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PRESENÇA NA PRÁTICA
Viajar
"Se você guia alguém em uma viagem, o melhor é que você saiba o
caminho de volta para casa".
A cura ocorre quando o transe está dentro da consciência do cliente,
ao invés de o cliente estar dentro do transe. Quando o cliente não está
mais no estado infantil mesclado com o transe, mas pode entrar em
Presença, ele pode desenvolver uma relação adulta com o transe.
Então a origem do sintoma pode ser encarada e integrada.
Quando a fonte é tratada com sucesso, as experiências difíceis e a
sabedoria contida na sua resolução podem fornecer um recurso ao
longo da vida fortalecendo o indivíduo, o seu sistema familiar e o todo
maior. Estes quatro exercícios práticos podem ser feitos
sequencialmente, já que um se baseia no sucesso do anterior.
Quatro exercícios práticos:
Exercício um: Coordenação mente-corpo
Exercício dois: Transe de dois segundos
Exercício três: Explorando as imagens interiores
Exercício quatro: Alterando as imagens interiores
Nota: Estes exercícios podem acessar o material de transe grave. Leia
a conversa com Dra. Ursula Franke-Bryson, na qual ela fala sobre como
levar as pessoas para fora do transe.
Exercício um: Coordenação mente-corpo
Fonte: Tohei, 1976 (mestre de Aikido considerado um Tesouro
Nacional vivo no Japão}.
Objetivo: Demonstrar o poder de Presença, familiarizar o cliente com
a facilidade de entrar em Presença por meio da “vinda aos sentidos";
demonstrar ao cliente como transes são debilitantes e ensiná-lo a estar
presente enquanto explora materiais transe e emoções difíceis.
Aplicação: Pode ser usado em trabalho individual ou em grupo.
Comentário: O profundo poder de Presença é fácil de demonstrar e
ensinar. Na maioria das vezes, todos os nossos participantes e clientes
entendem com facilidade e tem uma experiência positiva imediata. No
entanto, os clientes com uma tendência forte a dissociar podem ser
incapazes de permanecer no presente. As implicações gerais do poder
de Presença e a tenacidade de alguns transes familiares significam que
é preciso tempo para aprender a integrar a lição.
Descrição do processo: Uma série de exercícios cinesiológicos
realizados de maneira idêntica, mas com o cliente prestando atenção
de forma diferente a cada vez. Os testes são: pré-teste, estar presente,
em transe, em transe e estar presente simultaneamente, estar presente
mais uma vez.
Pré-teste
O cliente e o terapeuta sentam-se lado a lado, olhando para a mesma
direção. O cliente fica distante da parte traseira da cadeira e senta-se
relativamente reto, mas relaxado. O terapeuta gentilmente coloca a
mão na parte superior do tórax do cliente e aumenta progressivamente
a pressão sobre o peito. Normalmente o cliente se moverá para trás,
sob a pressão.
Teste de estar presente
O cliente senta-se como no pré-teste, o terapeuta mantém a mão no
centro da parte superior do tórax. O terapeuta traz o cliente a uma
experiência de realidade presente, concentrando-se na atenção.
T: Perceba o que você vê. Basta ver as cores e as formas, sem referência
mental ao que está sendo visto. Agora perceba os sons que você pode
ouvir. O som do equipamento mecânico ou elétrico, por exemplo. Ou
sons de carros distantes. Só ouça os sons. Agora, perceba as sensações
no seu corpo, o peso quando você está sentado na cadeira. Perceba as
solas de seus pés.
Então o terapeuta aumenta a pressão sobre o peito. Em 99% das vezes,
o cliente não se moverá sob a pressão da mesma forma que se moveu
antes.
T: Percebe que, agora que você está presente, eu posso empurrar tão
forte quanto eu quiser e sem qualquer esforço, você não se moverá.
Teste de transe
T: Agora pense na última vez que você foi ao consultório do dentista.
Como foi?
Enquanto o cliente entra no pensamento de algo do passado, o
terapeuta aumenta a pressão. Geralmente, mas nem sempre, o cliente
se mostra fraco.
Teste de transe e estar presente simultaneamente
T: Agora pense na sua última consulta com o dentista, mas fique aqui
presente, ao mesmo tempo.
Comentário: O cliente normalmente se mostra forte, mas não tão forte
como quando não pensa no passado.
Repetição de ficar presente
T: Agora rapidamente volte e fique presente.
O terapeuta testa aumentando a pressão.
