres humanos e marcar
relações de dominação político-cultural de um grupo sobre outro.
Há uma linha de intelectuais, dentre eles Paul Gilroy, que argumentam sobre a
não existência de raça, visto que, no tocante à espécie humana, não existem “’raças’
biológicas, ou seja, não há um mundo físico e material nada que possa ser corretamente
classificado como ‘raça’”. (GILROY apud GUIMARÃES, 2006, p. 46). Mas, esse
argumento fica no campo biológico, porque no mundo social, raça, além de ser uma
categoria política, é analítica também, pois “é a única que revela que as discriminações
e desigualdades, que a noção brasileira de ‘cor’ enseja, são efetivamente raciais e não
apenas de ‘classe” (GUIMARÃES, 2006, p.46).
Com isso, o sentido biológico do termo raça foi abandonado e está passando
por ressignificações, por meio do movimento negro brasileiro e das ciências sociais. O
movimento negro utiliza-se desse termo de forma estratégica, pois assim, consegue
valorizar o legado deixado pelos africanos, inclusive, informando como que nas
relações sociais brasileiras, algumas características físicas, por exemplo: formato do
nariz e da boca, cor da pele, tipo de cabelo, dentre outras, exercem ascendência,
intervém e até mesmo, decidem o rumo e o espaço que os sujeitos ocuparão na
sociedade (GOMES, 2004).
O entendimento de que o conceito de raça, no campo social existe, foi
confirmado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, que
definem a raça como “a construção social forjada nas tensas relações entre brancos e
negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas, nada tendo a ver com o conceito
biológico de raça cunhado no século XVIII e hoje sobejamente superado.” (BRASIL,
2004).
Outro conceito bastante utilizado nos estudos sobre as relações raciais é o de
etnia. O termo é derivado do grego ethnikos, adjetivo de ethos, e se refere a povo,
nação. O conceito de etnia baseado no pensamento de Cashmore (2000), diz respeito a
um grupo que possui algum grau de coerência, solidariedade, origens e interesses
comuns. Um grupo étnico é mais do que um ajuntamento de pessoas, às pessoas deve
ser agregado seu pertencimento histórico e cultural.
Gomes (2004) destaca que, “o uso do termo etnia ganhou força para se referir
aos ditos povos diferentes: judeus, índios, negros, entre outros. A intenção era enfatizar
que os grupos humanos não eram marcados por características biológicas herdadas dos
seus pais, mães e ancestrais, mas sim, por processos históricos e culturais”. (2004,
p.50).
Vale destacar, que ao serem subjugados, total ou parcialmente, os povos, tanto
nativos quanto do grupo de invasores, passam por provações e carências, que vão desde
material, até cultural, política e econômica e, em muitas vezes, por todas essas privações
juntas. Quando esses povos tomam consciência destas adversidades, se estabilizam, se
apóiam e se conformam para com àqueles que passaram pelas mesmas experiências. “O
grupo étnico é, portanto, um fenômeno cultural, mesmo sendo baseado originalmente
numa percepção comum e numa experiência de circunstâncias materiais desfavoráveis”
(CASHMORE, 2000, p.197).
Assim, o termo “raça” diz respeito aos atributos dispensados a certo grupo e
“grupo étnico” se refere a uma resposta original de um povo quando, em alguma
situação, se sente marginalizado pela sociedade. Um vocábulo que passou a ser utilizado
no Brasil e merece destaque é a expressão etnicorracial. Seu sentido determina que as
tensas relações raciais estabelecidas no país, vão para além das diferenças na cor da pele
e traços fisionômicos, mas correspondem também à raiz cultural baseada na
ancestralidade afro-brasileira que difere em visão de mundo, valores e princípios da
origem européia (Brasil, 2004, p.13-14).
Nesse sentido, raça e etnia são expressões que se fundem no contexto social
brasileiro, visto que ambos os termos são carregados de significações e podem
determinar o pensamento, a atitude e forma de ser e pensar o mundo e as nuances que o
cercam.
