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CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DENDROMÉTRICO

DE POVOAMENTOS DE Eucalyptus grandis EM DIFERENTES IDADES

NA IFLOMA – MANICA

Silva Rassul Moreira*, Severino José Macôo², Edson Moisés Chilaquelane

Massingue³

Instituto Superior Politécnico de Gaza

*Autor correspondente: silvarassul@gmail.com

RESUMO

No sector florestal Moçambicano a caracterização do comportamento dendrométrico de


povoamentos de Eucalyptus sp tem sido motivo de grandes preocupações. Portanto, o
presente trabalho visa caracterizar o comportamento dendrométrico de povoamentos de
Eucalyptus grandis em diferentes idades. O conhecimento do comportamento florestal é
uma ferramenta importante para a melhor decisão quanto ao uso dos recursos florestais
para diferentes fins, bem como para a elaboração de planos de maneio nas plantações
florestais são necessárias informações referente à floresta sobre o comportamento de
crescimento. O estudo foi realizado nas plantações da IFLOMA em Bandula, distrito de
Manica. Para este estudo foram utilizados dados do inventário florestal contínuo (IFC)
oriundos de 6 parcelas permanentes de 0,125ha (50 x 25 m) em povoamentos de idades
diferentes, com idades variando entre 8, 9, 10, 13, 14 e 15anos de idade. Em cada
parcela, mediu-se o DAP, altura total e também foram avaliados o incremento médio
anual (IMA) em termo de DAP, altura, área basal e volume. Foi observado um
incremento médio anual (IMA) para DAP, altura, área basal e volume de 1.5726
cm/ano, 2.0930 m/ano, 1.3531 m 2 /ha/ano e 25,7513 m 3 / ha/ano, respectivamente. Em
ambas as parcelas observou-se uma tendência de crescimento em todos os parâmetros
dendrométricos (DAP, altura total, área basal e volume) das parcelas. Com base nos
resultado observado no presente trabalho, todas as parcelas estudadas apresentam bom
crescimento e adaptação às condições daquele local.
Palavras- chaves: Inventário Florestal, Caracteristcas dendrometricas, Incrementos,
Eucalyptos grandes.
1. INTRODUÇÃO

Moçambique, desde o seu descobrimento, foi objecto de desejo por ser um país repleto
de riquezas naturais. O primeiro recurso a chamar a atenção foi a madeira, que passou a
ser largamente desmatada, reduzindo drasticamente a percentagem de florestas no
território nacional.
Em busca de alternativas para atenuar a exploração das florestas nativas, foi estimulado
a plantação de espécies exóticas, como o Pinus spp, e Eucalyptus spp. [ CITATION
Lim06 \l 1033 ]. A implantação destas espécies tem demonstrado variadas possibilidades
de uso, rotação da cultura mais curta, óptima aplicação industrial e rápido crescimento e
bom mercado consumidor [ CITATION Far13 \l 1033 ].

A produção de florestas plantadas se apresenta como uma alternativa viável e com


potencialidade económica para produtores rurais considerando as condições de solo e
clima serem compatíveis a um pleno desenvolvimento, bem como o crescimento rápido,
a qualidade da madeira e o valor de mercado (Poltronieri et al., 2002) citado por
[ CITATION Alv15 \l 1033 ] . Porém, informações a respeito dessa espécie são escassas,
dificultando assim a sua implantação ou até mesmo fazendo com que seja evitada e
substituída por culturas mais conhecidas nacionalmente.

Em termos do desenvolvimento da espécie, uma informação importante é sobre o


crescimento em diâmetro desde a idade inicial até a idade de corte, pois fornece
subsídios para conhecer o volume de madeira por classe de diâmetro, ou seja, conhecer
o volume para multiprodutos.

Para fins de maneio, Barros (1980) citado por [ CITATION Alv15 \l 1033 ] afirmam que
conhecer a estrutura diamétrica de florestas é de grande relevância, visto que a idade
muitas vezes não é um parâmetro muito confiável, uma vez que estimar sua real idade
pode ser uma tarefa de difícil realização, principalmente em florestas nativas.

