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A RELAÇÃO DA AFETIVIDADE COM O PROCESSO DE APRENDIZAGEM1

Maria Auxiliadora Machado de Jesus2


Josevânia Teixeira Guedes3
Lanilde de Araújo4

GT8 – Espaços Educativos, Currículo e Formação Docente (Saberes e Práticas).

RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar a relação da afetividade, e sua contribuição na aprendizagem do
aluno. Para elaboração deste estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a fim de aproximar-se da
pesquisa documental e, a partir daí, aprofundar a investigação sobre o tema. Além disto, busca
subsídios e conhecimentos teóricos necessários ao estudo. Para isso, foram consultados os principais
teóricos, a exemplo de Wallon (1968), Vygotsky (1998; 2000; 2003), Piaget (1989; 1990) entre
outros autores que relacionam às contribuições da afetividade na aprendizagem. Portanto, pretende-se
despertar e desenvolver nosso conhecimento acerca da relação afetividade com a aprendizagem, e
contribuir para que o educador reflita a sua atuação e a importância das relações afetivas presentes na
sala de aula, nas relações professor/aluno, de modo que a afetividade e educação estão intrinsecamente
ligadas à aprendizagem, e ela traz benefícios quando é almejada assim como a sua falta pode trazer
consequências em todo processo de ensino e aprendizagem. Por meio dos aspectos alinhados na
fundamentação do presente estudo, tendo como base as discussões teóricas dos autores, concluímos
que o laço afetivo na relação professor-aluno melhora as intervenções pedagógicas, constitui elemento
inseparável no processo de construção do conhecimento e define o sucesso da aprendizagem.
Palavras-Chave: Afetividade. Aprendizagem. Relação Professor-Aluno.

ABSTRACT
This article aims to analyze the relationship of affectivity, and its contribution to student learning. For
preparation of this work was used to study literature in order to approach the documentary research
and, from there, further research on the topic. In addition, search subsidies and theoretical knowledge
needed to study. For this, the main theoreticians were consulted, like Wallon, Vygotsky Piaget and
other authors who relate to the contributions of affectivity in learning. Therefore, we intend to awaken
and develop our knowledge about the relationship affectivity with learning, and contribute to the
educator reflects its performance and the importance of emotional relationships present in the
classroom, the teacher / student relationship, so that the affectivity and education are inextricably
linked to learning, and it is beneficial when it is desired as well as its failure may have consequences
throughout the process of teaching and learning. Through aspects aligned in the grounds of the present
study, based on the theoretical discussions of the authors, we conclude that the emotional bond to the
teacher-student relationship improves pedagogical interventions, is an inseparable element in the
knowledge construction process and sets the learning success.
Keywords: Affection. Learning. Teacher-Student. Relationship.

1
Este artigo é produto das ações da Oficina de Escrita Científica, atividade itinerante do Sistema de
Acompanhamento Permanente de Egressos do Curso de Licenciatura em Química (SAPEQ) da Faculdade Pio
Décimo.
2
Graduada em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal de Sergipe; Pós-graduada em Psicopedagogia
pela Faculdade Pio Décimo; Pós-graduada em Tecnologias da Educação - PUC Rio; Discente do Curso de
Letras Espanhol UFS. Professora de Educação Básica-SEED. E-mail: mdoramachado@hotmail.com
3
Doutoranda em Educação pela Universidade Tiradentes. Mestra em Educação pela Universidade Tiradentes.
Atua como professora da Faculdade Pio Décimo (FPD/SE) nos cursos de Licenciaturas em Letras/Espanhol e
Química. Supervisora Pedagógica do Colégio Santa Chiara. E-mail: josevaniatguedes@gmail.com
³ Graduada em Pedagogia pela Faculdade Evangélica Cristo Rei (Piauí); Graduanda em Psicopedagogia Clínica e
Institucional pela Faculdade São Judas Tadeu (Piauí) E-mail: lanilde1@hotmail.com
INTRODUÇÃO

