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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA - LABORATÓRIO DE QUÍMICA TECNOLÓGICA

LABORATÓRIO Nº2 – DETERMINAÇÃO DA DUREZA DA ÁGUA

Tradicionalmente, a dureza da água foi definida em termos da capacidade de cátions


presentes na água trocarem com os íons sódio e potássio dos sabões e formarem com
os respectivos ânions sais pouco solúveis. Muitos cátions multicarregados compartilham
essa propriedade indesejável. Em águas naturais a concentração dos íons cálcio e
magnésio, geralmente, excedem em muito a concentração de qualquer outro íon.
Consequentemente, a dureza da água é agora expressa em termos da concentração de
carbonato de cálcio equivalente à concentração total de todos os cátions multivalentes
presentes na amostra.

Origem da dureza de uma água

A dureza de uma água tem origem natural por contato da água com o solo, onde a presença de
dióxido de carbono dissolvido na água provoca a dissolução de sais pouco solúveis, como
carbonato de cálcio e o sulfato de cálcio, tornando a água mais dura.

A dureza da água pode também ter origem artificial no decurso do tratamento realizado nas
Estações de Tratamento de Águas com vista ao ajuste do pH da água destinada a consumo.
Neste tratamento a água é, por exemplo, posta em contato com calcário (carbonato de cálcio),
por forma a reduzir a quantidade de dióxido de carbono dissolvido na água, e assim aumentar
o seu pH.

CaCO3 (s) + H2 O(l) + CO2 (aq) → Ca(HCO3 )2 (aq)

2+ 2+ 2+
Muitas águas contêm os cátions Ca , Mg e Fe , que vêm acompanhados dos ânions
carbonato, bicarboneto, cloreto e ou sulfato. É a quantidade de cátions, principalmente de
cálcio e magnésio, que determina a dureza da água.

Exemplos de efeitos indesejáveis provocados pela dureza da água:

a) Dificuldade de formação de espuma do sabão

Numa água dura diminui a formação de espuma e a eficiência da lavagem devido à


formação de um composto pouco solúvel, denominado escuma, que resulta da combinação
dos cátions cálcio e magnésio presentes na água com os ânions provenientes do sabão.
2+ +
2NaC17 H35 COO(aq ) + Ca (aq ) → Ca(C17 H35 COO)2 (s) + 2Na (aq)

2+ +
2NaC17 H35 COO(aq ) + Mg (aq ) → Mg(C17 H35 COO)2 (s) + 2Na (aq)

Como estes ânions do sabão formam agregados (micelas) com a sujidade mantendo‐a em
solução, então, ao serem removidos da solução por precipitação a eficiência do sabão na
lavagem diminui.

Para além dos efeitos ao nível da eficiência da lavagem, refira‐se ainda que, como a
escuma é insolúvel e pegajosa, agarra‐se às fibras dos tecidos tornando a roupa áspera e
mancha as superfícies das banheiras e lavatórios.

Outros cátions, como por exemplo, ferro, manganês e zinco, podem precipitar o sabão; porém,
geralmente estão presentes na água na forma de complexos, frequentemente com
constituintes orgânicos, e sua participação na dureza da água é mínima.

b) Formação de incrustações:

A água dura provoca a formação de incrustações calcárias em variadíssimos equipamentos,


ferros de engomar, máquinas de lavar, trocadores de calor, caldeiras e radiadores. As
incrustações calcárias formadas, que revestem as superfícies dos sistemas de
aquecimento, dificultam as transferências de energia para a água lá colocada resultando
numa redução da eficiência do aquecimento e podem inclusive provocar a sua
deterioração e até eventualmente aumentar o risco de explosão, devido ao
sobreaquecimento das partes metálicas dos mesmos.

A determinação da dureza da água é um teste analítico de grande utilidade que fornece uma
medida da qualidade da água para uso doméstico e industrial. O teste é importante para a
indústria porque a água dura, após aquecimento, precipita carbonato de cálcio que provoca
entupimento nas tubulações. A dureza da água pode ser temporária ou permanente. A
dureza temporária é devida aos bicarbonatos de cálcio e magnésio que, quando a água é
fervida, se decompõem com a precipitação dos respectivos carbonatos. A dureza residual,
devida aos cloretos e sulfatos, que não é eliminada por ebulição, constitui a dureza
permanente. A dureza total da água é a soma das durezas temporária e permanente e é
expressa em mg/L ou μg/L de carbonato de cálcio.

Tabela 1: Classificação da água quanto a dureza expressa em ppm de CaCO 3 (Fonte: ROCHA;
ROSA E CARDODO, 2004)

Dureza em mg/L (ppm) de CaCO3 Classificação da água


<50 Águas moles

50 a 100 Águas moderadamente moles

100 a 150 Águas levemente duras

150 a 250 Águas moderadamente duras

250 a 350 Águas duras

>350 Águas muito duras

A determinação da dureza da água é feita por titulação com EDTA após a amostra ter sido
tamponada em pH 10. O magnésio, que forma o complexo menos estável em relação aos
cátions multivalentes presentes na água, não é titulado enquanto não for adicionado EDTA
suficiente para complexar todos os outros cátions presentes. Conseqüentemente, um indicador
para cálcio como o Eriocromo T ou a Calmagita é adequado para essa titulação.

A dureza da água é normalmente expressa em termos de concentração de CaCO3 (mg/L) e


2+ 2+
definida em termos de Ca e de Mg já que estas duas concentrações excedem a dos outros
cátions.

