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FUNDAMENTOS

DA ECONOMIA I
Antonio Fernando Zanatta
José Tadeu de Almeida

FUNDAMENTOS
DA ECONOMIA I
Reitor Prof. Celso Niskier
Pro-Reitor Acadêmico Maximiliano Pinto Damas
Pro-Reitor Administrativo e de Operações Antonio Alberto Bittencourt
Coordenação do Núcleo de Educação a Distância Viviana Gondim de Carvalho

Redação Dtcom
Análise educacional Dtcom
Autoria da Disciplina Antonio Fernando Zanatta, José Tadeu de Almeida
Validação da Disciplina Marcio Mori
Designer instrucional Milena Rettondini Noboa

Banco de Imagens Shutterstock.com


Produção do Material Didático-Pedagógico Dtcom

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Ficha catalográfica elaborada pela Dtcom. Bibliotecária – Andrea Aguiar Rita CRB)

© Copyright 2017 da Dtcom. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os
direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal,
art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”.
Sumário

01 Noções de economia................................................................................................................ 7
02 Fatores de produção...............................................................................................................14
03 Aplicações da Curva de Possibilidades de Produção......................................................21
04 Modelos.....................................................................................................................................28
05 A organização econômica através das estruturas de mercado....................................35
06 Moeda........................................................................................................................................43
07 A demanda fundamentada no comportamento dos consumidores............................50
08 Teoria elementar da demanda e o processo de escolha do consumidor....................57
09 A demanda e sua relação com os preços dos bens e serviços.....................................63
10 O conceito de elasticidade e externalidades......................................................................70
11 A função de produção............................................................................................................77
12 A noção de rendimentos de escala......................................................................................84
13 O processo produtivo no curto prazo..................................................................................90
14 Determinando o nível de produção......................................................................................97
15 A teoria dos custos de produção...................................................................................... 104
16 Curva de oferta da indústria............................................................................................... 111
17 O mercado em concorrência perfeita............................................................................... 118
18 Os excedentes econômicos............................................................................................... 125
19 O processo de discriminação de preços.......................................................................... 131
20 A propaganda e sua relação com lucro e custo............................................................. 138
TEMA 1
Noções de economia
Antonio Fernando Zanatta e José Tadeu de Almeida

Introdução
Hoje é comum nos depararmos com questões que são debatidas nos meios de comunica-
ção, como inflação, desemprego e crise econômica. Mas, você saberia dizer o que está por trás
de cada uma destas situações? Nesta aula, vamos estudar os elementos que podem nos ajudar a
compreender alguns pontos sobre a economia.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• entender o problema fundamental da economia;


•• compreender as diversas classificações de bens e serviços.

1 Problema fundamental econômico


Questões como inflação, desemprego, crise, entre outras, são manifestações do funciona-
mento da economia que estamos inseridos. Mas há mais elementos que devemos enfatizar no
seu estudo. Você poderia citar algum deles?
O ponto de partida, convencionalmente chamado de problema econômico fundamental, é a
escassez. Compreender este problema significa, necessariamente, entender o conceito de econo-
mia. De acordo com Garcia e Vasconcelos (2014, p. 2, grifo nosso), economia:

(...) é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem (escolhem)
empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a dis-
tribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessi-
dades humanas.”

Este conceito destaca dois aspectos relevantes que estão relacionados com o problema da
escassez. O primeiro trata da limitação dos recursos, pois tudo o que produzimos utiliza como
base recursos limitados, como o petróleo.
O segundo aspecto da escassez diz respeito aos recursos requeridos pela sociedade para
atenderem às necessidades humanas, que por natureza tendem a ser ilimitadas.

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 1 – Decisão econômica versus escassez dos recursos

Fonte: Scanrail1/Shutterstock.com

FIQUE ATENTO!
O problema econômico fundamental é a escassez dos recursos presentes na eco-
nomia, que está ligada a dois aspectos: à limitação dos recursos e ao fato destes
recursos serem demandados pela sociedade, sendo utilizados para atender nossas
necessidades materiais.

Desta forma, para tratar da escassez, a sociedade criou os sistemas econômicos. De acordo
com Garcia e Vasconcelos (2014, p. 2), “um sistema econômico pode ser definido como sendo a
forma política, social e econômica pela qual está organizada uma sociedade”. Assim, podemos
concluir que é a partir do sistema econômico que a sociedade define as formas de produção, dis-
tribuição e consumo dos bens e serviços.
Na história econômica observam-se dois tipos básicos de sistemas econômicos em que a
maior parte das economias modernas se insere. Observe a seguir.

•• Economia de mercado: onde as decisões econômicas são tomadas de forma descen-


tralizada, por meio das interações dos agentes econômicos no mercado;
•• Economia planificada: as decisões econômicas são tomadas de forma centralizada,
por meio do planejamento estatal.

EXEMPLO
No artigo 170 da Constituição Brasileira podemos observar os princípios que nor-
teiam a organização do sistema econômico brasileiro, como: direito à propriedade
privada, função social da terra, economia de mercado, defesa do consumidor e bus-
ca pelo emprego.

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

É importante destacar que, para resolver o problema econômico da escassez, a sociedade,


por meio do sistema econômico, deve responder três questões relevantes (GARCIA; VASCONCE-
LOS, 2014).
•• O que e quanto produzir?
Considerando as possibilidades de produção, a sociedade escolhe quais produtos
devem ser gerados, e suas quantidades, para atender às suas necessidades.

•• Como produzir?
Remete à escolha dos recursos que serão utilizados para a geração dos produtos e de
que forma isto será feito.

•• Para quem produzir?


Trata-se de decidir como os produtos serão distribuídos dentro da sociedade.

SAIBA MAIS!
A economia de mercado é o sistema que possui maior liberdade para desenvol-
ver negócios privados. Segundo o “Ranking The Heritage Foundation”, Hong Kong
possui um índice de liberdade de 88,6%, sendo a economia mais livre em 2016. Já
os Estados Unidos têm um índice de 75,4%, e o Brasil, 56,5%. O país com menor
liberdade listado no ranking é a Coréia do Norte, com 2,3%. Este país é o exemplo
mais extremo de economia planificada. Outras informações sobre a interferência
da ação governamental sobre os negócios privados podem ser acessadas no link:
<http://www.heritage.org/index>.

Figura 2 – Mercado público em Montreal, Canadá

Fonte: meunierd/Shutterstock.com

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Agora que já conhecemos os conceitos de escassez e economia, além dos sistemas eco-
nômicos que atuam para atender as necessidades das populações, vamos detalhar no próximo
tópico os bens e serviços gerados por estes sistemas.

2 Bens e serviços
Você sabe diferenciar bem e serviço? E ainda, tem ideia de quantos tipos de bens existem?
Convencionalmente, chamamos de bens todos os produtos que são artefatos materiais (tangí-
veis), e de serviços, as ações ou soluções (intangíveis) que atendem às necessidades humanas.
Uma característica que distingue o serviço é ser gerado ao mesmo tempo em que é consumido.
Da mesma forma, os bens podem ser armazenados para consumo posterior.
Nesta aula, vamos focar nossos estudos nos bens. Cabe dizer, ainda, que em economia não
há, a rigor, uma distinção, um juízo de valor sobre a natureza de cada produto, por isso todos são
tratados como bens, sendo eles benéficos ou não à sociedade (o lixo nuclear, por exemplo, embora
seja indesejável, não deixa de ser um bem).

EXEMPLO
Quando você vai ao barbeiro e/ou cabeleireiro você demanda o serviço de corte de
cabelo e a sua necessidade de ter o cabelo cortado e arrumado é atendida ao mes-
mo tempo que o serviço é gerado. A simultaneidade entre produção e uso é caracte-
rística dos serviços. Já uma geladeira (bem tangível) atende as suas necessidades
durante um período muito longo, que difere de quando ela foi gerada.

Para Sandroni (2016, p.149) um bem é “tudo aquilo que tem utilidade, podendo satisfazer
uma necessidade ou suprir uma carência”. O autor ainda especifica que bens econômicos são
“aqueles relativamente escassos ou que demandam trabalho humano” (SANDRONI, 2016, p.149).
Por exclusão, os bens livres podem ser definidos como aqueles que não são escassos e não
requerem trabalho humano para obtenção. Um exemplo clássico de bens livres é o ar que respi-
ramos. O ar atende a uma necessidade vital dos humanos, porém está disponível e não requer
trabalho para a sua obtenção. Basta respirarmos.
Porém, um bem pode ser livre em um lugar e econômico em outros. Veja o caso de Pequim,
uma das cidades com a maior poluição atmosférica do mundo; ar puro é um recurso extrema-
mente escasso naquele local. Da mesma forma, recursos, hoje, aparentemente livres, como a
água, com o tempo se tornam econômicos. Observe, por exemplo, que o Mar de Aral, o grande
lago da Ásia Central, perdeu mais de 90% de sua área.

FIQUE ATENTO!
Podemos dizer que o conceito de bem engloba tudo aquilo que tem utilidade e ser-
ve para atender uma necessidade humana. Os bens se dividem em duas grandes
categorias: bem livre e bem econômico.

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Uma das formas de classificarmos os bens econômicos é pela rivalidade ou pela exclusivi-
dade no ato do seu consumo. Este tipo de classificação apresenta duas categorias. Confira a seguir.

•• Bens privados
O consumo de uma pessoa reduz a possibilidade de consumo deste bem por outra
pessoa ao mesmo tempo, por exemplo, o seu almoço de hoje.

•• Bens públicos
São bens pagos pelo Estado, logo entram na contabilidade nacional como gastos,
como por exemplo, a segurança nacional oferecida pelas Forças Armadas, que protege
todos os cidadãos ao mesmo tempo. Vale dizer que estes bens devem ser fornecidos
pelo Estado, pois a iniciativa privada não tem condições, interesse ou mesmo não pos-
sui porte para ofertá-los.

SAIBA MAIS!
Os bens públicos, por sua natureza, fazem com que seu consumo por uma pessoa (ao
menos em teoria) não reduza a possibilidade de outra pessoa consumir o mesmo bem
ou usufruir dos benefícios da disponibilidade desse bem, como no caso do Sistema
Único de Saúde (SUS), se rviço de saúde do governo estendido a todos os cidadãos.

Há também outra forma de classificarmos os tipos de bens, em função da sua destinação.


Sendo assim, os bens também podem ser classificados em:

•• bens de capital ou bens de produção: são adquiridos pelas empresas na forma de


investimento, e se destinam a produção de outros bens, por exemplo: máquinas e
equipamentos.
Figura 3 – Exemplos de bens de capital

Fonte: Franck Boston/Shutterstock.com

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

•• bens intermediários: são bens utilizados pelas empresas como investimento para
fabricação de outros bens, por exemplo: a chapa de aço que fabrica o automóvel.

•• bens de consumo: são destinados para o uso final das pessoas (denominados assim
como consumo), e ainda se desdobram em bens de consumo imediato, bens não duráveis
(que se destinam ao consumo de curtíssimo e curto prazo, como alimentos e vestuário)
e bens duráveis (consumíveis a prazos maiores, como automóveis e eletrônicos).

Figura 4 – Esquema de classificação dos bens

Livres Bens de Capital

Tangíveis Bens intermediários

Bens de Cunsumo
Bens Bens Privados
Bens de Capital

Intangíveis Bens intermediários


Econômicos
Bens de Cunsumo
Tangíveis
Bens Públicos
Intangíveis

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

FIQUE ATENTO!
Os bens econômicos podem ser classificados pelos seguintes aspectos: pelas suas ex-
clusividades no ato dos seus consumos, são os bens privados e os bens públicos; pelas
suas materialidades: material (tangível = produto) e imaterial (intangível = serviços); e
pelas suas destinações: são os bens de capital, bens intermediários e bens de consumo.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
•• aprender que o problema fundamental da economia está relacionado com a escassez
dos recursos econômicos;
•• compreender que a organização do sistema econômico é a forma como a sociedade
resolve o problema da escassez;
•• conhecer os dois tipos de sistemas econômicos contemporâneos: economia de mer-
cado (descentralizada) e economia planificada (centralizada);
•• entender que os bens econômicos são classificados pelas suas materialidades, desti-
nações e rivalidades e ou exclusividades no ato dos seus consumos.

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 170.
Brasília. Disponível em: <https://goo.gl/zaRrL>. Acesso em: 21 nov. 2016.

GARCIA, Manuel Enriquez; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Fundamentos de econo-
mia. São Paulo: Saraiva, 2014.

ILHA DAS FLORES. Direção: Jorge Furtado. Elenco: Ciça Rodrigues. Narração: Paulo José, 1989.

RAISER, Martin. Erradicar a pobreza e diminuir desigualdades são fundamentais para o desenvolvi-
mento. The World Bank. Washington (EUA), 2016. Disponível em: <https://goo.gl/UJzQEE>. Acesso
em: 8 dez. 2016.

SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. 1. ed. Record: Rio de Janeiro. 2016.

THE HERITAGE FOUNDATION. 2016 Index of Economic Freedom. 2016. Disponível em: <http://
www.heritage.org/index/>. Acesso em: 5 dez. 2016.

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TEMA 2
Fatores de produção
Antonio Fernando Zanatta

Introdução
Você saberia dizer como podemos entender os fenômenos econômicos que se manifestam
em nosso dia a dia? Nesta aula você compreenderá a importância dos fatores de produção, pre-
sentes na economia, entenderá ainda como eles se organizam e como são remunerados em fun-
ção da sua escassez. Pronto para começar? Bons estudos.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• identificar os recursos produtivos e suas remunerações.

1 Os fatores de produção do sistema econômico


O sistema econômico é a forma como a sociedade se organiza para resolver o problema
fundamental da economia: a escassez dos recursos no processo de geração dos bens e serviços.
Mas, você saberia dizer o que sustenta este processo? Nesta aula, estudaremos os fatores de
produção, os recursos originais e responsáveis por compor a base deste sistema.

FIQUE ATENTO!
O conceito de escassez é importante para entendermos como os recursos são va-
lorados no sistema econômico, pois eles não dependem apenas da disponibilidade,
mas também das demandas de suas utilizações.

De acordo com Garcia e Vasconcellos (2014), os fatores de produção são estoques de fato-
res produtivos, tais como: recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), capital, terra,
reservas naturais e tecnologia.
Podemos também definir os fatores de produção como os meios pelos quais a sociedade
econômica obtém produtos e serviços para atender suas necessidades materiais. Outro aspecto
que devemos considerar é que a tecnologia é o conhecimento contido nas capacidades laborais
dos trabalhadores e empresários e no capital utilizado pelas empresas. Portanto, os fatores de
produção estão distribuídos em quatro categorias, presentes em todos os processos de geração
de bens e serviços com destinação ao consumo final. A seguir, vamos conhecer cada uma destas
categorias. Vale a pena prosseguir.

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

•• Trabalho
Refere-se a capacidade laboral dos agentes econômicos, chamados de trabalhadores,
e está relacionado com a força humana, a habilidade e os conhecimentos técnicos
necessários e aplicados nos processos produtivos. Chamamos a remuneração do tra-
balho de salário, sendo esta uma das principais formas de renda gerada na economia.

Figura 1 – O fator de produção trabalho

Fonte: Sebcz/Dreamstime.com

•• Capital
São os recursos disponibilizados pelos agentes capitalistas, como acionistas ou sócios-
-cotistas, que investem nas empresas. Em geral, estes recursos são materializados
na forma de infraestrutura física, como os prédios, além de máquinas, equipamentos,
recursos financeiros e softwares aplicados nos processos produtivos. A remuneração
do capital é chamada de juros.

Figura 2 – O fator de produção capital

Fonte: Zhu_zhu/Dreamstime.com

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

•• Terra (Recursos naturais)


São obtidos por meio das ações de extração na natureza ou da utilização do ambiente
natural. A remuneração dos recursos naturais é chamada de aluguel ou royalties.

Figura 3 – O fator de produção recurso natural

Fonte: SvedOliver/ Shutterstock.com

EXEMPLO
Um exemplo de extração de recursos naturais é a obtenção dos minérios metálicos
e não metálicos, como o petróleo, que ocorrem nas minas. Já a utilização do am-
biente natural acontece por meio da capacidade germinativa que certos ecossiste-
mas possuem e que, aplicada a determinadas culturas agrícolas, consegue gerar a
alimentação humana e animal ou ainda para serem direcionados para insumos de
outros processos produtivos.

•• Capacidade empresarial
É um tipo de recurso muito semelhante ao trabalho, pois é algo que está contido nas
pessoas que o desenvolvem. Trata-se da capacidade laboral do agente econômico cha-
mado de empresário ou empreendedor. Este tipo de recurso está associado à força
humana, com a habilidade e os conhecimentos técnicos necessários para organizar
os processos produtivos internos à organização ou entre organizações (cadeias pro-
dutivas) e seus mercados. A remuneração da capacidade empresarial pode ser do tipo
pró-labore, com destinação aos empreendedores que atuam na gestão dos próprios
negócios, ou remuneração executiva, no caso de executivos de grandes empresas e
multinacionais. E o nome dado a ela é lucro.

– 16 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 4 – O fator de produção capacidade empresarial

Fonte: Kiselev Andrey Valerevich/Shutterstock.com

SAIBA MAIS!
Em geral, nas pequenas empresas o detentor da capacidade empresarial (empre-
endedor) é o proprietário do capital (capitalista). Entretanto, nas grandes corpora-
ções é mais comum encontramos empreendedores exercendo a função executiva,
gerindo os negócios e os processos produtivos, sem serem, necessariamente, os
proprietários do capital que as constituiu. É importante observar que nem sempre o
empreendedor é um empresário.

FIQUE ATENTO!
São as inter-relações existentes entre os fatores produtivos que geram os bens e
serviços destinados a atender as necessidades materiais da sociedade econômi-
ca. Os detentores dos fatores produtivos cooperam no esforço social de produção,
transformando insumos básicos em bens e serviços demandados dentro do siste-
ma econômico.

2 As remunerações dos fatores de produção


Agora que já conhecemos cada uma das quatro categorias dos fatores de produção, vamos
detalhar, neste tópico, as remunerações destinadas aos detentores destes fatores e como isso
determina a forma de inserção destes no sistema econômico.
Como você já sabe, o fator de produção trabalho tem o salário como forma de remuneração
pela sua contribuição ao sistema econômico. Na realidade econômica encontramos uma infini-

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

dade de níveis salariais, sendo os níveis mais elevados destinados aos trabalhadores com carac-
terísticas (qualificações) mais escassas na economia. Já os níveis mais baixos de remuneração
estão voltados para os detentores do recurso trabalho, cujas qualificações são encontradas com
maior disponibilidade.

SAIBA MAIS!
Apesar da crise econômica que o Brasil enfrenta, o grupo dos trabalhadores mais
qualificados conseguiram elevar suas rendas em 2,4% entre 2015 e 2016. Isso de-
mostra a importância do impacto da qualificação na renda do trabalhador. Con-
fira outras informações no texto do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) “Trabalhadores com melhores salários aumentaram a renda”, disponível em
<https://goo.gl/narRmp>.

Seguindo a mesma lógica, agora aplicada para o fator de produção capital, cuja remuneração
é o juro, podemos verificar que este recurso é, relativamente, mais escasso quando comparado
ao fator trabalho. Note que a medida em que o desenvolvimento tecnológico avança, a relação
capital/trabalho aumenta e requer maior quantidade de capital por unidade de trabalho. Esta nova
demanda por capital a cada momento o torna mais escasso, elevando assim a sua remunera-
ção. É importante observar que o aumento do capital está relacionado com a elevação da sua
qualidade (modernização), exigindo, portanto, qualificação dos trabalhadores para poder utilizá-lo.
Outro aspecto que remunera o capital é o nível de risco a que está submetido. Para empre-
endimentos mais arriscados os detentores de capital irão exigir maiores ganhos para compensar
eventuais perdas em caso de insucesso dos negócios. Mas, perceba que o mesmo não ocorre na
mesma intensidade com o fator de produção trabalho, cuja rede de proteção legal (leis trabalhis-
tas) minimiza os riscos.
A terra ou recursos naturais, cujas remunerações são os aluguéis ou royalties, é diferente
em cada país, pois existem diversas formas de tratar os direitos de propriedade a partir dos apa-
ratos legais nacionais. Observe que os recursos naturais são finitos e a remuneração deste fator
produtivo tende a se elevar na medida em que a sua exploração aumenta. Entretanto, o efeito da
substituição desses recursos por outros, em função do desenvolvimento tecnológico pode, por
exemplo, diminuir essas remunerações. É o caso do petróleo, se considerarmos a tendência das
energias renováveis.
A capacidade empresarial, assim como o fator de produção trabalho, tem sua inserção no
sistema econômico de forma mais escassa, pois seu desenvolvimento exige uma qualificação
mais elevada e, principalmente, requer um atributo difícil de encontrarmos: a atitude empreen-
dedora de assumir riscos pessoais e econômicos e organizar e gerenciar uma empresa e seus
negócios. Sua remuneração é o lucro.

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
Pare e pense um pouco sobre o computador que você está utilizando para acessar
esta disciplina. Este equipamento contém um conjunto de componentes formados
por materiais plásticos e ligas metálicas que, originalmente, foram extraídos de mi-
nas e poços de petróleos (recursos naturais). Entretanto, os materiais não consegui-
riam se transformar em computadores sem a participação dos trabalhadores e suas
capacidades laborais (trabalho) que, aplicados às máquinas (capital), produziram
os diversos componentes que formam seu computador. Perceba que nenhum dos
fatores de produção poderia ter gerado sozinho este computador e para organizá-los
foi necessária a capacidade empresarial, responsável por disciplinar os processos,
sequenciar as cadeias produtivas e viabilizar os mercados. Todos esses recursos
receberem rendas (aluguéis, salários e lucros) em função das suas participações no
esforço produtivo, e foram estas rendas que possibilitam aos proprietários participa-
rem do sistema econômico como consumidores e poupadores de recursos.

FIQUE ATENTO!
Os fatores de produção são os recursos base utilizados no esforço de geração dos
bens e serviços de qualquer sistema econômico. Os detentores dos fatores de pro-
dução são remunerados no sistema econômico pelo grau da escassez dos recur-
sos que possuem. Quanto mais escasso for o recurso melhor será a remuneração
gerada, proporcionando ao detentor deste recurso maior poder de compra dos bens
e serviços disponibilizados na economia.

Desta forma, podemos concluir que a interação entre os fatores de produção é responsável por
gerar os bens e serviços que atendem às necessidades materiais do ser humano. É importante des-
tacar ainda que a geração destes produtos só é possível por meio da participação de cada um dos
fatores produtivos, e é a forma como esta participação ocorre que determina o quanto os detentores
destes fatores participam dos resultados gerados nesta produção dentro do sistema econômico.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• aprender que os fatores de produção são os meios utilizados para obtermos produtos
e serviços gerados em um sistema econômico;
•• identificar as categorias dos fatores produtivos: trabalho, capital, terra e capacidade
empresarial;
•• perceber que cada categoria dos fatores produtivos possui uma forma de obter renda
pelo uso destes recursos dentro do sistema econômico;
•• compreender que a remuneração de cada fator de produção ocorre em função do grau
de escassez presente no sistema econômico.

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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Referências
GARCIA, Manuel Enriquez; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Fundamentos de econo-
mia. São Paulo: Saraiva, 2014.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Trabalhadores com melhores salários


aumentaram a renda. Disponível em: <https://goo.gl/narRmp>. Acesso em: 21 nov 2016.

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TEMA 3
Aplicações da Curva de
Possibilidades de Produção
Antonio Fernando Zanatta e José Tadeu de Almeida

Introdução
Diariamente estamos em contato com informações a respeito da situação econômica do
país. Em geral, um dos principais debates diz respeito à capacidade de gerar empregos e renda
para a população. Nesta aula, a partir do referencial de estudo da microeconomia, vamos estudar
as escolhas dos agentes econômicos (em especial, as empresas) no processo de produção, e as
situações de uso de mão de obra nas firmas, responsáveis pelos níveis de produção.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender as regiões da Curva de Possibilidades de Produção;


•• analisar as trajetórias econômicas entre pleno emprego e capacidade ociosa;
•• compreender a relação entre investimento e crescimento de capacidade produtiva.

1 Pleno emprego
Considerando que a escassez dos recursos produtivos é um fator limitador à geração de bens
e serviços que atendem as necessidades humanas, você saberia dizer quais ferramentas podemos
utilizar para compreender esta situação, no âmbito das firmas e indivíduos, na microeconomia e no
estudo das relações de produção? Uma das maneiras de entendermos este limite é por meio da aná-
lise da Curva de Possibilidade de Produção (CPP), também chamada de Curva de Transformação.
De acordo com a Teoria Microeconômica, a geração de novos bens e serviços ocorre por
meio da transformação de recursos em atividade produtiva. Entre estes recursos, chamados de
fatores de produção ou insumos, podemos citar matérias-primas e recursos naturais, mão-de-o-
bra e trabalho, maquinários especializados, tecnologia, entre outros. É importante destacar que a
possibilidade de produção, analisada pela CPP, leva em consideração a existência destes recursos.
De acordo com Garcia e Vasconcellos (2014, p. 4, grifo nosso), “a curva de possibilidade de
produção é um conceito teórico com o qual se ilustra como a questão da escassez impõe um limite à
capacidade produtiva de uma sociedade, que terá que fazer escolhas entre alternativas de produção”.
Neste sentido, observe a figura a seguir correspondente a uma Curva de Possibilidades de Produção.

– 21 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 1 – Curva de Possibilidade de Produção (CPP) de automóveis e tratores

Automóveis
A
20

18

16

14

12

10

0 B
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tratores

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

EXEMPLO

A partir da CPP da Figura 1 perceba que no ponto A uma firma produz vinte automóveis
e nenhum trator. Mas, quando a procura por tratores aumenta, a nova relação repre-
sentada pelo ponto B passa a ser de vinte unidades de tratores e nenhum automóvel.

Podemos afirmar que o agente econômico opera na Curva de Possibilidades de Produção,


utilizando todos os recursos produtivos que tem à disposição, para produzir quantidades deter-
minadas dos dois produtos ao longo da curva. Isso significa que há pleno emprego dos fatores
produtivos, sendo possível aumentar a produção de um produto somente se houver redução da
produção de outro produto.
Vale ainda destacar que o fato deste agente estar produzindo a pleno emprego de seus fato-
res indica que a empresa está usando os fatores de produção no limite máximo, garantindo o
maior volume possível de bens finais produzidos. Por isso, grave bem: todos os pontos que estão
sobre a Curva de Possibilidades de Produção garantem o pleno emprego dos fatores de produção.
Mas, como é possível ampliar a capacidade produtiva de um agente e que efeito isso traz à CPP?
A Curva de Possibilidades de Produção define o limite superior no qual um agente econômico
pode se posicionar considerando o esforço produtivo. Entretanto, esse processo é dinâmico e,
ao longo do tempo, podemos verificar que as capacidades produtivas dos agentes tendem a ser
ampliadas. Tal processo é chamado de investimento, e sua finalidade é ampliar a produção e a
oferta de bens e serviços nos mercados.

– 22 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
O investimento em novas máquinas de destilação de aguardente pretende elevar
a produção deste bem. Caso seja registrado um aumento da demanda, e os indiví-
duos estejam demandando mais aguardente, uma firma poderá investir em novos
bens destinados à produção e assim garantir o aumento do produto.

Os efeitos dos investimentos na CPP provocam o deslocamento para a direita, indicando que
mais produtos estarão nos mercados em decorrência da maior utilização dos novos fatores de
produção disponíveis. Observe na figura a seguir o efeito deste investimento.

Figura 2 – Efeito do investimento na CPP


Automóveis

G
24

22
A
20

18

16

14

12

10

0 B I
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tratores
Fonte: elaborada do autor, 2016.

Note que, inicialmente, a economia estava com seu limite superior na CPP que passava pelos
pontos A e B. Mas, com os sucessivos investimentos, mais fatores de produção puderam ser alo-
cados, o que provocou o deslocamento da CPP para um novo nível, que passa pelos pontos G e I.
Nesta nova curva mais automóveis e tratores são disponibilizados aos mercados. Além disso, o
ponto A, por exemplo, que antes era um ponto de pleno emprego dos fatores de produção, agora
torna-se um ponto de capacidade ociosa, como observaremos no próximo tópico. Por sua vez, os
pontos G e I tornam-se de pleno emprego.

