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Unidades de Conservação
Uma experiência na Mata Atlântica
Gestão Participativa em
Unidades de Conservação
Uma experiência na Mata Atlântica
Edilaine Dick
Marcos Alexandre Danieli
Alanza Mara Zanini
(Organizadores)
1ª Edição
Rio do Sul (SC), 2012
Ficha técnica
Produção Eduardo Torma Burgueño, Marcelo Limont, Marcia Casarin Strapazzon,
Apremavi Marcos Da-Ré, Maria Luiza Schmitt Francisco, Miriam Prochnow,
Murilo Anzanello Nichele, Patrícia Maria Soliani, Rafael Leão, Ricardo
Organização Castelli Vieira, Rodrigo Filipak Torres e Valburga Schneider.
Edilaine Dick, Marcos Alexandre Danieli e Alanza Mara Zanini
Agradecimentos
Edição Comunidades vizinhas e gestores das Unidades de Conservação
Miriam Prochnow envolvidas no projeto; Unochapecó – Universidade Comunitária da
Textos Região de Chapecó.
Alanza Mara Zanini, Dailey Fischer, Deusdedet Alle Son, Edilaine Dick, Esta publicação foi elaborada com recursos do Subprograma Projetos
Emerson Antonio de Oliveira, Laci Santin, Lucia Sevegnani, Marcelo Demonstrativos – PDA Mata Atlântica, criado em 1995 dentro do
Limont, Marcos Alexandre Danieli, Miriam Prochnow e Wigold Ministério do Meio Ambiente (MMA), no âmbito do Programa
Bertoldo Schaffer. Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais – PPG7. O livro é parte
Fotografia integrante do projeto “Integração e Capacitação de Conselhos e
Miriam Prochnow, Marcos Alexandre Danieli, Edilaine Dick, Wigold Comunidades na Gestão Participativa de Unidades de Conservação –
Bertoldo Schaffer, Antonio de Almeida Correia Junior, Edegold Schaffer, Oeste de SC e Centro Sul do PR” (PDA-513MA).
Alanza Mara Zanini, Carolina Cátia Schaffer, Fabiana Bertonici, Jaqueline
Pesenti, Leandro da Rosa Casanova, Ecopef e arquivo Apremavi.
Revisão
Miriam Prochnow, Wigold Bertoldo Schaffer e Daiana Tânia Barth.
Projeto Gráfico
Fábio Pili
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO DA PUBLICAÇÃO (CIP)
Diagramação
Ana Cristina Silveira G393
Gestão participativa em Unidades de Conservação: uma experiência na
Mapas Mata Atlântica / Edilaine Dick, Marcos Alexandre Danieli, Alanza
Carolina Cátia Schäffer Mara Zanini (Orgs.). – 1. ed. – Rio do Sul, SC : APREMAVI, 2012.
72 p.; 27 cm.
Apoio Bibliografia: p. 68-70.
Ademar Luiz Francescon, Afonso Camargo de Moura Neto, Alexandre ISBN 978-85-88733-08-4
Sachs, Álvaro Luiz Mafra, Angelo Milani, Antonio de Almeida Correia 1. Gestão ambiental – Mata Atlântica. 2. Áreas de conservação de
Junior, Daiana Tânia Barth, Dailey Fischer, Deusdedet Alle Son, Edegold recursos naturais – Mata Atlântica – Administração. 3. Conservação da
Schaffer, Eduardo Hermes, Eduardo Mussatto, Fabiana Bertoncini, Fabio natureza – Mata Atlântica. 4. Política ambiental. I. Dick, Edilaine II. Danieli,
Marcos Alexandre III. Zanini, Alanza Mara. IV. Associação de Preservação
Foto: © Miriam Prochnow
Moreira Corrêa, Geraldine Marques Maiochi, Gilberto Fasolo, Grasiela do Meio Ambiente e da Vida.
Hoffmann, Jaqueline Pesenti, João Luiz Godinho, Juares Andreiv, Juarez CDD – 363.700981
Caméra, João de Deus Medeiros, Juliano Rodrigues Oliveira, Laci Santin,
Leandro da Rosa Casanova, Leoncio Pedrosa Lima, Lucia Sevegnani, Luiz Catalogação elaborada pela Bibliotecária Roberta Maria de Oliveira Vieira –
CRB-7 5587
Um dos objetivos das Unidades de
Conservação é proteger a biodiversidade.
Refúgio de Vida Silvestre dos
Campos de Palmas (PR).
Sumário
6 Apresentação
8 O Projeto de Gestão Participativa em Unidades de Conservação
10 Mata Atlântica
10 A Mata Atlântica no Brasil
14 A Mata Atlântica em Santa Catarina
16 Floresta Ombrófila Mista
18 Floresta Estacional Decidual
19 Campos de Altitude
20 As Outras Matas da Mata Atlântica
22 A Mata Atlântica Ameaçada
24 Unidades de Conservação
24 O que são Unidades de Conservação
28 Unidades de Conservação no Brasil
30 Unidades de Conservação Envolvidas no Projeto
44 Gestão Participativa
44 Gestão Participativa em Unidades de Conservação
46 Conselho Gestor de Unidades de Conservação
50 Ferramentas para Conselhos Gestores de Unidades de Conservação
52 Formando e Renovando um Conselho Consultivo
56 Os Conselhos Consultivos das Unidades de Conservação
Envolvidas no Projeto
58 A Educação Ambiental como Chave para a Conservação da Natureza
60 Experiências de Apoio à Gestão de Unidades de Conservação
Foto: © Wigold B. Schaffer
68 Referências Bibliográficas
71 Contatos
Apresentação
© Marcos A. Danieli
U
nidades de Conservação (UCs) são estratégicas para a proteção sos conflitos ambientais que muitas vezes estão envolvidos nestes pro-
da biodiversidade. No entanto, para que estas áreas cumpram cessos. Dentre estas iniciativas, destacam-se ações de sensibilização e
com o papel para o qual foram criadas, é necessário um grande capacitação dos diversos atores relacionados às UCs e atividades que
esforço conjunto, que vai muito além da sua criação. Para isso, é neces- promovam a troca de experiências entre estas áreas, seus conselhos e
sário a construção de novos valores, conceitos e formas de relação dos demais pessoas envolvidas, enquanto ação de formação continuada
diversos setores da sociedade com o meio ambiente. que pode refletir em “novos olhares” sobre as UCs.
Fortalecer os conselhos consultivos das UCs, buscando envolver os A experiência do projeto “Integração e Capacitação de Conselhos e
diferentes interesses e representações nestes espaços não tem sido Comunidades na Gestão Participativa de UCs Federais e Estaduais –
tarefa fácil, devido a diversas dificuldades encontradas para a promo- Oeste de SC e Centro-Sul do PR” demonstrou que o trabalho voltado
ção da participação social e para a implementação das Unidades de à Gestão Participativa de Unidades de Conservação exige muita dedi-
Conservação no Brasil. cação de todos os atores envolvidos, sejam eles relacionados ao poder
público ou sociedade civil. Contribuir na gestão ambiental pública re-
Embora existam diversos obstáculos, iniciativas inovadoras e partici- flete a essência de nossa atuação enquanto cidadãos, em uma atuação
pativas podem fazer a diferença no auxílio à criação, planejamento, recente e que deve buscar a construção de caminhos que respeitem a
implementação e gestão de UCs, como forma de minimizar os diver- diversidade biológica, em seu mais amplo sentido.
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O Projeto de Gestão Participativa
em Unidades de Conservação
Uma iniciativa da Associação de Preservação
do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
O
projeto “Integração e Capacitação de Conselhos e Comuni- A presente publicação apresenta uma abordagem geral sobre a Mata
dades na Gestão Participativa de Unidades de Conservação Atlântica, as principais características das formações florestais prote-
(UCs) Federais e Estaduais – Oeste de SC e Centro-Sul do gidas pelas UCs envolvidas no projeto e uma breve contextualização
PR” é uma iniciativa da Associação de Preservação do Meio Ambiente dessas áreas protegidas. Além disso, apresenta o processo de forma-
e da Vida (Apremavi). Aprovado na chamada 09 do Subprograma Pro- ção e funcionamento dos conselhos gestores de UCs, abordando os
jetos Demonstrativos - PDA Mata Atlântica, foi realizado no período princípios da gestão participativa e finaliza com um breve relato das
de fevereiro de 2011 a setembro de 2012. principais atividades realizadas e experiências adquiridas durante o
projeto como uma forma de apoio à gestão das UCs.
O projeto envolveu 04 UCs federais e 02 estaduais, localizadas pró-
ximas geograficamente, sendo elas: Parque Nacional (PARNA) das Ilustrada com depoimentos de conselheiros e pessoas envolvidas na
Araucárias, Estação Ecológica (ESEC) Mata Preta, Parque Estadual gestão das UCs e fotos que contribuem para a caracterização local e
(PE) Fritz Plaumann, Parque Estadual (PE) das Araucárias, Floresta Na- regional, é uma contribuição da Apremavi para a gestão de Unidades
cional (FLONA) de Chapecó e Refúgio de Vida Silvestre (REVIS) dos de Conservação.
Campos de Palmas.
© Marcos A. Danieli
© Edilaine Dick
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A Mata Atlântica no Brasil
Edilaine Dick
Bióloga. Especialista em Educação no Campo e Desenvolvimento Territorial.
Coordenadora de Projetos da Apremavi. edilainedick@yahoo.com.br
© Miriam Prochnow
Fonte: Este mapa foi elaborado a partir do “Mapa da área de aplicação da Lei 11.428 de 2006“ (IBGE, 2008). Escala 1:5.000.000
11
A
Mata Atlântica é reconhecida como uma das regiões ecológi- acima de três hectares, em todos os estágios de conservação, este índi-
cas mais ricas em diversidade biológica do planeta. De acordo ce chega a 13,32% (SOS Mata Atlântica/INPE, 2011).
com a Lei nº 11.428/2006, a Mata Atlântica está presente em
17 estados brasileiros e compreende as seguintes formações florestais Estima-se que aproximadamente oito mil espécies de plantas endêmi-
e ecossistemas associados: floresta ombrófila densa, floresta ombrófi- cas, ou seja, que não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta, são
la mista, floresta ombrófila aberta, floresta estacional semidecidual e encontradas na Mata Atlântica, inúmeras dessas espécies estão amea-
floresta estacional decidual, bem como os manguezais, as vegetações çadas de extinção. Calcula-se ainda que na Mata Atlântica já tenham
de restingas, os campos de altitude, os refúgios vegetacionais, os brejos sido descritas ao todo, mais de 20.000 espécies vegetais, muitas delas
interioranos e os encraves florestais existentes no Nordeste e nos es- utilizadas na alimentação humana, com finalidades medicinais e orna-
tados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Estas mentais, manutenção do equilíbrio da fauna, manutenção da floresta e
formações permitem condições adequadas para a sobrevivência de demais processos ecológicos associados (Campanili & Prochnow, 2006).
uma grande quantidade de espécies de seres vivos, além de garantirem
a manutenção dos recursos naturais e de diversos serviços ambientais. A ocorrência de determinada espécie em uma região específica de-
pende da combinação de diversos fatores, como clima, relevo e alti-
No Brasil, a Mata Atlântica compreendia originalmente uma área1 de tude, como é o caso da erva-mate (Ilex paraguariensis), matéria-prima
1.296.446 km², representando 15% do território. Esse número come- do chimarrão (bebida típica do sul do Brasil), e do pinheiro-brasileiro
çou a mudar com o processo de colonização e industrialização do (Araucaria angustifolia). Algumas espécies apresentam ampla distri-
país. Atualmente, restam aproximadamente 7,9% da área original da buição na Mata Atlântica, como o cedro (Cedrella fissilis), canjerana
Mata Atlântica em fragmentos florestais acima de 100 hectares e bem (Cabralea cangerana), palmiteiro (Euterpe edulis), palmeira-jerivá (Are-
conservados. Quando considerados os fragmentos de floresta natural castrum romanzoffianum), entre outras (Guedes et al., 2005).