Nesta experiência, a dureza vai ser medida através da titulação de várias amostras de água,
tendo como base o método que prova que uma solução composta por água e quelatos solúveis
de cálcio e magnésio, formados pelo ácido etilenodiaminotetracético e os seus sais de sódio,
quando em contato com uma pequena quantidade de indicador Negro de Eriocromo T muda a
sua cor para púrpura.
No entanto, quando esta solução é titulada com EDTA, o cálcio e o magnésio são complexados
e a substância passa a apresentar uma cor azulada.

Abrandamento ou amolecimento da dureza da água

As técnicas mais usadas para a remoção da dureza da água, que é a retirada principalmente
2+ 2+
dos íons Ca e Mg , são abrandamento pela cal (carbonato de cálcio), troca iônica e
separação por membranas.

Troca Iônica

A resina de troca iônica é uma matriz insolúvel com aproximadamente 1-2 mm de diâmetro,
produzida a partir de polímeros orgânicos. O processo consiste em trocar íons de sódio por
2+ 2+
íons de Ca e Mg , o que reduz a dureza da água. As resinas de troca iônica mais comuns
são derivadas de Poliestireno. Há quatro tipos de resina de troca iônica:

- Resina Aniônica Forte: Todas as resinas aniônicas fortemente básicas retiram ânions fortes e
fracos, tais como bicarbonatos, silicatos, cloretos, sulfatos e nitratos.

- Resina Aniônica Fracamente Básica: Estas resinas só retiram ânions fortes, tais como sulfato,
cloreto e nitrato, não removendo ânions fracos, como os bicarbonatos e silicatos.

- Resina Catiônica forte: Estão normalmente na forma de sal de sódio quando são usadas para
abrandamento de água ou na forma de hidrogênio quando utilizadas para descarbonatação ou
desmineralização da água.

- Resina Catiônica Fracamente ácida: São usadas para retirada de cálcio, magnésio, e sódio
ligados somente ao ânion fraco, como o bicarbonato. Essa resina é utilizada apenas em água
com dureza temporária predominantemente elevada.

Geralmente os sistemas de abrandamento de água usam resinas catiônicas que trocam íons
principalmente de cálcio e magnésio por íons de sódio, prevenindo dessa maneira a formação
de precipitados de carbonato de cálcio. Uma vazão de água a ser abrandada percorre a
camada de resinas que se encontram na forma catiônica forte. Os cátions polivantes são
absorvidos pela resina e os íons de sódios são liberados como parte da troca iônica.

O local onde o fluido escoa na direção de uma barreira chamada meio filtrante é o filtro. A
porosidade do filtro possibilita que a partícula passe através do espaço de abertura do poro. Se
a porosidade do recheio for menor do que as partículas de água, estas ficarão retinas no
recheio. A figura 7 apresenta quatro recheios granulares. A granulometria do recheio está
disposta em ordem ascendente da esquerda para direita.

Figura 1: Recheio de filtro de diferentes granulações (Fonte: MEDEIROS, 2017).


Pela Cal

É utilizado o processo a base de cal (CaO) e carbonato de sódio, onde a cal é utilizada para
elevar o pH da água, fornecendo a alcalinidade necessária. O carbonato de sódio pode
fornecer a alcalinidade para reação e também os íons carbonato necessários. As reações
ocorridas provocam a precipitação dos íons cálcio e magnésio na forma de CaCO 3 e MgCO3,
segundo as seguintes reações:

CaO + H2O → Ca(OH)2

Ca(OH)2 + H2CO3 → CaCO3 + 2H2O

Ca(HCO3)2 + Ca(OH)2 → 2CaCO3 + 2H2O

Mg(HCO3)2 + Ca(OH)2 → 2CaCO3 + MgCO3 + 2H2O

MgCO3 + Ca(OH)2 → Mg(OH)2 +CaCO3

MgSO4 + Ca(OH)2 → Mg(OH)2 + CaSO4

CaSO4 + Na2CO3 → CaCO3 + Na2SO4

Separação por membranas

Processo de osmose reversa que consiste em fazer a água previamente filtrada passar por
dispositivo usualmente cilíndrico chamado “permeador”, onde os sais presentes na água são
retidos por membranas seletivas especialmente fabricadas.

Através do permeador a água pura é retirada radialmente, enquanto que a parcela de água não
permeada é descartada a uma concentração mais elevada de sais. Este fato constitui uma das
desvantagens do sistema, além do alto custo e da necessidade de se operar com vários
permeadores em paralelo para obtenção de uma vazão razoável.

Figura 8: Tratamento para a remoção da dureza da água por osmose reversa (Fonte:
MARTINELLI JUNIOR, 2013).
Referências:

INÊS, C.; SILVA, P. Determinação da dureza da água. Disponível em:


<https://web.fe.up.pt/~up201308548/anexos/final%20(2).pdf>. Acesso em: 29 de junho de
2020.

MARTINELLI JUNIOR, Luiz Carlos. Tratamento de água para caldeiras. Pato Branco: UTFPR,
2013. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/lcmartinelli1/gv-10-tratamento-de-
gua?from_action=save>. Acesso em 19 de julho de 2020.

MEDEIROS, Izana Manuela Araújo Ferreira. Abrandamento de água via troca iônica. Trabalho
de conclusão de curso para o título de engenheira química – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Natal: UFRN, 2017. Disponível em:
<https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/4078/4/Abrandamentodeaguas_Monogr
afia>. Acesso em 19 de julho de 2020.

ROCHA, C. J; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à química ambiental. Porto Alegre:


Bookman, 2004.

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