Você está na página 1de 9

08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

Parte Geral – Doutrina

Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de


Regularidade Fiscal do Executado

Partial Guarantee of the Tax Enforcement and the Question Relating to the
Proof of the Fiscal Regularity of the Executed

MAYRA PINO BONATO1


Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,
Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. Autora do
livroImunidade do ICMS sobre a Energia Elétrica, o Petróleo e os Seus Derivados: Limitações
Impostas pelos Poderes Legislativo e Judiciário.

RESUMO: O presente estudo tem por objeto principal a análise da Lei de Execução
Fiscal, do Código de Processo Civil, no que concerne à sua subsidiariedade, bem
como da jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça em relação à
admissão e ao processamento dos embargos à execução em face da garantia parcial
do juízo. Em decorrência, tem o objetivo de sugerir reflexões acerca da obtenção de
certidão de regularidade fiscal pelo executado que não dispõe de patrimônio suficiente
para garantir a execução, mas cuja comprovação de regularidade é essencial para a
manutenção da sua atividade empresarial.

PALAVRAS-CHAVE: Execução fiscal; garantia parcial; admissão e processamento dos


embargos; obtenção de certidão de regularidade fiscal.

ABSTRACT: The main purpose of this study is to analyze the Law on Tax Enforcement,
the Code of Civil Procedure, with respect to its subsidiarity, as well as the jurisprudence
set by the Superior Court of Justice in relation to the admission and processing of the
defence with partial guarantee of tax enforcement. As a result, it aims to suggest
reflections on obtaining fiscal regularity certificate by the taxpayer who does not have
sufficient equity to guarantee execution, but whose proof of regularity is essential for
the maintenance of its business activity.

KEYWORDS: Tax enforcement; partial guarantee; admission and processing of the


defence; obtaining fiscal regularity certificate.

SUMÁRIO:Introdução; 1 Garantia judicial para oposição de embargos à execução


fiscal; 2 Insuficiência da garantia ofertada e admissão dos embargos à execução
fiscal; 3 Efeitos em relação à regularidade fiscal do executado; Conclusões;
Referências.

INTRODUÇÃO
A Lei de Execução Fiscal (LEF) - Lei nº 6.830/1980 - dispõe sobre a
cobrança judicial dos créditos públicos inscritos em Dívida Ativa da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias, com
a aplicação subsidiária de preceitos do Código de Processo Civil (art. 1º da
LEF).

124 RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA

De acordo o art. 2º da LEF, a Dívida Ativa compreende a tributária


(impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimo compulsório e
www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 1/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

contribuições sociais), bem como a dívida não tributária (multas não tributárias,
taxas de ocupação, preços de serviços prestados por estabelecimento público,
custas processuais, etc.), abrangendo, uma ou outra, a atualização monetária,
os juros, a multa de mora e os demais encargos previstos em lei ou contrato.
A inscrição em Dívida Ativa constitui ato administrativo de controle de
legalidade do órgão competente e goza da presunção de liquidez e certeza
(art. 3º da LEF e art. 204 do Código Tributário Nacional - CTN). Tem efeito de
prova pré-constituída, cuja presunção somente poderá ser elidida por prova
inequívoca, a cargo do executado ou de terceiro a quem aproveite (parágrafos
únicos dos artigos mencionados).
Portanto, se, de um lado, a Certidão de Dívida Ativa representa título
executivo extrajudicial apto a instruir o processo de execução fiscal (art. 784,
inciso IX, do Código de Processo Civil - CPC); de outro lado, a ausência de
juridicidade do débito inscrito em Dívida Ativa assegura ao executado o direito
promover sua invalidação mediante a oposição de embargos à execução
fiscal2, com a garantia do juízo, salvo as alegações que admitem ser
veiculadas por meio de exceção de pré-executividade3, sem a necessidade de
garantia do juízo.
Feitas essas breves considerações introdutórias, passa-se à análise da
garantia do executivo para a oposição dos embargos à execução, tal como dos
efeitos no que tange à comprovação de regularidade fiscal do executado, via
certidão, quando tal garantia se der de forma parcial.