– 23 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
A decisão de investir é sempre tomada pelos detentores do capital, que disponibilizam
mais infraestrutura, máquinas e equipamentos no sistema econômico. Para que o
investimento produtivo ocorra é necessário um conjunto de condições favoráveis,
que possam indicar a viabilidade do retorno desse investimento, como: estabilidade
dos preços no mercado, baixo nível de ociosidade na capacidade produtiva e
demanda crescente nos diversos mercados de bens e serviços.

Cabe afirmar, ainda, que como a ampliação da produção ocorre por meio do aumento do
investimento, seja na forma de maquinários ou na ampliação de área de construções, por exemplo,
está sujeito a uma certa depreciação. Note que, aos poucos, este investimento perde a capacidade
de produzir como em períodos anteriores. A ampliação da CPP à direita, portanto, pode fazê-la
deslocar-se à esquerda novamente, se a depreciação dos bens de capital for superior aos investi-
mentos realizados pelas empresas.

FIQUE ATENTO!
A Curva de Possibilidades de Produção pode ser aplicada em qualquer tipo de bem
e não, necessariamente, àqueles que possuem um certo grau de uso comum dos
fatores de produção, como mão de obra especializada em automóveis e tratores,
por exemplo. A curva pode conter a fabricação de soja e computadores, cujos requi-
sitos de materiais são diferentes, desde que haja uso dos fatores de produção para
a elaboração de tais bens.

Por fim, é importante perceber que o crescimento é o objetivo de qualquer agente, e para que
ele ocorra é necessário investimento produtivo, que permita ampliar a capacidade produtiva deslo-
cando, portanto, a Curva de Possibilidades de Produção para longe da sua origem.

2 Capacidade ociosa
Observando um agente econômico que produz somente dois produtos (automóveis e trato-
res), pudemos notar a Curva de Possibilidades de Produção na figura “Curva de Possibilidade de
Produção (CPP) de automóveis e tratores”. Posteriormente, na figura “Efeito do investimento na
CPP” conferimos algumas aplicações alternativas de produção.

– 24 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 3 – Situações de uso de fatores considerando a CPP

Automóveis
A
20

18

16
F
14

12
C
10

8 G

0 H B
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tratores

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Perceba que no ponto G, situado abaixo e à esquerda da CPP, a produção observada está inferior ao
limite de produção deste agente (desta empresa, por exemplo). Nesta situação, os fatores de produção
não estão sendo utilizados plenamente; a produção deste agente não está em sua capacidade máxima.
Deste modo, podemos afirmar que há uma capacidade ociosa deste agente, ou seja, existe
uma capacidade de produzir e colocar produtos no mercado que não é atendida. Portanto, é possí-
vel ampliar a produção de um dos produtos sem reduzir o outro, além de aumentar a produção de
ambos até o limite definido pela curva de possibilidade de produção.

FIQUE ATENTO!
A capacidade ociosa de uma firma pode ocorrer de forma cíclica, em função do
perfil dos produtos que ela fabrica e das condições do mercado que ela opera. Por
exemplo, pequenas indústrias de sorvete podem operar em pleno emprego durante
o verão no Brasil e ter capacidade ociosa no inverno, descartando-se a possibilida-
de destas empresas exportarem seu produto, por exemplo.

O grau de capacidade ociosa, como resposta a variações no uso dos fatores de produção e
das condições de mercado, varia em função do tipo de produto que os agentes operam e produ-
zem. Observe este exemplo: hotéis e pousadas de praia em período de baixa temporada podem
chegar próximo do nível zero do uso de seus fatores de produção, principalmente mão de obra. Por
outro lado, a demanda por cerveja pode registar uma redução no inverno, mas em níveis inferiores,
ao menos potencialmente para a demanda por pousadas de praia no inverno.

– 25 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
É importante afirmar que, geralmente, as empresas trabalham com alguma mar-
gem de capacidade ociosa para poderem fazer frente a aumentos repentinos de
demanda sem a necessidade de novos investimentos, como uma margem de se-
gurança para possíveis aumentos da produção.

3 Pleno desemprego
A partir da análise da figura “Situações de uso de fatores considerando a CPP”, que trata das
possibilidades de produção, podemos observar o ponto H, localizado no ponto de origem (0,0), ele
corresponde ao pleno desemprego dos fatores de produção. Desta forma, um agente, neste ponto,
está com capacidade ociosa total.

Figura 4 – Desemprego do fator trabalho

Fonte: Everett Collection / shutterstock.com

SAIBA MAIS!
O desemprego não está relacionado apenas com a falta de oportunidade de
trabalho para as pessoas, ele afeta também o capital ocioso, que não gera renda
aos proprietários. Para saber mais leia o artigo sobre a ociosidade da indústria
brasileira em 2016, disponível no link: <https://goo.gl/Hg6gEV>.

– 26 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

4 Impossibilidade Técnica
Ainda na análise da figura “Situações de uso de fatores considerando a CPP” podemos notar
o ponto F. Este ponto, considerado apenas um ponto teórico, é chamado de ponto de Impossibili-
dade Técnica. A partir das atuais disponibilidades dos fatores de produção, a fabricação de bens
correspondente ao ponto F não será de modo algum alcançada, configurando-se uma impossibili-
dade técnica de produção nesse nível.
Preste atenção: sempre que um ponto que se referir a quantidades de bens produzidos esti-
ver acima e à direita da CPP temos um ponto de impossibilidade técnica. Vale dizer ainda que, se a
empresa conseguir investir e fazer crescer sua oferta de bens, este ponto de impossibilidade téc-
nica pode ser revertido e tornar-se um ponto de pleno emprego, ou mais, um ponto de capacidade
ociosa, se ele estiver abaixo e à esquerda da nova CPP.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• compreender o conceito de Curva de Possibilidades de Produção;


•• entender como ocorrem os processos de pleno emprego e de capacidade ociosa dos
fatores produtivos;
•• analisar o papel que o investimento cumpre no processo de ampliação da capacidade
produtiva, possibilitando o crescimento dos agentes econômicos.

Referências
ESTADÃO CONTEÚDO. Fábricas brasileiras operam com o menor nível de ocupação em 16 anos.
2016. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/estadao/noticia/2016/11/pegn-fabricas-
brasileiras-operam-com-o-menor-nivel-de-ocupacao-em-16-anos.html>. Acesso em: 26 nov. 2016.

GARCIA, Manuel Enriquez; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Fundamentos de economia.
São Paulo: Saraiva, 2014.

– 27 –
TEMA 4
Modelos
Antonio Fernando Zanatta e José Tadeu de Almeida

Introdução
A Economia é a área do conhecimento que visa compreender as formas com que o ser humano
interage no esforço de atender às suas necessidades materiais e imateriais. Ela estuda a relação
entre as necessidades humanas, sempre ilimitadas, diante de uma quantidade limitada de recursos.
Para compreender como a Economia realiza essa alocação entre necessidades e recursos, são uti-
lizados os modelos econômicos como instrumentos de análise, os quais você estudará nesta aula.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender o que é um modelo e para que serve.

1 Conceituação
As ciências econômicas, como área de conhecimento, representam os esforços em explicar a
realidade econômica (que consiste em seu objeto de estudo) por meio das teorias e seus modelos.
Modelos são estruturas analíticas, de natureza algébrico-matemática, que destinam-se a
investigar o comportamento de uma série de dados ou observações de uma realidade ao longo
do tempo, ou mesmo a antecipar possíveis tendências em torno de algum fenômeno de natureza
econômica. Há vários modelos em uso nas ciências econômicas atuais, sendo que vários de seus
autores já foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia.

SAIBA MAIS!
Desde 1969, o Prêmio do Banco da Suécia para as Ciências Econômicas, o Nobel de
Economia, já premiou 78 pesquisadores que contribuíram para o desenvolvimento
dessa área do conhecimento. Em 2016, os premiados foram os professores Oliver
Hart e Bengt Holmström, que ajudaram a desenvolver a teoria dos contratos.

Veja mais sobre eles no link: <https://goo.gl/EdaQBY>.

É possível, assim, analisar o processo de construção das teorias e modelos econômicos


como instrumentos analíticos de explicação dos fenômenos e projeção dos seus resultados.

– 28 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

2 Objetivo
O mundo real possui diferentes complexidades, inerentes ao funcionamento de um sistema
econômico: há relações de produção, entre produtores e consumidores, entre economias, fluxos
de capitais e mercadorias, entre diferentes países... Para Rizzieri (2005, p. 4.), a teoria “[...] pode
ser entendida como um conjunto de ideias sobre a realidade, sempre analisada de forma interde-
pendente [...]”. Para ele, as teorias são compostas por: 1) definições, que são os significados das
ideias; 2) argumentos, que são as condições nas quais as ideias se sustentam; e 3) hipóteses, que
são as afirmações de como as questões se comportam na realidade estudada.
Mais adiante, Rizzieri (2005, p. 4) acrescenta que os modelos são “[...] a representação das
principais características dos componentes de uma teoria [...]”. Sendo assim, os modelos cum-
prem o papel de expressar as relações entre os elementos previstos na teoria.
Esses elementos podem possuir diversas origens e naturezas. Pode-se modelar, por exemplo,
o comportamento da taxa de inflação no Brasil, seu crescimento e o desemprego nos últimos 12
anos, a fim de efetuarmos estimativas sobre a performance da economia no futuro. Mas, atenção!
Modelos econômicos não preveem o futuro, pois economistas não são visionários; os modelos
são ferramentas de análise de fenômenos que permitem antever futuros resultados possíveis em
alguma variável de natureza econômica. Modelos são necessários e sua existência se justifica por
serem mecanismos que simplificam, na medida do possível, a complexidade do mundo real, atra-
vés de hipóteses sobre a condução da economia e da sociedade.

Figura 1 – Modelagem econômica

Fonte: Gajus/Shutterstock.com

FIQUE ATENTO!
A Economia tem o propósito de explicar os fenômenos econômicos por meio de
teorias. Estas são formadas por premissas iniciais, propondo hipóteses e argumen-
tos que as sustentam. Os modelos representam as relações funcionais presentes
na teoria e buscam prever certos resultados decorrentes dessas relações.

– 29 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Inicialmente, definem-se as premissas, que são as proposições iniciais que organizam o


raciocínio a ser desenvolvido pela teoria e pelo modelo. Adotaremos um exemplo a respeito do
comportamento da demanda. Há algumas premissas iniciais como:

•• os consumidores buscam atender às suas necessidades materiais e imateriais, que


são ilimitadas.

•• o Estado não exerce impacto significativo sobre o comportamento dos consumidores


e da demanda.

Cabe lembrar que, quando estudamos modelos, costumamos adotar algumas reduções de
possibilidades para não os tornar mais complexos do que devem ser, atendo-se ao principal. Ao
analisarmos as possibilidades do crescimento da renda de um consumidor, dada a inflação e o
crescimento da economia, assumimos, como hipótese, que todas as outras variáveis que podem
interferir na economia e no comportamento do consumidor, como crises financeiras, falências
e movimentos comerciais negativos, são constantes, ou seja, não interferem no modelo. Esta
expressão “tudo o mais constante”, em latim, é conhecida como coeteris paribus.

3 Hipóteses
Partindo-se da definição expressa pelas premissas iniciais cujo objetivo é o de estabelecer
relações de consumo excluindo todas as outras possibilidades e enfatizando-se o papel do Estado,
temos uma hipótese que, pelo fato de ele não impactar as escolhas dos consumidores, o Estado
não legisla favorecendo grupos ou pessoas, agindo, assim, de forma igualitária e limitando-se
a cuidar do bem-estar dos consumidores em seu mercado, evitando distorções neste mercado.
Observe que a hipótese apresentada constitui-se em um desdobramento de nossas premis-
sas iniciais a respeito do comportamento dos consumidores em um mercado, de modo que discu-
tiremos ainda mais sobre esses conceitos posteriormente.

EXEMPLO
A formulação de hipóteses (que é uma afirmação a respeito do comportamento de
certas variáveis de estudo) faz parte do cotidiano. Quando você ajusta o seu relógio
para despertar na manhã seguinte, está considerando, em hipótese, que terá uma
quantidade certa de minutos para tomar seu café e que o trânsito estará em tal or-
dem que você, ao acordar naquele horário definido, terá tempo suficiente para não
chegar atrasado ao seu trabalho.

– 30 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

4 Exemplos
Estabelecidas as premissas, a definição e a hipótese, é possível construir alguns tipos de
modelos, a saber: o modelo teórico; o modelo determinístico e o modelo econométrico.
O modelo teórico é, essencialmente, uma tradução mais genérica de uma definição estabe-
lecida anteriormente, utilizando a linguagem matemática. Por exemplo, considerando que o preço
do produto é essencial para o consumidor que o compre, teríamos a seguinte equação:

Qd = f(Pr)

Veja que, neste caso, a quantidade demandada (Qd), que é a variável determinada, está em
função do nível do preço do produto (Pr), que é a variável determinante da relação. Um modelo
teórico se destina a investigar comportamentos de variáveis (como preços e quantidades de bens,
por exemplo) ao longo de um determinado período ou série de dados.
O modelo determinístico conduz a uma previsão única (exata), a depender de cada nível de
preço. Ele difere do modelo teórico na medida em que considera a hipótese que opera a relação.
No caso que estamos estudando, você pode observar uma relação inversa entre as variáveis:

Qd = a – b * (Pr)

Na equação apresentada, temos que: Qd corresponde à quantidade demandada; a é um


coeficiente linear (parâmetro); b é um coeficiente angular (e também um parâmetro); e Pr é o
preço do produto.

EXEMPLO
Considere que a demanda apresenta o seguinte comportamento em relação aos
diversos níveis dos preços, com base na função: Qd = 13,5 – 2,5 (Pr). É possível es-
timar as quantidades demandadas por um bem em função dos preços praticados
no mercado, conforme a tabela:

Tabela 1 – Tabela 1 – Perfil de demanda

Preços (Pr) Quantidade demandada (Qd)

1,00 11,00

2,00 8,50

3,00 6,00

4,00 3,50

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

– 31 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 2 – Gráfico de um modelo determinístico

Preço (Pr)
6

4
Função demanda
3
Qd = a – b(Pr)
2 Qd = 13,5 – 2,5 (Pr)

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Quantidade demandada (Qd)

Fonte: elaborado pelo autor, 2016.

O importante a destacar neste modelo determinístico é que, quando o preço se eleva, a quan-
tidade demandada será menor. E, em sentido oposto, quando o preço decresce, a quantidade
demandada pelos consumidores aumentará.
A medida da variação de Qd, a cada nível de preço, é dada pelo parâmetro “b” (coeficiente
angular). Já o parâmetro “a” (coeficiente linear) apenas indica que há certa quantidade demandada
que independe da variação do preço.

FIQUE ATENTO!

Uma das diferenciações do modelo determinístico em relação ao modelo teórico é a


inclusão de coeficientes que ajudam a explicar as oscilações das variáveis em análise.

Por fim, no modelo econométrico, as relações econômicas possuem uma variabilidade nos
seus resultados. Para poder capturar essa variação, utiliza-se o método estatístico aplicado à eco-
nomia (Econometria), que permite isolar outros fatores não previstos no modelo (erro estatístico)
que interferem na variação do componente dependente da relação. Isolando os efeitos não pre-
vistos no modelo, desde que não sejam significativos, é possível estabelecer uma relação mais
confiável entre os elementos que explicam o modelo e o componente que é explicado por ele.
No caso da curva da demanda, temos que:

Qd = β1 – β2 Pr + u

Observe que, agora, os parâmetros “a” e “b” são substituídos por β1 e β2, que expressam os
valores a serem estimados por meio de uma base de dados estatística levantada no mercado. Já
a variável “u” é aquela que captará a variabilidade na quantidade demandada causada por fatores

– 32 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

não previstos no modelo. É importante que a variável aleatória “u” não tenha uma dimensão sig-
nificativa que invalide a análise.

FIQUE ATENTO!
Todas as ciências utilizam modelos, não somente as Ciências Econômicas. Por
exemplo, a Astrofísica utiliza-se do modelo do “Big Bang” para explicar a origem do
universo, com hipóteses (o universo encontrava-se em sua origem comprimido sob
forte pressão) e seus desdobramentos (o universo continua a expandir-se).

Figura 3 – Gráfico de um modelo econométrico

Preço (Pr)

Qd = β1 – β2 Pr + u

Quantidade demandada (Qd)

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

SAIBA MAIS!
A aplicação dos modelos econométricos é de extrema relevância como instrumento
de orientação para a tomada de decisão dos gestores econômicos. Um exemplo
disso são os Boletins Focus do Banco Central, que apresentam semanalmente as
expectativas para os próximos 12 meses das principais variáveis macroeconômicas
(inflação, juros, câmbio), que são desenvolvidas pelos departamentos econômicos
dos bancos e corretoras brasileiros. Para ver o relatório, acesse o link do Banco
Central do Brasil: <https://goo.gl/AYdsDa>.

Você observou, portanto, a importância que os modelos têm para auxiliar nas tomadas de
decisões econômicas, como eles são desenvolvidos e aplicados em nosso cotidiano.
Você, caro aluno, perceberá que as Ciências Econômicas, como regra geral, operam através
de modelos. As deduções apresentadas como conclusões, portanto, dependem destes modelos,
querem eles confirmando hipóteses, quer não.

– 33 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• compreender que a Economia é tanto uma área de conhecimento quanto um objeto


de estudo;
•• entender que os modelos econômicos são formas funcionais de operacionalização das
teorias e são de três tipos: modelo teórico, modelo determinístico, e modelo econométrico.

Referências
BANCO Central do Brasil. Focus – relatório de mercado. Atualizado em 9 dez. 2016. Disponível em:
<https://goo.gl/AYdsDa>. Acesso em: 16 dez. 2016.

GLOBO.com. Oliver Hart e Bengt Holmström vencem o Prêmio Nobel de Economia. G1 – Econo-
mia. 10 out. 2016. Disponível em: <https://goo.gl/EdaQBY>. Acesso em: 16 dez. 2016.

GREMAUD, Amaury Patrick et al. Manual de Economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

PINDYCK, Robert Stephen; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5. ed. São Paulo, 2002.

RIZZIERI, Juarez Alexandre Baldini. Introdução à economia. In PINHO, Diva Benevides; VASCON-
CELLOS, Marco Antônio Sandoval. Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 2005.

– 34 –
TEMA 5
A organização econômica através das
estruturas de mercado
José Tadeu de Almeida

Introdução
Neste tema, você fará uma imersão em algumas das estruturas de mercado presentes no
campo de estudos da microeconomia moderna. Verificará suas diferenças, principalmente em
termos de concentração de mercado e poder de compra. Verá que a organização econômica será
definida com base na relação entre empresas e consumidores (ROSSETTI, 2016).

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender e identificar as diferentes formas das estruturas de mercado.

1 Concorrência perfeita
Antes de iniciarmos uma discussão a respeito dos modelos na área da microeconomia, é
conveniente realizar um estudo inicial a respeito do conceito de mercado. Trata-se de uma expres-
são muito utilizada no nosso cotidiano, não é mesmo? Quantos exemplos você poderia dar a esse
respeito? Temos o mercado de capitais, o mercado de alimentos, o mercado da esquina... Enfim,
várias formas em que o termo mercado tem aplicação.
Na microeconomia, o mercado é um espaço onde se realizam operações de compra e venda
de bens e serviços entre agentes, que podem ser indivíduos, empresas, indústrias, instituições
e outros. Estes agentes são compradores e vendedores desses produtos. É, essencialmente, a
relação entre oferta/venda e demanda/compra que determina as condições do mercado, notoria-
mente o seu preço de equilíbrio (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

SAIBA MAIS!
Adam Smith (1723-1790), um dos pais da economia moderna, definiu como a mão
invisível o mecanismo de coordenação dos mercados em regime de concorrência.
Ainda que não existisse um órgão regulador, a economia funcionava da mesma
forma, com compradores e vendedores determinando oferta, demanda e preço
como se uma mão invisível coordenasse o sistema econômico.

– 35 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

O mercado, enquanto espaço para trocas de diferentes quantidades de diferentes bens entre
demandantes e compradores, possui características diferenciadas no que diz respeito ao perfil
dos compradores e vendedores. Este perfil é baseado, dentre outras características, no tamanho
dos vendedores e compradores no mercado, ou seja, na sua participação (conhecida também pela
expressão market share). Quanto mais o mercado de um determinado produto é concentrado na
mão de poucos agentes, maior será a sua capacidade de definir preços e quantidades de compra
e venda nesse mercado (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Algumas hipóteses são fundamentais para definirmos qual tipo de estrutura de mercado
estaremos evidenciando. Dentre elas, cabe enfatizar:
•• a quantidade de empresas e consumidores que compõem esse mercado;

•• o perfil do produto fabricado – este bem é homogêneo no mercado (ou seja, todos os
itens fabricados são absolutamente semelhantes, o que torna possível a escolha do
bem produzido por qualquer produtor) ou é diferenciado (com características que des-
taquem um produtor no mercado, como marca, gosto, aroma, sabor etc)? Da mesma
forma, você precisa perceber que, se os consumidores preferem os bens de um deter-
minado produtor, mesmo que eles sejam idênticos, não há mais homogeneidade. Ou
seja, além de serem perfeitamente iguais, as preferências de consumo estão também
distribuídas de forma homogênea.

•• a existência ou não de barreiras à entrada ou à saída de empresas desse mercado em


função de seus resultados econômicos. Exemplos de barreiras à entrada e à saída são, por
exemplo, leis que dificultam o funcionamento das empresas por excesso de burocracia,
além de eventuais custos, normalmente contábeis, de abertura e fechamento de empresas.

•• o grau de informação que os agentes (consumidores e produtores) dispõem sobre seu


mercado, sobretudo a respeito dos preços praticados nele.

Iniciemos, portanto, nossa análise a partir do modelo de concorrência perfeita. Nesta estru-
tura de mercado, assumindo as hipóteses mencionadas, você pode distinguir os seguintes efeitos:
há um grande número de empresas (alguns autores dizem mesmo que as empresas são atomiza-
das por serem de pequeno porte) e elas não se organizam em associação, de modo que nenhuma
delas, isoladamente, é capaz de determinar, por conta própria, a oferta de bens no mercado, muito
menos o seu preço de venda (ROSSETTI, 2016). Da mesma forma, há um grande número de con-
sumidores isolados.
Portanto, sob um modelo de concorrência perfeita, os quatro pontos considerados ante-
riormente podem ser tratados da seguinte forma: primeiro, o mercado é dividido em inúmeras
empresas e consumidores; segundo, os bens são homogêneos, ou seja, totalmente semelhantes,
e nenhum produtor se diferencia pelo perfil de seu produto; terceiro, os produtores e consumidores
podem entrar nesse mercado ou deixá-lo quando acharem conveniente, caso os preços de venda
não sejam atrativos para eles; e quarto, os produtores e consumidores possuem informação plena
sobre o mercado, o nível de preços praticado e demais características deste mercado, tornando
transparente a sua escolha (no caso dos consumidores).

– 36 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
Há dificuldade em estabelecer um setor que opere sob condições de concorrên-
cia perfeita atualmente: por mais homogêneos que os bens sejam, haverá algum
grau de diferenciação entre eles – o leite de vaca, por exemplo, é relativamente
homogêneo, porém, há uma diferenciação por marca que define a demanda do con-
sumidor, ao menos em parte.

As empresas e os consumidores que se situam em um mercado de concorrência perfeita são


atomizados e não determinam o preço dos bens, pois é o próprio mercado que determina esses
preços (chamamos essas empresas de price-takers, ou seja, “tomadoras de preços”).
Se o preço é dado pelo mercado e a empresa isolada não pode alterá-lo, caso ela decida bai-
xá-lo por conta própria, venderá toda a sua produção, irá à falência e o preço de mercado não será
alterado (ROSSETTI, 2016). Se quiser aumentá-lo, não venderá um bem sequer – os compradores
têm conhecimento total da dinâmica de preços no mercado.

Figura 1 – Concorrência perfeita: feira livre em Hoi An, Vietnã

Fonte: Roman Babakin/Shutterstock.com

O objetivo dessas empresas, naturalmente, é obter lucros, formados a partir da equação:

Lucros = Receitas – Despesas = (Quantidade * Preço) – Custos

Como as empresas são de pequeno porte, não há lucros significativos. As receitas são fruto
das vendas e as despesas se originam no pagamento dos chamados fatores de produção, como
matérias-primas, mão de obra, maquinário etc.

– 37 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
Como a condição de concorrência perfeita nem sempre é visível, o exemplo mais
realista é a estrutura de mercado denominada Concorrência Monopolística ou
Concorrência Imperfeita, na qual as empresas produzem bens não exatamente
homogêneos, mas muito próximos entre si. Não há barreiras de mercado e a
percepção de lucros tende a ser normal. Você pode encontrar exemplos disso em
Pelegrini e Baís (2014). Disponível em <http://intertemas.toledoprudente.edu.br/
revista/index.php/ETIC/article/viewFile/4304/4063>.

2 Monopólio
Neste caso, você observará a situação exatamente contrária ao modelo de concorrência per-
feita. Há apenas uma firma que domina inteiramente a oferta, ou seja, sua concentração de mercado
é de 100%. Não há concorrência e o próprio vendedor determina o preço de seus produtos por ser o
único agente vendedor do mercado, independentemente do número de consumidores, que poderão
ser muitos. Definimos uma empresa assim como fazedora de preços ou price-maker. Há barreiras à
entrada de outras firmas que desejem operar nesse setor. Aos consumidores, enfim, restará apenas
as opções de adquirir o produto ou não, pois não há outras opções (ROSSETTI, 2016).
Há algumas formas para uma empresa garantir seu papel de monopolista em um mercado.
Uma delas é o monopólio puro, em que há setores cujo volume de investimentos é tão alto e as
dimensões de produção tão grandes que torna-se praticamente impossível para outras empresas
operarem nesse mesmo setor oferecendo preços equivalentes ao de monopólio ou ainda meno-
res. Há ainda as patentes, que impedem a produção de um produto por seus concorrentes, têm o
controle de matérias-primas ou mesmo o monopólio estatal ou institucional.
Podemos citar, ainda, os casos dos monopólios naturais, que ocorrem quando uma empresa
possui alguma característica em seus bens que a torna mais eficiente que as outras em seu mer-
cado, agregando, assim, a maior parte dele (como nos sistemas operacionais para computadores,
por exemplo); e os monopólios não-naturais, quando empresas vão comprando outras até atingi-
rem a maior participação de mercado.
Lembre-se de que, no cotidiano, já se considera um monopólio quando uma empresa pos-
sui mais de 50% de um mercado. Neste sentido, no Brasil, há instituições que zelam para que as
empresas não possuam um grau excessivo de controle do mercado, gerando efeitos negativos
em termos de preços e qualidade dos produtos aos clientes, como o Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), que avalia se determinadas fusões serão ou não benéficas para os con-
sumidores, aprovando-as ou não conforme esta avaliação.

– 38 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
A rigor, é difícil estabelecer um setor cuja concentração de mercado seja de 100%
nas mãos de um único produtor. Porém, determinados produtos podem ser produ-
zidos por apenas uma firma (caso ela detenha uma patente, como no setor de me-
dicamentos). Ou, o Estado pode garantir a concessão de um determinado serviço a
uma única empresa (como no caso dos Correios, ainda que hoje empresas privadas
também venham trabalhando no setor, sobretudo para encomendas internacionais).

Como o agente monopolista pode fixar seus preços, há a possibilidade de ele obter um lucro
extraordinário, acima do lucro normal. Mas lembre-se de que as empresas possuem o monopólio
de suas marcas, ou seja, somente elas podem explorar a marca que é de sua propriedade (como
a famosa marca que fabrica refrigerantes do tipo cola, por exemplo). Note, contudo, que isso não
indica necessariamente que essa empresa pratica monopólio; veja que ela está inserida em um
mercado de refrigerantes, embora detenha controle absoluto sobre sua marca (a política de gestão
de marcas em uma empresa é conhecida como branding).

FIQUE ATENTO!
Na Idade Moderna, entre os séculos XVI e XVIII, os monopólios de comércio eram
concedidos pelos Estados como forma de controlar a compra e a venda de bens.
Um exemplo é o da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, que tinha o mono-
pólio do comércio holandês com a Ásia desde 1621 (ARRUDA, 2003).