Resultado: O cliente aprende por experiência que estar presente
fortalece. Ele aprende como entrar e sair de estados de transe
conscientemente. Os estados de transe tornam-se menos ameaçadores
quando o cliente descobre que pode sair deles voltando à percepção
dos próprios sentidos.
Aikido emocional na prática do hóspice
A mulher com quem eu estava trabalhando sabia que a sua mãe não
viveria muito mais. Ela queria passar todo o tempo possível com ela
antes de ela morrer, mas o medo que ela tinha de "perder" sua mãe era
tão intenso que ela não podia ficar no quarto com ela. Ensinei-lhe a
coordenação da mente e do corpo que eu tinha aprendido no Aikido.
Como a maioria das pessoas, ela imediatamente se sentiu fortalecida
quando se concentrou em suas sensações em vez de seu pensamento
sobre o seu medo. Então eu lhe pedi para localizar no corpo dela o
lugar onde ela sentiu seu medo a respeito da morte de sua mãe e de
estar presente para o medo da mesma forma que ela estava para o que
ela viu e ouviu. Ela aprendeu que, quando ela sentiu o medo como uma
sensação, em vez de pensar no medo, ela poderia permanecer presente
e sentir-se fortalecida mesmo estando com medo. Ela sorriu e entrou
na sala para passar tempo com sua mãe, que morreu mais tarde
naquela noite.
Exercício dois: O transe de dois segundos
O processo do transe de dois segundos é um processo simples e
controlado para o cliente entrar num estado de transe rapidamente e
sair dele da mesma forma para adquirir informações relevantes.
Fonte: Desenvolvido por Thomas Bryson, baseia-se na
dessensibilização sistemática da terapia comportamental, na
pendulação da Experiência Somática (Levine, 1997), na teoria da
coordenação mente-corpo do Aikido (Tohei, 1976) e em conceitos PNL
(da Programação Neurolinguística) sobre modos de percepção.
Objetivo: O cliente torna-se consciente da diferença entre estar
presente e estar em transe, ele aprende a obter a informação do transe,
mas a não permanecer lá. Ele ganha mais recursos quando entra e sai
do seu transe de forma consciente e controlada.
Alternando entre transe e Presença e utilizando os diferentes modos
de percepção, cada vez que acessa o seu transe, o cliente torna-se
sistematicamente dessensibilizado a seu material emocional e torna-
se mais capaz de exercer o seu mundo interior de forma expedita.
Observação: Clientes que passaram por abuso sexual grave podem
entrar em transe mais profundamente quando percebem sensações
físicas e podem sentir-se mais fortalecidos quando eles estão ouvindo
ou olhando.
Aplicação: Pode ser usado na prática individual ou em grupo. Este
exercício é uma extensão lógica do exercício de coordenação mente-
corpo e deve ser feito depois de vivenciado e compreendido.
Descrição do processo: O terapeuta direciona o cliente: Senta-se ereto,
mas relaxado. Gentilmente observe seus sentidos e perceba o que você
vê, ouve e sente, como nós fizemos no último exercício, no qual você
aprendeu o poder de Presença. A partir deste local de Presença, vamos
fazer uma viagem de dois segundos ao seu campo familiar e logo em
seguida voltar a sua posição de recursos de estar presente.
Primeiro passo:
Entrar no transe familiar, imaginando estar com a sua família e, em
seguida, saia do transe depois de dois segundos.
T: Nós vamos experimentar sentir o nosso transe familiar, mas só
vamos ficar lá por dois segundos.
Quando eu disser a você para entrar em seu transe familiar, você vai
se inclinar para trás um pouquinho e imaginar os seus pais. Daí, depois
de apenas dois segundos irei dizer-lhe para inclinar para a frente
entrando em Presença, como você fez antes no exercício do poder de
Presença do Aikido. Vamos começar agora. Encoste-se em sua cadeira
e imagine que seus pais estão com você no quarto. Deixe-se sentir isso.
Após dois segundos:
T: Agora saia de seu transe familiar e volte para Presença. Olhe em
volta e veja o que você vê. Ouça os sons no quarto.
Em grupo, o terapeuta pede que cada pessoa dê seu relato:
T: Por favor, diga só uma palavra que descreve a emoção que você
encontrou ao entrar em seu transe familiar.
Comentário: Muitas vezes a descrição em uma palavra só revela
emoções difíceis. Palavras como 'sufocante', 'ansioso', 'pesado', 'nunca
chega' e 'deprimente' são comuns. Mas ouvimos também 'amor',
'carinho', 'doce'.
Segundo passo:
Alterar o modo de percepção para a audição.