Este artigo versa sobre a relação da afetividade com o processo de ensino e


aprendizagem. Isto significa dizer que a reflexão se posicionará a partir de dois pontos de
vista: o do professor e o do aluno. A afetividade, pois, deve se mostrar mútua, isto é, não só o
professor cultivará o afeto pelo aluno, mas, esse aluno só apresentará uma resposta positiva se
se perceber objeto da afetividade sincera e não de uma atitude fingida. Quando brota um
clima verdadeiramente afetivo na sala de aula, ocorre também uma atração que une as duas
partes: a do docente e a do discente.
Forma-se um terreno propício ao diálogo respeitoso e à construção de conhecimentos
d a a a a a, a d F [...] c d ,
mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu [...]
A conquista implícita no diálogo é a do mundo pelos sujeitos dialógicos, não a de um pelo
[...] (FREIRE, 1987, . 45, a ). D c c
um estado de felicidade e de confiança entre os sujeitos.
As diversas abordagens que atribuem ao afeto um imprescindível valor para o
desenvolvimento do ser humano no que concerne aos aspectos cognitivos, afetivos,
psicológicos e também psíquicos. Por meio destes esclarecimentos pode-se identificar os
pontos relevantes que possam estimular tanto professor como aluno à convivência afetiva no
processo educativo, elevando-os a uma educação de qualidade. Para elaboração deste estudo
foi realizada uma pesquisa bibliográfica, estudos em que vários autores apontaram a
afetividade como caminho para uma aprendizagem que tenha significado na formação do
indivíduo.
É na escola que as relações sociais se misturam em um espaço naturalmente rico e
heterogêneo pela diversidade de ideias, valores e crenças, carregados de significados e
vínculos emocionais que envolvem interesses e intenções sociais. É através da afetividade
atribuída nesse espaço que se confere alto valor ao desenvolvimento psíquico do ser humano,
fator que influencia na construção da personalidade e da conduta e amplia os conhecimentos
propiciando-lhe ferramentas necessárias à aquisição da aprendizagem.
Para que haja uma efetiva aprendizagem, surge a necessidade de que o professor
trabalhe em conjunto com os alunos, no contexto de uma expectativa de educação para a
liberdade. Um dos componentes importantes para o desenvolvimento do trabalho pedagógico
é a interação professor-aluno, visto que, é o meio que reúne elementos instigantes no processo
de ensinar e aprender através da demonstração de carinho, afeto, dedicação, atenção, interesse
e desempenho de suas tarefas. Esse conjunto de atitudes constitui a chave que pode intervir
positivamente na aprendizagem dos educandos, do contrário a rejeição pode interferir
negativamente. Portanto, o relacionamento afetivo é um desafio para o docente, devendo este
agir de forma que expresse o seu interesse pelo crescimento dos alunos, respeitando suas
individualidades, criando um ambiente mais agradável e propício para a aprendizagem, posto
que a criança só se dispõe a aprender o que lhe dá prazer.
O objetivo deste estudo é o de organizar uma reflexão fundamentada sobre os aspectos
da temática que envolve o conhecimento e a influência da afetividade e sua contribuição no
processo de ensino e de aprendizagem, através da relação professor/aluno. Para trilhar o
caminho que leva ao alcance dos objetivos, o texto fundamental do presente estudo se
encontra dividido em duas partes, uma que enfoca a afetividade como caminho para a
construção interativa do conhecimento; e a outra que põe em destaque a influência e
contribuição da afetividade para o desenvolvimento do processo ensino e aprendizagem.
Justifica-se a importância de refletir e teorizar sobre o tema da afetividade e de seus
efeitos sobre o processo ensino e aprendizagem por inúmeras razões, entre as quais se poderia
alinhar: o aluno e o professor vistos como seres, sujeitos e capazes de sentir afeto e interagir
com sinceridade; a aproximação natural que se vai formar entre a figura do professor e o
aluno; a confiança mútua que nesse contexto se instala; a instauração de um ambiente de
harmonia, compreensão, trabalho solidário; e o despertar do interesse em partilhar
conhecimentos de forma afetiva; as experiências narradas por docentes em situações
informais ou, ainda, os resultados de pesquisas que têm comprovado a importância de se
incentivar, exercitar e criar a afetividade entre alunos e professores, etc.
Com este estudo, pretende-se contribuir de alguma forma para manter acesa a chama
do debate e despertar em outros pesquisadores a vontade de participar de projetos ou outras
experiências que se voltam para atestar inferências que conduzem a resultados inspiradores e
renovadores da prática docente, especialmente quando professores permanecem durante 50
minutos em uma sala de aula cobrando memorizações e desenvolvendo atividades de forma
seca e impessoal. Ou seja, procurando demonstrar aos estudantes que o processo educacional
se limita a impor obrigações que envolvem tão somente os itens dos conteúdos previstos para
cada disciplina e os esquemas muitas vezes opressores de se processar a avaliação.
A avaliação amedrontadora e responsável pela poda de qualquer sinal de afetividade
na relação professor/aluno. O sistema escolar faz da nota sua principal ferramenta de controle
dos estudantes. Entretanto, A a a é diagnóstico que pode ser registrado em forma de
nota, mas nota não é a a a (LUKESI, 2002, p. 84).
AFETIVIDADE CAMINHO PARA A CONSTRUÇÃO INTERATIVA DO
CONHECIMENTO