3 Oligopólio
A estrutura de mercado denominada por oligopólio é visualizada quando poucas empresas
dominam a maior parte do mercado com muitos consumidores; o restante é dividido em empre-
sas menores, cada uma com uma concentração pequena. As empresas maiores, neste sentido,
são price-takers. Saiba que este é o tipo de mercado mais comum nos dias de hoje.
O oligopólio se caracteriza, além do número pequeno de produtores que assumem boa parte da
produção, também por um processo interdependente de decisões de preço e produção – as grandes
empresas organizam entre si a oferta e o preço da oferta de bens e serviços, maximizando lucros.

– 39 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 2 – Setor petroquímico é fortemente oligopolizado

Fonte: 3DSculptor/Shutterstock.com.

É por exigir conhecimento extremamente especializado, altos aportes de capital na forma


de investimentos e, em vários casos, concessões governamentais, que o setor petroquímico é um
grande exemplo de oligopólio.
Quanto mais coordenada for a ação das grandes empresas, mais próxima sua operação
estará de um cartel. Por exemplo, se uma empresa abaixa seu preço para atrair novos clientes,
as demais empresas seguirão o mesmo processo, preservando seus lucros o quanto possível. Da
mesma forma, há grande dificuldade à operação de novas empresas (ROSSETTI, 2016).

EXEMPLO
Um setor fortemente oligopolizado é o das empresas aéreas no Brasil. No tercei-
ro trimestre de 2016, quatro empresas (Gol, Latam, Azul e Avianca) concentraram
98,39% do faturamento do setor de voos domésticos, conforme a tabela a seguir.

Tabela 1 – Participação das empresas aéreas por volume de vendas(2015)

Latam 29,98%

Gol 29,80%

Azul 29,67%

Avianca 8,95%

Outras 1,61%

Fonte: ABRACORP, 2016.

– 40 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Para diferenciarem-se e atraírem novos consumidores sem entrar em uma guerra de preços, que
seria danosa para todos os produtores, essas empresas procuram investir parte de seu capital em
esforços de propaganda e marketing, bem como diferenciar seu produto para fidelizar sua clientela.

4 Cartéis
Um cartel consiste em um grupo de produtores de um mesmo bem, em regime de oligopólio,
que reúne-se em um acordo, explícito ou não, e que aproveita-se de sua condição de alta concen-
tração de mercado como objetivo de fixar preços além dos de mercado, obtendo lucros extraordi-
nários, afetando a concorrência e mesmo restringindo a produção para expandir artificialmente a
demanda pelos bens que produzem.
Um exemplo de formação de cartel ocorreu em uma cidade do interior de São Paulo, no setor
de postos de combustíveis, no ano de 2006. Todos os postos da cidade, com exceção de um ou dois,
fixaram seus preços acima da média do mercado. Mediante denúncia da Câmara de Vereadores ao
órgão fiscalizador do setor, a Agência Nacional do Petróleo, os postos foram lacrados e multados.

Figura 3 – Fixação de preços entre produtores através de cartel

Fonte: Lightspring/Shutterstock.com

Trata-se, como você pode observar, de uma atitude danosa aos consumidores, principal-
mente por restringir a oferta de produtos e aumentar o seu preço, dificultando a competição em
seu mercado. Normalmente, os cartéis afetam a eficiência da economia. Sendo assim, eles são
fortemente combatidos pelas entidades governamentais de defesa da concorrência, como o Con-
selho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade), no Brasil, que tem a capacidade de averi-
guar se certas operações, como compras de empresas e fusões, são capazes de gerar uma con-
centração excessiva que poderá trazer dano ao livre mercado e não beneficiar os consumidores.

– 41 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
Você pode obter maiores informações a respeito das políticas de formação de car-
téis e do combate a tais medidas através de um estudo-síntese da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, denominado “Cartéis – seus
danos e ações efetivas” (OCDE, 2002). Disponível em: <http://www.oecd.org/com-
petition/cartels/1935129.pdf>.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• verificar que o mercado consiste em um espaço de transações de bens e serviços entre


compradores e vendedores;
•• perceber que cada estrutura de mercado está relacionada a diversos fatores, entre os
quais cabe destacar o grau de concentração de mercado das empresas, que determina
sua capacidade de fixar os preços que serão adotados dentro daquele mercado;
•• conhecer diferentes estruturas de mercado, quais sejam, os que operam sob regime
de concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e por políticas de formação de cartel.

Referências
ARRUDA, José Jobson de Andrade. Nova História Moderna e Contemporânea. Bauru: Edusc, 2003.

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Agências de Viagens Corporativas– Abracorp. Segmento Aéreo Nacional


– Bilhetes emitidos e vendas – 3º Tri 2016.Disponível em <http://abracorp.org.br/wp-content/uplo-
ads/2016/10/Aereo-Nac-bilhetes-e-vendas-1.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2016.

ORGANIZAÇÃO para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. Carteis – seus danos


e ações efetivas. 2002. Disponível em <http://www.oecd.org/competition/cartels/1935129.pdf>.
Acesso em: 17 dez. 2016.

PELEGRINI, Andréa de Oliveira; BAÍS, Isadora Ceolin. Da concorrência perfeita e imperfeita. Toledo
Prudente Centro Universitário. Encontro de Iniciação Científica – Etic 2014. Disponível em: <http://
intertemas.toledoprudente.edu.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/4304/4063>. Acesso
em: 10 jan. 2017.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

– 42 –
TEMA 6
Moeda
José Tadeu de Almeida

Introdução
Todos os dias realizamos transações para satisfazer nossas necessidades em relação à
alimentação, vestuário, lazer e aquisição de bens, por exemplo. Além disso, também temos que
pagar impostos. Mas, para que estas operações sejam feitas é necessária a existência de um
denominador comum, um recurso aceito por todos. Nesta aula vamos estudar este recurso, atual-
mente, representado pela moeda. Bons estudos!

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• entender o conceito de moeda.

1 Conceituação
Antes do surgimento da moeda, você saberia dizer como as pessoas adquiriam o que precisa-
vam? Nos primórdios da civilização as necessidades da população eram limitadas e baseadas na
sobrevivência. Mas, com a divisão do trabalho acentuando-se, na Idade Antiga, os trabalhadores pas-
saram a se especializar, surgindo os ferreiros, carpinteiros e lavradores, por exemplo. Foi desta forma,
com a circulação de bens entre as pessoas mediante trocas, que surgiu o escambo (ROSSETTI, 2016).

SAIBA MAIS!
No capítulo 6 da obra “Uma Breve História do Brasil” (2010), Mary Del Priore e Renato
Venâncio explicam que, na formação da sociedade brasileira, o escambo subsistiu na
época colonial, nos séculos XVI e XVII, por meio da troca de bens entre portugueses
e índios, e mesmo após este período, entre escravos fugitivos (quilombolas).

Porém, é importante perceber que o escambo enquanto atividade comercial tem uma limitação.
Você saberia dizer qual é? Note que o escambo depende de uma sintonia de interesses em torno da
utilidade do bem que cada indivíduo dispõe para trocar, e ambos deverão ainda estar de acordo sobre
o valor atribuído para aquele bem. Ou seja, deve haver uma coincidência de demandas e valores.

– 43 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
Uma espada deve possuir a mesma utilidade de uma dúzia de ovos, pois um ferreiro
deseja se alimentar e um criador de aves precisa defender-se. Porém, ambos neces-
sitam de roupas. Portanto, é necessário que a espada, ou os ovos, também permi-
tam a aquisição do couro de um boi para a confecção da roupa. Assim, a utilidade
dos recursos está expressa a partir do que eles representam para cada indivíduo.

Figura 1 – Indivíduos transacionando cabras em uma praça

Fonte: Peter Stuckings/Shutterstock.com

Antes do surgimento da moeda, como a conhecemos hoje, era comum o uso de mercadorias
para a avaliação de valores dos bens. Um destes itens, por exemplo, era o sal: foi assim que surgiu
o termo salário (do latim salarium). No entanto, com o tempo tornou-se impossível a utilização de
mercadorias-moeda como referencial (ROSSETTI, 2016). Foi então, no século VIII a.C, na região da
Lídia, no Oeste da Turquia, que as primeiras moedas foram cunhadas em metal.

2 Funções da moeda
Vamos estudar agora as diferentes funções da moeda. A primeira delas, conforme vimos no
tópico anterior, é ser um meio de troca, ou seja, uma referência para medir o valor de todos os bens
(ROSSETTI, 2016).

FIQUE ATENTO!
A moeda é reconhecida como meio de troca em uma sociedade quando ela, de fato,
funciona como um equivalente-geral e é reconhecida pelas pessoas como este meio
de troca. Mas quando a moeda perde seu valor, como no caso da hiperinflação ale-
mã, após a Primeira Guerra Mundial, o dinheiro praticamente não era mais reconhe-
cido como meio de trocas, e um pedaço de pão chegou a custar bilhões de marcos.

– 44 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 2 – Cédula de dez bilhões de marcos impressa em 1923

Fonte: Kondor83/Shutterstock.com

A segunda função da moeda é ser uma unidade de conta. Em uma economia monetária, ou
seja, baseada em transações em moeda, o valor das mercadorias tem como equivalente-geral a pró-
pria moeda, que permite expressar a soma do valor dos bens produzidos (PAULANI & BRAGA, 2013).

EXEMPLO
Se sabemos que uma bicicleta tem o valor de R$ 500,00 e um litro de leite custa, em
média, R$ 2,50, podemos deduzir que uma bicicleta tem o mesmo valor monetário
de duzentos litros de leite. Esta é a chamada estrutura de preços relativos. Neste
caso, cada mercadoria tem seu valor associado a uma quantidade de moeda. Se o
leite tem seu valor alterado para R$ 3,00 e a bicicleta não teve seu valor alterado, ela
passa a valer pouco mais de 166 litros de leite. Ou seja, os preços relativos passa-
ram por uma distorção. Assim, quando pensamos o valor dos produtos, em função
de unidades monetárias, verificamos que a moeda também tem a função de ser
uma unidade de conta, ou seja, ela expressa o valor de todos os recursos somados
e produzidos pela sociedade.

A terceira função da moeda é ser uma reserva de valor. A moeda é o vetor responsável pelas
operações de compra e venda a qualquer tempo. Porém, os agentes podem optar por não efetua-
rem transações agora. Ou seja, a moeda permite que a utilizemos quando acharmos conveniente,
como uma ponte entre o presente e o futuro (PAULANI & BRAGA, 2013).

FIQUE ATENTO!
Em uma economia monetária moderna, a moeda, para ser considerada um equi-
valente geral para as trocas, deve possuir três características: deve ser uma unida-
de de conta, um meio de troca e uma reserva de valor. Caso a moeda perca uma
destas três funções ela se deteriora. Assim, ela continuará sendo um recurso,
mas não será uma moeda.

– 45 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Agora que enfatizamos as principais funções da moeda, vamos aprender mais sobre as suas
características, igualmente importantes, que formam o sistema monetário internacional.

SAIBA MAIS!
A moeda possui diversas funções. Ela também permite que salários, por exemplo,
possam ser pagos ao longo do tempo, no chamado padrão de pagamentos diferidos.
Da mesma forma, também constitui-se em um instrumento de poder, já que moedas
de países com poder econômico e militar tornam-se referências de valor para
outras moedas. Para aprender mais sobre as funções da moeda consulte o primeiro
capítulo da tese do professor Raul Jorge Curro, “Mercosul: a moeda única e suas
consequências no comércio internacional” (2009), disponível em <http://www.teses.
usp.br/teses/disponiveis/2/2135/tde-24092009-153739/pt-br.php>

3 Características
Como vimos anteriormente, a dificuldade em se estabelecer um equivalente-geral para as
trocas tornava necessário escolher bens que pudessem ser reconhecidos como reserva de valor e
ter facilidade de circulação, além do reconhecimento por todas as pessoas – era necessário obter
um recurso de alta liquidez.
A liquidez é a possibilidade da moeda, ou de outros recursos, serem negociados livremente e
aceitos pelos agentes a qualquer tempo. A moeda é o recurso líquido por excelência, pois ela pode
ser trocada por qualquer bem, a qualquer momento, em circunstâncias normais – ela torna-se
poder de compra imediatamente. Uma casa por exemplo não tem a mesma rapidez para trans-
formar-se em outro bem: ela possui menos liquidez do que a moeda (PAULANI & BRAGA, 2013).

Figura 3 – Barra de ouro, recurso tão líquido quanto o dinheiro

Fonte: hidesy/Shutterstock.com

– 46 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Agora, preste atenção: na evolução do mercado, os metais preciosos foram assumindo a fun-
ção de moeda. Entre eles, destacaram-se a prata e o ouro. É importante perceber que estes metais
carregam altos valores em pequenas quantidades, não se deterioram e podem ser divididos em
porções menores, permitindo a expressão de qualquer valor que as transações pudessem exigir
(PAULANI & BRAGA, 2013).
Há algumas características que fizeram com que os metais, sobretudo o ouro e a prata, fos-
sem preferidos como moeda. Observe a seguir.

•• Escassez: o ouro, sobretudo, é um metal raro. Há, na crosta terrestre, em média, um


quilo de ouro para cada 350 mil toneladas de terra.
•• Durabilidade: o ouro é resistente à oxidação, e tem uso em diversas aplicações, da
joalheria à engenharia espacial;
•• Divisibilidade: o ouro é maleável, e pode ser moldado conforme as necessidades de
tamanho e peso, ideais para a cunhagem de moedas.
•• Facilidade de manuseio e armazenamento: o brilho do ouro (e também da prata) é reco-
nhecido em praticamente qualquer lugar. Isto cria uma relação de confiança dos indivíduos
em relação a estes metais, permitindo seu armazenamento e uso (ALMEIDA, 2015).

FIQUE ATENTO!
Nos séculos XVIII e XIX as economias ocidentais, lideradas pela Inglaterra, fixaram
o valor de suas moedas a partir dos estoques de ouro e prata disponíveis, com o
ouro assumindo o principal referencial de valor para as moedas. Este sistema fica-
ria conhecido como padrão-ouro (ALMEIDA, 2015).

Figura 4 – Antiga moeda de pedra do arquipélago de Yap

Fonte: evenfh/Shutterstock.com

– 47 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Contudo, diante dos problemas de segurança dos metais preciosos, dado o risco de roubos,
as pessoas passaram a evitar o seu porte, preferindo guardá-los junto a pessoas e instituições de
confiança – originando as primeiras casas bancárias.
Em troca, elas recebiam um certificado em papel, que garantia ao portador um determinado
valor naquela casa comercial. Com o tempo, estes papéis começaram a circular e serem aceitos pela
comunidade como moeda, com as suas três funções. Surgia o papel-moeda, utilizado ainda hoje.
O papel-moeda é tido como uma moeda fiduciária. Não há, em todo o mundo, estoques de
metal precioso suficientes para fornecer lastro, ou seja, cobrir o valor do papel-moeda em circula-
ção e em poder do público, como na Idade Média.
Quem garante o valor que o papel-moeda possui é o próprio governo. Desta forma, o valor da
moeda se assenta na confiança (fidúcia) da sociedade em relação a um governo e na estabilidade
de sua moeda (ROSSETTI, 2016).
O papel-moeda ainda é tratado como moeda manual ou corrente, pois se caracteriza como
um meio de pagamento que efetivamente está em poder dos agentes. Esta classificação existe
para diferenciar a moeda manual da moeda escritural, ou seja, aquela que está guardada nas
casas bancárias, na forma de depósitos à vista (ROSSETTI, 2016).

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• conhecer os modelos sociais primitivos e o sistema de trocas baseado no escambo e


na utilidade dos bens;
•• estudar as três funções da moeda: unidade de conta, meio de troca e reserva de valor;
•• verificar que outros recursos também podem ser reserva de valor, porém têm menor
liquidez do que a moeda;
•• perceber que os sistemas monetários modificaram-se em prol das trocas comerciais, e
a moeda teve este mesmo curso, dos padrões metálicos para o papel-moeda.

– 48 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Referências
ALMEIDA, José Tadeu. Padrão-ouro: Experiências comparadas Brasil-Portugal no Século XIX. 253p.
Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/
tde-15102015-141843/pt-br.php>. Acesso: 1 dez 2016.

CURRO, Raul Jorge de Pinho. Mercosul: a moeda única e suas consequências no comércio interna-
cional. 227p. Tese (Doutorado em Relações Internacionais). Faculdade de Direito. Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2135/
tde-24092009-153739/pt-br.php>. Acesso: 1 dez 2016.

DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Planeta, 2010.

PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A nova contabilidade social – Uma introdução à
Macroeconomia. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2016.

– 49 –
TEMA 7
A demanda fundamentada no
comportamento dos consumidores
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula vamos analisar o comportamento dos consumidores durante a escolha de produ-
tos que atendam suas necessidades. Verificaremos que eles optam por determinadas quantidades
de bens a partir do grau de satisfação que eles oferecem.

Objetivos de aprendizagem:
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• identificar as propriedades da curva de indiferença;


•• compreender a teoria da utilidade por meio das noções de utilidade total e utilidade marginal;
•• entender o conceito de restrição orçamentária.

1 Hipóteses
Quando discutimos a Teoria do Consumidor temos que partir do princípio que o consumidor pos-
suí preferências em relação ao seu consumo. O consumidor é livre para optar por aquilo que irá adquirir.
Neste sentido três hipóteses são importantes (PINDYCK & RUBINFELD, 2013). Confira a seguir.

•• Integralidade
As preferências dos consumidores são completas. Quando o consumidor opta por
adquirir certos bens, em quantidades distintas, eles atenderão sua necessidade e ele é
capaz de ordenar e comparar suas preferências. Neste caso, o consumidor é indiferente
às quantidades de bens consumidos, desde que satisfaçam seu bem-estar.

•• Transitividade
Para obter bem-estar, o consumidor opta pela combinação de bens ou serviços con-
siderados favoráveis. Suponhamos, se o consumidor prefere um bem A em relação a
um bem B, e prefere o produto B em relação ao bem C, logo, ele prefere o produto A em
relação ao produto C. Torna-se assim consistente a escolha do consumidor.

•• Mais é melhor do que menos (Monotonicidade ou Insaciabilidade)


Como os consumidores sempre estão buscando satisfação naturalmente tenderão a obter a
maior quantidade possível de bens que compõem suas preferências. Sendo assim, não esta-
rão nunca satisfeitos completamente, são insaciáveis em suas preferências de consumo.

– 50 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

2 Cestas de mercado
O comportamento do consumidor em relação à escolha de determinados produtos segue
uma ordenação que lhe permite optar por quantidades destes bens, que irão maximizar sua satis-
fação e seu bem-estar. Por meio desta ordenação podemos avaliar a demanda dos consumidores.
Acompanhe a seguir.
Imagine que um consumidor tem, entre suas escolhas ideais, diferentes quantidades de cer-
vejas (C) e antiácidos (A). Estas combinações podem ser denominadas como A (20C, 18A), B (12C,
45A), C (39C, 21A), D (27C, 38A), E (12C, 19A) e F (11C, 41A). Quando ordenadas em conjunto,
estas combinações de bens, que satisfazem o consumidor, recebem a denominação de cestas de
mercado (PINDYCK & RUBINFELD, 2013).

3 Curvas de indiferença
É importante destacar que diversas cestas de mercado podem satisfazer as necessidades do
consumidor. Observe na figura “Curva de indiferença” que cada ponto corresponde a uma cesta de
mercado. Se traçarmos uma linha de tendência em torno destas cestas teremos um padrão para com-
pará-las e poderemos verificar qual delas é a melhor. Esta linha é denominada curva de indiferença.

Figura 1 – Curva de indiferença

50
B
45
F D
40
35
30
Número de antiácidos

25
E A
20
15
C

10
5
0
0 10 20 30 40 50

Número de cervejas

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

FIQUE ATENTO!
Para qualquer ponto que esteja na curva, que também corresponde a uma cesta
de mercado, o consumidor estará indiferente em seu processo de escolha. Ele não
terá motivos para optar por cestas que estejam abaixo da curva de indiferença, pois
elas não oferecem satisfação completa.

– 51 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Como não é possível ao consumidor adquirir infinitas quantidades de ambos os bens, ele
deverá abrir mão da quantidade de um bem em prol de uma quantidade maior de outro: mais cer-
vejas por menos antiácidos, por exemplo.

4 Mapa de indiferenças
É importante destacar que há infinitas possibilidades de escolha para o consumidor; há várias
cestas de mercado que são indiferentes ao consumidor do ponto de vista de sua satisfação, permi-
tindo assim que novas curvas sejam formadas. A combinação destas curvas é chamada de mapa
de indiferença (PINDYCK & RUBINFELD, 2013).

Figura 2 – Mapa de indiferença

50
B
45
F D
40
35
U3
30
Número de antiácidos

U2
25
E A U1
20
15
C

10
5
0
0 10 20 30 40 50

Número de cervejas

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Percebemos que as distintas (e infinitas) curvas de indiferença expressam o mapa de indiferença


de um consumidor. A figura “Mapa de indiferença” ilustra como o consumidor pode mudar suas esco-
lhas, buscando a melhor combinação, optando pelas cestas de mercado que estão sobre a curva U3
ou além dela (como a cesta d), uma vez que estas cestas irão maximizar a satisfação do consumidor.
As curvas de indiferença possuem algumas propriedades. Entre elas, o fato de que não se
cruzam: não há duas curvas que correspondam a uma mesma cesta ideal. Da mesma forma, elas
são inclinadas para baixo, motivo pelo qual um consumidor sempre irá optar por consumir mais
unidades de um bem se abrir mão do consumo de outro produto. Em terceiro lugar, as curvas mais
elevadas serão preferíveis ao consumidor com base na hipótese da insaciabilidade.
Por fim, as curvas são convexas em relação ao ponto de origem (0,0), ou seja, o consumidor
tem disposição para trocar o bem que ele possui em maior quantidade para obter aquele que está
mais escasso. (PINDYCK & RUBINFELD, 2013)

– 52 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

5 Utilidade
Vamos estudar agora um conceito sobre o comportamento do consumidor em relação à sua
demanda por bens: a utilidade, que consiste na satisfação e no bem-estar dos consumidores em
relação ao consumo dos bens que formam sua preferência.
Na figura “Mapa de indiferença” podemos perceber que, em relação às três curvas de indife-
rença, a cesta D, localizada na curva U3, é preferível à cesta E, localizada na curva U1. Observe que
esta cesta D trará maior satisfação ao consumidor. Se atribuirmos valores ao grau de satisfação
de cada escolha poderemos avaliar a utilidade total de cada cesta de mercado.

FIQUE ATENTO!
Não há uma unidade de medida da utilidade, como quilos ou metros. O conceito
expressa apenas uma ordem de grandeza em relação à satisfação do consumidor.
Neste sentido, enfatizamos que cada curva de indiferença trará ao consumidor um
certo grau de utilidade.

6 Utilidade marginal
Conforme estudamos, o consumo de cada bem agrega utilidade ao consumidor. Ou seja,
cada unidade a mais de um produto consumido traz uma certa satisfação ou utilidade adicional.
Assim, chamamos de utilidade marginal o grau de satisfação obtido por meio do consumo de
uma unidade adicional (um consumo na margem) de um bem.

SAIBA MAIS!
O conceito de utilidade é discutido desde o século XIX por autores como William
Jevons. Você pode encontrar referências deste debate acessando a tese de
doutorado de Waldemar Sobral Sampaio (UFRJ) disponível em: <http://www.ie.ufrj.
br/images/pesquisa/publicacoes/dissertacoes/2008/para_alem_da_utilidade_
marginal_uma_leitura_metodologica_alternativa_de_jovens_e_walras.pdf>.

Perceba que a utilidade marginal é sempre decrescente, considerando que, à medida que se
consome mais de uma determinada mercadoria, estas quantidades irão gerar menos utilidade e
satisfação ao consumidor (PINDYCK & RUBINFELD, 2013).

SAIBA MAIS!
Quando um consumidor consome mais unidades de um bem, de sua cesta de
mercado, a utilidade marginal diminui, mas a utilidade marginal dos outros bens,
não consumidos naquele instante, aumenta. Se tal situação não acontecesse, com
o tempo, todos os bens teriam utilidade marginal zero.

– 53 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Vale lembrar que o consumidor sempre adquire um bem que fornecerá maior utilidade mar-
ginal no momento da decisão de compra. Se ele tem mais fome do que vontade de comprar um
televisor de 55 polegadas, por exemplo, ele irá primeiro comer, pois a utilidade marginal da comida
é maior do que a do televisor naquele momento.

EXEMPLO
Quando um consumidor compra um lanche podemos arbitrar sua utilidade em 6
unidades. Se ele come um segundo lanche não sentirá tanto o sabor, e sua utilidade
cai para 4. Se come um terceiro, na sequência, estará empanturrado, e a utilidade
é de apenas 2. Se, para provar alguma coisa para seus amigos, ele decide comer o
quarto lanche, é fortemente provável que tenha uma congestão e a utilidade margi-
nal deste lanche será próxima a zero.

7 Restrição orçamentária
Há uma variável fundamental para o consumidor nos processos de escolha: a restrição
orçamentária. Como vimos, no exemplo mencionado nesta aula, as pessoas desejam a maior
quantidade possível de cervejas e antiácidos, porém não dispõem de renda para adquirir a maior
cesta de mercado possível. Mas, por que não consumir infinitamente em cestas de mercado o
mais à direita possível no mapa de indiferenças?
Isto não ocorre porque as pessoas dispõem de uma renda fixa que lhes permite adquirir
alguma quantidade dos dois bens, conforme o preço.
Supondo que o consumidor dispõe de uma renda W e a gaste, inteiramente, para o con-
sumo de dois bens, no caso cervejas e antiácidos, podemos verificar que as escolhas de compra
seguem a equação 2:

(Pc * C) + (Pa * A) = W

Onde Pc representa o preço da cerveja C, e Pa o preço dos antiácidos A. O somatório dos


preços e das quantidades dos produtos equivalerá à renda fixa do consumidor, descrito por W. Vale
ainda dizer que o consumidor não pode consumir mais do que sua renda permite, nem menos, pela
hipótese da insaciabilidade.

EXEMPLO

Se um consumidor possui uma renda mensal de R$ 90,00, considerando que a cer-


veja custa R$ 3,00 e o antiácido R$ 1,00, confira algumas das possíveis opções de
compra para este consumidor na tabela 1:

– 54 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
Tabela 1 – Cestas de mercado mediante restrição orçamentária

Cesta de mercado Cervejas Antiácidos Despesa total

A 0 90 90

B 5 75 90

C 10 60 90

D 15 45 90

E 20 30 90

F 25 15 90

G 30 0 90

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Adaptando a equação 2 ao nosso exemplo, a chamada linha de orçamento do consumidor


possui a função:

3 * A + 1 * C = 90

Desta forma, as curvas de indiferença que se associam à restrição orçamentária devem maxi-
mizar sua satisfação com a cesta de mercado que ele optou em adquirir. Para verificar as curvas
que se adaptam à restrição orçamentária do consumidor observe a figura “Curvas de indiferença
entre bens a partir de uma dada restrição orçamentária” a seguir.

Figura 3 – Curvas de indiferença entre bens a partir de uma dada restrição orçamentária

100
A
90
80
B
70
C
60
Unidades de antiácido

50
D
40
E U2
30
20
F U1
10
G
0
0 5 10 15 20 25 30 35

Unidades de cerveja

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

– 55 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Note que a reta AG descreve as quantidades de dois bens que podem ser adquiridos pelo con-
sumidor, associados a uma renda fixa mensal de 90 unidades monetárias. Ali estão as cestas de
mercado que satisfazem o consumidor, ou seja, têm um grau ótimo de utilidade dada uma restrição
orçamentária. Cabe lembrar ainda que o grau de inclinação da reta de restrição orçamentária é dada
pela razão entre os preços relativos dos bens (PINDYCK & RUBINFELD, 2013).

