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MAPEAMENTO TEMÁTICO COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO E


PLANEJAMENTO TERRITORIAL, APLICADO À PROPRIEDADE RURAL NO
MUNICÍPIO DE CARLÓPOLIS/PR - BRASIL

Chapter · December 2017

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5 authors, including:

Pedro Höfig Glauco Marighella Ferreira da Silva


Catena Planejamento Territorial
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Elvio Giasson Nina Moura


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Planejamento e análises ambientais - 45

Capítulo 3

MAPEAMENTO TEMÁTICO COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO E


PLANEJAMENTO TERRITORIAL, APLICADO À PROPRIEDADE RURAL
NO MUNICÍPIO DE CARLÓPOLIS/PR - BRASIL

Pedro Höfig
Geógrafo, MsC. em Ciência do Solo, Catena Planejamento Territorial.
E-mail: pedro@catenaterritorial.com

Glauco Marighella Ferreira da Silva


Geógrafo, Catena Planejamento Territorial.
E-mail: glauco@catenaterritorial.com

Elvio Giasson
Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, Professor do Departamento de Solos da UFRGS.
E-mail: giasson@ufrgs.br

Nina Simone Vilaverde Moura


Geógrafa, Dr. em Geografia, Professora do Departamento de Geografia da UFRGS.
E-mail: nina.moura@ufrgs.br

Eduardo Augusto Werneck Ribeiro


Geógrafo, Dr. em Geografia, Professor do IFC – Campus São Francisco do Sul/SC.
E-mail: eduardo.werneck@ifc.edu.br

INTRODUÇÃO

No conjunto das atividades humanas, a Cartografia desempenha papel importante.


O mapa atua, por meio da representação, para o melhor conhecimento de causas,
ocorrência e efeito dos fatos do território, não só nas suas características naturais,
geométricas e físicas, como também nas marcas que o homem lhe imprime (CASTRO, 1945).
O conhecimento da distribuição espacial de feições naturais e antrópicas é importante, por
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exemplo, para o diagnóstico e solução de problemas relacionados ao planejamento e gestão


territorial.
As condições fisiográficas de uma propriedade podem produzir um gradiente de
microcondições, incluindo variações na drenagem, carreamento dos nutrientes e partículas
do solo, arquitetura do dossel, temperatura do solo, intensidade da radiação
fotossinteticamente ativa, assim como o tempo de exposição e ângulo de interceptação
(GANDOLFI, 2000; PEZZOPANE, 2002; RODRIGUES et al., 2007).
O conhecimento territorial é indispensável para entender e trabalhar o espaço
geográfico e nele identificar e ampliar suas potencialidades. A visão sintética e reduzida do
território, proporcionada pela visualização vertical, permite analisar a inter-relação entre os
aspectos naturais e antrópicos (GRANELL-PÉREZ, 2004). A análise destas inter-relações
precede as ações de planejamento e gestão do espaço geográfico.
Entende-se por planejamento os estudos sobre o estabelecimento de um conjunto
coordenado de ações visando à consecução de um determinado objetivo, através da
identificação de estratégias de enfrentamento de problemas e mecanismos de
implementação de ações, tendo como resultado a elaboração de planos, programas e
projetos (PAIM & TEIXEIRA, 2006). Trata-se de uma forma de prospectar o futuro e antecipar
tendências, definindo com clareza os objetivos, ações, metas, recursos e métodos para
monitoramento e gestão (DRUCKER, 1998).
O histórico do planejamento territorial brasileiro, desde o retorno democrático, se
deu baseado em planejamentos setoriais, elencando alguns setores em detrimento de
outros, ignorando o potencial total da área. Entretanto, a experiência tem mostrado que
essa otimização isolada gera ineficiências (IPEA, 2009). Assim, a análise integrada do
ambiente tem se revelado uma proeminente proposta de planejamento, já que busca
potencializar o território em suas várias vertentes e compreender suas fragilidades em
relação aos diferentes tipos de uso e ocupação do solo.
A gestão está relacionada com a forma direta de atingir o que se buscou durante o
planejamento, através da criação e utilização de meios que possibilitem concretizar os
princípios de organização das ações propostas, como gestão de qualidade, gestão
estratégica, gestão de recursos humanos, gestão orçamentária e financeira (PAIM &
TEIXEIRA, 2006).
Planejamento e análises ambientais - 47

