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Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC/CEAVI)

Curso: Engenharia Sanitária – Disciplina: Sociologia Urbana

Aluno(a): Lucas Paulo Tito Staloch

SOFISTICAÇÃO POLÍTICA E OPINIÃO PÚBLICA

Em que medida os cidadãos de uma democracia apresentam diferentes níveis de


apreensão da política? Há desigualdade no que se refere às suas capacidades para
acompanhar e compreender o que acontece? E por que isso importa?

O conceito de sofisticação política

O conceito de sofisticação política é central no debate sobre comportamento


eleitoral e opinião pública. O conceito refere-se, em termos gerais, ao entendimento que o
cidadão tem a respeito dos objetos e dos fatos do mundo da política. O papel central
atribuído à sofisticação política e a suas diferentes dimensões foi amplamente incorporada
no debate mais recente a respeito da capacidade dos indivíduos entenderem o que
acontece no mundo da política. Luskin (1990) propõe que um indivíduo seja considerado
politicamente sofisticado na medida em que tenha muitas informações sobre política e que
elas cubram uma ampla variedade de aspectos do mundo político, além de serem
altamente organizadas ou estruturadas. Dessa maneira entende-se que o conceito de
sofisticação política se desdobra em duas dimensões conceituais distintas. A primeira diz
respeito à quantidade de informações sobre objetos e fatos da política que o cidadão
possui. A segunda refere-se à habilidade que um indivíduo tem de organizar e integrar as
diversas informações políticas. A capacidade de conceituação e a adesão a ideologias
seriam elementos conceitualmente distintos do comportamento dos cidadãos, sendo que o
entendimento que o cidadão possui da política seria diretamente aferido através da
mensuração da primeira, e não da segunda. Seria crucial no estudo da opinião pública
distinguir entre os eleitores que analisam cuidadosamente as nuances dos assuntos
políticos ao chegaram a um posicionamento ideológico e aqueles que simplesmente
repetem clichês e assumem posições ideológicas de forma acrítica. Ambos poderiam ser
considerados “ideológicos” mas haveria diferenças substanciais nos níveis de sofisticação
política apresentados por cada um. Eleitores mais sofisticados não votam necessariamente
em candidatos diferentes dos eleitores menos sofisticados, mas eles votam levando em
consideração informações e critérios diferentes dos utilizados pelos eleitores menos
sofisticados.

A medida de sofisticação política

A sofisticação política tem sido medida por diversas estratégias nas principais
pesquisas de opinião pública. Elas variam de perguntas mais diretas (fechadas ou abertas)
sobre a posse de informações sobre política. A tabela 1 apresenta a proporção dos acertos
nessas questões, bem como as frases utilizadas e as alternativas de respostas fornecidas.
A constatação a partir da Tabela 1 depende das expectativas prévias que se tem
sobre qual é a proporção de acertos desejada. Contudo, ao analisar o conteúdo das
perguntas não é difícil concluir que nenhuma se refere a questões complicadas ou remotas
sobre o sistema político brasileiro. Pelo contrário, algumas perguntas podem ser
consideradas extremamente fáceis.

Os determinantes da sofisticação política

Questão pertinente é examinar alguns correlatos da aquisição de sofisticação política


e discutir brevemente os processos por meio dos quais os indivíduos desenvolvem tal
atributo. Ela traduz desigualdades socioeconômicas e demográficas de forma sistemática.
Indivíduos em posições mais centrais na sociedade têm maior propensão a reconhecer e
manipular os estímulos de natureza política. Rennó (2007), mostrou que as informações
políticas seriam distribuídas de forma desigual em Juiz de Fora e Caxias do Sul, e que isso
estaria associado tanto à desigualdade em atributos socioeconômicos dos cidadãos, como
renda, escolaridade, sexo e raça, quanto a fatores ambientais, isto é, à própria existência de
ambientes onde seria mais fácil informar-se sobre política.

PEREIRA, F. B. Sofisticação política e opinião pública no Brasil: revisitando hipóteses


clássicas. Opin. Publica, Campinas, v. 19, n. 2, p. 291-319, Nov. 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
62762013000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 15 out. 2019.