T: Vamos voltar novamente para o transe familiar da mesma maneira
que fizemos, mas desta vez, vamos olhar para algo específico e ficar
por quatro segundos, porque ouvir é mais lento que olhar. Quando
você se inclinar para trás no transe familiar desta vez, preste atenção
no que você pode ouvir enquanto estiver lá e quando você voltar à
Presença, você vai dizer uma palavra que descreve o que você ouviu.
Agora, encoste-se em transe e ouça.
Após quatro segundos:
T: Agora, saia do transe e volte à Presença. O que você ouviu?
Finalidade: Para a pessoa comum, visualmente dominante, a audição
é menos aperfeiçoada. Mudando para o modo de audição é geralmente
interessante e não ameaçador. Isso ensina o cliente como entrar e sair
do transe e ter controle sobre o processo.
Terceiro passo:
Alterar o modo de percepção para a sensação.
T: Desta vez, quando você entrar em transe, perceba quais são as
sensações no corpo e volte depois de dois segundos.
Quando os clientes retornaram, pergunte:
T: Onde em seu corpo você presenciou as sensações relacionadas com
o seu transe familiar?
Objetivo: Quando o modo perceptivo é deslocado de emoção a
sensação física, o sentido de incorporação e capacitação aumenta. Isto
será enfatizado no próximo passo. Também é preliminar para uma
exploração posterior de imagens interiores.
Quarto passo:
Combinação de transe de dois segundos e coordenação mente-
corpo.
T: Agora vamos voltar ao exercício de coordenação entre mente e
corpo, onde você aprendeu o poder de Presença. Sente-se ao lado de
seu parceiro (no grupo). Venha à Presença e peça para o seu parceiro
fazer o teste.
Quando todos se experienciaram fortes no teste, diga:
T: Agora, desta vez, esteja presente aqui na sala. Enquanto presente
observe onde em seu corpo você sente a sensação do seu transe
familiar, mas não entre no transe. Apenas sinta-o como uma sensação.
Agora teste.
Resultado: O teste mostra os clientes fortes ao sentirem a emoção do
seu transe familiar como uma sensação (veja a nota anterior sobre o
trauma sexual).
Exercício três: Explorando imagens internas
Fonte: Por décadas, as terapias de corpo, de Gestalt e Focusing têm
explorado a ligação entre as imagens somáticas, a percepção do corpo,
o conteúdo do pensamento e a expressão corporal. Focalizando em um
aspecto da percepção do cliente, tal como sensações físicas, as
implicações lógicas abrem a porta para uma compreensão contextual
mais ampla.
Objetivo: Quando a informação sobre a origem dos sintomas e
trauma-transes do cliente não estão disponíveis cognitivamente nem
acessíveis pelo genograma, é possível obter informações diretamente
do corpo do cliente. Nesse processo, fazemos o cliente entrar em
contato com a emoção relacionada à sua questão, fazê-lo sentir essa
emoção como sensação física, ampliar essa emoção no corpo e, em
seguida, converter a sensação física em uma imagem para que
possamos trabalhar com esta imagem e seu conteúdo emocional.
Discussão: Quando encontramos uma imagem, seguimos a hipótese
de que ela está diretamente relacionada à emoção ligada ao sintoma
do cliente. Cognitivamente o cliente pode ter nenhum conhecimento
de onde a imagem vem, mas a essência da história está implícita no
corpo do cliente. Muitas vezes o sintoma do cliente é solucionado
quando trabalhamos com a imagem até a sua conclusão, seja por meio
da expressão emocional direta, trabalhando com a imagem
diretamente, como no exercício quatro descrito adiante ou por meio
da externalização em uma constelação.
A maioria dos clientes são capazes de acompanhar o processo e
encontrar uma imagem. Se eles não têm acesso a mais informações,
pode-se utilizar um representante para a exploração de uma forma
semelhante (veja a opção de usar representantes).
Aplicação: Para clientes individuais. Quando o cliente aprendeu que
sentir as suas emoções como sensações o fortalece, ele têm mais
recursos para explorar traumas mais distantes, mais profundos ou
mais antigos. Se o cliente tiver sintomas inexplicados, como tensões,
medos ou fobias que não fazem qualquer sentido na sua própria vida,
este processo pode trazer resultados.
Primeiro passo:
Trazer o cliente à Presença
Veja exercício um: Coordenação de mente e corpo.
Segundo passo:
Identificar a emoção relacionada ao sintoma.
Pode-se pedir ao cliente que resuma a questão a uma frase sucinta que
contenha conteúdo emocional. Pode-se fazer uma pergunta
provocativa: O que de pior poderia acontecer?