Dessa forma, os recursos de geotecnologias são importantes ferramentas de


diagnóstico para o planejamento e gestão territorial, utilizados para simular e analisar
diversos cenários com agilidade, transformando uma base de dados heterogênea em
informação relevante.
Nesse sentido, destaca-se a aquisição rápida de dados em larga escala (SILVA &
ZAIDAN, 2007). O desenvolvimento tecnológico acelerado, junto com fatores políticos e
sociais, levou as empresas a viverem uma nova realidade. Para ampliar sua eficiência, é
necessário lidar com informações que até pouco tempo não eram tão importantes
(GUTIERREZ, 1999), sendo necessária a incorporação de novos conhecimentos nos processos
produtivos e decisórios.
Tabelas extensas e complexas transformadas em mapas facilitam a análise, o que
aumenta sua acurácia e otimiza o uso do tempo. Características físicas das propriedades
podem ser levantadas com o uso de imagem de satélite e de Modelos Digitais de Elevação
(MDEs), o que agiliza e diminui os custos da geração de dados.
Sendo assim, o mapa temático se apresenta como um produto final do processo de
geração da informação geográfica. Tem como objetivo representar o espaço de forma
bidimensional e comunicar os fenômenos ali representados; por isso, o mapa é um
instrumento de descoberta a serviço de uma ação, o que auxilia na tomada de decisão.
As tomadas de decisões são baseadas em três pilares: o dado, a informação e o
conhecimento. Estes pilares, se não relacionados entre si, acabam por comprometer a
qualidade das decisões tomadas pelos agentes. A forma de inter-relação entre esses fatores
é baseada na comunicação entre as pessoas que os detêm, sendo tal comunicação essencial
para os rumos das ações. Para que as decisões sejam tomadas com rapidez e qualidade, é
necessário que se crie mecanismos eficientes de comunicação, evitando conflitos de
interpretações, e o mapa se mostra uma ferramenta inequívoca para distribuição e
verificação de ações de cunho espacial (ANGELONI, 2003). Seja pela verificação de estado,
base de reflexão e de previsão, ou guia de execução, o mapa intervém em todos os estágios
de contato entre o usuário e o território (JOLY,1990). Assim, ele se apresenta como um
produto final capaz de auxiliar o usuário na tomada de decisão.
Este trabalho objetiva, por meio de técnicas de geoprocessamento, rápidas e de
baixo custo, demonstrar como o mapeamento temático de uma propriedade rural pode
subsidiar a elaboração de um projeto capaz de auxiliar no desenvolvimento da área. Isto
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porque é por meio de uma visão integrada do território que se pode definir os objetivos e as
metas adequadas para o planejamento e gestão da área, e fundamentar as tomadas de
decisões. Nesse sentido, foram confeccionados mapas de localização, uso do solo e
infraestrutura, altitude, declividade, irradiação solar, índice de umidade topográfica e
potencial à erosão laminar. As análises dos resultados, espacialmente representados nos
mapas, permitem conhecer as potencialidades e as fragilidades da propriedade rural,
auxiliando os gestores na tomada de decisões de forma direcionada e otimizada frente aos
tipos de uso atuais e, ainda, estabelecer diretrizes para o planejamento de médio e longo
prazos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado na Fazenda Modelo (nome fictício), que se localiza no Norte
Pioneiro do Paraná, na microrregião de Wenceslau Braz (IBGE, 1990), mais precisamente no
município de Carlópolis, na divisa com o estado de São Paulo. A fazenda, que possui 129,15
hectares, está localizada a cerca de 15km da sede municipal, com acesso principal pela
rodovia PR-218, no trecho que liga a cidade de Carlópolis e o município de Fartura, no
estado de São Paulo, seguindo por estrada de terra até a propriedade (Figura 1).
Planejamento e análises ambientais - 49

Figura 1: Localização da propriedade

Fonte: IBGE, 2015.