FIQUE ATENTO!
Duas hipóteses devem ser assumidas para termos a cesta de mercado maximiza-
dora do consumidor:
•• a cesta deve estar exatamente sobre a linha de orçamento, tangenciando-a
em um único ponto, pois caso ela esteja abaixo desta reta indicaria que o
consumidor está gerando poupança, o que não se aplica pela hipótese da
insaciabilidade.
•• a preferência do consumidor deve ser máxima, nenhuma outra cesta poderá
ter um grau de utilidade maior do que a cesta que maximiza sua satisfação.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• verificar que os agentes sempre tenderão a adquirir um certo volume de bens que maxi-
mizam sua satisfação, dada uma renda fixa;
•• aprender que cada escolha de uma cesta de mercado determina uma tendência que é
conhecida como curva de indiferença. A combinação destas curvas fornece o mapa de
indiferença de cada consumidor;
•• compreender que cada escolha de consumo está associada a um grau de satisfação,
medido pela noção de utilidade total, e que um aumento no consumo de um determi-
nado bem afeta a utilidade marginal decorrente deste padrão de consumo.

Referências
PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

SAMPAIO, WALDEMAR SOBRAL. Para além da Utilidade Marginal: Uma leitura Metodológica
Alternativa de Jevons e Walras. Tese (Doutorado em Economia), Instituto de Economia da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2008. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/images/
pesquisa/publicacoes/dissertacoes/2008/para_alem_da_utilidade_marginal_uma_leitura_meto-
dologica_alternativa_de_jovens_e_walras.pdf>. Acesso em: 20 dez 2016.

– 56 –
TEMA 8
Teoria elementar da demanda e o
processo de escolha do consumidor
José Tadeu de Almeida

Introdução
Discutiremos nesta aula alguns dos principais elementos relacionados à formação das cur-
vas de demanda no mercado de bens. Definiremos como elas afetam o processo de escolha do
consumidor e a sua satisfação pessoal, expressa através do conceito de Utilidade.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
•• entender os fatores formadores da demanda.

1 Demanda
Quais os critérios que você usa ao efetuar suas compras? Você pensa primeiro nos preços?
Na Teoria do Consumidor, as escolhas ocorrem a partir da relação entre preços, quantidades
e preferências dos consumidores. Juntas, estas variáveis determinam os níveis gerais de produtos
e preços dos bens a serem absorvidos pelos consumidores.
Devemos, porém, assumir certas hipóteses que ajudarão a compreender o processo de esco-
lha do consumidor, dentro do modelo conhecido como concorrência perfeita. São elas, segundo
Varian (2015):

•• a demanda dos bens é determinada dentro de seu respectivo mercado;


•• a demanda é controlada pelos consumidores que absorverão estes bens;
•• não há interferência do Estado;
•• o mercado deve ser competitivo, ou seja, há muitos consumidores e nenhum deles,
individualmente, tem o poder de influenciar os preços dos produtos. Nenhum dos inte-
grantes do mercado, portanto, é capaz de controlar os preços sozinho;
•• os produtos são homogêneos entre si, isto é, não se diferenciam em função de marca,
cor, sabor, dentre outros fatores.

SAIBA MAIS!
Outras referências a respeito da organização do modelo de concorrência perfeita
e das relações de produção podem ser encontradas no artigo de Jacques
Kerstenetzky, “Organização empresarial em Alfred Marshall”.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ee/v34n2/v34n2a06.pdf>.

– 57 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

A dinâmica da demanda está descrita pela seguinte equação:

Qd = Qd (P)

Através desta equação, você percebe que a quantidade demandada também está diretamente
relacionada ao preço do bem, porém, em uma inclinação descendente: quanto mais o preço de um
bem diminui, mais os consumidores estarão dispostos a comprá-lo (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
A demanda também está associada à utilidade, ou seja, à satisfação que os consumidores
obtêm adquirindo uma certa quantidade de bens, que formam a chamada cesta de mercado, a um
determinado nível de preços. Por definição, os consumidores sempre querem consumir a maior
quantidade de bens possível, pois sua demanda é sempre insaciável.

EXEMPLO
Um consumidor médio costuma consumir cervejas e antiácidos de maneira sin-
cronizada. Estes bens formam a sua cesta de mercado. Suas preferências são in-
controláveis: quanto mais cerveja e antiácido ele puder adquirir, melhor será para
a sua utilidade. Ele ficará cada vez mais satisfeito quanto mais puder consumir
quantidades desses dois bens.

O que limita e determina qual o volume de bens um consumidor poderá adquirir é a sua renda,
também definida como restrição orçamentária.
Observe:

Figura 1 – Curvas de indiferença e restrição orçamentária

100
A
90
4
80
B
70
Unidades de antiácido

C
60
50 1 U3
D
40 3
E U2
30
2
20
F U1
10
G
0
0 5 10 15 20 25 30 35

Unidades de cerveja

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

O gráfico mostra para você um mapa de indiferença, ou seja, uma combinação de curvas de
indiferença que demonstram as possibilidades de consumo por parte dos agentes econômicos.
As curvas de indiferença são determinadas pela utilidade dos consumidores ao demandar uma
certa combinação de bens, denominada cesta de mercado, como uma que seja formada por cer-
vejas e antiácidos.

– 58 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

A reta AG que cruza o gráfico configura a renda do consumidor ou a sua restrição orçamen-
tária. Ele está limitado a consumir bens de acordo com a sua renda, ou seja, qualquer combinação
de bens que esteja abaixo da reta ou sobre ela poderá ser consumida por ele. Como o consumidor
deseja sempre maximizar a sua utilidade, ele consumirá até o limite de sua renda. Veja que, na
figura “Curvas de indiferença e restrição orçamentária”, a curva de indiferença que resume essa
situação é a U2.
A curva de indiferença que tangencia a reta de restrição orçamentária em um ponto (no caso,
o ponto 1, referente à cesta de mercado D) determina as quantidades de bens que serão efetiva-
mente demandadas pelo consumidor, pois, nesse ponto, sua utilidade, sua satisfação com a aqui-
sição desses bens está maximizada.
Cabe ainda verificar as situações alternativas: no ponto 2, há renda para a aquisição da cesta,
mas a utilidade da curva U1 não é máxima do ponto de vista do consumidor – há opções melhores,
como a curva U2, na qual o ponto 3 não pode ser alcançado, pois o consumo geraria a mesma utili-
dade ao consumidor, mas a sua renda é insuficiente para isso. Já a curva U3, que contém o ponto 4,
resume uma utilidade ainda maior ao consumidor, mas sua renda também não é compatível com
esse consumo.
Deste modo, mudanças na renda do consumidor têm capacidade de deslocar a sua reta de
restrição orçamentária para patamares superiores. Na mesma imagem, veja que a curva U3, que
antes não podia ser “aproveitada”, torna-se um ponto de maximização de utilidade, se a renda do
consumidor for reajustada de modo a abranger a curva U3 (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Suponha o caso de uma função de demanda dada por Qd = 500 – 2p. Neste caso, a
renda do consumidor é de $ 500. O gráfico de demanda estará dado como se segue:

Figura 2 – Curva de demanda Qd = 500 – 2p


P

500

250 Q

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Perceba que, para cada alteração de preços, haverá uma mudança de quantidades
demandadas ao longo da curva. O consumidor pode, com sua renda, demandar até
250 unidades desse bem. Contudo, se o preço aumentar, haverá uma queda corres-
pondente de consumo. Suponha que o preço do bem seja de $ 4. Neste caso, ele
poderá demandar até 125 unidades deste produto.

– 59 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Observe que a mudança de preços gera deslocamentos ao longo da curva de demanda. Por
outro lado, note que mudanças na renda formam novas curvas de demanda, de acordo com o
conceito abordado anteriormente de restrição orçamentária.

2 Curva de demanda
A curva de demanda é descrita pelo gráfico a seguir:

Figura 3 – Curvas de demanda por bens

Preço (P)

P1

P2

D1 D2

Q1 Q2 Quantidade (Q)
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Conforme você verifica na análise da demanda, o comportamento dos agentes reage ao nível
geral de preços, mas também em relação a uma variação dos níveis de renda. Em outras palavras,
caso haja uma diminuição nos preços de um bem, haverá um deslocamento dos processos de
escolha dos consumidores ao longo da curva D1 – eles consumirão mais unidades.
Porém, se houver alguma mudança que interfira na capacidade de compra desses consu-
midores – como, por exemplo, um aumento de salários – haverá um deslocamento da curva de
demanda, criando-se, então, a curva D2, descrita no gráfico “Curvas de demanda por bens”.

FIQUE ATENTO!
A curva de demanda pode ser descrita matematicamente através da seguinte ex-
pressão:
Qd = D (P,Y)
Nela, você observa que as quantidades demandadas de produto são função direta
do nível de preços e da renda disponível do consumidor (Y), conforme o conceito de
restrição orçamentária. Para traçar a curva de demanda, você deve considerar que
a renda do consumidor é fixa.

– 60 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Por fim, lembre-se de que “quantidades demandadas” não têm o mesmo significado de
“demanda”. Mudanças nos preços impactam quantidades de bens demandadas, não a demanda
em si. Esta só é alterada mediante alterações da renda dos agentes.

FIQUE ATENTO!
A demanda pode ter o seu perfil alterado em função de medidas que alterem as
preferências do consumidor. Propagandas e trabalhos de marketing, por exemplo,
podem gerar mudanças na demanda, com consumidores demandando maiores
quantidades de bens.

3 Curva de demanda do mercado


Agora que você já tomou conhecimento do comportamento do processo de escolha do con-
sumidor em função de sua demanda individual, compreenderá melhor como estas demandas se
traduzem no comportamento do próprio mercado.
É importante ressaltar, de uma forma sintética, que a demanda do mercado corresponde às
demandas de todos os agentes, ou seja, trata-se de um somatório de suas demandas (PINDYCK;
RUBINFELD, 2013).

SAIBA MAIS!
Como você pode perceber, estamos analisando apenas um tipo de mercado, um
tipo de bem. Na vida real, há uma dependência entre produtos, tornando o cálculo
bem mais complexo – encontrar o balanceamento entre quantidades e preços de
todos os produtos do mercado é o que chamamos de conceito microeconômico de
equilíbrio geral.

Figura 4 – Curvas de demanda individuais e de mercado

Preço

D1
D2 D3 D

Quantidade

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

– 61 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

No gráfico “Curvas de demanda individuais e de mercado”, você observa, de forma simplifi-


cada, a formação da curva de demanda do mercado. A curva D expressa a demanda de um soma-
tório de consumidores, representados pelas curvas D1, D2 e D3. Quando se agregam as curvas
de demanda de todos os consumidores em um mercado de bens, esse somatório representará a
curva de demanda do mercado.

FIQUE ATENTO!
A discussão proposta no conceito de curva de demanda de mercado está associa-
da à noção de um agente representativo: você sabe que os consumidores sempre
estarão procurando satisfazer a sua utilidade, dada certa restrição orçamentária –
este processo, por sua vez, é efetuado por todos os consumidores. Desta forma,
pode-se deduzir que todos os consumidores, sob concorrência perfeita, fazem a
mesma escolha. Sendo assim, a demanda de um consumidor individual está ligada
à demanda de todo o mercado.

Fechamento
Você concluiu aqui mais uma aula importante da Teoria do Consumidor associada ao pro-
cesso de escolha dos consumidores no mercado e suas implicações.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:


•• verificar que o comportamento da demanda é de tendência descendente em função de
oscilações do nível geral de preços;
•• entender que a maximização da utilidade do consumidor determina as quantidades de
bens que virá a demandar;
•• compreender que a curva de demanda do mercado consiste em um somatório das
curvas de demanda individuais.

Referências
KERSTENETZKY, Jacques. Organização Empresarial em Alfred Marshall. In: Estudos Econômicos.
São Paulo, v. 34, n. 2, p. 369-392, abr-jun 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ee/v34n2/
v34n2a06.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. Pearson: São Paulo, 2013.

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2016.

VARIAN, Hal Ronald. Microeconomia – uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2015.

– 62 –
TEMA 9
A demanda e sua relação com
os preços dos bens e serviços
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, traremos conceitos relacionados aos tipos de bem que definem a demanda do
consumidor. Verificaremos que nem sempre todos os bens têm as mesmas propriedades do ponto
de vista da demanda e também da renda.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• entender a relação entre a quantidade demandada e o preço de outros bens e serviços;


•• compreender a relação entre a demanda por um bem e a demanda do consumidor.

1 Bens substitutos, complementares e independentes


No mercado de bens, os consumidores costumam ordenar sua demanda a partir de uma série de
cestas de mercado dispostas em um modelo denominado curva de indiferença. Através dela, os con-
sumidores, em geral, estão dispostos a ordenar suas preferências no sentido de optar, mais ou menos,
por trocar o consumo de um bem por outro, mediante mudanças, por exemplo, no preço de um bem.

FIQUE ATENTO!
Um consumidor possui múltiplas curvas de indiferença, sendo cada uma delas as-
sociada a certo grau de utilidade, ou seja, ao grau de bem-estar que ele obtém con-
sumindo cada um daqueles bens.

Os formatos das curvas de indiferença, porém, não são sempre os mesmos. Há, no mercado,
diversos produtos pelos quais os consumidores estão mais ou menos dispostos a negociar, isto
é, a abrir mão do consumo de um bem em função da alteração de seus preços, preferindo o con-
sumo de outro. Isso, em termos da sua demanda em relação à formação da sua cesta de mercado.
Pense agora em algum tipo de produto do seu dia a dia do qual você não abre mão de consumir
sem demandar outro produto imediatamente.

– 63 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
Muito citado nos estudos de Teoria do Consumidor, que investiga o comportamen-
to e as preferências dos consumidores em torno da aquisição de bens em seus
mercados, determinando, assim, a demanda por esses bens, é o exemplo dos sa-
patos. Sempre que um consumidor adquire um calçado para o pé esquerdo, ele
também adquire outro para o pé direito. Mesmo que haja milhares de tipos de cal-
çados para o pé direito, ele aceitará trocar todos eles por uma única unidade para o
pé esquerdo, que maximiza a sua satisfação.

Figura 1 – Escolhas de consumo

Fonte: artmin/shutterstock.com

O grau de substituição de um produto por outro, que o consumidor está disposto a fazer
diante de uma mudança no nível de preços, permite que definamos se determinados bens são
melhores substitutos uns dos outros.
Neste sentido, dois bens são substitutos perfeitos quando o consumidor é plenamente indi-
ferente a consumir mais ou menos uma unidade dos produtos que compõem a sua cesta de
mercado. Por exemplo, quando um consumidor é indiferente a consumir refrigerantes do tipo cola
ou do tipo tutti-frutti, ele está disposto, sem grandes problemas, a consumir um copo a mais de
refrigerante do tipo cola, abrindo mão de um copo de refrigerante tutti-frutti.
Você pode analisar as curvas de indiferença entre bens substitutos perfeitos através do
gráfico a seguir.

– 64 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 2 – Curvas de indiferença sob bens substitutos perfeitos

Qb

1 2 3 4 5 Qa
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Através deste gráfico, você pode analisar o comportamento do consumidor em relação a bens
que lhe são substitutos perfeitos – como no caso dos refrigerantes, que mencionamos há pouco.

FIQUE ATENTO!
Não é necessário que a variação de preços seja de uma unidade monetária; basta
que a relação entre a demanda desses bens seja sempre constante ao longo das
curvas de indiferença.

Por outro lado, há bens cuja demanda por um consumidor está fortemente, ou mesmo total-
mente, atrelada ao consumo de outro bem. Trata-se do conceito de bens complementares: dois
produtos serão complementares entre si quando um consumidor estiver menos ou não disposto a
abrir mão de um bem em troca de outro, quando houver mudanças do nível de preços (PINDYCK;
RUBINFELD, 2013). E, ainda, serão complementares perfeitos quando não houver disposição à
troca, a mudanças no consumo, como você pode observar a partir do próximo gráfico.

– 65 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 3 – Curva de indiferença sob bens complementares perfeitos

Qb

1 2 3 Qa
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Neste gráfico, você observa o comportamento da demanda de um consumidor em torno de


dois bens que são complementares perfeitos entre si: este consumidor não terá satisfação alguma
em adquirir uma unidade adicional de um bem (sapatos de pé esquerdo, por exemplo) em troca de
outro. Logo, as curvas de indiferença formam um ângulo reto.
Todos os bens que um consumidor possa demandar no momento de formar sua cesta de
mercado podem, portanto, possuir algum grau de substituição entre si. Serão as preferências do
consumidor que determinarão, diante de mudanças em um dado nível de preços, as quantidades
de produtos que ele demandará.
Esta análise, por sua vez, considera que há um grau de dependência entre escolhas de bens
em um mercado. Porém, há produtos que, em função de uma série de variáveis, como preço, finali-
dade de uso (como bens de consumo duráveis ou não duráveis) e grau de diferenciação, por exem-
plo, possuem perfis de demanda muito diferentes; em outras palavras, a demanda de um bem em
função de mudanças no seu preço não exerce efeito significativo sobre o consumo do outro bem.
Neste caso, estamos falando de bens que são independentes.

EXEMPLO
Suponha uma cesta de mercado composta por televisores com tecnologia 4K e pão.
Bem, um televisor com essa tecnologia ainda é um bem de demanda razoavelmente
limitada em função de seu alto custo e tecnologia de geração de conteúdo restrita a
poucos canais. Já o pão é um alimento básico da mesa do brasileiro e sua demanda
é contínua. Veja que, deste modo, a demanda de televisores 4K não é significativa-
mente influenciada pela demanda por pão, caso o pão tenha seus preços alterados.

– 66 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

O que devemos enfatizar, por fim, é uma “análise central”, qual seja, uma alteração no nível
de preços trará uma mudança nas quantidades demandadas dos bens, pois o chamado equilí-
brio de mercado foi alterado, ou seja, as relações entre preços de um bem e quantidades deman-
dadas de outro foram modificadas. Em termos de dois bens, A e B, você verifica o impacto nas
quantidades demandadas do bem B perante a mudança de preços do bem A. Deste modo, per-
ceba que é através da análise das reações dos consumidores perante o consumo dos bens dada
a mudança de preços que você pode avaliar se os bens que ele demanda são complementares,
substitutos ou independentes.

SAIBA MAIS!
No limite, ou seja, considerando-se todas as alternativas possíveis, todos os bens
têm algum grau de substituição ou complementaridade entre si, ou mesmo são
totalmente independentes, excetuando-se os bens que são indesejáveis à sociedade,
pois sua demanda é fortemente negativa, como, por exemplo, o lixo nuclear.

2 Bens normais e inferiores


Até aqui, você verificou que há uma correlação entre o perfil da demanda pelos produtos em
função de suas características para o consumidor que determinará se esses bens serão substitu-
tos ou complementares a ele.
No entanto, você pode perceber que os diferentes produtos no mercado também estão sujeitos
a uma variável que determina a escolha do consumidor, qual seja, a sua renda individual, consideran-
do-se constantes todas as outras variáveis.
Assim, na formação da demanda, a renda do consumidor torna-se uma variável importante.
Pode-se, portanto, classificar os diferentes tipos de bens em relação à disposição do consumidor
de consumir mais ou menos quantidades desses bens diante de variações da sua renda.
Iniciemos nossa classificação com os chamados bens normais. Um bem normal é aquele
cuja demanda varia de maneira proporcional à renda do consumidor. Quando a sua renda aumenta,
o consumo cresce, e vice-versa.
Um bem inferior, por sua vez, é aquele cuja demanda reage de forma menos intensa a varia-
ções na renda do indivíduo. Um exemplo de bem inferior, para alguns consumidores, é o macar-
rão instantâneo (lamen): quanto mais a renda do consumidor se elevar, o consumo de macarrão
instantâneo tenderá a não aumentar na mesma proporção, ou mesmo diminuir conforme a sua
preferência de consumo, pois sua cesta de mercado poderá incluir, agora, novas opções, como
massas prontas, macarrão ou lasanha, por exemplo (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

– 67 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 4 – Macarrão instantâneo: normal ou inferior a partir de cada consumidor

Fonte: ArtCookStudio/Shutterstock.com

FIQUE ATENTO!
Bens inferiores não pressupõem má qualidade, que sejam ruins ou que tenham al-
guma característica que os depreciem. Tratam-se apenas de bens que não reagem
de maneira igualmente proporcional ao aumento da renda do consumidor e a pro-
porção em que se dá essa oscilação na demanda é mensurada a partir do próprio
consumidor e de suas preferências individuais.

Em resumo, como você pôde verificar, a identificação entre os bens normais e inferiores é
obtida através da relação entre a renda do consumidor e a quantidade demandada de um bem. Na
verdade, consumidores de renda mais baixa tenderão a classificar todos (ou ao menos a maioria)
dos bens que consomem como normais, pois alterações pequenas na renda conduzirão a aumen-
tos proporcionais do consumo desses bens. Mas, se a renda se elevar de forma mais significativa,
alguns desses bens vão deixando de ser normais e passando a ser inferiores, conforme as prefe-
rências desse consumidor.

SAIBA MAIS!
O comportamento da demanda dos agentes no mercado de bens em relação à
variação do nível de renda é medido pela curva de Engel, em homenagem a Ernest
Engel (1821-1896).
Para saber mais sobre o tema, consulte os dois primeiros tópicos do artigo, em
espanhol, de Rodrigo Arancibia.
Disponível em: <http://ri.conicet.gov.ar/bitstream/handle/11336/6510/CONICET_
Digital_Nro.8720_A.pdf?sequence=2&isAllowed=y>.

– 68 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• estudar o comportamento do consumidor e seu perfil de demanda no mercado de bens


em função do tipo de bens e da sua renda individual;
•• verificar que a demanda do consumidor entre bens de diversas naturezas é influenciada
pelo grau de substituição destes bens entre si, através do conceito de bens substitutos,
complementares e independentes;
•• aprender que a renda do consumidor exerce influência sobre a demanda pela quanti-
dade de bens demandados de forma mais ou menos proporcional, a partir dos conceitos
de bens inferiores e bens normais.

Referências
ARANCIBIA, Rodrigo García. Sobre las Curvas de Engel. Una breve revisión de suevolución histó-
rica. In: Ensayos de Economia. n. 42, jan-jun 2013. Disponível em: <http://ri.conicet.gov.ar/bits-
tream/handle/11336/6510/CONICET_Digital_Nro.8720_A.pdf?sequence=2&isAllowed=y>. Acesso
em: 15 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

VARIAN, Hal R. Microeconomia – uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

– 69 –
TEMA 10
O conceito de elasticidade
e externalidades
José Tadeu de Almeida

Introdução
Você estudará agora o comportamento da demanda em relação a mudanças dos preços no
mercado, através do conceito de elasticidade. Verificará, ainda, que há diversos momentos em
que o comportamento do consumidor imita o comportamento dos demais na escolha de seus
produtos; este ponto resume o conceito de externalidades de difusão.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender o conceito de elasticidade-preço da demanda;


•• compreender o conceito das externalidades de difusão.

1 Conceituação
Você, enquanto consumidor, sabe que certos produtos são influenciados pelos preços e
também pela sua renda, quando você toma decisões de compra. No entanto, há bens que você
demanda mais ou menos em relação às mudanças de preço. Você poderia citar alguns?
O pão francês é um exemplo, se ele estiver em sua cesta de mercado. Se você percebe que
ele aumentou de preço, você pode até comprar um pouco menos, mas, talvez, não vá deixar intei-
ramente de comê-lo. Por outro lado, se o seu plano de internet por fibra óptica sofrer um aumento
de preços, você terá mais facilidade em escolher um plano mais barato.
Estes exemplos mostram o conceito de elasticidade-preço da demanda. Em linhas gerais, a
elasticidade mede o quanto uma variável é capaz de afetar outra variável.

SAIBA MAIS!
Como estamos tratando da escolha do consumidor, daremos foco à elasticidade-
preço da demanda. Porém, a elasticidade-preço da oferta existe e mede o quão
dispostos os produtores estão para colocarem seus produtos no mercado mediante
variações no nível de preços.

– 70 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

2 Demanda elástica
A elasticidade-preço da demanda é uma função do nível de preços. Assim, um produto
terá uma demanda elástica quando a variação nas quantidades consumidas reage mais forte-
mente do que a variação percentual do nível de preços, ou seja, a magnitude de Ɛ será maior
que 1. Quanto mais a magnitude de Ɛ for superior a 1, mais elástica será a demanda (PINDYCK;
RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Bens ou serviços que possuem vários substitutos no mercado tendem a ser mais
elásticos, isto é, um aumento de seu preço de R$ 1,00 provocará uma redução de
sua quantidade demandada de mais do que 1. O aumento de R$ 1,00 no preço do
refrigerante X provocará uma queda em sua demanda de mais de 1 unidade, pois
o consumidor substituirá o refrigerante X pelo refrigerante Y, W, Z etc. Então a de-
manda pelo refrigerante X é elástica. Bens ou serviços que são supérfluos também
tendem a ser elásticos. Já que não são essenciais, como os eletrodomésticos, por
exemplo, o aumento de seu preço tende a fazer com que sua demanda caia de mais
do que 1 unidade.

3 Demanda inelástica
Você poderá afirmar que a demanda de um produto é inelástica quando a variação percen-
tual das quantidades consumidas deste produto não se alteram na mesma proporção da variação
percentual do nível de preços no mercado (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Ao contrário dos bens que vimos no exemplo anterior, bens únicos ou essenciais
tendem a ser inelásticos. Imagine um remédio que acaba de ser lançado no mer-
cado e que é, então, único e essencial no tratamento de uma doença. Se seu preço
se eleva de R$ 1,00 a quantidade demandada se reduzirá (alguém não terá dinheiro
para comprá-lo e morrerá), mas se reduzirá de menos de 1 unidade, pois a maioria
continuará comprando-o. Logo, ele é inelástico.

4 Exemplos e consequências
Vamos utilizar exemplos de aplicação do conceito de elasticidade que aproximam-se muito
de nossa realidade enquanto consumidores.

– 71 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Observe o mercado de sal de cozinha. Caso seu preço seja alterado para cima ou para baixo,
as pessoas não deverão deixar de salgar seu feijão ou de estocar sal, respectivamente. Sendo
assim, podemos afirmar que trata-se de um bem de demanda fortemente inelástica.

SAIBA MAIS!
Há uma série de conceitos matemáticos importantes, como limites e derivadas,
necessários para o cálculo das elasticidades. Você poderá encontrá-los na
monografia de José Lásaro Cotta (UFMG). Disponível em: <http://www.mat.ufmg.
br/~espec/monografiasPdf/Monografia_JLazaro.pdf>.

Façamos, agora, uma comparação entre dois bens: refrigerantes e arroz. Caso haja uma
redução da renda do consumidor ou uma alta geral de preços, a tendência dos consumidores será
tentar manter quanto possível o consumo de arroz, reduzindo o consumo de refrigerantes. Con-
sequentemente, será possível afirmar que a demanda por refrigerantes será mais elástica que a
demanda por arroz (ROSSETTI, 2016).

Figura 1 – Sal: produto de demanda inelástica

Fonte: Handmadepictures / Shutterstock.com

Perceba que os bens chamados “supérfluos” têm uma elasticidade maior que os bens essen-
ciais: refrigerantes não são tão necessários (geralmente) à sobrevivência humana como o arroz,
por exemplo. Da mesma forma, bens que possuem muitos substitutos possíveis tendem a possuir
uma elasticidade maior: se o leite de soja natural aumentar de preço, o consumidor pode optar
pelos preparados à base de leite de soja.

– 72 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
A elasticidade, inclusive, varia ao longo do tempo. Veja que, no passado, os car-
ros eram todos movidos a gasolina, então, sua demanda era inelástica ao preço.
Hoje, com outras opções de combustíveis, a demanda por gasolina passa a ser
mais elástica do que antes.