1 GARANTIA JUDICIAL PARA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS À EXECUÇÃO


FISCAL
O art. 16 da Lei de Execução Fiscal prevê a figura dos embargos como
meio de defesa do executado, os quais podem ser opostos trinta dias
contados: do depósito (inciso I), da juntada da prova de fiança bancária ou do
seguro garantia (inciso II) ou da intimação da penhora (inciso III). Ou seja, a
garantia da execução é requisito essencial para a admissão dos embargos, e a
Lei de Execução Fiscal preceitua expressamente referida condição de
procedibilidade (§ 1º)4.

RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA 125

Em garantia da execução, pelo valor da dívida, acrescida dos juros e da


multa de mora e dos encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, o
executado tem a possibilidade de efetuar depósito em dinheiro; oferecer fiança
bancária ou seguro garantia; nomear bens à penhora, observada a ordem do
art. 11; ou indicar à penhora bens oferecidos por terceiros e aceitos pela
Fazenda Pública (art. 9º da LEF). Na hipótese de não ocorrer o pagamento,
nem a garantia da execução de que trata o art. 9º da LEF, a penhora poderá
recair sobre qualquer bem do executado, exceto os que a lei declare
absolutamente impenhoráveis (art. 10 da LEF).
Ademais, em qualquer fase do processo o juiz poderá deferir: ao
executado, a substituição da penhora por depósito em dinheiro, fiança bancária
ou seguro garantia; e à Fazenda Pública, a substituição dos bens penhorados
por outros, independente da ordem enumerada no art. 11, bem como o reforço
da penhora insuficiente (art. 15 da LEF).
www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 2/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

Relativamente à garantia da execução fiscal para fins de oposição de


embargos, imprescindível destacar que, pelo princípio da especialidade da Lei
de Execução Fiscal, não se aplica o art. 914 do CPC, o qual dispensa a
garantia do juízo para a oposição de embargos. Cabe relembrar, como
mencionado linhas anteriores, que, a teor do art. 1º da Lei de Execução Fiscal,
o Código de Processo Civil é aplicado apenas subsidiariamente e que,
relativamente à admissão dos embargos, a lei especial de execução fiscal
exige a sua garantia prévia.
Sobre essa questão, em 22.05.2013, nos autos do Recurso Especial
(REsp) nº 1.272.827/PE, o Superior Tribunal de Justiça - ainda que sob a égide
do Código de Processo Civil anterior - firmou o entendimento de que,
em atenção ao princípio da especialidade da LEF, mantido com a
reforma do CPC/1973, a nova redação do art. 736, do CPC dada pela Lei nº
11.382/2006 - artigo que dispensa a garantia como condicionante dos
embargos - não se aplica às execuções fiscais diante da presença de
dispositivo específico, qual seja o art. 16, § 1º da Lei nº 6.830/1980, que exige
expressamente a garantia para a apresentação dos embargos à execução
fiscal. (Recurso Especial Representativo da Controvérsia nº 1.272.827/PE,
Número Registro: 2011/0196231-6, 1ª Seção, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, J. 22.05.2013)
Portanto, nos termos da Lei de Execução Fiscal e do entendimento
firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, persiste na execução fiscal a
necessidade de garantia do juízo para oposição dos embargos à execução.

126 RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA

2 INSUFICIÊNCIA DA GARANTIA OFERTADA E ADMISSÃO DOS


EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL
Não obstante a necessidade de garantia do juízo para apresentação dos
embargos à execução, a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o
REsp 1.127.815/SP5, também sob o rito dos recursos representativos da
controvérsia, firmou o entendimento acerca da impossibilidade de rejeição
liminar dos embargos em virtude da insuficiência da penhora; e da insuficiência
patrimonial do devedor como justificativa plausível à apreciação dos embargos
à execução, sem que o executado proceda ao reforço da penhora, mas desde
que comprovada inequivocamente.
A postura adotada pelo Superior Tribunal de Justiça, dessa forma, é
fundamentada nos direitos e nas garantias constitucionais, notadamente no
trato isonômico das partes, da inafastabilidade da apreciação do Poder
Judiciário e no exercício regular do direito de defesa do executado (art. 5º,
incisos I, LV e XXXV, da Constituição Federal).
A questão de insuficiência de bens da parte executada e a possibilidade
de admissão dos embargos à execução por ela opostos também são
defendidas por Leandro Paulsen, René Bergmann Ávila, Ingrid Schoroder
Sliwka e Humberto Theodoro Junior. Destaca-se:
Caso o devedor não disponha de patrimônio suficiente para a garantia
integral do crédito exequendo, cabe-lhe comprovar inequivocamente tal
situação. Neste caso, dever-se-á admitir os embargos, excepcionalmente, sob
pena de se violar o princípio da isonomia sem um critério de discrímen
www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 3/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