Objectivou-se em caracterizar o comportamento dendrométrico de povoamentos de


Eucalyptus grandis. em diferentes idades Na IFLOMA – MANICA, como forma de
conhecer o estado do crescimento actual dos povoamentos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estabelecimento e colecta de dados foram efectuados entre os dias 17 a 21 de Janeiro


de 2020. As parcelas foram estabelecidas aleatoriamente em seis (6) povoamentos de
idades diferentes para garantir a representatividade da amostra em termos de idade,
sendo 6 de Eucalyptus grandis. Os povoamentos foram seleccionados com auxílio de
um mapa das plantações fornecido pela IFLOMA, o qual continha informação sobre as
espécies plantadas em cada talhão, as datas de plantação e as respectivas áreas ocupadas
por cada talhão. Em cada povoamento estabeleceu-se uma parcela rectangular de
0,125ha (50 x 25 m), a uma distância mínima de 50 m em relação aos limites do talhão,
para evitar o efeito de bordadura. De modo a facilitar a orientação das medições, as
parcelas foram estabelecidas com o comprimento no sentido da orientação das linhas da
plantação. Os dados colhidos em cada parcela foi referente as seguintes características:
diâmetro à altura do peito (DAP) e altura (H). O factor de forma usado foi de 0,8 para
Eucalyptus grandis.

2.1. Análise de Dados

Os dados foram analisados na planilha electrónica Microsoft Office Excel 2010,


onde para cada parcela foram calculados os valores dos seguintes parâmetros:
número de árvores por hectare (N/ha); a área basal (G/ha); volume (V/ha), assim
como o incremento médio anual (IMA) em DAP, altura, área basal e volume
para cada espécie e idade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Condições gerais das parcelas permanentes
3.1.1. Densidade dos povoamentos

A densidade dos povoamentos foi expressa em termos de números de árvores por


hectare, que nos indica a quantidade média de indivíduos que podem ser encontrados
em uma unidade de área, como mostra a tabela abaixo.

Tabela 1: Espécie, densidade média inicial (na época do plantio) e densidade actual, e
sobrevivência das plantas em povoamentos de diferentes idades.

Densidade
Parcela Espécie Idade (ano) Inicial Actual Sobrevivência (%)
5.13 8 1111 728 65.5266
24.4 9 1111 424 38.1638
2.3 10 1111 520 46.8047
5.4 Eucalyptus
grandis 13 1111 432 38.8839
7.3b 14 1111 952 85.6886
4a1a 15 1111 520 46.8047
Media 1111.0000 596.0000 53.6454
CV (%) 0.0000 34.5647 34.5647

A densidade média inicial dos povoamentos foi de 1111 árvores por hectare e
actualmente conta com cerca de 596 árvores por hectare, o que corresponde a uma taxa
de sobrevivência média de aproximadamente 53.65%. A redução no número de árvores
actual em relação à inicial se deve a queda e morte das árvores, pois em todos os
povoamentos não foram realizados os desbastes. De acordo com a tabela 1, é possível
notar que a densidade actual mostrou um elevado coeficiente de variação enquanto a
densidade inicial. Este comportamento é justificado pelo facto destes povoamentos
serem de idades diferentes, o que resulta numa alta variação dos valores de densidade
devido a tendência de redução do número de indivíduos por queda e mortalidade à
medida que a idade aumenta.

De modo a reduzir o aumento do coeficiente de variação desses povoamentos,


recomenda-se a empresa a realizar o desbaste nos povoamentos, de modo a reduzir as
perdas económicas por queda e morte das árvores dentro dos povoamentos.

Os povoamentos têm idade compreendida entre 8 a 15 anos, e sua densidade entre 424 a
952 árvores por hectare. Esta densidade esta dentro dos padrões, mais ainda pode ser
reduzida por desbastes, de modo a alcançar a densidade final ideal para obtenção de
rendimentos elevados. Acerbi Jr. et al. (1999) analisando diferentes regimes de desbaste
verificou que, para uma densidade inicial de 1111 a 1667 árvores por hectare, pode se
realizar desbaste aos 12 e 14 anos. Assim sendo, a empresa pode adoptar qualquer um
dos regimes de desbastes acima apresentados, com vista a estimular o crescimento e
elevar os rendimentos dos povoamentos visto que esses povoamentos já possuem idade
ideal para a realização do desbaste.