5 Externalidades de difusão: cumulativa e de


diferenciação de consumo
Até o momento, consideramos que não havia diferenças na preferência dos consumidores e
que eles apenas reagiam aos preços. Assim, você viu que a curva de demanda de mercado era o
somatório das demandas individuais.
Há situações, porém, que não dependem apenas dos preços, das preferências do consumi-
dor e da renda para a determinação da demanda, mas, sim, das demandas dos outros consu-
midores naquele mesmo mercado. A possibilidade da demanda de alguns consumidores de um
produto poder ser estimulada (ou desestimulada) pela demanda de outros é definida pelo conceito
de externalidade de difusão.
Quando há um aumento da quantidade demandada por um consumidor em função do
aumento da demanda dos outros consumidores, diz-se que há uma externalidade de difusão posi-
tiva. Quando a demanda cai, trata-se de uma externalidade negativa (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Tratemos, primeiramente, de um caso de externalidade positiva, no chamado efeito cumula-
tivo de consumo. Observe agora o gráfico:

Figura 2 – Externalidade de difusão por efeito cumulativo de consumo

Preço
D10 D20 D30 D40 D50

30

20

10 20 24 30 40 50 Quantidade

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

– 73 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Suponha que este gráfico “Externalidade de difusão por efeito cumulativo de consumo” trate
de uma aldeia de 100 pessoas e que está demandando perus de natal. Se apenas dez pessoas
comprarem perus, não há incentivo dos outros consumidores para fazer o mesmo, pois, aparen-
temente, não são muitas pessoas que querem tê-lo. Porém, se 20 pessoas o comprarem, já será
mais atraente, assim como 30 pessoas e assim por diante. Os habitantes querem “estar na moda”,
querem aliar suas escolhas às dos outros agentes, mesmo que suas preferências não sejam pelo
peru de natal. Claro, trata-se de um exemplo teórico, no qual dívidas não contam, mas, no mundo
real, o desejo de “estar na moda” faz com que as pessoas possam até endividar-se para adquirir o
bem que demandam.

Figura 3 – Moda e tendências

Fonte: g-stockstudio / Shutterstock.com

Assim, a demanda tenderá a aumentar em proporção maior do que apenas em reação ao


nível de preços – acurva de demanda do mercado ligará os pontos entre as curvas que corres-
pondem às quantidades demandadas pelos agentes nas curvas D10, D20, D30, D40 e D50, no
nosso exemplo.
Verifique que, ao preço de R$ 30, apenas 20 pessoas comprariam perus. E se o preço do
peru cai para R$ 20, a tendência natural, considerando-se as preferências individuais, seria que a
demanda aumentasse para 24 unidades – este seria o efeito da variação de preços ao longo da
curva D20. Porém, pela curva de demanda do mercado, a quantidade demandada salta para 40.
Esta diferença de 16 unidades vendidas corresponde ao efeito cumulativo de consumo (PINDYCK;
RUBINFELD, 2013). Lembre-se, ainda, de que os esforços de propaganda têm o objetivo de gerar
esse tipo de externalidade.

– 74 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
O efeito cumulativo de consumo se manifesta também na indústria à medida que
um produto vai sendo cada vez mais difundido entre seus consumidores: se, por
exemplo, um aparelho celular estiver sendo progressivamente mais absorvido pelo
mercado, mais serviços como softwares e acessórios serão lançados para com-
plementá-lo, melhorando a utilidade desse produto e elevando ainda mais as suas
vendas, como uma externalidade positiva.

Agora, você analisará um caso diferente, de externalidade de difusão negativa no chamado


efeito de diferenciação de consumo. Veja o gráfico a seguir:

Figura 4 – Externalidade de difusão por diferenciação de consumo


Preço ($ mil)

Demanda
200

100 D4

D8

D12

D16
10 20 30 40 70 Quantidade

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Sobre o gráfico “Externalidade de difusão por diferenciação de consumo”, imagine o mer-


cado de carros superesportivos dentro da mesma aldeia. Como trata-se de um bem exclusivo,
caro e diferenciado, a demanda por ele é mais limitada. Ao contrário da externalidade positiva, os
consumidores querem esse bem se ninguém mais o possui. Se quatro aldeões têm condições de
comprar um carro desses, a sua curva de demanda estaria descrita por D4. Se, porém, oito mora-
dores podem comprá-lo, esses carros já não são tão exclusivos e o seu valor de diferenciação
de consumo estaria coincidindo com a curva D8, e assim por diante até a curva D20. A curva de
demanda de mercado terá uma inclinação mais intensa, demonstrando que o produto tem menor
elasticidade (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Mais que isso, caso haja uma redução no preço dos carros, de $200.000 para $100.000, seria
possível que os quatro aldeões adquirissem até 70 unidades. Porém, considerando a dinâmica do
mercado, o fato do bem ter perdido seu caráter de exclusivo faz com que as vendas sejam meno-
res que o previsto, de apenas 30 unidades. Esta diferença de 40 unidades corresponderá ao efeito
de diferenciação de consumo.

– 75 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
Muitas empresas fixam suas políticas de marketing no sentido de criar um conceito
de exclusividade em seus produtos, disponíveis apenas para uma parcela muito
pequena da população (como carros superesportivos, joias, iates e outros) para
poderem fixar seus preços em nível muito acima do mercado e evitarem, caso o
consumo possa aumentar, a externalidade negativa citada.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• entender que a elasticidade-preço da demanda é definida pela razão entre a variação


da quantidade consumida de um produto e a alteração em seu nível de preços;
•• aprender que os bens são mais ou menos elásticos à medida que uma mudança de
preços influi, de forma mais ou menos proporcional, respectivamente, no comporta-
mento das escolhas dos consumidores e, consequentemente, na demanda do produto;
•• compreender que nem sempre as escolhas de demanda são totalmente individuais;
quando os agentes tendem a acompanhar o comportamento dos demais consumi-
dores, a mudança no perfil da demanda, positiva ou negativa, então verificada, cor-
responde à existência de externalidades de difusão na demanda de um bem em seu
respectivo mercado.

Referências
COTTA, José Lásaro. Elasticidade-demanda e preço. Monografia (Especialização em Matemática
para Professores) – Belo Horizonte: UFMG, 2005.24p. Disponível em: <http://www.mat.ufmg.
br/~espec/monografiasPdf/Monografia_JLazaro.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

– 76 –
TEMA 11
A função de produção
José Tadeu de Almeida

Introdução
Você analisará nesta aula a Teoria da Produção. Através dela, verificará como as decisões de
produzir são efetuadas. Você verá também a função de produção, ou seja, o estudo das posições
e combinações de insumos que permitem à firma realizar a sua atividade de transformação.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• conceituar as isoquantas e suas propriedades para representar o mapa da produção;


•• entender o conceito e a representação da função de produção de curto e longo prazos.

1 Isoquantas e mapa de isoquantas


Antes de conhecer as isoquantas, você precisa verificar alguns pontos igualmente importan-
tes na Teoria da Produção.
A produção, em linhas gerais, é a atividade de utilizar meios que permitem a transformação
de um bem, ou de vários, em um novo produto. Deste modo, a manufatura de um produto pode
ser entendida como produção, assim como outras atividades paralelas a ela, como estocagem e
transporte, por exemplo.
Por sua vez, para que a produção seja levada a cabo, é necessário que certos recursos sejam
empregados e transformem-se em um bem final. Na Teoria da Produção, esses recursos recebem
o nome de insumos ou fatores de produção.
Basicamente, os insumos são elementos necessários para a atividade de transformação,
como matérias-primas, bens intermediários (o aço, já manufaturado, mas necessário à produção
dos automóveis, por exemplo), além de capital, tecnologia e trabalho (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Quando pensar em capital, a primeira associação que você deverá fazer é com o dinheiro.
Porém, o capital também pode ser expresso pelo capital real, que é formado por bens (bens de
capital) que destinam-se a produzir outros bens, como máquinas, fornos, estufas e semelhantes.
É preciso considerar, inclusive, o papel da tecnologia para o desenvolvimento da produção.
Certo padrão tecnológico, que podemos definir como um conjunto de conhecimentos específicos
a respeito da forma de se produzir bens, faz com que as empresas sejam mais ou menos eficien-
tes na produção destes bens.

– 77 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
Joseph Schumpeter (1883-1950) enfatizou o papel da tecnologia no desenvolvimento
das empresas e do próprio capitalismo. Em seu conceito de destruição criativa,
Schumpeter afirmava que as empresas que não procurassem um comportamento
inovador estariam fadadas ao fracasso.
Para saber mais acerca das considerações sobre a teoria Schumpeteriana, consulte
o capítulo cinco da tese da professora Ana Lúcia Gonçalves da Silva (UNICAMP).
Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=00095
2327&opt=4>

O trabalho pode ser compreendido como a aplicação de recursos humanos, fornecidos pelos
trabalhadores. Sabendo, portanto, que a produção é formada, principalmente, pela aplicação de
insumos a partir dos padrões tecnológicos existentes, você pode avaliar as possibilidades de pro-
dução, expressas pela função de produção. Ela é sugerida pela equação:

Q = f (K, L)

Esta equação demonstra que a quantidade de bens produzidos Q é função direta de determi-
nadas quantias de capital (K) e trabalho (L), de forma mais ou menos intensiva em cada uma delas
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013). Vale lembrar que, para que haja produção, é necessário o uso de
quatro fatores de produção, quais sejam, terra (recursos naturais), trabalho, capital e tecnologia.
Por simplificação, porém, utilizamos aqui apenas os insumos capital e trabalho para análise, man-
tendo constantes os demais.

EXEMPLO
Certos bens podem ter maior intensidade de insumos em razão de suas caracte-
rísticas mais específicas. A fabricação artesanal de objetos de madeira demanda
quantidades maiores de mão de obra, mediante um aporte menor de capital. Por
sua vez, uma produção totalmente robotizada é intensiva em capital frente ao uso
do insumo trabalho.

Vamos nos posicionar, em uma primeira situação, na produção de um bem que utilize dois
insumos, capital e trabalho. Observe a tabela a seguir.

Tabela 1 – Produção de um bem mediante emprego de capital e trabalho


Trabalho (L)
Capital (K)
2 4 6 8 10
2 40 80 110 130 150
4 80 120 150 170 180
6 110 150 180 200 210
8 130 170 200 220 230
10 150 180 210 230 240

Fonte: adaptada de PINDYCK e RUBINFELD, 2013.

– 78 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Nesta tabela, você pode verificar que cada valor na parte interna da tabela representa a maior
produção que pode ser realizada com cada uma das combinações de trabalho e capital ao longo
de certo tempo. Observe, por exemplo, que duas unidades de capital e de trabalho, cada, são capa-
zes de produzir 40 unidades desse produto final.
Em uma análise de linhas e colunas, veja que as quantidades produzidas aumentam à medida
que se aplica maior quantidade de trabalho, mantendo-se fixo o volume de capital e vice-versa. Há,
assim, uma correlação entre o uso de capital e trabalho na produção. Esta correlação pode ser
analisada graficamente por meio das isoquantas.
Uma isoquanta representa, por meio de uma curva em um gráfico de insumos, as possíveis
combinações destes insumos que resultarão em um mesmo volume de produção.
A partir deste conceito, observe o gráfico a seguir:

Figura 1 – Isoquanta
K

10

6
A
4

2 B Q1 = 110

2 4 6 8 10 L
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

A partir do gráfico “Isoquanta”, observe que a curva Q1 corresponde a uma isoquanta de com-
binação de insumos variáveis (capital e trabalho) necessários para a obtenção de certa quantidade
de produto. No caso, a isoquanta Q1 mostra as combinações que resultarão na produção de 110
unidades desse bem final (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Verifique que a capacidade de uma firma modificar as escolhas entre insumos ao longo de
uma isoquanta varia ao longo da curva. Há pontos em que somente haverá produção com apli-
cações maciças de um insumo perante um aumento marginal de outro. Esta intensidade de uso
define as formas pelas quais a empresa atinge a produção de um bem através do emprego de seus
fatores de produção, com maior ou menor participação.
Para que haja produção de 110 unidades de um bem, se a linha de produção, por exem-
plo, for intensiva em mão de obra, poderão ser necessárias oito unidades de trabalho para pouco
menos de duas unidades de capital. Se a firma, porém, é mais intensiva no uso de capital, com
apenas duas unidades de mão de obra e seis de capital, a produção de 110 unidades do bem está
assegurada.

– 79 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!

Dentro de uma isoquanta há infinitas combinações entre insumos que geram o


mesmo volume de bens produzidos.

Nos pontos A e B, veja que as combinações de insumos resultarão na produção das unida-
des desejadas, bem como ao longo de toda essa curva (verifique a tabela “Produção de um bem
mediante emprego de capital e trabalho”). Assim, é possível analisar em um mesmo espaço gráfico
as possíveis combinações de insumos que geram diferentes isoquantas, formando-se, assim, um
mapa de isoquantas.
Figura 2 – Mapa de isoquantas
K

C
10

6 D
A G
4
E F Q3 = 180
Q2 = 150
2 B Q1 = 110

2 4 6 8 10 L

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Este gráfico mostra as combinações de insumos produção que geram determinadas quanti-
dades de um produto final (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
As isoquantas têm algumas propriedades. Elas não se cruzam em nenhum nível de produção
– cada volume de bens produzidos corresponde a uma única aplicação de insumos. Da mesma
forma, as curvas tendem ao infinito em torno de ambos os eixos: é impossível usar apenas um fator
de produção para a fabricação de um bem. Pode-se usar mais quantidades de um fator e menos de
outro, conforme a noção da intensidade de uso dos insumos, porém a produção não ocorrerá com
o emprego de apenas um fator. Logo, a aplicação dos insumos nunca será igual a zero.
Se você considerar, por exemplo, que a necessidade de produção mensal ideal da empresa é
de 150 unidades de um produto, as combinações ideais dos insumos (sublinhados na tabela “Pro-
dução de um bem mediante emprego de capital e trabalho”) formam a isoquanta Q2, que passa
pelos pontos C, D, E e F. Se a quantidade ideal subir para 180 unidades, veja que a isoquanta Q3,
que passa pelo ponto G, representaria as combinações ideais.

– 80 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
Você, seguramente, percebeu que vários dos conceitos abordados são próximos
aos pressupostos da Teoria do Consumidor, que investiga o comportamento e as
ações dos consumidores em um mercado de bens, a partir de suas preferências de
compra e do bem-estar que eles obtêm mediante a aquisição de algum produto. A
orientação das isoquantas, por exemplo, é muito semelhante às curvas de indife-
rença.

Figura 3 – Comportamento e ações do consumidor

Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock.com

Você verificou, portanto, que a aplicação dos insumos em uma firma constitui-se em uma das
importantes variáveis que determina o processo de produção de uma mercadoria.

2 Funções de produção de curto e longo prazo


Em circunstâncias normais, nem sempre a intensidade de uso dos insumos se altera con-
forme as especificidades da produção a qualquer tempo. Por esta razão, a Teoria da Produção
realiza uma diferenciação das funções de produção.
Como regra geral, considera-se que o capital é um insumo necessário à atividade produ-
tiva. Porém, alterar quantidades de capital é um processo que demanda algum tempo, necessário
para a construção de novas fábricas e maquinário, contratação e treinamento de profissionais, por
exemplo.
Portanto, em curto prazo, pode-se variar a quantidade de trabalho para a produção, mas não
a de capital – considera-se que, em curto prazo, a quantidade de capital é fixa em uma função de
produção:
Q = f ( K, L)

– 81 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
Padrões de tecnologia também passam por transformações ao longo do tempo. Um
exemplo pode ser citado com base na Lei de Moore. Gordon Moore (1929) afirmou,
em 1965, que a capacidade de processamento dos computadores dobraria a cada
18 meses, mantendo-se o custo atual. Até o presente momento, esta observação
tem se mantido significativamente correta.

As funções de produção de curto prazo são aquelas em que uma das variáveis é fixa. Para
empresas de transformação, por exemplo, o capital é fixo e o trabalho é variável. Para um artesão,
por sua vez, o trabalho é fixo e o capital é variável. Já em longo prazo, as funções de produção
demonstram que os insumos poderão ser ambos variáveis (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIQUE ATENTO!
Há situações, ainda, em que ambos os fatores de produção podem ser constantes.
Considere o caso de um indivíduo que viva sozinho em uma ilha e disponha apenas
de alguns recursos que conseguiu salvar em um naufrágio. Neste caso, capital e
trabalho são constantes.

Os conceitos de curto prazo e longo prazo também não são fixos, pois dependem de uma
série de fatores que são próprios de cada atividade e mesmo de cada empresa, como o seu padrão
tecnológico, por exemplo.

EXEMPLO
Usando a referência do exemplo anterior, uma firma composta de um artesão em
madeira terá um salto de capital na aquisição de um formão; porém, sua capacida-
de de trabalho está limitada à sua capacidade física e ao tempo. Já em uma fábrica
de computadores, o desenvolvimento de um novo robô pode demandar meses ou
alguns anos, de modo que a substituição ou adição de capital é um processo de
longo prazo.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• ver que a combinação de insumos determina a função de produção de uma firma;


•• perceber que as isoquantas medem todas as combinações de insumos que geram a
mesma produção e que diferentes isoquantas, em uma mesma firma, geram quantida-
des de produto diferentes, conforme o mapa de isoquantas;

– 82 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

•• entender que a quantidade de insumos pode variar ao longo do tempo, mas em graus
diferentes, em curto e longo prazos. Uma função de produção de curto prazo é aquela
em que uma de suas variáveis é fixa. Em longo prazo, ambas as variáveis, que expressam
quantidades de insumos necessários à produção de um bem, poderão ser alteradas.

Referências
SILVA, Ana Lúcia Gonçalves. Concorrência sob condições oligopolísticas: contribuição das aná-
lises centradas no grau de atomização/concentração dos mercados. Tese (Doutorado em Eco-
nomia) – Campinas: IE/UNICAMP, 2003. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/
document/?code=000952327&opt=4>. Acesso em: 16 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

– 83 –
TEMA 12
A noção de rendimentos de escala
José Tadeu de Almeida

Introdução
Caro aluno, você analisará agora o conceito de rendimentos de escala, ou seja, a correlação
existente entre o aumento da produção (decorrente da aplicação de insumos) e o aumento de seus
custos, de forma mais ou menos correspondente. Veja que essa discussão está diretamente rela-
cionada à Teoria da Produção, no que diz respeito à escala da produção e à relação entre produção
e consumo.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender a teoria da produção no que diz respeito à escala da produção;


•• identificar os três tipos de rendimentos de escala: crescentes, constantes e decrescentes.

1 Rendimentos de escala: crescentes, constantes e


decrescentes
Antes de efetuarmos uma explicação mais específica a respeito do conceito de rendimentos
de escala, vamos retomar alguns elementos associados à produção e suas relações com os seus
custos e resultados em um mercado de bens.
Normalmente, há uma diferença entre as funções de produção em curto e em longo prazo. Se
você considerar, por exemplo, que uma empresa emprega insumos como capital e trabalho, verá
que a tendência da função de curto prazo será que um dos seus insumos – geralmente, o capital,
mas em algumas situações também o trabalho – permaneça constante, dada a dificuldade de
substituição desse recurso em um curto período de tempo (os investimentos são altos e os bens de
capital, normalmente, têm um prazo para serem usados, não sendo substituídos em curto prazo).

SAIBA MAIS!

Bens de capital são sujeitos a depreciação, ou seja, podem ter desgaste e perda de
valor pelo seu uso contínuo no tempo e pela mudança do padrão tecnológico.

– 84 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Uma função de longo prazo, por sua vez, demonstra flexibilidade em todas as variáveis.
No longo prazo, portanto, veja que as quantidades finais de bens produzidos podem variar em
função de diferentes aplicações de insumos à produção.

FIQUE ATENTO!
O trabalho pode ser um fator de produção fixo em curto prazo: se a firma é formada
por um único artesão, ele não tem como ampliar o seu turno de trabalho para além
de 24 horas por dia.

Uma firma, portanto, que pretenda ampliar o volume da sua produção, deverá avaliar qual a
melhor forma de fazê-lo, seja aplicando mais quantidades de um insumo, ou mesmo de ambos
(investindo, por exemplo, em bens de capital). Como no longo prazo ambas as variáveis podem
mudar, uma possível decisão da firma para aumentar a sua produção poderá incluir um aumento
de ambas as variáveis. Quando aumentamos ambos os insumos visando um aumento da produ-
ção, estamos falando em um aumento na escala da produção (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Quando variamos as quantidades de ambos os insumos de uma função de produção e as
aplicamos no processo produtivo, podemos pressupor que o produto final também apresentará
uma variação, positiva ou negativa, a partir das decisões da firma.

FIQUE ATENTO!
Na maior parte das vezes, uma firma deseja aumentar a sua produção. Logo, sem-
pre que tratamos da variação de fatores de produção, estaremos discutindo uma
variação positiva, salvo quando explicitamente mencionado o contrário.

Neste sentido, podemos afirmar que há rendimentos de escala quando o bem final pro-
duzido pela firma varia proporcionalmente à variação da aplicação de fatores de produção e
insumos ao processo produtivo. Para esta aula, discutiremos três exemplos de rendimentos de
escala. Considere, a princípio, a equação a seguir relacionada à função de produção, tendo Q como
quantidade produzida, K como capital e L como trabalho:

Q = f (K,L)

Quando uma empresa toma a decisão de alterar a escala de produção dos bens que ela
fabrica, haverá uma relação entre o produto final e a aplicação dos insumos, que pode ser descrita
algebricamente a partir desta outra equação:

a * Q = f (b * K,b * L)

– 85 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Para esta equação, pode-se afirmar que:


•• quando a > b, você verá que os rendimentos de escala serão crescentes;
•• quando a = b, os rendimentos de escala serão constantes;
•• quando a < b, você observará que os rendimentos de escala serão decrescentes
(VARIAN, 2015).

FIQUE ATENTO!
Como você pode notar, as variáveis a e b que mencionamos não precisam ser
iguais. Basta que haja uma correlação mais (ou menos) proporcional entre elas de
acordo com o perfil dos rendimentos de escala da produção.

Considera-se que os rendimentos de escala são crescentes quando a variação do produto


final é mais que proporcional ao aumento do uso de insumos e demais fatores de produção, como,
por exemplo, se forem produzidos mais que o dobro de bens quando se dobra o uso de insumos à
produção (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Observe, como exemplo de aplicação, a tabela que segue:

Tabela 1 – Rendimentos crescentes de escala

Capital Trabalho Produto


10 10 1000
15 15 2000
20 20 3000

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

EXEMPLO
O conceito de rendimentos crescentes de escala é muito presente, ainda, nos estu-
dos dedicados à concentração industrial. Por utilizarem maquinário pesado, terem
departamentos de pesquisa e desenvolvimento e funcionários com alto grau de es-
pecialização, empresas com alta participação no mercado geralmente conseguem
obter rendimentos crescentes de escala mediante o uso de seus fatores de produção.

– 86 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 1 – Indústria de produtos têxteis

Fonte: zhengzaishuru/Shutterstock.com

Veja que rendimentos de escala constantes, por sua vez, são observados quando o volume
final de produto obtido com a aplicação de novos recursos à produção reage de maneira igual-
mente proporcional à variação desses insumos. Se, por exemplo, a relação entre unidades de um
bem e seus insumos é de 15 para 1, caso a quantidade de insumos passe para 2, serão produzidas
30 unidades desse bem. Caso aumente-se a quantidade para 3, serão produzidas 45 unidades, e
assim por diante. Observe a tabela:

Tabela 2 – Rendimentos constantes de escala


Capital Trabalho Produto
10 10 1000
15 15 1500
20 20 2000

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

SAIBA MAIS!
Para conhecer diferentes exemplos de aplicação do conceito de rendimentos de
escala na indústria brasileira, em diferentes setores, consulte o artigo de João
Alberto de Negri, “A influência da eficiência de escala e dos rendimentos crescentes
de escala no desempenho exportador das firmas industriais no Brasil”, disponível
em <http://www.anpec.org.br/encontro2003/artigos/C22.pdf>.

– 87 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Saiba que os rendimentos constantes de escala são mais fáceis de visualizar em pequenas
indústrias e empresas de serviços cuja intensidade de uso, em termos de bens de capital, é razoa-
velmente limitada. Por exemplo, imagine uma confecção que emprega duas costureiras em duas
máquinas de costura; ela terá sua produção dobrada apenas mediante a contratação de duas
novas profissionais e a compra de duas novas máquinas.
Por fim, você pode observar rendimentos decrescentes de escala quando a quantidade final
produzida varia menos que proporcionalmente à aplicação de mais insumos ao processo produ-
tivo, ou seja, trata-se de uma redução de produtividade. Observe a próxima tabela.

Tabela 3 – Rendimentos decrescentes de escala


Capital Trabalho Produto
10 10 1000
15 15 1400
20 20 1750
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Rendimentos decrescentes podem ocorrer a partir de uma série de situações, como dificul-
dades de gerenciamento de insumos, entraves burocráticos, falhas de logística, entre outros (PIN-
DYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Suponha que uma granja trabalhe com a produção mensal de 10.000 perus desti-
nados a um frigorífico. Você sabe que, quando o natal se aproxima, a demanda por
perus aumenta drasticamente. A granja passa, assim, a colocar mais filhotes dentro
do mesmo espaço e aumenta as horas de trabalho dos funcionários para dar conta
dos pedidos. O confinamento das aves leva a conflitos de espaço entre elas, que
se bicam, machucam e mutilam-se, afetando a qualidade do produto final. Por sua
vez, os trabalhadores também não conseguem manter o ritmo de produção com o
aumento das horas de trabalho e começam a ter problemas de saúde. A contrata-
ção de novos trabalhadores não-especializados também não traz grande efeito, de
modo que, mesmo dobrando a quantidade de insumos, a produção final de perus
em bom estado para o natal foi de apenas 66,3%.

– 88 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• verificar que uma firma elabora decisões de produção a partir da alocação de insumos
(como o capital e trabalho, neste caso, em longo prazo);
•• aprender que, através da observação das quantidades obtidas de produto final e do
emprego de fatores de produção, você pode analisar se a firma é eficiente do ponto
de vista da escala de produção, ou seja, se a aplicação de recursos gera uma variação
proporcional da quantidade produzida;
•• compreender que as empresas podem ter rendimentos crescentes, constantes ou
decrescentes de escala.

Referências
DE NEGRI, João Alberto. A influência da eficiência de escala e dos rendimentos crescentes de
escala no desempenho exportador das firmas industriais no Brasil. In: XXXI Encontro Nacional de
Economia. Anais... Porto Seguro, 2003. Disponível em: <http://www.anpec.org.br/encontro2003/
artigos/C22.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

VARIAN, Hal Ronald. Microeconomia – uma abordagem moderna.9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2015.

– 89 –
TEMA 13
O processo produtivo no curto prazo
José Tadeu de Almeida

Introdução
Sobre a Teoria da Produção, nesta aula, enfatizaremos o comportamento da empresa em rela-
ção à produção no curto prazo, ou seja, quando uma das variáveis da função de produção (como o
capital) é constante. Você verificará que a empresa baseia suas decisões de aumentar a produção
considerando os benefícios que ela poderá obter em termos de melhoria da produtividade e da média
de produtos fabricados a partir de um único montante de capital. Em outras palavras, a empresa
procura, diante de um fator constante, encontrar o nível de produto que maximiza o uso desse fator.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender a lei dos rendimentos decrescentes;


•• conceituar produto médio e produto marginal.

1 Lei dos rendimentos decrescentes


Você verá, no decorrer desta aula, que a produção adicional de bens com a adição de insu-
mos necessários à atividade produtiva, como a força de trabalho, pode diminuir. Veja, agora, uma
expressão mais ampla desse conceito.
A lei dos rendimentos decrescentes nos mostra que o produto adicional de um insumo apli-
cado na produção se reduzirá progressivamente quanto mais unidades deste insumo forem
agregadas ao processo de produção (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Suponha, como exemplo, que quatro homens produzam artesanalmente 200 canetas ao dia.
A contratação de mais um funcionário eleva a produção diária a 220 canetas. Ou seja, aumentou-
-se mais uma unidade de trabalho, mas o aumento da produção foi proporcionalmente menor.

SAIBA MAIS!
Um dos pensadores que dedicou-se intensamente ao conceito de rendimentos
decrescentes foi Anne-Robert-Jacques Turgot (1727-81). Analisando a situação da
agricultura francesa, Turgot afirmava que melhorias no plantio (como o preparo da
terra) geravam retornos crescentes na produção, até o ponto em que o excesso de
trabalho afeta a qualidade do solo.
Você pode obter mais referências sobre esses conceitos em: <http://www.
nalijsouza.web.br.com/introd_hpe.pdf>.

– 90 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Portanto, a produção de um bem final poderá aumentar até um determinado patamar (como
você verá a seguir) e o produto adicional também poderá aumentar. No entanto, a partir de um
certo limite, o produto adicional tende a reduzir-se dadas as limitações de uso dos próprios insu-
mos, como os bens de capital em curto prazo.