Ultimamente tem crescido o interesse em estudar a afetividade e sua influência no


processo de aprendizagem. No entanto, Piaget em seus estudos (1954, p.35) já afirmava que a
[...] afetividade não modifica a estrutura no funcionamento da inteligência, porém é a energia
que impulsiona a ação de a d , a , é capaz de acelerar ou retardar (sua falta) o
desenvolvimento do aluno, podendo até interferir no funcionamento das estruturas da
inteligência positivamente ou negativamente. Por esses caminhos, a afetividade pode ser
determinante para o sucesso ou fracasso dos alunos na compreensão dos conteúdos das
disciplinas e, de igual modo, no desenvolvimento cognitivo propriamente dito. É importante
considerar que o aluno é um ser não só intelectual, mas afetivo, e que os estados emocionais
que motivam qualquer sujeito influenciam seus pensamentos e ações e as capacidades
cognitivas. Deste modo:

É sempre a afetividade que constitui a mola das ações das quais resulta, a
cada nova etapa, esta ascensão progressiva, pois é a afetividade que atribui
valor às atividades e lhes regula a energia. Mas, a afetividade não é nada sem
a inteligência, que lhes fornece os meios e esclarece os fins (PIAGET 1989,
p. 69-70).

Observe-se que, a afetividade, para Piaget tem a mesma força metafórica da alavanca
de Arquimedes. Inclusive, inseriu o elemento energia (força humana) reguladora das atitudes,
das ações dos seres humanos. E, fecha, de maneira contundente o seu pensamento colocando a
inteligência como dependente da afetividade, ou por ela coordenada. A reflexão piagetiana
assim entende o relevante papel dos afetos verdadeiros.
Uma comparação conceitual bem interessante diz ser a afetividade uma espécie de
óculos através dos quais enxergamos o mundo e que eles nos ajudam a divisar a realidade
deste ou daquele outro modo, mas, no caso de tais óculos não se encontrarem posicionados
corretamente, poderemos [...] enxergar as coisas maiores ou menores do que são, mais
coloridas ou mais cinzentas, mais distorcidas ou fora de foco. Tratar da Afetividade significa
regular os óculos através dos quais vemos nosso mundo (SANTOS; RUBIO, 2012, p.3).
D ac d c F a (2001, .62), a dad ca c d
psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos, acompanhados sempre da
impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria
ou a . A sala de aula é um lugar propício para demonstrar essas emoções e estabelecer
uma relação de diálogo, afeto, confiança e atenção na interação entre os autores do processo
educativo, e pode influenciar o relacionamento social e na aprendizagem, de modo que a
linguagem e a conduta do educador, se bem ou não muito bem conduzida, refletirá assim
mesmo no processo de ensino e aprendizagem, tendo-se em vista que a afetividade é o
atributo psíquico que dá o valor e representa a realidade.
Autores como Piaget, Vygotsky, Wallon, e Freud e seus seguidores reafirmam a
influência do ambiente escolar na construção da individualidade da criança ou no
desenvolvimento de toda a personalidade dela. Cabe ao educador um papel de destaque nas
relações sociais que se formam no contexto escolar.
O docente que mantém uma postura de crença e confiança no potencial de
aprendizagem do seu aluno, dedica-lhe sua atenção, cria expectativa e contribui para seu
desempenho na aprendizagem. O docente que demonstra comportamento contrário poderá