Para gerar os produtos, foram utilizadas bases cartográficas oficiais do IBGE,


imagens de satélite e o Modelo Digital de Elevação (MDE) Topodata, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE). Ressalta-se que o trabalhado foi pautado em informações
disponíveis gratuitamente. Em ambiente ArcGIS 10® (ENVIRONMENTAL SYSTEMS RESEARCH
INSTITUTE, 2010), foram produzidas as variáveis do terreno.
A construção da base de dados se deu por meio da seleção e relação dos dados que
alimentaram o SIG (Sistema de Informações Geográficas) da Fazenda Modelo no software,
no qual se gerou um banco de dados georreferenciado. O sistema de coordenadas utilizado
foi o UTM, zona 22 Sul e datum SIRGAS 2000. Os arquivos vetoriais foram elaborados em
escala de 1:2.000.
Os arquivos vetoriais básicos para o mapeamento foram obtidos no banco de dados
do IBGE (2015), sendo eles a delimitação dos municípios, estradas e a hidrografia. Isso
possibilitou a localização da propriedade e estabeleceu parâmetros de distância e
deslocamento no entorno da área.
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As imagens de satélite usadas foram aquelas geradas pelo satélite Quickbird,


disponíveis no Google Earth, datadas de janeiro de 2015, com resolução espacial de 0,7m,
possibilitando a identificação das feições expostas (áreas de plantio, vegetação nativa e
edificações) em toda a propriedade e arredores. Foram utilizados dados referentes à banda
de frequência do espectro visível.
O mapa de uso do solo foi elaborado a partir de técnicas de geoprocessamento e
sensoriamento remoto. A partir da identificação das feições, delimitaram-se as áreas por
meio de polígonos em formato shapefile. Posteriormente, foram calculadas as áreas de cada
tipo de uso e elaborou-se o produto.
Para informações sobre o terreno, foram utilizados dados do MDE Topodata. O
MDE é um plano de informação que descreve a altitude, ponto a ponto, de uma
determinada área. O Topodata é produto de processamentos digitais do MDE do Shuttle
Radar Topography Mission (SRTM) da NASA (Nacional Aeronautics and Space
Administration), efetuado pelo Departamento de Sensoriamento Remoto (DSR) do INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O DSR converteu os dados originais da SRTM
(90m) para resolução de 30m (TOPODATA, 2014).
Com o armazenamento dos dados de altimetria do MDE, gerou-se o mapa
hipsométrico, que é a altura do terreno em relação ao nível do mar (FLORENZANO, 2008b). A
partir das informações de altitude, foram derivadas outras informações físicas da área.
A declividade, que é a inclinação do relevo em relação ao plano horizontal
(FLORENZANO, 2008a), informa o aspecto vertical do terreno pelo diferencial altimétrico
entre pixels vizinhos. Para cada célula, a ferramenta Slope calcula a taxa máxima de
mudança de valor dentre os vizinhos. A declividade é uma das principais características
geomorfológicas limitantes à utilização de máquinas agrícolas. Por isso, as classes de
declividade foram distribuídas de acordo com a potencialidade à mecanização: a)
extremamente apta (0% a 5%); b) muito apta (5,1% a 10%); c) apta (10,1% a 15%); d)
moderadamente apta (15,1% a 20%); e e) não recomendada (> 20%), conforme Silva et al.
(2010).
O mapa de insolação anual foi gerado a partir de um algoritmo matemático que
considera a carga máxima de radiação solar ao longo de um ano, levando em conta o eixo de
inclinação e a rotação da Terra, além da forma do terreno (FU & RICH, 2002). Para tanto, o
script Area Solar Radiation soma a radiação solar direta e a radiação solar difusa de cada
Planejamento e análises ambientais - 51

setor do território. Geralmente, a maior componente da radiação é a direta, seguida pela


difusa. A radiação refletida constitui apenas uma pequena porção do total de radiação. Por
isso, a ferramenta não inclui radiação refletida no cálculo do total de radiação.
Com a extensão Topographic Weteness Index foi gerada a variável Índice de
Umidade Topográfica (IUT). O IUT é a função da declividade e da área de contribuição por
unidade de largura ortogonal à direção do fluxo (ARAUJO & SILVA, 2011), e caracteriza as
zonas de saturação de água superficial. O significado físico desse comportamento é que
quanto mais plana e baixa for a superfície, mais úmido é o terreno (SIRTOLI et al., 2008);
quanto menor o valor do IUT, mais bem drenada é a superfície.
Para elaboração do mapa de potencial à erosão laminar, primeiramente, fez-se um
mapa de suscetibilidade à erosão laminar, cruzando as classes de erodibilidade do solo
(BERTONI & LOMBARDI-NETO, 1985) com a declividade. Essas informações foram unidas
com o uso atual do solo, gerando a matriz de definição das classes de potencial atual à
erosão laminar (IPT, 1990).
Foi gerada, também, a curvatura do perfil, com a ferramenta Curvature. A curvatura
representa a taxa de variação da declividade na direção de sua orientação, e está
relacionada ao caráter convexo ou côncavo do terreno, sendo decisiva na aceleração ou
desaceleração do fluxo da água sobre o mesmo. Valores negativos representam convexidade
(maior erosividade), ao passo que os positivos significam concavidade (maior deposição). Na
medida em que se aproxima do zero, a vertente mostra-se retilínea (ANJOS, MENEGETTE
JÚNIOR & NUNUE, 2011).
Assim, em um único mapa, foram sobrepostas as informações de potencial à erosão
laminar e curvatura do perfil, tendo em vista um diagnóstico mais preciso.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A determinação das características físicas e estruturais permite a visualização dos