FIQUE ATENTO!
Na lei dos rendimentos decrescentes, repare que não estamos estudando a qualida-
de dos insumos, como se a mão de obra é mais ou menos qualificada, por exemplo,
mas sim a possibilidade de sua aplicação na produção da firma.

Como estamos considerando o curto prazo, suponha que não haja variações tecnológicas
que permitam um aumento da produção dado um certo volume de insumos.

EXEMPLO
Um produtor de facas artesanais que trabalha com certo número de bens de capital
(forja, furadeira, polidoras, esmeril) tem sua capacidade produtiva baseada em ho-
ras de trabalho. Se ele empregar um ajudante, haverá um incremento na produção
de facas, talvez superior ao dobro, pois esse ajudante se concentrará em tarefas
menores. Porém, à medida que vão sendo admitidos mais ajudantes, a divisão de
tarefas será prejudicada, e a produção idem, até que praticamente não haverá o que
fazer com tantos auxiliares e a produção poderá diminuir.

Porém, ainda que o padrão da tecnologia permita que haja um aumento da produção com um
emprego menos que proporcional de unidades de trabalho (ou seja, que o produto adicional seja
crescente), não é de todo possível prever que esta situação favorável se manterá em longo prazo
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Suponha que uma nova espécie de eucalipto, geneticamente modificada para cres-
cer três vezes mais rápido, aumentou drasticamente a produção de papel – seu pro-
duto adicional está em uma posição crescente. Porém, em longo prazo, a terra pode
exaurir-se da produção de eucalipto e, mesmo com a aplicação de mais trabalho, o
retorno já não será proporcional.

– 91 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

2 Produto médio
Uma firma que possui uma função de produção de curto prazo baseada em dois insumos, a
saber, capital e trabalho, normalmente possui o volume de capital constante. Isto se dá, por exem-
plo, por dificuldades de substituição técnica (o que inclui a implementação de novos maquinários
e investimentos em pesquisa, por exemplo). Já em longo prazo, saiba que ambos os fatores de
produção podem variar.

FIQUE ATENTO!
A substituição técnica é um fator importante na análise da produção das empresas.
Cada uma delas possui um determinado volume de capital empregado em bens de
capital, que se dedicam à produção de outros bens, e sua substituição ocorre ape-
nas quando há uma depreciação significativa dos bens de capital, seja por desgaste
de maquinário ou por sua tecnologia por vezes tornar-se obsoleta.

Figura 1 – Linha de produção automobilística

Fonte: Wladimir salman/Shutterstock.com

FIQUE ATENTO!
Nesta aula, considere os conceitos de curto e longo prazos apenas como unidades de
referência, específicas a cada empresa. Não é possível ponderar um espaço cronológi-
co que permita uma definição geral a respeito, por exemplo, da noção de “longo prazo”.

Sendo assim, uma empresa que necessite alterar o seu volume de produção deverá ajustar
as quantidades do insumo flexível, no nosso caso, a quantidade de trabalho. Suponha que uma
empresa opere seus insumos de acordo com a seguinte tabela:

– 92 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Tabela 1 – Produção com um insumo variável

Trabalho (L) Capital (K) Produto (Q) Produto Médio

0 10 0 0

1 10 50 50

2 10 150 75

3 10 300 100

4 10 400 100

5 10 475 95

6 10 540 90

7 10 560 80

8 10 560 70

9 10 540 60

10 10 500 50

Fonte: adaptada de PINDYCK; RUBINFELD, 2013.

Observe na primeira coluna as quantidades de trabalho L que podem ser aplicadas na produção
por esta firma perante um dado volume de capital K, constante a curto prazo, que gera determinadas
quantidades de um produto final expresso por Q.
Você pode notar, por exemplo, que a agregação de uma unidade de trabalho gera 50 unidades
do produto Q. Duas unidades de L geram 150 unidades de Q, e assim por diante.
Porém, veja que, quando a quantidade de trabalho L é de oito unidades, a produção observada
é a mesma que a de um nível de sete unidades. Além deste ponto, repare que o volume de bens
produzidos chega a diminuir.
A quarta coluna da tabela de “produção com um insumo variável” mostra para você o produto
médio do trabalho, que consiste na razão entre o volume gerado de produto e as quantidades
aplicadas do insumo trabalho (Q/L). Observe, por exemplo, a segunda linha da tabela “Produção
com um insumo variável”. Perceba que, com o uso constante de capital, uma unidade de trabalho
produziu 50 unidades de um produto. Sendo assim, o produto médio é igual a 50, mas, com quatro
trabalhadores, a quantidade de bens produzidos foi de 100 unidades por unidade de trabalho: o
produto médio aumentou.
Na variação desta razão, o produto médio demonstra o potencial de produtividade da
empresa, ou seja, esta pode fixar as quantidades de trabalho dado um montante de capital, que
gerarão a maior média de produção (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). A partir deste ponto, veja que
o aumento de unidades produzidas importará em aplicações mais que proporcionais de mão de
obra e, portanto, a produção não será eficiente do ponto de vista da otimização dos recursos.
Ainda no exemplo da tabela, o produto médio é o mesmo quando se usam três ou quatro unidades
de trabalho e passa a diminuir quando se aplicam mais unidades deste insumo, ainda que a pro-
dução aumente por algum tempo.
Esteja atento a este fato: a produtividade não é um conceito abstrato. Pelo contrário, é um
sinônimo do produto médio por fator de produção e, desta, forma é calculado.

– 93 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
A busca por melhorias na produtividade é um dos aspectos mais importantes na
sobrevivência das empresas, sobretudo aquelas que destinam-se a atividades de
transformação. Várias teorias na área da administração visam à melhoria dos
ambientes de trabalho e gestão de processos, como o método PDCA (plan, do,
check, action–planejar, fazer, checar, agir) e a análise SWOT (strenghts, weaknesses,
opportunities and threats– pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças).

3 Produto marginal
Mais que analisar a média da produção perante o uso dos insumos que podem variar a curto
prazo, saiba que uma empresa também deve verificar os ganhos de produto decorrentes da aplica-
ção adicional de cada unidade do insumo variável. Esta razão entre a variação na quantidade de
bens gerados no processo produtivo (∆Q) e a aplicação de uma unidade adicional de insumos,
como o trabalho (∆L) é descrita pelo conceito de produto marginal (PMg) (PINDYCK; RUBINFELD,
2013), conforme a equação que segue, considerando Q para produto e L para trabalho:

PMgL = Q

Vamos agregar o produto marginal do trabalho aos dados da tabela de “Produção com um
insumo variável” gerando a seguinte tabela:

Tabela 2 – Produto marginal com um insumo variável

Trabalho (L) Capital (K) Produto (Q) Produto Médio Produto Marginal

0 10 0 0 0

1 10 50 50 50

2 10 150 75 100

3 10 300 100 150

4 10 400 100 100

5 10 475 95 75

6 10 540 90 65

7 10 560 80 20

8 10 560 70 0

9 10 540 60 -20

10 10 500 50 -40

Fonte: adaptada de PINDYCK; RUBINFELD, 2013.

– 94 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Observe a terceira linha desta tabela. Quando são empregadas duas unidades de trabalho,
são geradas 150 unidades de do bem final Q. Logo, a produtividade com duas unidades de traba-
lho é de 75 unidades. Aumentando-se o uso de trabalho para três unidades, serão fabricadas 300
unidades, assim haverá uma variação da produção total 150 unidades, mediante a adição de uma
unidade de trabalho. O produto marginal, portanto, é a razão:

300 150 150


PMgL = Q
= = = 150
L 2 1

Você pode notar que, assim como o produto médio, o produto marginal é crescente até o
momento em que aplicam-se três unidades de trabalho. Você consegue perceber que, na quarta
unidade, a variação de bens produzidos será menor?

Figura 2 – Setor agrícola: aumento de mão de obra gera queda de PMg

Fonte: Kukiat B/Shutterstock.com

Ou seja, a partir deste patamar de uso de três unidades de trabalho, de acordo com a lei dos
rendimentos decrescentes que vimos no início desta aula, o produto marginal desta linha de produ-
ção passa a ser decrescente e mesmo negativo para adições de trabalho ainda maiores.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

• estudar a postura da firma sobre suas decisões de produção em curto prazo, quando
um de seus fatores de produção tem dotação constante;

• entender que a aplicação de insumos, nestas circunstâncias, permite um aumento da


produção total, porém, você viu que a tendência é que o produto médio, expresso pela

– 95 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

relação entre o produto final e a quantidade de insumos aplicados (considerando, aqui,


o trabalho) tenda a diminuir conforme novas unidades são adicionadas;

•• verificar, a partir do conceito do produto médio, a questão da produtividade e de como


seu aumento é uma meta para as empresas;

•• ver que o produto marginal mede a razão entre a variação de bens produzidos mediante
a aplicação de uma unidade adicional de insumo e que ele também pode assumir uma
trajetória decrescente, conforme mais insumos são agregados à produção. Como viu,
esses conceitos são compatíveis com o referencial teórico expresso pela lei de rendi-
mentos decrescentes.

Referências
DE SOUZA, Nali de Jesus. Uma introdução à história do pensamento econômico. Relatório de Pes-
quisa da área de História Econômica. NEP PUCRS, [20--]. Disponível em: <http://www.nalijsouza.
web.br.com/introd_hpe.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

VARIAN, Hal Ronald. Microeconomia – uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

– 96 –
TEMA 14
Determinando o nível de produção
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, que dedica-se a estudar a Teoria da Produção, você verificará como as firmas
fixam seus níveis de produção ideais sob o ponto de vista da maximização do uso de seus recur-
sos, insumos e fatores de produção. A partir dos conceitos de produto médio e produto marginal,
você verá quais os limites à produção da empresa sem que o excesso de insumos possa compro-
metê-la ou mesmo paralisá-la, mediante processos produtivos de curto prazo.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• determinar o nível mínimo e máximo de produção.

1 Determinação dos limites inferiores


e superiores da produção
Quando um agente responsável por uma empresa decide fixar os limites de sua produção,
que ele considera ideais, deverá levar algumas variáveis em consideração para que sua atividade
não incorra em grandes prejuízos. Você poderia imaginar alguns exemplos dessas variáveis?
Naturalmente que uma das primeiras coisas em que podemos pensar é no nível de preços, ou
seja, no valor que permitirá com que todos os custos sejam pagos e, ainda, obtenha-se um retorno
na forma de lucro.

SAIBA MAIS!
As variáveis relacionadas ao nível de preços são fundamentais, principalmente,
para definirmos o limite mínimo à produção da firma – como um volume de bens
que permita que seus custos gerais, que possuem diversas origens, como custos
contábeis, por exemplo, sejam devidamente cobertos.

Centrando nossa análise no curto prazo de uma firma cujos insumos principais são capital
e trabalho, note o fato de o volume de capital, enquanto fator de produção, ser constante no curto
prazo. Diante desta realidade, veja que a empresa deverá fixar sua produção considerando duas vari-
áveis importantes, quais sejam, o produto médio por fator de produção (formado pela razão entre o
produto total por unidade de fator de produção, definindo o grau de produtividade deste fator), bem
como o produto marginal, formado a partir da geração de bens no processo produtivo a partir da
agregação de uma unidade adicional de um fator de produção (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

– 97 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 1 – Linha de produção de pão

Fonte: Evgenia Panasyuk/Shutterstock.com

Lembre-se de que a aplicação de insumos à produção sujeita-a à lei dos rendimentos decres-
centes, que afirma que o produto marginal de um insumo aplicado na produção se reduzirá pro-
gressivamente quanto mais unidades des te insumo forem agregados ao processo de produção
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIQUE ATENTO!
A firma deve ter uma ideia clara do volume de bens produzidos que permita a apli-
cação mais eficiente dos fatores de produção; esta capacidade empresarial, de co-
ordenação de esforços de alocação de recursos, também pode ser entendida como
um fator de produção.

Através da tabela a seguir, você pode analisar o desempenho de uma empresa em termos de
produtividade e geração de produto marginal.

Tabela 1 – Produto marginal com um insumo variável

Trabalho (L) Capital (K) Produto (Q) Produto Médio Produto Marginal
0 10 0 0 0
1 10 50 50 50
2 10 150 75 100
3 10 300 100 150
4 10 400 100 100
5 10 475 95 75
6 10 540 90 65
7 10 560 80 20

– 98 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Trabalho (L) Capital (K) Produto (Q) Produto Médio Produto Marginal
8 10 560 70 0
9 10 540 60 -20
10 10 500 50 -40

Fonte: Adaptada de PINDYCK e RUBINFELD, 2013.

Neste exemplo, você tem a impressão de que o limite mínimo à produção é dado quando
se emprega apenas uma unidade de trabalho. Porém, veja que a dinâmica de geração de produto
médio e produto marginal por trabalhador alteram-se à medida que mais unidades de trabalho são
agregadas. Observando apenas as unidades de produto, observe que o volume máximo de produ-
ção é obtido quando há oito unidades de trabalho empregadas.
Você pode perceber que, no caso dessa firma, o produto médio e o produto marginal são
grandezas cuja tendência é decrescente, ou seja, diminuem em função da adição de mais fatores
de produção (unidades de trabalho) à atividade produtiva (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Em condições de capital constante, há limites ao processo de produção que vão
além do emprego exagerado de insumos, como recursos humanos e trabalho. O
próprio estoque de capital, por exemplo, fatalmente tenderá a deteriorar-se me-
diante seu uso excessivo; as máquinas serão sobrecarregadas e quebrarão. Uma
planta industrial que mantenha seus bens de capital em operação constante deve-
rá possuir uma estrutura de manutenção eficiente. Há empresas, por outro lado,
que necessitam desse uso constante de determinados bens. Um exemplo está na
indústria siderúrgica: os altos-fornos que derretem o minério de ferro necessitam
estar em operação o tempo todo, pois religá-los implica gasto energético altíssimo.

Analise, agora, o comportamento da produção total em paralelo ao produto marginal através


dos gráficos que seguem.

– 99 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 2 – Gráficos do produto total com um insumo variável e, abaixo,


do produto marginal com um insumo variável
Q
600

500

400

300

200

100

0
L
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

200 PMg

150

100

50

0
L
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

-50
Fonte: adaptados de PINDYCK e RUBINFELD, 2013.

O “Gráfico do produto total com um insumo variável” mostra para você o comportamento
da empresa em circunstâncias de aumento da produção. Veja que a produção máxima dessa
empresa é de 560 unidades do produto Q. Comparando esta produção com o que está embaixo
(“produto marginal com um insumo variável”), que mede a dinâmica do produto marginal por uni-
dade de trabalho, você observa que o nível máximo de produção é obtido exatamente no ponto
que corresponde a oito trabalhadores contratados e o nível de produto marginal é igual a zero
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIQUE ATENTO!
Caso você analise apenas o emprego dos insumos, repare que o nível mínimo de
produção corresponde àquele em que é empregada apenas uma unidade do fator
de produção trabalho, para o nosso exemplo de aplicação.

– 100 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Essa análise empírica, com base nos dados da empresa disponibilizados pela tabela “Produto
marginal com um insumo variável” mostra para você mais algumas informações importantes.
Note que o maior produto marginal é obtido quando estão sendo empregadas três unidades de
trabalho, correto?
Agora, compare este dado com o gráfico “produto marginal com um insumo variável”. Cru-
zando as informações disponíveis a respeito do perfil da produção com três unidades de trabalho,
perceba que, a partir deste ponto, o produto marginal possui tendência decrescente. O impacto
desta tendência sobre o produto total é que ele continuará crescendo, porém a taxas decrescentes.
Compare, agora, através do próximo gráfico, a dinâmica do produto médio e do produto mar-
ginal por unidade de trabalho.

Figura 3 – Gráfico do produto médio e produto marginal com um insumo variável


Q/L
200

150

100

50

0
L
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-50
Produto Médio Produto Marginal

Fonte: adaptado de PINDYCK e RUBINFELD, 2013.

Como você pode observar, há uma relação positiva entre as curvas de produto médio e pro-
duto marginal: se o produto marginal é maior que o produto médio, a tendência da curva de pro-
duto médio é manter-se crescente, pois cada trabalhador a mais está contribuindo com mais fabri-
cação de produtos que a média geral (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
A Teoria da Produção não faz distinção entre o nível de qualidade dos insumos,
como a qualificação da mão de obra, por exemplo. Porém, suponha que, em um pe-
ríodo de alta demanda, uma firma contrate mais trabalhadores e prometa um bônus
salarial caso sua produção individual suplante a média. Este produto marginal de
cada trabalhador, naturalmente, contribuirá para um aumento da produção total e
da própria curva de produto médio.

O inverso também se verifica, ou seja, quando o produto marginal é inferior ao produto médio,
sua curva tende a ser decrescente, indicando uma deterioração da média geral de produção por
trabalhador.

– 101 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
Ainda que estejamos utilizando apenas um gráfico para elucidar os conceitos para
você, entenda que o produto médio e o produto marginal possuem notações dife-
rentes! Enquanto o produto médio é um indicador de produtividade média, o pro-
duto marginal analisa as contribuições de cada trabalhador adicional ao processo
produtivo.

Uma das considerações que podemos fazer, neste momento, é que, quando o produto médio
assume trajetória decrescente, os níveis de produção tendem a tornar-se mínimos (PINDYCK;
RUBINFELD, 2013).

SAIBA MAIS!
Você pode obter maiores informações no artigo “Produtividade do trabalho,
salários reais e desemprego na indústria de transformação do Brasil na década
de 90: teoria e evidência”, um estudo de caso a respeito da produtividade média do
trabalhador brasileiro no respectivo período. Disponível em: <http://www.anpec.org.
br/encontro2003/artigos/F13.pdf>.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• entender o comportamento da firma em relação à determinação do nível ideal de pro-


dução, ou seja, dentro de sua função de produção de curto prazo (sob capital cons-
tante, portanto), qual o volume de insumos que maximiza a quantidade total de bens
produzidos;
•• verificar que uma das possibilidades para a determinação do nível eficiente de produção
é através da análise do produto médio e do produto marginal desta linha de produção;
•• entender que, à medida que o produto marginal, que mede a variação da produção a
partir da agregação de uma unidade de trabalho, mantém-se positivo, a tendência é que
a produção total mantenha-se aumentando mediante a agregação de mais unidades de
trabalho;
•• saber que a produtividade do insumo é uma das principais variáveis que a empresa
deve levar em consideração ao determinar seu volume de produção;
•• conhecer outra variável de grande importância que é a estrutura de custos.

– 102 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Referências
NETTO, Cíntia Rubim de Souza; CURADO, Marcelo. Produtividade do trabalho, salários reais e
desemprego na indústria de transformação do Brasil na década de 90: teoria e evidência. In: XXXI
Encontro Nacional de Economia. Anais... Porto Seguro, 2003. Disponível em: <http://www.anpec.
org.br/encontro2003/artigos/F13.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

VARIAN, Hal Ronald. Microeconomia – uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2015.

– 103 –
TEMA 15
A teoria dos custos de produção
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, trataremos dos custos de produção de uma empresa, ou seja, verificaremos os
diferentes tipos de encargos que envolvem o processo produtivo e como eles, em conjunto, deter-
minam as atividades da empresa.
Você terá bastantes ferramentas para refletir sobre as estratégias da empresa no sentido de
minimizar os custos de produção.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• conhecer as definições dos lucros econômicos e contábeis;


•• compreender os custos de oportunidade e conjunto dos custos de produção: fixo
médio, variável médio, médio e marginal.

1 Custos contábeis
Em nosso cotidiano, sempre que levamos em conta algum valor monetário que represente o
consumo de um determinado bem ou serviço, pensamos no custo desses produtos, não é mesmo?
Você, em seu dia a dia, geralmente deve pensar no custo da conta de luz, no custo do tomate,
dentre outras dinâmicas semelhantes.
Em termos gerais, a definição de custo pode ser diferente de acordo com o ramo de conhe-
cimento a que se dedica ao assunto. Veja que em Economia, dentro da Teoria da Produção, um
conceito plausível para os custos é dado como o valor monetário que se utiliza para o consumo de
um determinado fator de produção ou de outras atividades relacionadas à produção.
Você pode perceber que o lucro de uma empresa é obtido, portanto, quando o preço de um
bem é maior que a soma de todos os seus custos.

FIQUE ATENTO!
Na área da Microeconomia, o uso de recursos monetários para o consumo é lança-
do como custo. Já na Macroeconomia, que investiga a ação do Estado, tais opera-
ções podem ser enquadradas como “despesa” ou “gasto”.

– 104 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Em termos contábeis, porém, essa definição é um pouco diferente. Um contador leva em


consideração as estruturas de ativo e passivo da empresa e a depreciação desses ativos, princi-
palmente seus bens de capital. Deste modo, a definição de custo e lucro contábil poderá abranger
os gastos reais da empresa, juntamente com a depreciação estimada dos bens de capital que
compõem a estrutura de ativos dessa firma.

2 Custos de oportunidade
O custo de oportunidade, também chamado de custo econômico, é definido pelo custo que
a firma deve arcar por abrir mão de alguma atividade que lhe seria potencialmente mais lucrativa.

EXEMPLO
Suponha que você venda coco verde na praia e que, em média, consiga ganhar
cerca de mil reais por mês nessa atividade. Você tem uma qualificação profissional
que te permitiria ganhar dois mil reais ao mês, mas, por gostar do mar e da paisa-
gem, prefere vender coco. Sendo assim, você precisa levar em conta que está per-
dendo dois mil reais de um salário que poderia estar recebendo ao invés de manter
seu negócio na praia.

Se, por exemplo, a empresa usa um imóvel próprio, poderia alugar este prédio ao invés de
usá-lo. O valor perdido pelo aluguel que não é recebido, portanto, é um custo de oportunidade que,
ainda que “invisível” (pois não importou em uma perda de receita real da firma, que está usando
aquele ativo), precisa ser considerado no cálculo de custos da empresa.
Outra situação, na qual o custo de oportunidade pode ser visualizado, ocorre dentro da curva
de possibilidades de produção de uma firma que fabrique dois produtos diferentes, ou que possa
utilizar seus recursos de maneira diferente.

Figura 1 – Produção e custos de oportunidade

Qa

Qa1

Qa2

Qb1 Qb2 Qb
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

– 105 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Você pode visualizar diferentes alocações de recursos de uma firma, alocações estas que
estão sujeitas a custos de oportunidade. Se a firma decide produzir uma quantidade Qa1 do bem
A, poderá produzir apenas a quantidade Qb1 do produto B. Ao mesmo tempo, poderá produzir a
quantidade Qb2 do produto B e Qa2 do produto A. O custo de oportunidade associado ao produto
A, nessa curva de possibilidades de produção, quando a produção do produto B é de Qb2, é dada
por (Qa1 - Qa2) * Pa. Ou seja, a firma deixa de obter um valor referente às unidades do bem A que
ela deixou de produzir quando optou por produzir o bem B em maior quantidade (Qb2).
Vale dizer, como enfatizamos, que o custo de oportunidade não se associa apenas à produ-
ção. Supondo que uma firma opere em um grande galpão, ela poderia reformá-lo e fazer módulos
para aluguel, deixando apenas a metade do galpão para si. Há, portanto, um custo de oportunidade
que a firma deve incorporar ao não proceder dessa forma.

SAIBA MAIS!
Um excelente estudo a respeito dos custos de oportunidade pode ser encontrado
no artigo de Anísio Cândido Pereira et al., “Custo de oportunidade: conceitos e
contabilização”, disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/cest/n2/n2a02.pdf>.

Figura 2 – Consumo ou poupança geram custos de oportunidade

Fonte: pathdoc/Shutterstock.com

3 Custos irreversíveis
Os custos que tratamos por irreversíveis, por sua vez, são totalmente visíveis. São entendidos
como despesas efetuadas pela firma com fatores de produção cuja finalidade é única, não se des-
tinando a qualquer outra atividade. Portanto, como não há possibilidade alternativa de uso desse
insumo, seu custo de oportunidade será igual a zero.

– 106 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
Considere agora que você é um fotógrafo que vende fotos dos turistas em clubes
e festas do litoral. Você precisa de uma câmera nova. Esta câmera, por ser um
equipamento especializado, não tem outra finalidade a não ser tirar fotos (suponha
que você não possa vendê-la ou reciclá-la). A despesa efetuada na aquisição desta
câmera, portanto, pode ser entendida como um custo irreversível.

Um custo irreversível trata-se de um gasto que, uma vez feito, não pode ser recuperado de
maneira alternativa, devendo fazer parte da estrutura de custos de produção de uma empresa
que opera esses insumos. Esse custo pode, ao máximo, ser amortizado ao longo do tempo e, vale
dizer, deve ser identificado antes que ocorra, pois, como ele não pode ser recuperado, não deverá
interferir nas decisões do agente.

4 Custo fixo, variável e total


Você verá agora a estrutura principal dos custos relacionados à produção na firma. São estes
custos que ela leva especialmente em conta no momento de efetuar sua decisão entre iniciar a
produção, continuá-la ou encerrá-la.
Vamos começar nossa discussão com a seguinte equação:

CT = CF + CV

Note que o custo total de produção, representado por CT, é dado pela soma dos seus custos
fixos (CF) e variáveis (CV).
Os custos fixos são representados pelas despesas que a empresa é obrigada a realizar ainda
que não esteja produzindo sequer uma unidade do bem que resume sua atividade. Eles não depen-
dem do nível de produção. Podemos dar como exemplos de custos fixos as despesas com segurança
e vigilância, tarifas mínimas de consumo de energia, taxas de localização, dentre outros. Podemos
avaliar, neste sentido, que não há alternativa à firma para evitar esses custos, a não ser o encerra-
mento de suas atividades. Geralmente, os custos fixos são aplicados em curto prazo.

FIQUE ATENTO!
A discussão de “curto prazo” e “longo prazo” é aplicada em nosso estudo sobre cus-
tos de forma semelhante à usada em outras áreas da Teoria da Produção. Custos
de curto prazo envolvem as atividades corriqueiras da firma, como pagamentos e
manutenção. Já no longo prazo, citamos os custos de aquisição de bens de capital,
pesquisa e desenvolvimento, entre outros.

– 107 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Por sua vez, os custos variáveis (CV) são aqueles que variam de maneira proporcional aos
volumes de bens produzidos. Não necessariamente eles devem variar conforme a quantidade pro-
duzida; eles estão presentes quando há produção.
Por exemplo, podemos incluir aqui como custos variáveis o pagamento pelo uso das maté-
rias-primas, os salários dos funcionários e impostos sobre a produção como o Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI).

FIQUE ATENTO!
O pagamento de impostos também é considerado um custo de produção. Logo, ele
é incorporado ao custo total. Impostos podem ser “fixos” (como o FGTS por funcio-
nário, por exemplo) ou incidir conforme o volume de produção (como o ICMS e o IPI)

5 Custo médio
O cálculo do custo médio (que podemos denominar por custo total médio) segue a mesma
dinâmica do custo total e pode ser definido pela seguinte equação:

CT CF+ CV
CTMe = = = CFMe+ CVMe
Q Q

Veja que o custo total médio é a expressão dos custos totais da empresa divididos pelo seu
volume de produção, dado por Q.O custo variável médio é dado pela razão entre os custos variáveis
(CV) e o volume de produção (Q). Trata-se de uma função direta da quantidade de bens produzidos.
Quanto ao custo fixo médio, como você viu que ele compreende a razão entre o custo fixo e
o volume produzido, poderá deduzir que esse custo possui, em um gráfico de produção, uma ten-
dência decrescente, pois ele tende a ser diluído à medida que a produção aumentar.

6 Custo marginal
O custo marginal é calculado pela razão entre a variação do custo total mediante o aumento
de produção de mais uma unidade do bem fabricado pela empresa, conforme a seguinte equação:

CT
CMg =
q

Perceba que, caso os custos fixos estejam diluídos na produção tal que sua importância seja
muito pequena ou quase nula, temos que o custo marginal corresponderá à razão entre a variação
do custo variável e o aumento de produção em um bem. O custo marginal nos indica, portanto,
qual o custo de produzir uma unidade a mais de um bem em uma empresa.