promover em seu aluno uma baixa expectativa de êxito, o que poderá influenciar
negativamente sobre seu autoconceito e sua autoestima, levando-o a se afastar do professor e,
este, por sua vez, interferirá de forma indesejada na construção da aprendizagem.

Antes de ingressar na escola, a criança participa do grupo familiar, e de


grupos ligados à família. Mas é no ambiente escolar que este processo de
interação em grupo se intensifica. A frequência de encontros faz com que a
experiência seja diferenciada de qualquer outra vivenciada até então,
imputando à escola o status de espaço legítimo de construção e partilha de
conhecimentos. Nela, a interação é constante, mesmo quando não mediadas
pelo educador se consolidam aprendizagens que não constam nos currículos
escolares. (MELLO; TEIXEIRA, 2012, p. 4)

Tomando como referência os estudos de Piaget sobre a afetividade compreendemos a


relação afetiva presente ou ausente como a que desencadeará impulsos favoráveis ou não à
ação de aprender. Quando não há um laço afetivo, quando não se estabelece uma boa relação
entre professor e aluno, a aprendizagem não acontece, isto é, não há a construção do saber. E,
quando não acontece essa construção, igualmente não há como formar cidadãos autônomos,
críticos, responsáveis e conscientes dos seus direitos e deveres para com a sociedade.
Conforme Piaget a afetividade envolve sentimentos como emoção e paixão, e as emoções
motivam qualquer indivíduo em suas ações, sendo ela responsável pelos esquemas de
cognição, que conduzirão o indivíduo para o pleno desenvolvimento intelectual.
Segundo Barguil (2006, p. 117),
A relação professor-aluno é apenas uma das inúmeras situações que cada
pessoa um dia vivenciou, embora não seja um absurdo dizer que no mundo
atual todos, no dia-a-dia, alternam a sua presença nos polos dessa equação,
onde transitam não somente conhecimentos, mas também afetos, crenças e
sonhos. A matrícula nessa escola, portanto, é compulsória e o currículo
diverso!

Esta análise propõe ao educador uma edificação do saber no âmbito educacional,


buscando prevenir ou minimizar os problemas inerentes à aprendizagem, a partir de uma
interação entre professor-aluno.
De acordo com Moreira (1986), podemos identificar as principais variáveis que
intervêm no processo de ensino e aprendizagem a partir de quatro elementos que são eles: o
professor, o aluno, o conteúdo e as variáveis ambientais, cada um exercendo maior ou menor
influência no processo, dependendo da forma pela qual se relacionam num determinado
contexto.
Em síntese, quando educador e educando agem juntos para a progressão, a construção
do saber, o desenvolvimento e aprimoramento das capacidades físicas, intelectuais e morais,
haverá como resultado imediato, e também a médio e longo prazo, uma construção da
aprendizagem, tornando-se ambas as partes à semelhança de instrumentos de modificação e
crescimento da sociedade, moldando-a mais justa e igualitária.
Fundamentalmente social, a teoria de Vygotsky e a de Wallon entende que a
afetividade é um elemento essencial ao processo de construção do conhecimento que está
relacionada ao convívio escolar. Além disso, a partir das experiências vividas, deve ser focada
a interação, como principal componente para o desenvolvimento da afetividade e do
conhecimento.
Segundo Almeida (1999, p.101):