1 Fonte: Mapa da área de aplicação da Lei no 11.428, de 2006, A presença de bromélias, musgos, liquens, epífitas e lianas também
escala 1: 5.000.000 do IBGE. é resultado da interação entre esses fatores, associado ao micro e
© Miriam Prochnow
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A Mata Atlântica
em Santa Catarina
Edilaine Dick
Contribuição Dra. Lucia Sevegnani. Departamento de Ciências Naturais.
Universidade Regional de Blumenau. sevegn@furb.br
O
estado de Santa Catarina encontra-se 100% em área per- senciais para a conservação de espécies marinhas, como as toninhas
tencente à Mata Atlântica, compreendendo as diferentes (Pontoporia blainvillei). Os fragmentos de floresta ombrófila densa,
regiões fitoecológicas: floresta ombrófila mista, floresta om- especialmente no interior do Parque Nacional da Serra do Itajaí, hots-
brófila densa, floresta estacional decidual, formações pioneiras (man- pot da biodiversidade catarinense no Vale do Itajaí, também mere-
guezais e restingas) e campos de altitude.1 cem destaque, constituindo-se em importantes refúgios para espé-
cies da fauna e flora.
De acordo com o Mapa dos Remanescentes Florestais da Mata Atlân-
tica, no período de 2008 a 2010, Santa Catarina foi o estado com maior Pequena parcela da Mata Atlântica encontra-se protegida por Unida-
área de remanescentes florestais do bioma em relação a sua área ori- des de Conservação, apresentando grande potencial para a formação
ginal, correspondendo a área de 2.210,061 ha, ou 23,03% do estado. de corredores ecológicos, com destaque especial nesse livro para as
No entanto, o histórico de degradação é grande, pois de 2000 a 2011 formações da floresta ombrófila mista, floresta estacional decidual e
foram desmatados aproximadamente 78.946 hectares (SOS Mata os campos de altitude, localizados na região Oeste do estado de Santa
Atlântica/INPE, 2012). Catarina, divisa com o Paraná. Estas formas de vegetação serão descri-
tas nos capítulos a seguir.
O intenso histórico de desmatamento provocou a fragmentação
das florestas e acentuada perda qualitativa nas florestas catarinenses. © Wigold B. Schaffer
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Floresta Ombrófila Mista
Marcos Alexandre Danieli
Biólogo. Mestrando em Ciências Ambientais. Técnico
Ambiental da Apremavi. marcosdanieli@yahoo.com.br
A
floresta ombrófila mista, popularmente conhecida como regeneração e que resguardam as principais características das flo-
floresta com araucárias, é uma das formações Florestais da restas primitivas. O mesmo estudo apontou também a existência
Mata Atlântica que se destaca pela beleza e predominân- de outros 0,98% (78.194 ha) de áreas onde predomina o pinheiro
cia da Araucaria angustifolia, conhecida como pinheiro-brasileiro, brasileiro, as quais incluem tanto áreas de floresta quanto capões de
pinheiro-do-paraná ou simplesmente araucária. Segundo o pesqui- floresta situados em meio a áreas de campo. Em resumo, no estado
sador Roberto M. Klein (1978), a predominância da araucária forma a do Paraná, apenas 1,78% da área original da floresta com araucárias,
característica “mata preta”, mas esta aparente homogeneidade revela ainda mostra a predominância da árvore símbolo do ecossistema
uma floresta complexa e heterogênea, que abriga uma grande diver- (PROBIO/MMA, 2004).
sidade de espécies.
A floresta com araucárias é um ecossistema heterogêneo e complexo,
A abrangência original desta floresta percorria regiões de altitude mais com uma grande variedade de espécies, muitas endêmicas e ameaça-
elevada do Sul e Sudeste, ocupando cerca de 40% do território do Pa- das de extinção. Dentre os animais, diversos grupos possuem espécies
raná, 30% de Santa Catarina e 25% do Rio Grande do Sul, além de áreas ameaçadas, tais como a perereca-de-vidro (Vitreorana uranoscopa), a
descontínuas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro serpente endêmica Bothrops cotiara, o pica-pau-cara-canela (Dryoco-
(Klein, 1960). pus galeatus) e o puma (Puma concolor) (Prochnow, 2009).
O ritmo acelerado do desmatamento, contudo, diminuiu a área de Além do pinheiro brasileiro, diversas outras espécies vegetais podem
distribuição original da floresta com araucárias no Brasil a menos ser encontradas, como a canela-amarela (Nectandra lanceolata), a
de 5%, conforme dados do Ministério do Meio Ambiente (2000). imbuia (Ocotea porosa), a erva-mate (Ilex paraguariensis), o xaxim
Em Santa Catarina, restam raros remanescentes florestais nativos (Dicksonia sellowiana) e o cedro (Cedrela fissilis) (Prochnow, 2009).
dispersos e fragmentados, perfazendo aproximadamente 2% da
área original (Medeiros, 2000). No Paraná, levantamentos feitos em A rica biodiversidade da floresta com araucárias fornece diversos servi-
2004, pela Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná – FUPEF, li- ços ambientais. O pinhão, por exemplo, que é a semente do pinheiro,
gada à Universidade Federal do Paraná, registraram a existência de serve de alimento para os animais em época de escassez alimentar.
apenas 0,8% (66.109 ha) de remanescentes em estágio avançado de Também é tema e fonte de diversas festas populares, que geram ren-
da e movimentam a economia local, além de ser base de subsistência
para diversas comunidades. Entretanto, a cadeia produtiva da coleta,
venda, compra e transporte do pinhão ainda necessita de melhor re-
PARQUE ESTADUAL DAS ARAUCÁRIAS gulamentação e adequação em diversas regiões.
página 38
PARQUE NACIONAL DAS ARAUCÁRIAS Destaca-se que nos últimos anos houve diversos avanços legais e
página 40 institucionais que ajudam na conservação e recuperação da flo-
ESTAÇÃO ECOLÓGICA MATA PRETA resta com araucárias. O principal avanço foi a aprovação da Lei
página 32 11.428/2006 e sua regulamentação através do Decreto 6.660/2008,
que proibiram a exploração de vegetação primária da Mata Atlân-
© Miriam Prochnow
tica e também a exploração comercial de espécies florestais nos Araucárias com 12.841,00 hectares. No Paraná foram criadas a Reserva
estágios médio e avançado de regeneração, à exceção de espécies Biológica das Araucárias com 14.919,42 hectares, a Reserva Biológica
pioneiras no estágio médio, neste caso, admitido quando estas es- das Perobas com 8.716,00 hectares, o Refúgio de Vida Silvestre dos
pécies somarem mais de 60% dos exemplares na área de mane- Campos de Palmas com 16.582,00 hectares e o Parque Nacional dos
jo. Outro aspecto de grande acerto da Lei da Mata Atlântica foi Campos Gerais com 21.286,00 hectares.
a proibição definitiva de toda e qualquer exploração madeireira
com finalidade comercial (aí incluídas as espécies ameaçadas de No Oeste de Santa Catarina o Parque Estadual das Araucárias, o Par-
extinção) nos remanescentes de vegetação nativa em estágio avan- que Nacional das Araucárias e a Estação Ecológica Mata Preta, UCs
çado e primário e, com exceção de espécies pioneiras, também no situadas próximas geograficamente e que a partir da conectividade
estágio médio de regeneração. A legislação, além de contribuir de- dos fragmentos, ampliam a área de floresta, mantém os serviços am-
cisivamente na redução dos índices de desmatamento, está dando bientais e em melhoram a qualidade de vida da região.
uma chance, em função da proibição da exploração florestal ge-
neralizada, para os fragmentos de vegetação nativa remanescentes Mesmo assim, a área de Floresta com Araucárias protegida em Unida-
recuperarem sua estrutura e biodiversidade (RBMA, 2012). des de Conservação não passa de 1% da área original do ecossistema,
o que ainda é absolutamente insuficiente para garantir a conservação
Como estratégia para a conservação da floresta com araucárias, desta- desta importante tipologia florestal, com toda a sua biodiversidade
ca-se também a criação de novas Unidades de Conservação (UCs) e de fauna e flora, no longo prazo. Isso aponta a necessidade urgente da
a efetiva implantação das já existentes, aliada à criação de corredores criação de novas Unidades de Conservação, públicas (federais, estadu-
ecológicos e/ou de biodiversidade, para interligá-las e potencialmente ais e municipais) e privadas, principalmente se levarmos em conta as
gerar renda às famílias a partir do pagamento por serviços ambientais. metas da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é
signatário, e que prevê a proteção efetiva de pelo menos 17% de áreas
Em outubro de 2005 foram criadas na região oeste de Santa Catarina a terrestres e de águas continentais e 10% de áreas marinhas e costeiras
Estação Ecológica Mata Preta com 6.563,00 ha e o Parque Nacional das em sistemas de áreas protegidas.
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Floresta Estacional Decidual
Marcos Alexandre Danieli
Contribuição Dra. Lucia Sevegnani. Departamento de Ciências Naturais.