3.2. Distribuição diamétrica por parcela

As figuras abaixo mostram os gráficos de distribuição diamétrica de cada parcela de


Eucalyptus grandis.
8 Anos 9 Anos 10 anos
300 180 140
160 120
250
140
100
200 120
100 80
150
Ni/ha

Ni/ha

Ni/ha
80 60
100 60
40
40
50 20
20
0 0 0
10 15 20 2 5 3 0 3 5
10

10
5

0
5 - 10 - 15 - 2 0 - 2 5 - 3 0 -
0-

-1

-2

-2

-1

-2

-2

-3
5-

5-
10

20

15

20

25
15

10
Classe diametrica (cm) Classe diametrica (cm) Classe diametrica (cm)

12 Anos 14 Anos 15 Anos


300
300 400
250
250 350
300 200
200
250
150
150
Ni/ha

200
Ni/ha

Ni/ha

150 100
100
100 50
50
50
0 0
0
5
0
5
0
5
0
10 15 20 25
-1
-2
-2
-3
-3
-4
5 - 1 0 - 1 5 - 20 -
5

10 0
15 5
20 0
25 5
0

10

20

35
15

25
30
0-
1
-1
-2
-2
-3
5-

Classe diametrica (cm) Classe diametrica (cm) Classe diametrica (cm)

Figura 1: Distribuição diamétrica do povoamento.


Observando os gráficos em ambos os povoamentos observa-se uma distribuição normal,
ocorrendo assim ausência ou redução de indivíduos nas classes inferiores, deslocamento
do pico central e surgimento de novas classes de diâmetro na medida que os
povoamentos crescem. Isto é, Observou-se que a distribuição diamétrica ao passar dos
anos, se comporta em uma taxa crescente, ou seja, os gráficos tendem a movimentar-se
para direita, atingindo cada vez mais novas classes diamétricas e demonstrando o
desenvolvimento do povoamento ao longo do tempo.

3.3. Principais parâmetros dendrométricos


Os parâmetros dendrométricos determinados no presente estudo foram os seguintes:
diâmetro a altura do peito (DAP), altura total, área basal e volume, esses parâmetros
melhor caracterizam os povoamentos florestais, na qual os mesmos foram
caracterizados por meio de curvas de crescimento em relação as idades.

Crescimento em diametro em função da idade Crescimento em altura em função da idade

30 35

25 30
25
20

Altura (m)
20
DAP (cm)

15
15
10
10
5 5
0 0
8 9 10 13 14 15 8 9 10 13 14 15
Idade (anos) Idade (anos)

Crescimento da área basal em função da idade Crescimento do volume em função da idade


30 700

25 600
500
20
400
Gi (m2)

V (m3)

15
300
10
200
5 100
0 0
8 9 10 13 14 15 8 9 10 13 14 15
Idade (anos) Idade (anos)

Figura 2: Curva de crescimento dos parâmetros dendrométricos dos povoamentos em


diferentes idades.

De acordo com as figuras acima, Pode se visualizar a tendência do crescimento em


ambos os parâmetros dendrométricos para o diâmetro altura do peito, altura total, área
basal e o volume em função da idade. Para ambos os povoamentos é notável que os
valores do diâmetro e altura aumentam com a idade do povoamento, e
consequentemente aumenta também a área basal e o volume.

As curvas de crescimento geradas para o diâmetro altura do peito (DAP) e altura, em


ambos os povoamentos apresentam um padrão crescente do crescimento, o qual
aumenta de acordo com a idade, o mesmo senário foi descrito por (Manga, 2011). Visto
que a altura é influenciada pela densidade o povoamento de 13 anos apresentou uma
tendência decrescente nas curvas de crescimento em todos os parâmetros, isto se
justifica pela sua baixa densidade e com uma baixa taxa de sobrevivência de 38.88 % e
o povoamento de 14 anos não apresentou um crescimento significativo em diâmetro,
isto é, o crescimento esteve estagnando devido a alta densidade deste povoamento, ao
passo que para os restantes parâmetros altura, área basal e volume o povoamento
demostrou um crescimento e povoamento de 15 anos apresentou crescimento em todos
os parâmetros apesar da sua idade.

3.4. Incremento médio anual para E. grandes

Nas tabelas abaixo estão apresentados os valores de IMA em DAP, altura, área basal e
volume por hectare dos povoamentos em cada idade, com as respectivas medidas de
precisão.