Dessa forma, as leis estão postas e apontam para o fim de toda e qualquer
prática de discriminação presente na sociedade, mas as ações das pessoas ainda são
insipientes nesse sentido.
O racismo é uma construção ideológica que afirma ser uma raça superior a
outra. São vários os racismos. As primeiras manifestações racistas aconteceram no
século XVI; dos colonizadores europeus contra as populações nativas das Américas e
contra os negros africanos. Mas, foi no século XIX, a partir da expansão do capitalismo
industrial, que o racismo se transformou numa política justificada ideologicamente e
praticada pelos Estados Europeus.
1.2.3 Racismo e capitalismo
TABELA 1 - Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade por sexo
segundo cor/raça – 2003
Brasil e Grandes Regiões – 2003
Grandes Regiões e Cor / População total (%) Homens (%) Mulheres(%)
Raça
Brasil 11,56 11,67 11,45
Branca 7,09 6,71 7,42
Negra 16,84 17,22 16,47
Norte 10,56 10,85 10,28
Branca 7,19 7,33 7,06
Negra 11,77 11,99 11,55
Nordeste 23,17 25,14 21,34
Branca 17,69 19,72 15,96
Negra 25,40 27,20 23,66
Sudeste 6,81 5,92 7,61
Branca 5,03 4,10 5,84
Negra 10,02 9,03 10,98
Sul 6,37 5,75 6,94
Branca 5,24 4,64 5,80
Negra 12,10 11,08 13,14
Centro-Oeste 9,47 9,74 9,20
Branca 6,89 6,74 7,02
Negra 11,52 11,98 11,06
Fonte: IBGE/Pnad microdados.
Elaboração: Ipea/Disoc e Unifem.
Nota: Analfabeta é a pessoa que não é capaz de ler um bilhete simples.
Os indicadores que apontam o acesso à educação, na Tabela 2, mostram a
média de anos de estudo da população brasileira de 15 anos ou mais, apresentam que a
universalização do acesso à educação no país, no que diz respeito à população negra,
ainda está longe de acontecer. Percebe-se que, enquanto os brancos têm-se uma média
de 7,61 anos de estudo, os negros apresentam, em média 5,61 anos de estudo.
Ainda na mesma tabela, observa-se a intersecção entre discriminação de raça
e de gênero. Os números apresentam que a média de anos de estudos de um jovem
negro é de 5,48; de um jovem branco é de 7,58. Entre as mulheres negras a média de
anos de estudos é de 5,82 e para as mulheres brancas é de 7,64 anos.
Com isso, a expressiva diferença entre jovens negros e brancos, de 2,1 e
entre as jovens negras e brancas é de 1,82. A intensidade da discriminação racial, na
escolaridade formal, fica explícita e continua extremamente alta, sobretudo se for
considerado que trata-se, em média, de dois anos de estudos em uma sociedade cuja
escolaridade média dos adultos gira em torno de 6 anos.
Considerações finais
O texto apresentado não constitui uma receita para ser seguida a risca, mas sim
uma tentativa de provocar a discussão sobre uma série de fatores culturais, históricos,
políticos e sociais que estão presentes no âmbito da escola e que interferem de forma
positiva e/ou negativa no trabalho didático-pedagógico do cotidiano da sala de aula.
A diversidade etnicorracial deve ser pensada não apenas pelos professores
regentes, mas por toda a comunidade escolar, aqui entendida como: alunos e alunas,
pessoal técnico-administrativo, pessoal de conservação e limpeza, pais, mães e
responsáveis e, mais especificamente, pelos gestores educacionais, que são figuras que
têm trabalho determinante para que o sucesso escolar ocorra.
Por fim, a escola tem que ser um espaço livre de preconceitos, de racismo, de
discriminação e de estereótipos, que, querendo ou não, são atitudes que corroboram de
forma decisiva para o desencadeamento de ações de violência, hostilidade, evasão e
repetência no contexto escolar
Referências bibliográficas