Universidade Regional de Blumenau. sevegn@furb.br
A
floresta estacional decidual apresentava áreas descontínuas maiores remanescentes de floresta estacional decidual da região Oeste
em diversas regiões do Brasil, como no Vale do Rio Uruguai de Santa Catarina, em transição com a floresta ombrófila mista.
e afluentes, por entremeio à floresta com araucárias, região
denominada pelo pesquisador Roberto M. Klein (1978) como floresta Esta formação florestal possui espécies características, como a canafís-
do Rio Uruguai. Segundo este mesmo pesquisador, nos vários afluentes tula (Pelthoporum dubium), a grápia (Apuleia leocarpa), o cedro (Ce-
esta floresta pode subir os vales até altitudes de 600 a 800 metros, tendo drela fissilis) e o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida). Dentre os
sido denominada pelos colonizadores como “mata branca” pela ausên- animais, há muitos que se encontram ameaçados pela caça e desma-
cia dos pinheiros, em oposição à “mata preta” onde estes predominam. tamento, como o macaco-prego (Cebus nigritus), a paca (Agouti paca),
o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), o veado (Mazama ame-
Diferentemente das florestas ombrófilas, a floresta estacional decidual ricana), a cutia (Dasyprocta azarae), o jacu (Penelope obscura), a pe-
é marcada por um clima de duas estações, uma mais fria de inverno rereca-de-vidro (Vitreorana uranoscopa), a jararaca-pintada (Botrhops
e outra quente de verão, condição que faz com que mais de 50% das neuwiedii) e a caninana (Spilottes pullatus) (FATMA, 2004).
árvores percam suas folhas nas épocas mais desfavoráveis (fria).
© Miriam Prochnow
N
a Mata Atlântica, em especial no sul do Brasil, os campos
naturais predominam em zonas de maior altitude, caracte-
rizada por cotas de 800 a 2.000 metros, sendo conhecidos
como campos de altitude do planalto das araucárias, campos de cima Campos de altitude na região proposta para a criação do
da serra ou simplesmente campos de altitude. Refúgio de Vida Silvestre do Corredor do Pelotas (SC/RS).
© Miriam Prochnow
Segundo a pesquisadora Ilsi Boldrini (2009), os campos de altitude
abrangem 1.374.000 hectares do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina,
correspondendo a 7,9% das áreas de todos os campos nestes estados. A. Bencke (2009) foram registradas 21 espécies de vertebrados que só
ocorrem nos campos do Sul do Brasil.
Conforme Roberto M. Klein (1978), no planalto de Santa Catarina, as
áreas de campos formam núcleos consideráveis, principalmente, nos Os campos garantem serviços ambientais importantes, contribuindo com
municípios de Lages, São Joaquim, Campos Novos, Curitibanos e Ma- a conservação de recursos hídricos, no acúmulo de carbono no solo e
tos Costa, bem como na parte norte da zona de abrangência do Rio como fonte de forragem para a atividade pastoril. Além disso, abrigam alta
do Peixe, especialmente no município de Água Doce, abrangendo as biodiversidade, oferecendo beleza cênica com grande potencial turístico.
áreas conhecidas como campos de Palmas.
A sua conservação, no entanto, tem sido ameaçada pela rápida e con-
A vegetação campestre na Mata Atlântica é representada por grandes tínua descaracterização e fragmentação de seus ambientes, relacio-
extensões de campo, associados à floresta com araucárias e turfeiras. nada ao avanço extenso de monoculturas agrícolas e de de espécies
São encontradas araucárias (Araucaria angustifolia), entremeadas por florestais exóticas, inclusive espécies invasoras como o Pinus, além da
outras espécies, como o pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii) e a drenagem de banhados e represamentos por hidrelétricas, entre ou-
bracatinga (Mimosa scabrella), cobertas por barba-de-pau (Tillandsia tros usos que colocam em risco este importante ecossistema.
usneoides), que se encontram junto a coxilhas amareladas pela grande
quantidade de capim-caninha (Andropogon lateralis), espécie carac- As Unidades de Conservação têm sido a principal estratégia de con-
terística dos campos. Também são encontradas espécies de diversas servação das poucas áreas restantes dessa formação, como é o caso do
famílias, algumas muito vistosas, como as compostas, as leguminosas, Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas, que conserva impor-
as verbenáceas e as solanáceas (Boldrini et al., 2009). tantes remanescentes de campos no Centro-Sul do Paraná, abrangen-
do uma área de 16.582 hectares.
Algumas das espécies mais populares da fauna ocorrem nos campos,
tais como a ema (Rhea americana), o quero-quero (Vanellus chilensis),
a caturrita (Myiopsitta monachus), o joão-de-barro (Furnarius rufus),
o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), o tamanduá-bandeira REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE DOS
(Myrmecophaga tridactyla), o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), CAMPOS DE PALMAS
o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o bugio-preto (Alouatta caraya), página 42
o puma (Puma concolor), entre outras. Segundo o pesquisador Glayson
19
As Outras Matas
da Mata Atlântica
Miriam Prochnow
Pedagoga, especialista em Ecologia Aplicada. Coordenadora de
Políticas Públicas da Apremavi. miriam@apremavi.org.br
A
lém da floresta ombrófila mista, da floresta estacional decidual e
dos campos de altitude, outras importantes formações vegetais Floresta estacional semidecidual
conferem uma grande diversidade à paisagem da Mata Atlântica.
Conhecida como mata de interior, ocorre no Planalto brasi-
leiro, nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato
Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Alguns
encraves ocorrem no Nordeste, como nos estados da Bahia e
Piauí. Foto: Parque Nacional do Iguaçu (PR).
Restingas
Ocupam grandes extensões do litoral, sobre dunas e pla-
nícies costeiras. Iniciam-se junto à praia, com gramíneas e
vegetação rasteira, e tornam-se gradativamente mais varia-
das e desenvolvidas à medida que avançam para o interior,
podendo também apresentar brejos com densa vegetação
aquática. Abrigam muitos cactos, orquídeas e bromélias.
Foto: Reserva Biológica de Comboios (ES).
21
A Mata Atlântica Ameaçada
Miriam Prochnow
Wigold Bertoldo Schaffer
A
Mata Atlântica é a ecorregião brasileira mais alterada em razão preendimentos como as hidrelétricas, que ainda são planejadas sem
da drástica redução da sua área original. O levantamento rea- considerar devidamente a importância dos ecossistemas naturais
lizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, que indica a preservados. Um exemplo recente é a hidrelétrica de Barra Grande
existência de meros 7,90% da sua área original, aponta que a fragmenta- na bacia do Rio Uruguai, na divisa de Santa Catarina com o Rio
ção da vegetação nativa da Mata Atlântica é um processo extremamen- Grande do Sul, cujo lago inundou mais de 6.000 hectares de Mata
te crítico, em seus vários ecossistemas. Fragmentos predominantemente Atlântica, sendo aproximadamente 3.000 hectares de floresta pri-
dispersos, não raramente distantes uns dos outros, comprometem o mária. Nos estados de Santa Catarina, Paraná e Bahia, ainda ocorre
fluxo gênico e, por conseguinte, a manutenção da diversidade biológica. a exploração madeireira seletiva de espécies ameaçadas de extin-
ção, mesmo sendo essa uma atividade ilegal. Na Bahia, existe um
Por outro lado, parte dos remanescentes se encontra em proprieda- verdadeiro industrianato (indústria do artesanato) que usa como
des privadas, localizadas em regiões serranas e de difícil acesso para matéria-prima, espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2010).
aproveitamento agropecuário, principalmente no Sul e Sudeste do
País. Essa dificuldade de acesso dificultou também o desenvolvimen- Por fim, não se pode deixar de mencionar que a Mata Atlântica
to de atividades agropecuárias e contribuiu para a conservação dessas ainda não está livre da captura e do tráfico de seus animais silvestres
áreas (RBMA, 2012). e da caça indiscriminada em algumas regiões, problemas estes de
difícil controle.
Segundo dados da SOS Mata Atlântica/INPE 1, em média, no período
2008-2010, a taxa anual de desmatamento apresentou uma queda de Mesmo que ainda haja desmatamentos, é importante destacar que
21% em relação ao período anterior do estudo (2005 – 2008). Este le- a queda no ritmo do desmatamento a partir dos anos 1990, mostra
vantamento, que incluiu áreas de 9 estados (GO, MG, ES, RJ, SP, MS, PR, que é possível reverter a destruição das florestas. Além da queda do
SC, RS) apontou o desmatamento de 20,8 mil hectares de remanes- desmatamento, em alguns estados, no mesmo período começou
centes florestais, vegetação de restinga e de manguezal e mostrou que um processo de regeneração da floresta, especialmente em locais
alguns estados continuam desmatando mais que outros. Já no período onde a mecanização para a agricultura é inviável como nas regiões
2010-2011, o levantamento indicou uma queda de 18% em relação montanhosas da Serra Geral e Serra do Mar.
ao levantamento de 2010. Segundo o Ministério do Meio Ambiente,
mesmo que o ritmo geral de desmatamento tenha diminuído de for- Diante da situação atual da Mata Atlântica é necessário incentivar
ma consistente, os números do desmatamento ainda são alarmantes e pequenos, médios e grandes proprietários rurais a protegerem as
totalmente injustificáveis se considerado o grau de destruição já atin- matas remanescentes, bem como a recuperar, com espécies nativas,
gido pela Mata Atlântica. as áreas de preservação permanente e de reserva legal, contribuin-
do, assim, para a formação de corredores que permitam ou am-
São diversos os fatores que ainda impactam e contribuem com a pliem a conexão entre os fragmentos hoje isolados. É fundamental
degradação da Mata Atlântica. Há também grandes obras e em- que se dê uma chance para que a Mata Atlântica retome seu lugar
e assim possa desempenhar seu papel maior que é o de prover os
1 Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, 2010-2011: http:// serviços ambientais que garantem o bem-estar das populações e a
webcall.riweb.com.br/sos/29052012/material/290512_atlas2010-2011_sintese.pdf conservação da biodiversidade.
23
O que são Unidades
de Conservação
Miriam Prochnow
Edilaine Dick
© Miriam Prochnow
25
Unidades de Proteção Integral
Entende-se por proteção integral a manutenção dos ecossistemas Nesse grupo incluem-se as seguintes categorias: Estação Ecológica
livres de alterações causadas por interferência humana, admitindo (ESEC), Reserva Biológica (REBIO), Parque Nacional (PARNA), Refúgio
apenas o uso indireto dos seus atributos naturais. São consideradas de Vida Silvestre (REVIS) e Monumento Natural. Ou seja, das UCs en-
atividades de uso indireto a visitação com fins educacionais, a re- volvidas no projeto, pertencem a esta categoria o PARNA das Araucá-
creação em contato com a natureza, o turismo ecológico, a pesqui- rias, a ESEC Mata Preta, o REVIS dos Campos de Palmas, o PE das Arau-
sa científica e a educação e interpretação ambiental. cárias e o PE Fritz Plaumann. Foto: Parque Nacional do Iguaçu (PR).