potenciais, carências e áreas frágeis da propriedade. Por meio da determinação destes
atributos, oferece-se ao produtor mais informações sobre sua propriedade, tendo em vista a
destinação de usos mais adequados para cada parcela do solo.
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Com as imagens da superfície terrestre foi possível delimitar o uso do solo e


determinar as áreas que cada produção ou atividade ocupa (Figura 2). O principal uso da
propriedade é referente ao plantio de café, com 66,96% da cobertura total. Para os tratos
com o café, a propriedade conta com uma edificação e um galpão para armazenagem de
equipamentos e suplementos. Além da área de café, a propriedade ainda conta 19,09
hectares de pastagem. No tocante à vegetação nativa, a propriedade é composta por 12,88%
de Mata Atlântica.
Há cerca de três anos, a área de pastagem da propriedade não é utilizada, assim,
aproximadamente 15% da propriedade é atualmente improdutiva. Essa área improdutiva
poderia ser utilizada para produção em consórcio de árvores comerciais com vegetação
nativa. Desta forma, a longo prazo, este setor poderia ser transformado, além de fonte de
receita, em área de reserva legal, conforme legislação, uma vez que o equilíbrio natural
suporta a produção atual e pode garantir os cultivos futuros.
No tocante à análise da produção de café por intermédio de imagem de satélite, foi
possível identificar as áreas com falhas de plantio, presentes principalmente em setores com
maior susceptibilidade à erosão. Em relação à pastagem, identificaram-se áreas com plantas
invasoras. No total, são 1,41ha de área de café sem o desenvolvimento padrão das plantas
na propriedade, isto é, setores onde há diminuição da população de cafeeiro ou plantas
pouco desenvolvidas. Já na pastagem, constatou-se 2,39ha de plantas invasoras (qualquer
ser vegetal não desejado) (Figura 2).
Planejamento e análises ambientais - 53

Figura 2: Mapa de uso do solo na Fazenda Modelo

Fonte: Höfig et al, 2017.

Quanto à infraestrutura, a fazenda conta com duas residências ocupadas por


funcionários que conduzem o trabalho dos tratos culturais da propriedade. As duas
residências são assistidas por rede elétrica e água. Além das casas, existe uma caixa d’água e
tubulações móveis para irrigação das áreas de café. A propriedade possui estradas com
largura média de 4 metros, que circundam os talhões de café e facilitam o andamento dos
tratos culturais, além das áreas de pátio para acomodação de equipamentos e insumos
(Figura 2).
O plantio do café foi realizado nos anos de 2011 e 2012 e se utilizou uma única
variedade de café, a Mundo Novo6, que ocupa 86,48 hectares. A separação dos dados de
produção por talhão ou zonas pode auxiliar no melhor direcionamento e sistematização de
técnicas de manejo, tratamento e adubação da propriedade.

6
Variedade cafeeira produzida pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas) em 1977.
54

Em relação às características físicas, a Fazenda Modelo tem altitude variando entre


462m e 520m, porém 59,4% da propriedade encontra-se em altitude entre 476m e 490m, o
que demonstra baixa variação de altitude no terreno. A área mais alta da propriedade está
localizada a oeste, nas proximidades do acesso à fazenda (Figura 3).

Figura 3: Mapa de altitude da Fazenda Modelo

Fonte: TOPODATA, 2014.