A opinião pública

A democracia é o regime em que os governantes são eleitos pelo povo e governam


de acordo com a opinião pública. Por isso a denominam também governo popular ou
governo de opinião. Convém, portanto, saber o que é opinião pública. Público quer dizer
“do povo, de uma sociedade, comum, geral”, afirmam os dicionários. Então, opinião pública
é a opinião do povo, a opinião geral, a opinião comum. Gabriel Tarde, o primeiro sociólogo
que estudou a fundo a opinião pública, assim define: “é um grupo momentâneo e mais ou
menos lógico de julgamentos que, respondendo a problemas propostos, em dado
momento, é partilhado por numerosas pessoas do mesmo país, do mesmo tempo, da
mesma sociedade”. Para ser pública é preciso que a opinião seja de todo o povo, de todas
as pessoas de um país, da unanimidade enfim? Se isso fosse necessário, não haveria nunca
opinião pública, em nenhum país, pois é absolutamente improvável, e talvez impossível,
que todos os habitantes de um país tenham a mesma opinião sobre qualquer assunto. Para
ser pública bastara então que seja a opinião da maioria? Na maior parte dos casos pode-se-
á considerar opinião pública a opinião da maioria; em muitas situações e assuntos, porém,
isso não seria verdadeiro. O problema é complexo. Quando, então, se pode considerar
opinião pública a opinião da maioria? Se a minoria se conforma com a opinião da maioria,
considerando-a de acordo com o sistema legal adotado, ainda que considere errônea, há
uma opinião pública. Em um Estado cuja população fosse formada de duas nacionalidades
distintas, estando uma sujeita à outra pela força, não haveria opinião pública.

Como se forma a opinião pública

Os sociólogos, os psicólogos e os verdadeiros políticos sabem que existe opinião


pública. A imensa maioria das nossas ideias, atitudes, afirmações e negativas, quase todas
elas, não são o resultado do raciocínio, e sim do nosso temperamento, do nosso caráter, da
nossa educação, das nossas crenças. Além disso recebemos e aceitamos opiniões feitas,
que nos vêm do meio social, dos livros que lemos, das pessoas do círculo em que vivemos,
e aderimos a essas ideias feitas como se as tivéssemos feito. Nem podia ser de outro modo,
porque não podemos absolutamente, por falta de tempo e de conhecimentos adequados,
raciocinar e concluir sobre todos os assuntos que nos interessam. Assim, fora do setor
limitadíssimo da especialidade em que cada um se aperfeiçoou, aceitamos as opiniões dos
outros, procuramos e fazemos nossa, e com razão, a opinião das pessoas competentes. Um
médico, um engenheiro, um advogado, um comerciante podem ter opiniões próprias,
pessoais, sobre os assuntos de sua profissão; em tudo mais, aceitam a opinião dos outros
especialistas. Os meios de formação da opinião pública são diversos e não seria possível
examinar todos. Mas há alguns típicos, gerais, que resumem todos os outros. Adaptemos
um exemplo descrito por Bryce (“La opinión pública”, pp. 1 a 37).

Um comerciário, ou bancário, ou funcionário público, pela manhã, antes de ir


trabalhar, ao tomar o seu café, lê no jornal que se cogita de estabelecer a pena de morte
para certos crimes graves. No momento, não dá maior importância ao assunto. No bonde
encontra um amigo, que é advogado, e numa conversa emite seu ponto de vista, contrário
ou favorável, à pena de morte. No espírito do nosso homem começa a esboçar-se um
germe de opinião. Á tarde, o vespertino que costuma ler inicia uma enquete e reproduz os
pareceres de um jurista e de um médico, em que vêm os argumentos pró e contra a
medida. No dia seguinte, entre seus colegas de trabalho, debate-se a questão e ele toma
parte na discussõ, expondo, dos argumentos que antes ouvira e lera, os que mais o
impressionaram. Passam-se alguns dias, e os jornais continuam a publicar entrevistas e
artigos. Um cinema aproveita a oportunidade e torna a exibir um filme em que o
personagem principal é acusado de ter assassinado um amigo, tem todos os indícios contra
se e é executado. Alguns anos depois verifica-se sua inocência. O nosso homem assiste ao
filme e sai profundamente impressionado. Acompanha agora com interesse os artigos e
entrevistas dos jornais, ouve conferências difundidas pelas estações de rádio, discute com
os amigos. Tem opinião formada sobre a pena de morte. E, como ele, dezenas e dezenas de
milhares de outros homens, no país inteiro, adotaram um ponto de vista sobre o assunto
que até então não os preocupara. E assim se formou a opinião pública pró ou contra a pena
de morte.