sustentável, eis que dar seguimento à execução, realizando os atos de


alienação do patrimônio penhorado e que era insuficiente para garantir toda a
dívida, negando ao devedor a via dos embargos, implicaria restrição dos seus
direitos apenas em razão da sua situação de insuficiência patrimonial. Em
palavras simples, poder-se-ia dizer que tal implicaria em garantir o direito de
defesa ao "rico", que dispõe de patrimônio suficiente para segurar o Juízo, e
negar o direito de defesa ao "pobre", cujo patrimônio insuficiente passaria a ser
de pronto alienado para a satisfação parcial do crédito. Não trato da hipótese
de inexistência de patrimônio penhorável pois, em tal situação, sequer haveria
como prosseguir com a execução, que restaria completamente frustrada.6
A penhora deve recair sobre bens suficientes para recobrir a totalidade
da dívida exequenda e seus acessórios (NCPC, art. 830). Nem sempre, porém,
serão encontrados bens em tal montante. Isto não será tratado como obstáculo
ao prosseguimento da execução fiscal nem ao exercício do direito de defesa
do devedor. "Embora desejável, não é essencial para a admissibilidade dos
embargos do devedor que o bem penhorado satisfaça integralmente o débito
exequendo. A insuficiência da penhora não obsta a apreciação dos embargos
do devedor, mormente se não restou provada, mediante prévia avaliação, que
o valor dos bens constritos não atende à cobertura total da cobrança" (STJ, 2ª
T., REsp 80.723/PR, Relª Min. Nancy Andrighi, Ac. 16.06.2000, RSTJ,
135:229). No mesmo sentido: STJ, 1ª T., REsp 396.732/MG, Rel. Min. Luiz
Fux, Ac. 17.09.2002, DJU 14.10.2002, p. 197).7

RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA 127

Extrai-se, dessa forma, que a jurisprudência se mostra positiva ao


viabilizar o processamento dos embargos à execução quando comprovada a
situação de hipossuficiência da parte executada para a garantia integral do
débito exequendo. Não obstante, a garantia do débito também é hipótese de
obtenção, pelo executado, de certidão positiva de débito com efeito de
negativa - CPD-EN -, imprescindível para o desenvolvimento de sua atividade
empresarial. Nesse ponto, portanto, a principal questão a ser explorada são os
efeitos da garantia parcial em relação à comprovação de regularidade fiscal do
executado. Passamos à sua análise e reflexão.

3 EFEITOS EM RELAÇÃO À REGULARIDADE FISCAL DO EXECUTADO


É de conhecimento que a ausência de certidão de regularidade fiscal
limita a prática de diversos atos da vida comercial e financeira, seja para a
realização de contratações lícitas e legítimas, necessárias a investimento na
atividade empresarial, investimento de fomentadores8, de amplo benefício
social, para empregos que a atividade empresarial gera e para o próprio
desenvolvimento do País, como geradora de riqueza.
Ocorre que, se, de um lado, a garantia parcial da execução por meio da
comprovada insuficiência patrimonial do executado possibilita o
prosseguimento dos embargos opostos; de outro lado, poderá obstar a
manutenção de regularidade fiscal do contribuinte executado, nos termos do
art. 206 do Código Tributário Nacional.
Para o referido dispositivo legal, ensejam a expedição de certidão
positiva de débito com efeito de negativa: (i) a efetivação de penhora de bens,
isto é, a prestação de caução para os débitos fiscais, ou cuja (ii) a exigibilidade
esteja suspensa.

www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 4/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

Nesse ponto, ao analisar os efeitos do oferecimento de garantia na


execução fiscal à luz do disposto no art. 206 do CTN, Bruno Batista da Costa
de Oliveira9 adverte que,