A escola possibilita interações diversas entre parceiros, ao mesmo tempo em


que proporciona situações e experiências essenciais para a construção do
indivíduo como pessoa. É através das experiências com o mundo social,
especificamente eu - outro que o organismo, em toda a sua plasticidade, vai
elaborando e reestruturando um dos aspectos que nos caracterizam como
seres humanos: o aspecto afetivo.

Em Almeida, acima citado, encontra-se a definição do locus das interações


personalizado no espaço escolar, no convívio cotidiano com os parceiros da construção de
saberes e de fazeres que, sem mesmo serem percebidos enquanto moldados, são eles que
constituirão a integralidade do caráter dos sujeitos, que os preparará não apenas para o
conhecimento em si mesmo, mas para a continuidade dessa relação eu e o outro pela vida
afora. Disto dependerá o sucesso, o bem-estar, a felicidade de cada um dos alunos sob a
regência de um professor afetuoso e que gera o brotar da afetividade em sua sinceridade e
plenitude. Com isto se quer também dizer que a afetividade não tem relação com
metodologias, técnicas e estratégias didático-metodológicas, mas com alma, sentidos,
sentimentos, pertencimentos, solidariedade, empatia, simpatia.

INFLUÊNCIA E CONTRIBUIÇÃO DA AFETIVIDADE PARA O


DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM

Afetividade e aprendizagem estão intimamente ligadas à vida humana em sociedade, e


é na inter-relação dos grupos que se constrói a relação do sujeito com o outro, e é na sala de
aula que a aprendizagem flui e se constrói o conhecimento a convivência e a formação do
caráter. Essa preocupação em torno da afetividade

[...] não é uma temática contemporânea, mas histórica. Diante dessa


afirmação torna-se preponderante discutir e elencar reflexões de teóricos que
buscam em suas discussões apresentar a questão da afetividade e da moral.
Dentre os teóricos que abordam a questão da afetividade, destacam-se
Comenius e Rousseau (BRUST, 2009, p. 17).

Comenius (século XVII), por exemplo, propunha que os jovens fossem educados
tendo em vista torná-los sábios, honestos e piedosos, mas sem violência por parte dos
educadores ou da família, o que não invalidava a severidade. A juventude teria que cultivar os
bons modos em todas as circunstâncias da vida, cuidando do corpo e do espírito. Quanto a
Rousseau, a proposta educacional idealizava a existência do amor e do afeto que o uniria ao
seu mestre.
Mais para cá, nascido no final do século XX, Vygotsky (1984) enfatiza a importância
das interações sociais, como aspectos fundamentais para a aprendizagem, defendendo que a
construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação com o outro.
Quando a afetividade é direcionada em favor da aprendizagem, o aluno se sente e se mostra
motivado e interessado, aprende e se envolve no processo de produção do conhecimento
através da motivação de suas atividades mentais. Vygotsky inseriu uma abordagem sobre a
questão do significado, afirmando que as transformações orgânicas desvinculadas do contexto
não são suficientes para produzirem a emoção.

O aspecto emocional do indivíduo não tem menos importância do que os


outros aspectos e é objeto de preocupação da educação nas mesmas
proporções em que o são a inteligência e a vontade. O amor pode vir a ser
um talento tanto quanto a genialidade, quanto a descoberta do cálculo
diferencial. (VYGOTSKY, 2000 p.146).