Terceiro passo:
Amplificar a emoção.
Pode-se ampliar a emoção pedindo ao cliente que se concentre nela,
sentindo a emoção em seu corpo como uma sensação. Estimule o
cliente a sentir a emoção mais plenamente em seu corpo, lembrando-
lhe que fazendo isso ele está sendo fortalecido e que ele pode parar a
qualquer momento que ele desejar.
Quarto passo:
Rastreie a emoção e as sensações resultantes dirigindo a atenção do
cliente para as diferentes partes do corpo. Inicie o processo pelo local
em que o cliente relata sensações ou por onde você percebê-las e
amplie a consciência dessas sensações ao corpo inteiro, movendo-se
lentamente mais para baixo até os pés.
T: O que você está sentindo na garganta? E o que você está sentindo
abaixo da sua garganta, em seu peito e nos pulmões? E o que está
acontecendo em seu diafragma? E na sua barriga? Na sua pélvis? Como
percebe as suas pernas agora?
Quinto passo:
Converter sensação em imagens.
T: Agora feche os olhos e em sua mente olhe para baixo, para os seus
pés.
Comentário: Enquanto você estiver realizando este processo com o
cliente, você poderá sentir as sensações ou ver as imagens que ele
descreve. Você poderá usar seu próprio corpo como um corpo de
ressonância do estado do cliente e assim saberá por onde avançar na
fase de resolução.
Sexto passo:
Ampliar a imagem.
T: Você consegue ver seus pés? Eles estão calçados ou descalços? Essa
pessoa está de pé, sentada, andando, rastejando, correndo, deitado...?
Comentário: Converter para a terceira pessoa enfatiza que não se trata
do cliente, mas alguém diferente que está sendo percebido.
Sétimo passo:
Dar um contexto à imagem.
T: Olhe ao seu redor. Esta pessoa está dentro ou fora? Há luz ou está
escuro? Que hora do dia é nesta imagem? Essa pessoa é um homem
ou uma mulher? Quantos anos tem?
Oitavo passo:
Acrescentar tempo e ação para o contexto.
T: O que acontece agora? O que vai acontecer com essa pessoa? Você
também pode ir para trás no tempo:
T: O que aconteceu pouco antes dessa imagem?
Nono passo:
Passar ao além do trauma e ir à solução.
T: Será que essa pessoa vive ou morre?
Se a pessoa morre, pergunte: Agora que ela está morta, de que ela
precisa? Quem ela gostaria de ter por perto dela?
Décimo passo:
Constelar a imagem no olho da mente ou com representantes
para completar a Gestalt aberta e para concluir o processo.
Opção para usar seu representante: Se um cliente tem ambos, um
trauma grave que não foi resolvido e um trauma sistêmico que parece
ser a causa potencial de seus sintomas, talvez seja melhor não
trabalhar diretamente com o cliente nesse processo. Se o cliente é
altamente excitado, pode ser melhor usar um substituto em seu lugar.
Faça o cliente escolher um representante para si próprio. Faça o
representante sentar entre o terapeuta e o cliente. Se você trabalha
com um parceiro, peça ao seu parceiro para sentar-se ao lado do
cliente para lhe dar apoio. Se você não tiver um parceiro, você pode
pedir ao cliente para escolher alguém que seja um recurso para ele,
alguém que se sente com ele e lhe dê um toque físico de apoio.
Confirme ao cliente que ele tem controle sobre o que vai acontecer e
que você só irá até o ponto em que ele se sente seguro. Quando tiver
que seguir para o próximo passo, pergunte ao cliente se ele quer
continuar.
Terapeuta ao representante: Olhe nos olhos do cliente. Você pode
sentir a emoção do cliente quando você olhar em seus olhos?
Quando o representante entrar em ressonância física com o cliente,
prossiga com o representante como acima, como se ele fosse o cliente.
T: Onde, no seu corpo, você sente suas emoções?
Comentário: Esta técnica de transformar emoções em sensações e, em
seguida, em imagens também pode ser aplicada durante uma
constelação se existe um representante com sensações corporais
graves durante tal constelação e se o facilitador sente que é importante
explorar mais profundamente esse representante particular.
Exemplo de uma imagem de um ancestral
"Eu machuco os outros e os outros me machucam".
Cada cliente se move à sua própria velocidade. No exemplo a seguir, o
processo foi rápido. O cliente relatou que, quando ele pensava em seu
irmão, com quem tinha tido conflitos, sentia uma sensação de tensão
em seu intestino. O cliente foi do estado de sentir a sensação
diretamente a uma frase expressando a emoção central e daí
imediatamente a uma imagem.