Vê–se, pois, que os diversos fatores que influem no espírito do indivíduo e da


sociedade para formar opinião são os variados modos de comunicação do pensamento: a
conversação, a imprensa, livros, discursos, conferências, o rádio, o cinema, etc. A
propaganda pode também determinar a formação de opinião pública. A propaganda veio,
assim, estender e facilitar o funcionamento da democracia, descobrindo métodos quase
irresistíveis de despertar a atenção e criar pontos de vista, de interessar o povo nos
assuntos políticos e habilitá-lo a pronunciar-se. Mas, ao mesmo tempo, ela é uma fonte de
desvirtuamento e corrupção da opinião, pois pode sonegar ou desfigurar os fatos, sugerir
falsos motivos, falsos desejos, falsas esperanças, e criar opiniões errôneas, injustas ou
simplesmente inúteis para o bem público.

AZAUMBUJA, D. Introdução à Ciência Política. 2. ed. São Paulo: Globo, 2008.

A partir do texto responda:

1) O que é sofisticação política?


R: O conceito refere-se, em termos gerais, ao entendimento que o cidadão tem a respeito
dos objetos e dos fatos do mundo da política.
2) Interprete a seguinte afirmação. “A capacidade de conceituação e a adesão a
ideologias seriam elementos conceitualmente distintos do comportamento dos
cidadãos, sendo que o entendimento que o cidadão possui da política seria
diretamente aferido através da mensuração da primeira, e não da segunda”.
R: Segundo a frase, pelo fato de o individuo estar sendo bombardeado por informações, a
capacidade de conceituação estaria ligado a quantidade de informações que o individuo
esta recebendo e não a habilidade que o individuo teria para organizar e interpretar as
diversas informações políticas.
3) Delli Caripini e Keeter (1996), analisando o eleitorado estadunidense, mostram que
quanto mais sofisticado um eleitor maior é sua tendência em ter opiniões. Em que
medida você concorda com essa afirmação? Justifique.
R: Concordo em partes, pois quanto maior for o grau de instrução da pessoa, a mesma
acaba por desenvolver melhor argumentos e opiniões mais sensatas a respeito de
determinado assunto, pois não deixa ser facilmente influenciada por informações errôneas,
porque busca se é verídico ou não a informação. Porém nem todas as pessoas que possuem
um grau de informação maior, por não gostar de determinado assunto, acaba por
concordar ou deixar levar-se pela opinião alheia.
4) Qual a sua avaliação dos resultados apresentados na tabela 1 e qual a relação com a
sofisticação do brasileiro de forma geral?
R: Segundo a tabela 1 apresentada no texto, é verificada que a grande maioria das pessoas
esta por dentro dos assuntos políticos, devido a ter acesso a informações em tempo real,
no qual facilita a formação da opinião pública, porem por esta facilidade de acesso a
informação, pode ocorrer desvirtuamento e corrupção da opinião, pois os fatos podem
aparecer de forma destorcida e errônea. O brasileiro nos últimos anos por ter facilidade de
acesso à informação acabou por se interessar ou mesmo acompanhar o cenário politico de
forma indireta, sendo assim mais participativo na política.
5) O que significa afirmar que “indivíduos em posições mais centrais na sociedade têm
maior propensão a reconhecer e manipular os estímulos de natureza política”?
R: Devido à informação politica ser distribuída de forma desigual estando relacionada à
desigualdade social, diferentes rendas, nível de escolaridade, sexo, raça e fatores
ambientais, faz com que ocorra essa desigualdade na passagem de informação.
6) Afinal, em que consiste a opinião pública?
R: A opinião pública é a opinião pessoal, sobre determinado assunto, de quase todos ou da
maioria de uma sociedade. Sendo assim a opinião pública norteia políticos para a tomada
de decisões para a sociedade a qual pertence.
7) Levando em conta o caso apresentado, que fatores são preponderantes para a
formação da opinião pública do brasileiro médio?
R: A formação da opinião pública do brasileiro está associada tanto à desigualdade em
atributos socioeconômicos dos cidadãos, como renda, escolaridade, sexo e raça, quanto a
fatores ambientais, isto é, à própria existência de ambientes onde seria mais fácil informar-
se sobre política.

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