– 108 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Observe o comportamento das curvas de custo através dos gráficos que seguem:

Figura 3 – Curvas de custo total, variável e fixo


CT
Custo de Produção
CV

CF

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Figura 4 – Curvas de custo total médio, variável médio, marginal e fixo médio

Custo por unidade q

CMg

CTMe

CVMe

CFMe
Q

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

A partir desses dois gráficos, você pode ter uma visão geral a respeito do comportamento
dos custos de produção.
Através do gráfico “Curvas de custo total, variável e fixo”, veja que o custo fixo, representado
pela reta CF, é constante e não varia com o aumento da produção Q. Da mesma forma, o custo
variável é igual a zero quando não há produção – o custo variável se manifesta apenas quando
há produção. Assim, a curva CT, que descreve o custo total, é obtida através da soma dos custos
variáveis com o custo fixo – a distância entre estas curvas será sempre a mesma.
A partir do gráfico “Curvas de custo total médio, variável médio, marginal e fixo médio”,
observe as curvas correspondentes aos custos unitários de produção, relacionados a cada uni-
dade de bens produzidos. Se o custo fixo total mantém-se constante, a tendência é que o custo
fixo médio seja diluído à medida que a produção aumenta, assim a curva CFMe tende a zero. Com
isso, no limite, as curvas CTMe e CVMe tenderão a encontrar-se.

– 109 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
Mesmo que a curva CFMe tenda a zero, pela diluição dos custos fixos no volume
produzido, ela nunca tocará o eixo das abscissas: mesmo que o custo fixo médio de um
produto seja de décimos de milésimos de um centésimo de um centavo não será nulo.

No gráfico “Curvas de custo total médio, variável médio, marginal e fixo médio”, você verifica
o conjunto de curvas correspondentes aos custos médios da produção e ao custo marginal. Como
o custo fixo total é constante, a tendência do custo fixo médio CFMe é manter-se decrescente ao
nível próximo de zero.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• conhecer uma das dinâmicas que as empresas consideram no momento de fixar seus
níveis ideais de produção: a minimização de custos, em conjunto com a maximização
do emprego dos fatores de produção;
•• verificar, dentro da teoria da firma, que esta possui determinados custos que são estru-
turais, como os custos contábeis, de oportunidade e os custos irrecuperáveis. Eles são
próprios da existência da firma.
•• aprender que a dinâmica dos custos fixos e variáveis, médios e marginais são propor-
cionais ao volume de produção.

Referências
PEREIRA, Anísio Cândido et al. Custo de oportunidade: conceitos e contabilização. In: Cadernos de
Estudos. FIPECAFI, n.02. São Paulo: abr. 1990. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cest/n2/
n2a02.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

– 110 –
TEMA 16
Curva de oferta da indústria
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, você vai estudar com mais detalhe o lado da oferta, ou seja, a produção que é
realizada pelas indústrias e disponibilizada no mercado. A partir da oferta, você vai verificar como
as empresas tomam suas decisões de produzir e como concorrem entre si. Mais que isso, você
verá a possibilidade de elas poderem obter lucros com a oferta de seus produtos.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender como uma empresa toma decisões econômicas;


•• entender a relação entre preço e quantidade ofertada;
•• entender os fatores formadores da oferta.

1 Oferta
Os produtores de bens e serviços, ao tomar a decisão de produzir, devem levar em conta uma
série de variáveis. Você poderia pensar em alguns exemplos?
Pois, bem, dentre essas variáveis está o uso ideal de seus fatores de produção (também
conhecidos por insumos) de forma a maximizar a produção sem incorrer em gastos excessivos ou
desnecessários. Da mesma forma, os produtores estão sempre atentos sobre a redução de seus
custos de produção a fim de que, no momento da venda, esta possa ser realizada permitindo certa
margem de lucro ou, ao menos, o preço deverá cobrir os custos.
E são essas as decisões de oferta (ROSSETTI, 2016).

SAIBA MAIS!
Uma empresa utiliza diferentes meios para determinar sua produção que, em si,
consiste em uma decisão econômica. No “mundo real”, além de analisar a maximi-
zação do uso de seus fatores de produção, bem como minimizar custos, ela deve
levar em conta outros encargos sobre a produção como tributos e impostos em es-
cala municipal, estadual e federal. Estes impostos e encargos, quando transmitidos
ao consumidor geral, geram um preço final de venda que poderá, segundo a média
do mercado, viabilizar ou não a operação da empresa.

Nossa análise da oferta retoma alguns pressupostos do modelo de concorrência perfeita, que
será utilizado para explicitar a dinâmica da oferta de bens. Dentre esses pressupostos, cabe destacar:

– 111 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

•• a oferta é determinada dentro de seu mercado, sem interferências externas (como a


ação do Estado, políticas públicas etc.);
•• a determinação da oferta é feita pelos produtores dos bens;
•• a interferência do Estado é nula;
•• os produtos são homogêneos e não se diferenciam;
•• não há barreiras à entrada e à saída aos produtores.

FIQUE ATENTO!
Os pressupostos do modelo de concorrência perfeita, que centram-se sobre a demanda
dos consumidores, também possuem validade para a análise da oferta. A diferença prin-
cipal, porém, é o fato de a oferta ser determinada pelos produtores presentes no mercado
que, em conjunto, formam a indústria responsável pela fabricação de um certo bem.

A função de oferta nos mostra a quantidade de produtos que a indústria repassa ao mercado
mediante um dado nível de preços, de acordo com a equação:

Qs = Qs (P)

Observe que a quantidade de produtos ofertados pelos produtores (ou pela indústria), portanto,
é uma função direta do nível de preços, descritos pela variável P (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

2 Curva de oferta
Você pode observar o comportamento da curva de oferta através do gráfico a seguir.

Figura 1 – Curvas de oferta


Preço (P)
Sa Sb

A B
Pa

C
Pb

Qa Qb Quantidade (Q)

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

– 112 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Observe no gráfico “Curvas de oferta” que a sua inclinação é ascendente, ou seja, quanto mais o
preço dos bens e serviços produzidos aumentar, mais os produtores, que formam a indústria como
um todo, estarão inclinados a venderem seus bens, disponibilizando mais produtos no mercado.

EXEMPLO
De forma semelhante à determinação da demanda, há certa dificuldade de encon-
trarmos um mercado de bens que aproxime-se do modelo de concorrência perfeita
sob condições ideais. De todo modo, um exemplo muito usado na teoria microe-
conômica é o mercado de hortifrutigranjeiros, no qual os produtores são, em sua
maioria, de pequeno porte, de modo que a oferta de seus produtos é influenciada
diretamente pelo nível geral de preços.

Veja, ainda no mesmo gráfico, a curva Sa, que representa as quantidades de um produto A
que estarão sendo ofertadas mediante certo nível de preços, como você vê no ponto A, que repre-
senta a quantidade de bens Qa ofertados a dado certo preço Pa.
Agora, perceba como a oferta de bens se comporta mediante variações do nível de preços.
Suponha que um repentino aumento da demanda por este produto faça com que os preços se
elevem. Neste caso, as quantidades ofertadas serão maiores, havendo um deslocamento ao longo
da curva Sa para uma nova quantidade de bens ofertados, a um preço acima do preço Pa.
Por sua vez, caso haja um evento interno à empresa, como, por exemplo, uma queda de
seus custos de produção, a própria curva de oferta tenderá a alterar-se, criando-se a curva Sb. A
partir dela, você observa que mais bens, representados por Qb, poderão ser ofertados mediante o
mesmo nível de preços ou a mesma quantidade Qa anterior poderá ser vendida a um preço menor,
no ponto C. Houve, assim, um deslocamento da curva de oferta (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
É importante frisar, ainda, que há outras varáveis que afetam a curva de oferta: o padrão tecnoló-
gico, por exemplo, pode deslocá-la, pois mudanças na tecnologia de produção, em geral, reduzem os
custos de produção. Da mesma forma, a oferta é sensível a mudanças no preço de outros bens, sobre-
tudo quando a produção se utiliza de bens intermediários, que são bens anteriormente produzidos e
destinados à produção de outros bens. Por exemplo, a mudança nos preços do aço, um bem utilizado
na fabricação de automóveis, pode aumentar os custos da empresa e deslocar a curva de oferta. Por
fim, alterações climáticas também podem afetar a mesma curva, caso afetem os custos de produção.

FIQUE ATENTO!
Como estamos operando um modelo de concorrência perfeita, um de seus princi-
pais pressupostos é a inexistência de barreiras à entrada, ou seja, novas empresas
poderão ingressar no mercado se o nível de preços tornar atraente a sua produção.
Uma queda no custo da matéria-prima, portanto, poderá atrair novas empresas e
tornar-se fator determinante no deslocamento da curva de oferta, visualizada no
gráfico “Curvas de oferta”.

– 113 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

3 Curva de oferta do mercado


Sabendo como se dá o processo de geração de produto por parte das empresas em fun-
ção de sua oferta individual, você pode compreender como este processo se traduz de forma
agregada, ou seja, através da curva de oferta do mercado. Na verdade, de maneira semelhante
à demanda, a curva de oferta do mercado corresponde ao somatório das ofertas individuais de
todas as empresas que estão situadas neste mercado.

EXEMPLO
Suponha que José é proprietário de uma máquina que produz deliciosos sorvetes
italianos. Você vende uma média de 300 unidades ao dia ao preço de R$ 2,00. Outra
empresária, Maria, cujo estabelecimento é localizado duas ruas abaixo da de José,
vende 100 casquinhas ao dia ao preço de 2,50. A oferta total deste mercado, por-
tanto, é de 400 sorvetes italianos.

Cada produtor possui sua curva de oferta. Observe:

Figura 2 – Curvas de oferta de produtores individuais

Preço (P)

S1

P1 S2

P2

Q1 Q2 Quantidade (Q)

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

A partir das curvas de oferta individuais, podemos gerar a curva de oferta do mercado, como
no gráfico a seguir.

– 114 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 3 – Curva de oferta do mercado

Preço (P)

Quantidade (Q)

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Observando o gráfico “Curvas de oferta de produtores individuais”, você verifica que cada
produtor possui a sua função de oferta individual, dada por certa relação entre quantidades de
bens vendidos mediante certo nível de preços. Por exemplo, a curva S1 ilustra a curva de oferta do
produtor 1, que coloca uma quantidade Q1 de mercadorias no mercado a certo preço P1. O produ-
tor 2, por sua vez, coloca uma quantidade maior do mesmo bem, marcado por Q2, a um preço P2.
Se realizarmos uma média geral de preços e quantidades, através de um somatório das infi-
nitas curvas de oferta de um mercado de bens, teremos formada a curva de oferta do mercado,
representada no gráfico “Curva de oferta do mercado” pela curva S. Veja que, nesta curva, estão
todas as quantidades de bens que a indústria disponibiliza no mercado mediante determinados
níveis de preço (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIQUE ATENTO!
Esteja atento à inclinação positiva/ascendente da curva de oferta do mercado, que é
semelhante à da curva de oferta do produtor individual: esta inclinação nos mostra que
a quantidade de bens ofertados tende a aumentar em situações de aumento de preços.

Deve-se enfatizar, ainda, que nem todas as curvas de oferta seguem uma trajetória seme-
lhante, mesmo em um mercado formado por produtos iguais. Certas empresas, por possuírem
equipamentos mais avançados ou facilidade de obtenção de mão de obra, por exemplo, podem
reagir de forma mais rápida e eficiente a mudanças dos níveis gerais de preço. Nosso exemplo no
gráfico “Curvas de oferta de produtores individuais” ilustra esta situação.

– 115 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Da mesma forma, é importante enfatizar que certos bens podem reagir de forma mais ou
menos intensa ao nível de preços. Observe o próximo gráfico.

Figura 4 – Curvas de oferta individuais em diferentes graus de elasticidade-preço


Preço (P)
Sc

Sa

Sb

Quantidade (Q)

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Através deste gráfico, você verifica que certas empresas reagem de forma mais ou menos
proporcional às variações no nível de preços com a quantidade de bens ofertados. A esta situação
denominamos elasticidade-preço da oferta, medida através da razão entre a variação de quanti-
dades ofertadas e a variação de preços no mercado, de acordo com a equação:

εs = ∆qs ⁄ ∆ps.

Ou seja, quando a variação de bens ofertados é maior proporcionalmente à variação de pre-


ços, dizemos que a oferta é elástica ao preço, como no caso da curva Sb. Caso seja menor, trata-se
de uma oferta inelástica ao preço, como no caso da curva Sc (uma alteração grande de preços,
para cima ou para baixo, não altera significativamente as quantidades ofertadas). Caso a expan-
são de quantidades ofertadas se dê na mesma razão da variação de preços, a elasticidade-preço
da oferta é unitária, como observamos na curva Sa (ROSSETTI, 2016).
Vale dizer ainda que a oferta é sujeita à elasticidade-preço assim como a demanda. Os con-
sumidores também reagem de maneira mais ou menos proporcional a aumentos de preço, em
função das características do mercado e do público consumidor. Pelo lado da oferta, a variação na
quantidade de bens ofertados também está sujeita a certa elasticidade-preço.

– 116 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
Para obter mais informações a respeito das teorias microeconômicas relacionadas
à oferta e suas expressões gráficas, consulte o quarto capítulo da tese do professor
Gilson Pereira Lima (Universidade Federal do Paraná), “A curva de oferta agregada
ascendente a [sic] longo prazo”.
Disponível em: <http://www.macroambiente.com.br/downloads/newdown/down/
curvadeofertaagregada.pdf>.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• verificar que, em um modelo de concorrência perfeita, a oferta de bens e serviços é


determinada pelos múltiplos produtores presentes nos respectivos mercados;
•• entender que cada produtor possui sua própria curva de oferta com base na iteração
entre preços e quantidades de bens;
•• observar que a curva de oferta possui tendência ascendente, ou seja, os produtores rea-
gem de maneira positiva a aumentos de preço, colocando mais produtos no mercado;
•• saber que a curva de oferta do mercado representa a oferta geral dos bens de todos
os produtores.

Referências
LIMA, Gilson Pereira. A curva de oferta agregada ascendente a longo prazo. Tese (Doutorado em
Economia) – Universidade Federal do Paraná, 1996.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

– 117 –
TEMA 17
O mercado em concorrência perfeita
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, discutiremos a determinação de oferta e demanda do mercado, ou seja, a relação
entre compradores e produtores que determina, por sua vez, as quantidades e os preços dos pro-
dutos que geram o equilíbrio de mercado.
Neste processo, você estudará uma estrutura específica de mercado conhecida como
concorrência perfeita, na qual produtores e consumidores podem, sem interferências externas,
vender e comprar livremente suas mercadorias sob determinadas condições, que serão devida-
mente discutidas nesta aula.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• entender como o mercado determina o preço do produto e a quantidade produzida/


demandada em concorrência perfeita.

1 Lei da demanda e oferta


A Microeconomia, que, resumidamente, é o ramo das Ciências Econômicas que dedica-se ao
estudo do comportamento, das preferências e ações dos consumidores e produtores nos diferen-
tes mercados de bens, tem como um de seus principais objetos de análise o estudo das questões
relacionadas à oferta e à demanda de bens e serviços no mercado.
Quando trazemos a expressão mercado, vale dizer, estamos tratando de um espaço não
físico, onde agentes econômicos transacionam bens com maior ou menor grau de liberdade em
relação aos preços. Em nossa aula, discutiremos o mercado sobre condições de concorrência
perfeita, nas quais o preço é dado através de mecanismos de mercado.
A lei da demanda e da oferta, também conhecida como lei da oferta e da procura, des-
creve o comportamento de produtores e consumidores em um mercado de bens ao longo de um
determinado período de tempo. Neste mercado, os agentes transacionam comerciam diferentes
quantidades de bens e/ou serviços, de acordo com o tipo de mercado, mediante certos níveis de
preço (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Caso não haja intervenção externa, como políticas governamentais de fixação de preços, o
equilíbrio entre preços e quantidades ocorrerá dentro do próprio mercado. Observe o gráfico:

– 118 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 1 – Equilíbrio de um mercado de bens sob concorrência perfeita


Preço (P)

Pe

Qe Quantidade (Q)

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Você pode perceber o comportamento da oferta e da demanda através deste gráfico. A curva
S representa a oferta (do inglês supply). Já a curva D (do inglês demand) representa a demanda.
Analise acurva de demanda e perceba que ela apresenta, na maioria das vezes, uma inclina-
ção negativa, ou descendente, indicando-nos que quanto menor o preço de um bem, tanto maiores
serão as quantidades demandadas. Por outro lado, veja que a curva de oferta tem uma inclinação
positiva (crescente), uma vez que, conforme o preço das mercadorias elevar-se, mais os produto-
res estarão dispostos a ofertar sua produção no mercado (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

SAIBA MAIS!
As curvas de oferta e demanda possuem a característica de tender ao infinito: a
oferta será cada vez maior quanto mais o preço aumentar; por sua vez, quanto mais
ele diminuir, mais os consumidores buscarão adquirir o bem que demandam.

Como regra geral, a tendência do mercado é convergir ao equilíbrio entre preços e quantida-
des. Esta convergência, conforme afirmamos, dá-se a partir das ações dos consumidores e dos
produtores. Contudo, cada relação dentro de um mercado possui suas especificidades.
Uma estrutura de mercado muito estudada na Microeconomia é o modelo de concorrência per-
feita. De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2013), veja quais são as premissas principais deste modelo:

•• a oferta e a demanda dos bens são determinadas dentro de seus respectivos mercados,
isto é, supõe-se que não haja intervenção de agentes, como o Estado, as instituições
regulatórias, empresas ou consumidores de grande porte, dentre outros.

– 119 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO

Cada bem possui seu mercado específico, desde a cana-de-açúcar até o etanol nas
bombas dos postos de gasolina.

•• não há interferência do Estado. A ação governamental, sob qualquer caracterização,


como através de regulação de preços (mínimos ou máximos), controle da oferta ou da
demanda com fins a criar reservas de mercado, descaracteriza o mercado de concor-
rência perfeita, dado que produtores e consumidores não terão liberdade absoluta para
transacionar bens neste espaço-mercado.

FIQUE ATENTO!
O fato de o modelo não pressupor a existência de intervenções estatais não signi-
fica que elas não possam existir. Por exemplo, o Governo pode fixar uma política
de preços mínimos para agradar a seus eleitores, apesar desta medida poder gerar
restrições à oferta de bens.

•• o mercado, como a própria denominação do modelo nos indica, deve ser essencial-
mente competitivo, ou seja, o número de produtores e consumidores é bastante grande
e nenhum deles, de forma individual, tem poder de mercado suficiente para definir os
preços que serão praticados neste mesmo mercado. Caso algum agente disponha de
concentração de mercado (medido em termos do volume de vendas) suficiente para
determinar um preço, este modelo tenderia a ser um oligopólio, no qual poucas empresas
controlam a dinâmica do mercado, ou mesmo um monopólio, em que todo o mercado
está nas mãos de um único produtor.

Figura 2 – Mercado em Délhi, na Índia

Fonte: Don Mammoser/Shutterstock.com

– 120 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

•• os produtos, dentro de um mesmo mercado de bens, são homogêneos, ou seja, não


possuem grau de diferenciação em termos de qualquer característica, como cor, cheiro,
sabor, aroma, marca ou algum outro. Sendo assim, qualquer consumidor poderá livre-
mente adquirir qualquer bem de qualquer produtor, sabendo que todos são iguais
dentro daquele mercado específico. Vale dizer que tal classificação não se aplica, por
exemplo, para os bens de luxo, que possuem um perfil de demanda diferenciado.

Figura 3 – Laranjas, bens significativamente homogêneos

Fonte: Kazyavka/Shutterstock.com

EXEMPLO
Em uma feira livre, encontramos um modelo de mercado bastante parecido com o
de concorrência perfeita. Os bens vendidos, frutas, legumes e verduras, são bastan-
te homogêneos e os produtores são, geralmente, de pequeno porte e não controlam
os preços de mercado sozinhos.

•• não há qualquer barreira à entrada ou à saída de consumidores e produtores: supondo,


por exemplo, que os preços de equilíbrio de mercado passaram por uma alteração
e diminuíram, alguns produtores cujos custos de produção são maiores que o novo
preço de mercado podem optar por deixarem-no sem qualquer forma de barreira ou
constrangimento legal. Da mesma forma, se a demanda se acelerar em vista, por
exemplo, de um aumento da renda dos consumidores, novos produtores, antes fora do
mercado, poderão nele ingressar, a fim de atender às necessidades dos consumidores
e seus níveis de demanda.

– 121 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

FIQUE ATENTO!
Em outras estruturas de mercado, como oligopólios e monopólios, as barreiras à entra-
da são bastante intensas, seja por conta da necessidade dos produtores em investirem
volumes muito altos de capital para ofertarem produtos, ou por conta de alguns produ-
tores deterem patentes e concessões governamentais que lhes dão direitos exclusivos.

•• não há assimetrias de informação. Os consumidores estão cientes dos preços de todos


os produtores e das características dos bens que eles transacionam de tal forma que
podem fazer suas aquisições sem correr o risco de um comportamento lesivo desses
mesmos produtores. Os consumidores conhecem, ainda, o preço de mercado e ajustarão
suas preferências de compra conforme este preço. Como decorrência deste processo, os
produtores também possuem conhecimento apurado a respeito do comportamento do
mercado e do preço dos produtos praticado pela concorrência. Um produtor individual
poderá alterar seus preços para cima ou para baixo, indo à falência por falta de vendas ou
esgotando sua capacidade de produção e quebrando as máquinas por excesso de uso:
a opção é do produtor.

SAIBA MAIS!
As assimetrias de informação são um dos principais problemas de mercado para
o seu bom funcionamento. Em várias situações, os produtores conhecem os
problemas e vícios de seus produtos e ocultam-nos para forçar suas vendas, como
no caso do mercado de carros usados, por exemplo: os vendedores tentam ocultar
defeitos, batidas e outros problemas do produto. Essa assimetria de informações
nesse mercado foi estudada por George Akerlof, em um artigo de 1970. Você
pode encontrar maiores informações sobre este trabalho e sobre o problema da
assimetria de informações em outro artigo, de Frederico Franco Orzil e Aleixina
Maria Lopes Andalécio, “Confiança nas transações no meio digital: abordagens e
fundamentos”. Disponível em:<http://www.revista.ufpe.br/gestaoorg/index.php/
gestao/article/viewFile/541/360>.

A partir dos pressupostos indicados, torna-se possível estabelecer, sob o regime de concor-
rência perfeita, a relação entre oferta e demanda em um mercado de bens.

2 Mecanismo de mercado
Quando alocamos conjuntamente as curvas de oferta e demanda em um mercado de bens,
conforme realizado na figura “Equilíbrio de um mercado de bens sob concorrência perfeita”, obser-
vamos os preços de equilíbrio e suas quantidades correspondentes. No ponto de equilíbrio, tanto
a oferta quanto a demanda são iguais e o mercado está equilibrado (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Um mercado livre, como o que observamos no modelo de concorrência perfeita, no entanto,
também está sujeito a flutuações de diferentes formas. Observe o gráfico:

– 122 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 4 – Oscilações de preços em um mercado de bens

Preço (P)

Excesso
P1

Pe

P2
Escassez D

Qe Quantidade (Q)

Fonte: elaborado pelo autor, 2016.

Neste gráfico, você pode observar duas situações que podem vir a ocorrer no mercado livre.
Por exemplo, se há um choque de preços que eleve seu nível de Pe para o ponto P1, os produto-
res tenderão a colocar mais produtos no mercado, aumentando a oferta para além da demanda (pois
haverá consumidores que não poderão ou não quererão adquirir este bem a este preço). O excesso de
oferta, através do próprio funcionamento do mercado, irá gerar um excesso de produto cujos preços ten-
derão a cair até o ponto Pe, restaurando, assim, o equilíbrio do mercado (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Suponha, agora, a situação inversa: uma queda de preços fez o seu nível cair para o ponto P2.
Nestas circunstâncias, diversos produtores de bens não irão ofertá-los no mercado, por diferentes
razões, seja por dificuldades técnicas (os custos de produção são maiores que o preço P2, fazendo-os
terem prejuízo), ou mesmo por livremente optarem por não ofertar. A demanda, por sua vez, tenderá a
ter um aumento que não será atendido pela oferta, caracterizando-se, assim, um estado de escassez.
Esta situação faz com que os consumidores se disponham a pagar mais caro para ter acesso
ao bem de que necessitam e, deste modo, progressivamente, os preços retornam ao seu nível de
equilíbrio, juntamente com as quantidades de produtos ofertados. Através do próprio funciona-
mento livre dos mercados, as quantidades e os preços de bens ofertados e demandados em um
mercado convergem ao equilíbrio sob condições de concorrência perfeita.

FIQUE ATENTO!
Embora possa parecer que o mecanismo de regulação de mercado atue de forma
automática, reagindo a variações dos preços em termos de oferta e demanda, nem
sempre os processos são tão rápidos: eles podem variar em função de cada situa-
ção. Em uma feira livre, como citamos, o reajustamento de preços pelos ofertantes
pode ocorrer em minutos. No setor siderúrgico, pode ocorrer em prazos bem maio-
res, dada a escala da produção, contratos assumidos e outras variáveis.

– 123 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Fechamento
Nesta aula, você teve oportunidade de:

•• compreender a dinâmica entre oferta e demanda em um mercado de bens, dinâmica


esta que condiciona o seu equilíbrio sob condições de concorrência perfeita;
•• entender a estrutura de mercado conhecida como concorrência perfeita e suas princi-
pais características;
•• verificar que o mercado é capaz de se autorregular, no sentido de gerar seu próprio
equilíbrio de quantidades e preços de bens ofertados e demandados.

Referências
ORZIL, Frederico Franco; ANDALÉCIO, Aleixina Maria Lopes. Confiança nas transações no meio digital:
abordagens e fundamentos. Revista Gestão.org. v.13, n.1, p.1-10. UFPE, 2015. Disponível em:<http://
www.revista.ufpe.br/gestaoorg/index.php/gestao/article/viewFile/541/360>. Acesso em: 19 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. Pearson: São Paulo, 2013.

– 124 –
TEMA 18
Os excedentes econômicos
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, trataremos de algumas das relações que envolvem produtores e consumidores
em um mercado de bens. Como você sabe, preço e quantidade são fundamentais para as deci-
sões de compra e venda. Agora, porém, você verificará os limites à demanda e à oferta de produ-
tos a partir das preferências dos agentes ofertantes e demandantes no mercado de bens.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender a noção de preço de reserva;


•• compreender os conceitos de excedentes do consumidor e do produtor.

1 Preço de reserva
Alguma vez você chegou a um restaurante, foi informado sobre o valor cobrado pela casa e
retirou-se, não porque não tivesse como pagar, mas porque considerou aquele valor alto demais a
partir do seu ponto de vista? Da mesma forma, já saiu de casa disposto a pagar um determinado
valor por um bem e, quando chegou à loja, descobriu que havia uma promoção e, assim, acabou
comprando uma, duas, várias unidades a mais? Estes exemplos estão na raiz do conceito do cha-
mado preço de reserva.
Em linhas gerais, o preço de reserva simboliza o preço máximo que os consumidores estão
dispostos a pagar por um determinado produto. Sabemos que, pela integração entre oferta e
demanda, os preços de equilíbrio são dados exatamente quando a oferta de um bem se iguala à
sua demanda (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Muitos promotores de eventos associam a venda de ingressos a “lotes” que vão
sendo progressivamente esgotados, sendo lançados novos a preço maior. O fato
de as pessoas continuarem adquirindo ingressos, mesmo que pagando mais caro,
simboliza que elas estão realmente dispostas a adquirir aquele ingresso cujo preço
de reserva ainda não foi atingido.

– 125 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

No entanto, veja que há situações em que o consumidor está disposto a pagar um valor
diferente por um bem. É quando ele considera que o benefício de sua aquisição, em termos da uti-
lidade e da satisfação que este bem lhe trará, compensa o gasto adicional. Claro que, se ele con-
segue adquirir um bem por um preço inferior ao seu preço de reserva, sua satisfação na aquisição
será ainda maior. Por exemplo, promoções atraem muitos consumidores que estariam dispostos
a pagar um preço até mesmo maior pelo produto anunciado.

Figura 1 – Promoções

Fonte: huaoman / Shutterstock.com

SAIBA MAIS!
Muitas empresas, cientes do conceito de preço de reserva, promovem aumentos
intencionais como forma de explorar seus clientes e, assim, obter um lucro extra-
ordinário, além dos limites comuns do lucro de mercado, prática esta conhecida
como discriminação de preços.

