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A PRÁTICA ESPORTIVA NA INFÂNCIA E JUVENTUDE

Que a prática esportiva tem seus méritos ninguém duvida. Estudos têm demonstrado de
que a atividade física durante a infância e a juventude traz benefícios para a vida adulta,
principalmente em se tratando do sistema cardiovascular e prevenção de doenças como
a arteriosclerose. O que poucas pessoas sabem é que o excesso de atividade física na
infância e adolescência pode levar a situações traumáticas que comprometerão a saúde
futura do praticante em decorrência de problemas tanto de ordem orgânica quanto
psíquica.
Há quem diga que quanto mais cedo iniciar a criança no esporte, melhores resultados futuros
ela poderá atingir e melhor capacitada ela estará para se tornar um atleta profissional. Pensar
desta maneira não é errado, atualmente o nível dos resultados esportivos encontra-se tão
elevado que somente aqueles que se dedicam à atividade esportiva durante muitos anos são
capazes de superar ou mesmo se aproximar dele.

Este e outros fatores, como os pais que chegam a gastar grande quantidade de dinheiro
no futuro esportivo dos seus filhos, contribuem para uma profissionalização do esporte
na infância ocasionando uma diminuição na idade de início da prática esportiva.
Segundo pesquisadores da área, este fato não é válido para todas as modalidades, sendo
mais evidente nas ginásticas, nos saltos ornamentais, na patinação artística, na natação,
no esgrima e em algumas outras. Já nas modalidades como futebol, basquetebol,
voleibol e handebol, os quadros etários têm permanecido constantes nas últimas três
décadas.

As pesquisas também têm demonstrado que hoje a maioria dos atletas de alto rendimento
começou a se dedicar a uma única modalidade esportiva por volta dos 15 anos enquanto que,
de outro lado, o maior índice de abandono do esporte infantil corresponde aos jovens que
iniciaram os treinamentos específicos ainda antes dos 12 anos. Fatos que não justificam a
criação de escolinhas especializadas em idades muito tenras.
Não se pode negar que a especialização precoce oferece muitos riscos à saúde da criança e
do adolescente, por outro lado a busca de talentos é um fato que merece atenção. A realidade
é que muitas pessoas ainda vêem no esporte um meio de ascensão social, que somente será
atingido através de alto nível técnico e, neste ponto, os jovens não medirão forças para realizar
toda e qualquer tarefa que o levem a ser um fenômeno social. No entanto o esporte infantil
apresenta outras exigências do que simplesmente qualificar ao alto rendimento. Um aspecto
importante está na motivação do futuro atleta para a prática esportiva e na preocupação de que
nem todos os jovens pensam em se tornarem ou serão grandes atletas. Mesmo aqueles que
têm como meta o esporte de alto rendimento podem não vir a ser atletas de elite. Desta forma,
mais adequados são os ambientes esportivos que visam, se não esclarecer, pelo menos
diminuir o conflito do porquê ser um grande campeão e do porquê estar ali.

Muitos profissionais que trabalham no esporte infantil ainda não se deram conta de que
trabalham com pessoas; mais ainda, com suas emoções, suas esperanças, seus sonhos, seus
objetivos e seus desejos. Não é difícil encontrar jovens atletas que estão praticando um
determinado esporte em virtude dos desejos e sonhos dos seus treinadores ou pais. Oscar – o
“mão-santa” do basquetebol – em uma declaração à imprensa afirmou que só irá parar de jogar
depois que ele tiver a oportunidade de jogar lado a lado com seu filho em quadra. Curioso? A
questão é sempre a que desejo o jovem está respondendo: seu ou do outro?
Infelizmente uma prática esportiva acompanhada deste modelo onde se adotam procedimentos
que intensificam aspectos competitivos, valores que compreendem a busca de talentos e o
“vencer a qualquer preço”, intensificados pelos apreços sociais de prestígio, glória e
sobrevivência não valoriza uma prática em que os jovens, mais que objetos, devem ser o
centro da atividade, a primeira e única razão de ser do esporte infantil.

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