Tabela 2: Incremento médio anual (IMA) do DAP, da altura, da área basal (G/ha), e do
volume em diferentes idades e as respectivas medidas de precisão.

Idade (anos) DAP (cm) Altura (m) G/ha (m2) V/ha (m3)
8 1.4141 2.4955 1.0688 17.0697
9 1.9239 2.4587 1.2499 22.1267
10 1.9825 2.4809 1.8559 36.8352
13 1.3909 1.5520 0.8807 14.2151
14 1.1009 1.6294 1.4074 25.6850
15 1.6231 1.9415 1.6557 38.5759
Media 1.5726 2.0930 1.3531 25.7513
CV % 21.5572 21.1170 26.8926 39.1779

A tabela 2 acima, demostra que os povoamentos de E. grandis crescem em média


1.5726 cm/ano de diâmetro, 2.0930 m/ano de altura, 1.3531 m2 /ha/ano e 25,7513 m 3 / ha
/ano em volume respectivamente.

O valor de IMA do DAP nos povoamentos em estudo considera-se satisfatório


comparando com o valor encontrado por de Ribeiro (1995), Santos (2004) e Germano
(2005) que foi de 2,1 cm/ano, 1,8 a 2,3 cm/ano e 1,5 e 1,9 cm/ano respectivamente em
estudo de avaliação de crescimento nos povoamentos de Eucalyptus sp.

O incremento em altura é óptimo, comparando com o intervalo de crescimento em


altura dos Eucalyptus spp na sua região de origem apresentados por Lamprecht (1990),
que varia de 1,5 a 2 m/ano e os valores obtidos por Germano (2005) que estimou de 1,9
a 2,4 m/ano nas plantações de Eucalyptus sp em Inhamacari.

O incremento do volume encontrado neste estudo pode ser considerado de óptimo, visto
que se encontra no intervalo encontrado nas plantações de Eucalyptus apresentados por [
CITATION Lam90 \l 1033 ] que varia entre 3 a 37 m3/ha /ano e por apresentar bom
desenvolvimento mesmo em local que não é de origem.

4. CONCLUSÃO

A densidade de plantas por hectare dos povoamentos está elevada, pelo qual se
recomenda o desbaste. Houve uma redução do número de árvore entre a densidade
inicial e actual devido a mortalidade (árvores seca e caída). A distribuição diamétrica de
ambas idades foi do tipo normal, o que é típico de plantações florestais.

A análise da evolução da variável diâmetro médio e altura permitiu constatar a


estagnação do crescimento para todos os povoamentos de idade diferente, verificando-
se, de modo geral, baixa taxa de incremento, devido a intensa competição.

Na ausência de desbaste, a floresta de E. grandes de Bandula apresenta uma


produtividade média (IMA) em termos de área basal e volume por hectare por ano
estimado em 1.353 m 2/ha/ano e 25.7513 m3/ha/ano.

5. REVISÃO BIBLIOGRAFIA

Alvarenga, D.N., 2015. Avaliação do crescimento em diâmetro do mogno africano


Khaya ivorensis), implantado em Rive, município de Alegre – ES. JERÔNIMO
MONTEIRO ESPÍRITO SANTO: Universidade Federal do Espirito Santo Centro de
Ciências Agrárias.

Faria, M.F., 2013. Caracterização de produtores de eucalipto em Ervália – MG. Rio de


Janeiro, RJ.: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica.
Germano, R.C.A., 2005. Crescimento de Eucalyptus cloeziana aos 3 anos e 4 anos de
Idade na Plantação de Inhamacari. Maputo.: Tese de Licenciatura - DEF-UEM..

Lamprecht, H., 1990. Silvicultura nos Trópicos: ecossistemas florestais e respectivas


espécies arbóreas.

Lima, L.B., 2006. Madeira reflorestada e exportação.. Revista da Madeira.

Ribeiro, N. 1995. Seleção de arvores superiores de Eucalyptus camaldulensis Dehn na


Área de Produção de sementes em Ricatla. Província de Maputo. Tese de Licenciatura.
UEM/FAEF/DEF. Maputo.

Santos, S., 2004, Avaliação do crescimento dos clones de Eucalyptus na área


experimental do Projecto Mosa Florestal em Zitundo. (Tese de Licenciatura).
UEM/FAEF/DEF, Maputo

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