2 Excedente do consumidor
Vamos, agora, ampliar o conceito de preço de reserva para explorarmos uma dimensão
da Microeconomia na relação entre consumidores e produtores: os excedentes do consumidor
e do produtor.
Iniciemos nossa abordagem pelo excedente do consumidor. Sabendo-se que os consumi-
dores, por diferentes razões, estão dispostos a adquirir determinados produtos por valores dife-
rentes (no caso, superiores) do preço de mercado, dado que sua utilidade na aquisição dos bens
estará garantida, podemos inferir que a soma destas aquisições forma o chamado excedente do
consumidor (EC) (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

– 126 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

O excedente do consumidor é percebido através da relação entre Oferta e Demanda de


um produto em seu mercado. Sempre que um consumidor, ou mais, estiver disposto a pagar
por um produto um preço que é maior que o preço de mercado do produto, seu bem-estar
será maximizado.

EXEMPLO
Um novo acessório para videogames, recém-lançado, tem grande potencial de tor-
nar-se uma “febre” entre os adolescentes, com um boom de vendas. O seu preço
de mercado é de R$ 50,00. Porém, alguns consumidores estão dispostos a pagar
valores ainda maiores sem que isto lhes afete o bem-estar.

Figura 2 – Preços de reserva e excedente do consumidor

Preço (P)

EC

Pe

Qe Quantidade (Q)

Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

O excedente do consumidor é formado pela área que está abaixo da curva de demanda e
acima da linha de preço. Nesta área, podemos encontrar consumidores que estão dispostos a
adquirir o bem deste mercado mesmo a preços maiores do que o preço de equilíbrio. Neste sen-
tido, sempre que um consumidor adquirir este bem a um preço menor que o seu preço de reserva
(o preço máximo que ele está disposto a pagar), ele perceberá um excedente para si, um valor que
ele deixará de usar para adquirir este bem.

FIQUE ATENTO!
Nos gráficos e nas simulações efetuadas ao longo desta aula, utilizamos linhas
retas para simplificação – se a curva de demanda tiver aspecto realmente curvo, a
medição dos excedentes deverá ser realizada por meio de ferramentas de cálculo
numérico, como integrais, que medem a área sob uma curva no plano cartesiano.

– 127 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Pelos dados fornecidos pelo gráfico, você observa que há um certo número de consumidores
dispostos a pagar um preço superior ao preço de mercado Pe por este bem. Este preço que eles
estão propensos a pagar poderá ser o seu preço-limite, ou preço de reserva. O maior preço de
reserva a um consumidor é o que se encontra exatamente sobre a Curva de Demanda.
Uma aplicação prática do conceito de excedente do consumidor está nas filas dos cinemas:
filmes que são muito esperados por um público cativo (como sequências de sucessos, por exem-
plo) costumam ter um ingresso fixado em um patamar mais alto nos primeiros dias de exibição,
em que a plateia cheia é praticamente garantida e os consumidores estão dispostos a pagar prati-
camente qualquer preço para assistirem o filme em sua estreia. Com o passar dos dias, os preços
vão sendo reajustados para baixo, para atrair o público geral.

Figura 3 – Estreia de filme

Fonte: Brian A Jackson/Shutterstock.com

O cálculo do excedente do consumidor é útil para avaliarmos o grau de satisfação dos clien-
tes com um determinado bem ou serviço, a partir do fato de estarem adquirindo bens com valores
acima da média geral. Preste atenção: estes consumidores, que compraram além do preço de
mercado, estão satisfeitos com o consumo, pois ele é igual, ou menor, que o seu preço de reserva
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Mesmo quando o excedente do consumidor é igual a zero, ou seja, quando os consumidores
estão adquirindo bens a um preço correspondente ao seu preço de reserva, o consumidor estará
satisfeito. O que lhe garante bem-estar é a utilidade em adquirir o produto.

FIQUE ATENTO!
É importante perceber que as empresas podem, também, tentar remodelar seus
preços no mercado e assim captarem, o quanto for possível, estes valores exce-
dentes no diz respeito aos termos de receita real.

– 128 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

3 Excedente do produtor
Em resumo, o excedente do produtor, em um mercado de bens, consiste no somatório das
diferenças entre o valor que os vendedores, que determinam a oferta, recebem ao realizar suas
vendas, e o custo de ofertar estes bens. Caso os ofertantes consigam efetuar vendas que suplan-
tem os custos de produção, este lucro extraordinário será o excedente do produtor (PINDYCK;
RUBINFELD, 2013).

Figura 4 – Excedente do produtor


Preço (P)

Pe

EP

D
Qe Quantidade (Q)
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

Sabemos que, pelos mecanismos de mercado, o preço de equilíbrio se dará quando a oferta
se igualar à demanda. Contudo, na área sombreada em amarelo e denominada “EP”, se os produ-
tores venderem seus bens a um valor acima dos custos de produção (ou seja, acima da curva de
oferta), eles estarão captando um lucro extraordinário, que denominamos excedente do produtor.
A área do triângulo sombreado representa as receitas adicionais que os produtores percebem
na venda de seus produtos a um preço diferenciado – que deve ser superior aos custos de produção!

FIQUE ATENTO!
Em situações de concorrência perfeita, quando o mercado não sofre qualquer tipo
de regulação ou intervenção do Estado, a demanda e oferta tendem a convergir e
manter o equilíbrio, ainda que perturbações eventuais comprometam este sistema
nos diferentes mercados de bens.

A verificação dos excedentes do produtor e do consumidor é um aspecto de utilidade para


avaliarmos as tendências de um mercado em termos de bem-estar e de satisfação de consumi-
dores e produtores (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

– 129 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
A intervenção do Estado, através da regulação do mercado e da adoção de impostos,
pode ser danosa para os excedentes do consumidor e do produtor, levando a uma
queda de bem-estar e também da eficiência do funcionamento do mercado de bens
sob regime de concorrência perfeita. Você pode consultar maiores informações a
respeito do cálculo dos efeitos de um imposto sobre a oferta e a demanda, com
o uso de ferramentas mais aprimoradas, como integrais, através do trabalho de
Guilherme Pereira de Freitas, “A integral e o cálculo do peso morto de um imposto”,
que está disponível através do link: <http://www.mat.unb.br/grad/aulas/cadernos_
calculo/calculo1/docs/pesomorto.pdf>.

Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• verificar que os consumidores, em algumas situações, estão dispostos a pagar preços


acima da média de mercado, preço este denominado preço de reserva;
•• ver que a satisfação dos consumidores ao adquirir determinados bens, ainda que a um
preço maior que a média e a receita resultante destas operações, determina o exce-
dente do consumidor;
•• entender que o excedente do produtor é dado quando as empresas conseguem ven-
der seus produtos a um preço superior a seus custos de produção, obtendo lucros
extraordinários.

Referências
FREITAS, Guilherme Pereira. A integral e o peso morto de um imposto. 2004. Disponível em:
<http://www.mat.unb.br/grad/aulas/cadernos_calculo/calculo1/docs/pesomorto.pdf>. Acesso
em:18 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

VARIAN, Hal R. Microeconomia – uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

– 130 –
TEMA 19
O processo de discriminação de preços
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, você estudará um tópico da Microeconomia que aborda a relação entre produto-
res e vendedores em um mercado de bens: a discriminação de preços.
Sabendo que a oferta e a demanda por bens em um mercado são dadas pelo equilíbrio de
preços e quantidades, você verificará algumas possibilidades nas quais vendedores e consumido-
res acessam mercadorias a preços diferenciados em relação a esse preço de equilíbrio.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• entender o objetivo da discriminação de preços;


•• identificar os diferentes graus de discriminação de preços.

1 Discriminação de preços de primeiro grau


Na relação entre consumidores e produtores no mercado, você observa que, nem sempre,
este mercado opera em concorrência perfeita, ou seja, com empresas pequenas que não têm
capacidade de alterar os preços de mercado e onde o equilíbrio entre oferta e demanda é obtido a
determinados preços e quantidades de bens.
Na vida real, cada empresa possui certo poder de mercado em função de vários fatores,
como o volume de suas vendas, a proximidade e fidelização de seus clientes etc. Esta situação faz
com que as firmas que possuam poder de mercado tenham por objetivo a maximização de seus
lucros para além da identidade (lucros = receitas – despesas).
Estas políticas de maximização de lucros, conhecidas também como práticas de discrimi-
nação de preços, geram a transferência de parte do excedente do consumidor para o produtor.
Você sabe o que é o excedente do consumidor?
Consiste em um montante de recursos gerados por decisões de compra de alguns consumi-
dores a preços acima dos de equilíbrio. Esta situação ocorre, por exemplo, quando adolescentes
se dispõem a pagar mais caro por um ingresso de um show em pré-venda para terem a satisfa-
ção de ser os primeiros consumidores a adquirir este produto. Eles estão dispostos a adquirir o
produto a um preço maior em vista da satisfação que sua aquisição oferece, até um determinado
limite, denominado preço de reserva. Deste modo, os produtores, apreendendo esta informação,
podem fixar seus preços acima dos preços de mercado e captar para si estes recursos adicionais,
maximizando seus lucros.

– 131 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 1 – Fãs e demanda pelos serviços de um cantor

Fonte: Debby Wong/Shutterstock.com

SAIBA MAIS!
Assim como o excedente do consumidor é calculado pela área acima da linha de
preço e abaixo da curva de demanda, o excedente do produtor é calculado a partir
da curva de oferta. Trataremos nesta aula, porém, especialmente do excedente do
consumidor.

Em linhas gerais, a discriminação de preços de primeiro grau ocorre quando as empresas,


conhecedoras o quanto possível do preço de reserva dos seus consumidores, aplicam-lhes esses
preços, que são os valores máximos que eles estão dispostos a pagar pelo bem, como menciona-
mos anteriormente no caso do lançamento do telefone celular.

FIQUE ATENTO!

Em condições reais, é praticamente impossível à empresa saber todos os preços de


reserva de seus consumidores!

2 Discriminação de preços de segundo grau


Ocorre quando a firma produtora consegue obter preços diferenciados dos consumidores
em função das quantidades de bens ou serviços que elas adquirem e de seu preço de reserva. Em
outras palavras, os consumidores são separados por faixas de consumo e cobrados mediante
esta variável (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

– 132 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

EXEMPLO
Em algumas cidades do Brasil, a tarifa de uso de energia elétrica é calculada com
base na utilização das famílias: um preço mais baixo é cobrado por aqueles que uti-
lizam até 100 kwh/mês, subindo para aqueles que usam até 200 kwh/mês, dentre
outras faixas. Cobrar preços diferenciados, além de captar o excedente do consu-
midor, incentiva, ao menos em teoria, o consumo consciente.

3 Discriminação de preços de terceiro grau


Aqui, os consumidores diferem não apenas em função das quantidades que têm preferência
por adquirir. Há uma separação pelo seu perfil com a criação de novas curvas de demanda e suas
estruturas correspondentes.

Figura 2 – Aviação executiva e consumidores de alta renda

Fonte: Mikhail Starodubov/Shutterstock.com

Haverá, deste modo, quantidades diferentes de bens sendo vendidas a preços diferentes con-
forme cada curva de demanda: a firma, assim, consegue aumentar receitas e maximizar lucro
ordenando consumidores pelas suas preferências (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

EXEMPLO
Algumas operadoras de cartões de crédito ofertam seus produtos segmentando-
-os por perfil de cliente e sua presumida demanda: cartões para o público jovem
e universitário possuem anuidades baratas e limites de crédito bastante restritos,
com poucos serviços adicionais. Para um público cuja renda varie entre cinco a
dez salários mínimos há limites maiores e outras comodidades, como pontuações
diferenciadas, além de uma anuidade mais cara.

– 133 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Para rendas superiores a vinte salários mínimos, há os chamados segmentos ex-


clusivos cuja anuidade, além de bem mais cara, acompanha uma cesta de serviços
mais completa (como reserva de carros, passagens aéreas, aconselhamento de
viagem/concierge, entre outros).

4 Discriminação intertemporal de preços


Esta prática também separa os consumidores pelo perfil de demanda, porém, não como no
caso anterior, em que as vendas são realizadas ao mesmo tempo. No processo de discriminação
intertemporal, os consumidores, que são mais indiferentes a adquirir um produto a um preço superior
ao de mercado, serão atendidos preferencialmente. Esses consumidores estão dispostos a adquirir
esse bem ainda que seu preço seja superior ao de mercado, desde que este preço seja inferior ao seu
de reserva, ou seja, inferior ao maior valor que eles estão propensos a pagar por este bem.

Figura 3 – Cliente demanda um produto imediatamente


ÇÃO
MO
PRO

Fonte: Jethita/Shutterstock.com

Posteriormente, serão atendidos os clientes cuja demanda reage mais fortemente a mudan-
ças de preços, com a oferta do mesmo bem, porém sob condições diferenciadas.
Considere, como exemplo, o lançamento de um modelo de telefone celular. Haverá, nos pri-
meiros dias, uma corrida às lojas para a aquisição a preços possivelmente maiores que a média
de mercado. Posteriormente, promoções, parcelamentos e versões menos aprimoradas daquele
aparelho serão lançadas para tentar captar os consumidores que são mais elásticos ao preço
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

– 134 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
Você pode obter informações sobre processos de discriminação de preços no setor
aéreo através da monografia de André Arruda Daier, “Análise de estratégias de diferen-
ciação de preços em companhias aéreas através de modelos baseados em agentes”,
disponível em:<http://pro.poli.usp.br/wp-content/uploads/2013/04/TF-v15.pdf>.

5 Discriminação com preços de pico


As empresas usam uma fórmula de diferenciação de preços com base nos perfis de con-
sumo e em momentos específicos (sejam de minutos ou meses do ano) em que este consumo é
mais elevado. Nestes momentos, quando o consumo de um bem ou serviço atinge “picos”, o preço
se ajusta a esta realidade com a cobrança de “preços de pico” para o mesmo bem.
Esta situação pode ser observada, por exemplo, em hotéis, pousadas ou colônias de férias
que operam em baixa temporada com um determinado valor para a diária e, na alta temporada,
aumentam os preços, ainda mais nas datas como natal e ano novo, quando a demanda é altíssima
e hóspedes somente são aceitos mediante a compra de pacotes a preços muito superiores que
os de baixa temporada.

6 Discriminação em duas partes


Você observa a discriminação em duas partes quando as decisões de consumo de um
cliente são separadas em momentos distintos, mas não se dissociam, como no caso da discri-
minação intertemporal, em que ele pode consumir o bem de acordo com sua elasticidade-preço
da demanda. Neste caso, trata-se da compra de dois bens que não se dissociam, ou quando o
consumo de um bem está ligado ao consumo de outro, como no caso de um parque de diversões
onde a entrada é cobrada e o uso dos brinquedos é tarifado separadamente.

Figura 4 – Parque de diversões e discriminação em duas partes

Fonte: Artisticco/Shutterstock.com

– 135 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Veja que, neste caso, os lucros totais da empresa são compartimentados em duas fases,
cada uma em função da tarifa inicial. O primeiro componente de lucro representa os lucros gera-
dos pela tarifa de entrada (se o preço for muito alto, haverá pouca demanda de ingressos). Por sua
vez, o elemento lucro de atrações faz menção aos lucros gerados pelas vendas do segundo bem,
no caso, os brinquedos dentro do parque, a certo nível de preços. Deste modo, a empresa poderá
maximizar seus lucros conforme possa verificar quais os pontos máximos de receita a partir da
demanda por cada um dos elementos que compõem a sua oferta (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIQUE ATENTO!
Apesar de realizar discriminação de preços visando à maximização de lucros, estes
tenderão a cair caso o preço dos bens e serviços se eleve, conforme os mecanis-
mos de regulação entre oferta e demanda.

7 Demanda cruzada
Há situações em que as firmas não conhecem o perfil da demanda de seus consumidores
adequadamente e essa heterogeneidade pode afetar uma política de discriminação de preços.
Deste modo, opta-se por realizar uma venda conjunta, de dois ou mais bens, explorando-se de
forma total os excedentes do consumidor através dos preços de reserva que cada um possui em
relação a um determinado bem. Exploram-se, com isso, as demandas por diferentes tipos de bens
dentro de uma mesma empresa, maximizando o seu lucro. Esta situação ocorre, por exemplo, atra-
vés da venda de pacotes de programação de TV e internet pelas operadoras de telecomunicações.
A operação de venda em pacotes permite ao produtor explorar grupos maiores de consumidores,
sejam os que não têm um perfil de uso constante de TV e demandam mais internet, ou os que
demandam mais serviços de TV e pouco consumo de internet.

Fechamento
Nesta aula, você teve oportunidade de:

•• verificar que as empresas que possuem algum grau de poder de mercado e influência
junto ao seu público consumidor praticam discriminação de preços com o objetivo de
maximizar receitas e lucros;
•• entender que a discriminação de preços se dá de diferentes maneiras, visando captar o
excedente do consumidor;
•• saber que as empresas, inclusive, separam seus clientes pelo seu perfil de demanda,
como forma de oferecer bens e serviços ao preço que eles estão dispostos a pagar,
assim obtendo receitas adicionais.

– 136 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Referências
DAIER, André Arruda. Análise de estratégias de diferenciação de preços em companhias aéreas
através de modelos baseados em agentes. Monografia (Graduação em Engenharia de Produção)
– Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2012. Disponível em: <http://pro.poli.usp.br/
wp-content/uploads/2013/04/TF-v15.pdf>. Acesso em: 25 dez. 2016.

PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

– 137 –
TEMA 20
A propaganda e sua relação
com lucro e custo
José Tadeu de Almeida

Introdução
Nesta aula, você estudará um tema importante para o funcionamento dos mercados: o pode-
rio da propaganda! Sabemos que ferramentas de marketing e divulgação de produtos são funda-
mentais para promover esses bens junto ao público consumidor.
No entanto, cabe realizarmos uma análise mais amplapara verificar o impacto das ações de
propaganda sobre as preferências dos consumidores, as vendas da empresa e o funcionamento
do mercado.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender como a propaganda altera o lucro e o custo da empresa.

1 A propaganda e a demanda
Na relação entre produtores e consumidores em um mercado de bens, você pode perceber
que certas firmas se destacam mais em relação ao seu poder de mercado: elas possuem uma
performance melhor do que outras. Isto pode ocorrer por diversas razões, seja por um volume
bruto de vendas maior; por uma localização privilegiada junto ao seu público; pelo uso de tecno-
logias especiais que permitam diferenciar algumas características do bem que ela fabrica; ou por
venderem mais barato; etc.
Assim, uma variável importante na relação entre consumidores e vendedores para impulsio-
nar as vendas é a propaganda. Expressão oriunda do latim cujo significado é “algo para ser espa-
lhado”, a propaganda influencia o comportamento do mercado eo desempenho de uma empresa
na relação com seus clientes, através das vendas e o retorno adicional que ela pode receber na
forma de lucros.

– 138 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Figura 1 – A propaganda nos tempos modernos

Fonte: Inspiring/Shutterstuock.com

SAIBA MAIS!
No Brasil, as primeiras empresas voltadas à propaganda, como as agências de publi-
cidade, surgiram no início do século XX, como você pode verificar no artigo de Emily
Furtado Severino, Natália Moura Gomes e Samila Vicentini, “A história da publicidade
brasileira”. Disponível em:<http://legacy.unifacef.com.br/rec/ed09/ed09_art02.pdf>.

Antes de você verificar o impacto da propaganda sobre o desempenho da empresa, é impor-


tante saber que adecisão de adquirir um produto é dos consumidores, que realizam a demanda
por esses bens. Por outro lado, saiba também que as empresas que produzem esses bens deter-
minam a oferta.
Você observa a relação entre oferta e demanda no gráfico a seguir:

Figura 2 – Oferta e demanda


Preço (P)

Pe

Qe Quantidade (Q)
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.

– 139 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Observe, portanto, que o equilíbrio se dá a partir da oferta e da demanda, quandodeterminado


preço de equilíbrio corresponde a certa quantidade de bens que as empresas repassam a seus
clientes. Neste sentido, a propaganda tem a capacidade de alterar a composição da demanda.
Esforços de marketing podem gerar impulsos nas vendas, tornando o produto mais atraente aos
consumidores e modificando as suas preferências de compra. Deste modo, a demanda é influen-
ciada positivamente pela propaganda através do aumento das quantidades de bens adquiridas
pelos consumidores.
Pelo lado da oferta, a propaganda gera um aumento do poder de mercado dos produtores, o
que abre espaço para eventuais reajustes de preços para além do preço de equilíbrio. Em outras
palavras, a propaganda permite ao produtor explorar o preço de reserva dos consumidores, que é
o preço máximo que eles estão dispostos a pagar para adquirir o bem transacionado no mercado,
por vezes até acima do preço de equilíbrio. Deste modo, uma empresa que possua certo poder
de mercado, baseado em sua capacidade de alterar os preços de um bem e, ainda assim, criar
demanda para ele, poderá apostar na propaganda como uma fonte de lucros adicionais.
Agora, você vai verificar o comportamento da demanda e do lucro quando uma empresa
decide desenvolver ações de propaganda para promover seu produto e incentivar sua demanda
em um mercado de bens. Neste sentido, observe o gráfico que segue.

Figura 3 – Empresas e propaganda

Preço (P)

Pe’

Pe

D’

D
Qe Qe’ Quantidade (Q)

Fonte: elaboradapelo autor, 2016.

Com base neste gráfico, observe que, através do esforço de propaganda, a estrutura de
demandada firma altera-se. A propaganda interfere positivamente sobre a demanda cuja curva se
desloca para a direita, e sobre o preço dos produtos transacionados em uma firma que invista na
promoção de seu produto.
Deste modo, as receitas da firma (formadas pelo produto do Preço * Quantidade) aumen-
tarão e, através do aumento de preços, a receita média – obtida para cada unidade vendida do
produto – também aumentará.

– 140 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Por outro lado, haverá um incremento das receitas marginais e médias por conta do novo
volume de quantidades demandadas, definidas por Qe’, vendidas a um preço maior, Pe’.
Em estruturas de monopólio (em que apenas uma empresa controla todo o mercado), a pro-
paganda se destina apenas ao aumento de vendas e não à promoção do produto, já que apenas
uma empresa produz aquele bem.

FIQUE ATENTO!
Sob regimes de monopólio, geralmente o funcionamento de empresas concorren-
tes é dificultado, por barreiras legais ou econômicas (necessidade de altos investi-
mentos e retorno em longo prazo, por exemplo).

E, em estruturas de oligopólio, em que poucas empresas controlam a maioria do mercado,


esforços de propaganda são determinantes para melhorar a posição destas empresas no mercado.

EXEMPLO
As quatro principais empresas aéreas que operam voos domésticos (ou seja, den-
tro do território nacional) controlam 98% do mercado (ABRACORP, 2016). As três
primeiras colocadas diferem uma da outra em termos de vendas em menos de 1%.
Deste modo, elas precisam investir agressivamente em publicidade para atrair mais
clientes e aumentar sua fatia de mercado.

O lucro correspondente à operação de propaganda equivale à área sombreada em azul que


você vê no gráfico “Empresas e propaganda”. Nesta área, as vendas efetuadas pela firma estão
dadas sob uma nova condição de equilíbrio, dado o deslocamento da curva de demanda, e são
gerados lucros extraordinários.

FIQUE ATENTO!
Atualmente, o desenvolvimento das teorias da publicidade levou a gestão da propa-
ganda para ser aplicada também como uma política de gestão executiva nas em-
presas. Marcas de bens, hoje em dia, são vistas como ativos, como bens, e tratadas
como tal por meio de mecanismos de gestão de marcas, conhecidos como branding.

2 A propaganda e o custo
Tratando-se de uma operação no mercado, a propaganda representa um custo que deve ser
absorvido pelas empresas. Portanto, a pergunta que elas devem levar em consideração é: qual o
valor ideal a ser aplicado em propaganda para maximizar as receitas e lucros?
A propaganda, por fazer parte da estrutura de custo das empresas, também é um custo, e
fixo – sendo dividido igualmente pela quantidade de bens produzidos. Desta forma, uma firma que

– 141 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

utilize parte de seus recursos com propaganda terá sua estrutura de custos reajustada para cima:
os custos médios sofrem um incremento, pois a publicidade do bem implica custo de divulgação,
marketing, gestão de marcas etc.

EXEMPLO
Suponha que uma firma venda um milhão de canetas por mês a R$ 1,00 cada uma,
gerando assim uma receita bruta de um milhão de reais. Seu custo de produção é
de R$ 0,95; de modo que assim são empregados 950 mil reais na produção mensal.
Caso a firma desenvolva um esforço de marketing no valor de R$ 10 mil ao mês, o
custo total de produção se elevará a R$ 960 mil para a mesma produção, de forma
que o custo fixo da caneta, antes do esperado aumento da demanda, será de R$ 0,96.

Sabemos que a receita total de uma empresa que utiliza propaganda está relacionada ao
preço e às quantidades vendidas mediante um gasto em propaganda, deduzidos os custos gerais
e o custo da propaganda. Assim, observe que uma ação de publicidade irá potencialmente elevar
as receitas e custos totais mediante o aumento das vendas.

FIQUE ATENTO!
O custo da publicidade é embutido no preço que pagamos por um bem. Por exemplo,
marcas reconhecidas no mercado investem pesadamente em publicidade para não
perder clientes para a concorrência e esse custo é incorporado ao preço final dos
produtos.

Veja também que um aumento amplo da produção elevará demais os custos da firma, até
que não se torne viável à empresa continuar produzindo, apesar de todos os gastos em publici-
dade que ela faça – basta imaginar que as máquinas quebram se forem exigidas além do limite.
Deste modo, a decisão da empresa no sentido de quanto aplicar em publicidade deve ser até o
ponto em que as receitas adicionais geradas pela decisão de efetuar propaganda se igualem aos
custos gerados por este esforço.
Deste modo, como a propaganda representa um custo fixo, o limite de gastos da firma com
este esforço deve ocorrer até o ponto onde o aumento das receitas através da propaganda seja
proporcional ao aumento dos custos. Acima deste patamar, a empresa poderá, inclusive, ter preju-
ízos por divulgar demais o seu produto!
Se a demanda é muito sensível à publicidade, de modo que a propaganda aumente muito as
vendas de um bem, ou se a demanda não reage muito negativamente a mudanças do preço de um
bem, a empresa pode e deve fazer o máximo de publicidade de si própria.

– 142 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

SAIBA MAIS!
O excesso de propaganda pode gerar um impacto reverso nas receitas das empre-
sas. Em meados do século XX, produtores de leite dos Estados Unidos, preocupa-
dos com as baixas receitas provenientes do setor, lançaram-se em uma política de
altos gastos com publicidade, que reverteu, por um tempo, a conjuntura de queda.
Porém, os esforços de propaganda continuaram altos e a demanda passou a não
ser correspondente aos gastos em publicidade (em 2013, a queda na demanda foi
de 1%), de modo que, nos últimos dois anos, novos trabalhos de publicidade foram
criados, focando nos benefícios das proteínas do leite.

Principalmente para o segundo caso, quando o impacto dos preços sobre a demanda é
pequeno, a empresa deve gastar mais com propaganda, dado que a receita decorrente dessas ven-
das será positiva – haverá espaço na estrutura de custos da empresa para lucros extraordinários!

Figura 4 – A propaganda como impulsora de vendas de uma empresa

Fonte: Elnur/Shutterstock.com

Fechamento
Nesta aula, você teve oportunidade de:

•• verificar que a propaganda, nas empresas, é uma variável importante de incentivo a


maiores receitas e lucros;
•• entender que o gasto com propaganda deve ser racionalizado, no mínimo, ao ponto de
incentivar a demanda de maneira igualmente proporcional.

– 143 –
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA I

Referências
Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas – ABRACORP. Segmento Aéreo Nacio-
nal – Bilhetes emitidos e vendas – 3º trimestre de 2016. 2016. Disponível em <http://abracorp.org.
br/wp-content/uploads/2016/10/Aereo-Nac-bilhetes-e-vendas-1.pdf>. Acesso em: 24. dez. 2016.

MILKPOINT. Campanha promocional dos EUA muda famoso slogan “GotMilk?” para “Milk Life”.
26 fev. 2014. In: Ad Age. Disponível em:<https://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lac-
teo/campanha-promocional-dos-eua-muda-famoso-slogan-got-milk-para-milk-life-87814n.aspx>.
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