T: O que acontece quando você imagina que você pode sentir agora
essa tensão no seu intestino?
C: Eu ouço a frase: "Eu machuco os outros e os outros me machucam".
Então logo eu vejo uma imagem na minha mente. É uma paisagem
cinzenta estéril, sem uma única árvore ou folha de grama. Há um
homem ali, um soldado da Primeira Guerra Mundial que eu considero
ser o meu avô, pai de minha mãe. Ele é tão cinzento como a paisagem,
a luz é fraca. Ele tem uma espingarda com uma baioneta na ponta. Há
outro soldado ali, um alemão. O homem que eu considero ser o meu
avô empurra sua baioneta no intestino do soldado alemão. No
momento vejo a baioneta entrando no corpo do outro soldado, eu
posso sentir a tensão nas minhas próprias entranhas.
T: O seu avô ainda vive?
C: Não. Ele morreu quando ele tinha apenas 45 anos de idade. Ele
nunca se recuperou emocionalmente da guerra ou fisicamente dos
efeitos pós-inalação de gás venenoso.
T: O que ele precisa agora que está morto?
C: Ele precisa estar com seus companheiros.
T: O que acontece quando você imagina que ele está com todos os seus
camaradas agora?
C (com lágrimas nos olhos): Eles choram juntos e se abraçam. Depois
de algum tempo eles começam a se sentir um pouco melhores. Eles
estão sorrindo agora. E na distância eu posso ver que há muitos,
muitos outros soldados. Os soldados alemães estão chegando para se
juntar a eles! Eles estão todos juntos agora, chorando, se abraçando,
batendo nas costas uns dos outros, rindo e olhando nos olhos dos
outros. Depois de algum tempo estando juntos eles começam a se
acalmar. Agora está tudo quieto e eu me sinto muito tranquilo. (O
cliente sorri enquanto as lágrimas rolam suavemente pelo seu rosto.)
Exercício quatro: Alterando imagens de trauma
Fonte: Adaptado da trauma-terapeuta Babette Rothschild: O corpo se
lembra (2003).
Finalidade: Restituir no cliente uma sensação de controle sobre a
intrusão de imagens; estabelecer uma imagem de recursos como um
lugar de recuo estratégico; estabelecer contato com a imagem invasora
de um lugar de recurso; ensinar como entrar na imagem e como sair
dela com facilidade; reduzir a excitação do cliente quando contatar
imagens de trauma; estabilizar e minimizar as reações fortes para
possibilitar mais tratamento; e alterar a imagem interna de trauma.
Aplicação: Com o cliente individual que tem imagens intrusas
relacionadas ao trauma, seja ele biográfico ou sistêmico.
Primeiro passo:
Trazer o cliente à Presença
Ver exercício um: A coordenação entre mente e corpo.
Segundo passo:
Encontre uma imagem de recurso.
T: Você consegue se lembrar de uma época quando você realmente se
sentia bem? Talvez tenha sido quando você era uma criança deitada
de costas na grama olhando as nuvens, ou quando você foi para o mar
pela primeira vez e viu a grandeza do oceano. Qual seria uma imagem
agradável para você que nós poderíamos usar como recurso?
O cliente descreve uma imagem na qual ele se sente bem e começa a
sentir as sensações e emoções relacionadas com a imagem de recurso.
Terceiro passo:
Ancorar a imagem de recurso no corpo.
T: Quando você imagina a sua imagem de recurso, o que está
acontecendo em seu corpo? Quando você está nessa imagem, o que é
que pode cheirar ou ouvir? Como está sua respiração quando você
imagina que você está naquele lugar? Como está o seu corpo agora?
Quarto passo:
Tocar rapidamente na imagem de trauma (veja exercício dois:
Transe de dois segundos) e retornar à Presença.
T: Agora eu gostaria de apenas tocar na imagem de trauma, mas só por
dois segundos, depois volte à Presença. Você está disposto a fazer isso?
Ok. Vá em frente.
Depois de dois segundos...
T: Agora volte para cá junto a mim. Deixe a imagem completamente.
Olhe ao redor da sala. Você está aqui agora? O que está acontecendo
em seu corpo? Onde você sente isso? Como está a sua respiração?
Quinto passo:
Revocar a imagem de recurso.
T: Eu gostaria que você imaginasse a sua imagem de recurso.
Como é isso? O que você sente no seu corpo? Como está sua a
respiração?