27
Unidades de Conservação
no Brasil
Emerson Antonio de Oliveira
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Engenharia Florestal, Coordenador de Ciência
e Informação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
D
esde a criação do Parque Nacional do Itatiaia no estado Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual acom-
do Rio de Janeiro, em 1937, reconhecido como a primeira panhou a tendência mundial de maior preocupação ambiental, a
área protegida do Brasil, a criação de Parques Nacionais e partir de meados do século XX, onde a multiplicação do número
outras categorias de Unidades de Conservação (UCs) pelo Gover- de áreas protegidas seguiu-se à realização de conferências ambien-
no Brasileiro cresceu exponencialmente. Entretanto, até a década tais internacionais. O Artigo 225 da Constituição determinou o
de 1980 muitas UCs foram criadas para proteger locais de beleza direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
cênica ou em áreas sem aptidão para outros usos econômicos, para impondo o dever tanto da coletividade quanto do Poder Público
a destinação de imóveis da União, como reservas de mercado, espe- de preservar o meio ambiente. Para o poder público determinou
cialmente as Florestas Nacionais, ou a partir de demanda de algum deveres, dentre os quais o de definir, em todas as Unidades da
setor ou pessoa com influência na sociedade. Federação, espaços territoriais a serem especialmente protegidos,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade ou as
Não havia ainda a preocupação relevante com a preservação da principais características.
biodiversidade ou com o atendimento aos princípios básicos da
biologia da conservação, ao se definir as áreas a serem protegidas. Para tanto, foi necessário regulamentar o dispositivo, pois havia um
Mesmo assim, a conservação da biodiversidade acabava sendo uma emaranhado de Leis, Decretos, Resoluções, Portarias, Instruções Nor-
consequência da proteção desses espaços territoriais. Apenas a tí- mativas, entre outros instrumentos, que versavam sobre a criação e
tulo de exemplo, a criação do Parque Nacional do Iguaçú, em 1939, gestão de UCs, em suas diferentes categorias. Deste modo, o Congres-
para proteger as famosas cataratas do rio Iguaçu, acabou protegen- so Nacional remeteu ao extinto IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvol-
do também a maior área ainda remanescente de floresta estacional vimento Florestal) a incumbência de preparar um Projeto de Lei, tarefa
semidecidual em sua transição para a floresta ombrófila mista do para a qual foi contratada a Fundação Pró-Natureza, que apresentou
Sul do Brasil. Com isso preservou-se toda a sua biodiversidade asso- Anteprojeto para a criação do Sistema Nacional de Unidades de Con-
ciada, inclusive os grandes felinos como a onça-pintada e o puma. servação (SNUC) ao IBAMA, em 19891. A proposta de Lei do SNUC
sofreu diversas modificações até a sua aprovação e sanção Presiden-
cial, em 2000 (Lei Federal 9.985), sendo posteriormente regulamentada
O Brasil deve trabalhar para ampliar pelo Decreto Federal no 4.340/2002.
a área protegida por UCs públicas Atualmente, a criação de UCs é pautada pelas metas da Convenção
sobre a Diversidade Biológica (CDB), assinada pelo Presidente da Re-
(federais, estaduais e municipais) e pública do Brasil durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, em junho de 1992. No final de 2010, a
privadas, representativas de todos
os ecossistemas em cada um de 1 O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) substituiu o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),
o qual foi posteriormente desmembrado, dando origem ao Instituto Chico
seus biomas. Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO).
© Miriam Prochnow
CDB foi revisada estipulando-se as metas de conservação para 17% gidas no Brasil, pois não há como proteger efetivamente uma área se
dos ecossistemas terrestres e 10% dos ecossistemas marinhos e costei- a mesma não se encontra sob domínio do poder público, conforme
ros, na 10ª Conferência das Partes da CDB (Protocolo de Nagoya/Me- determina a legislação.
tas de Aichi), ratificado pelo atual Governo Federal, em 02 de fevereiro
de 2011, na sede da Organização das Nações Unidas em Nova York. Uma das alternativas para a regularização fundiária é o mecanismo
da compensação ambiental pela instalação e operação de empreen-
Diante desse compromisso, o Brasil deve trabalhar para ampliar a área dimentos com significativo impacto ambiental, também estabelecida
protegida por UCs públicas (federais, estaduais e municipais) e pri- pelo SNUC. Este mecanismo, até a presente data, encontra dificulda-
vadas, representativas de todos os ecossistemas em cada um de seus des de implementação em razão da atuação deficiente da Câmara Fe-
biomas, visto que à exceção da Amazônia, em todos os demais biomas deral de Compensação Ambiental.
encontra-se com percentuais de áreas protegidas distantes das metas
da CDB. Atualmente a criação de uma UC geralmente decorre de de- Resolver o passivo das UCs já criadas é apenas um dos desafios e de-
manda de um setor da sociedade para proteção de áreas de importân- veres do Poder Público e a Sociedade Civil precisa ficar atenta e cobrar
cia biológica e cultural ou de beleza cênica, ou mesmo para assegurar a aplicação de recursos neste sentido, para a efetiva implementação e
o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações tradicionais. atendimento dos objetivos de criação das UCs, além da estruturação
Um dos principais instrumentos que norteiam a sua criação é o Mapa dos órgãos responsáveis por sua gestão. Outros desafios são o estabe-
de Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade Brasileira, o lecimento de estratégias comuns de gestão de áreas protegidas como
qual aponta as áreas de grande importância biológica, e prioriza aque- a criação e efetivação de mosaicos de UCs, a gestão compartilhada
las que estão sob forte pressão humana. de UCs entre poder público e organizações da sociedade. Para isso, é
fundamental a ampliação significativa dos recursos provenientes do
Contudo, na efetividade de gestão das UCs, apesar de várias práticas tesouro nacional e a busca de parcerias.
de planejamento e processos de gestão tenham sido recentemente
fortalecidas, ainda há limitações no que se refere à demarcação e re- No entanto, o grande desafio na Mata Atlântica, especialmente na
gularização fundiária, além da necessidade de elaboração e implemen- floresta com araucárias e nos campos naturais de altitude é a efetiva
tação de seus Planos de Manejo. A realidade fundiária representa um ampliação das áreas protegidas com a criação de novas Unidades de
dos obstáculos à implantação e ao manejo das áreas naturais prote- Conservação públicas (federais, estaduais e municipais) e privadas.
29
© Antonio de A. Correia Jr.
Estação Ecológica
Mata Preta
Parque Nacional
das Araucárias
© Marcos A. Danieli
© ECOPEF © Marcos A. Danieli
Refúgio de Vida
Silvestre dos Parque Estadual
Campos de Palmas das Araucárias
© Wigold B. Schaffer © Miriam Prochnow
Estação Ecológica Mata Preta
Alanza Mara Zanini
Texto produzido com base nas referências bibliográficas citadas
e contribuição dos gestores da Unidade de Conservação.
E
m Abelardo Luz está localizada a Estação Ecológica (ESEC) Mata A ESEC Mata Preta apresenta como principal objetivo a preserva-
Preta, Unidade de Conservação (UC) criada por Decreto Federal ção dos ecossistemas naturais, principalmente dos remanescentes
de 19 de outubro de 2005. Apresenta área de 6.563 hectares e de floresta ombrófila mista em diferentes estágios, possibilitando o
compreende três fragmentos, separados entre si, por estradas munici- desenvolvimento de pesquisas científicas e de atividades de educa-
pais e estaduais e áreas de lavoura (ICMBio, 2009). ção ambiental (ICMBio, 2009). A ESEC é responsável pela manuten-
ção do equilíbrio hídrico de diversos rios e nascentes, afluentes do
O município de Abelardo Luz, localizado na região Oeste Catari- rio Chapecó, rio que abastece Abelardo Luz (PROCHNOW, 2009).
nense, apresenta uma extensão territorial de 955,375 km² e estima-
tiva populacional de 17.100 habitantes (IBGE, 2010). A economia é Além do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), característico
voltada à agropecuária, principalmente ao plantio de soja, trigo e da floresta com araucárias, são encontradas na área espécies flores-
milho, sendo desenvolvidas também, atividades rurais como a pe- tais como a imbuia (Ocotea porosa), a erva-mate (Ilex paraguarien-
cuária, silvicultura e exploração florestal, que constituem as ativida- sis), o xaxim (Dicksonia sellowiana), o angico-vermelho (Parapipta-
des de 47,5 % da população. denia rigida), o louro-pardo (Cordia trichotoma), a canela-lageana
(Ocotea pulchella), a canela-amarela (Nectandra lanceolata), o cedro
(Cedrela fissilis), a grandiúva (Psychotria leiocarpa) e a bromélia Ae-
Mapa da ESEC Mata Preta chmea recurvata (ICMBio, 2009).
A ESEC é um
importante refúgio
para a fauna, abrigando
espécies bioindicadoras
de qualidade ambiental
33
Floresta Nacional de Chapecó
Alanza Mara Zanini
Texto produzido com base nas referências bibliográficas citadas
e contribuição dos gestores da Unidade de Conservação.
A
Floresta Nacional (FLONA) de Chapecó é uma unidade de ou seja, 61% da área da UC, enquanto que 34% da área é ocupada
conservação com área de 1.573,515 hectares, divididos em por plantios de pinus, eucaliptos, araucária e erva-mate. Visitas com
três fragmentos, sendo estes localizados em Guatambu (Gle- objetivo educacional podem ser pré-agendadas, para o desenvolvi-
ba I e III) e Chapecó (Gleba II). A UC foi criada através da Portaria nº mento de atividades de educação ambiental e pesquisa científica.
560, em 25 de outubro de 1968, visando o uso múltiplo sustentável
dos recursos florestais e a pesquisa científica. Abriga espécies ameaçadas da flora, como a araucária (Araucaria an-
gustifolia), a canela-sassafrás (Ocotea odorifera), o xaxim (Dicksonia
Considerada a Capital do Oeste Catarinense e pólo de uma região sellowiana) e espécies ameaçadas da fauna, como o papagaio-de-pei-
com mais de 200 municípios, a cidade de Chapecó apresenta um to-roxo (Amazona vinacea) e o pica-pau-de-cara-canela (Dryocopus
território de 624,30 km² e aproximadamente 183.530 habitantes. As galeatus). É uma área com muitas nascentes protegidas, possibilitan-
atividades econômicas em destaque no município são do ramo da do a conservação de invertebrados, peixes, anfíbios e aves aquáticas,
indústria alimentícia, metal-mecânica, de plástico e embalagens, mo- entre outros grupos animais (IBAMA, 1989).
veleira, metalúrgica, de insumos agropecuários,
bebidas, software, confecções e outros (IBGE,
2010). Destaca-se também, por sediar o Cam- Mapa da FLONA de Chapecó
pus da Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), que atende estudantes dos 396 municí-
pios da Mesorregião Fronteira Mercosul.
35
Parque Estadual Fritz Plaumann
Alanza Mara Zanini
Texto produzido com base nas referências bibliográficas citadas,
contribuição do gestor da Unidade de Conservação e ECOPEF.