Observe-se que Vygotsky emparelha em importância o aspecto emocional e outros


aspectos do caráter humano, a exemplo da inteligência e da vontade. E, ainda, eleva o amor ao
status de talento, o amor é um talento, algo próprio dos gênios como os da matemática e
outras áreas. Fiquemos pensando nisto de que amar é algo genial, que o sujeito que ama é um
artista e criador de uma obra que não se expõe nas galerias, que não se mostra impressa em
páginas de livros. A criação do amor é magnífica e divina enquanto formadora de caráter e de
outros gênios. Pensemos que gênios da música passaram por famílias e professores que os
amaram e os transformaram em seres diferentes, excepcionais. O professor que vibra ao sentir
o desenvolvimento integral de seu discípulo, sente na alma a força de sua criação.
Wallon destaca a dimensão afetiva de forma significativa na construção da pessoa e do
conhecimento. S d d (1968, .38), [...] a afetividade é um conceito amplo,
que inclui um componente orgânico, corporal, motor, plástico (emoção), um componente
cognitivo, representacional (sentimentos) e um comp (c ca ) .
Dentre alguns dos fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem, e em
detrimento da afetividade, está o da valorização do aluno, a autoestima, o querer bem, a
motivação, entre outros. Existem também aqueles aspectos afetivos que denotam
negatividade, estes por sua vez, interferem de forma indesejada na construção da
aprendizagem.
Para Vygotsky (2003), também nascido no século XIX, um pouco antes que Wallon,
se encarregou em constatar que só se pode compreender adequadamente o pensamento
humano quando se compreende a sua base afetiva. Muito próximo das conclusões da teoria de
Wa , ac d a a a d c . P , A da mocional está
conectada a outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de um modo
a . (ARANTES, 2003, p. 19).
Criados nos finais do século XX, os PCNs tratam de destacar em seu texto documental
as variáveis afetivas assim registradas: a c c a a a
quanto os cognitivos, principalmente para os alunos prejudicados por fracassos escolares ou
que não estejam interessados no que a esc a d c (1997, p.98). Por aí se deve
compreender que não há aprendizagem nem afetividade quando o aluno não está imbuído pelo
desejo de aprender. Deste modo, o professor precisa estar precavido e tornar o ensino
contextualizado promovendo a aprendizagem significativa. É ainda nos PCNs (1997, p.93)
que encont a ad caa d d ca a ad b dad d d ca d
aaaa d a ca a, d ca d c a a aa c dad a
vontade de aprender .
Almeida (1999, p.110) afirma que é no espaço da sala de aula que o professor:

Observa seus alunos, identifica suas conquistas e suas dificuldades e os


conhece cada vez melhor. O espaço da sala deve ser marcado por um
ambiente cooperativo e estimulante, de modo a favorecer o desenvolvimento
e as manifestações das diferentes inteligências, e, ao mesmo tempo,
promover a interação entre os distintos significados apreendidos pelos
alunos, ou criado por eles, a partir das propostas que realizarem e dos
desafios que vencerem.

Portanto, torna-se de suma importância estabelecer no ambiente escolar a interação


social calcada na afetividade que contribui para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo e
no processo de ensino e aprendizagem. Assim, a qualidade das interações promovidas,
especialmente entre educador e educando na sala de aula, é o que poderá levar o aluno ao
desenvolvimento pleno de suas capacidades, sejam elas cognitivas, afetivas ou motoras.

Dessa maneira a afetividade é um desafio para a aprendizagem significativa e consiste


num processo de educação para a vida, numa parceria entre professor, aluno, família e
comunidade, grupos sociais tão importantes no sucesso da aprendizagem do aluno.
Há estudos sobre o tema em reflexão neste artigo denunciando que o ensino brasileiro
padece e se prejudica em meio a inúmeras falhas que encaminham para o fracasso do processo
ensino e aprendizagem e um dos principais motivos seria a falta de afetividade entre professor
e aluno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa cumpriu o objetivo de analisar a afetividade e sua influência na