Comentário: Quando o cliente retorna a um estado de não-excitação
ou a um estado neutro básico, pode-se considerar em prosseguir. Ou
talvez essa exploração já é suficiente por uma sessão. Não há pressa. É
preciso trabalhar na velocidade das emoções do cliente e dentro de sua
capacidade de recuperar Presença.
O processo de alternadamente entrar no campo da imagem intrusa e
da imagem de recurso pode ser repetido até que ambas as imagens
sejam acessíveis ao mesmo tempo. A transformação tem ocorrido
quando o cliente é capaz de estar presente e a imagem intrusa não
desperta mais o cliente ou simplesmente se tornou fraca e vaga. Se a
imagem é sistêmica, pode externalizá-lo em uma constelação no olho
da mente, ou com representantes.
Exemplo de uma imagem ancestral
Soldado a cavalo
Comentário: O cliente contatou o terapeuta relatando que ele tinha
uma imagem de trauma que o tirava de Presença e ele estava tendo
dificuldades em voltar. Ele pediu para trabalhar com a imagem. A
sessão realizou-se por meio de Skype. O exemplo escrito é condensado
e muito mais rápido do que o que ocorreu - o que, na realidade, durou
cerca de uma hora.
C: De repente eu entrei em uma profunda ansiedade, sentindo que
algo terrível ia acontecer. Uma imagem me veio e eu não conseguia
sair dela. Eu gelo e começo a entrar em pânico quando penso nisso.
T: Como você está respirando agora?
C: Eu estou respirando bem. Um pouco superficial. Eu posso sentir o
transe me puxando.
T: Olhe ao redor da sala onde você está agora. Observe as cores e
formas familiares. Como é isso?
C: Bom. E quando eu olho para você na tela do computador, eu vejo
você sorrir e eu relaxo mais.
T: Você gostaria de explorar essa imagem e ver o que podemos fazer
juntos?
C: Sim. Eu estou pronto.
T: Vamos começar com a mesma imagem de recurso que funcionou
da última vez quando nós fomos em uma viagem juntos. Lembre-se
que você estava deitado de costas na grama numa praia? Você podia
sentir o cheiro da brisa do mar, ouvir os pássaros e podia sentir o calor
do sol. Como é isso?
C: Minha respiração voltou ao normal.
T: Bem. Esta imagem na qual você entrou é como uma foto ou como
uma imagem em movimento, como um vídeo?
C: É um vídeo. Eu sou um garoto e há um homem a cavalo vindo em
minha direção. Há uma mulher gritando. Há fumaça e fogo. Sinto-me
congelado. Eu não posso respirar ou me mover. Ele irá me matar com
sua espada.
T: Pare! Saia do transe. Lembre-se de como era estar deitado de costas
na grama na praia? Como é o cheiro do mar agora nessa memória da
sua infância? Como é isso?
C: Caramba! O transe leva-me tão rápido, eu perco completamente a
Presença.
T: Vamos acalmar as coisas. Se o que você encontrou parece um vídeo,
vamos pressionar o botão de retroceder e voltar no tempo. Você
concorda? Vamos voltar à mesma vila onde você se encontrou, mas
vamos olhá-la um mês antes de tudo isso, ok?
C: Certo. Quando imagino como a vila parecia um mês antes que tudo
deu errado, é muito tranquilo lá. Há pequenas casas com telhados de
colmo. As pessoas estão calmamente cuidando de seus afazeres
normais. Eu não tenho nenhuma ideia de onde essa imagem vem, mas
parece que é de centenas de anos atrás.
T: Você gostaria de explorar mais?
C: Sim. Voltando atrás no tempo me ajuda a relaxar.
T: Você já trabalhou em seu computador com fotos que você tirou?
C: Sim.
T: Pegue a primeira imagem do soldado a cavalo e imagine que é uma
pequena imagem em seu computador.
C: Certo.
T: Agora faça ela em preto e branco... e depois transforme-a em uma
imagem negativa, de modo que todas as áreas brancas são áreas em
preto e reverso. Você pode fazer isso? Agora amplie a foto para que
todo o quadro seja preenchido com as patas do cavalo. Você pode fazer
isso?
C: Sim. Tira o poder da imagem quando misturamos tudo.
T: Essa é a ideia. Agora vamos voltar para a imagem que você
descreveu, mas desta vez, focalize apenas as pernas do cavalo.
Enquanto você as está vendo, volte uma única imagem no vídeo. As
patas que estavam no ar agora estão no chão e os pés que estavam na
terra estão agora no ar.
C: Sim! (Risos)
T: Agora mova a foto para que você possa ver o soldado. Como ele está
segurando a espada?
C: Ele está segurando-a ao lado, com a ponta ligeiramente baixada.