© Miriam Prochnow
Depoimento Quanto aos cursos d’ água que cortam o Parque, o rio dos Queimados
e o Lajeado Cruzeiro merecem destaque. O Lajeado Cruzeiro possui
suas nascentes no entorno da unidade e a sua foz situa-se junto à área
37
Parque Estadual das Araucárias
Alanza Mara Zanini
Texto produzido com base nas referências bibliográficas citadas
e contribuição dos gestores da Unidade de Conservação.
O
Parque Estadual (PE) das Araucárias, criado pelo Decreto nº A vegetação do parque, segundo o Plano de Manejo é composta pela
293 de 30 de maio de 2003, como uma medida compensa- floresta com araucárias em diversos estágios de regeneração e apre-
tória à implantação da Usina Hidrelétrica Quebra Queixo, senta, além da araucária (Araucaria angustifolia), espécies vegetais
abrange uma área de 625,11 hectares (FATMA, 2007) e está localizado como o cedro (Cedrela fissilis), o angico-vermelho (Parapiptadenia
nos municípios de Galvão e São Domingos. rigida), a cabriúva (Myrocarpus frondosus), a canela-amarela (Nectan-
dra lanceolata), a canela-branca (Nectandra leucothyrsus), a erva-mate
O município de Galvão (SC) apresenta 121,90 km² de área territorial (Ilex paraguaiensis), o jerivá (Syagrus romanzoffianum), o camboatá-
e aproximadamente 3.472 habitantes (IBGE, 2010). Na economia, o -branco (Matayba eleagnoides), o açoita-cavalo (Luehea divaricata) e
setor de serviços é o que mais emprega, apesar de existirem mais esta- o pessegueiro-do-mato (Prunus sellowii). A área também protege uma
belecimentos comerciais e industriais. A base da agricultura é formada pequena porção de vegetação típica de banhado, com espécies carac-
por pequenos proprietários, que possuem como principal cultura o terísticas, como a cavalinha (Equisetum giganteum), representante de
milho (FATMA, 2007). um dos grupos de plantas mais antigos do planeta.
© Miriam Prochnow
39
Parque Nacional das Araucárias
Alanza Mara Zanini
Texto produzido com base nas referências bibliográficas citadas
e contribuição do gestor da Unidade de Conservação.
O
Parque Nacional (PARNA) das Araucárias, unidade de con- có, do Mato, do Poço, Caratuva, Capivara, Goiabeiras, Ameixeira, Cha-
servação criada através de Decreto Federal de 19 de outu- pecozinho e diversas nascentes, os quais abastecem as comunidades
bro de 2005, abrange uma área de 12.841 hectares e está rurais da zona de amortecimento da UC (ICMBIO, 2010).
localizado nos municípios de Ponte Serrada e Passos Maia.
O nome do parque faz referência à sua característica natural, a flores-
Passos Maia (SC), é um município com extensão territorial de ta com araucárias. Destaca-se também a presença de outras espécies
614,43 km² e aproximadamente 4.425 habitantes (IBGE, 2010), apre- florestais ameaçadas, como o xaxim (Dicksonia sellowiana) e a imbuia
sentando como principal atividade econômica a agropecuária, com (Ocotea porosa), além de outras espécies importantes para a região,
destaque para plantios de erva-mate e reflorestamentos com espé- como a erva-mate (Ilex paraguariensis).
cies exóticas, e pastagens para criação extensiva de gado de corte
(Prochnow, 2009). Quanto à fauna, segundo o plano de manejo da UC, diversas espé-
cies que podem ser encontradas na área estão ameaçadas ou qua-
Conhecida como a capital catarinense da
erva-mate, Ponte Serrada (SC) apresenta área
de 564,00 km² e uma população de 11.031 Mapa do PARNA das Araucárias
habitantes (IBGE, 2010). O município é gran-
de produtor de grãos, especialmente de soja
e milho. As atividades que movimentam
a economia da região são, principalmente,
avicultura e suinocultura integrada, além da
bovinocultura de leite entre os pequenos pro-
dutores (Prochnow, 2009).
41
Refúgio de Vida Silvestre
dos Campos de Palmas
Alanza Mara Zanini
Texto produzido com base nas referências bibliográficas citadas
e contribuição dos gestores da Unidade de Conservação
O
Refúgio de Vida Silvestre (REVIS) dos Campos de Palmas Situado na região dos Campos do Centro Sul do PR, o município
é uma unidade de conservação criada através de Decreto de Palmas apresenta aproximadamente 42.888 habitantes, e área de
Federal de 03 de abril de 2006, abrangendo uma área de 1.567,365 km². A economia do município é centrada, principalmente,
16.582 hectares, nos municípios de Palmas e General Carneiro (PR). no setor de serviços, indústrias e agropecuária (IBGE, 2010).
A zona de amortecimento do REVIS compreende 500 metros em
projeção horizontal, a partir de seu perímetro, e adentra o estado de O objetivo do REVIS dos Campos de Palmas é a proteção dos ambien-
Santa Catarina, no município de Água Doce. O município de General tes naturais necessários para a persistência da flora e fauna residente
Carneiro, situado na região sul do estado do Paraná, apresenta uma ou migratória, especialmente os remanescentes de campos naturais,
extensão territorial de 1.083,433 km² e aproximadamente 15 mil ha- as áreas de campos úmidos e várzeas, bem como a realização de pes-
bitantes. Suas atividades econômicas estão voltadas ao extrativismo quisas científicas e o desenvolvimento monitorado de atividades de
de madeira, agricultura com lavouras de milho, feijão e soja e pecuária educação ambiental e turismo ecológico (ICMBIO, 2011).
(General Carneiro, 2012).
A vegetação da área é composta por campos
naturais, associados com capões de floresta com
Mapa do REVIS dos Campos de Palmas araucárias, que prestam importantes serviços am-
bientais e auxiliam na conservação dos recursos
hídricos da região, por abrigar as nascentes dos rios
Chopim e Iratim, além de diversos cursos d’água
e banhados. Para a fauna, podem ser encontra-
dos mamíferos como o morcego (Chrotopterus
auritus), o bugio (Alouatta guariba clamitans), o
lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), e aves como
a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus),
entre outros grupos animais (ICMBIO, 2011).
Depoimento
O Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de
Palmas foi criado numa área considerada
de extrema relevância biológica, abriga um dos
últimos remanescentes de campos naturais
do Paraná e é habitat de diversas espécies
ameaçadas de extinção. A importância central
do Refúgio está na proteção das nascentes
do rio Chopim, principal afluente do rio
Iguaçu, e dos frágeis ecossistemas associados
aos campos úmidos e banhados. Além disso,
a Unidade possui grande potencial turístico
e condições de se destacar na corrida pelo
desenvolvimento sustentável.
MARCIA CASARIN STRAPAZZON E LEONCIO
PEDROSA LIMA – gestores do Refúgio de Vida
Silvestre dos Campos de Palmas (ICMBio). Importantes espécies da flora campestre estão
protegidas no REVIS dos Campos de Palmas.
© Miriam Prochnow
43
Gestão Participativa em
Unidades de Conservação
Marcelo Limont
Licenciado em Biologia pelas Faculdades Integradas Espírita, mestre em educação pela UFPR
e doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR; marcelobio@yahoo.com.br
Dailey Fischer
Bacharel e licenciada em Biologia pela UFPR, mestre em tecnologia pela UTFPR e
doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR; dai.fischer@gmail.com
© Marcos A. Danieli
1 Recurso aqui possui um sentido amplo e se refere aos recursos humanos, Esse pequeno texto nos mostra que a construção de um processo
ambientais e financeiros.
2 Para Pedro Demo (1999, p. 18), a participação é “conquista para significar
participativo é dependente de um complexo arranjo entre diversas
que é um processo, no sentido legítimo do termo: infindável, em constante dimensões, a educativa, a participativa, a política, a institucional e, so-
vir-a-ser, sempre se fazendo”. Ou seja, ninguém nasce sabendo participar, nós, bretudo, a ideológica. As pessoas envolvidas no processo de gestão
dentro de um processo histórico, aprendemos a participar na medida em que
nos envolvemos com os processos políticos de tomada decisão, num esforço
participativa precisam “querer” transformar uma realidade tradicional
que pode conduzir tanto a erros como a acertos. Outros autores nos mostram de gestão que está consolidada e que tem por referência a “não parti-
que existem diversas maneiras e formas de participar, com a definição de níveis cipação”, a “não partilha de poder e responsabilidades”. Essa transfor-
e graus de participação, entre eles podemos citar: CarolePateman (1982), Juan
Díaz Bordenave (1983), Pedro Demo(1995, 1999), Eneiza Hernández (1996), mação demanda um esforço e ainda falta muito para que a prática da
Maria da Glória Gohn (2001) e Sherry R. Arnstein (2002). gestão participativa seja institucionalizada.
45
Conselho Gestor de
Unidades de Conservação
Marcos Alexandre Danieli
Edilaine Dick
Alanza Mara Zanini
O
Conselho Gestor de uma Unidade de Conservação (UC) De acordo com o art. 20 do Decreto 4.340 de 2002, que regulamenta a
é um órgão colegiado formado por um grupo de pessoas, lei do SNUC, são competências do conselho consultivo:
constituído e vinculado ao órgão ambiental responsável
pela gestão da UC. O conselho tem a função de ser um fórum demo- Elaborar o seu regimento interno.
crático de valorização, discussão, negociação e gestão da área, incluin-
do a sua zona de amortecimento (ZA). Cabe ao conselho tratar de Acompanhar a elaboração, implementação e revisão do
questões sociais, econômicas, culturais e ambientais que têm relação plano de manejo da UC, quando couber, garantindo seu
com a unidade em questão (ICMBIO, 2010). caráter participativo.
A participação da sociedade na implantação e gestão das UCs, principal- Buscar a integração da unidade de conservação com as
mente através da atuação junto aos conselhos das unidades, é garantida demais unidades e espaços territoriais especialmente
e prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), protegidos e com o seu entorno.
instituído pela Lei Federal 9985/2000. Desta maneira, a sociedade civil
deve ser contemplada através da participação da comunidade científica Esforçar-se para compatibilizar os interesses dos diversos
e organizações não-governamentais, populações residentes no entorno segmentos sociais relacionados com a unidade de conservação.
da UC, populações tradicionais, proprietários de imóveis no interior da
unidade, trabalhadores, representantes do setor privado atuantes na re- Avaliar o orçamento da unidade e o relatório financeiro
gião e dos comitês das bacias hidrográficas, entre outros. A participação anual elaborado pelo órgão executor em relação aos
dos órgãos públicos também está assegurada nos conselhos. objetivos da unidade de conservação.
