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Conforme a bíblia é lida, percebe-se que não são poucas as vezes que
Jesus entra em conflito com os escribas, com os fariseus e com os saduceus.
São criticados e censurados em vários momentos pelo Mestre. Atualmente,
são vistos com maus olhos e estão associados à hipocrisia. Mas, existem reais
motivos para esses preconceitos?
O termo ³escriba´ é muito abrangente. Na época de Esdras (vide livro
bíblico de mesmo nome, no capítulo 7) os escribas eram sacerdotes copistas,
extremamente cuidadosos, da Torá (Lei de Moisés). Porém, nos dias de
Jesus, os escribas eram indivíduos com muito estudo e conhecimento, que
dedicavam boa parte de suas vidas ao estudo e instrução da Lei (não
necessariamente eram sacerdotes). Interpretavam e ensinavam as Leis de
Moisés (chamada de Torá escrita), associadas a alguns princípios jurídicos e
culturais (Torá oral ou ³Tradição dos antigos´ ± capítulo 15 de Mateus e
capítulo 7 de Marcos).
Os judeus sofreram com a invasão grega, no século IV a.C. Pode-se dizer
que, a partir daí, foram divididos em, pelo menos, dois grupos religiosos:
saduceus e fariseus. O primeiro defendia uma conciliação entre a Lei mosaica
e os costumes gregos e era representado principalmente pelos sacerdotes. O
segundo segmento não aceitava essa ³miscigenação´. Teve a adesão da
maioria dos escribas e obteve o apoio quase unânime do povo judeu.
Os saduceus geralmente eram ricos e ocupavam cargos de prestígio em
Israel, como o de sumo sacerdote. Eram também a maioria no Sinédrio
(conselho que julgava assuntos da lei judaica e da justiça criminal, na Judéia
e em outras províncias). Tinham uma grande preocupação em acatar as
decisões de Roma (que dominava Israel no período em questão), dando,
muitas vezes, mais importância à política do que à religião. Vale destacar que
os saduceus não eram bem vistos pelo povo, já que faziam parte da elite e
apoiavam os romanos. Esse grupo deixou de existir após a destruição do
Templo de Jerusalém, em 70 d.C., já que tinha
uma forte tendência política.
Os fariseus geralmente eram indivíduos de uma classe social
intermediária. Embora fossem minoria no Sinédrio, eram indispensáveis, pois
tinham o apoio do povo judeu. Essa popularidade rendia-lhes muitas
conquistas no conselho.
Várias outras diferenças, entre fariseus e saduceus, podem ser
destacadas:
1 - Os saduceus eram mais conservadores. Consideravam apenas a Palavra
escrita (hoje, o Velho Testamento) como divina, enquanto os fariseus
colocavam a tradição oral em igualdade com a mesma.

2 - Os saduceus negavam a ressurreição dos mortos, além da existência de


anjos e demônios, enquanto os fariseus aceitavam (Atos 23:8).

3 - Apenas os fariseus acreditavam em vida e recompensa/punição após a


morte.

4 - Os saduceus defendiam a idéia do livre-arbítrio humano, enquanto os


fariseus atribuíam os acontecimentos à vontade de Deus.

5 - Apenas os fariseus defendiam a ³Tradição dos Antigos´, considerando-a


como o desenvolvimento da Torá escrita.

Percebemos, então, que os fariseus estavam mais próximos dos


ensinamentos de Jesus do que os saduceus. Mas, apesar de tantas
diferenças, tiveram algo em comum: ambos foram censurados e duramente
criticados por Jesus. Os saduceus por desprezarem vários preceitos divinos;
os fariseus por considerarem suas tradições tão importantes como a Palavra
de Deus.
Porém, muitos membros desses grupos, principalmente fariseus,
converteram-se ao cristianismo (Atos 15:5). Embora tenham unido forças
para condenar a Jesus, vários deles tornaram-se importantes na
disseminação do Evangelho, tendo como exemplo mais conhecido o apóstolo
Paulo, que era fariseu. Não se pode esquecer, ainda, de dois acontecimentos:

- Alguns fariseus alertaram Jesus para o fato de Herodes querer matá-lo


(Lucas 13:31).

- Jesus foi convidado por um fariseu para jantar em sua casa, e assim o fez
(Lucas 7:36).

Portanto, devemos nos despir de preconceitos generalizados,


principalmente em relação ao grupo farisaico. Temos de aprender com os
seus erros, não sendo hipócritas como muitos deles foram (esses é quem
foram criticados por Jesus), mas também reconhecer a sua importância para
a manutenção da fé judaica. Certamente existiam fariseus sinceros, que
preferiam seguir a essência da Lei ao invés de aparentar ser um seguidor fiel
de algumas particularidades do Pentateuco ou de suas tradições.

Autor: Wésley de Sousa Câmara

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