Segundo a classificação de Ramalho-Filho e Beek (1995), a Fazenda Modelo


apresenta a maior parte de seu relevo classificado como suave ondulado (declividade entre
3% e 8%). Todavia, 15,76% da propriedade são classificados como relevo plano (declividade
entre 0% e 3%), e 23,43% como relevo moderadamente ondulado (declividade de 8% a
13%). A classe de relevo ondulado é encontrada em 2,44% da fazenda, com valores entre
13,1% e 20% de declividade.
Planejamento e análises ambientais - 55

Na análise da declividade como característica de aptidão à mecanização agrícola, a


propriedade possui suas áreas principalmente classificadas em extremamente apta (36,81%)
e muito apta (52,94%). Uma parcela da fazenda é enquadrada na classe apta à mecanização
(9,57%), e moderadamente apta representa apenas 0,68%. Sendo assim, considerando
apenas a variável declividade, não há restrição para a mecanização da produção (Figura 4).

Figura 4: Mapa de aptidão à mecanização na Fazenda Modelo

Fonte: TOPODATA, 2014.

Na Fazenda Modelo, as áreas com maior radiação solar são os locais mais altos e
com orientação de vertente voltada ao norte. Os locais de maior insolação são as áreas
próximas à estrada de acesso que divide a propriedade em setores norte e sul,
principalmente aqueles próximos à área de pastagem (Figura 5). Essas diferenças no
microclima são fatores que atuam diretamente na incidência de pragas e doenças no
56

cafeeiro, além de afetar o nível de desenvolvimento das plantas. Por exemplo, faces menos
expostas ao Sol são mais propensas à ferrugem, enquanto as mais expostas ao Sol são mais
aptas à cercosporiose (CUSTÓDIO, 2011). Ademais, os setores que recebem menor insolação
devem ser prioritários para o uso de técnicas de proteção às geadas.

Figura 5: Mapa de insolação anual

Fonte: TOPODATA, 2014.

A radiação solar é um elemento de destacada importância, já que é fonte primária


de todos os fenômenos atmosféricos, além dos processos físicos, químicos e biológicos
notados em ecossistemas agrícolas, como evaporação, fotossíntese, crescimento e
desenvolvimento de cultivos agrícolas (PEREIRA, VRISMAN e GALVANI, 2002).
A taxa de crescimento das plantas está relacionada à sua capacidade de interceptar
e utilizar a radiação em seus processos fotossintéticos, no qual o dióxido de carbono da
atmosfera é transformado em carboidrato (COSTA e SEDIYAMA, 1999). Quanto maior a
Planejamento e análises ambientais - 57

insolação em determinado local, maior será sua temperatura, implicando em maior


evapotranspiração e redução no conteúdo de umidade do solo e do ar, o que também
influencia no crescimento das plantas (REZENDE, 1971).
Em relação ao Índice de Umidade Topográfica (IUT), a Fazenda Modelo é
predominantemente coberta por terrenos sem problemas de acúmulo de água,
representados pela cor vermelha (Figura 6). Quanto mais próximo do azul, maior a
capacidade de retenção de água, e, em seu valor extremo, se caracteriza por áreas
alagadiças. As áreas mais frágeis em relação ao grande acúmulo de água estão localizadas à
margem da represa, na parte leste da propriedade, e às margens do rio, nas proximidades da
área de pastagem. Algumas pequenas áreas no centro da propriedade apresentam maior
potencial de armazenamento de água, mas em menor intensidade, não se caracterizando
por terrenos alagadiços.

Figura 6: Mapa de Índice de Umidade Topográfica: potencial de armazenamento de água na Fazenda Modelo

Fonte: TOPODATA, 2014.


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No tangente à erosão, cruzando as classes de erodibilidade do solo (BERTONI &


LOMBARDI NETO, 1985) com a declividade (IPT, 1990), foram encontradas três classes:
a) Terrenos com problemas complexos de conservação, parcialmente favoráveis à
ocupação por pastagens, sendo mais apropriados para reflorestamento;
b) Terrenos com problemas complexos de conservação, sendo mais indicados a
pastagens e culturas perenes;
c) Terrenos com problemas complexos de conservação, sendo mais indicados a
pastagens e culturas perenes e, eventualmente, a culturas anuais, porém
exigindo práticas intensivas e mecanizadas de controle da erosão.
Essas informações, relacionadas com o uso e ocupação atual do solo, geraram a
matriz de definição das classes de potencial atual à erosão laminar (IPT, 1990). Encontraram-
se as seguintes classes (Figura 7):
a) Classe II: médio potencial – uso atual do solo incompatível com a suscetibilidade
à erosão laminar, possível de ser controlada com práticas conservacionistas
adequadas (108,01ha / 83,6%);
b) Classe III: baixo potencial – uso atual do solo compatível com a suscetibilidade à
erosão lamina (21,14ha / 16,4%).
Além disso, com o mapa de curvatura do perfil sobreposto, obtiveram-se mais
informações do terreno relacionadas à erosão.
As áreas localizadas, principalmente, nos divisores de águas, próximas à estrada de
acesso, foram classificadas como setores com menor potencial erosivo (Classe III).
Entretanto, alguns pontos nessas áreas podem apresentar uma característica diferenciada à
erosão, pois estão inseridas em locais com curvatura convexa, que naturalmente são áreas
de erosão.
O restante da propriedade, classificada como Classe II, apesar da sobreposição de
algumas áreas de curvatura côncava (que são áreas de deposição de sedimentos das áreas
mais altas), é predominantemente composto por áreas convexas. Conforme o potencial à
erosão laminar demonstra, essas áreas apesar de serem aptas a receber o atual uso do solo,
devem sempre ser combinadas com técnicas de proteção das terras, ação já realizada na
propriedade.
Planejamento e análises ambientais - 59