Com exceção das Reservas Extrativistas e das Reservas de Desenvol- Manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente
vimento Sustentável, que possuem conselhos deliberativos, as demais causadora de impacto na unidade de conservação, em sua
Unidades de Conservação possuem conselhos consultivos. No conse- zona de amortecimento, mosaicos ou corredores ecológicos.
lho deliberativo há o poder de decisão sobre determinadas questões
envolvendo a gestão da UC. Já no conselho consultivo, o conselho Propor diretrizes e ações para compatibilizar, integrar e
opina, emite pareceres, podendo o gestor aceitá-las ou não. O impor- otimizar a relação com a população do entorno ou do
tante é a representatividade, a força e a atuação do conselho, seja ele interior da unidade, conforme o caso.
consultivo ou deliberativo.
Os conselhos são presididos pelo órgão responsável pela administra-
A função do conselho consultivo é fazer a interface entre os setores ção da unidade de conservação. O mandato de cada conselheiro é de
sociais diretamente relacionados com a UC, constituindo para isso um dois anos, renovável por igual período e considerado atividade de rele-
ambiente de debate sobre os problemas e demandas que envolvem vante interesse público. É importante que o conselheiro tenha conhe-
as Unidades de Conservação em questão, procurando, dessa maneira, cimento dos seus direitos e deveres, para que os conselhos realmente
soluções por meio de negociações, de divisão de responsabilidades e funcionem como espaço de participação, comunicação, discussão e
estabelecimento de parcerias. planejamento conjunto.
a) Acesso às informações referentes às ações/atividades que a) Participar das reuniões do conselho gestor da UC, bem
envolvem a gestão da UC. como das reuniões da (s) câmara (s) técnica (s) e/ou grupos
de trabalho de que fizer parte, trabalhando para que os
b) Solicitar mais prazo para poder discutir o assunto em pauta
objetivos da unidade de conservação sejam atingidos.
com os demais integrantes de sua instituição e para poder
formular uma posição institucional sobre o assunto. b) Buscar informações referentes às ações/atividades que
envolvem a gestão da unidade de conservação e apresentar
c) Acesso à legislação e à documentação técnica envolvida
estas informações para os demais membros de sua instituição.
na gestão da unidade de conservação em uma linguagem
acessível ao seu poder de compreensão. c) Discutir os assuntos em pauta no conselho gestor da UC
com os demais integrantes de sua instituição e ajudar a
d) Acesso a toda a documentação do conselho gestor (atas,
formular uma posição institucional sobre o assunto.
ofícios, etc).
d) Apresentar na reunião do conselho gestor a posição de
e) Solicitar reunião extraordinária do conselho, conforme
sua instituição sobre o assunto em pauta.
disposições do regimento interno.
e) Levar para sua instituição o acesso à legislação e à
f) Propor assuntos para a pauta das reuniões.
documentação técnica envolvida na gestão da unidade
g) Fazer parte das câmaras técnicas (CT) e grupos de trabalho de conservação, bem como o acesso aos documentos do
(GT) de que desejar. conselho gestor (atas, ofícios, etc) de maneira acessível ao
h) Participar da elaboração e/ou reformulação do regimento poder de compreensão dos membros da sua instituição.
interno do conselho gestor. f) Propor assuntos para a pauta das reuniões do conselho
i) Participar das discussões e votar durante as decisões do gestor, relevantes para os interesses de sua instituição e da
conselho gestor. comunidade local.
j) Contribuir na elaboração/execução de projetos para a g) Contribuir ativamente para os trabalhos das câmaras
unidade de conservação. técnicas e grupos de trabalho de que fizer parte.
k) Participar da elaboração e/ou revisão do plano de manejo, h) Participar da elaboração e/ou reformulação do regimento
do zoneamento ecológico- econômico e do plano de metas interno do conselho gestor.
(ou plano de ação) da unidade de conservação. i) Participar das discussões ativamente e votar durante as
l) Solicitar a presença dos técnicos e/ou do chefe da UC em decisões do conselho gestor.
sua instituição para esclarecer dúvidas dos demais membros. j) Participar da elaboração e/ou revisão do plano de manejo,
do zoneamento ecológico-econômico e do plano de metas
(ou plano de ação) da unidade de conservação.
k) Divulgar a unidade de conservação junto à comunidade
local: o que ela é, onde fica, porque foi criada, quais seus
objetivos e para que ela serve.
O conselho tem a função de ser um l) Fiscalizar a execução de ações relacionadas à gestão da UC.
47
Os Conselhos Consultivos tem entre suas
funções, fazer a interface entre os setores sociais
diretamente relacionados com as UCs.
© Marcos A. Danieli
Para o bom funcionamento do conselho, alguns princípios devem resses relacionados com a região da UC, visando à construção de um
ser considerados em seu processo de formação e funcionamento, conselho representativo perante as instituições governamentais, da
visando criar o espaço propício ao debate saudável, ao planejamento sociedade civil e comunidades do entorno.
conjunto e à implementação de ações que auxiliem a UC no alcance
de seus objetivos. Para cada vaga ocupada pelos órgãos públicos, deve haver, preferencial-
mente, uma vaga para a sociedade civil, como forma de equilibrar os
Dentre os princípios, destacam-se: interesses. O mesmo equivale para as vagas ocupadas pela sociedade
civil, que devem contemplar os diferentes setores, sempre que possível.
Legitimidade e Representatividade
Paridade e Representatividade do Conselheiro
no Conselho
O conselheiro é legítimo e representativo, quando tiver sido escolhi-
A representação do poder público e da sociedade civil nos conselhos do e nomeado oficialmente pelos representantes legais de sua insti-
deve ser, sempre que possível, paritária, considerando o contexto re- tuição ou grupo de interesse para representá-los junto ao conselho
gional da UC, ou seja, devem ser envolvidos os atores sociais e inte- gestor da UC (Silva, 2007).
© Marcos A. Danieli
49
Ferramentas para Conselhos
Gestores de Unidades de Conservação
Laci Santin
Engenheira Agrônoma, especialista em Desenvolvimento Rural e mestre em
Agroecossistemas, Analista Ambiental do ICMBio. laci.santin@icmbio.gov.br
M
uitos devem se perguntar: “como um cidadão comum, REUNIÃO: é o encontro presencial de todos os conselheiros para
como eu, pode participar ativamente nos conselhos tratar os temas propostos na pauta. A plenária é soberana, ou seja,
de Unidades de Conservação (UC) se, em geral, tem é a instância de decisão das ações que o conselho deve realizar ou
pouca familiaridade com esses espaços?” ou “Como sentir-se mo- das atitudes que deve tomar frente a determinado assunto. As reu-
tivado a ser membro de um conselho de UC, atuando ativamente niões devem ser dinâmicas e bem planejadas, com uma pauta cons-
na defesa do bem comum, se as estruturas, a linguagem e os ins- truída pelos conselheiros, de preferência a partir de acordos na reu-
trumentos de gestão ambiental pública são desconhecidos para a nião anterior. Devem ser convocadas com antecedência, para que
maioria da população?” todos os conselheiros tomem ciência, mobilizem suas entidades e
se organizem para participar. Toda reunião necessita gerar uma ata,
A participação social, concebida na perspectiva do “controle social”, que é o documento onde a Secretaria Executiva do Conselho anota
no sentido de os setores organizados da sociedade participarem na tudo o que se discutiu e se decidiu na reunião. De acordo com o
formulação e acompanhamento da execução de políticas públi- caráter, as reuniões podem ser ordinárias, conforme a periodici-
cas para que estas atendam aos interesses da coletividade, não é dade prevista no Regimento Interno, ou extraordinárias, quando
algo que se nasce sabendo. A participação social se aprende na prá- ocorrem fora do período programado, por demanda do coletivo ou
tica, mediante processos educativos, geralmente informais, inseridos do presidente do conselho.
na prática diária.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CAPACITAÇÃO CONTINUADA:
Para facilitar o processo de participação e o exercício do controle so- a educação ambiental e a capacitação são fundamentais para um
cial, os Conselhos de UC dispõem de algumas ferramentas básicas Conselho bem qualificado. A participação social é um processo de
que contribuem para a eficiência (fazer certo) e eficácia (ter resulta- aprendizagem, assim, para efetivar a participação e o controle social
dos) do coletivo. Alertamos que, como ferramentas, por si só estes há necessidade de uma educação ambiental que oriente esse pro-
elementos não promovem a participação. É seu uso e aplicação de- cesso, desenvolvendo as capacidades e competências necessárias
mocrática e transparente que as tornam fatores que contribuem para para uma atuação qualificada dos cidadãos nos espaços coletivos.
o fortalecimento do papel cidadão. A educação começa na mobilização para a criação do conselho e
continua depois na sua implementação, ampliando e aprofundan-
Vamos falar brevemente sobre algumas dessas ferramentas básicas: do os temas tratados.
REGIMENTO INTERNO RI: é o documento que orienta como Esse é o foco da educação ambiental numa UC, principalmente nos
funciona e se organiza o Conselho Gestor, ou seja, suas finalidades, Conselhos: promover o controle social com uma participação ativa e
composição, estrutura, período de reuniões, processo de renovação e qualificada da coletividade na gestão da unidade. É necessário enten-
atribuições de cada um no conselho. É importante que seja construído der a Educação para além da escolarização, e o Ambiental no seu
coletivamente, entre todos os seus membros, por isso, normalmente aspecto pleno, não limitado à biologia. Na educação ambiental deve-
é o primeiro exercício de construção coletiva em um Conselho recém mos refletir sobre como as ações coletivas e individuais da sociedade
criado. Pode ser modificado quando necessário, desde que aprovado sobre o meio físico e o meio natural afetam as condições de qualidade
por maioria absoluta dos conselheiros. de vida de uns, muitas vezes em detrimento de outros.
AVALIAÇÃO PERIÓDICA: o Conselho deve ser avaliado ao menos Estas ferramentas não são as únicas, e um conselho pode e deve ir
uma vez ao ano, em uma oficina/evento com a participação de todos melhorando e ampliando suas ferramentas e trabalho, de maneira
os conselheiros. A finalidade da avaliação é verificar como está o anda- que funcionem de acordo com a dinâmica e necessidades da UC, do
mento do seu Plano de Ação, os acertos e desacertos, e fazer os ajustes conselho e dos conselheiros. Há que ter em mente que são apenas
necessários, quando couber. Os métodos, dinâmicas e periodicidade “ferramentas”, ou seja, isoladamente e por si só, não garantem um bom
da avaliação são definidos pelo próprio Conselho. funcionamento do coletivo. A efetividade de um conselho depende
de todos, num processo de participação e controle social que vai sen-
PLANO DE MANEJO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: o Pla- do construído e fortalecido pelo exercício de cidadania, na defesa dos
no de Manejo (PM) é um documento que orienta as ações a serem interesses coletivos acima dos interesses individuais.