aprendizagem, com a finalidade de mostrar como a relação afetiva pode interferir neste
processo e pode acarretar pontos positivos ou negativos, dependendo da relação que foi
estabelecida entre aluno e professor no cotidiano escolar. Constatamos através de estudo
bibliográfico que uma boa relação entre professor e aluno contribui para uma educação de
qualidade e resulta em efeitos positivos, trazendo benefícios para a aprendizagem do aluno e
para a reflexão sobre a prática (da parte do docente) assim, garantindo-lhe ser capaz de
aprender e promover transformações ativas na escola e na sociedade.
Por meio dos autores consultados, que teceram considerações no campo da afetividade
e suas implicações no desenvolvimento humano e, em especial, no âmbito das teorias de
Piaget, Vygotsky e Wallon, pretendeu-se destacar neste trabalho características comuns nas
teorias a respeito da importância da relação afetividade paralelamente ao desenvolvimento
cognitivo da aprendizagem. Assim, acreditamos contribuir para que o educador amplie laços
afetivos com seus alunos e volte sua atenção para as relações que se estabelecem no ambiente
escolar. Pois os vínculos emocionais que se situam na sala de aula, e até mesmo fora dela,
influenciam na construção da personalidade, do autoconceito e da autoestima do sujeito,
propiciando-lhe meios necessários à obtenção da aprendizagem.
Ao longo dos anos as mudanças que ocorreram no processo de ensino-aprendizagem
descrevem considerações positivas proporcionadas pela importância dada à relação afetiva
entre professor/aluno, tendo a motivação como instrumento que permeia todas as relações de
aprendizagem. Assim, o desempenho do aluno está diretamente ligado à relação entre
aprendizagem e afetividade, razão e emoção, pois o desenvolvimento é um processo contínuo
e, sem afetividade, não há motivação e, sem motivação, não há aprendizagem. Faz a grande
diferença na educação proporcionar uma aprendizagem significativa, aquela que realmente
tem sentido tanto para o professor quanto para o aluno. Dessa maneira a afetividade é um
desafio para a aprendizagem significativa e consiste num processo de educação para a vida,
numa parceria entre professores, alunos, família e comunidade, todos de alguma maneira
agindo e interagindo em grupos sociais de reconhecida importância para o sucesso da
aprendizagem do aluno.
A visão teórica dos autores estudados nos propõe inferir que muitos dos problemas
existentes na sala de aula podem ter como causa motora o cunho afetivo, isto é, a ausência do
afeto mútuo, e que esses empecilhos podem vir a comprometer a autoestima do aluno e sua
aprendi a . Pa a C (2003, .139), a educação moderna está em crise porque não é
humanizada, separa o pensador do conhecimento, o professor da matéria, o aluno da escola,
enfim, separa o sujeito do objeto . D d ,a a d da a d cad
durante o processo educativo devem ser pautadas de sentimentos de afeto, respeito, confiança,
aceitação, solidariedade e valorização de si e do outro de modo a favorecer a autonomia e o
desenvolvimento das aptidões e fortalecer na criança o sentimento de segurança, de se sentir
acolhida e protegida por todos os responsáveis pelo seu processo de aprendizagem.
Como vimos, o funcionamento do comportamento da psique humana não é composto
somente da dimensão cognitiva, mas, também, pela dimensão fundamental de sua existência
afetiva, que influi na construção do conhecimento de forma essencial, acelerando ou
retardando o desenvolvimento do aluno através das relações estabelecidas nos grupos em
ação/interação.
Mediante o exposto, acreditamos na possibilidade de contribuir para um refletir sobre
a prática docente e os desafios vivenciados, possibilitando o acesso a novos conhecimentos
teóricos que contribuem para uma formação mais sólida, discutindo novas alternativas de
trabalho que favoreçam a relação professor/aluno, para que possam, em conjunto harmonioso,
enfrentar e mesmo vencer os desafios presentes no cotidiano escolar, privilegiando a
formação crítica e consciente do aluno, viabilizando um despertar para uma sociedade mais
justa, solidária, afetuosa e igualitária.

REFERÊNCIAS

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