128 RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA

na prática, a garantia iguala o devedor ao contribuinte quite; quis o


legislador que a garantia tivesse o mesmo resultado que a quitação, ao menos
no que diz respeito às pendências junto ao Fisco e suas consequências quanto
à possibilidade de praticar determinados atos jurídicos.
Com efeito, inexistindo a efetivação integral da penhora de bens exigida
pelo art. 206 do Código Tributário Nacional, resta ao executado alcançar a
suspensão da exigibilidade do débito como meio alternativo imposto pelo
referido dispositivo legal. A questão, todavia, não é simples e comporta alguns
desdobramentos de reflexão.
Primeiramente, entendemos ser cabível o ajuizamento de ação ordinária
com pedido de tutela provisória para a suspensão da exigibilidade da execução
fiscal e do crédito tributário por ela exigido10, com a demonstração da
plausibilidade jurídica do direito11; de que o executado não possui meios
financeiros para garantir integralmente o débito12; tal como do risco de dano
irreparável ao contribuinte ou risco ao resultado útil do processo.
Todavia, em determinadas circunstâncias, é imprescindível reconhecer
que o ajuizamento da ação ordinária pode restar prejudicado pela
litispendência de embargos já opostos à execução garantida parcialmente, o
que impõe refletir sobre a atribuição de efeito suspensivo aos embargos à
execução fiscal e ao crédito tributário em discussão.
Sobre a questão, consigna de início que as modificações havidas pelo
antigo CPC/1973, pela Lei nº 11.382/2006 (art. 739-A) e mantidas no atual
CPC/2015 (art. 919), no que tange à revogação da previsão de efeito
suspensivo imediato aos embargos do devedor, não tiveram o efeito de alterar
a sistemática aplicável às execuções fiscais, regida especificamente pela LEF.
Isso porque a suspensão do executivo fiscal estaria implícita em uma série de
dispositivos da lei especial de execução fiscal, entre os quais os seus arts. 18,
19, 24 e 32, cuja interpretação, a contrario sensu, leva à conclusão de que a
execução fiscal deve ser suspensa na hipótese de oposição dos embargos13.

RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA 129

Contudo, não obstante a manifestação doutrinária e inclusive do


Superior Tribunal de Justiça acerca da atribuição de efeito suspensivo
automático pela LEF, fato é que posteriormente o próprio Superior Tribunal de
Justiça firmou entendimento, em sede de recurso representativo da
controvérsia, acerca da aplicabilidade do então vigente art. 739-A do
CPC/1973 (correspondente ao art. 919 do CPC/2015) às execuções fiscais
(REsp 1.272.827/PE. Número Registro: 2011/0196231-6, 1ª Seção, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, J. 22.05.2013).
Nesse ponto, não se pode ignorar que a referida decisão acaba
tornando "norma" ao contribuinte, motivo pelo qual vale avançar a reflexão
sobre o cabimento de atribuição de efeito suspensivo aos embargos mesmo
www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 5/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

que não perfectibilizada a garantia integral do débito exequendo. Isso é,


quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória (fumus
boni iuris e periculum in mora) atrelados especialmente à interpretação do
conceito de "suficiência da garantia", disposto no art. 919, § 1º, do CPC.
Referida interpretação é proposta pela tributarista Luiza Lacerda14, cuja
manifestação nos filiamos:

130 RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA

Na concepção comum, suficiente significa aquilo que satisfaz, que é o


bastante. Em uma primeira análise, é possível compreender garantia suficiente
como a garantia que satisfaça integralmente o débito cobrado. Todavia, diante
de eventual demonstração pelo devedor da improcedência absoluta da
cobrança (total ou parcialmente), a penhora de valor correspondente ao
montante apurado devido (por comprovação verossímil) não seria suficiente à
garantia do débito? Trata-se de questão a ser analisada no caso concreto,
cabendo a avaliação da suficiência da garantia em contraposição do direito do
credor.
Outrossim, atrelada à imprescindível análise do fumus boni iuris, não se
pode olvidar que o próprio Código de Processo Civil de 2015 passou a prever o
julgamento antecipado parcial do mérito (art. 356). Isso significa que, na
hipótese dos embargos, após a apresentação de resposta da Fazenda Pública,
poderá o juiz decidir antecipado e parcialmente o mérito quando o pedido se
mostrar incontroverso ou estiver em condições de imediato julgamento. Na
hipótese de o juiz julgar procedente um dos pedidos formulados nos embargos,
após o trânsito em julgado, haverá a possibilidade de levantamento parcial da
garantia. Ou seja, o próprio legislador processual civil possibilita a flexibilização
da norma processual vinculada à ideia de proteção judicial efetiva.
No âmbito jurisprudencial civil, fundamentado no poder geral de cautela
e nas peculiaridades do caso, o Superior Tribunal de Justiça15 ratificou decisão
do tribunal de origem para julgar "adequado, razoável e, de todo prudente, a
suspensão da execução, de modo a suprimir o risco de o exequente obter atos
executórios que ocasionarão danos de difícil reparação ao executado, até a
definição dos embargos".

RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA 131

No âmbito jurisprudencial tributário, embora o deferimento de pedido de


recuperação judicial não implique a suspensão dos atos executórios no
processo de execução fiscal, manifestou recentemente o Superior Tribunal de
Justiça que "os atos de constrição patrimonial só serão adequados caso não
coloquem em risco a atividade empresarial", pelo que deu provimento ao
recurso especial da sociedade empresária em recuperação judicial, com o
retorno dos autos ao juízo da execução para decisão, conforme as
peculiaridade fáticas do caso concreto, a respeito do pedido de suspensão dos
atos executórios (Ag Int-REsp 1548587/MG, 1ª Turma, Rel. Min. Gurgel de
Faria, DJe 09.03.2018).
Para Misabel Abreu Machado Derzi16, inclusive, o princípio da
preservação da empresa não deve ser restringido ao período de crise
econômica da sociedade - não obstante, no presente estudo, a própria
insuficiência patrimonial e financeira indique crise econômica da empresa -,
www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 6/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

mas estendido em prol dos contribuintes durante a sua existência no mercado,


como proteção em face do poder de tributar:
[...] tomar isoladamente a regra da continuidade da atividade
empresarial, para somente aplica-la em momentos de crise, é torná-la inócua,
como lembra Calixto Salomão Filho. No decurso da atividade empresarial,
tributos desproporcionais e inadequados à capacidade econômica da
empresa, podem ser a causa direta de sua ruína e fulminam os fundamentos
do Direito Tributário.

Já sobre a nova era do processo civil, Cândido Rangel Dinamarco17 se


filia ao estudo da hermenêutica visando interpretar a lei substancial segundo
critérios finalísticos e axiológicos em prol da justiça de equidade social
distributiva:
[...] processo e direito material compõem a estrutura jurídica das
nações e acima da missão de um perante o outro paira a grande
responsabilidade de ambos perante os membros da comunidade. Conscientes
dessas verdades que hoje temos por patentes, o processualista das últimas
décadas tornou-se um crítico. Tomou consciência também da grande
necessidade de optar por um método teleológico, em que os resultados valem
mais que os conceitos e estruturas internas do sistema. E apercebe-se de que
o bom processo é somente aquele que seja capaz de oferecer justiça efetiva
ao maior número possível de pessoas - universalizando-se tanto quanto
possível evitar ilegítimos resíduos não-jurisdicionalizáveis e aprimorando-se
internamente para que a ideia de ação não continue sobreposta à tutela
jurisdicional. O processualista moderno sabe que muito menos vale a formal
satisfação do direito de ação do que a substancial ajuda que o sistema possa
oferecer às pessoas.

132 RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA

Dessa forma, a mudança de postura sinalizada pela jurisprudência e


pela doutrina, de certo, há de ser implementada no campo tributário em face de
executivo notoriamente indevido, em valor não suportado pelo patrimônio do
executado para garantia integral do débito e cuja manutenção das atividades
empresariais dependa da comprovação da sua regularidade fiscal.