51
Formando e Renovando
um Conselho Consultivo
Marcos Alexandre Danieli
Edilaine Dick
A
formação do conselho consultivo é a maneira mais efetiva de Estação Ecológica (ESEC) Mata Preta, trabalho coordenado pela Apre-
gestão participativa em Unidades de Conservação (UCs). As mavi, com anuência e parceria do Instituto Chico Mendes de Conser-
diretrizes, normas e procedimentos para a formação e funcio- vação da Biodiversidade (ICMBio), durante o projeto “Elaboração dos
namento dos conselhos de UCs federais, estaduais e municipais, são Planos de Manejo da ESEC Mata Preta e do PARNA das Araucárias”.
instituídas na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação Confira também, o relato do processo de renovação do conselho con-
(SNUC) e no Decreto que o regulamentou e foram detalhadas, para sultivo do Parque Estadual das Araucárias, coordenado pela Aprema-
as UCs federais, nas Instruções Normativas (INs) ICMBio nº 11/2010 vi, com anuência da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina
para conselhos consultivos e nº 02/2007para conselhos deliberativos. (FATMA), durante o projeto “Integração e Capacitação de Conselhos
e Comunidades na Gestão Participativa de UCs Federais e Estaduais”.
O processo de formação do conselho consultivo pode ser diferenciado Os dois projetos foram realizados com o apoio financeiro do Subpro-
para cada unidade, dependendo da maneira como a sociedade está grama Projetos Demonstrativos – PDA Mata Atlântica.
organizada e atuante, e preferencialmente, devem ser formados antes
ou durante a elaboração do plano de manejo da UC (ICMBio, 2010). Para os conselhos das UCs federais foram seguidas as “Orientações Bá-
sicas para a Formação dos Conselhos de Unidades de Conservação”,
Confira na sequência, o exemplo do processo de formação dos con- elaboradas pelo IBAMA(2004) e para o PE das Araucárias a Instrução
selhos consultivos do Parque Nacional (PARNA) das Araucárias e da Normativa (IN) ICMBio nº 11/2010.
© Arquivo Apremavi
de conselho de uma UC. Nesta etapa foram identificadas as re-
© Marcos A. Danieli
um conselho. No caso em questão, foi criado um GT para as duas presentações da sociedade civil e órgãos governamentais que têm
UCs, formado por representantes do ICMBio (órgão ambiental relação com cada unidade de conservação, seguidas de atividades
responsável pela gestão das duas UCs), parceiros e voluntários. de divulgação, sensibiliza-
Após a formação do GT fez-se o ção e mobilização quanto
nivelamento de informações en- à importância das UCs e da
tre seus integrantes e a organiza- participação nos conselhos.
ção e planejamento das etapas
para a formação dos conselhos, Na formação desses dois
com base na legislação existen- conselhos, foram realizadas
te e observando o contexto de diversas reuniões com as
cada UC. Definiu-se, por exem- comunidades localizadas
plo: O que, como, quando e na zona de amortecimento
quem vai fazer? das UCs, com proprietários
de imóveis localizados no interior das UCs (imóveis ainda não de-
sapropriados), com entidades governamentais e da sociedade civil
com atuação nos municípios de abrangência das unidades e com
outras pessoas com interesse e relação com as UCs.
3. Formação do Conselho
Esta etapa teve como objetivo identificar a organização so-
cial local, sensibilizar e esclarecer as dúvidas dos moradores
© Edilaine Dick
Durante a formação de um conselho, define-se sua compo- sobre o contexto das UCs, levantar as percepções positivas e
sição por meio eletivo ou outro método democrático, ob- negativas relacionadas às unidades e mobilizá-los para a parti-
servando a representatividade cipação no processo de formação dos conselhos. Nesta etapa
social e a paridade entre po- também foram lançados os editais visando o cadastramento
der público e sociedade civil de organizações e comunidades interessadas na formação dos
(ICMBio, 2010). conselhos, nos quais havia espaço para que as mesmas pudes-
sem contar um pouco da sua relação com cada UC e manifes-
Após os processos de sensibi- tassem seus interesses.
lização e mobilização do PAR-
NA das Araucárias e da ESEC
Mata Preta, os representantes
das instituições e comunida-
des que manifestaram interes- cinas, a partir da identificação e análise das principais represen-
se em fazer parte dos conselhos, foram convidados para as tações e grupos de interesses que deveriam estar contemplados
oficinas de formação dos respectivos conselhos. em cada conselho. Assim, a estrutura do conselho foi decidida
coletivamente, bem como foram definidas quais seriam as insti-
As entidades que integraram os conselhos foram selecio- tuições que representariam a sociedade civil e a esfera governa-
nadas de maneira democrática pelos participantes das ofi- mental nesse espaço.
53
4. Formalização do conselho 6. Posse dos conselheiros
© Marcos A. Danieli
Eventos de capacitação com conselhos de UCs devem ser
contínuos, como forma de qualificar o funcionamento destes
espaços de participação. Como primeira atividade de capaci-
tação é importante o nivela-
mento técnico entre o grupo,
5. Indicação dos conselheiros aprofundando, especialmente,
o conhecimento sobre o papel
do conselho e cada conselheiro
© Edilaine Dick
O
processo de renovação de um conselho é tão importante
quando sua formação, tendo em vista que o mandato dos
conselheiros é de dois anos, renovável por igual período.
Apesar das etapas do processo de renovação e os critérios para cre-
denciamento e inclusão de novas entidades estarem descritas no regi-
mento interno de cada conselho, alguns cuidados são fundamentais.
55
Os Conselhos Consultivos
das Unidades de Conservação
envolvidas no Projeto
Alanza Mara Zanini
Criado pela Portaria nº 78, de 27 de agosto de 2010 (retificada pela O conselho consultivo da Floresta Nacional de Chapecó foi criado
Portaria nº 106 de 04 de outubro de 2010), o conselho consultivo da através da Portaria IBAMA nº 68, de 07 de julho de 2004, com o obje-
Estação Ecológica Mata Preta, tem a finalidade de contribuir com tivo de auxiliar a administração da FLONA no planejamento e desen-
ações voltadas à gestão participativa, elaboração, implantação e im- volvimento de ações relacionadas à unidade de conservação. As reu-
plementação do plano de manejo da unidade, e ao cumprimento niões ordinárias do conselho, segundo o seu regimento interno, tem
dos seus objetivos de criação. O conselho conta com 17 cadeiras, periodicidade bimensal.
das quais oito são ocupadas por instituições governamentais e as Recentemente, o conse-
demais cadeiras por 13 organizações da sociedade civil, onde algu- lho da FLONA foi reno-
mas cadeiras tem a titularidade e suplência ocupada por organiza- vado, através da Portaria
ções distintas. Segundo nº 40, de 30 de março de
o regimento interno, as 2012, passando a contar
reuniões ordinárias do com 23 cadeiras, sendo
conselho da ESEC são 12 governamentais e 11
semestrais e as extra- da sociedade civil.
© Edilaine Dick
ordinárias, sempre que
convocadas pelo titular
da Presidência do Con- Conselho Consultivo
selho, com a anuência
da Coordenação Geral.
do PE das Araucárias
© Antonio de A. Correia Jr.
57
A Educação Ambiental como Chave
para a Conservação da Natureza
Deusdedet Alle Son – Detinha
Especialista em Gestão e Educação Ambiental. detinhason1@gmail.com
Edilaine Dick
O
s padrões de consumo e de desenvolvimento econômico cação ambiental pode ser o elo de aproximação e integração entre
vigentes e a capacidade do homem de transformar o am- escolas e Unidades de Conservação.
biente colocam os recursos naturais do planeta em risco de
extinção. O crescimento da população e a melhoria de renda familiar, Na maioria das vezes, as escolas e as Unidades de Conservação repre-
aliados ao consumo exagerado, têm um alto custo ambiental. Como sentam para as comunidades, principalmente as que se localizam dis-
sensibilizar o indivíduo para a ação coletiva? Como chegar ao estado tantes dos centros urbanos, a única relação com o poder público. São
de convivência coletiva, no qual os indivíduos possam agir de manei- nestes espaços que se consegue acesso à comunicação, como rádio e
ra interdependente e, ao mesmo tempo, sejam também capazes de telefone, e transporte para levar pessoas doentes ao médico.
construir um grau de concordância e colaboração para que o desen-
volvimento econômico não comprometa o planeta? As escolas, muitas vezes, servem de alojamento em tempos de en-
chentes, deslizamentos de terra, dentre outras ocorrências de fe-
A participação social só se efetiva na medida em que cada indiví- nômenos naturais. No entanto, apesar dos papeis semelhantes que
duo se sente comprometido com o coletivo. Neste cenário, a edu- desempenham aos olhos da comunidade, estas instituições ainda
59
Experiências de Apoio à
Gestão Participativa de
Unidades de Conservação
Marcos Alexandre Danieli
Alanza Mara Zanini
Edilaine Dick
O
projeto “Integração e Capacitação de Conselhos e Comuni- Devido à diversidade de atores que participaram dos eventos, foram
dades na Gestão Participativa de Unidades de Conservação adotadas diferentes metodologias de trabalho, como exposições dia-
(UCs) Federais e Estaduais”, teve como principal ferramenta logadas, exibição de vídeos, palestras, rodas de conversa, estudo dirigi-
de apoio ao processo de gestão participativa de UCs, a realização de do de textos e trabalhos em grupo.
oficinas de capacitação com os conselhos consultivos das UCs con-
templadas no projeto, envolvendo diretamente titulares e suplentes Destaca-se que os temas trabalhados nas oficinas foram demandados
desses conselhos. pelos conselheiros e gestores das UCs, a partir de seus anseios e ne-
cessidades de aprofundar o conhecimento sobre determinada área e
A metodologia das oficinas envolveu três etapas: Modulo I, Modulo mediante análise da situação de cada conselho. Dessa maneira, as prin-
II e Enriquecimento Prático, tendo como base a construção coletiva cipais temáticas trabalhadas estiveram relacionadas ao funcionamento
dos conhecimentos, a partir da experiência de todos os participantes. do conselho gestor, papel do conselheiro e ferramentas de um conse-
© Marcos A. Danieli
Depoimento
O projeto foi muito importante, pois
contribuiu para esclarecer muitas
dúvidas que eu, na condição de membro do
Conselho Consultivo do Parque Estadual Fritz
Plaumann, possuía. Especialmente, aquelas
relacionadas ao papel do conselho na gestão
das unidades de conservação. Além disso, as
oficinas de capacitação contribuíram para
uma maior aproximação entre os membros do
conselho e com a realidade de outras unidades
de conservação, localizadas da região Oeste de
Santa Catarina.