T: Você pode imaginar que ele está segurando a espada pela ponta de
modo que o punho está voltado para fora?
C: Sim. É fácil.
T: Pode imaginar o soldado segurar a espada pela lâmina? E deixá-lo
caminhar com o seu cavalo bem devagar na sua direção. Chegando
mais perto de você, ele lhe entrega a espada.
C: Sim. (Chora.)
T: Como você está agora?
C: Eu me sinto aliviado. Eu sinto tanta compaixão pelo soldado. Esta
cena é de muito tempo atrás.
T: Você sabe alguma coisa sobre essa cena? É familiar para você?
C: Não.
T: De onde quer que essa imagem tenha vindo, de algum modo estava
ligada ao medo dentro de você. E nós mudamos a imagem. Como você
está se sentindo agora?
C: Cansado. Mas bem. Obrigado.
Perguntas potenciais de inquérito cognitivo para o cliente
O que acontece quando você respira?
Comentário: A questão abre a porta para o cliente a vir à Presença por
meio da experiência direta de seu corpo.
O que aconteceria se você expirasse?
Comentário: Se for muito assustador expirar e abrir a porta para o
mundo interior, o cliente pode explorar a ideia de exalar no olho da
mente em primeiro lugar, antes de se aproximar e realmente exalar.
Quando foi a primeira vez que experimentou esses sentimentos (ou
sintomas)?
Comentário: Serve para explorar uma possível fonte biográfica, na qual
os sentimentos ou sintomas façam sentido.
Há mais alguém em sua família que sentiu esses sentimentos?
Comentário: Para explorar um possível contexto sistêmico e
prosseguir a trilha da origem potencial do problema.
A quem mais poderiam pertencer os sentimentos que você está
sentindo agora?
A quem pertence o transe que você está visitando?
Comentário: Serve para testar a hipótese de que a sensação que o
cliente está tendo é apropriada para uma pessoa no sistema familiar
em uma situação específica no passado. Por isso, pode ser que a
emoção seja assumida e/ou um padrão repetitivo.
0 que aconteceria se você não acreditasse nisso?
Comentário: Suavemente leva o cliente à possibilidade de estar além
do transe e suas crenças incorporadas.
Quem você seria sem esse transe?
Comentário: Ajuda o cliente a entender como a sua identidade e o seu
pertencer são ligados com o sistema familiar e a função do sintoma. E
leva à próxima pergunta:
Como a própria Presença responderá a esta situação?
Comentário: Serve para retornar ao cliente a possibilidade de ocupar
o seu ser puro além do transe familiar.
CONCLUSÃO
Presença em si leva naturalmente ao equilíbrio interno de estrutura e
fluxo. Pela dependência do pensamento conceitual para a
sobrevivência a curto prazo, a humanidade tem perdido o contato com
o mundo natural, seus ritmos e a habilidade natural de acessar a
Presença e efetivamente atualizar a sua programação interna.
Altos níveis de estresse, trauma e encontros com a morte na vida de
uma pessoa e na sua linhagem criam estruturas internas restritivas.
Estes, por sua vez, dão origem a estados de transe e a sintomas mais
fortes, mais invasivos e mais duradouros. Quando estes estados de
transe e sintomas interferem na vida dos clientes e não são desejados,
eles buscam alívio e procuram terapia.
Presença é um recurso despercebido, mas sempre disponível para
clientes e terapeutas por igual. Quando a Presença é consciente e
incorporada, torna-se fortalecedora e um refúgio do qual as emoções
difíceis e legados herdados podem ser integrados e transformados.
Nossa prática é baseada na integração de pensamento sistêmico, do
reconhecimento do condicionamento psicológico, emocional e
comportamental herdado, de trauma-terapia centrado no corpo e do
poder da Presença.
Através da relação terapêutica e a modulação controlada entre
Presença e o mundo interior do cliente, a estrutura e o fluxo chegam
numa homeostase harmônica e com graça, o cliente pode viver uma
vida mais funcional, eficaz e pacífica cheio de possibilidades.
Thomas Bryson e Dra. Ursula Franke-Bryson
Munique, 2011
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SOBRE O AUTOR
Thomas Bryson é professor e treinador sistêmico. Trabalha com sua
esposa - a psicoterapeuta, escritora e instrutora Dra. Ursula Franke-
Bryson, com quem estas palavras foram discutidas e postas em prática.
Dra. Franke-Bryson fez o primeiro doutorado em constelação
sistêmica. Ela tem vasta experiência clínica e formação em
comportamento, terapia corporal Gestalt, transpessoal e sistêmica.