CONCLUSÕES
A garantia do débito tributário em juízo produz dois efeitos de extrema
relevância ao contribuinte, quais sejam, viabilizar a oposição de embargos à
execução, bem como a obtenção de certidão de regularidade fiscal - CPD-EN.
Na prática, portanto, a garantia da execução fiscal resulta como requisito para
o exercício da ampla defesa e para a continuidade das atividades empresariais
do executado.
No sistema da Lei de Execução Fiscal, sem a segurança do juízo pela
penhora apenas a matéria compatível com a exceção de pré-executividade
teria cabimento. Contudo, a comprovação inequívoca de incapacidade
financeira do executado para a integral garantia do débito (como, por exemplo,
por meio da declaração de imposto de renda da pessoa jurídica, de certidão
negativa expedida por registros de imóveis de circunscrições do executado,
certidão negativa de propriedade veicular expedido pelo órgão competente,
etc.) é capaz de, nos termos do entendimento firmado pelo Superior Tribunal
de Justiça no Recurso Especial Representativo da Controvérsia nº
www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 7/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

1.127.815/SP, possibilitar a admissão e o processamento dos embargos


opostos.
Mais do que isso, entendemos ser imprescindível uma análise subjetiva
das circunstâncias do caso concreto, protegendo-se a continuidade do negócio
empresarial que indiscutivelmente depende de certidão de regularidade fiscal
mesmo quando impossibilitado de garantir integralmente a execução fiscal.
Para tanto, a presente proposta de reflexão é em relação à suspensão da
exigibilidade do crédito tributário por meio da análise de insubsistência total ou
parcial da exigência fiscal, com a constatação da presença do fumus boni iuris
e do periculum in mora em relação à garantia suportada. Tudo isso em prol dos
princípios basilares do direito e do próprio desenvolvimento do País.

REFERÊNCIAS
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869impressao.htm>. Acesso
em: 20 out. 2018.
______. Código de Processo Civil. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 20 out. 2018.

RET Nº 125 – Jan-Fev/2019 – PARTE GERAL – DOUTRINA 133

______. Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de


1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil
_03/LEIS/L5172.htm>. Acesso em: 20 out. 2018.
______. Lei de Execução Fiscal. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil _03/LEIS/L6830.htm>.
Acesso em: 20 out. 2018.
______. Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial Representativo da
Controvérsia nº 1.127.815/SP, Número Registro 2009/0045359-2, 1ª Seção,
Rel. Min. Luiz Fux, J. 24.11.2010. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipo Pesquisa=tipo Pesquisa
Numero Registro&termo=200900453592&total Registros Por
Pagina=40&aplicacao=processos.ea>. Acesso em: 21 out. 2018.
______. Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial Representativo da
Controvérsia nº 1.272.827/PE, Número Registro 2011/0196231-6, 1ª
Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, J. 22.05.2013. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipo Pesquisa=tipo Pesquisa
Numero Registro&termo=201101962316&total Registros Por
Pagina=40&aplicacao=processos.ea>. Acesso em: 21 out. 2018.
COSTA DE OLIVEIRA, Bruno Batista da. Efeitos do oferecimento de
garantia na execução fiscal: análise da questão à luz do disposto no artigo
206 do Código Tributário Nacional. Revista Dialética de Direito Tributário,
São Paulo: Dialética, n. 160, 2009.
DERZI, Misabel Abreu Machado. O princípio da preservação das empresas
e o direito à economia do imposto. In ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord.).
Grandes questões atuais do direito tributário. São Paulo: Dialética, 10 v.,
2006.
www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 8/9
08/08/2020 Garantia Parcial da Execução e a Questão Relativa à Comprovação de Regularidade Fiscal do Executado

DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. 3. ed. São


Paulo: Malheiros, 2009.
LACERDA, Luiza; MASCITTO, Andréa et al. Garantias judiciais no
processo tributário: cenários, perspectivas e desafios. São Paulo: Blucher,
2018.
PAULSEN, Leandro; ÁVILA, René Bergmann; SLIWKA, Ingrid Schoroder.
Direito processual tributário, processo administrativo fiscal e execução à luz
da doutrina e da jurisprudência. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2009.
SANTIAGO, Igor Mauler; BREYNER, Frederico Menezes. Eficácia
suspensiva dos embargos à execução em face do artigo 739-A do Código
de Processo Civil. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo:
Dialética, n. 145, 2007.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Lei de Execução Fiscal: comentários e
jurisprudência. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

www.bdr.sintese.com/NXT/gateway.dll?f=templates$fn=default.htm$vid=BDR:SP2 9/9

Você também pode gostar