CLÁUDIO ROCHA DE MIRANDA –
Pesquisador da EMBRAPA Suínos e Aves de Para um bom funcionamento dos conselhos
Concórdia – conselheiro do PE Fritz Plaumann. é imprescindível que os conselheiros
conheçam bem a UC em questão.
61
Eventos de intercâmbio
proporcionam uma
proximidade maior entre a
comunidade e a Unidade de
Conservação.
© Fabiana Bertoncini
Com o conselho do Parque Estadual (PE) Fritz Plaumann, conforme © Edilaine Dick
© Marcos A. Danieli
O vídeo, produzido pela Sombrero Filmes, apresenta gravações e fo- importância do trabalho, amizade e companheirismo entre os associa-
tos da FLONA e seu entorno; depoimentos de gestores e funcionários, dos para a garantia de sua existência e continuidade.
conselheiros e moradores vizinhos, que contam um pouco sobre a
história, a importância e as principais características da UC, além do Outros momentos de integração e troca de experiências entre UCs
contexto histórico-cultural da região. foram promovidos durante o projeto, através de reuniões e oficinas
envolvendo conselheiros e gestores das UCs, como a oficina para ela-
Também faz parte do vídeo, a atividade de resgate histórico da FLO- boração do diagnóstico inicial do projeto. Esta atividade propiciou o
NA, promovida pela gestão da UC no mês de junho/2012, que reuniu primeiro momento de troca de experiências e reflexão sobre a situação
seu conselho consultivo, moradores da comunidade e funcionários
mais antigos, proporcionando um momento de integração e aproxi-
mação com a história da FLONA.
Depoimento
Integração entre
Unidades de Conservação A importância da participação dos
proprietários de áreas afetadas pelo
Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de
Palmas é decisiva, uma vez que toda a área da
Com o objetivo de promover a aproximação dos conselheiros do
UC é formada por propriedades particulares,
Parque Estadual Fritz Plaumann com a realidade de outra Unida-
inclusive são as residências dos proprietários e
de de Conservação e sua zona de amortecimento, foi realizada em
maio/2012, visita deste conselho à região do Parque Nacional das sua fonte de rendimentos. Sem a participação
Araucárias, em Passos Maia e Ponte Serrada (SC). dos principais interessados é impossível a
implantação da UC.
Recepção com café colonial, relato histórico e contextualização sobre JOAQUIM OSÓRIO RIBAS – proprietário de
a UC, visita a propriedades vizinhas do parque, almoço servido pela
área inserida no interior do REVIS dos Campos
associação de moradores locais, visita à casa colonial de Passos Maia,
de Palmas e conselheiro.
foram alguns dos atrativos que permitiram que comunitários compar-
tilhassem suas histórias de vida e relação com a região, ressaltando a
63
O projeto desenvolveu inúmeras atividades com as
comunidades do entorno das UCs envolvidas.
© Edilaine Dick
atual dos conselhos e das UCs, fornecendo a base para o planejamento criação de algumas UCs e para a aproximação destes com a unidade
das oficinas de capacitação que foram realizadas durante o projeto. criada. As reuniões dos conselhos, como espaços de discussão, per-
mitem o esclarecimento de dúvidas dos moradores locais, além de
Também foram realizadas oficinas específicas com os gestores das UCs, promover a divulgação da importância ambiental, social e econô-
visando qualificar a atuação destes frente aos conselhos, capacitá-los na mica dessas áreas. Desta forma, as comunidades podem ser aliadas
utilização de diferentes ferramentas de gestão participativa e elaborar à gestão e conservação da UC, auxiliando no conhecimento sobre
os planos de capacitação que posteriormente seriam aplicados nas ofi- área e em ações de conservação, a partir do entendimento do seu
cinas de capacitação, mediante análise das demandas dos conselheiros. papel nesse processo.
As atividades do projeto também possibilitaram a integração entre con- No entanto, existem dificuldades para a efetiva participação e envolvi-
selheiros e gestores de diferentes UCs, através da participação destes nas mento das comunidades, com destaque para a falta de organização e
oficinas de capacitação de outras unidades. Além disso, foram exibidos articulação comunitária, dificuldades de deslocamento até o local da
vídeos com relatos de experiências de outros conselhos, buscando mos- reunião, dificuldade de acesso às informações produzidas pelo conse-
trar o funcionamento e contexto de diferentes UCs. A integração entre lho, e muitas vezes, a falta de motivação para a participação.
a gestão de UCs é fundamental para a troca de experiências de sucesso
e ao mesmo tempo, para firmar parcerias e ações voltadas ao fortaleci- Visando potencializar a participação das comunidades nesses espaços
mento de seus conselhos e efetiva implementação das UCs. de representação social, o tema foi assunto de todas as oficinas de
capacitação, com diferentes formas de abordagem. Esta dificuldade é
identificada em todos os conselhos, e por isso, passou a fazer parte
Aproximação das comunidades da pauta dos planos de trabalho. Como exemplo, o caso do envolvi-
mento das comunidades no processo de renovação do conselho do
com os conselhos consultivos Parque Estadual das Araucárias, na divulgação do plano de ação para
conservação da ESEC Mata Preta, e na elaboração de material informa-
A participação da sociedade civil nos conselhos consultivos é garan- tivo para a FLONA de Chapecó, que facilitará a divulgação da UC e sua
tida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), aproximação com a sociedade em geral.
que assegura a representação das comunidades locais nesse espa-
ço. A participação de representantes comunitários é essencial para Reuniões comunitárias específicas com os Assentamentos da Reforma
buscar a minimização dos conflitos socioambientais decorrentes da Agrária Colina Verde e Recanto Bonito, situados no município de Gene-
ral Carneiro (PR), próximos do REVIS dos Campos de Palmas, foram rea- NA das Araucárias. Diversas reuniões comunitárias foram realizadas em
lizadas em abril/2012. Durante essas reuniões foram propiciados impor- maio/2012, com o objetivo de esclarecer o que é o conselho, socializar
tantes momentos de diálogo, socializando informações e esclarecendo informações sobre a gestão do Parque e esclarecer as dúvidas dos mora-
dúvidas dos moradores sobre a UC. Ao final das reuniões, os moradores dores. Ao final das reuniões, algumas pessoas demonstraram interesse em
indicaram algumas pessoas para representar os assentamentos no con- participar do conselho, assumindo a importante responsabilidade de ser-
selho do REVIS, em cadeiras já existentes, os quais tem participado das vir de elo de ligação entre a UC e seu grupo ou entidade de representação.
reuniões ordinárias do conselho e demais atividades realizadas pela UC.
65
Depoimentos
Qual a importância de projetos de gestão participativa em Unidades
de Conservação, como o realizado pela Apremavi e parceiros?
SÉRGIO AOSANI
INCRA de Chapecó – Conselheiro PARNA das
Araucárias e ESEC da Mata Preta.
© Marcos A. Danieli
67
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SANTA CATARINA. Ministério Público. Decreto nº Mata Atlântica. Rio do Sul: APREMAVI, 2009. 2011. p. 07-19
© Wigold B. Schaffer
A
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida
(Apremavi) é uma Organização da Sociedade Civil de Inte- Saiba mais sobre a Apremavi
resse Público (OSCIP), fundada no dia 9 de julho de 1987,
www.apremavi.org.br
na cidade de Ibirama (SC).
APREMAVI ASSOCIAÇÃO DE PRESERVAÇÃO
Tem como missão, trabalhar em prol da defesa, preservação, recupera- DO MEIO AMBIENTE E DA VIDA
ção e manejo sustentável do meio ambiente, dos bens e valores cultu- Estrada Geral. Alto Dona Luiza. Atalanta, SC. CEP: 88410-000
rais, objetivando a melhoria da qualidade de vida humana. Fone/fax: (47) 3535 0119. E-mail: info@apremavi.org.br
Escritório: Caixa Postal 218. Rio do Sul, SC. CEP: 89160-000
A sede da Apremavi está localizada no município de Atalanta, região Fone/fax: (47) 3521 0326.
do Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina, onde também mantém o
Viveiro de mudas nativas “Jardim das Florestas”, com capacidade para
produzir cerca de 1.000.000 de mudas/ano de árvores nativas, de mais Para mais informações sobre as UCs:
de 120 espécies diferentes da Mata Atlântica. Tem um escritório na
cidade de Rio do Sul e durante o projeto “Integração e Capacitação de PARNA DAS ARAUCÁRIAS, ESEC MATA PRETA
Conselhos e Comunidades na Gestão Participativa de UCs – Oeste de E REVIS DOS CAMPOS DE PALMAS
SC e Centro Sul do PR”, contou com uma base de apoio na Universi- Instituto Chico Mendes de Conservação
dade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), em uma sala da Biodiversidade – ICMBio.
gentilmente cedida pela universidade. Rua Doutor Beviláqua, 863, Centro, Caixa Postal 127.
Palmas (PR). CEP: 85.555-000. Fone/fax: (46) 3262-5099.
Nos seus primeiros 25 anos de atuação, a Apremavi mobilizou em San- www.icmbio.gov.br
ta Catarina e em outros estados, milhares de pessoas em defesa da
conservação do meio ambiente, através de cursos, palestras, atividades FLONA DE CHAPECÓ
de educação ambiental, produção de mudas de árvores nativas, recu- SC – 283 (Estrada Chapecó/São Carlos), Caixa Postal 1122.
peração de áreas degradadas, enriquecimento de florestas secundárias Chapecó (SC). CEP: 89809-970. Fone: (49) 3391-0510
e planejamento de propriedades, acompanhamento e auxílio na ela- flonachapeco.sc@icmbio.gov.br
boração de política públicas. PE DAS ARAUCÁRIAS E PE FRITZ PLAUMANN
Fundação Estadual de Meio Ambiente de SC – FATMA
A Apremavi apoiou a criação de diversas unidades de conservação Rua Felipe Schmidt, 485. Centro, Florianópolis (SC).
no estado como a Área de Relevante Interesse Ecológico da Serra da CEP: 88010-001. Fone: (48) 3216-1700, fax: (48) 3216-1798.
Abelha, o Parque Natural Municipal da Mata Atlântica em Atalanta www.fatma.sc.gov.br
(SC), o PARNA da Serra do Itajaí, o PARNA das Araucárias, a ESEC
Mata Preta, o REVIS dos Campos de Palmas, trabalhando também PARQUE ESTADUAL FRITZ PLAUMANN
na gestão de algumas dessas UCs. Atualmente apoia campanhas Sede Brum, Zona Rural, s/no. Concórdia (SC). CEP: 89700-000
para a criação do Parque Nacional do Campo dos Padres, do Refúgio Fone: (49) 99783198. contato@parquefritzplaumann.org.br
de Vida Silvestre do Rio da Prata e do Refúgio de Vida Silvestre do www.parquefritzplaumann.org.br
Corredor do Pelotas.
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