Dra. Franke-Bryson é uma instrutora muito procurada, especializada
em constelação sistêmica na prática individual e na resolução do
complexo conhecido como "movimento interrompido”. Dra. Franke-
Bryson é autora de "O Rio Nunca Olha para Trás", que traça a linhagem
de constelação sistêmica dentro da psicoterapia mainstream, bem
como o seminal e amplamente traduzido guia prático para constelação
sistêmica na prática individual, "Quando fecho os olhos vejo você".
Bryson e Dra. Franke-Bryson tem consultórios particulares em
Munique, na Alemanha. Junto com Oswaldo Santucci e Gláucia Paiva
são fundadores da revista sul-americana de soluções sistêmicas, a
Conexão Sistêmica Sul, para os países de língua espanhola e
portuguesa. Eles são professores e coordenadores acadêmicos sênior
da formação em constelação sistêmica em São Paulo e em Salvador,
Bahia. Também oferecem treinamentos regulares na Rússia,
Dinamarca, Alemanha,
Itália e África do Sul. Juntos, eles ofereceram treinamentos na
Argentina, Austrália, Egito, Inglaterra, Holanda, México, Espanha e
em outros países. Bryson trabalha com clientes em todo o mundo via
Skype, bem como por telefone e pessoalmente.
Além de se especializar na cura do movimento interrompido e na
prática individual como faz a Dra. Franke-Bryson, Bryson se concentra
em trabalhar com emoções difíceis e autonomia pessoal através do
Aikido emocional. Ele traz para seu ensino e consultório particular
uma vasta experiência com questões ligadas ao fim da vida, prática
adquirida ao longo de muitos anos trabalhando como enfermeiro em
hóspice, bem como a sabedoria encarnada das tradições do Aikido e a
meditação budista Zen. Ele segue o preceito "Ensine somente aquilo
que sabe de sua própria experiência”. Ao mesmo tempo, sua
abordagem prática para a jornada interior engloba uma ampla
variedade de fontes que vão desde a ecologia da vida selvagem, a
biologia humana, genética, física quântica, artes marciais e psicologia.
Seu trabalho é explicitamente espiritual e enraizado no método
clássico científico.
Juntos, têm seu trabalho baseado em pensamento sistêmico, terapia
do trauma focada no corpo e no poder da Presença. Em conjunto, eles
trazem uma abordagem interdisciplinar, que integra pensamento,
prática e treinamento sistêmicos. A teoria expressa aqui tem sido
desenvolvida em conjunto e se baseia em sua vida e experiência de
trabalho com clientes e alunos de diferentes culturas.
O trabalho da Dra. Franke-Bryson e de Bryson reflete a infinita
complexidade que resulta da combinação de elementos simples.
Nenhum dos elementos contidos aqui são novos. As ideias e
inspirações vêm de verdades simples e sabedoria encontrada em
muitas culturas e disciplinas. E, ainda assim, aqui está uma nova
integração com base em sua própria experiência primária e reflexão.
Eles oferecem apreço e gratidão a todos aqueles que têm trilhado este
caminho antes deles e acima de tudo a muitos clientes que têm sido
seus professores.
Calendário e informações de treinamento podem ser encontrados no
link www.ursula-franke.de. Para atendimentos individuais, Thomas
Bryson pode ser contatado pelo e-mail tb@thomas-bryson.de.
O autor reconhece e agradece ao seu pai, o falecido Dr. Reid A. Bryson,
um pioneiro cientista ambiental, climatologista e poeta, sua inspiração
para o amor e amplitude de perspectiva.
Linha Editorial: Conexão Sistêmica
A Editora Conexão Sistêmica tem como linha editorial o
compartilhamento da visão advinda do pensamento sistêmico e das
soluções propostas e estudadas para as mais diversas áreas - da terapia
tradicional às terapias contemporâneas, da psicologia, pedagogia, dos
assuntos relacionados a negócios ao mundo organizacional e ao
entendimento das redes que se formam na comunicação das relações
que os seres humanos estabelecem entre si. Estamos em contato com
autores do Brasil e de mais de 20 países ao redor do mundo para trazer
diferentes visões com um objetivo comum de agregar aqueles que se
interessam pelo assunto dos nossos títulos e aqueles que tem prazer
em divulgar suas ideias. Como “pano de fundo”, temos a pretensão de
dar espaço para aqueles que querem direcionar o seu saber para um
público interessado em capacitação e desenvolvimento pessoal e
estabelecer uma conexão entre as pessoas interessadas em soluções
sistêmicas.
www.conexaosistemica.com.br