Figura 7 - Mapa de potencial à erosão laminar e curvatura do perfil

Fonte: TOPODATA, 2014.

CONCLUSÕES

O avanço tecnológico computacional provocou mudanças em todas as ciências, e na


Cartografia não é diferente. Novas ferramentas de trabalho e novas estratégias de
comunicação surgem em busca de um aprimoramento na construção e leitura de mapas.
Assim, atualmente, é possível processar grandes volumes de dados provenientes de
diferentes fontes através da utilização do geoprocessamento, o qual permite a integração e
manipulação de dados geográficos e a análise visual por meio da elaboração de mapas. O
uso da visualização cartográfica a partir de uma base de dados digitais possibilita uma
grande quantidade de análises e simulações, indispensáveis ao correto entendimento do
espaço geográfico.
60

O mapa amplia a capacidade de se unir os três fatores essenciais para a tomada de


decisão: o dado, a informação e o conhecimento. Por isso, trata-se de um mecanismo de
comunicação entre as pessoas, que possibilita a ampliação da capacidade de interpretação e
geração de novos conhecimentos sobre o espaço analisado.
A responsabilidade do mapeador reside na apresentação dos fatos. Cabe, em última
instância, ao administrador decidir como utilizar as informações. Com isso, premidas entre
um diagnóstico da área e as potencialidades do terreno, as instâncias decisórias podem
apoiar suas escolhas em mapas, reconhecendo que a informação e o conhecimento são
subsídios essenciais à tomada de decisão.
O mapeamento da Fazenda Modelo gerou, quantificou e sistematizou diversos
dados e informações que podem auxiliar os gestores em projetos futuros. No mapa de uso
de solo foi demonstrado que um setor da propriedade é subutilizado. A análise da altitude
revelou os setores mais propícios para geada e, portanto, os locais prioritários para ação de
medidas preventivas. O mapa de declividade apontou as aptidões para mecanização e, com
isso, os melhores rendimentos e menores custos do uso desta técnica. A avaliação da
quantificação e espacialização da insolação anual permitiu gerar diversas informações, uma
vez que a radiação é fonte primária de todos os fenômenos atmosféricos, além dos
processos físicos, químicos e biológicos notados em ecossistemas agrícolas. O mapa de
índice de umidade topográfica apontou locais de potencial dificuldade de locomoção de
máquinas. E por fim, o mapa de potencial à erosão laminar designou, levando em
consideração o uso atual das terras, quais áreas são prioritárias para ações de conservação
do solo, recurso este que embasa toda a produção e fonte de receitas.
A cartografia temática se mostrou um instrumento eficaz e um precioso apoio para
a simulação da gestão territorial. Dessa forma, pela utilização conjunta de informações
diversificadas, de instrumentos de tratamento matemático, de visualização e de desenhos
rápidos, o mapa pode tornar-se um auxiliar privilegiado do planejamento das ações
integradas de controle e de gestão da propriedade.
Na construção de um programa de gestão e planejamento territorial é fundamental
uma base de informações sobre os fatos ou eventos locais, regionais ou ainda em escalas
mais abrangentes. O acerto das decisões depende da qualidade da informação, que por sua
vez será função do modelo utilizado para perceber e analisar a realidade. Nesse sentido, o
Planejamento e análises ambientais - 61

conhecimento através da informação permeia todas as etapas do processo de intervenção


na realidade local e nas repercussões nos demais níveis escalares.

REFERÊNCIAS

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